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Peste negra

A peste negra foi uma pandemia que se deflagrou na Europa, no


século XIV, provocando uma das maiores baixas populacionais da
história desse continente.

“O Triunfo da morte”, obra de Pieter Bruegel, 1562


A peste negra foi uma pandemia que acometeu a Europa no século
XIV provocada pelo bacilo Yersinia pestis e deflagrada a partir do ano
de 1348. Esse acontecimento figurou entre aqueles que
caracterizaram a crise da Baixa Idade Média, sendo os outros
as revoltas camponesas no século XIV e a crise do feudalismo.

Origem da peste negra

Vários historiadores sugerem que a origem da peste negra


seja asiática, especificamente chinesa. Sua inserção na Europa teria
ocorrido por meio de caravanas comerciais que se dirigiam para
cidades portuárias do Mar Mediterrâneo, como Gênova e Veneza, nas
quais havia intensa atividade comercial e grande concentração
demográfica. Aproximadamente ¼ da população europeia sucumbiu
com a doença, o que provocou um dos maiores decréscimos
demográficos da história.

Leia também: As piores epidemias da História

Causas

Inicialmente, os principais agentes transmissores da doença eram os


ratos e as pulgas, que se proliferavam com facilidade tanto nas
cidades quanto nos vilarejos menores em razão das condições
precárias de higiene. Posteriormente, na fase mais crítica da
pandemia, a contaminação ocorria por via aérea. Por meio de espirros
ou tosse, o bacilo acabava sendo transmitido pelo ar.

Por que "peste negra"?


A peste era chamada de negra porque ela causava manchas
negras na pele das pessoas, fruto das infecções provocadas pelo
bacilo. Essa peste também ficou conhecida como bubônica por
provocar bubões ou bubos, isto é, inchaços infecciosos no sistema
linfático, sobretudo nas regiões das axilas, virilha e pescoço.

Leia também: Doenças comuns a humanos e outros animais

Consequências

A situação agravou-se de tal forma que a quantidade de mortos


excedia a quantidade de pessoas aptas a enterrá-los. A cultura
medieval foi profundamente afetada pela atmosfera catastrófica
provocada pela peste. Várias pinturas da época expunham imagens
da chamada “dança macabra” ou a “dança da morte”, em que
pessoas de várias ordens sociais eram representadas juntas,
dançando com esqueletos que simbolizavam o potencial destrutivo
da morte.

Na literatura também figuraram vários relatos da peste e do impacto


que ela produziu. Um dos mais famosos é do autor
italiano Giovanni Boccaccio e de seu famoso livro Decameron, no
qual podemos ler o seguinte relato:
“A Peste, em Florença, não teve o mesmo comportamento que no Oriente.
Neste, quando o sangue saía pelo nariz, fosse de quem fosse, era sinal evidente
de morte inevitável. Em Florença, apareciam no começo, tanto em homens
como nas mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações. Algumas
destas cresciam como maçãs; outras, como um ovo; cresciam umas mais,
outras menos, chamava-as o populacho de bubões. Dessas duas referidas
partes do corpo logo o tal tumor mortal passava a repontar e a surgir por toda
parte.” (BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. São Paulo: Abril Cultural.
Como a ciência biológica ainda não havia se desenvolvido na época
da peste negra, as causas da doença eram atribuídas a origens
sobrenaturais e, principalmente, a “bodes expiatórios”, como povos
estrangeiros, em especial os judeus, gerando, assim, além da
catástrofe natural, uma grande tensão social.
Publicado por Cláudio Fernandes
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/peste-negra.htm - :~:text=A%20peste
%20negra%20foi%20uma%20pandemia%20que%20acometeu%20a%20Europa,e%20a
%20crise%20do%20feudalismo. dia 22/03/2023
Peste Negra (também conhecida como Grande Peste, Peste ou Praga) foi
a pandemia mais devastadora registada na história humana, tendo resultado na morte de
75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo o pico na Europa entre os anos de
1347 e 1351. Acredita-se que a bactéria Yersinia pestis, que resulta em várias formas
de peste (septicémica, pneumónica e, a mais comum, bubónica), tenha sido a causa.[1] A
Peste Negra foi o primeiro grande surto europeu de peste e a segunda pandemia da
doença.[2] A praga criou uma série de convulsões religiosas, sociais e económicas, com
efeitos profundos no curso da história da Europa.
A Peste Negra provavelmente teve a sua origem na Ásia Central[3] ou na Ásia Oriental,[4][5]
[6]
de onde viajou ao longo da Rota da Seda, atingindo a Crimeia em 1343.[7] De lá, era
provavelmente transportada por pulgas que viviam nos ratos que viajavam em navios
mercantes genoveses, espalhando-se por toda a bacia do Mediterrâneo, atingindo o resto
da Europa através da península italiana.
Estima-se que a Peste Negra tenha matado entre 30% a 60% da população da Europa.
[8]
No total, censos dos últimos anos estimam que a peste pode ter reduzido a população
mundial de 475 milhões para 350–375 milhões no século XIV.[9] A população da Europa
demorou cerca de 200 anos a recuperar o nível anterior[10] e algumas regiões
(como Florença) recuperaram apenas no século XIX.[11][12][13] A peste retornou várias vezes
como surtos até ao início do século XX.

Etimologia
Escritores europeus contemporâneos descreveram a doença da peste, em latim,
como pestis ou pestilentia — equivalente a "pestilência"; epidemia — continuando com a
mesma escrita na língua portuguesa; e mortalitas — equivalente a "mortalidade".[14] Em
inglês antes do século XVIII, o evento era chamado de "peste" ou "grande peste", "a
praga" ou "grande morte".[14][15][16] Posteriormente à pandemia, "o primeiro murrain" ou
"primeira peste" foi aplicada, para distinguir o fenômeno de meados do século XIV de
outras doenças infecciosas e epidemias de peste.[nota 1][14] A pandemia de 1347 não foi
referida especificamente como "negra" nos séculos XIV e XV em nenhuma língua
europeia, embora a expressão "morte negra" tenha sido ocasionalmente aplicada a
doenças fatais de antemão.[14]
A frase "morte negra" (mors nigra) foi usado em 1350 por Simon de Covino ou Couvin, um
astrónomo belga, que escreveu o poema "Sobre o julgamento do sol em uma festa de
Saturno" (De judicio Solis in convivio Saturni), que atribui a peste a uma conjunção de
Júpiter e Saturno.[18][19] Em 1908, Gasquet alegou que o uso do nome atra mors para a
epidemia do século XIV apareceu pela primeira vez em um livro de 1631 sobre a história
dinamarquesa de J. I. Pontanus: "Comummente e pelos seus efeitos, eles chamavam de
morte negra" (Vulgo & ab effectu atram mortem vocitabant).[20][21] O nome espalhou-se
pela Escandinávia e depois pela Alemanha, tornando-se gradualmente associado à
epidemia de meados do século XIV como um nome próprio.
Contudo, atra mors é um termo usado para se referir à febre pestilencial (febris
pestilentialis) já no século XII, Sobre os sinais e sintomas de doenças (em latim: De signis
et sinthomatibus egritudinum) pelo médico francês Gilles de Corbeil.[22][23] Em inglês, o termo
foi usado pela primeira vez em 1755.[14][24]

Cronologia
Origens
A doença da peste, causada por Yersinia pestis, é geralmente presente em populações
de pulgas transportadas por roedores terrestres, incluindo marmotas em várias áreas,
[25]
incluindo Uganda, oeste da Arábia, Curdistão, Norte da Índia, Deserto de Gobi, no Norte
da China, e Ásia Central.[26][27] Devido às mudanças climáticas na Ásia, os roedores
começaram a fugir dos prados secos para áreas mais populosas, espalhando a doença.
[28]
Em outubro de 2010, médicos geneticistas sugeriram que todas as três grandes ondas
da peste tiveram a sua origem na China.[29][30] Pesquisas em 2017 sobre
sepulturas nestorianas datadas de 1338 a 1339, perto de Issyk-Kul, no Quirguistão, com
inscrições referentes a peste, levaram muitos epidemiologistas a pensar que marcam o
surto da epidemia; de onde poderia facilmente se espalhar para a China e para a Índia.[31]
[necessário esclarecer]

Pesquisas em 2018 encontraram evidências de Yersinia pestis num antigo túmulo sueco,
que pode ter sido a causa do que foi descrito como o declínio neolítico por volta de
3000 a.C., em que as populações europeias diminuíram significativamente.[32] Em 2013, os
pesquisadores confirmaram especulações anteriores de que a causa da Praga de
Justiniano (541–542 d.C., com recorrências até 750) foi Yersinia pestis.[33][34]
A conquista mongol da China no século XIII causou um declínio na agricultura e no
comércio. A recuperação económica foi observada no início do século XIV.[35] Na década
de 1330, muitos desastres e pragas naturais levaram à fome generalizada, começando em
1331, com uma praga mortal aparecendo logo depois.[36] Epidemias, que podem ter incluído
a peste, mataram cerca de 25 milhões na Ásia durante quinze anos antes de chegar
a Constantinopla em 1347.[27][37]
A doença pode ter viajado ao longo da Rota da Seda com exércitos e
comerciantes mongóis, ou poderia até ter chegado de navio.[38] No final de 1346, relatos de
pestes chegaram aos portos da Europa: "a Índia foi despovoada, e a Tartária,
a Mesopotâmia, a Síria e a Arménia estavam cobertas de cadáveres".[39]
Segundo diversos relatos, a peste foi introduzida pela primeira vez na Europa por
comerciantes genoveses da cidade portuária de Kaffa, na Crimeia, em 1347.[40][41] Durante
um prolongado cerco à cidade pelo exército mongol sob Jani Beg, cujo exército sofria da
doença, o exército catapultou cadáveres infectados sobre as muralhas da cidade de Kaffa
para infectar os habitantes dentro da cidade. Os comerciantes genoveses fugiram, levando
a peste de navio para a Sicília e depois para a península italiana, de onde se espalhou
para o norte.[42] Seja essa hipótese precisa ou não, é claro que várias condições existentes,
como guerras, fome, clima e desigualdade social, contribuíram para a gravidade da Peste
Negra. Entre muitos outros culpados de contágio por peste, a desnutrição, mesmo que
distante, também contribuiu para uma perda imensa na população europeia, pois
enfraquecia o sistema imunológico.[43]

Surto na Europa
Parece ter havido várias introduções na Europa. A peste atingiu a Sicília em outubro de
1347,[44] transportada por doze galés genovesas e rapidamente se espalhou por toda a ilha.
[45]
As galés de Kaffa chegaram a Génova e Veneza em janeiro de 1348, mas foi o surto
em Pisa, algumas semanas depois, que marcou o ponto de entrada para o norte da Itália.
No final de janeiro, uma das galés expulsas da Itália chegou a Marselha.[46]
Da Itália, a doença espalhou-se para o noroeste por toda a Europa, atingindo a França,
a Espanha que foi atingida pelo calor — a epidemia ocorreu nas primeiras semanas de
julho,[47] Portugal e Inglaterra em junho de 1348, continuando também a espalhar-se para o
leste e norte através de Alemanha, Escócia e Escandinávia de 1348 a 1350. Foi
introduzida na Noruega em 1349, quando um navio desembarcou em Askøy, espalhando-
se depois para Bjørgvin (moderna Bergen) e Islândia.[48]
Por fim, continuou a propagar-se para o noroeste da Rússia em 1351.[49] A peste foi menos
comum em partes da Europa com comércio menos desenvolvido com os seus vizinhos e
através de quarentenas, incluindo a maioria do País Basco, partes isoladas da Bélgica,
da Holanda, Polônia e aldeias alpinas isoladas de todo o continente.[50]
Segundo alguns epidemiologistas, períodos de clima desfavorável dizimaram populações
de roedores infectados pela peste e forçaram as suas pulgas a procurar hospedeiros
alternativos,[51] induzindo surtos de peste que frequentemente atingiam o pico do verão
quente do Mediterrâneo,[52] bem como durante os frio meses de outono dos estados do sul
do Báltico.[53] No entanto, outros pesquisadores não acham que a peste tenha-se tornado
endémica na Europa ou na população de ratos. A doença varreu repetidamente os
transportadores de roedores, de modo a que as pulgas desapareceram até que um novo
surto da Ásia Central repetisse o processo.[54] Foi demonstrado que os surtos ocorrem
aproximadamente quinze anos após um período mais quente e húmido em áreas onde a
peste é endémica em outras espécies, como gerbos.[55]

Surto no Médio Oriente


A peste atingiu várias regiões do Médio Oriente durante a pandemia, levando a um grave
despovoamento e mudanças permanentes nas estruturas económicas e sociais. Pode ter-
se espalhado da Ásia Central com os mongóis para um posto comercial na Crimeia, de
nome Kaffa, controlado pela República de Génova.[56] Quando roedores infectados
infectaram novos roedores, a doença espalhou-se por toda a região. No outono de 1347, a
peste atingiu Alexandria no Egipto, através do comércio do porto com Constantinopla e
outros portos no Mar Negro. Durante 1347, a doença viajou para o leste, para Gaza, e
para o norte, ao longo da costa leste, para as cidades modernas
do Líbano, Síria, Israel e Palestina,
incluindo Ashkelon, Acre, Jerusalém, Sidon, Damasco, Homs e Alepo. Em dois anos, a
peste espalhou-se por todo o império muçulmano, da Arábia ao norte da África.[57] Entre
1348 e 1349, a doença atingiu Antioquia. Os moradores da cidade fugiram para o norte,
mas a maioria acabou morrendo durante a viagem.[58]
Meca foi infectada em 1349. Durante o mesmo ano, os registos mostram que a cidade
de Mosul sofreu uma epidemia maciça e a cidade de Bagdade passou por uma segunda
ronda da doença.
Os estudiosos religiosos muçulmanos ensinaram que a peste era um "martírio e
misericórdia" de Deus, garantindo o lugar do crente no paraíso. Para os não crentes, foi
um castigo.[57] Alguns médicos muçulmanos alertaram contra a tentativa de prevenir ou
tratar uma doença enviada por Deus. Outros adoptaram muitas das mesmas medidas e
tratamentos preventivos para a peste usada pelos europeus. À semelhança dos europeus,
esses médicos muçulmanos também dependiam dos escritos dos antigos gregos.

Causas

Yersinia pestis (aumento de 200 ×), a bactéria que causa a peste bubónica

O conhecimento médico havia estagnado durante a Idade Média. O relato mais autoritário
da época veio da faculdade de medicina de Paris, num relatório ao rei da França que
culpava os céus, na forma de uma conjunção de três planetas em 1345 que causou uma
"grande peste no ar".[59] Este relatório tornou-se no primeiro e mais amplamente divulgado
de uma série de folhetos sobre a peste que buscavam dar conselhos aos que sofrem. O
facto de a praga ter sido causada pelo mau ar tornou-se a teoria mais amplamente aceite
na época, a teoria do miasma. A palavra praga não se referia inicialmente a uma doença
específica, e apenas a recorrência de surtos durante a Idade Média deu a ela o significado
que persiste na medicina moderna.
A importância da higiene foi reconhecida apenas no século XIX; até então, as ruas eram
geralmente imundas, com animais vivos de todo tipo e abundantes parasitas, facilitando a
propagação de doenças transmissíveis. Um avanço médico precoce como resultado da
Peste Negra foi o estabelecimento da ideia de quarentena na cidade-estado
de Ragusa (moderna Dubrovnik, Croácia) em 1377, após contínuos surtos.[60]
Hoje, a explicação dominante para a peste negra é a teoria da peste, que atribui o surto
a Yersinia pestis, também responsável por uma epidemia iniciada no sul da China em
1865, que se espalhou mais tarde para a Índia.[61] A investigação do agente patogénico que
causou a praga do século XIX foi iniciada por equipas de cientistas que visitaram Hong
Kong em 1894, entre os quais o bacteriologista franco-suíço Alexandre Yersin, após o qual
o agente patogénico foi nomeado.[62] O mecanismo pelo qual Y. pestis é normalmente
transmitido foi estabelecido em 1898 por Paul-Louis Simond e descobriu-se que envolvia
picadas de pulgas cujos intestinos estavam obstruídos pela replicação de Y. pestis vários
dias após a alimentação em um hospedeiro infectado. Esse bloqueio mata as pulgas e
leva-as a um comportamento alimentar agressivo e tenta eliminar o bloqueio
por regurgitação, resultando em milhares de bactérias da peste sendo liberadas no local
de alimentação, infectando o hospedeiro. No entanto, a modelagem da
peste epizoótica observada em cães-da-pradaria, sugere que reservatórios ocasionais de
infecção, como uma carcaça infecciosa, em vez de "pulgas bloqueadas", são uma
explicação melhor para o comportamento epizoótico observado da doença na natureza.[63]
O historiador Francis Aidan Gasquet escreveu sobre a Grande Peste em 1893, sugerindo
que "parecia ser alguma forma da praga oriental ou bubónica comum".[64] Ele conseguiu
adoptar a epidemiologia da peste bubónica pela peste negra para a segunda edição em
1908, implicando ratos e pulgas no processo, e sua interpretação foi amplamente aceite
para outras epidemias antigas e medievais, como a peste de Justiniano, que ocorreu
no Império Bizantino de 541 a 700 d.C.[65]
Uma estimativa da taxa de mortalidade de casos para a peste bubónica moderna, após a
introdução de antibióticos, é de 11%, embora possa ser maior em regiões
subdesenvolvidas.[66] Os sintomas da doença incluem febre de 38–41 °C, dores de
cabeça, dores nas articulações, náuseas e vómitos, e uma sensação geral de mal-estar.
Deixados sem tratamento, dos que contraem a peste bubónica, 80% morrem em oito dias.
[67]
Já a peste pneumónica tem uma taxa de mortalidade de 90 a 95%. Os sintomas incluem
febre, tosse e escarro com sangue.[68] À medida que a doença progride, o escarro torna-se
vermelho vivo. A peste septicémica é a menos comum das três formas, com uma taxa de
mortalidade próxima a 100%. Os sintomas são febre alta e manchas roxas na pele
(púrpura devido à coagulação intravascular disseminada). Nos casos de peste pneumónica
e particularmente septicémica, o progresso da doença é tão rápido que muitas vezes não
há tempo para o desenvolvimento de linfonodos aumentados.[69]
Várias teorias alternativas, implicando outras doenças na pandemia da Peste Negra,
também foram propostas por alguns cientistas modernos.

Evidência de ADN
Em 1998, Drancourt et al. relataram a detecção de ADN de Y. pestis na polpa dental
humana de um túmulo medieval.[70] Outra equipe liderada por Tom Gilbert questionou essa
identificação e as técnicas empregues, afirmando que esse método "não nos permite
confirmar a identificação de Y. pestis como agente etiológico da Peste Negra e das pragas
subsequentes. Além disso, a utilidade da técnica de ADN publicada com base em dentes
antigos, usada para diagnosticar bacteremias fatais em epidemias históricas, ainda
aguarda confirmação independente".[71]
A confirmação definitiva do papel de Y. pestis chegou em 2010 com uma publicação
no PLOS Pathogens de Haensch et al.[72] Eles avaliaram a presença de ADN / RNA com
técnicas de reação em cadeia da polimerase (PCR) para Y.
pestis das cavidades dentárias em esqueletos humanos de valas comuns no norte, centro
e sul da Europa, associadas arqueologicamente com a Peste Negra e ressurgimentos
subsequentes. Os autores concluíram que essa nova pesquisa, juntamente com análises
anteriores do sul da França e da Alemanha, "encerra o debate sobre a causa da Peste
Negra e demonstra inequivocamente que Y. pestis foi o agente causador da peste
epidémica que devastou a Europa. durante a Idade Média ". Em 2011, esses resultados
foram confirmados com evidências genéticas derivadas de vítimas da Peste Negra no
cemitério de East Smithfield, na Inglaterra. Schuenemann et al. concluiu em 2011 "que a
peste negra na Europa medieval foi causada por uma variante de Y. pestis que pode não
existir mais".[73]
Mais tarde em 2011, Bos et al. relatou na Nature o primeiro rascunho do genoma de Y.
pestis a partir de vítimas da peste do mesmo cemitério de East Smithfield e concluiu que o
ramo que causou a Peste Negra é ancestral relativamente aos ramos mais modernos
de Y. pestis.[74]
Desde essa época, outros trabalhos em genomas confirmaram ainda mais a localização
filogenética da cepa Y. pestis responsável pela Peste Negra como a ancestral das
epidemias posteriores da peste,[75] incluindo a terceira pandemia de peste,[76] causada por
um ramo descendente da responsável pela Praga de Justiniano. Além disso, os genomas
da peste significativamente mais antigos, na pré-história, foram recuperados.[77]
O ADN retirado de 25 esqueletos de Londres do século XIV mostrou que a peste é de um
ramo de Y. pestis quase idêntico ao que atingiu Madagascar em 2013.[78][79]

Consequências
Mortes
Não há números exatos para o número de mortos, variando amplamente por localidade.
Nos centros urbanos, quanto maior a população antes do surto, maior a duração do
período de mortalidade.[80] Estima-se que a peste tenha matado cerca de 75 a 200 milhões
de pessoas na Eurásia.[81] A taxa de mortalidade da Peste Negra no século XIV foi maior
que o surto da yersinia pestis que ocorreu na Índia no século XX, matando até 3% da
população em certas cidades do país.[82]
O historiador americano Philip Daileader, acredita que durante quatro anos, 45 a 50% da
população europeia teriam morrido de peste.[83][84] O norueguês Ole Benedictow, supõe que
a população no continente europeu naquela época estaria em torno de 80 milhões de
habitantes. A partir disso, sugere que o número de mortes pode ter acometido 60% da
população na Europa — cerca de 50 milhões morreram na Peste Negra.[85] Em 1348, a
peste espalhou-se de uma forma tão rápida que, antes dos médicos ou autoridades
governamentais pudessem planejar uma forma de rastrear sua origem, 30% da população
européia já havia sido dizimada pela doença; nas grandes cidades, não era raro encontrar
dados evidenciando 50% de mortes.[86] Metade da população de Paris morreu. Na Itália, a
população de Florença foi reduzida de 110–120 mil habitantes em 1338 para 50 mil em
1351. Pelo menos 60% da população de Hamburgo e Bremen pereceram,[87] e uma
porcentagem semelhante em Londres pode ter acometido os moradores da cidade,[78] com
um número de mortos de aproximadamente 62 mil entre 1346 e 1353.[88][nota 2] Os registros
fiscais de Florença sugerem que 80% da população da cidade morreram em quatro meses
em 1348.[82] Antes de 1350, havia cerca de 170 mil assentamentos na Alemanha, sendo
reduzido em quase 40 mil em 1450.[90] A doença contornou algumas áreas, sendo que as
áreas mais isoladas sofreram menos pelo contágio pandêmico. A peste não esteve
presente em Douai, França, até a virada do século XV, impactando de modo menos
severo também em Hainaut, Finlândia, norte alemão e áreas da Polônia.
[82]
Monges, freiras e padres foram especialmente atingidos, pois estavam em contato direto
ao cuidarem das vítimas da doença.[91]
O médico do papado de Avinhão, Raimundo Chalmel de Vinario, observou que a taxa de
mortalidade e surtos decresceram em 1347–48, 1362, 1371 e 1382, de acordo com o
tratado De epidemica.[92] No primeiro surto (1347–48), dois terços da população contraíram
a peste e a maioria dos pacientes morreram. No segundo (1362), metade da população
ficou doente, mas apenas alguns morreram. No terceiro (1371), um décimo foi afetado e
muitos sobreviveram, enquanto que na quarta ocorrência (1382), apenas um em cada
vinte pessoas adoeceram, sobrevivendo a maioria.[92] Na Europa, durante a década de
1380, afetou predominantemente crianças.[82] O médico papal reconheceu que o tratamento
através da sangria era ineficaz — embora continuasse indicando este tratamento para
membros da Cúria Romana — alegando que todos os casos verdadeiros de peste eram
causados por fatores astrológicos e incuráveis; ele próprio nunca foi capaz de efetuar uma
cura.[93]
A estimativa de mortalidade mais amplamente aceita para o Oriente Médio durante esse
período — incluindo Iraque, Irão e Síria, é de cerca de um terço da população.[94] A Peste
Negra matou cerca de 40% da população do Egito.[95] No Cairo, houve dois surtos da peste
entre 1430 e 1460, durando um pouco mais que quatro meses em ambos os surtos: no
primeiro surto (1430), matou em torno de 90 mil, enquanto que no segundo (1460), cerca
de 70 mil pessoas.[96][nota 3] Estima-se que naquele período, Cairo tivesse uma população de
600 mil habitantes — possivelmente a maior cidade a oeste da China, estipulando algo
entre 200–240 mil mortes em menos de um ano.[97]

Económica
Com um declínio populacional tão grande causado pela peste, os salários aumentaram em
resposta à escassez de mão de obra.[98] Os proprietários de terras também foram
pressionados a substituir as rendas por serviços de trabalho, num esforço para manter os
inquilinos.[6]

Meio Ambiente
Alguns historiadores acreditam que as inúmeras mortes provocadas pela peste
arrefeceram o clima, libertando terras e desencadeando reflorestamentos. Isto pode ter
levado à Pequena Idade do Gelo.[99]

Perseguições
O renovado fervor religioso e o fanatismo floresceram com o despoletar da peste negra.
Vários grupos, como judeus, frades, estrangeiros, mendigos, peregrinos, muçulmanos,
[100]
leprosos, sodomitas e ciganos, foram alvos de perseguições e igualmente considerados
culpados pela disseminação da doença e outros com doenças de pele
como acne ou psoríase foram mortos em toda a Europa.[101]
Como os curandeiros e os governos do século XIV não tinham quaisquer ferramentas para
explicar ou parar a doença, os europeus voltaram-se para forças astrológicas, terremotos e
envenenamento de poços pelos judeus como possíveis razões para surtos.[15] Muitos
acreditavam que a epidemia era um castigo de Deus pelos seus pecados, e poderiam ser
aliviados com o perdão de Deus.[102]
Houve muitos ataques contra comunidades judaicas.[103] No massacre de Estrasburgo, em
fevereiro de 1349, cerca de 2 mil judeus foram assassinados. Em agosto de 1349, as
comunidades judaicas em Mainz e Colônia foram aniquiladas. Em 1351, 60 comunidades
judaicas maiores e 150 menores haviam sido destruídas.[104] Durante esse período, muitos
judeus mudaram-se para a Polônia, onde foram recebidos calorosamente pelo
rei Casimiro, o Grande.[105]

Social
Uma teoria que foi avançada é que a devastação em Florença causada pela Peste Negra,
que atingiu a Europa entre 1348 e 1350, resultou em uma mudança na visão mundial das
pessoas na Itália do século XIV e levou ao Renascimento. A Itália foi particularmente
afetada pela peste, e especula-se que a familiaridade resultante com a morte fez com que
os pensadores pensassem mais nas suas vidas na Terra, em vez de na espiritualidade e
na vida após a morte.[106] Também se argumentou que a Peste Negra provocou uma nova
onda de piedade, manifestada no patrocínio de obras de arte religiosas.[107] No entanto, isso
não explica completamente por que o Renascimento ocorreu especificamente na Itália
no século XIV. A Peste Negra foi uma pandemia que afetou toda a Europa das formas
descritas, não apenas a Itália. O surgimento do Renascimento na Itália foi provavelmente o
resultado da complexa interação dos fatores acima, em combinação com um influxo de
estudiosos gregos após a queda do Império Bizantino.[108]
A peste foi carregada por pulgas em navios que retornavam dos portos da Ásia,
espalhando-se rapidamente devido à falta de saneamento adequado: a população da
Inglaterra, então com cerca de 4,2 milhões, perdeu 1,4 milhão de pessoas devido à peste
bubónica. A população de Florença estava quase pela metade no ano de 1347. Como
resultado da dizimação na população, o valor da classe trabalhadora aumentou e os
plebeus passaram a gozar de mais liberdade. Para responder à crescente necessidade de
mão de obra, os trabalhadores viajaram em busca da posição mais favorável
economicamente.[109] O declínio demográfico devido à peste teve consequências
económicas: os preços dos alimentos caíram e os valores da terra caíram de 30 a 40% na
maior parte da Europa entre 1350 e 1400. Os proprietários enfrentaram uma grande perda,
mas, para alguns homens e mulheres comuns, foi um golpe de sorte. Os sobreviventes da
peste descobriram não apenas que os preços dos alimentos eram mais baratos, mas
também que as terras eram mais abundantes, e muitos deles herdaram propriedades de
seus parentes mortos, e isso provavelmente ajudou a desestabilizar o feudalismo.[110]
A propagação da doença foi significativamente mais desenfreada em áreas de pobreza. As
epidemias devastaram cidades, principalmente crianças. As pestes eram facilmente
disseminadas por piolhos, água potável não sanitária, exércitos ou por falta de
saneamento. As crianças foram as mais atingidas porque muitas doenças, como tifo e
sífilis congênita, atingem o sistema imunológico, deixando as crianças sem chance de
lutar. As crianças nas residências da cidade foram mais afetadas pela propagação de
doenças do que as crianças dos mais abastados.[111] A Peste Negra causou uma maior
agitação à estrutura social e política de Florença do que as epidemias posteriores. Apesar
de um número significativo de mortes entre os membros das classes dominantes, o
governo de Florença continuou a funcionar durante esse período. As reuniões formais dos
representantes eleitos foram suspensas durante o auge da epidemia devido às condições
caóticas da cidade, mas um pequeno grupo de funcionários foi nomeado para conduzir os
assuntos da cidade, o que garantiu a continuidade do governo.[112]
Muitas evidências históricas mostram que a terceira pandemia tem muitos casos relatados
mundialmente que revelaram ou criaram grandes problemas sociais e desigualdades
raciais.[113] Muitos dos portos infectados durante a peste eram, na época, colônias
britânicas. Isso significa que nessas colônias o Império Britânico foi responsável pela
maioria das ações utilizadas para prevenir a doença.[114] Devido a isso, os britânicos
frequentemente acabavam impondo práticas médicas de higiene ocidental e medidas
radicais de quarentena em países provinciais como Índia, África do Sul e Hong Kong.
Essas medidas sanitárias ocidentais impostas eram novas nessas áreas, causando medo
e apreensão aos nativos por parte do governo britânico. Na Índia, quarentenas severas
foram inicialmente implementadas pelos governos britânicos, levando ao ressentimento da
Índia em relação às medidas de quarentena.[114] Na África do Sul, quando a praga estourou
na Colônia do Cabo, o governo britânico tomou uma decisão radical de mover um grande
grupo de sul-africanos nativos para áreas periféricas da cidade, na qual historiadores
defendem a ideia de que o afastamento decorrente de tal mudança ocasionou
a segregação racial.[115] Em Hong Kong, os britânicos aplicaram muitas práticas médicas
não convencionais, como levar vítimas da peste em barcos à água e resfriar as vítimas da
peste com gelo, o que assustou muitos residentes chineses e os levou a migrarem de volta
para a China continental, onde a doença era mais intensa.[116]
Outra área afetada foi durante o grande incêndio de Honolulu (1900) que causou a
destruição da região de Chinatown, Honolulu, com mais de 7 mil residentes chineses e
japoneses desabrigados.[113] Nos Estados Unidos, quando a praga atingiu São Francisco,
houve um grande conflito social no fator do conselho médico da cidade, implementando
uma quarentena estrita em todo o distrito de Chinatown depois de descobrirem apenas um
caso de praga, fazendo com que muitos questionassem se o problema era causado ou
não pelo preconceito racial — de que os residentes de Chinatown possuíam hábitos de má
higienização e, portanto, proliferando a peste.[117][118]

Recorrências
Segunda pandemia de peste

A Grande Peste de Londres, o último grande surto da peste bubônica na Inglaterra, em 1665, matou
até 100 mil pessoas

A peste voltou repetidamente a assombrar a Europa e o Mediterrâneo ao longo dos


séculos XIV a XVII.[119] Segundo Jean-Noël Biraben, a peste estava presente em algum
lugar da Europa todos os anos entre 1346 e 1671.[120] No entanto, há pesquisadores que
não possuem certeza a respeito do período exposto por Biraben.[121] A segunda pandemia
foi particularmente disseminada nos anos seguintes: 1360–1363; 1374; 1400; 1438–1439;
1456–1457; 1464–1466; 1481–1485; 1500–1503; 1518–1531; 1544–1548; 1563–1566;
1573–1588; 1596–1599; 1602–1611; 1623–1640; 1644–1654; e 1664–1667. Os surtos
subsequentes, embora graves, marcaram um retrocesso da maior parte da Europa (século
XVIII) e norte da África (século XIX).[122] Segundo Geoffrey Parker, "só a França perdeu
quase um milhão de pessoas devido à peste na epidemia de 1628–1631".[123]
Na Inglaterra, na ausência de números do censo, os historiadores propõem uma série de
números da população pré-incidente de seis milhões em 1300,[124] e uma população pós-
incidente de 1,5 milhões.[125] No final de 1350, a Peste Negra diminuiu, mas ocorreram
outros surtos em 1361–1362, 1369, 1379–1383, 1389–1393 e durante a primeira metade
do século XV.[7] Um surto em 1471 atingiu 10 a 15% da população, enquanto a taxa de
mortalidade da peste de 1479 a 1480 poderia ter chegado a 20%.[126] Os surtos mais gerais
na Inglaterra de Tudor e Stuart parecem ter começado em 1498, 1535, 1543, 1563, 1589,
1603, 1625 e 1636, finalizando com a Grande Peste de Londres em 1665.[127]
Em 1566, estimasse que 25 mil pessoas tenham morrido da peste em Paris.[128] Durante os
séculos XVI e XVII, a peste esteve presente em Paris cerca de 30% do tempo.[129] A Peste
Negra devastou a Europa por três anos antes de continuar na Rússia, onde a doença
estava presente em algum lugar do país 25 vezes entre 1350 e 1490.[130] As epidemias de
peste devastaram Londres em 1563, 1593, 1603, 1625, 1636 e 1665,[131] reduzindo a sua
população entre 10 a 30% durante esses anos.[132] Mais de 10% da população
de Amsterdão morreu em 1623–1625 e novamente em 1635–1636, 1655 e 1664.[133] A
peste ocorreu em Veneza 22 vezes entre 1361 e 1528.[134] A peste de 1576–1577 obteve
um aumento de 28% no índice de mortalidade em Veneza — equivalente a 50 mil mortes
em uma população de 180 mil venezianos.[135] Os surtos tardios na Europa central incluíram
a Peste italiana de 1629–1631, associada a movimentos de tropas durante a Guerra dos
Trinta Anos, e a Grande Peste de Viena em 1679. Mais de 60% da população da Noruega
morreu em 1348–1350.[136] O último surto de peste devastou Oslo em 1654.[137][138]
Na primeira metade do século XVII, uma peste reivindicou cerca de 1,7 milhão de vítimas
na Itália, ou cerca de 14% da população.[139] Em 1656, a Peste de Nápoles matou cerca de
metade dos 300 mil habitantes de Nápoles.[140] Mais de 1,25 milhões de mortes resultaram
da extrema incidência de peste na Espanha do século XVII.[141][142] A peste de 1649
provavelmente reduziu a população de Sevilha pela metade. A epidemia também alastrou-
se durante a Grande Guerra do Norte (1700–1721), disputa entre o Império Sueco contra
o Czarado da Rússia,[143] matando cerca de 100 mil e 300 mil, respectivamente, entre os
anos de 1709 e 1713.[144][145] A peste matou dois terços dos habitantes de Helsínquia e
reivindicou um terço da população de Estocolmo.[146][147] A última grande epidemia da Europa
Ocidental ocorreu em 1720 em Marselha.[136] A peste russa de 1770–1772 matou até 100
mil pessoas em Moscovo.[148] Estima-se que 60 mil pessoas morreram durante a peste de
Caragea em 1813–1814, 20 a 30 mil delas em Bucareste.[149]
A Peste Negra devastou também grande parte do mundo islâmico.[150] A peste estava
presente em pelo menos um local no mundo islâmico praticamente todos os anos entre
1500 e 1850.[151] A peste atingiu várias vezes as cidades do norte da África. Argel perdeu
30 a 50 mil habitantes em 1620–1621 e novamente em 1654–1657, 1665, 1691 e 1740–
1742.[152] A peste permaneceu um grande evento na sociedade otomana até ao segundo
quarto do século XIX. Entre 1701 e 1750, trinta e sete epidemias maiores e menores foram
registradas em Constantinopla, e outras trinta e uma entre 1751 e 1800.[153] Bagdade sofreu
severamente com as visitas da peste e, por vezes, dois terços da população foi
exterminada.[154]

Terceira pandemia de peste


A terceira pandemia de peste (1855) foi uma grande pandemia de peste bubônica que
começou em Iunã, China, durante o quinto ano do imperador Xianfeng da dinastia Qing.
[155]
Espalhou-se por todos os continentes habitados e vitimou 10–12 milhões de pessoas
somente na Índia e China,[156][157] tornando uma das pandemias mais mortais da história —
estima-se que mais de 15 milhões de pessoas mundialmente.[158][159][2]
Um reservatório natural ou nicho da peste centrou-se no oeste de Iunã. A terceira
pandemia de peste se originou na área após um rápido influxo de chineses
Han demandarem por minerais, principalmente o cobre, na segunda metade do século
XIX.[160] Em 1850, a população se expandiu para mais de 7 milhões de pessoas. O aumento
do transporte em toda a região colocou as pessoas em contato com pulgas infectadas pela
peste, o principal vetor entre o rato de peito amarelo — Rattus flavipectus — e humanos.
Muitos trouxeram pulgas e ratos de volta às crescentes áreas urbanas, onde pequenos
surtos às vezes atingiam proporções epidêmicas. A praga se espalhou ainda mais depois
que as disputas entre os mineiros chineses Han e muçulmanos Hui no início da década de
1850 irromperam em uma revolta violenta, conhecida como a Revolta dos Panthay, que
levou a novos deslocamentos por movimentos de tropas e migrações de refugiados. O
surto da peste ajudou a recrutar pessoas para a Rebelião Taiping. A praga começou a
aparecer nas províncias de Guangxi e Guangdong, na Ilha de Hainan e depois no delta
do rio das Pérolas, incluindo Guangdong e Hong Kong. Embora o historiador William H.
McNeill e outros acreditassem que a praga tenha sido trazida do interior para as regiões
costeiras por tropas que retornavam das batalhas contra os rebeldes muçulmanos,
Benedict sugeriu evidências a favor do crescente e lucrativo comércio de ópio, que
começou depois de cerca de 1840.[160][161] Na cidade de Guangzhou, a partir de março de
1894, a doença matou 80 mil pessoas em poucas semanas. O tráfego diário de água na
cidade vizinha de Hong Kong espalhou rapidamente a doença. Em dois meses, após 100
mil mortes, as taxas de mortalidade caíram abaixo das taxas de epidemia, mas a doença
continuou a ser endêmica em Hong Kong até 1929.[162]
Doze surtos de peste na Austrália entre 1900 e 1925 resultaram em mais de mil mortes,
principalmente em Sydney. Isso levou ao estabelecimento de um Departamento de Saúde
Pública no país, que realizou algumas pesquisas de ponta sobre a transmissão da peste
de pulgas de ratos a humanos através do bacilo Yersinia pestis.[163] A primeira epidemia de
peste na América do Norte foi a praga de São Francisco de 1900 a 1904, seguida por
outro surto em 1907 a 1908.[164][165][166] De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a pandemia foi considerada ativa até 1960, quando o número de vítimas
mundiais caiu para 200 ao ano.[167]
Os métodos modernos de tratamento incluem inseticidas, uso de antibióticos e uma vacina
contra a peste. Teme-se que a bactéria da peste possa desenvolver resistência a
medicamentos e novamente voltar a ser uma grande ameaça à saúde. Um caso de uma
forma resistente à droga da bactéria foi encontrado em Madagascar em 1995.[168] Um novo
surto em Madagascar foi relatado em novembro de 2014.[169] Em outubro de 2017, o surto
mais mortal da peste nos tempos modernos atingiu Madagascar, matando 170 pessoas e
infectando milhares.[170
https://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_Negra 22/03/2023
Infecção bacteriana rara, mas grave, que é transmitida por pulgas.

A peste bubônica é causada pela bactéria Yersinia pestis. Pode se disseminar pelo contato
com pulgas infectadas.
Os sintomas incluem inchaço dos gânglios linfáticos, que podem ficar grandes como ovos
de galinha, na virilha, na axila ou no pescoço. Eles podem ser sensíveis e quentes. Outros
sintomas incluem febre, calafrios, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.
A peste bubônica requer tratamento hospitalar urgente com antibióticos fortes.

Muito rara
Casos por ano: menos de 15 mil (Brasil)

O tratamento é feito com auxílio médico


Propaga-se por animais ou insetos
Requer um diagnóstico médico
Sempre requer exames laboratoriais ou de imagem
Curto prazo: resolve-se em dias ou semanas
Crítico: necessita de atendimento de emergência
COMO É A PROPAGAÇÃO

Por picadas ou ferroadas de animais ou insetos.


Por produtos sanguíneos (agulhas sujas ou sangue não testado).

Requer um diagnóstico médico


Os sintomas incluem inchaço dos gânglios linfáticos, que podem ficar grandes como ovos
de galinha, na virilha, na axila ou no pescoço. Eles podem ser sensíveis e quentes. Outros
sintomas incluem febre, calafrios, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.

As pessoas podem ter:


Dores locais: no abdômen ou nos músculos
Tosse: com sangue
No corpo: calafrios, fadiga, febre ou mal-estar
No aparelho gastrointestinal: diarreia, náusea ou vômito
Também é comum: inchaço, inchaço dos gânglios, catarro, delírio, dor de cabeça, falta de
ar, gânglio linfático inchado e sensível, pus ou sangramento

O tratamento é feito por meio do uso de antibióticos

A peste bubônica requer tratamento hospitalar urgente com antibióticos fortes.

Como você pode se cuidar


Higiene

Medicamentos
Antibiótico

22/03/23

A devastação causada pela pandemia de peste deixou uma


marca genética tão forte na humanidade que ainda afeta nossa
saúde quase 700 anos depois.
Cerca de metade da população morreu quando a peste
bubônica, também conhecida como peste negra, varreu a
Europa em meados do século 14.
Um estudo pioneiro que analisou o DNA de ossadas centenárias
encontrou mutações que ajudaram pessoas a sobreviver à
doença.
Mas essas mesmas mutações estão ligadas a doenças
autoimunes que hoje afligem a população.

 Peste Negra: DNA em dentes de 6 séculos revela onde


epidemia começou, diz estudo
 A bizarra epidemia que levou franceses a dançar até à
morte no século 16

A peste bubônica marcou um dos capítulos mais mortais e


sombrios da história humana. Estima-se que até 200 milhões de
pessoas morreram.

Pesquisadores de um novo estudo suspeitam que um evento de


tamanha proporção pode ter moldado a evolução humana.
Eles analisaram o DNA retirado dos dentes de 206 esqueletos
antigos — e foram capazes de datar com precisão os restos
mortais como sendo de antes, durante ou depois da peste
bubônica.
A análise incluiu ossadas de covas para vítimas da peste do
cemitério de East Smithfield que foram usadas para
sepultamentos em massa em Londres, no Reino Unido, além de
amostras vindas da Dinamarca.

CRÉDITO,MCMASTER UNIVERSITY
Legenda da foto,
Esta pesquisadora está analisando um dente antigo que contém DNA degradado
Pule Podcast e continue lendo
Podcast

Brasil Partido

João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau


atual de divisão.

Episódios

Fim do Podcast
A descoberta, publicada na revista científica Nature, envolve
mutações em um gene chamado ERAP2.
Se você tivesse determinadas formas da mutação, tinha 40%
mais chances de sobreviver à peste.
"É bastante, é um efeito enorme, é uma surpresa encontrar algo
assim no genoma humano", afirma Luis Barreiro, professor da
Universidade de Chicago, nos EUA.
A função do gene é produzir as proteínas que desmembram os
micróbios invasores e chamar a atenção do sistema
imunológico sobre eles, preparando-o para reconhecer e
neutralizar o inimigo de forma mais eficaz.
O gene aparece em diferentes versões — aquelas que
funcionam bem e aquelas que não fazem nada — e você recebe
uma cópia de cada progenitor.
Assim, os sortudos, com maior probabilidade de sobreviver,
herdaram uma versão de alto desempenho da mãe e do pai.
E os sobreviventes da peste tiveram filhos, transmitindo assim
essas mutações úteis, de modo que de repente se tornaram
muito mais comuns.
"É grandioso ver uma mudança de 10% ao longo de duas a três
gerações, é o evento de seleção mais forte em humanos até
hoje", afirma o geneticista evolutivo Hendrik Poinar, professor
da Universidade McMaster, no Canadá.
Os resultados foram confirmados em experimentos modernos
usando a bactéria causadora da peste — Yersinia pestis. Amostras
de sangue de pessoas com as mutações úteis foram mais
capazes de resistir à infecção do que aquelas sem.
"É como assistir à peste negra se desenvolver em uma placa de
Petri — é revelador", diz Poinar.

CRÉDITO,UNIVERSITY OF CHICAGO
Ainda hoje essas mutações resistentes à peste são mais
comuns do que eram antes da peste bubônica.
O problema é que foram associadas a doenças autoimunes,
como a doença inflamatória intestinal de Crohn — ou seja, a
mesma coisa que ajudou a manter seus ancestrais vivos há 700
anos pode estar prejudicando sua saúde hoje.
Outras forças históricas sobre nosso DNA deixaram um legado
que sentimos. Cerca de 1% a 4% do DNA humano moderno vem
da procriação entre nossos ancestrais com neandertais — e
essa herança afeta nossa capacidade de responder a algumas
doenças, incluindo a covid-19.
"Assim, essas cicatrizes do passado ainda impactam nossa
suscetibilidade a doenças hoje, de uma maneira bastante
notável", observa Barreiro.
Segundo ele, a vantagem de sobrevivência de 40% foi o "efeito
de aptidão seletiva mais forte já estimado em humanos".
Aparentemente, diminui o benefício das mutações de
resistência ao HIV (vírus causador da Aids) ou daquelas que
ajudam a digerir o leite — embora ele alerte que as
comparações diretas são complicadas.
Mas a pandemia de covid-19 não deixará um legado semelhante.
A evolução funciona por meio de sua capacidade de reproduzir e
transmitir seus genes. A covid mata em grande parte os idosos
que já passaram da fase de ter filhos.
Foi a capacidade da peste de matar em todas as faixas etárias
e em números tão grandes que fez a doença ter um impacto tão
duradouro.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-63325946 23/03/2023

"A peste negra é como ficou conhecida a peste bubônica, doença causada pela bactéria
Yersinia pestis, que atingiu o continente europeu em meados do século XIV. Os historiadores
acreditam que a doença surgiu em algum lugar da Ásia Central e foi levada por genoveses para
o continente europeu.

O resultado foi catastrófico, pois a doença atingiu praticamente todo o continente e resultou
na morte de milhões de pessoas. As estimativas mais tradicionais falam que cerca de 1/3 da
população europeia morreu por causa da crise de peste negra, mas algumas estatísticas
sugerem que a quantidade de mortos possa ter ultrapassado a metade da população europeia.

Acesse também: Pandemia – entenda o que é e veja outros casos na história

Tópicos deste artigo

1 - Onde surgiu a peste negra?


2 - Difusão da peste negra pela Europa

3 - Como era a vida das pessoas durante a peste negra?

4 - Sintomas da peste negra

5 - Consequências

Onde surgiu a peste negra?

A peste bubônica é uma doença causada pelo Yersinia pestis, uma bactéria que é encontrada
em pulgas que ficam em ratos contaminados. Quando as pulgas contaminadas têm contato
com seres humanos, a transmissão da doença acontece. A partir daí, a peste pode ser
transmitida de humano para humano pelas secreções do corpo ou pela via respiratória.

A peste negra foi um surto de peste bubônica que atingiu a Europa ao longo do século XIV,
resultando na morte de, pelo menos, 1/3 da população.

Os historiadores acreditam que a peste negra surgiu na Ásia Central. Existem inúmeras teorias
sobre o lugar específico onde a doença surgiu, mas a mais aceita sugere que o lugar de origem
é a China e que, durante muito tempo, a peste tenha atuado exclusivamente na Ásia Central. A
partir do século XIV, ela se espalhou por terra e por mar pelo Oriente.

Regiões como a Mongólia, parte da China, Síria, Mesopotâmia e Egito teriam sido atingidas no
começo do século XIV, causando a morte de cerca de 24 milhões de pessoas nesses locais|1|.
A doença teve contato com os europeus por meio de um conflito que aconteceu em Caffa,
colônia genovesa localizada na Crimeia (região atualmente disputada por Ucrânia e Rússia).

Em 1343, Caffa foi sitiada por tropas tártaras do Canato da Horda Dourada. O conflito seguiu
com interrupções até que, em 1346, as tropas tártaras foram dizimadas por um surto de peste
negra. Os tártaros decidiram utilizar a doença como arma e lançaram cadáveres contaminados
para dentro da cidade.

O resultado foi imediato e a cidade de Caffa também começou a sucumbir perante o surto de
peste. Fugindo da doença, genovenses começaram a abandonar Caffa, retornando para a
Península Itálica. Nesse retorno, os genoveses levaram a enfermidade para locais como
Constantinopla, Gênova e Marselha, o que resultou na disseminação por todo o continente
europeu.

Acesse também: Baixa Idade Média: conheça o período em que a peste negra se disseminou

Difusão da peste negra pela Europa


A partir dos portos no litoral mediterrâneo, a peste negra difundiu-se pela Europa. Em 1347, a
doença chegou à Sicília, ilha ao sul da Península Itálica; em 1348, chegou a Marselha, sul da
França; em 1349, alcançou Gênova e o norte da Itália e, partir daí, espalhou-se por toda a
Europa.

A difusão dessa doença levou morte por toda o continente europeu, uma vez que ninguém
sabia o que a causava. Isso naturalmente fez surgir todo tipo de especulação a respeito das
causas da peste. Alguns falavam que era um castigo divino, por exemplo; outros acusavam os
judeus de serem os responsáveis.

Logo os europeus identificaram que a doença era altamente contagiosa. Uma das formas de
contágio é a respiratória, assim, uma pessoa infectada pode facilmente transmitir por via
respiratória ou por suas roupas, por exemplo, a doença para outros. A peste negra atuava de
maneira fulminante, e a pessoa que a contraía falecia em questão de dias.

A peste transmitida pela via respiratória é conhecida como peste pneumônica. Segundo o
historiador Hilário Franco Júnior, a pessoa doente falecia em até três dias depois de contraí-la|
2|. Já o historiador Jacques Le Goff fala que muitas das pessoas que demonstravam os
sintomas da peste faleciam dentro de 24 horas após manifestar os primeiros sinais|3|.

Como era a vida das pessoas durante a peste negra?

A difusão da peste negra resultou na morte de milhares de pessoas. A doença espalhou-se por
cidades e pelo campo, embora tivesse ação mais mortal nos grandes centros urbanos. Locais
inteiros foram devastados, e o caos disseminou-se. Algumas regiões da Europa começaram a
perseguir os doentes, isolando os que adoeciam para deixá-los morrer. Em alguns casos, os
doentes eram executados.

O escritor italiano Giovanni Boccaccio presenciou a peste negra com seus próprios olhos e
deixou relatos a respeito do que viu. Ele falou dos sintomas, do alto grau de contágio da
doença, mas também abordou o desmoronamento da ordem com a disseminação da peste,
pois muitas das autoridades foram contaminadas e, eventualmente, faleciam. O relato de
Boccaccio concentra-se no que ele presenciou em Florença, cidade italiana.

Boccaccio também falou das diferentes reações que as pessoas tiveram no período de crise da
doença. Ele relata que muitos procuraram o isolamento, evitando manter qualquer tipo de
contato com pessoas, sobretudo os que estavam doentes. Aqueles que eram mais ricos e
possuíam propriedades de campo, fugiram das cidades e foram abrigar-se nesses locais
afastados.
Com o tempo, os médicos perceberam que o contato com os doentes e com os corpos dos
mortos não deveria acontecer. Com isso, os doentes eram isolados e o contato com eles era
limitado àqueles que realizavam o tratamento médico. Padres também mantinham contato
com os acometidos, principalmente porque realizavam os ritos religiosos relacionados com o
perdão dos pecados e o funeral.

Os médicos que cuidavam dos que adoeciam de peste usavam uma roupa preta de couro e
uma máscara em forma de bico de pássaro.[1]

Essa percepção de que o contato com os doentes contribuía para disseminar a doença fez com
que as famílias parassem de se reunir à beira daqueles que estavam doentes. Reuniões de
funerais também acabaram deixando de acontecer, e os que tratavam dos doentes passaram a
utilizar roupas específicas, feitas de couro, para impedir que as secreções dos doentes
penetrassem no tecido. Os médicos também passaram a utilizar uma máscara em forma de
bico de pássaro, que era preenchido com ervas aromáticas. Acreditava-se que essas roupas
evitavam a contaminação.

Os padres foram um dos grupos que mais sofreram, pois tinham contato direto com os
doentes e com os corpos dos que faleciam. Como muitos dos padres viviam em mosteiros,
locais que havia uma grande aglomeração de religiosos – muitos em idade avançada –, quando
um padre contraía a doença, ela era rapidamente transmitida para outros.

A historiadora Tamara Quírico trouxe um relato de um cenóbio (residência de monges), em


Florença, onde cerca de ¾ dos religiosos que habitavam lá faleceram em decorrência da peste|
5|. Isso afetava os rituais funerários praticados, uma vez que não havia sacerdotes para
atender a quantidade de mortos.

Além de não haver sacerdotes suficientes, não existiam coveiros, e os sepultamentos


começaram a ser realizados em massa, isto é, em valas comuns, tamanha a quantidade de
pessoas que morriam. Todavia, com a percepção de que os cadáveres também eram vetores
de contaminação, muitos passaram a abandonar as práticas de sepultamento e começaram a
incendiar os corpos dos falecidos. Até as roupas utilizadas pelos doenças e outros itens
começaram a ser queimados.

Como já mencionado, muitas autoridades começaram a impor certo isolamento para evitar a
propagação da doença. O cirurgião Guy de Chauliac, de Avignon, na França, falava que pais não
podiam visitar seus filhos e vice-versa em razão do alto risco de contágio. Boccaccio relatou
também que algumas obras para melhorar a limpeza e condições de higiene da cidade e a
proibição da entrada de doentes também ocorreram em Florença|4|.
Leia também: Gripe espanhola, a pandemia que matou, pelo menos, 50 milhões de pessoas

Sintomas da peste negra

O médico Drauzio Varella afirma que a peste negra pode causar febre de 41° graus, além de
vômitos com a presença de sangue e complicações no pulmão. Para os que tinham problemas
pulmonares, a morte era praticamente garantida|6|. Boccaccio também deixou alguns relatos
a respeito de como a doença se manifestava nas pessoas. Ele diz que a peste começava:

[…] com o surgimento de certas tumefações na virilha ou nas axilas de homens e mulheres,
algumas das quais atingiam o tamanho de uma maçã comum e outras o de um ovo, umas mais
e outras menos, e a elas o povo dava o nome de bubões. E os referidos bubões mortíferos, não
se limitando às duas citadas partes do corpo, em breve espaço de tempo começaram a nascer
e a surgir indiferentemente em todas as outras partes, após o que a qualidade da enfermidade
começou a mudar, passando a manchas negras ou lívidas, que em muitos surgiam nos braços,
nas coxas e em qualquer outra parte do corpo, umas grandes e ralas, outras diminutas e
espessas. E, tal como ocorrera e ainda ocorria com o bubão, tais manchas eram indício
inegável de morte próxima para todos aqueles em quem aparecessem|4|.

Por meio desse relato, podemos perceber que as regiões inchadas do corpo por causa da
doença eram chamadas de bubões, por isso peste bubônica. A expressão peste negra, por sua
vez, faz referência às manchas pretas que apareciam no corpo das vítimas que contraíam a
doença.

Consequências

O primeiro e o maior surto de peste negra ocorreu entre 1348 e 1350, mas outros surtos
aconteceram ao longo de todo o século XIV. A peste foi uma doença que esteve presente na
vida dos europeus até 1720, quando o último surto foi registrado em Marselha, na França. A
atuação da doença na Europa ao longo do século XIV contribuiu para uma redução
populacional drástica.

As estimativas tradicionais falam que a enfermidade foi responsável pela redução de 1/3 da
população do continente europeu, mas alguns historiadores, como Jacques Le Goff, têm
trazido novos dados, demonstrando que a quantidade de mortos possa ter sido maior que isso.
Le Goff fala que entre metade e 2/3 da população europeia possa ter morrido por causa da
doença e, em alguns locais, como a Inglaterra, ele sugere que a mortalidade esteve na casa dos
70%|7|.

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/pandemia-de-peste-negra-seculo-xiv.htm

22/03/2023
Um médico da peste negra (italiano: medico della
peste, holandês: pestmeester, espanhol: Médico de la peste negra, alemão: Pestarzt) foi
um médico que tratava aqueles que contraíram a peste bubônica[1] durante epidemias.
Esses médicos foram contratados pelas cidades para tratar pacientes infectados
independentemente da renda, principalmente os pobres que não tinham condições de
pagar.[2][3]
Médicos da peste tinham uma reputação mista, com alguns cidadãos vendo sua presença
como um aviso para deixar a área.[4] Alguns médicos da peste eram conhecidos por cobrar
os pacientes e suas famílias taxas adicionais para tratamentos especiais ou falsas curas.
[5]
Em muitos casos não eram médicos profissionais treinados ou cirurgiões experientes;
em vez disso, sendo voluntários, médicos de segunda categoria, ou jovens médicos
começando uma carreira.[6] Em um caso, um destes médicos havia sido vendedor de frutas
antes de seu emprego como um médico. Os médicos da peste raramente curavam os
pacientes; em vez disso, serviam para registrar o número de mortos e o número de
pessoas infectadas para propósitos demográficos.[4]
Na França e nos Países Baixos os médicos da peste muitas vezes não possuíam
nenhuma formação médica e eram referidos como "empíricos". Os médicos da peste eram
conhecidos como médicos municipais ou "médicos da peste comunitários", enquanto os
"clínicos gerais" eram médicos separados e ambos podiam estar na mesma cidade ou vila
europeia ao mesmo tempo.[1][7][8][9]
Alguns médicos usavam máscaras que pareciam bicos de aves cheias de itens
aromáticos. As máscaras foram concebidas para protegê-los do ar fétido, que, de acordo
com a teoria miasmática da doença, foi considerado como a causa da infecção. Assim:
Possuíam um nariz de meio pé de comprimento, com a forma de um bico, preenchido com
perfume em apenas dois orifícios, um de cada lado, perto das narinas, mas que eram o
suficiente para respirar e reunir o ar das drogas alojadas no interior do bico. Sob o casaco
usam botas de couro marroquino (couro de cabra) por cima dos calções que estavam
amarradas a estas botas e uma blusa de manga curta em pele lisa, do qual o extremo
inferior é dobrado para dentro dos calções. O chapéu e as luvas também são feitas da
mesma pele... com lentes sobre os olhos.
— [10]

História
De acordo com a Enciclopédia de Doenças Infecciosas,[11] de Michel Tibayrenc, a primeira
menção ao icônico médico da peste é encontrada durante o surto de peste de 1619 em
Paris, na obra escrita do médico real Charles de Lorme, servindo ao rei Luís XIII da França
na época. Após De Lorme, o gravador alemão Gerhart Altzenbach publicou uma famosa
ilustração em 1656, na qual o icônico Doutor Schnabel von Rom do editor Paulus Fürst se
baseia. Neste trabalho satírico, Fürst descreve como o médico não faz nada além de
aterrorizar as pessoas e tirar dinheiro dos mortos e moribundos.[12]
A cidade de Orvieto contratou Matteo fu Angelo em 1348 por quatro vezes a taxa normal
de um médico de 50 florins por ano.[8] O Papa Clemente VI contratou vários médicos extras
durante a epidemia de Peste Negra para cuidar das pessoas doentes de Avignon. Dos
dezoito médicos em Veneza, apenas um foi deixado em 1348: cinco tinham morrido da
peste, e doze estavam desaparecidos e poderiam ter fugido.[13]

Métodos e funções
Os médicos da peste praticavam sangria e davam diversos tipos de remédios, como
colocar sapos ou sanguessugas nos bubões para "reequilibrar os humores".[14] A principal
tarefa de um médico da peste, além de tratar pessoas com peste, era compilar registros
públicos de mortes por peste.[4]
Em certas cidades europeias como Florença e Perúgia, os médicos da peste foram
solicitados a fazer autópsias para ajudar a determinar a causa da morte e como a peste
afetou as pessoas.[15] Os médicos da peste também às vezes pegavam a última vontade e
testamento dos pacientes durante períodos de epidemias de peste,[16] e aconselhavam
seus pacientes sobre sua conduta antes da morte.[17] Esse conselho variava de acordo com
o paciente e, após a Idade Média, a natureza da relação entre médico e paciente era
regida por um código ético cada vez mais complexo.[18][19]

Traje
Alguns médicos da peste usavam um traje especial que consistia em um sobretudo até o
tornozelo e uma máscara de bico de pássaro, muitas vezes cheia de substâncias doces ou
de cheiro forte (geralmente lavanda), juntamente com luvas, botas, um chapéu de abas
largas e um vestuário de roupa externa.[20][21][22][23] Entretanto, o traje não foi usado por todos
os médicos medievais e modernos que estudavam e tratavam pacientes de peste.[24]
A máscara típica tinha aberturas de vidro para os olhos e um bico curvo em forma de bico
de pássaro com tiras que seguravam o bico na frente do nariz do médico.[7] A máscara
tinha dois pequenos orifícios nasais e era um tipo de respirador que continha itens
aromáticos.[25] O bico pode conter flores secas (como rosas e craveiros), ervas
(como lavanda e hortelã), cânfora ou uma esponja de vinagre,[26][27] bem como bagas de
zimbro, âmbar, cravo, ládano, mirra e estoraque.[4] O objetivo da máscara era afastar maus
cheiros, conhecidos como miasma, que eram considerados a principal causa da doença.
[28]
Os médicos acreditavam que as ervas combateriam os cheiros "maus" da praga e
impediriam que fossem infectados.[29]
O chapéu de couro de abas largas indicava sua profissão,[20][21][22][23][30] e eles usavam
bengalas de madeira para apontar áreas que precisavam de atenção e examinar pacientes
sem tocá-los.[31] As bengalas também foram usadas para manter as pessoas afastadas[32]
[33]
e para remover roupas das vítimas da peste sem ter que tocá-las.[34]

Contrato
O contrato de um médico da peste era um acordo entre os administradores de uma cidade
e um médico para tratar pacientes de peste bubônica. Estes contratos estão presentes nos
arquivos das cidades europeias.[6] Sua responsabilidade contratual era tratar pacientes
com peste, e nenhum outro tipo de paciente, para evitar a propagação da doença para os
não infectados.[35] Um médico da peste tinha que cumprir uma longa quarentena depois de
ver um paciente da peste. O médico era visto como um "contato" que por acordo tinha que
viver em isolamento para ficar em quarentena.[36][18]

Negociações
A barganha que sempre precedia o contrato final muitas vezes consistia em negociações
sérias. Por exemplo, os administradores da cidade de Turim em 1630 estavam
considerando os termos de um acordo solicitado por um certo Dr. Maletto para se tornar
seu médico da peste. Depois de muita negociação, eles instruíram seus representantes de
corretores a fazer um acordo justo e rápido o mais rápido possível com esse Dr. Maletto.
Eles foram instruídos a fazer o melhor negócio possível para sua cidade, mas tomar
cuidado para não perder a oportunidade de contratar esse médico da peste, pois seria
difícil encontrar outra pessoa para realizar essas tarefas perigosas a uma taxa tão baixa.[6]
Como exemplo da dura negociação que se deu entre médicos da peste e cidades
europeias infectadas, há em Pavia um acordo original entre um Giovanni de Ventura e a
cidade em seus arquivos que mostra um contrato de dezesseis cláusulas que foi alterado
mesmo depois de originalmente escrito . A cláusula um originalmente mostrava 30 florins
por mês para pagamento, mas posteriormente foi modificada para ser líquida das
despesas de subsistência. A cláusula dois era originalmente que o pagamento deveria ser
dado com dois meses de antecedência, mas posteriormente modificado para mensal. A
cláusula cinco previa originalmente um pagamento indenizatório de dois meses, mas
depois a modificou para o pagamento de um mês. A cláusula seis dizia que o referido
mestre Giovanni não seria obrigado nem obrigado, exceto apenas no atendimento aos
pacientes da peste, que foi posteriormente ampliado com ... o médico deve tratar todos os
pacientes e visitar os locais infectados conforme for necessário. A cláusula sétima tinha a
ver com a cidadania plena e o texto original foi modificado com de acordo com a forma
como ele deve se comportar.[6][37]
Bernardino di Francesco Rinaldi obteve uma cláusula em seu contrato quando foi
contratado como médico da peste pela cidade de Volterra em 1527 que dizia
essencialmente que a cidade tinha a obrigação de fornecer a Bernardino tudo e tudo
necessário para seu suporte de vida (ou seja, comida, água ), e que essas despesas de
vida sejam pagas através das despesas da cidade.[38]

Repreensões
Em 1527, na cidade de Prato, um médico da peste chamado Stefano Mezzettino foi visto
atendendo outros pacientes sem um zelador. A regra no contrato do médico da peste era
que um zelador sempre deveria estar com o médico da peste quando ele visitava outros
pacientes. Isso criou muito perigo para o público. Ele foi multado por seu ato ilegal e por
quebrar a regra do contrato do médico da peste.[6]

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