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ESTRUTURAS

DE CONCRETO
ARMADO II

PROF. JOÃO HENRIQUE DE FREITAS


Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
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SUMÁRIO
AULA 01 RESERVATÓRIO 05

AULA 02 ESCADA 17

AULA 03 ELEMENTO DE FUNDAÇÃO: SAPATA 32

AULA 04 BLOCOS 49

AULA 05 ELEMENTO DE FUNDAÇÃO: ESTACA 62

AULA 06 MUROS DE CONTENÇÕES 74

AULA 07 FISSURAÇÃO E DEFORMAÇÕES 90

AULA 08 INTRODUÇÃO AO CONCRETO PROTENDIDO 101

AULA 09 INTRODUÇÃO AO SISTEMAS DE PROTENSÃO 111

AULA 10 ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS E ESTADOS 123


LIMITES DE SERVIÇO PARA O CONCRETO
PROTENDIDO

AULA 11 PERDAS DE PROTENSÃO 132

AULA 12 POSICIONAMENTO DOS CABOS AO LONGO DA 142


ESTRUTURA

AULA 13 FORÇA CORTANTE 147

AULA 14 SOLICITAÇÕES NORMAIS 156

AULA 15 TENSÕES DE CISALHAMENTO 166

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INTRODUÇÃO

Este livro apresenta um esquema prático profissional para o dimensionamento e


entendimento dos conceitos de concreto, relacionados ao estudo sobre: reservatório,
escada, elementos de fundação, deformação e fissuração, além de apresentar o
concreto protendido.
Podemos entender como objetivos a antecipação do aluno recém-formado a
condições práticas, para que possa aplicar sua teoria com segurança e tranquilidade.
O desenvolvimento de uma linha de raciocínio frente a verificação de seus cálculos
para as diversas solicitações da estrutura, desde a fase de lançamento das cargas
até o detalhamento e desenho final das armaduras.
O livro busca tratar os assuntos de forma direta, procurou sintetizá-lo sem perder as
funções de suas aplicações, sempre buscando as melhores referências e as normas
técnicas.
O conhecimento sobre reservatório e escada pode ser encontrado no capítulo I e
II, apresentadas em sequência.
Os elementos de fundação estão presentes nos capítulos III, IV, I e VI, sendo de grande
importância o estudante compreender esses capítulos como um tópico associado,
pois todos eles pertencem a infraestrutura.
No capítulo VII temos o estudo e interpretação do comportamento de fissuras e
deformação no concreto armado.
Nos capítulos VIII ao VX temos os conceitos de concreto protendido.

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AULA 1
RESERVATÓRIO

Os reservatórios usuais para abastecimento são compostos por um conjunto de


placas ou lajes, podendo ter uma ou mais células. Podemos entender que as células
são as subdivisões internas do reservatório. O reservatório tem como carregamento
o peso próprio de cada elemento constituinte, sendo eles tampa, parede, fundo. O
modelo inicial de um reservatório que vamos estudar está presente na figura 1.

Figura 1: Modelo de reservatório


Fonte: elaborado pelo autor.

O dimensionamento e detalhamento do reservatório necessita do entendimento


de algumas condições, ou seja, a forma que o reservatório estará interagindo com o
nível do solo, sendo elas:
• Reservatório enterrado;
• Reservatório semi-enterrado;
• Reservatório elevado.

Segundo Resmin (2017) os reservatórios possuem a capacidade de assumir


diferentes formas, além de assumir diferentes tamanhos, sendo os mais convencionais
com seções em planta: retangular, quadrado e circular. O espaço disponível para
sua construção é um dos fatores que implica na escolha de sua geometria, além
do custo e razões arquitetônicas. Do ponto de vista prático, Hanai (1981) destaca

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que independentemente da sua geometria o reservatório deve apresentar garantia


de estanqueidade, sem possibilidade de contaminação, com adequada ventilação e
proteção contra a luz solar.
A partir disso, é definido qual tipo de reservatório oferecerá melhor custo benefício para
o projeto, elevados, apoiados ou enterrados, como verificado na figura 2. O reservatório
apresentado na figura 2.a é apoiado sobre estrutura composta por pilares, baldrame
e blocos sobre estacas. Esse tipo é utilizado em indústrias, centros comerciais ou em
situações onde sejam necessárias a atuação de pressão hidráulica suficiente para
suprir aparelhos hidráulicos ou equipamentos.
Na figura 2.c, destaca-se um reservatório enterrado, o qual é adotado em edifícios,
quando a pressão disponível na rede de distribuição pública no logradouro não é
suficiente para elevar a água para o reservatório superior. Com isso, reserva-se
água nesse reservatório, com recalque feito através de bombas hidráulicas. Esses
reservatórios geralmente não estão ligados à estrutura do edifício; são também
compostos por duas células.
Na figura 2.b destaca-se o reservatório menos comum, em concreto armado, por
ser apoiado ou parcialmente enterrado, este reservatório necessita de área disponível,
podendo, assim, não ser agradável para a arquitetura do local. Este tipo é mais
comumente utilizado para o abastecimento público e industrial.

Figura 2: Tipos de reservatórios


Fonte: elaborado pelo autor.

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Segundo a NBR 5626 (1998) em seu item 5.2.4.8 os reservatórios para água potável
não devem ser apoiados diretamente no solo ou quando enterrados, não devem ter
contato direto com o solo, evita-se, assim, a contaminação proveniente do solo. Em
casos em que é impossível atender tal exigência, procura-se executá-los dentro de
um compartimento com distância entre as faces externas e as faces internas do
reservatórios deve estar a 60cm do compartimento.
Geralmente os reservatórios se apoiam nos pilares do edifício, ou quando estão no
nível do terreno apoiam-se em vigas baldrames. Uma vez definido o volume de água
a ser reservado no reservatório e considerando a folga necessária para instalação
de bóias e da tubulação de descarga de segurança, determinam-se as dimensões do
reservatório, limitando-se usualmente sua altura a cerca de 2 metros a 2,5 metros
(VASCONCELOS, 1998).
É importante destacar que a altura desses reservatórios não deve ultrapassar 3
m, evitando esforços exagerados nas lajes de fundo. Quando a altura do reservatório
ultrapassa 3 m é necessário realizar análises por meio de modelos numéricos (elementos
finitos), obtendo, assim, uma melhor interpretação do comportamento do reservatório.
A figura 3 destaca a altura que projetamos nosso reservatório.

Figura 3: Modelo de reservatório.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Para Souza e Cunha (1994), as caixas d’água usuais de edifícios são, em geral, de
pequena capacidade, aproximadamente, 100 m³, para o volume de 500 m³ podemos
classificar como de médio porte, para volume superiores a 500 m³ podemos dizer que se
trata de um reservatório de grande dimensão. Quanto à sua subdivisão interna, ou seja,
divisão em células que, por sua vez, trata-se de colocação de paredes intermediárias
de modo a reduzir as dimensões das lajes que as compõem.
Como mencionado anteriormente é indicado que o reservatório tenha mais de uma
célula, as células facilitam a condição de limpeza e inspeção. A figura 4 destaca um
reservatório com duas células.

Figura 4:Modelo de reservatório: Duas células


Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Vasconcelo, (1998) a tampa deve possuir aberturas independentes para


cada uma das células, facilitando a inspeção, pois quando uma célula está vazia a
outra está cheia, não interrompendo o abastecimento, devendo ser cobertas por placas
pré moldadas apoiadas sobre reforços de borda das aberturas, a fim de impedir a
penetração de água da chuva. É comum também, instalarem-se placas metálicas
com dobradiças fixadas nos reforços da laje.
De ordem prática, podemos dizer que as aberturas são de 60x60cm e devem ser
capazes de evitar a entrada de água de chuva ou objetos estranhos.

1.1 (Exigências de projeto)

Podemos destacar como exigências mínimas a serem definidas para o projeto de


um reservatório, como:

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• Resistências: todas as partes que compõem o reservatório devem ser


dimensionadas para resistir aos possíveis esforços aos quais o reservatório
estará sujeito;
• Estanqueidade: o reservatório deve ser estanque, um recipiente fechado, que
não permita vazamentos;
• Durabilidade: o reservatório deve ser feito para que seja durável, portanto, suas
propriedades iniciais devem ser conservadas após longos períodos de contato
com o líquido armazenado.

As ligações entre paredes e fundo devem ser dotadas de mísulas visando (figura 5):
• Aumentar a rigidez da ligação entre as paredes;
• Reduzir os riscos de fissuração;
• Facilitar a aplicação da impermeabilização.

Figura 5:Modelo de reservatório: Mísulas.


Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Vasconcelo (1998) a condição de contorno das bordas engastadas é


ampliada pela aplicação das mísulas que são obrigatoriamente empregadas para
garantir a estanqueidade das arestas do reservatório. As ligações entre as paredes
e o fundo devem possuir mísulas, para aumentar o grau de engastamento entre as
placas, reduzir os riscos de fissuração e facilitar a aplicação da impermeabilização
como já mencionamos.

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As dimensões usuais das peças dos reservatórios d’água são mostradas na figura
6. Em que h1, h2 e h3 são as espessuras respectivamente da tampa, parede e fundo.
Observe que a figura 6 se trata de um reservatório enterrado:
• Tampa h1= 7 cm;
• Parede h2= 15 cm
• Fundo h3= 15 cm

Figura 6: Indicações de espessura.


Fonte: elaborado pelo autor.

1.2 (Ações de projeto)

Como já discutimos anteriormente, os elementos dos reservatórios podem ser


divididos em tampa, paredes e fundo, para cada elemento dessa subdivisão vamos
considerar um conjunto de ações que atuam de diferentes formas. Em uma visão geral,
podemos dizer que as principais ações são: peso próprio, peso do revestimento, carga
acidental, pressão da água e empuxo do solo. Porém, o empuxo do solo só acontece
para reservatórios enterrados e semienterrados.
Conforme NBR 6120 (ABNT, 2019), o peso de todos os elementos construtivos da
estrutura constituem as cargas permanentes, as quais podemos estimar a partir do
peso específico dos materiais que compõem o reservatório, que são estabelecidos na
referida norma. Em relação à posição do reservatório, podemos destacar alguns valores
de carga acidental referentes à laje de cobertura com acesso ao público, tráfego de
veículos ou outras condições específicas de cada projeto, além disso, deve-se estimar

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a pressão hidrostática que atua sobre as paredes bem como o empuxo do solo, se
assim for necessário.
Souza e Cunha (1994) destacam que, para reservatórios enterrados ou semi
enterrados, demonstrados na figura 7, deve-se considerar na tampa o peso próprio
dos elementos, cargas de solo e carga acidental. Para as paredes, atuam o empuxo
de terra (Es) e quando o nível do lençol freático se encontra acima do fundo do
reservatório, tem-se o empuxo de água (Ea), e a subpressão, além da pressão interna
(pa). Entretanto, quando há possibilidade de construções futuras (retirada do solo
adjacente ao tanque), deve-se desconsiderar a parcela de empuxo favorável em volta
do reservatório e considerar apenas o empuxo da água que atua internamente.

Figura 7: Reservatório, com empuxo de solo (Es), Empuxo de água (Ea), Reação do solo, Pressão interna (pa) e Cargas externas.
Fonte: elaborado pelo autor.

1.3 (Modelo de cálculo)

O projeto estrutural estabelece condições de contorno que uma estrutura deve ter
para que seja possível sua execução, como as questões de segurança, condições
de utilização, condições econômicas, estéticas, questões ambientais, condições
construtivas e restrições legais. Por tal motivo, existem algumas etapas que o projeto
estrutural explora para, ao final do processo, representar as especificações da estrutura
de forma completa (Martha, 2017).

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Com a concepção do modelo estrutural se dá início a uma caminhada que visa


a resposta da estrutura diante das solicitações, que pode ser expressa em termos
de esforços internos e deslocamentos e, assim, analisar se a estrutura é capaz de
suportar as solicitações com segurança, garantindo o (ELU) e (ELS).
Kimura (2018) esclarece que a concepção estrutural não está vinculada somente
a um modelo de análise, e sim diversos modelos que podem ser aplicados na análise
estrutural, como também existe a possibilidade de combinações de modelos nas
elaborações dos projetos. Com isso, muitos estudos foram desenvolvidos, testados
e validados a fim de desenvolver métodos alternativos para análise estrutural. Os
modelos podem ser mais simples ou mais complexos, e a qualidade depende da
natureza do problema estudado.
Podemos destacar que as cargas predominantes nos reservatórios são perpendiculares
ao plano dos elementos (tampa, parede e fundo) assume-se, de forma aproximada, que
cada componente do reservatório se comporta como uma placa isolada, ou seja, um
elemento de laje sujeito a ações normais em sua superfície, o que permite, portanto,
aplicar a teoria de placas para estimar seus esforços e deslocamentos. As placas são
elementos estruturais de superfície plana, estando sujeitas, principalmente, a ações
normais ao seu plano, que configura uma predominância dos esforços de flexão.
Segundo Vasconcelos, (1998) há várias maneiras de calcular os esforços solicitantes
que atuam nas peças estruturais dos reservatórios, o modo mais simples de obter
esses esforços é considerar cada parede como uma laje engastada em três bordas
e simplesmente apoiada na borda superior (tampa).
Souza e Cunha (1994) destaca que o cálculo das caixas d’água deve-se observar os
momentos em suas arestas (local de ligação), pois, nessa junção podem existir arestas
cujos momentos se aproximam dos momentos de engastamento perfeito e arestas
que possuem momentos pequenos, quase nulos, que fazem com que elas possam ser
associadas a apoio simples (rótula). Para se saber em que caso elas se enquadram,
é preciso realizar um estudo de tendência de deformação das lajes para cada tipo de
reservatório. Essa tendência de deformação é determinada através da rotação das
arestas dos elementos estruturais em função dos carregamentos atuantes (figura 7).
Quando as rotações das placas têm o mesmo sentido não temos a abertura ou
fechamento considerável da ligação, pode-se considerar a aresta simplesmente apoiada
(rotulada). Quando as rotações possuem sentidos contrários temos um acréscimo
de tensões devido à mudança dos esforços internos, podendo ocorrer abertura das

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ligações, para esta condição considera-se a vinculação como engastada (figura 8)


(Kuehn, 2002).

Figura 8: Modelo de vinculações.


Fonte: elaborado pelo autor.

Para reservatórios que não estão em contato com o solo, sendo eles elevados
ou enterrados com proteção externa, conforme a NBR 5626 (1998) descreve, as
paredes e o fundo são analisados como lajes com carregamento hidrostático atuando
perpendicularmente ao seu plano. Nesse caso, a vinculação a ser considerada para
as paredes é de três lados engatada e a borda superior apoiada. A laje do fundo é
considerada como engastada em suas quatro bordas com as paredes. Já a laje da
tampa pode ser analisada como simplesmente apoiada sobre as paredes, podemos
verificar tal condição na figura 9 (Kuehn, 2002).

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a)

b)

Figura 9: Tipos de reservatórios (a) e (b) e suas vinculações.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Discutiremos, agora, sobre os reservatórios apoiados, enterrados ou semienterrados.


Segundo Kuehn (2002) quando a laje do fundo funciona como um radier, temos as
seguintes ações: peso total do reservatório e do peso da água. Porém, além disso, a
laje é afetada pela reação do solo, portanto, a laje de fundo será analisada com as
quatro bordas simplesmente apoiadas nas paredes, pois tendem a girar no mesmo
sentido. As paredes devem ser consideradas engastadas entre si, pois tendem a girar
em sentidos opostos, e simplesmente apoiadas com o fundo e com a tampa e, por
fim, a tampa simplesmente apoiada nas paredes, conforme a figura 10.

Figura 10: Reservatórios apoiados


Fonte: elaborado pelo autor.

A condição de contorno das bordas engastadas é condicionada pela implementação


de reforço na ligação entre os elementos de placa, denominado em nosso estudo
como, mísulas. As condições de vinculações das placas para o reservatório cheio,
conforme a figura 8, pode ser resumido em:
• Tampa Totalmente rotulada;
• Fundo Totalmente engastado;
• Paredes rotuladas com a tampa e engastada com fundo e paredes.

Em que
pp: Pressão sobre a tampa;
pa: Pressão devido ao empuxo de água.

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Além dos esforços de flexão, também atuam esforços de tração, que podem ser
determinados por meio de regras empíricas de distribuição das ações ou por meio de
coeficientes tabelados, existentes na literatura a respeito da distribuição das reações
de apoio das lajes (figura 9) (VASCONCELOS, 1998).

Segundo Vasconcelos (1998) é de grande importância a análise das vinculações


entre os elementos estruturais do reservatório. Pois, as arestas como o ponto de
ligação entre os elementos, tampa, fundo e parede (lajes) é o local mais afetado pela
abertura de fissuras, de acordo com a produção de tensões devido às condições de
rotações entre elas. Portanto, é necessário um estudo cuidadoso das condições de
ligação entre cada laje.

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AULA 2
ESCADA

Algumas edificações possuem desnível a ser vencido, temos assim a utilização do


elemento estrutural escada, característica presente em praticamente todas edificações
que possuem mais de um andar. As escadas são elementos de deslocamento vertical
amplamente utilizados pelo homem.
Os projetos devem oferecer segurança e qualidade ao usuário, desta forma, é
necessário que arquitetos e engenheiros façam escolhas considerando a viabilidade
técnica e financeira da estrutura em questão. Dentro desse contexto encontram-se
os projetos de escadas de concreto armado.
Cunha e Souza (1998) destaca que o elemento estrutural (escada) tem como função
unir, através de degraus sucessivos, os diferentes pavimentos de uma construção, a
utilização de uma escada se faz necessária para qualquer edificação cujos pavimentos
não possuam saída para o espaço livre exterior, bem como, importância do correto
dimensionamento de uma escada, pois é uma condição primordial para aprovação
da grande maioria dos projetos nos órgãos responsáveis.
O tipo mais usual de escada em concreto armado tem como elemento resistente
uma laje (inclinada, figura 1) armada em uma só direção e normalmente os degraus
não têm função estrutural. Porém, podemos ter escadas armadas em duas direções, o
comportamento estrutural da escada está relacionado com a necessidade do projeto.
Em projeto de escadas vamos trabalhar com condições de apoio simples ou elementos
engastados dependendo do modelo elaborado.

Figura 1: Modelo de laje inclinada.


Fonte: elaborado pelo autor.

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A NBR 9077/2001 recomenda, para a obtenção de uma escada adequada, a


verificação em relação:
s + 2 e = 60 cm a 64 cm Eq. 1
em que:
(S) representa o valor da pisada;
(e) representa o valor da altura do degrau.

Recomendação de ordem prática: temos que algumas obras determinam valores,


como: (s ≥ 25 cm e ≤ 19 cm). Valores fora destes intervalos só se justificam para
escadas com fins especiais, como, por exemplo, escadas de uso eventual.
Araújo (2014), define as espessuras de uma escada conforme apresentadas na figura
2, pode-se assim verificar que as nomenclaturas de referência para o dimensionamento
são: altura livre (HL) seja no mínimo igual a 2,10 m, (HV) o desnível a vencer com a
escada, (LH) o seu desenvolvimento horizontal e (n) número de degraus.

Figura 2: Dimensões de cálculo para escada.


Fonte: elaborado pelo autor.

Considerando-se a equação Eq. 1, podemos destacar alguns exemplos de aplicação


como:
• Escadas interiores (limite inferior): s = 25 cm; e = 18,5 cm
• Escadas interiores (limite superior): s = 28 cm; e = 17,0 cm
• Escadas externas: s = 32 cm; e = 15,0 cm

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Podemos destacar algumas recomendações de ordem prática, destacando que


a largura da escada pode ser superior a 95 cm em geral, para edifícios residencial e
comercial e também em hotéis recomenda-se 120 cm de largura.
Para o dimensionamento de escadas, temos que estudar os tipos de escadas e
suas características específicas, bem como as ações que nelas atuam. A espessura
da laje por ordem prática pode ser fixada, em função do comprimento do vão, pela
seguinte tabela.

Vão Espessura
L≤3m 10 cm
3m <L≤4 m 12 cm
4 m <L≤5 m 14 cm

2.1 Título 2 (Ações na escada)

Conforme descrito na Norma NBR 8681/2004, os carregamentos são classificados


de acordo com sua ocorrência no tempo, em três categorias:
• Permanentes;
• Acidentais;
• Excepcionais.

Este capítulo irá trabalhar com os principais carregamentos permanentes e acidentais


atuantes em escadas de concreto armado. As ações que atuam na escada serão
consideradas verticais por (m²) de projeção horizontal, tal consideração implica em
maior facilidade na análise e, posteriormente, para o dimensionamento.
Conforme descrito por Araújo (2014) o peso próprio da escada é calculado com a
espessura média (Hm), definida na Figura 3.a, e com o peso específico do concreto
recomendado pelo projetista, em muitos casos podemos adotar 25 kN/m³.
Para as condições onde a laje da escada possuir espessura constante e o enchimento
dos degraus for de alvenaria, podemos considerar que o peso próprio será calculado
somando o peso da laje (concreto), calculado em função da espessura (h1) e mais
peso do enchimento (alvenaria, ou material que for utilizado), calculado em função
da espessura média (e/2) (Figura 3.b).

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Figura 3:a) Escada em concreto; b) Escada em concreto com degraus em alvenaria.


Fonte: elaborado pelo autor.

O revestimento da escada:
Temos que considerar uma carga uniformemente distribuída de revestimento inferior,
somado com a carga de revestimento do piso, costumam ser adotados valores no
intervalo de 0,8 kN/m² a 1,2 kN/m² (figura 4). Porém, recomenda-se realizar uma
análise prévia dos materiais, pois podemos ter alguns materiais empregados para o
revestimento que possuem valores de ações mais altos do que o convencional, como,
por exemplo, o mármore, aconselha-se utilizar um valor maior.

Figura 4:Revestimento inferior e superior da escada.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Os valores mínimos para as ações de uso, especificados pela NBR 6120/2019, são
os seguintes:
• Escadas com acesso público: 3,0 kN/m2;
• Escadas sem acesso público: 2,5 kN/m2.

Para Rocha (1974) os valores podem ser maiores dependendo da quantidade de


pessoas que a escada deve comportar, de tal forma tem-se os seguintes valores:
• Escadas secundárias: 2 a 2,5 kN/m²;
• Escadas de edifícios residenciais: 2,5 a 3 kN/m²;
• Escadas de edifícios públicos: 4 a 5 kN/m².

Segundo Melges (1997) quando uma escada for constituída em degraus isolados,
deve-se realizar uma análise supondo uma força concentrada de Q=2,5 kN, aplicada
na posição mais desfavorável (figura 5a). Como exemplo, para o dimensionamento
de uma escada com degraus isolados em balanço, além da verificação utilizando-se
ações permanentes (g) considera-se uma força concentrada (Q), ilustrada na figura 5.a.
No entanto, este carregamento não deve ser considerado na composição das ações
que estão agindo na viga que suporta os degraus, a qual deve ser dimensionada para
as ações de uso, juntamente com as ações permanentes, figura 5.b.

Figura 5: a) - Degraus isolados em balanço considerando-se a força concentrada variável Q; b) Ações a serem consideradas no dimensionamento da viga.
Fonte: elaborado pelo autor.

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Conforme Melges (1997) quando a ação do gradil, mureta ou parede não está
aplicada diretamente sobre uma viga de apoio, ela deve ser considerada no cálculo da
laje (laje que compõe a escada). A rigor esta ação é uma força linearmente distribuída
ao longo da borda da laje. No entanto, esta consideração acarreta um trabalho que
não se justifica nos casos comuns. Sendo assim, uma simplificação que geralmente
conduz a bons resultados consiste em transformar a resultante desta ação em outra
uniformemente distribuída, podendo ser somada às ações anteriores. O cálculo dos
esforços é feito, então, de uma única vez.
O peso do gradil varia, em geral, fica compreendido entre os valores de 0,3 kN/m
a 0,5 kN/m.
Referente a mureta ou parede, temos que essa ação depende do material empregado:
tijolo maciço, tijolo cerâmico furado ou bloco de concreto. Os valores usuais, incluindo
revestimentos.
Segundo a NBR 6120/2019, ao longo dos parapeitos deve-se considerar as seguintes
ações, carga horizontal de 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma carga vertical mínima
de 2 kN/m, conforme a figura 6.

Figura 6: Ações definidas pela NBR 6120 (1980), para parapeitos.


Fonte: elaborado pelo autor.

Discutimos sobre as ações na escada, vamos agora estudar sobre os tipos de


escada e seu comportamento estrutural.

2.2 Título 2 (Modelos de escadas)

Serão estudadas as escadas armadas transversalmente, longitudinalmente, em cruz,


as escadas com patamar e as escadas em balanço, além das escadas com degraus

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isolados engastados em viga reta. Vamos discutir alguns detalhes do projeto, bem
como seu comportamento para o dimensionamento.
Segundo Araújo (2014), a posição dos apoios define a direção da armadura principal
da escada, que pode ser armada longitudinalmente, transversalmente ou nas duas
direções.

As escadas armadas transversalmente:

São compostas pelo vão teórico (L) e ação distribuída uniformemente (p), os esforços
máximos, dados por unidade de comprimento, são:
Melges et al. (1997) recomenda que se utilize a espessura h1, para dimensionamento,
visto que não se dispõe da espessura (Hm) em todos os pontos da escada, ou seja,
para os trechos que não têm degraus temos a espessura inferior a (Hm).
Conforme Melges (1997) quando temos valores de (L) dentro de padrões
convencionais , a taxa de armadura de flexão resulta em valor inferior ao encontrado
pela mínima (asmín). No cálculo da armadura mínima, recomenda-se usar h1.
asmín = 0,15% bw.h1;
sendo h1 ≥ 7 cm.

Permite-se usar também a espessura h, mostrada na figura 7, por ela ser pouco
inferior a h1.

Figura 7: Escada armada transversalmente.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Denominando-se a armadura de distribuição de (asdistr), obtém-se:


asdistr≥(1/5 da armadura principal) ou (0,90 cm²/m)

Segundo Melges (1997) o espaçamento máximo indicado para as barras da armadura


principal não deve ser superior a 20 cm, para a armadura de distribuição não podemos
ter espaçamento superior a 33 cm. Este modelo de escada é mais aplicada para
residências, sendo construída entre duas paredes que servem de apoio para as vigas.
Neste caso, não se deve esquecer de considerar, no cálculo da viga-baldrame, a reação
da escada na alvenaria.

Escadas armadas longitudinalmente:

Segundo Cunha e Souza (1998), escadas armadas longitudinalmente devem ser


utilizadas quando não é possível criar apoios ao longo da escada. Araújo (2014) afirma
que esse tipo de escada pode ser dimensionada semelhante a uma viga de largura
(b), altura (h) e vão (L), conforme ilustram a figura 8.

Figura 8: Largura de cálculo de escada armada longitudinalmente.


Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Melges (1997) o peso próprio é em geral avaliado por (m²) de projeção
horizontal. É pouco usual a consideração da força uniformemente distribuída por (m²)
de superfície inclinada, figura 9. Conforme a notação indicada na Figura 8, o momento
máximo, dado por unidade de largura, é igual a:
(pL2) (pi Li2)
m= ____ ou m= ______
8 8
Onde:
L= Vão na direção horizontal;

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p = Força vertical uniformemente distribuída;


Li = Vão na direção inclinada;
pi = força uniformemente distribuída perpendicular ao vão inclinado.

Figura 9: Vão e espessura de cálculo de escada armada longitudinalmente.


Fonte: elaborado pelo autor.

O valor da força inclinada uniformemente distribuída (pi) pode ser obtido da


seguinte forma: considera-se largura unitária e calcula-se a força resultante que atua
verticalmente (P); projeta-se esta força na direção perpendicular ao vão inclinado (Pi);
divide-se essa força (Pi) pelo valor do vão inclinado (li), de forma a se obter uma força
uniformemente distribuída (pi), na direção perpendicular ao vão inclinado.
Supondo as mesmas condições de apoio nas duas extremidades, a força resultante
projetada na direção do vão inclinado produzirá reações de tração na extremidade
superior e de compressão na extremidade inferior. Porém, as tensões são pequenas
e, em geral, não precisam ser levadas em consideração. As extremidades poderão ser
engastadas, para este caso, deverão ser consideradas as devidas condições estáticas
(MELGES; PINHEIRO; GIONGO, 1997).

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Escadas armadas em cruz:

Segundo Melges (1997) os esforços são calculados utilizando-se tabelas para ações
verticais e considerando-se os vãos medidos na horizontal. Este tipo de escada está
ilustrado na figura 10. Para o dimensionamento, na direção transversal, pode-se utilizar
a altura h1 no cálculo da armadura mínima. Já na direção longitudinal utiliza-se a
altura h. O cálculo das vigas horizontais não apresenta novidades.
Nas vigas inclinadas, as ações são admitidas verticais por metro de projeção
horizontal e os vãos são medidos na horizontal.

Figura 10: Modelo de escada armada em cruz.


Fonte: elaborado pelo autor.

Escadas com patamar

Para este tipo de escada, são possíveis várias disposições conforme mostra a
Figura 11. O cálculo consiste em se considerar a laje como simplesmente apoiada,
lembrando que a ação atuante no patamar em geral é diferente daquela atuante na
escada propriamente dita.

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Figura 11: Tipo de escadas


Fonte: (MANCINI, 1971)

Nos casos (a) e (b), dependendo das condições de extremidade, o funcionamento


real da estrutura pode ser melhor interpretado com o cálculo detalhado a seguir.
Considera-se o comportamento estático da estrutura representado na figura 12.

Figura 12 : Comportamento estático da escada


Fonte: (MANCINI, 1971)

A reação RB pode ser dada pela composição das compressões Ce e Cp, que ocorrem
na escada e no patamar, respectivamente. Essas compressões podem ocorrer em
função das condições de apoio, nas extremidades da escada.

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Para escada simplesmente apoiada, deve-se verificar o detalhamento da armadura


positiva. A armadura mostrada na figura 13 está sujeita a tração, saltando para fora
da massa de concreto que, nessa região, tem apenas a espessura do cobrimento, para
que isso não aconteça, deve-se fazer o detalhamento correto ilustrado na figura 13.

Figura 13: modelo de detalhamento correto.


Fonte: elaborado pelo autor.

Escadas com laje em balanço

Para este tipo de escada, temos que uma de suas extremidades é engastada e a
outra é livre. Na figura 14, o engastamento da escada se faz na viga lateral, destaca-
se que o cálculo da laje é simples, sendo armada em uma única direção, com barras
principais sendo superiores (armadura negativa).

Figura 14 : Escada em balanço engastada na viga lateral.


Fonte: (MANCINI, 1971)

No dimensionamento da viga que recebe a escada, deve-se considerar o cálculo à


flexão e à torção. Este último esforço deverá ser absorvido por pilares ou por vigas
ortogonais à viga de suporte da escada.

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Escadas em viga reta, com degraus em balanço

Os degraus são isolados e, se engastados na viga, podem ocupar posição central


(figura 15.a) ou lateral (figura 15.b).
Podemos destacar na figura 15 que a escada em viga reta, com degraus em balanço
mesmo no caso da viga ocupar posição central (figura 15.a), deve-se considerar a
possibilidade de carregamento assimétrico ocasionando torção na viga, com ações
variáveis (q e Q) atuando somente de um lado em conjunto. Os degraus são armados
como pequenas vigas, sendo necessária, devido à sua pequena largura, a utilização
de estribos.

Figura 15 : Escada com degrau em balanço com posição: a) central; b) lateral.


Fonte: elaborado pelo autor.

Para estes casos, a prática demonstra que é interessante adotar dimensões mais
robustas que as mínimas estaticamente determinadas, pois o baixo peso próprio
deste tipo de escada pode ser responsável por problemas de vibração na estrutura.
Os degraus podem também ser engastados em uma coluna, que, neste caso, estará
sujeita à flexão composta.

Exemplo: determinar o vão da escada, espessura (H), composição de cargas, reações


e solicitações para uma escada de uma edificação residencial, que apresenta dois vãos
paralelos, conforme a figura 1. Os degraus têm uma altura de 16,7 cm e uma largura de
28 cm. No lado interno dos degraus, existe um peitoril com carga correspondente a 1,5
kN/m, considerando a carga acidental de 2,5 kN/m², reboco 0,2 kN/m², revestimento
cerâmico 0,85 kN/m².

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Fonte: elaborado pelo autor.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Diagrama de força cortante (kN/m)


Fonte: elaborado pelo autor.

Diagrama de momento fletor (kN.m)


Fonte: elaborado pelo autor.

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AULA 3
ELEMENTO DE
FUNDAÇÃO: SAPATA

A subestrutura ou fundação, é a parte de uma estrutura composta por elementos


estruturais, que possuem a função de receber as cargas da edificação e transmitir
para o solo, cargas verticais, forças do vento, etc.
A estrutura posicionada acima do solo é chamada de superestrutura. As ações que
atuam na superestrutura de um edifício são transferidas na direção vertical, ou seja,
as lajes transferem para as vigas e as vigas transferem para os pilares, tal condição
de transferência de carga está vinculada a estruturas convencionais. Os elementos de
fundação são a estrutura posicionada abaixo do nível do solo chamada de infraestrutura,
responsável por receber as cargas da superestrutura e transferir para o solo.
Podemos ter a seguinte interpretação: o solo geralmente tem resistência muito
inferior à do concreto do pilar, por tal motivo, é necessário projetar algum outro tipo
de elemento estrutural com a função de transmitir as ações ao solo.
Os elementos mais comuns para cumprir essa função são as sapatas e os blocos,
sendo que os blocos atuam como elementos de transição das ações, dos pilares para
as estacas ou tubulões, já as sapatas possuem a capacidade de transferir as ações
da superestrutura diretamente para o solo por meio de sua base (Figura 1).

Figura 1: Modelo da superestrutura e infraestrutura.


Fonte: elaborado pelo autor.

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A fundação superficial, também chamada fundação rasa ou direta, é definida no item


3.1 da NBR 6122/2019 como o “elemento de fundação em que a carga é transmitida
ao terreno pelas tensões distribuídas sob a base da fundação, e a profundidade de
assentamento em relação ao terreno adjacente à fundação é inferior a duas vezes a
menor dimensão da fundação”.
O elemento de fundação superficial mais comum é a sapata, que pela área de contato
base-solo transmite as cargas verticais e demais ações para o solo, diretamente,
conforme ilustrado na figura 2, onde B é a menor dimensão em planta.

Figura 2: Configuração da sapata no solo.


Fonte: elaborado pelo autor.

A sapata é definida segundo a NBR 6122 (item 3.2) como o “elemento de fundação
superficial, de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração
nele resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente disposta
para esse fim.”.
Na NBR 6122/2019 (item 22.6.1), sapata é definida como as “estruturas de volume
usadas para transmitir ao terreno as cargas de fundação, no caso de fundação direta.”.
Na superfície correspondente à base da sapata atua a máxima tensão de tração, que
supera a resistência do concreto à tração, de modo que torna-se necessário dispor
de uma armadura resistente, geralmente na forma de malha (figura 3).
É recomendado dimensionar sapatas com altura grande o suficiente para evitar a
armadura transversal (vertical) resistente às forças cortantes, que também atuam na
sapata, para esse tipo de dimensionamento vamos adotar as sapatas rígidas.

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Figura 3: a) Sapata em corte, com a representação da armadura do pilar (As) e armadura na base da sapata (Asx) b) Sapata em planta com a representação
da malha de armadura (Asx) e (Asy) .
Fonte: elaborado pelo autor.

As sapatas denominadas superficiais, geralmente são assentadas sobre solo mais


firme, em areia compacta, ou medianamente compacta, pode existir situações em
que a sapata ficará submersa ou saturada pela presença de água. Tal problema é
verificado em cálculos, especificando soluções para tais tipos de problemas, existem
outras maneiras de solucionar, como: rebaixamento do lençol freático presente em
determinado lugar, ou até mesmo através de drenagens (VELLOSO E LOPES, 2010.).
O dimensionamento de sapatas passa por critério de análise e interpretação da
distribuição de tensões para solo, ou seja, basicamente temos que verificar se a camada
de solo suportará e se o concreto da sapata também irá suportar, logo, temos dois
materiais para interpretar, bem como, a interação de ambos.

Figura 4: Bloco de fundação direto.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Segundo a NBR 6122 (2019) o elemento de fundação superficial de concreto,


dimensionado de modo que as tensões de tração nele resultantes sejam resistidas
pelo concreto, sem necessidade de armadura, é denominado bloco de fundação direto.
Para que as tensões de tração sejam resistidas pelo concreto, o bloco precisa ter uma
altura grande. O bloco assim trabalhará preponderantemente à compressão.
A NBR 6122 (2019) descreve que o ângulo β (figura 4) expresso em radianos deve
satisfazer a seguinte igualdade:
tgβ/β ≥ (σadm/fct)+1
em que:
σadm: Tensão admissível do concreto;
fct: 0,4 fck menor ou igual a 0,8 MPa, em que fct é a tensão de tração no concreto;
fck: Resistência característica à tração do concreto.

Um outro elemento, muito aplicado em edificações residenciais de pequeno porte


em conjuntos habitacionais, é o radier, definido na NBR 6122 (2019) como o elemento
de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura,
distribuindo os carregamentos. Quanto ao dimensionamento, as fundações superficiais
devem ser definidas por meio de dimensionamento geométrico e de cálculo estrutural.
Os momentos fletores máximos (Mmáx) e as deflexões máximas (ymax ) do radier
de concreto quando submetidas à ação direta de carregamentos, podem ser analisados
por modelos unidimensionais (vigas) com o emprego do programa FTOOL, por exemplo.
Essa análise torna-se possível ao se aplicar pois se faz uma analogia de grelha,
que é um método bastante usado para análise de lajes, principalmente devido a sua
facilidade de compreensão e utilização. O procedimento de analogia de grelha consiste
em substituir o radier por uma malha equivalente de vigas (grelha equivalente), conforme
ilustra a figura 5.

Figura 5: Radier representado por grelha equivalente e apoiado no solo através de coeficientes de mola.
Fonte: elaborado pelo autor.

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3.1 Título 2 (Tipos de Sapatas)

Segundo Bastos (2019) dentro os elementos de fundação superficial, a sapata é


a mais comum, e devido à grande variabilidade existente na configuração e forma
dos elementos estruturais, existem diversos tipos de sapatas, como isolada, corrida,
associada, de divisa, com viga de equilíbrio, etc. O princípio que o projetista tem que
ter em mente é que todos os tipos de sapata possuem a mesma finalidade, porém,
cada uma com suas características específicas.
Sapata Isolada
A sapata isolada é a mais comum nas edificações, sendo aquela que transmite ao
solo as ações de um único pilar. As formas que a sapata isolada pode ter, em planta,
são muito variadas, mas a retangular é a mais comum (figura 6).

Figura 6: Sapata isolada.


Fonte: elaborado pelo autor.

Segundo Basto (2019) a sapata está sujeita a algumas ações, sendo elas em sua
grande totalidade a força normal (N), os momentos fletores em uma direção ou duas
direções (Mx;My) e a força horizontal em uma direção ou duas direções (Hx;Hy) conceito
ilustrado na figura 7.

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Figura 7: Ações da sapata

No caso de sapata isolada sob pilar de divisa, e quando não se faz a utilização
da ligação da sapata com um pilar interno (viga de equilíbrio, por exemplo), a flexão
devido à excentricidade (e) do pilar em relação ao centro de gravidade da área da
base da sapata deve ser combatida pela própria sapata em conjunto com o solo. São
encontradas em muros de arrimo, edificação de pequeno porte, etc. (figura 8).

Figura 8: Sapata com excentricidade, sem viga de equilíbrio.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Podemos estabelecer um limite para a sapata retangular, no qual sua dimensão


maior da base não supere cinco vezes a largura (A ≤ 5B) , figura 9. Quando A > 5B, é
chamada sapata corrida (BASTO, 2019)

Figura 9: Limite para sapata isolada.


Fonte: elaborado pelo autor.

Sapata Corrida

Conforme a NBR 6122-2019, sapata corrida é aquela que está sob ação de uma
carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de uma mesma linha, figura 10.
As sapatas corridas possuem maior aplicação em construções de pequeno porte,
galpões de pequena altura, muros de divisa e de arrimo em algumas condições. Se
caracteriza como uma solução econômica e de rápida execução, porém, é indicada
para solo com boa capacidade de suporte para as profundidades iniciais.

Figura 10: Sapata corrida.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Sapata Associada

Segundo a NBR 6122 (2019), sapata associada é aquela que recebe a carga de
mais de um pilar, também chamada de sapata combinada ou conjunta. Podemos ter
tal situação em uma obra quando existe a proximidade entre os pilares. Não sendo
viável construir uma sapata isolada para cada sapata. Neste caso, uma única sapata
pode ser projetada como a fundação de receber dois ou mais pilares (figura 11).

Figura 11: Sapata associada com dois pilares.


Fonte: elaborado pelo autor.

Sapata com viga Alavanca ou viga Equilíbrio

É descrito, segundo a NBR 6122 (2019), como o elemento estrutural que recebe
as cargas de um ou dois pilares e é dimensionado de modo a transmiti-las centradas
para as fundações.
A utilização de viga de equilíbrio serve para equilibrar a excentricidade existente
em um dos pilares, resultando em diferentes cargas no elemento de fundação. A
reação (R1) gerada pelo pilar (P1) compensará a reação (R2) gerada pelo pilar (P2)
temos um princípio de estática (viga de equilíbrio figura 12). Sua aplicação é comum

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no caso de pilar posicionado na divisa de terreno, onde ocorre uma excentricidade


(e) entre o ponto de aplicação de carga do pilar (N) e o centro geométrico da sapata
(condição que não consegue ser resolvida com a aplicação de sapata isolada com
excentricidade: figura 8). O momento fletor resultante da excentricidade é equilibrado
e resistido pela viga de equilíbrio, que na outra extremidade é geralmente vinculada a
um pilar interno da edificação, ou no caso de ausência deste, vinculada a um elemento
que fixe a extremidade da viga no solo (figura 12), (BASTO, 2019).

Figura 12: Sapata com viga equilíbrio.


Fonte: elaborado pelo autor.

Cintas, ou baldrame

As fundações isoladas devem ser, sempre que possível, ligadas por cintas em
duas direções ortogonais (figura 13). Segundo Velloso e lopes (2012) as cintas são
responsáveis por:
• Impedir deslocamentos horizontais das fundações;
• Limitar rotações (absorvendo momentos) decorrentes de excentricidades
construtivas;
• Definir o comprimento de flambagem do primeiro trecho de pilares, no caso
de fundações profundas ou de sapatas implantadas a grande profundidades;
• Servir de fundação para paredes no pavimento térreo.

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As cintas normalmente não têm o propósito de reduzir recalques diferenciais (isso


pode ser feito, porém, com dimensões e armações fora do que é usual nessas peças).
Por outro lado, em prédios que sofrem recalques consideráveis, estes são, em geral,
maiores no centro da obra, e as cintas acabam sendo solicitadas à tração, portanto, as
armações longitudinais das cintas em alguns casos devem ser devidamente ancoradas
em suas extremidades (Velloso e lopes, 2012).

Figura 13: a) Planta baixa das sapatas conectadas por cintas; b ) Corte do esquema estrutural: cinta e sapatas.
Fonte: elaborado pelo autor.

3.2 Título 2 (Classificação Relativa à Rigidez)

A classificação das sapatas seguindo o critério de rigidez é muito importante, pois


direciona a forma que ocorrerá a distribuição de tensões na interação solo estrutura
(sapata-solo), bem como o procedimento ou possível falha estrutural que pode ocorrer,
além de auxiliar na escolha do método para o dimensionamento estrutural.
A NBR 6122/2019 classifica as sapatas como rígidas ou flexíveis, sendo rígida a
que atende a equação:
h≥(A-ap)/3 (Eq. 1)

onde:
h = altura da sapata;
A = dimensão da sapata em uma determinada direção;
ap = dimensão do pilar na mesma direção.

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Podemos observar na figura 14, as medidas presentes na Eq. 1

Figura 14: Dimensões para análise de rigidez da sapata.


Fonte: elaborado pelo autor.

A Eq. 1 deve também ser verificada para as dimensões B e bp, correspondente a


outra direção da sapata, sendo que, para ser classificada como rígida, a equação deve
ser atendida em ambas as direções, caso uma direção não atender a Eq. 1, tem-se
uma sapata flexível.
Sapatas rígidas são mais usuais em projeto de fundações, por apresentarem menor
comportamento deformável, ou seja, são mais seguras contra a ruptura por punção.
As sapatas flexíveis são caracterizadas pela altura “pequena” e, segundo a NBR
6118/2014, seu uso é mais raro, sendo mais aplicável para fundação de cargas
pequenas e solos relativamente fracos.
Montoya (1971) diz que não é fácil estabelecer um limite para a classificação das
sapatas, e que sua escolha necessita de cuidados e análises, pois trata-se de uma
tarefa difícil. Segundo Bastos (2019) a classificação da sapata rígida está vinculada
ao ângulo β, que é igual ou superior a 45° (β ≥ 45°, ver figura 15). Em caso contrário,
a sapata é tratada como flexível (β < 45°). Conforme a figura 15 o dimensionamento
econômico é indicado quando os balanços da sapata nas duas direções, CA e CB ,
forem iguais ou aproximadamente iguais. Existe também uma recomendação prática
de A 2,5B.

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Figura 15: Ângulo β e os balanços .e .


Fonte: elaborado pelo autor.

Podemos considerar, no projeto de sapatas, a norma do CEB de 1970 (CEB-70),


que utiliza um critério diferente, pois considera como sapata rígida, o ângulo β (tg β
= h/c), que fica compreendido entre os limites:
0,5 ≤ tg β ≤ 1,5
(26,6° ≤ β ≤ 56,3)

Se tg β < 0,5 a sapata é considerada flexível, e se tg β > 1,5 não é sapata, e sim,
bloco de fundação direta (aquele que dispensa armadura de flexão porque o concreto
resiste à tensão de tração máxima existente na base do bloco) (BASTO, 2019).

3.3 Título 2 (Distribuição de Tensões no Solo )

Segundo Bastos (2019) a tensão ou pressão de contato que a área da base de uma
sapata exerce no solo é fundamental na interpretação da interação base da sapata-solo.
Alguns estudos analíticos e de campo apontam que a tensão de contato sapata solo
não é necessariamente distribuída uniformemente, e depende de alguns fatores, como:
• existência de excentricidade do carregamento aplicado;
• Intensidade de possíveis momentos fletores aplicados;
• Rigidez da fundação;
• Propriedades do solo;
• Rugosidade da base da fundação.

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A figura 16 destaca algumas condições de sapata carregada verticalmente, com


pressão de contato entre a base e camada de solo, considerando o tipo de solo e
rigidez da sapata, ou seja, se é rígida ou flexível.
Segundo Bastos (2019) sapatas flexíveis curvam-se e mantêm a pressão uniforme
no solo, já sapatas rígidas não se curvam, e o recalque, se ocorrer, é uniforme, porém, a
pressão no solo não é uniforme. Sapatas apoiadas sobre solos granulares, como areia,
a pressão é maior no centro e decresce em direção às bordas da sapata. No caso de
solos argilosos, temos a condição contrária, a pressão é maior nas proximidades das
bordas e menor no centro. Essas características de não uniformidade da pressão no
solo são comumente ignoradas porque sua consideração numérica é incerta e muito
variável, dependendo do tipo de solo, e porque a influência sobre a intensidade dos
momentos fletores e forças cortantes na sapata é relativamente pequena.

Figura 16: Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada: a) sapata flexível sobre argila; b) sapata flexível sobre areia; c) sapata rígida
sobre argila; d) sapata flexível sobre areia; e) distribuição simplificada.
Fonte: Bastos, 2019.

Devido à complexidade da análise interação solo-estrutura, é comum considerar a


uniformidade, como mostrado na figura 17, pois o erro cometido com a simplificação
não é significativo, na maioria dos casos, o que geralmente resulta em esforços
solicitantes maiores.

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Figura 17: Distribuição de tensões no solo.


Fonte: Bastos, 2019.

Segundo Bastos (2019) a NBR 6118/2014 considera que, no caso de sapata rígida,
pode-se considerar plana a distribuição de tensões no contato sapata-solo, caso não se
disponha de informações mais detalhadas. Para sapata flexível ou em casos específicos,
mesmo com sapata rígida, essa hipótese deve ser analisada. A NBR 6118/2014 diz que
sapata flexível necessita de análise da distribuição de tensões no contato sapata-solo.
Por fim, recomenda-se que a área da fundação solicitada por cargas centradas deve
ser tal que as tensões transmitidas ao terreno, admitidas uniformemente distribuídas,
sejam menores ou iguais à tensão admissível ou tensão resistente do solo.

3.4 Título 2 (Projeto de Sapata )

Detalhes Construtivos

A NBR 6122/2019 descreve que todas as partes da fundação superficial em contato


com o solo (sapatas, vigas de equilíbrio, etc.) devem ser projetadas sobre um lastro
de concreto não estrutural com, no mínimo, 5 cm de espessura. No caso de rocha,
esse lastro deve servir para regularização da superfície e, portanto, pode ter espessura
variável, no entanto, é observado um mínimo de 5 cm. A figura 18 destaca as medidas
mínimas e máximas, bem como o valor de ângulo do talude natural do concreto, que
deve ser igual ou menor que .

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Figura 18: Detalhe construtivo.


Fonte: elaborado pelo autor.

Estimativa das Dimensões de Sapatas com Carga Centrada

Observe na figura 19 que cA e cB são distâncias da face do pilar à extremidade da


sapata, em cada direção. Para obtenção de momentos fletores solicitantes e armaduras
de flexão não muito diferentes nas duas direções da sapata, procura-se determinar
as dimensões A e B de modo que os balanços sejam iguais ou semelhantes (cA=cB).

Figura 19:Balanços iguais ou semelhantes (cA=cB).


Projeto com Considerações do CEB-70

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As metodologias para projeto de sapatas diferem quanto à seção para consideração


dos momentos fletores. Para a verificação pelo CEB-70, os momentos fletores são
calculados, para cada direção, em relação a uma seção de referência (S1A ou S1B)
plana, perpendicular à superfície de apoio, ao longo da sapata e situada internamente
ao pilar, distante da face do pilar de (0,15ap ou 0,15bp) , onde ap e bp são as dimensões
do pilar normal à seção de referência (Figura 20).

Figura 20: Momentos fletores, para cada direção, em relação a uma seção de referência (S1A ou S1B).
Fonte: elaborado pelo autor.

Exemplo 1: determinar as dimensões da sapata em planta, sua altura (h), sabendo


que a sapata é classificada como rígida. A sapata é solicitada por um pilar com seção
transversal (20 x 80) cm.

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Fonte: elaborado pelo autor.

Fonte: elaborado pelo autor.

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AULA 4
BLOCOS

Conforme a NBR 6118/2014, no item 22.7, tem-se que os blocos são estruturas
de volume usadas para transmitir às estacas e aos tubulões as cargas de fundação,
podendo ser considerados rígidos ou flexíveis por critério semelhante estudado para
sapatas. Os blocos podem ser apoiados sobre um número (n) qualquer de estacas,
sendo mais comuns os blocos sobre uma, duas ou três estacas, estes são mais usuais
nas estruturas convencionais, ou seja, cargas relativamente baixas.
Porém, pode-se destacar que fatores como, características do solo, capacidade da
estaca e carga do pilar também estão vinculados ao número de estacas no bloco.
Nas edificações de pequeno porte, como galpões, casas térreas e sobrados, os
blocos sobre duas estacas são os mais comuns, podendo ter bloco sobre uma estaca
também, pois a carga proveniente do pilar é comumente de baixa intensidade.
Nos edifícios de múltiplos pavimentos, como as cargas são altas, a quantidade
de estacas é de, no mínimo, três. Há também o caso de bloco assente sobre tubulão,
para esta situação o bloco atua como elemento de transição de carga entre o pilar e
o fuste do tubulão (Figura 1).

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Figura 1: Sistema estrutural para bloco


Fonte: elaborado pelo autor.

A NBR 6118/2014 no item 22.2.7.1, descreve que o comportamento estrutural de


blocos rígidos é caracterizado por:
a) Trabalho à flexão nas duas direções, porém, com tensões de tração basicamente
concentradas nas linhas sobre as estacas, com faixas de largura igual a 1,2 vez
seu diâmetro);
b) Forças transmitidas do pilar para as estacas essencialmente por bielas de
compressão;
c) Trabalho ao cisalhamento também em duas direções, não apresentando ruínas
por tração diagonal, e sim por compressão das bielas, semelhante às sapatas.

A NBR 6118 discute sobre o bloco flexível, em que deve-se realizar uma análise
contemplando a distribuição dos esforços nas estacas, considerando os tirantes de
tração, até a necessidade da verificação da punção entre estaca e bloco.
A Figura 2 mostra as duas bielas de compressão inclinadas atuantes nos blocos
sobre duas estacas.

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Figura 2: Bielas de compressão atuando no bloco de duas estacas.


Fonte: elaborado pelo autor.

A NBR 6118 descreve no item 22.7.3 que, para o cálculo e dimensionamento dos
blocos, são aceitos modelos tridimensionais lineares ou não lineares e modelos de
biela e tirante, além disso, a NBR 6118 destaca que na região de contato entre o pilar
e o bloco, pode ocorrer efeito de fendilhamento que, por sua vez, deve ser considerado,
conforme descrito no item 21.2.
Segundo Bastos (2020) o modelo de bielas e tirantes é definido com as seguintes
características: a biela é a representação do concreto sendo comprimido e o tirante
é a região onde tem-se tensões de tração, ou seja, onde serão acrescentadas as
armaduras tracionadas, ver figura 3.
Nos casos em que houver excentricidades significativas ou ação de força horizontal
de grande magnitude, o modelo de biela-tirante deve contemplar a interação solo-
estrutura acompanhado por análise do comportamento do bloco-estaca.
Conforme Bastos (2020) os modelos de cálculo mais utilizados para o
dimensionamento de blocos sobre estacas são o “Método das Bielas” desenvolvido
por Blévot em 1967 e o do CEB-70. O Método das bielas e tirante e o método do
CEB-70 devem ser aplicados somente para blocos rígidos. Para blocos flexíveis, são
aplicados métodos aplicáveis em vigas ou em lajes.

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Figura 3: Biela atuando no concreto, região comprimida e o tirante região onde tem tensões de tração.
Fonte: elaborado pelo autor.

MÉTODO DAS BIELAS DE BLÉVOT

Segundo Bastos (2020) o método das Bielas proposto por Blévot considera uma
treliça como o modelo resistente no interior do bloco sobre várias estacas ou para
blocos sobre duas estacas. As forças atuantes nas barras comprimidas da treliça são
resistidas pelo concreto e as forças atuantes nas barras tracionadas são resistidas
por barras de aço (armadura).
A principal incógnita do modelo é a definição das bielas comprimidas (forma,
dimensões, inclinação, etc.), o que foi resolvida com as propostas por Blévot (1967).
Segundo Bastos (2020) o método das Bielas é recomendado quando:
a) O carregamento é quase centrado. O método pode ser empregado para
carregamento não centrado, admitindo-se que todas as estacas estão com a
maior carga, o que tende a tornar o dimensionamento antieconômico;
b) Todas as estacas devem estar igualmente espaçadas do centro do pilar. O
Método das Bielas é o método simplificado mais empregado, porque:
• Tem amplo suporte experimental (116 ensaios de Blévot, entre outros);
• Ampla tradição no Brasil e Europa;
• O modelo de treliça é intuitivo.

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4.1 Título 2 ( Bloco sobre uma estaca)

Segundo Bastos (2020) o bloco sobre uma estaca tem por princípio transferir a carga
do pilar para a estaca, sendo necessário por razões de ordem construtivas, devido a
não proporcionalidade entre a base do pilar e a cabeça de estaca. A Figura 4 mostra a
situação, onde o bloco faz a transferência de carga do pilar de seção retangular para
a estaca de seção circular, situação de maior ocorrência.
Segundo Bastos (2020) o bloco também é importante para a locação correta de
pilares, chumbadores metálicos, correção de pequenas excentricidades da estaca,
uniformização da carga sobre a estaca, etc. A armadura principal consiste de estribos
horizontais fechados, para resistência ao esforço de fendilhamento, e estribos verticais
construtivos, nas duas direções do bloco.

Figura 4: Bloco faz a transferência de carga do pilar de seção retangular para a estaca de seção circular.
Fonte: elaborado pelo autor.

Bastos (2020) descreve que para edificações de pequeno porte com cargas baixas
no pilar, a armadura resulta em diâmetros pequenos, aproximadamente 4,2 ou 5 mm,
suficientes para os estribos horizontais. Como consequência, por simplicidade os
estribos verticais podem ser adotados com área igual à da armadura principal As ,
nas duas direções do bloco, e inclusive com o mesmo diâmetro.
A dimensão (A) do bloco, para cargas altas em pilares pode ser tomada como:

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A = fe + 2 ∙ (5 ou 10) cm (ver Figura 5)


Sendo a estaca circular denominada como (fe), resultando em um bloco quadrado
em planta, com B = A.
No caso de edificações de pequeno porte, com cargas baixas, a dimensão A do
bloco em planta pode ser tomada como:
A = fe + 2 ∙ (5 a 10) cm (ver Figura 5)

Figura 5: Esquema do pilar e estaca.


Fonte: elaborado pelo autor.

Podemos citar como exemplo extraído de Basto (2020): Para um pilar de um sobrado
com estaca de diâmetro fe = 20 cm, temos um bloco com dimensões em planta de
30 x 30 cm (Figura 6).
Neste caso, o pilar sobre o bloco deve ter seção transversal com dimensão máxima
≤ 25 cm, para que exista uma distância mínima de 2,5 cm entre a face do pilar e a
face vertical do bloco.
Para pilar com dimensões maiores deve-se aumentar as dimensões do bloco em
planta. A altura útil (d) do bloco pode ser estimada em torno de 1,2.fe , como indicada
na Figura 4.
Para o bloco da Figura 4 resulta: d = 1,2.fe = 1,2 . 20 = 24 cm, e h = d + 5 = 24 + 5
= 29 cm aproximadamente de 30 cm.
Resultando, portanto, em um bloco na forma de um cubo com 30 cm de arestas.
Deve-se verificar que a altura útil (d) deve ser maior que o comprimento de ancoragem
(lb) da armadura principal do pilar.

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Figura 6: Pilar do sobrado com estaca de diâmetro fe = 20 cm.


Fonte: Bastos (2021)

4.2 Título 2 ( Bloco sobre duas estacas)

Para o bloco de duas estacas, vamos seguir: Método das Bielas - Blévot. A Figura 7
mostra o bloco sobre duas estacas, com a biela de concreto comprimido e o esquema
de forças atuantes, conforme proposta de Blévot. Observar que a dimensão (ap) do
pilar é na direção da distância entre os centros das estacas (e).

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Figura 7.
Fonte: Bastos (2021)

Do polígono de forças (Figura 7) são definidas a força de tração Rt na base do


bloco e a força de compressão Rc nas bielas de concreto:
d
N/2 ____
tgα= ____ e tgα= e ap
Rt __ - __
2 4
N 2.e-ap
Rt= __ .(_______ )
8 d
N/2
senα= ____
R2

Altura Útil (As) bielas comprimidas de concreto não apresentam risco de ruptura
por punção desde que o ângulo fique no intervalo 40° 55°. O ângulo α pode ser
calculado por:
d
____
tagα= e ap
__ - __
2 2

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Substituindo α pelos ângulos 40° e 55°, temos o intervalo de variação para d:


ap ap
0,419 . (e - ____ ) ≤ d ≤ 0,714 . (e- ____ )
2 2

A NBR 6118 (22.7.4.1.4) descreve que o bloco deve ter altura suficiente para permitir
a ancoragem da armadura de arranque dos pilares, está ancoragem pode-se considerar
o efeito favorável da compressão transversal às barras decorrente da flexão do bloco,
tal condição, a armadura longitudinal vertical do pilar ficará ancorada no bloco se:
d≥ lb,θ,pilar,onde lb,θ,pilar é o comprimento de ancoragem da armadura do pilar
A altura (h) do bloco é:
h=d+d, ,para d, ≥{5 cm ou aest/5}

onde (aest) é igual ao lado de uma estaca de seção quadrada,com área igual a da
estaca de
seção circular

Verificação das Bielas

A seção ou área das bielas varia ao longo da altura do bloco e, por tal motivo, são
verificadas as seções junto ao pilar e junto às estacas (Figura 8), sendo: Ab = área da
biela ; Ap = área do pilar ; Ae = área da estaca.

Figura 8: Verificação das bielas de compressão.


Fonte: Bastos (2021)

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Para a verificação das seções juntos ao pilar e estacas, temos as seguintes relações
trigonométricas:
Na estaca: senα=Ab/Ae,onde temos que Ab=Ae.senα

Podemos assim considerar a equação básica da tensão, onde:


σcd=Rcd/Ab

Podemos descrever a força na biela de concreto como sendo:


Rcd=Nd/2.senα

Podemos assim descrever a tensão normal de compressão relativa ao pilar e a


estaca, sendo:
• No pilar:
σcd,pilar=Nd/Ap.senα2
• Na estaca:
σcd,pilar=Nd/2.Ap.senα2

Para evitar o esmagamento do concreto, as tensões que atuam junto ao pilar e


estaca devem ser menores que as tensões resistentes, Blévot considerou que:
σrd=1,4.Kr.fcd,onde podemos assumir valor de 0,9≤Kr≥0,95

Armadura principal

Como Blévot verificou que, nos ensaios, a força medida na armadura principal foi 15
% superior à indicada pelo cálculo teórico, considera-se Rs acrescida de 15 %, temos
assim a armadura principal, disposta sobre o topo das estacas:
1,15.Nd
As=Rsd/σsd= ________ (2.e-ap)
8.d.fyd

A NBR 6118 (22.7.4.1.1) especifica que para os blocos rígidos a armadura de flexão
deve ser disposta essencialmente (mais de 85 %) nas faixas definidas pelas estacas,
considerando o equilíbrio com as respectivas bielas. As barras devem se estender de
face a face do bloco e terminar em gancho nas duas extremidades. Deve ser garantida
a ancoragem das armaduras de cada uma dessas faixas, sobre as estacas, medida
a partir das faces internas das estacas.

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Armaduras Complementares

A NBR 6118/2014 descreve que as armaduras laterais (de pele) e superior para
blocos com duas ou mais estacas em uma única linha, é obrigatória a colocação de
armaduras laterais e superiores.
• A armadura superior pode ser tomada como uma pequena parcela da armadura
principal:
As,sup=0,2.As

• Armadura de pele (lateral) e estribos verticais em cada face lateral:


Asp Asw
(____) min , face = ( ____ ) min , face = 0,075.B (cm²/m)
s s

onde B = largura do bloco em cm.


• Espaçamento (s) da armadura de pele vai ser o menor valor entre (d/3) ou (20
cm).
• Espacamento (s) dos estribos verticais vais ser o menor valor entre (15 cm) ou
√π .Φe).
(0,5. ___
2
• Nas outras posições além das estacas: S≤20cm

Figura 9: Esquema do detalhamento das armaduras do bloco sobre duas estacas.


Fonte: Bastos (2021)

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Exemplo: Determinar dimensões do bloco em planta, altura do bloco e verificação


das bielas para um bloco solicitado por um pilar de seção transversal 20 x 40 cm,
sobre duas estacas pré-moldadas com diâmetro (Φf) de 30 cm.

Fonte: elaborado pelo autor.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Fonte: elaborado pelo autor.

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AULA 5
ELEMENTO DE FUNDAÇÃO:
ESTACA

Segundo a NBR 6122/2019, podemos entender como fundação profunda aquela que
transmite a carga proveniente da superestrutura ao terreno pela base (resistência de
ponta) (rp), por sua superfície lateral (resistência de fuste) (rl), ou pela combinação das
duas (rp+rl). Além disso, as fundações profundas são descritas com uma profundidade
de assentamento maior que o dobro da menor dimensão em planta do elemento de
fundação, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1: O valor do comprimento (L) é maior que o valor do diâmetro (D)

A resistência lateral da estaca irá ser mobilizada no instante inicial de aplicação


da carga, já a resistência de ponta só será acionada quando ocorrer o deslocamento
da extremidade inferior da estaca.
Para simplificar nosso entendimento as duas parcelas de resistência são consideradas
independentes, nesta simplificação considera-se que inicialmente se mobiliza apenas
a resistência referente ao atrito lateral (rl). Quando a resistência referente ao atrito
lateral não for mais suficiente para manter o equilíbrio, começa a ocorrer a mobilização
da resistência de ponta (rp).

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Figura 2: Resistência de ponta (rp) e resistência lateral (rl)

A capacidade de carga de uma estaca é compreendida como sendo o menor dos


dois valores:
• resistência estrutural do material da estaca.
• resistência do solo que lhe dá suporte.

Para a obtenção da resistência do solo, podem-se usar os métodos de cálculo de


transferência de carga, como: Aoki-Velloso, Décourt-Quaresma entre outros.
Esses métodos são discutidos na disciplina de fundações, deixarão de ser abordadas,
pois iremos trabalhar com apenas os aspectos da resistência estrutural do elemento
estaca, ou seja, resistência estrutural do material.
Segundo a NBR 6122 (2019) a grandeza que deve ser levado em consideração
para o projeto de fundações profundas por estacas é a carga admissível, bem como
a consideração do fator de segurança global e valores característicos, ou a força
resistente de cálculo, quando for feito considerando coeficientes de ponderação e
valores de cálculo.
Essas cargas e tensões devem satisfazer simultaneamente aos estados limites
últimos (ELU) e de serviço (ELS), para cada elemento de fundação isolado, bem como
para o conjunto.
Devemos compreender que o projeto de fundações consta de memorial de cálculo
e dos respectivos desenhos executivos, com as informações técnicas suficientes para

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o entendimento e execução da obra. Vale destacar que a elaboração do memorial de


cálculo é obrigatória, devendo estar disponível quando solicitado.
Segundo a 6122/2019 temos que considerar os seguintes fatores para a determinação
da carga admissível ou da força resistente de cálculo, são eles:
• características geomecânicas do subsolo;
• profundidade da ponta ou base da fundação;
• dimensões e forma dos elementos de fundação;
• posição do nível d’água;
• eventual alteração das características dos solos (expansivos, colapsíveis etc.)
devido a agentes externos (encharcamento, contaminação, agressividade etc.);
• alívio de tensões;
• eventual ocorrência de solicitações adicionais como atrito negativo e esforços
horizontais devidos a carregamentos assimétricos;
• características ou peculiaridades da obra;
• sobrecargas externas;
• inclinação da carga;
• inclinação do terreno;
• estratigrafia do terreno;
• recalques.

A NBR 6122 (2019) Destaca que a determinação da carga admissível ou força


resistente de cálculo a partir do estado limite de serviço (ELS) pode ser realizada
por meio de prova de carga ou por método teórico, podendo utilizar o método semi
empírico, porém as propriedades do solo obtidas em ensaios de laboratório, in loco
ou por meio de correlações, deve levar em consideração as modificações nessas
propriedades causadas pela interação solo elemento de fundação.
Outro fator a ser considerado é sobre o efeito de grupo, que segundo a NBR 6122
(2019), define-se como efeito de grupo de estacas como o processo de várias estacas
que interagem e constituem uma fundação, ao transmitirem ao solo as cargas que
são aplicadas ao elemento bloco e na sequência a elas. Esta interação acarreta uma
superposição de tensões, de tal forma que o recalque do grupo resulta, em geral,
diferente do valor do recalque de uma estaca isolada . A carga admissível ou força
resistente de cálculo de um grupo de estacas ou tubulões não pode ser superior à
de uma sapata hipotética definida da seguinte forma: Sapata teria contorno igual ao

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do grupo e estaria apoiada em uma cota superior à da ponta das fundações, sendo
a diferença de cotas igual a 1/3 do comprimento de penetração das fundações na
camada de suporte.
Vale destacar que tais considerações não são válidas para blocos apoiados em
fundações profundas com elementos inclinados.
Umas vez alcançadas as condições, deve-se verificar o espaçamento mínimo entre
os elementos de fundação considerando a forma de transferência de carga ao solo
e o efeito do processo executivo nos elementos adjacentes.
Devem ser feitos o cálculo e a verificação de recalques, ainda mais quando existir
uma camada mais compressível abaixo da camada onde se apoiam as pontas das
estacas ou as bases dos tubulões.

5.1 Título 2 ( Dimensionamento estrutural)

Vamos neste item discutir alguns pontos que o projetista tem que levar em
consideração em seu dimensionamento.
As estacas executadas em solos sujeitos à erosão, ou em solos muito moles ou
que tiverem sua cota de arrasamento acima do nível do terreno, devem ser verificadas
segundo os efeitos de segunda ordem.
As estacas têm que respeitar o cobrimento da armadura, seguindo o critério da à
ABNT NBR 6118/2014 em função da classe de agressividade do meio.
Nas estacas sujeitas a tração ou flexão o projetista deve ter atenção a respeito da
fissuração de forma a atender à ABNT NBR 6118. Recomenda-se de forma simplificada
dimensionar as barras longitudinais considerando uma redução de 2 mm no diâmetro
das barras, como espessura de sacrifício.
No caso de estacas pré-moldadas deve ser atendida a ABNT NBR 16258/2014. As
estacas metálicas executadas em solos sujeitos a erosão ou expostas ou que tenham
sua cota de arrasamento acima do nível do terreno devem ser protegidas ou ter sua
espessura de sacrifício definida em projeto.
Segundo a NBR 6122/2019 às estacas de concreto moldadas in loco quando
solicitadas a cargas de compressão, com tensões limitadas aos valores da Tabela 1,
devem ser executadas em concreto não armado, porém deve ter armadura de ligação
com o bloco.

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Estacas ou tubulões com solicitações que resultem em tensões superiores às


indicadas na Tabela 1 devem ser dotados de armadura, que deve ser dimensionada
de acordo com a ABNT NBR 6118/2014 sem considerar excentricidade de carga. A
armadura mínima de cisalhamento também deve atender a ABNT NBR 6118/2014 e
observar os limites da Tabela 1.

Tabela 1: Estacas moldadas in loco: parâmetros para dimensionamento


Fonte: NBR 6122/2019

Como verificado na tabela 1, para a estaca que tiver sendo solicitada apenas a cargas
de compressão que lhe imponham tensões médias inferiores a 5 MPa, e em alguns
casos 6 MPa, não haverá necessidade de armá-la, quando o processo executivo exija
alguma armadura (por exemplo a estaca do tipo Franki). Então vale destacar que para

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condições onde a tensão média ultrapassar esse valor, a estaca deverá ser armada
no trecho que essa tensão for superior a 5 MPa, com exceção para escavada com
fluido, até a profundidade na qual a transferência de carga, por atrito lateral, diminua
a compressão no concreto para uma tensão média inferior a 5 MPa.
Vale destacar que a transferência de carga corresponde à parcela de atrito lateral
(pl) resistida pelo solo ao longo do fuste e calculado pelos métodos de Aoki-Velloso,
Décourt-Quaresma, ou outros, como já dissemos. O dimensionamento do trecho
comprimido da estaca com tensão superior a 5 MPa ou de qualquer outro segmento
da mesma, sujeito a outros esforços (tração, flexão, torção ou cortante), deverá ser
feito de acordo com o disposto na norma NBR 6118, considerando os valores para
resistência característica do concreto e os coeficientes de majoração das cargas e
mineração das resistências indicados pela norma e na NBR 6122 da ABNT.

5.1.1 Título 3 ( Dimensionamento à compressão)

Para o cálculo estrutural de uma estaca sujeita a compressão com tensão média
superior ao especificado pela NBR 6122 (2019) é feito a partir das prescrições da NBR
6118, atendendo-se ao coeficiente mínimo de segurança global igual a 2.
Se for constatado que a ruptura da estaca não ocorrerá por flambagem, o cálculo
poderá ser feito conforme indicado na NBR 6118, ou seja, majorando-se a carga de
compressão na proporção (1 + 6/h) mas não menor que 1,1, onde temos que h, medido
em centímetros, seja o menor lado do retângulo mais estreito circunscrito à seção da
estaca. A expressão a adotar será:
0,85.Ac.fcd+As.fyd
Nd = ____________________
(1+6/h)

Em que
Nd – ação normal de cálculo atuante na estaca
Ac – Área da seção de concreto fcd= fck/γc
As - Área da seção de aço fyd= fyk/γs (γs = 1,15 – situações normais)

A armadura mínima a adotar será 0,5%.Ac, em que A é a área da seção transversal


da estaca.
No caso de estacas parcialmente enterradas, o comprimento de flambagem pode
ser obtido adotando-se o modelo de Davisson e Robinson (1963), segundo esses
autores, a estaca poderá ser substituída por outra equivalente com comprimento total
(Le), como se mostra esquematicamente na figura 3.

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Figura 3: Obtenção do comprimento de flambagem (Lfe)


Fonte: Urbano (2012)

Conhecido o valor do comprimento de flambagem (), o cálculo é feito de acordo


com o item 4.1.1.3 da NBR 6118, ou seja, calcula-se o índice de esbeltez dado por:

sendo I o momento de inércia da seção da estaca e A, a área de sua seção transversal.


Se λ ≤ 40, o cálculo é feito pelo processo simplificado, como já se expôs acima.
Para 40 < λ ≤ 140, o cálculo será feito introduzindo-se os momentos de segunda
ordem dados por:
Md = M1d + M2d
M1d = γf.N.h 30
M2d= γf.N.(Lfl²/10).(1/r)

Onde:
• h/ 30 ≥ 2cm
• 1/ r =( 0,0035+fyd/Es)/( ρ+0,50 .h)
• ρ = (γf.N)/( A.fcd) ≥ 0,5

Em que (h) tem a mesma significação já exposta anteriormente. A relação h/30


não será adotada inferior a 2 cm. A peça será então dimensionada à flexão composta

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com uma carga normal de compressão (Nd=γf.N), em que γf é obtido na Tab. 2 e um


momento descrito por:
Md=M1d+M2d

No caso de 140 < λ ≤ 200, o cálculo será feito de maneira análoga, porém adotando-se:
𝛾𝑓 = 1,40 + 0,01. (𝜆 − 140)

Em nenhum caso poderá se ter 𝜆 > 200.

Para o caso de seções circulares maciças, podem ser usados os ábacos das figuras
4 a 7, extraídas dos apontamentos de aulas do professor Lobo B. Carneiro.

Figura 4.
Fonte: Urbano (2012).

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Figura 5.
Fonte: Urbano (2012).

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Figura 6.
Fonte: Urbano (2012)

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Figura 7.
Fonte: Urbano (2012).

Exemplo: Verificar se a tensão na estaca é superior a 5 MPa, caso for, calcular


o trecho que necessitará ser armado. A estaca é maciça com diâmetro de 60 cm,
sujeita a uma carga de compressão em seu topo de 2.800 kN e com um diagrama
de transferência de carga para o solo, conforme indicado na figura abaixo.

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Temos as seguintes considerações.

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AULA 6
MUROS DE CONTENÇÕES

Quando temos a presença de solos instáveis aliada com a necessidade de manter


esse solo na vertical utiliza-se elementos estruturais com a finalidade de conter a
movimentação do solo, com a função de promover estabilidade de maciços de terra
contra a ruptura (ANDRADE et al., 2013).
As estruturas de contenção abrangem vários métodos, podendo destacar, muros,
cortinas ancoradas e solos grampeados. A escolha do melhor tipo de elemento de
contenção a ser projetado depende do estudo das condições de contorno, aliado a
viabilidade da execução do projeto (CORREA, 2017).
Os muros podem ser divididos em duas categorias. A primeira é denominada por
muro de gravidade, ou seja, são elementos com peso próprio muito alto que possuem
a função de conter desníveis pequenos, garantindo a estabilidade do solo por meio
de sua inércia. Na segunda categoria temos os muros de concreto armado, como
mostra a figura 1, que podem ser com ou sem contrafortes e com ou sem ancoragem,
conhecido como muro de flexão (LUIZ, 2014).

Figura 1: Muro de flexão


Fonte: elaborado pelo autor.

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ARMADO II
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Vamos discutir alguns tipos de muro que estão presentes em nosso estudo,
destacando os muros de flexão

6.1 Título 3 (Sistema de drenagem)

No dimensionamento de muro de arrimo deve-se levar em consideração as forças


exercidas sobre a estrutura, destacando o acúmulo de água no solo gerado por
deficiência de drenagem.
Segundo Gerscovich (2016) o efeito da água pode gerar o efeito direto, que é descrito
como acúmulo de água junto à superfície do muro em contato com o solo (tardoz
interno do muro), ou indireto, produzindo uma redução da resistência ao cisalhamento
do maciço em decorrência do acréscimo das pressões intersticiais. Vamos dar início a
uma discussão relacionado ao sistema de drenagem, pois trata-se de um dos fatores
de grande parte dos acidentes envolvendo muros de arrimo.
Para que possamos ter um comportamento adequado de uma estrutura de contenção,
é necessário a utilização de sistemas eficientes de drenagem. O sistema de drenagem é
essencial no projeto de um muro de arrimo, a sua execução é apresentada pela norma
NBR 15645/2008, que direciona o profissional da construção civil a dimensionar uma
drenagem que não danifique o muro.
Segundo Gerscovich (2016) os sistemas de drenagem podem pertencer a dois
grupos, sejam superficiais ou internos na camada de solo. Sistemas de drenagem
superficial devem coletar e conduzir as águas que escorrem na superfície do talude
em direção ao muro de contenção. Para o dimensionamento correto de um sistema de
escoamento superficial deve-se considerar a área da região estudada como toda a bacia
de captação, podemos utilizar dispositivos, como: canaletas transversais, canaletas
longitudinais de descida (escada), dissipadores de energia, caixas coletoras etc.
O tipo de dispositivo a ser utilizado estará vinculado com a natureza da área
(ocupação densa, vegetação etc.), das condições geométricas do talude, do tipo de
material (solo/rocha).
Segundo Gerscovich (2016) a infiltração decorrente da precipitação de chuva pode
alterar as condições hidrológicas do talude, reduzindo as sucções ou aumentando a
magnitude das poropressões (Figura 6).
Gerscovich (2016) destaca a importância da instalação de drenos internos na camada
de solo, que visa auxiliar no escoamento interno. Tanto a alteração de sucção como

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para poropressões, tem-se uma redução na tensão efetiva que, por consequência, uma
redução da resistência ao cisalhamento do material, gerando assim, a instabilidade.
Podemos destacar que as mudanças nas condições hidrológicas podem ocorrer não
somente devido à infiltração das águas de chuva, mas por causa de vazamentos em
tubulações de água ou esgoto.
Segundo Xavier (2011), na intersecção do tardoz com a sapata, ao longo de todo
o comprimento do muro utiliza-se os barbacãs que possuem diâmetros que podem
variar de 50 mm a 100 mm, dispostos de 1,5 a 2,0 metros de distância um do outro,
com a finalidade de coletar a água do dreno.
A Figura 6 apresenta um sistema de drenagem (superficial e interno). Sempre que
possível, ligar os barbacãs às instalações de água pluvial.

Figura 6: a) Muro de arrimo com linhas de fluxo de água, interagindo com o sistema de drenagem; b) Muro de arrimo com as especificações.
Fonte: Gerscovich (2016).

6.2 Título 2 (Muros de Flexão)

De acordo com Gomes e Lima (2018) os muros de flexão em sua grande totalidade
são compostos de concreto armado, pois estão sobre influências de cargas verticais,
cargas horizontais e momentos. Vamos estudar alguns tipos de muro de flexão, visando
seu dimensionamento.

Muros De Concreto Armado Sem Contrafortes:

As estruturas de concreto armado sem contrafortes são esbeltas com seção


transversal em forma de “L” ou “T”. O perfil “T” é o perfil clássico e, consequentemente, o

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mais executado, pois garante maior estabilidade que o perfil “L” devido ao comportamento
de sua geometria, e com isso, podem ser usados para maiores alturas.
Podemos observar na figura 1, que a sapata encontra-se enterrada, ou seja, peso de
uma porção de solo sobre a sapata enterrada, fator que potencializa sua estabilidade.
Segundo Domingues (1997) o dimensionamento do muro de arrimo é feito para faixa
de 1 metro independentemente de sua extensão, considerando o comportamento do
solo na faixa de representação, bem como, o tipo de estrutura, apoiada em sapatas e
estacas verticais ou inclinadas. Os muros de arrimo podem apresentar também, lajes
intermediárias (Figura 1 ) a fim de aliviar os empuxos de terra na parte interna do muro,
e em outros casos podem ser projetados com auxílio de tirantes fixados a uma placa
de ancoragem que, por sua vez, está fixa a uma rocha ou solo resistente evitando o
seu deslocamento (Figura 3), critérios que serão determinados pelo projetista.

Figura 2: Muro de arrimo em concreto armado com laje intermediária.


Fonte: Adaptado de Moliterno, 1994.

Moliterno (1994) afirma que, os muros de arrimo que são projetados com lajes
intermediárias, podem ser utilizados para alturas entre 2,00 m e 4,00 m, e os muros
atirantados podem atingir alturas de 4,00 a 6,00 m.

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Figura 3: Muro de arrimo atirantado


Fonte: elaborado pelo autor.

Muro De Concreto Armado Com Perfil L:

De acordo com Moliterno (1994), o muro de concreto armado com perfil L deve
ser utilizado para alturas até 2 metros. Para aumentar a estabilidade do conjunto é
usual acrescentar um detalhe construtivo, que é o dente de ancoragem, que aumenta
a resistência ao escorregamento. A figura 4 ilustra esse tipo de muro.

Figura 4: Muro de concreto armado com perfil L cm dente de ancoragem


Fonte: elaborado pelo autor.

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Muros De Concreto Armado Com Contrafortes

Os elementos verticais são chamados de contrafortes ou gigantes que podem ser


construídos no lado externo da estrutura ou embutidos no terrapleno.
Para Moliterno (1994), esses elementos resistem à flexão pelo engastamento na
sapata, o parâmetro desse tipo de muro é formado por uma laje vertical calculada
como contínua que se apoia nos contrafortes.
Moliterno (1994), diz que esse tipo de estrutura se diferencia em casos em que o solo
de apoio da fundação exige o emprego de estacas ou tubulões, embora nada impeça
o emprego para alturas entre 4,00 m e 7,00 m como uma solução economicamente
vantajosa com a execução de fundação direta.
A estrutura é dimensionada levando em consideração os momentos fletores
gerados pelo peso próprio da laje e dos contrafortes, bem como, os empuxos de
terra (MOLITERNO, 1994).
De acordo com Domingues (1997), o uso de elemento de ancoragem para esse tipo
de estrutura só é necessário quando há o risco de escorregamento por ser pequeno
a atrito do solo com a face inferior da sapata.
Moliterno (1994), esclarece que para esse tipo de estrutura apoiado em fundação
direta o solo deve ter capacidade mínima na faixa de 2 kgf/cm², para que seja econômica
se comparada com outras alternativas como cortinas atirantadas e fundações sobre
estacas.
A Figura 5 demonstra os muros de concreto armado com contrafortes e vigas
intermediárias.

Figura 5: Muros de concreto armado com contrafortes e vigas intermediárias.


Fonte: MOLITERNO, 1994.

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6.3 Título 2 (Muro de Arrimo em Concreto Armado)

Para elaboração de um projeto de muro de arrimo é necessária uma análise criteriosa


do terreno, onde será construído o muro, visando a segurança e economia de acordo
com as características do local.
Segundo Moliterno (1994) o engenheiro deve verificar a natureza geológica da região,
reconhecer o tipo de solo, obter o perfil estratigráfico do local onde será executado o
muro, além de realizar uma investigação de obras similares já executadas (compreender
as patologias de obras existentes na região).
O projeto de um muro de arrimo, assim como qualquer outro tipo de estrutura
seja qual for a sua seção deve passar por uma análise das condições de estabilidade
como: tombamento, deslizamento da base, capacidade de carga da fundação e ruptura
global (GERSCOVICH, 2016). Tais fatores são tratados na disciplina de obras de terra.
De acordo com Moliterno (1994), para verificação da estabilidade do muro deve-se
considerar o equilíbrio estático e, em seguida, equilíbrio elástico. O empuxo de terra,
que pode ser causado pelos aterros e cortes do terreno, é considerado o principal
carregamento na estrutura de um muro de arrimo, pois é a resultante do empuxo de
solo que irá promover o comportamento de tombamento da estrutura.
De acordo com Marangon (2018) o cálculo dos empuxos constitui uma das maiores
e mais antigas preocupações da engenharia civil, a determinação do seu valor é de
essencial importância para o cálculo e dimensionamento da estrutura. Portanto, é
de grande importância o projetista ter conhecimento sobre as teorias de Rankine e
Coulomb, conteúdo abordado em obras de terra.
Para o dimensionamento de elementos de fundação é necessário ter conhecimento
da norma técnica de fundação NBR 6122 (2019). Em obras de muro de arrimo em
concreto armado, comumente, são utilizadas sapatas, denominadas elementos de
fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de
tração nele produzidas não sejam resistidas pelo concreto, mas sim, pelo emprego
da armadura. Em alguns casos tem-se a implementação de elementos de fundações
indiretas (estacas), tal escolha referente ao tipo de fundação, será feito pela análise
do perfil estratégico do solo.
Segundo Domingues (1997), antes da especificação da armadura resistente da
estrutura, é preciso obter as solicitações horizontais, verticais e os respectivos
momentos atuantes na estrutura. Outro fator importante no projeto de um muro de
arrimo é a implantação de um sistema de drenagem que tem a finalidade de eliminar
os empuxos hidrostáticos, visto que na maioria dos projetos não se considera solo
saturado devido à inviabilidade econômica (MOLITERNO, 1994).

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Podemos, assim, resumir os seguintes passos referentes ao projeto de um muro


de arrimo:
• Determinação do empuxo;
• Pré-dimensionamento do muro de arrimo;
• Verificação da estabilidade do conjunto solo-muro (verificação quanto ao
deslizamento, rotação e capacidade suporte do solo);
• Determinação dos carregamentos e dos esforços solicitantes na estrutura;
• Cálculo da armadura resistente

Nos tópicos seguintes serão abordados, de maneira mais aprofundada, o sistema


de drenagem, bem como, as etapas de pré-dimensionamento, cálculo dos esforços
solicitantes e especificação das armaduras. Destaca-se que o conhecimento sobre,
empuxos de terra, verificação da estabilidade é de suma importância, porém, nossa
análise está direcionada para o comportamento do elemento estrutural (concreto
armado).

6.4 Título 3 (Ponto de Aplicação do Empuxo)

Para determinar o ponto de aplicação do empuxo, devem-se considerar duas


situações, o solo sem sobrecarga e com sobrecarga. Para solo sem sobrecarga o
ponto de aplicação do empuxo (E) é calculado através da Eq.1, como se pode verificar
na Figura 7.
y=H/3 (1)

Figura 7:Ponto de aplicação do empuxo em terrapleno sem sobrecarga.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Para Caputo (1987), o efeito de sobrecarga (q) aplicado sobre o terreno pode ser
considerado como uma altura equivalente de terra (h0), que pode ser determinada
através da Eq.2:
h0=q/γ (2)
Nesta condição o ponto de aplicação do empuxo é dado pela Eq. 3:
2.h +H
y=(H/3)*( _______
0
) (3)
h0+H

6.5 Título 2 (Pré-Dimensionamento do Muro de Arrimo)

A única dimensão conhecida do muro é sua altura, que é delimitada pela cota inferior
e superior do terreno, as outras dimensões são pré-dimensionadas para, posteriormente,
ser feita a análise das resistências das seções.
Segundo Huntington (1957), a espessura tanto da sapata quanto da parede pode
ser igual (h) ficando dentro do intervalo indicado na figura 8.

Figura 8: Pré-dimensionamento de acordo com Huntington.


Fonte: elaborado pelo autor.

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De acordo com Domingues (1997), comumente, adota-se a largura da sapata (b)


do muro de arrimo, como sendo 0,5H, podendo variar de 0,4H a 0,7H. Recomenda-se
que a espessura mínima para a sapata seja de 20 cm.
Marchetti (2011), sugere para o pré-dimensionamento do muro de arrimo em concreto
armado as seguintes dimensões mínimas e condições, que variam de acordo com as
disposições construtivas, a figura 8 ilustra o pré-dimensionamento para a sapata sem
inclinação, tendo uma espessura mínima de 20cm.

Figura 8.
Fonte: Marchetti (2011).

A figura 9 ilustra uma sapata com inclinação com espessura mínima variando
entre 15 e 20 cm.

Figura 9.
Fonte: Marchetti (2011).

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A figura 10 ilustra o pré-dimensionamento para muros de arrimo com contraforte.

Figura 10.
Fonte: Marchetti (2011).

Para Moliterno (1994), a estrutura é calculada como uma laje vertical, em balanço e
engastada na fundação. O pré-dimensionamento da estrutura é feito antes do cálculo do
momento fletor atuante na base do muro, com os valores de momento fletor atuante,
aliados ao conhecimento de carga vertical atuante, damos início ao dimensionamento.
O momento do fletor é determinado pelo produto do empuxo pela distância do seu
ponto de aplicação até a base, dado pela Eq, 4, onde (E) é o empuxo de terra e (y) o
ponto de aplicação, que foi demonstrado no tópico anterior.
M=E.y (4)

Segundo Moliterno (1994), a altura útil da seção de concreto (d) é dada pela Eq. 5.
d=10.√(M ) (5)

O dimensionamento da espessura do topo do muro (h) segue a NBR 6118 (2014),


que contempla que, para laje maciça em balanço, a dimensão mínima que pode ser
adotada é de 10 cm.
Para a largura da sapata (b) geralmente adota-se valores entre 50 % a 60 % da
altura do muro (H), sendo a ponta (r) dimensionada com os valores compreendidos
entre 1/6 e 1/8 da altura do muro (H) e o talão pré-dimensionado pela Eq. 6.

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T=b – (r+di)

Para o engastamento do muro na sapata é necessário que h > di, sendo (h) a
espessura da sapata. As espessuras das bordas devem estar entre 10 e 30 cm,
havendo um chanfro suave na face superior da sapata (XAVIER, 2011). Na verificação
do equilíbrio estático da estrutura, será determinada a necessidade da utilização do
dente de ancoragem. A figura 11 ilustra o pré-dimensionamento proposto por Moliterno
(1994).

Figura 11.
Fonte: elaborado pelo autor.

6.5.1 Título 3 (Esforços solicitantes no muro ou tardoz)

De acordo com Leonhard (2007) a estrutura real, ou suas partes podem ser
idealizadas por meio de modelos estruturais. A determinação dos esforços solicitantes
na estrutura do muro de arrimo é composta por dois conjuntos, que são o muro ou
tardoz e a sapata.

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Moliterno (1994) diz que o muro recebe as ações exercidas pelo maciço caracterizado
pelo empuxo de terra e as transfere para o elemento de fundação, que, por sua vez,
transmite esses esforços ao solo
Para o cálculo do esforço que atua no muro é necessário averiguar a existência de
sobrecarga no maciço de terra. Domingues (1997) diz que se houver a presença de
sobrecarga, de veículos ou pedestres sobre o maciço de terra, terá uma distribuição
trapezoidal de pressões. Não havendo a existência da sobrecarga a distribuição
é triangular. A distribuição trapezoidal das pressões ocorre, pois a sobrecarga é
transformada em uma altura (h0) que é somada à altura total (h), de tal forma que, a
altura final (H) pode ser calculada através da Eq. 7:
H= h+h0
De acordo com Domingues (1997), os cálculos de momento fletor e esforço cortante
na parede são determinados a partir do momento de engastamento na base do muro,
devido à carga de solo atuante sobre o muro e aos empuxos gerados pela sobrecarga.
A figura 12 ilustra a distribuição dos carregamentos que o muro está sujeito no caso
de haver sobrecarga.

Figura 12.
Fonte: elaborado pelo autor.

Onde: PS é o carregamento devido à sobrecarga e Pi devido à carga de terra atuando


sobre o muro.
Segundo Xavier (2011), para determinar o momento fletor em uma seção qualquer
do muro (MB), localizada a uma distância x do topo do muro, pode-se utilizar a seguinte
Eq.8.
Ps.X2 Pi.X 3
MB= _____ + _____
2 6.H

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Da mesma forma, para o esforço cortante (CB), localizado a uma distância x do


topo do muro, é possível determinar seu valor pela Eq.9.
Ps.X 2
CB = Ps . X + _____
2.H

6.3.2 Título 3 (Determinação da Armadura Resistente)

Ao se determinar os esforços solicitantes na estrutura devem-se dimensionar as


armaduras, que tem por finalidade, absorver os esforços de tração em peças estruturais
solicitadas à flexão e à tração (LEONHARDT, 2007).
Para o dimensionamento das armaduras se faz uso da NBR 6118 (2014) e auxílio
das disciplinas anteriores. O dimensionamento ocorre considerando o muro como
uma laje em balanço engastada na fundação. Moliterno (1994) diz que é conveniente
projetar o muro com espessuras que resistem às tensões de cisalhamento, devido à
dificuldade de execução das armaduras transversais nesse tipo de obra.
Exemplo extraído de Domingues (1997):
Projetar um muro de arrimo isolado, com fundação em sapata, para um talude
vertical de altura 4m. Dados:
Peso específico aparente do solo g = 18 kN/m³ ;
Ação variável normal no terrapleno = 5 kN/m ²;
Empuxos ativos Ka=0,33.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Fonte: elaborado pelo autor.

Dimensionamento considerando o muro como uma laje em balanço engastada na


fundação, analise feita considerando uma laje engastada na fundação, submetida ao
carregamento q1=1,7 kN/m² e q2=25,17 kN/m².

Fonte: elaborado pelo autor.

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As vigas e as lajes devem ser projetadas à flexão simples nos domínios 2 ou 3, e


não podem ser projetadas no domínio 4. Para complementar essa análise, é importante
observar que a NBR 6118 (item 14.6.4.3) apresenta limites para a posição da linha
neutra, que visa trabalhar com as vigas e lajes em seu comportamento dúctil, afirmando
que quanto menor for a relação x/d (x = posição da linha neutra, d = altura útil da viga),
maior será a ductilidade. Podemos, assim, aplicar as equações do equilíbrio para uma
peça de concreto armado, como:

Tabela: Valores de armadura por trecho do muro.


Fonte: elaborado pelo autor.

Tabela: Valores de (diâmetro), n (número de barras), S(espaçamento entre as barras), As(ef.) (área efetiva de armadura).
Fonte: elaborado pelo autor.

Tabela: Armadura de distribuição.


Fonte: elaborado pelo autor.

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AULA 7
FISSURAÇÃO E DEFORMAÇÕES

A questão da segurança de uma estrutura é de extrema importância para todos


os profissionais envolvidos na área da construção civil, e especialmente para aqueles
do projeto estrutural, porque a possibilidade de uma estrutura entrar em colapso
configura-se geralmente uma situação extremamente perigosa, por envolver vidas
humanas e perdas financeiras por danos materiais de grande valor.
A segurança que todos os tipos de estruturas deve envolve dois aspectos principais.
O primeiro, e mais importante, é que uma estrutura não pode nunca alcançar a ruptura.
O segundo aspecto é relativo ao conforto, à tranquilidade das pessoas na utilização
das construções.
A NBR 6118 (2014) trata esses dois aspectos da segurança apresentando os como,
Estados-Limites, que são situações limites que as estruturas não devem ultrapassar.
A segurança da estrutura contra o colapso relaciona-se ao chamado Estado-Limite
Último (ELU), e a segurança dos usuários na utilização da estrutura relaciona-se aos
Estados-Limites de Serviço (ELS).
No projeto das estruturas de Concreto Armado e Protendido o dimensionamento
dos diferentes elementos estruturais é feito no chamado Estado-Limite Último (ELU),
onde os elementos estruturais são dimensionados como se estivessem prestes a
romper, mas isso apenas teoricamente. No entanto, para evitar que a ruptura ocorra,
todas as estruturas são projetadas com uma margem de segurança, isto é, uma folga
de resistência relativamente às ações e carregamentos aplicados, de tal forma que,
para ocorrer a ruptura a estrutura teria que estar submetida a carregamentos bem
superiores àqueles a que foi projetada.
A margem de segurança no dimensionamento dos elementos estruturais ocorre
com a consideração dos chamados coeficientes de ponderação, que farão com que,
em serviço, as estruturas trabalhem a uma determinada “distância” da ruína. Para
os coeficientes de ponderação são adotados valores numéricos de tal forma que as
ações sejam majoradas, e as resistências dos materiais sejam minoradas.

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Existem basicamente três coeficientes de ponderação, um que majora o valor das


ações, e consequentemente os esforços solicitantes, e outros dois que minoram as
resistências do concreto e do aço.
Por exemplo, no caso de um pilar de Concreto armado, pertencente a uma edificação,
submetido à uma força normal de compressão de 100 kN (10 tf), o dimensionamento
teórico do pilar é feito como se a força normal fosse 140 kN, valor calculado multiplicando-
se a força de compressão real pelo coeficiente de majoração da ações, porém, a ação
que está atuando na edificação é 100 kN, está é a ação verdadeira. Para protegermos
nossa estrutura de falhas de projeto, execução, condição do meio, temos o coeficiente
que majora a ação para 140 kN, valor utilizado para a realização do dimensionamento.

Figura 1: Consideração do coeficiente de ponderação das ações: a) carga real; b) carga de projeto.

As resistências dos materiais que compõem o pilar (concreto e o aço) são minoradas
por coeficientes, sendo em geral 1,4 para o concreto e 1,15 para o aço. Assim, por
exemplo, se no pilar for aplicado o concreto C30 (fck de 30 MPa = 3,0 kN/cm2 = 300
kgf/cm2 ), o dimensionamento teórico será feito como se a resistência do concreto
fosse menor, de valor 30/1,4 = 21,4 MPa.
No caso do aço, se aplicado o aço CA-50, com resistência de início de escoamento
(fyk) de 500 MPa, o dimensionamento será feito como se a resistência do aço fosse
menor, com valor (500/1,15 = 434,8 MPa).

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As resistências de 21,4 MPa para o concreto e 434,8 MPa para o aço são chamadas
de resistências de cálculo. Embora na teoria o pilar tenha sido dimensionado no Estado-
Limite Último (ELU), estado correspondente à ruína, na realidade o pilar em serviço estará
a uma certa “distância” da ruína, isto é, com uma margem de segurança contra a ruína,
introduzida com a consideração dos coeficientes de ponderação no dimensionamento.
Em resumo, segurança é quando todo o conjunto da estrutura, bem como as partes
que a compõem, resiste às solicitações externas na sua combinação mais desfavorável,
durante toda a vida útil, e com uma conveniente margem de segurança. Portanto, no
projeto de uma estrutura, mesmo que seja apenas uma peça, como uma laje, uma viga
ou um pilar, deve-se ter o cuidado de garantir as seguintes características à estrutura:
resistência, estabilidade, utilização plena e durabilidade.
As estruturas devem também ser analisadas quanto às deformações, à fissuração
e ao conforto do usuário na sua utilização. A fim de não prejudicar a estética e a
utilização da construção, as estruturas não devem apresentar deformações excessivas
(principalmente flechas), e as aberturas das fissuras devem ser limitadas, visando
garantir a durabilidade. Esses aspectos são tratados pelos Estados-Limites de Serviço.

7.1 Título 2 (Estados Limites)

A NBR 6118 (2014) destaca que uma estrutura ou parte dela pode alcançar um
estado limite, quando se torna inutilizável ou quando deixa de satisfazer às condições
previstas para sua utilização.
• Segurança;
• Funcionalidade;
• Durabilidade.

Diante desses três itens, destacado a estrutura deve atender todas as necessidades
para as quais foi projetada. Logo, quando uma estrutura deixa de atender a qualquer
um desses três itens, diz-se que ela atingiu um Estado Limite. Dessa forma, uma
estrutura pode atingir um estado limite de ordem estrutural ou de ordem funcional.
Assim, se concebe dois tipos de estados limites, a saber:
• Estados limites últimos (de ruína);
• Estados limites de utilização (de serviço).

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ESTADO LIMITE ÚLTIMO: Segundo a NBR 6118 (2014) é os elementos estruturais


relacionados ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que determine a
paralisação do uso da estrutura. A segurança das estruturas de concreto deve sempre
ser verificada em relação aos seguintes estados limites últimos:
• Estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo
rígido;
• Estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no
seu todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais;
• Estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no
seu todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem;
• Estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;
• Estado-limite último de colapso progressivo;
• Estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no
seu todo ou em parte, considerando exposição ao fogo.

ESTADO LIMITE DE UTILIZAÇÃO: Segundo a NBR (2014) é os elementos da


edificação que correspondem à impossibilidade do uso normal da estrutura, estando
relacionados à durabilidade das estruturas, aparência, conforto, boa utilização funcional
da mesma, seja em relação aos usuários ou às maquinas. Podem ter origem pelas
seguintes causas:
• Estado limite de formação de fissuras: É o estado em que há uma grande
probabilidade de iniciar-se a formação de fissuras de flexão. Este estado ocorre
quando a tensão de tração máxima na seção transversal for igual à resistência
à tração do concreto na flexão;
• Estado limite de abertura de fissuras: Também definido como Estado limite de
fissuração inaceitável, corresponde ao estado em que as fissuras se apresentam
com aberturas iguais aos limites máximos especificados por normas e que
podem ser prejudicial ao uso ou à durabilidade da peça de concreto;
• Estado limite de deformações excessivas: É o estado em que as deformações
ultrapassam os limites máximos definidos por normas e aceitáveis para a
utilização normal da estrutura;
• Estado limite de vibrações excessivas;

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É importante entender que a principal diferença entre o ELU e o ELS reside no fato do
primeiro oferecer um risco de ruína à estrutura, devendo ser reparado imediatamente,
caso contrário temos o desabamento.
Por sua vez, o ELS está relacionado ao desempenho da estrutura e ao conforto do
usuário, como: Alvenarias trincadas devido ao deslocamento excessivo da edificação
(figura 2).

Figura 2: Estrutura entrando em condição de ruína.

Desta forma o estado limite mais indesejável para o engenheiro, pois significa que a
estrutura está sob condição última, como, por exemplo, um pilar que está rompendo,
que por consequência levará a estrutura a ruína (figura 3).

Figura 3: Estrutura em ruína.


Fonte: elaborado pelo autor.

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E o mais importante é que o projeto estrutural deve atender simultaneamente a todos


estados limites últimos e de serviço, tal condição remete segurança, funcionalidade
e durabilidade para a construção.
Buscando a funcionalidade, estética e durabilidade em seu projeto, temos que um dos
quesitos que o projetistas necessita ter cuidado é a fissura, pois a mesma caracteriza
uma ponte para possíveis patologias, pois sendo uma abertura, ela pode ter caráter
agressivo ou de pequena espessura no concreto.
Podemos dizer que o surgimento de fissuras no concreto armado deve-se à baixa
resistência do concreto à tração, caracterizando-se por um fenômeno natural, porém
indesejável. Logo destacamos que a abertura e as flechas devem ser controlada
e analisadas, a fim de atender condições exigidas em projeto, evitando possíveis
complicações.
O engenheiro deve garantir em seu projeto, que as fissuras e as flechas, apresentem
valores menores que os limites estabelecidos pela NBR 6118/2014.
Quando discutimos sobre fissuras, devemos perceber que a disposição de barras
de aço de pequeno diâmetro de maneira distribuída tende a auxiliar na estabilização
e controle das fissuras, não levando ao perigo de corrosão do aço.
As fissuras também surgem devido ao fenômeno da retração no concreto, mas
podem ser significativamente diminuídas com uma cura cuidadosa nos primeiros dias
de idade do concreto, e com o uso de barras de aço dispostas próximas às superfícies
externas da peça, a chamada armadura de pele.
Vamos na sequência estudar sobre os estados limite último das deformações e
fissuras, compreender seus valores e critério de dimensionamento.

7.2 Título 2 (Tipos de Deformações)

As deformações no concreto podem ser classificadas em:


Deformações que dependem do carregamento: essas deformações são função
do carregamento imposto e têm direção definida. São classificadas em deformação
elástica imediata e deformação lenta (fluência). Deformação elástica imediata: ocorre
por ocasião da aplicação do carregamento e é reversível. Deformação lenta: é definida
como o aumento de deformação sob tensão constante e exerce importante influência
no valor da flecha total.

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Deformações que independem do carregamento: essas deformações não são função


do carregamento imposto e não têm direção definida. São funções da variação de
volume causadas por retração e por variação de temperatura.
A retração é o fenômeno caracterizado pela redução do volume da massa de concreto
causada principalmente pela evaporação da água contida nos poros do concreto. A
presença dessa água livre se deve ao fato de que, em geral, a quantidade de água
utilizada na mistura do concreto é maior do que a necessária para as reações de
hidratação do cimento. O efeito da retração numa peça de concreto armado sob flexão
caracteriza-se pela contração diferencial das faces do elemento, resultando em flechas.
Esta contração diferencial é devida ao fato de que nas regiões onde há armadura, a
contração é parcialmente impedida, provocando o abaulamento da peça. O mesmo
abaulamento pode ser causado por variações de temperatura. Neste caso, uma face
do elemento expande mais do que a outra, por apresentar maior temperatura.

Deslocamentos-limites

São valores práticos utilizados para verificação em serviço do estado-limite de


deformações excessivas da estrutura. A NBR 6118 (2014) classifica em quatro grupos
básicos, são eles:
a) aceitabilidade sensorial: o limite é caracterizado por vibrações indesejáveis ou
efeito visual desagradável. A limitação da flecha para prevenir essas vibrações,
em situações especiais de utilização, deve ser realizada como estabelecido na
Seção 23, da NBR 6118 (2014) ;
b) efeitos específicos: os deslocamentos podem impedir a utilização adequada
da construção;
c) efeitos em elementos não estruturais: deslocamentos estruturais podem
ocasionar o mau funcionamento de elementos que, apesar de não fazerem
parte da estrutura, estão a ele ligados;
d) efeitos em elementos estruturais: os deslocamentos podem afetar o
comportamento do elemento estrutural, provocando afastamento em relação
às hipóteses de cálculo adotadas. Se os deslocamentos forem relevantes para
o elemento considerado, seus efeitos sobre as tensões ou sobre a estabilidade
da estrutura devem ser considerados, incorporando-as ao modelo estrutural
adotado.

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Tabela 2: Valores-limites de deslocamentos que visam proporcionar um adequado comportamento da estrutura em serviço.
Fonte: NBR 6118 (2014)

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Tabela 2: Continuação
Fonte: NBR 6118 (2014)

A deformação real da estrutura está vinculado com o processo construtivo, bem


como, as propriedades dos materiais, como: módulo de elasticidade, resistência à
tração etc.. Em face da grande variabilidade dos parâmetros citados, existe uma grande
variabilidade das deformações reais. Não se pode esperar, portanto, grande precisão
nas previsões de deslocamentos dadas pelos processos analíticos prescritos.
O modelo de comportamento da estrutura pode admitir o concreto e o aço como
materiais de comportamento elástico e linear, de modo que as seções ao longo do

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elemento estrutural possam ter as deformações específicas determinadas no estádio I,


desde que os esforços não superem aqueles que dão início à fissuração, e no estádio II.
Deve ser utilizado no cálculo o valor do módulo de elasticidade secante Ecs, sendo
obrigatória a consideração do efeito da fluência.

7.3 Título 2 (Fissuração)

A fissuração num elemento em concreto armado ocorre quando é atingida a tensão


de ruptura por tração do concreto. Esse fenômeno é inevitável em estruturas de concreto
em que existam tensões de tração resultantes de carregamento direto ou por restrição
a deformações impostas. Podem ainda ocorrer por outras causas, como retração
plástica ou térmica e expansão devido às reações químicas internas do concreto nas
primeiras idades.
Essas fissuras devem ser limitadas por meio de cuidados tecnológicos, especialmente
na definição do traço do concreto e nos cuidados de cura do mesmo. A consideração
da fissuração num determinado projeto está relacionada ao tipo de obra e a finalidade
para qual esta foi projetada.
Assim, no caso de reservatórios, por exemplo, a formação de fissuras de grandes
aberturas pode comprometer seriamente a característica de estanqueidade exigida
para este tipo de estrutura. Para edifícios correntes, a fissuração excessiva do concreto
pode acarretar, além de problemas estéticos, problemas de deterioração da estrutura
devido à corrosão da armadura, podendo conduzir ao colapso da mesma (estado
limite último).
Pode-se dizer que para o concreto armado a fissuração é um fenômeno inevitável,
visto que para impedi-la, seria necessário adotar seções transversais de dimensões
exageradas. As fissuras, entretanto, não devem se apresentar com aberturas muito
grandes, que possam comprometer a estética, a funcionalidade ou a durabilidade das
estruturas. Além disso, deve-se ter em conta o desconforto psicológico que fissuras
com aberturas excessivas causam aos usuários.
Diversas são as circunstâncias que podem acarretar a formação de fissuras,
podendo-se destacar entre elas:
• Fissuras produzidas por solicitações devidas ao carregamento: são causadas
por ações diretas de tração, flexão ou cisalhamento, ocorrendo sempre nas
regiões tracionadas.
• Fissuras não produzidas por carregamento: são causadas por deformações
impostas (ações indiretas), tais como retração, variação de temperatura e
recalques diferenciais.

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Os limites de abertura de fissuras referente a proteção das armaduras quanto à


durabilidade segundo a NBR 6118 (2014) pode ser descrito pela abertura máxima
característica (wk), desde que não exceda valores da ordem de 0,2 mm a 0,4 mm,
(conforme descrito na tabela 1) sob ação das combinações frequentes, não tem
importância significativa na corrosão das armaduras passivas.
Porém para as armaduras ativas existe a possibilidade de corrosão sob tensão,
esses limites devem ser mais rigorosos e função direta da agressividade do ambiente,
dada pela classe de agressividade ambiental.
Na Tabela 1 podemos encontrar valores-limites da abertura característica (wk)
das fissuras, visando garantir proteção adequada das armaduras quanto à corrosão.
Entretanto, a NBR 6118 (2014) destaca que a alta variabilidade das grandezas
envolvidas, esses limites devem ser vistos apenas como critérios para um projeto
adequado de estruturas. Embora as estimativas de abertura de fissuras feitas em
17.3.3.2 devam respeitar esses limites, não se deve esperar que as aberturas de fissuras
reais correspondam estritamente aos valores estimados, isto é, fissuras reais podem
eventualmente ultrapassar os limites recomendados.

Tabela 1: exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental
Fonte: NBR 6118 (2014)

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AULA 8
INTRODUÇÃO AO CONCRETO
PROTENDIDO

O concreto é o material estrutural utilizado na construção civil, basicamente em todo


o mundo, e provavelmente continuará por muito tempo. Porém, como a resistência
do concreto à tração é baixa, é necessário inserir barras de aço nas regiões onde as
tensões de tração atuam, conceito que já foi estudado nas disciplinas anteriores.
Antes de dar início a discussão sobre a protensão no concreto, vamos ilustrar o
princípio da protensão através de alguns exemplos bastante significativos. Imagine-se,
por exemplo, a situação em que uma pessoa carrega um conjunto de livros (FIGURA
1.). Segundo Veríssimo (1998) para os livros serem carregados, sem que caiam, é
necessária a aplicação de uma força horizontal que os comprima uns contra os outros,
produzindo assim forças de atrito capazes de superar o peso próprio do conjunto.

Figura 1: Conjunto de livros


Fonte: Veríssimo e Junior (1998)

Segundo Veríssimo (1998), quando temos aplicação da força normal na superfície


lateral dos livros, estamos promovendo a união do conjunto de livros, com o objetivo de
se criar um componente de força contrária àquela que pode prejudicar a movimentação
dos livros. O princípio de comprimir os livros para facilitar seu manujeio está relacionado
com o princio de protender.

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Segundo Hanai (2005) o termo protensão é caracterizado como o principio de


instalar um estado prévio de tensões. A protensão deve ser definida como um artifício
para introduzir, em uma estrutura, um estado prévio de tensões, de modo a melhorar
sua resistência ou seu comportamento, sob ação de diversas solicitações.
Para ampliar nosso entendimento, veja a viga de concreto armado (biapoiada) na
figura 2. A viga ésta sujeita a um carregamneto externo que por sua vez gera momentos
fletores positivos, com tensão normal de compressão em sua parte superior, e tensão
normal de tração na parte inferior. Na figura 2 podemos considerar a possibilidade de
formacao de fissuras, pois nas vigas de concreto armado, usualmente as tensões de
tração atuantes superam a resistência do concreto à tração.
Segundo Bastos (2021) as barras da armadura localizadas na parte inferior atuam
como ponte de transferência de tensão entre as fissuras, possibilitando o trabalho
resistente da viga, em conjunto com o concreto comprimido da parte superior.

Figura 2: Viga de concreto armado


Fonte: Bastos (2021).

A NBR 6118/2014 limita em 10 ‰ (10 mm/m) a deformação máxima de alongamento


na armadura tracionada, pois a abertura da fissura é aproximadamente proporcional
à deformação da armadura que atravessa a fissura, portanto, tensão na armadura
devem ser limitadas a valores baixos, a fim de evitar fissuras com aberturas elevadas
e prejudiciais à estética e à durabilidade.
Segundo Basto (2021) o fator geralmente crítico no projeto de elementos que vencem
vãos, como vigas e lajes, é o Estado-Limite de Serviço relativo à deformação excessiva
(ELS-DEF), ou seja, as flechas é resultado dos deslocamentos verticais. Quando temos
flechas com valores grandes temos peças com aberturas de fissuras consideráveis,
e consequentemente grandes deformações na armadura tracionada. Logo podemos

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entender que nas peças fletidas em concreto armado não adianta utilizar aços com
resistências ainda mais elevadas, pois a tensão de serviço no aço deve ser limitada
a uma deformação máxima baixa, indicada pela NBR 6118 (2014) em em 10 ‰ (10
mm/m).
Portanto, em vista da baixa resistência do concreto à tração, vinculado a fissuração,
tem-se o surgimento da aplicação da protensão ao concreto, com a ideia de pré-
comprimir a região da seção transversal que depois será tracionada com a atuação
do carregamento externo.
Podemos entender que a protensão é aplicada como um meio de evitar aberturas de
grande escala. Logo a protensão é um meio de ganhar maiores vãos e consequentemente
ter um menor número de pilares, vinculado a um melhor Estado-Limite de Serviço relativo
à deformação excessiva (ELS-DEF), sendo caracterizada com um método construtivo.
A viga mostrada na figura 3 destaca o benefício da protensão, onde o momento
fletor provocado pelo carregamento sobre a viga induz tensões normais, máximas
de compressão na fibra do topo (c,M) e de tração na fibra da base (t,M), e a força
de protensão P também aplica tensões normais, de compressão na base (c,P) e de
tração no topo (t,P).
A ideia básica que a protensão passa é de aplicar previamente elevadas tensões de
compressão na região inferior da seção transversal da viga, para que posteriormente
em serviço, com a atuação dos carregamentos aplicados, às tensões de tração sejam
diminuídas ou até mesmo completamente eliminadas da seção transversal, como
mostrado no diagrama de tensões resultantes da figura 3.
Segundo Bastos (2021) a tensão nula na base da viga é chamada de protensão
completa: apresenta a vantagem de proporcionar peças livres de fissuras durante
o trabalho em serviço. A protensão parcial é descrita como sendo : A protensão
que não elimina completamente as tensões de tração atuantes na viga em serviço,
permitindo assim uma fissuração controlada. Ou seja, a protensão parcial, é uma
situação intermediária entre o concreto armado e o concreto protendido com protensão
completa, isto é, uma combinação dos dois casos.

Figura 3: Viga de concreto armado


Fonte: Bastos (2021).

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Segundo Bastos (2021) a força que comprime a peça (força P na Figura 3) tem
origem pelo processo de alongamento do aço (os macacos hidráulicos realiza o
alongamento do cabo) até atingir valor de tensão de tração inferior à tensão limite
do regime elástico. De tal forma temos um processo simples que o aço, como
um elástico, tender a voltar à deformação inicial nula, quando ele faz o processo
de retornar ao seu tamanho original, o mesmo aplica uma força de compressão
(protensão) na peça.
Temos que a utilização de aço com grande capacidade de deformação dentro
do regime elástico é fundamental, pois temos as perdas de força que ocorrem ao
longo do tempo, naturais do processo, fator que deve ser verificado.
A peça protendida, ao sofrer o processo de protensão, ou seja, quando o aço
realiza o processo de comprimir a peça, tem-se a redução ou eliminação das tensões
de tração e fissuração no elemento de concreto, pois o sistema de protensão tende
a combater o processo de tracao decorrente a cargas permanentes e acidentais.
Esse desempenho do sistema de proteção proporciona às peças importantes
vantagens técnicas e econômicas.
A Figura 4 ilustra uma viga de concreto segundo três possibilidades.
• A viga de Concreto Simples, sem armadura longitudinal de flexão, rompe
bruscamente quando inicia uma primeira fissura, causada pela tensão de
tração atuante que alcança a resistência do concreto à tração na flexão
(fct,f); a força F aplicada é pequena.
• A viga de Concreto Armado armadura é colocada na região tracionada da
viga, próxima à fibra mais tracionada. A armadura começa a trabalhar de
maneira mais efetiva após o surgimento de fissuras, quando passa a resistir
às tensões de tração atuantes, atuando como ponte de transferência de
tensões entre as fissuras. Desse modo a viga rompe sob uma força F muito
mais elevada.
• A viga de Concreto Protendido, a força de protensão excêntrica P comprime
a viga, e equilibra as tensões de tração devidas à força externa F, prevenindo
o surgimento de fissuras e diminuindo ou eliminando a flecha.

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Figura 4: Viga de concreto segundo três possibilidades.


Fonte: Bastos (2021)

Segundo Bastos (2021) a NBR 6118 apresenta as seguintes definições (itens 3.1.2,
3.1.3 e 3.1.5):
• Elementos de Concreto Simples: elementos estruturais elaborados com concreto
que não possui qualquer tipo de armadura ou que a possui em quantidade
inferior ao mínimo exigido para o concreto armado.
• Elementos de Concreto Armado: aqueles cujo comportamento estrutural depende
da aderência entre concreto e armadura, e nos quais não se aplicam alongamentos
iniciais das armaduras antes da materialização dessa aderência.
• Elementos de Concreto Protendido: aqueles nos quais parte das armaduras é
previamente alongada por equipamentos especiais de protensão, com a finalidade
de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos
da estrutura, bem como propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta
resistência no estado-limite último (ELU).
• Armadura passiva: qualquer armadura que não seja usada para produzir forças
de protensão, isto é, que não seja previamente alongada.

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• Armadura ativa (de protensão): armadura constituída por barras, fios isolados
ou cordoalhas, destinada à produção de forças de protensão, isto é, na qual se
aplica um pré-alongamento inicial.

8.1 Título 2 (Comparação entre concreto protendido e concreto armado)

Segundo Bastos (2021) para a execução de peças protendidas necessita-se de


concretos e aços de resistências elevadas, aliado com a possibilidade da protensão
eliminar as tensões de tração no concreto. De ordem de projeto podemos compreender
que as peças como como as vigas e lajes podem ser projetadas com alturas menores
que aquelas que são executadas somente em Concreto Armado, algo em torno de 65
a 80 % da altura, o que implica em econômica.
Para termos uma análise direta, vamos considerar uma viga de cerca de 10 m, o
custo adicional do concreto protendido, devido a materiais mais resistentes, utilização
de dispositivos e equipamentos e projeto, tornam o concreto armado mais viável.
Desse modo, podemos entender que a protensão é viável para vãos maiores que 10
m, vinculado a aplicação de concretos de resistências elevadas que implica em maior
controle de qualidade sejam pré-fabricadas ou moldadas no local.
Podemos entender que o concreto protendido (CP) e o concreto armado (CA) não
competem entre si, na verdade são dois conceitos que se complementam, cada qual
em sua especificação e necessidade. Nessa linha podemos até imaginar que o CP
permite vencer vãos grandes, logo ele se trona um oponente das estruturas metálicas
que com o CA, lembrando que as peças de concreto oferecem vantagens como maior
resistência ao fogo e isolamento térmico do que comparado a uma peça metálica.
Porém de uma forma geral podemos entender que um projeto de qualidade sendo ele
em CA, CP, metálicas ou até mesmo em madeira leva diversas considerações para
sua escolha e aplicação.
Segundo Bastos (2021) podemos destacar algumas características positivas do
CP em relação ao CA são elas:
1) O CP utiliza concretos e aços de resistências muito elevadas, o que resulta em
seções com menores consumos de materiais;
2) No CP geralmente toda a seção transversal permanece submetida a tensões
de compressão, o que é adequado para o concreto, e somado à utilização de
materiais de resistências mais elevadas, as seções em CP são menores e mais

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leves, esteticamente mais bonitas, e muito indicadas em estruturas de grandes


vãos;
3) O CP pode ser projetado para permanecer livre de fissuras quando atuando em
serviço (protensão completa), e ao longo de toda a vida útil, sendo assim uma
estrutura adequada para ambientes agressivos;
4) O CP, mesmo com protensão parcial, apresenta flechas menores;
5) CP tem melhor resistência à força cortante, devido à pré-compressão no concreto
e à inclinação dos cabos de protensão inclinados nas proximidades dos apoios.

8.1.1 Título 3 (Vantagens e desvantagens do concreto protendido)

A protensão das armaduras em estruturas de concreto proporciona uma série


de vantagens. Segundo Veríssimo e Junior (1998) pode-se destacar as seguintes
vantagens:
• Permite projetar seções mais esbeltas que no concreto armado convencional,
aliado a um melhor comportamento em seu estado limite de serviço, vinculado
a peças de concreto protendido com menor peso próprio.
• Permite controlar a deformação elástica e limitá-la a valores menores que os
que seriam obtidos para estruturas similares em aço ou concreto armado.
• Proporciona melhores condições de durabilidade, pois anula totalmente, ou
parcialmente as tensões de tração, principais responsáveis pela fissuração. As
armaduras ficam mais protegidas.
• Permite que a estrutura retorne a sua posição inicial após a atuação de uma
ação excepcional. Cessada a causa, as fissuras abertas se fecham devido à
ação da força de protensão.
• A estrutura normalmente possui maior resistência à comportamento repetidos,
pois a variação de tensão no aço, proveniente de cargas dinâmicas, é muito
pequena se comparada com o valor da sua resistência característica.
• A operação de protensão funciona como uma verdadeira prova de carga, pois as
tensões introduzidas nessa fase são muito maiores que as correspondentes à
situação da peça em serviço. A estrutura é testada antes de entrar em operação
propriamente.

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Em contrapartida, podem ser relacionadas algumas desvantagens do concreto


protendido, segundo Veríssimo e Junior (1998), como:
• Exige maior controle de execução.
• Os aços precisam de cuidados especiais de proteção contra a corrosão.
• A colocação dos cabos de protensão deve ser feita com exatidão, evitando
erros de posicionamento dos cabos, erros de posicionamento podem produzir
esforços não previstos, levando ao comportamento inadequado da peça e até
mesmo ao colapso.
• A execução da protensão exige equipamento e pessoal especializados.
• As construções protendidas exigem atenção e controle superiores aos necessários
para o concreto armado comum.

Em edifícios altos, lajes ou vigas protendidas normalmente oferecem maior esbeltez


a estrutura horizontal, que pode prejudicar a estabilidade global da edificação. Nesses
casos deve-se aumentar a rigidez da estrutura vertical, garantindo estabilidade global
à estrutura.

8.2 Título 3 (Ações)

A respeito sobre as ações que atuam em uma estrutura de concreto protendido,


tem-se a NBR 8681 que classifica as ações em: permanentes, variáveis e excepcionais.
Podemos entender que para cada tipo de construção, as ações devem respeitar
suas peculiaridades e as normas a ela aplicáveis.
Deste modo, no projeto das estruturas, bem como dos elementos estruturais, devem
ser consideradas todas ações possíveis de ocorrência, desde o início da construção
até o final da vida útil, provenientes de diferentes origens ou causas.
Além das permanentes (peso próprio, paredes, lajes, etc.) e variáveis de utilização,
devem ser consideradas de origem de vento, de possíveis tremores de terra, pressão
do solo, água ou de outros líquidos, forças de impacto e explosões, aquelas que
podem ocorrer durante a construção, as deformações provenientes da retração e
fluência no concreto, deformações por variação de temperatura, recalques de apoio
e movimentações das fundações, de incêndios, carregamentos dinâmicos, etc., bem
como as forças de protensão no caso de peças protendidas.

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Vamos trabalhar de uma forma sucinta os tipos de ações, bem como, classificar
as ações proveniente da protencao.

Ações Permanentes

As ações permanentes são definidas pela NBR 6118/2014 como aquelas que atuam
permanentemente ao longo do tempo, compondo as seguintes cargas, peso próprio
dos elementos, peso de elementos construtivos fixos, como paredes, e instalações
permanentes.

As ações permanentes diretas

São constituídas pelo peso próprio da estrutura, pelos pesos dos elementos
construtivos fixos, das instalações permanentes e dos empuxos permanentes.
• Peso Próprio: As construções correntes admite-se que o peso próprio da estrutura
seja avaliado considerando-se a massa específica para o concreto simples de
2.400 kg/m3 e 2.500 kg/m3, para o Concreto Armado e Protendido, a NBR 6118,
apresenta no item 8.2.2.
• Peso dos Elementos Construtivos Fixos e de Instalações Permanentes: As
massas específicas dos materiais de construção correntes podem ser avaliadas
com base nos valores indicados na Tabela 1 da NBR 6120. Ou os pesos das
instalações permanentes são considerados com os valores nominais indicados
pelos fornecedores
• Empuxos Permanentes: Consideram-se permanentes os empuxos de terra e
outros materiais granulosos quando forem admitidos como não removíveis.

As ações permanentes indiretas

São constituídas pelas deformações impostas por retração e fluência do concreto,


deslocamentos de apoio, imperfeições geométricas e protensão. Vamos destacar as
ações permanentes indiretas devido a protensão
• A NBR 6118/2014 caracteriza como uma ação que deve ser considerada em
todas as estruturas protendidas, incluindo, além dos elementos protendidos
propriamente ditos, aqueles que sofrem a ação indireta da protensão, isto é, de

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esforços hiperestáticos de protensão. O valor da força de protensão deve ser


calculado considerando a força inicial e as perdas de protensão.

Ações Variáveis

Como o próprio nome indica, ações variáveis são aquelas que apresentam variações
significativas de seus valores em torno de sua média, durante a vida da construção. Do
mesmo modo que as ações permanentes, as ações variáveis são também classificadas
em diretas e indiretas.
Segundo a NBR 6118/2014, às ações variáveis diretas são compostas pelas cargas
acidentais previstas para o uso da construção, como ação do vento e da água, devendo-
se respeitar as recomendações feitas pelas Normas Brasileiras específicas.
Segundo a NBR 6118/2014, ações variáveis indiretas são causadas pelas variações
da temperatura, podendo ser analisada com variação uniforme e não uniforme de
temperatura. Tem-se as ações dinâmicas que correspondem a choques ou vibrações
na estrutura, os respectivos efeitos devem ser considerados na determinação das
solicitações.

Ações Excepcionais

Segundo a NBR 6118/2014, às ações que têm duração extremamente curta e com
baixa probabilidade de ocorrências durante a vida da construção, mas que devem ser
previstas em projetos, quando verificar necessidade. Consideram-se como excepcionais
as ações decorrentes de causas tais como explosões, choques de veículos, incêndios,
enchentes ou sismos excepcionais.

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AULA 9
INTRODUÇÃO AO
SISTEMAS DE PROTENSÃO

É importante esclarecer bem a diferença conceitual que existe entre os termos


sistema de protensão e tipo de protensão.
Podemos entender que o sistema de protensão refere-se basicamente a protensão
com aderência inicial e protensão com aderência posterior. Ou seja, temos que
compreender o comportamento de aderência da armadura protendida com o restante
da peça em relação à cura do concreto.
Já o termo tipo de protensão se refere ao efeito final da força de protensão sobre
uma peça, sob o ponto de vista das tensões atuantes. Pode se caracterizar como
protensão completa ou protensão parcial.
Podemos definir a protensão completa, denominada também de total, para casos de
estruturas expostas a ambientes agressivos pois proporciona melhores condições de
proteção das armaduras, reduzindo ao máximo as aberturas de fissuras combatendo
o processo de corrosão. Nesses casos a protensão é caracterizada por eliminar
completamente as tensões de tração no concreto. Isso significa que as peças não
vão ter fissuras.
Para a protensão limitada temos as peças de concreto sendo submetidas a
tensões menores do que aquelas que seriam produzidas em uma protensão completa.
Podemos destacar como vantagens um melhor comportamento no que diz respeito
às deformações, além de induzir ao menor consumo de armadura. Nesse tipo de
protensão, há tensões de tração que devem ser suportadas pelo concreto. Na protensão
parcial, podemos entender como a mais utilizada, o concreto pode fissurar porque a
tensão de tração é maior do que a que o concreto suporta.

9.1 Título 2 (Protensão com Pré-tensão)

A pré-tensão (pré-tração) é comumente aplicada na fabricação de peças pré-


moldadas, em pistas de protensão, com o estiramento da armadura de protensão
antes do lançamento do concreto.

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Segundo a NBR 6118/2014 o concreto com armadura ativa pré-tracionada (protensão


com aderência inicial) corresponde ao sistema que promove um pré-alongamento da
armadura ativa, com auxílio de apoios independentes na extremidade do elemento
estrutural utilizados para a fixação da armadura ativa.
Segundo Bastos (2021) após o término da operação de estiramento, o fio é fixado nos
dispositivos da ancoragem ativa, e o cilindro é retirado para, sucessivamente, ir fazendo
o estiramento dos fios seguintes. Portanto, a extremidade onde o estiramento é feito é
chamada ancoragem ativa, e a extremidade em que não são estirados é a ancoragem
passiva. Após todos os fios (ou cordoalhas) estirados e fixados nas ancoragens da
pista de protensão, armadura passiva é colocada e o concreto é lançado na fôrma,
envolvendo e aderindo ao aço de protensão dando início a fase de cura da peça. Após a
cura, as formas são retiradas, os equipamentos que mantinham os cabos tracionados
são liberados e os fios são cortados, transferindo a força de protensão para o concreto
pela aderência, que nessa ocasião deve estar suficientemente desenvolvida (figura 1).

Figura 1: Processo de uma peça pré-moldada sujeito a condição de pré-tensão


Fonte: Bastos 2021

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Segundo Veríssimo e Junior (1998), nas pistas de protensão, a armadura ativa é


posicionada, ancorada em blocos nas cabeceiras e tracionada. A tensão de tração
aplicada pelo cilindro é sempre inferior à tensão limite do regime elástico do aço.

9.2 Título 2 (Protensão com Pós-tensão )

Pós-tensão com aderência

A NBR 6118 (2014) define que a armadura de protensão sofre o processo de


estiramento após o concreto da peça ter obtido a cura e a resistência necessária para
resistir às tensões que atuam devido ao processo de protenssao.
Segundo Bastos (2021) a pós-tensão é utilizada na produção de peças em pequenas
quantidades. Está sendo largamente aplicada na fabricação de peças pré-moldadas de
canteiro, para aplicação em obras que necessitam de grandes vãos, como: viadutos
e pontes rodoviárias de vãos de aproximadamente 40 m.
Segundo Bastos (2021) no interior da fôrma são colocados dutos (bainhas), dispostos
ao longo do comprimento da peça, como ilustrado na figura 2.a, o concreto é lançado
na fôrma, envolvendo as armaduras passivas. Após o endurecimento do concreto,
as cordoalhas, que são denominadas de cabo de protensão (armadura ativa) são
posicionadas dentro das bainhas, atravessando a peça de uma extremidade à outra.
No momento que o concreto apresenta a resistência exigida em projeto, a armadura
de protensão, fixada em uma das extremidades (ancoragem passiva), é estirada
(tracionada) pelo cilindro hidráulico, posicionado e apoiado na própria peça na outra
extremidade (ancoragem ativa).
Ao fim da operação de estiramento, a força no cilindro hidráulico é relaxada, e a
armadura, tende a voltar a sua posição inicial, quando a armadura tende a voltar a sua
posição inicial, o concreto da peça é comprimido durante a operação de retorno, e a
protensão (tensões de compressão) é mantida por forças transferidas pela armadura,
de maneira concentrada nas placas de aço apoiadas no concreto (Figura 2.c).
A armadura de protensão impõe também forças transversais na peça, se a armadura
for curva.

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Figura 1: Processo de uma peça pré-moldada sujeito a condição de pré-tensão


Fonte: Bastos 2021

A NBR 6118 define a protensão com aderência posterior como sendo o concreto
protendido em que o pré-alongamento da armadura ativa é realizado após o
endurecimento do concreto, sendo utilizadas, como apoios, partes do próprio elemento
estrutural, criando posteriormente aderência com o concreto, de modo permanente,
através da injeção das bainhas.
Segundo Bastos (2021) os cabos de protensão (conjuntos de cordoalhas) podem ser
estirados em estágios diferentes, proporcionando incrementos de força de protensão
na peça, conforme existam diferentes estágios de construção e as cargas vão sendo
progressivamente aumentadas.
Após a operação de estiramento, a bainha é geralmente preenchida com calda (nata)
de cimento sob pressão, com o propósito de proteger o aço e proporcionar aderência
com o concreto, o que faz com que os dois materiais trabalhem de modo solidário,
em conjunto, e com melhor comportamento da peça na resistência à fissuração e à
flexão. Com a injeção de calda de cimento tem-se a pós-tensão com aderência, e sem
a injeção tem-se a pós-tensão sem aderência, (BASTOS, 2021).

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A pós-tensão sem aderência se refere a protensão aplicada sobre uma peça de


concreto já endurecido não havendo, entretanto, aderência entre os cabos e o concreto.
A inexistência de aderência refere-se somente à armadura ativa, já que a armadura
passiva sempre deve estar aderente ao concreto.
O uso de cordoalha engraxada vem sendo aplicada para o conceito de pós-tensão
sem aderência, especialmente em lajes maciças e nervuradas, pisos industriais, vigas
e em reforço estrutural.
Segundo Bastos (2021) a cordoalha é envolta com graxa para diminuir o atrito
com a capa de polietileno durante a movimentação na operação de estiramento, a
capa por sua vez trabalha como uma bainha, impedindo o contato do concreto com
a cordoalha. As cordoalhas são colocadas na forma da peça ou estrutura, fixadas em
uma das extremidades por dispositivos apropriados de ancoragem, e são envolvidas
pelo concreto após o lançamento na fôrma.
Quando o concreto adquire a resistência exigida, as cordoalhas são estiradas por
um cilindro hidráulico e fixadas na ancoragem ativa. Como não existe aderência entre
as cordoalhas e o concreto, a força que comprime o concreto da peça concentra-se
apenas nas extremidades (ancoragens).
A NBR 6118 (2014) define a protensão sem aderência como o concreto protendido
em que o pré-alongamento da armadura ativa é realizado após o endurecimento do
concreto, sendo utilizadas, como apoios, partes do próprio elemento estrutural, mas
não sendo criada aderência com o concreto, ficando a armadura ligada ao concreto
apenas em pontos localizados.
A protensão com a armadura ativa dentro da peça (inserida dentro do concreto),
representa a grande maioria dos casos de aplicação nas estruturas, mas a protensão
externa vem sendo utilizada, em alguns casos específicos.
Sendo externa, a armadura de protensão pode ser removida ou substituída quando
necessário, ao decorrer do tempo de utilização. A armadura de protensão externa
configura uma parcela da armadura total, composta também por armaduras inseridas
no concreto, que pode ser passiva, ativa, ou ambas.
Além das pontes, as aplicações mais comuns são em recuperação e reforço de
estruturas já existentes, em estruturas circulares (silos, reservatórios), grandes tubos
e tanques de água (figura 3).

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Figura 3: Protensão Externa


Fonte: Veríssimo e Junior (1998)

Segundo Veríssimo e Junior (1998) A escolha de protensão com ou sem aderência


se deve às vantagens e desvantagens que um sistema apresenta em relação ao outro.
Podemos destacar com vantagens da protensão não-aderente os seguintes critérios;
• Permite posicionar os cabos com excentricidades maiores;
• Permite a proteção do aço contra corrosão fora da obra;
• Permite a colocação dos cabos de forma rápida e simples;
• Perdas por atrito muito baixas;
• Eliminação da operação de injeção.

As vantagens da protensão com aderência são as seguintes:


• aumento de capacidade das seções no estado limite último;
• melhoria do comportamento da peça entre os estágios de fissuração e de ruptura;
• A falha de um cabo tem consequências restritas (incêndio, explosão, terremoto).

7.3 Título 2 (Principais condições de projeto)

Este capítulo pretende apresentar os principais critérios para projeto que devem ser
considerados conforme a NBR 6118, como a classe de agressividade do ambiente,
cobrimento de concreto, Estados-Limites, domínios de deformação, ações nas estruturas.
Alguns temas já são conhecidos pelo estudante. De tal forma iremos realizar um
resumo sobre os temas que se assemelha ao critério de projeto para o concreto armado.
Em projeto de estrutura de concreto, o projetista tem que definir a classe de
agressividade do ambiente na qual a estrutura, ou partes dela, estará inserida, o que
lhe auxilia a definir os parâmetros do concreto a ser aplicado, como:
• Resistência à compressão (fck);

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• Relação água/cimento máxima (a/c);


• O cobrimento (c) das armaduras pelo concreto.

A NBR 6118 apresenta como critério de projeto a agressividade ambiental, que deve
ser classificada de acordo com o apresentado na tabela 1 como apresentado a seguir:

Tabela 1 - Classes de agressividade ambiental.


Fonte: Bastos 2021.

Segundo a 6118 os ensaios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao


tipo e classe de agressividade prevista em projeto devem estabelecer os parâmetros
mínimos a serem atendidos, porém na ausência destes, podemos considerar a relação
água/cimento e a resistência à compressão do concreto, permite-se assim que sejam
adotados os requisitos mínimos expressos na Tabela 2.

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Tabela 2: Relação entre classe de agressividade ambiental e qualidade do concreto armado.


Fonte: Bastos 2021.

A NBR 6118 define o cobrimento mínimo da armadura como o menor valor que
deve ser respeitado ao longo de todo o elemento projetado. Para garantir o cobrimento
mínimo (cmín), o projeto e a execução devem considerar o cobrimento nominal (cnom),
que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (∆c) (Figura 4). As
dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os cobrimentos nominais.

Figura 4: Cobrimento da armadura.


Fonte: Bastos (2021)

As obras em geral adotam valor de (∆c) próximo de 10 mm. Esse valor pode ser
reduzido para 5 mm quando a execução for rigorosa e com controle adequado de
qualidade. A Tabela 3 apresenta valores de cobrimento nominal com tolerância de 10
mm, em função da classe de agressividade ambiental.

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Tabela 3: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para c = 10 mm


Fonte: Bastos (2021)

7.3.2 Título 3 (Definições dos Estados-Limites )

Os Estados-Limites devem ser considerados no projeto das estruturas em Concreto


Protendido, relativamente à verificação da segurança e das condições em serviço.
Apresentam-se a seguir as definições dos Estados-Limites, destacando, o estado
limite para estrutura protendida
Conforme descrito na NBR 6118, tem-se:
Estado-Limite Último (ELU) é o estado-limite relacionado ao colapso, ou a qualquer
outra forma de ruína estrutural,
Estado-Limite de Serviço (ELS) Os Estados-Limites de Serviço são definidos pela
NBR 6118 como aqueles relacionados ao conforto do usuário e à durabilidade, aparência
e boa utilização das estruturas
Os Estados-Limites de Serviço definidos pela NBR 6118 (item 3.2) são:
• Estado-Limite de Formação de Fissuras (ELS-F) estado em que se inicia a
formação de fissuras. Admite-se que este estado-limite é atingido quando a

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tensão de tração máxima na seção transversal for igual a fct,f (resistência do


concreto à tração na flexão);
• Estado-Limite de Abertura das Fissuras (ELS-W) estado em que as fissuras se
apresentam com aberturas iguais aos máximos especificados pela 6118. No
caso das estruturas de Concreto Protendido com protensão parcial, a abertura de
fissura característica está limitada a 0,2 mm, a fim de não prejudicar a estética
e a durabilidade;
• Estado-Limite de Deformações Excessivas (ELS-DEF) estado em que as
deformações atingem os limites estabelecidos para a utilização normal, dados
pela 6118. Os elementos fletidos como as vigas e as lajes apresentam flechas
em serviço. O cuidado que o projetista estrutural deve ter é de limitar as flechas
aos valores aceitáveis da norma, que não prejudiquem a estética e causem
insegurança aos usuários;
• Estado-Limite de Descompressão (ELS-D) para esse estado tem-se que em um
ou mais pontos da seção transversal, a tensão normal é nula, não havendo
tração no restante da seção. Verificação usual no caso do concreto protendido.
Situação onde a seção comprimida pela protensão vai sendo descomprimida
pela ação dos carregamentos externos, até atingir o ELS-D (Figura 5). Esta
verificação deve ser feita no Estádio I (concreto não fissurado, comportamento
elástico linear dos materiais), conforme o item 17.3.4 da NBR 6118.

Figura 5: Tensões normais devidas à força de protensão (P) e ao momento fletor externo (Mext), com tensão nula em um ponto (base).
Fonte: Bastos (2021)

• Estado-Limite de Descompressão Parcial (ELS-DP) é o estado no qual garante-se


a compressão na seção transversal, na região onde existem armaduras ativas.
Essa região deve se estender até uma distância (ap) da face mais próxima da
cordoalha ou da bainha de protensão (Figura 4).
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Figura 5: Peça estrutural no estado (ELS-DP)


Fonte: Bastos (2021)

• Estado-Limite de Compressão Excessiva (ELS-CE) para esse estado, as tensões


de compressão atingem o limite convencional estabelecido. Condição que pode
acontecer em concreto protendido. Quando o concreto é submetido a tensões de
compressão inicia-se um processo de danificação progressiva, principalmente
pelo crescimento de microfissuras a partir de falhas pré-existentes no concreto
e na interface pasta-agregados. Processo este responsável pelo comportamento
não-linear do concreto e pelo efeito Rüsch. Por isso que no projeto das peças
protendidas em serviço é geralmente adotada a tensão de apenas 50 ou 60 %
da resistência característica do concreto à compressão.
• Estado-Limite de Vibrações Excessivas (ELS-VE) estado em que as vibrações
atingem os limites estabelecidos para a utilização normal da construção.

Como podemos observar, é válido ter atenção a respeito dos (ELS-D), (ELS-DP),
(ELS-CE) pois tratam sobre os critérios de serviço de peças estruturais protendidas,
assunto de estudo neste capítulo.
Como critério de projeto, o projetista precisa ter conhecimento da forma que a peça
estrutural irá romper, ou seja, os domínios são justamente as diferentes formas que
uma peça de concreto pode se romper. Segundo a NBR 6118 os procedimentos para
projetos de estruturas de concreto são exemplificados pelo gráfico com as divisões
dos domínios em função do encurtamento ou do alongamento máximos do concreto
armado, e da altura da linha neutra. Podemos entender que o projetista necessita do
conhecimento sobre a distribuição das deformações na seção transversal vinculado

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ao domínio que seu elemento se encontra, conhecendo assim as vigas, pilares e


tirantes, submetidas à força normal e momentos fletores, de tal forma a compreender
a condição limite de tensão que a seção de peça pode suportar.
Destaca-se que o conhecimento sobre os domínios é essencial, porém o estudo
sobre o comportamento dos domínios foi feito em disciplinas anteriores, logo não
iremos nos aprofundar em tal conceito.
Segundo a NBR 6118/2014 para uma efetiva análise estrutural temos que considerar
a interferência de todas as ações que possam produzir efeitos para a segurança da
estrutura, levando-se em conta os possíveis estados-limites últimos e de serviço.

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AULA 10
ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS
E ESTADOS LIMITES DE
SERVIÇO PARA O CONCRETO
PROTENDIDO

No caso de estruturas de concreto armado, o procedimento comum é projetar a


peça para atender ao Estado-Limite Último (ELU), e então verificar se a peça apresenta
comportamento satisfatório em serviço, ou seja, se atende às exigências dos Estados-
Limites de Serviço (ELS), como flecha, fissuração, fadiga, vibração, etc.
Segundo Bastos (2021) o concreto protendido é diferente, pois é o procedimento
comum é projetar a peça para atender as exigências do ELS, e então verificar se a peça
apresenta comportamento satisfatório no ELU, ou seja, se a capacidade resistente da
peça é suficiente frente aos esforços solicitantes, e com a devida margem de segurança.
Segundo Bastos (2021) o concreto protendido (CP) é analisado assim porque as
condições dos ELS são mais críticas que as do ELU, pois as estruturas que passam
no ELS geralmente também atende ao ELU. Podemos destacar outra forma de projetar
as peças de CP que garanta às condições impostas nas situações em serviço, é
estabelecendo limites aos valores das tensões normais atuantes no concreto.
Os valores limites utilizados para projetar o CP corresponde a valores máximos
adotados pelo engenheiro projetista, e são denominados como tensões admissíveis. O
projeto é estruturado de modo que as tensões admissíveis não sejam ultrapassadas,
porém não é suficiente para garantir o atendimento aos Estados-Limites, principalmente
no que se refere à capacidade resistente, por tal motivo busca-se verificar a resistência
da peça aos esforços solicitantes.
No caso de flexão, principalmente, a capacidade da peça à flexão deve ser
obrigatoriamente verificada. As tensões admissíveis são estabelecidas também com
o objetivo de evitar danos na peça durante a construção, bem como assegurar um
bom comportamento da peça quando em serviço.

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A fissuração e a flecha, por exemplo, podem ser controladas de forma indireta, quando
caracterizado os valores para as tensões admissíveis. Quando tem-se a condição em
que não é permitido uma peça fissurar em serviço, a tensão admissível à tração do
concreto deve ser escolhida de forma a atender tal condição. A peça pode trabalhar
fissurada, a tensão admissível à tração pode ser desconsiderada, porém neste caso é
necessário verificar a abertura da fissura, além de dimensionar uma armadura passiva
para resistir às tensões de tração atuantes.
Para Bastos (2021) a seção deve permanecer não fissurada sob o carregamento
de serviço (protensão completa), tensões limites (admissíveis) de tração devem ser
impostas. Se a seção é permitida fissurar (protensão parcial), a tensão admissível à
tração pode ser relaxada e apenas as outras tensões admissíveis permanecem. Em
condição de serviço e não fissurada, a estrutura é considerada trabalhando em regime
elástico, e são duas as situações críticas geralmente consideradas:
• Tensões no concreto no instante da transferência da protensão para a peça:
além da força de protensão, de modo geral o único carregamento que atua é o
peso próprio da peça.
• Tensões no concreto com a peça trabalhando em serviço: além da força de
protensão, os carregamentos que atuam são os permanentes (g) e os variáveis
(q).

As tensões de compressão são consideradas com sinal negativo, e as tensões de


tração com sinal positivo.
Os diagramas de tensão na seção transversal do elemento protendido presente na
figura 1 destacam duas situações críticas.
A primeira situação equivale ao momento da transferência da protensão para a peça,
onde atua a força de protensão (Po), e somente o carregamento externo denominado
inicial (Mmín) sendo ocasionado pelo peso próprio da peça (Mo). Para tal condição
geralmente a tensão de tração se localiza no topo (𝞂t,0) e a tensão de compressão
na base (𝞂b,0)
A segunda situação corresponde a todas as perdas de força de protensão, quando
atua o carregamento final, onde (Mmáx) corresponde ao momento fletor total atuante
na peça em serviço (P∞ + Mmáx), devido aos carregamentos permanentes e variáveis.
Tal condição tem tensão de compressão no topo (𝞂c,tot) e tensão de tração na base
(𝞂t,tot) podendo ser de compressão nula ou de tração.

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Figura 1: Diagramas de tensão sob carregamentos inicial e final, e tensões admissíveis.


Fonte: Bastos (2021)

A NBR 6118 (2014) não trabalha com valores para tensões admissíveis, porém,
estabelece que o valor limite para verificação simplificada no Estado-Limite Último
no ato da protensão (corresponde ao instante da transferência da protensão para o
concreto da peça) seja igual a (0,7.fckj).
Onde:
fckj : resistências características à compressão (fckj) e à tração (fctkj), em função
de um tempo (j);
A norma americana ACI 318 e o Eurocode 2, por exemplo, consideram as tensões
admissíveis para o concreto mostradas na Tabela 1, para dois momentos da vida da
peça: Instante da transferência da protensão para a peça, e após a ocorrência de
todas as perdas de protensão.

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Fonte: Bastos (2021)

10.1 Título 2 ( Análise da Tensão de Estiramento da Armadura de Protensão)

A NBR 6118 (2014) estabelece que o diagrama tensão-deformação dos aços de


protensão deve ser fornecido pelo fabricante, porém na ausência do diagrama, a NBR

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6118 oferece o diagrama simplificado (Figura 2), para os Estados-Limite de Serviço e


Último, correspondente aos intervalos de temperaturas de 20° C e 150° C.

Figura 2: Diagrama tensão-deformação simplificado indicado pela NBR 6118 para aços de protensão.
Fonte: Bastos (2021)

Segundo Bastos (2021) o diagrama da Figura 2 podem ser feitas as seguintes


observações:
a) fptk = resistência característica mínima à tração; fpyk = resistência característica
de início de escoamento convencional, eqivalente à deformação residual de 0,2
%, podendo ser determinada com as seguintes relações: fpyk = 0,85fptk para
fios de relaxação normal (RN), fpyk = 0,90fptk para fios de relaxação baixa (RB)
e cordoalhas de três ou sete fios. No caso de barras, a relações variam (em
torno de 0,85) conforme a resistência e diâmetro da barra, devendo ser obtidas
diretamente nas tabelas dos fabricantes; fptd = fptk/gs (resistência mínima de
cálculo à tração); fpyd = fpyk/gs (resistência de início de escoamento de cálculo);
b) Adota-se o módulo de elasticidade Ep = tg a = 200 GPa para fios e cordoalhas
(na falta de dados do fabricante e de ensaio segundo a NBR 6118). Podemos
considerar 200 GPa para as cordoalhas conforme a NBR 7483, e Ep = 205 GPa
para fios conforme a NBR 7482;
c) (deformação de início de escoamento de cálculo);
d) = deformação de alongamento último relativa à ruptura do aço, podendo ser
tomado como 5 ou 6 % para fios (conforme a NBR 7482), e 3,5 % para cordoalhas
(conforme a NBR 7483).

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O item 9.6.1.2 da NBR 6118 descreve que as operações de protensão, geram força
de tração na armadura, que por sua vez não pode superar os valores decorrentes da
limitação das tensões no aço correspondentes a essa situação transitória.
Após o término das operações de protensão, as verificações de segurança devem
ser feitas de acordo com os estados-limites definido pela NBR 6118
Segundo Bastos (2021) a aplicação da força de estiramento (Pi), a tensão de tração
na armadura de protensão (𝞂pi) deve estar dentro dos valores-limites definido pela
NBR 6118/2014:
• Armadura pré-tracionada: A tensão (𝞂pi) da armadura de protensão no momento
da saída do aparelho de tração deve respeitar os seguintes limites: (0,77.fptk)
e (0,90.fpyk) para aços da classe de relaxação normal (RN). Para os aços de
classe de relaxação baixa (RB) temos que verificar os seguintes valores (0,77.
fptk) e (0,85.fpyk);
• Armadura pós-tracionada: A tensão (𝞂pi) da armadura de protensão no momento
da saída do aparelho de tração deve seguir os seguintes limites: (0,74.fptk) e
(0,87.fpyk) para aços da classe de relaxação normal(RN). Para (0,74.fptk) e (0,82.
fpyk) deve-se usar aços da classe de relaxação baixa (RB);
• Quando utilizamos cordoalhas engraxadas o aços deve ser da classe de relaxação
baixa, e os valores-limites da tensão (𝞂pi) da armadura de protensão na saída
do aparelho de tração podem ser adotados sendo (0,80fptk) e (0,88fpyk).

Tabela 2: Tensões limites na operação de estiramento da armadura de protensão (NBR 6118)


Fonte: Bastos 2021

10.2 Título 2 (Verificação do Estado Limite Último no momento da proteção)

A NBR 6118/2014 apresenta as considerações relativas à verificação do Estado


Limite Último no momento da proteção, equivalente às hipóteses básicas apresentadas
no item da NBR 6118 - 17.2.3. Deve-se respeitar as seguintes hipóteses suplementares:

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• Considera-se resistência característica do concreto fckj correspondente à idade


fictícia j (em dias), no ato da protensão, sendo que a resistência de fckj deve
ser claramente especificada no projeto;
• Admitem-se os seguintes valores para os coeficientes de ponderação, com as
cargas que efetivamente atuarem nessa ocasião: γc = 1,2; γs = 1,15; γp = 1,0
na pré-tração; γp = 1,1 na pós-tração; γf = 1,0 para as ações desfavoráveis; γf
= 0,9 para as ações favoráveis.

Segundo Bastos (2021) a NBR 6118/2014 no item (17.2.4.3.2) descreve que a


verificação a respeito da segurança deve considerar o estado-limite último no ato de
protensão, verificado no estádio I, desde que as seguintes condições sejam atingidas:
• A tensão máxima de compressão na seção de concreto, alcançadas por meio
das solicitações ponderadas (γp = 1,1) e (γf = 1,0) não pode ultrapassar 70 %
da resistência característica fckj;
• A tensão máxima de tração do concreto não pode ultrapassar em 20% a
resistência à tração (fctm) correspondente ao valor fckj especificado;
• Para seções transversais com tensões de tração, considera-se a armadura
de tração, calculada no estádio II. Por questão de simplificação a força nessa
armadura pode ser considerada igual à resultante das tensões de tração no
concreto no estádio I.

10.3 Título 2 ( Escolha do Nível de Protensão)

Segundo Bastos (2021) a força de protensão no elemento estrutural reduz ou elimina


a tensão de tração atuante na seção transversal, que por sua vez reduz a ocorrência
ou não de fissuração, em função do nível de protensão.
Podemos destacar situações onde é necessário evitar a fissuração, como:
reservatórios, ou agentes agressivos, etc., entre outras situações em que deseja-se
eliminar as abertura das fissuras.
Essas questões estão relacionadas com o nível de protensão, denominado como grau
de protensão (Kp), definido como a relação entre o momento fletor de descompressão
(M0) e o momento fletor máximo (Mmax) atuante na estrutura.
M0
Kp= _______
Mmax.

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Para Bastos (2021) momento fletor de descompressão (Mo) é definido como o


momento que se alcança o Estado Limite de Descompressão (ELS-D), ou seja, que leva
a uma tensão normal zero em algum ponto da seção transversal da peça (geralmente
a borda tracionada pelo momento fletor máximo).
O grau de protensão avalia se na seção em que atua o momento fletor máximo
ocorre ou não tensão de tração. Uma viga fletida com kp = 1 está sob protensão total,
e valores inferiores definem a protensão limitada e a protensão parcial.
Segundo Bastos (2021) a tabela 3 presente na NBR 6118/2014 vincula os níveis
de protensão com o sistema de protensão, se é pré ou pós-tração e sua classe de
agressividade ambiental. Podemos assim de forma simples, para uma peça fletida
sob o carregamento de serviço compreender as exigências relativas à fissuração.

Tabela 3: Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental (NBR 6118)
Fonte: Bastos (2021)

Conforme Bastos (2021) com as informações presente na tabela 3, podemos


descrever as características dos níveis de protensão da seguinte forma:
• Para a protensão completa não são consideradas as tensões de tração, porém no
momento em que ocorrer a combinação rara de ações, nas seções de extremidade

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de peças pré-tracionadas e em fases transitórias de execução, até o ELS-F (início


de formação de fissuras);
• Para protensão limitada são admitidas tensões de tração. No caso de ocorrência
de combinação rara de ações, o ELS-F seria ultrapassado e daria início a fissuras,
que permaneceriam fechadas após cessada a combinação;
• Para protensão parcial são admitidas tensões de tração e fissuras com aberturas
de até 0,2 mm. 3.10

Posição dos Esforços Solicitantes nas Armaduras Ativas e Passivas


Segundo a NBR 6118 os esforços solicitantes nas armaduras ativas e passivas
pode ser considerado aplicado no centro de gravidade, desde que:
• Os esforços nas armaduras devem ser considerados concentrados no centro de
gravidade da peça analisada, bem como a distância deste centro de gravidade
ao centro da armadura mais afastada, for menor que 10 % de h. As armaduras
laterais da viga podem ser consideradas no cálculo dos esforços resistentes,
desde que estejam convenientemente ancoradas e emendadas.

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AULA 11
PERDAS DE PROTENSÃO

Para darmos início ao nosso estudo, podemos entender que a tensão na armadura
de protensão decresce continuamente com o tempo, rapidamente no momento inicial,
e depois ao decorrer da vida útil da peça.
A queda de tensão se deve ao fato da armadura sofrer alongamento, por diversas
causas, o que promove a redução da força de protensão (Figura 1). existem diferentes
perdas ao longo da vida útil da peça, de tal forma, que quando somadas temos a
chamada perda de protensão total, que por sua vez deve ser calculada, para poder
prever a força de protensão efetiva final, atribuído aos projetos de peças protendidas.

Figura 1: Reduções de alongamento na armadura de protensão acompanhado pela redução de tensão.


Fonte: Bastos (2021)

Segundo Bastos (2021) podemos destacar como perdas individuais importantes:


• Escorregamento na ancoragem: após a operação de estiramento da armadura
de protensão, o cilindro hidráulico libera a armadura, que por sua vez arrasta
a cunha para dentro do furo cônico da peça, até a sua completa cravação,
processo de acomodação inicial;

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• Relaxação: após o estiramento, a armadura de protensão permanece sob


alongamento e tensão, e apresenta uma perda de tensão ao longo do tempo,
podemos entender como propriedade natural do aço;
• Encurtamento elástico inicial: a força protensão aplicada na peça, comprime
o concreto, que por sua vez encurta-se, e como a armadura de protensão
simultaneamente também encurta, e consequentemente perda de força de
protensão;
• Retração: a água livre do concreto evapora ao longo do tempo possibilitando
uma diminuição de volume do concreto, e consequentemente o encurtamento
da peça e da armadura de protensão;
• Fluência: tensões de compressão no concreto ao decorrer de um tempo pode
causar deformações de encurtamento na peça ao longo do tempo, promovendo
assim a diminuição de tensão na armadura de protensão;
• Atrito: temos atrito entre a bainha e o aço de protensão, especialmente em
cabos curvos, que por sua vez diminui a tensão aplicada no aço.

Podemos observar que as perdas de protensão estão vinculadas ao concreto e


ao aço, e são instantâneas ou dependentes do tempo (diferidas), como ilustrado na
Figura 2.

Figura 2: Distribuição de cada perda de protensão na perda total.


Fonte: Bastos (2021)

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Porém podemos destacar que as perdas de força de protensão também têm sua
ocorrência vinculadas ao tipo de aplicação da protensão, ou seja, sendo pré ou pós-
tensionada, como apresentadas na Tabela 1.
As perdas que dependente do tempo podem ser interdependentes, como exemplo
podemos destacar a relaxação, que ao diminuir a tensão no aço, reduz também a
tensão no concreto, e assim reduz a perda por fluência, que por sua vez, reduz a
relaxação no aço.
A intensidade das perdas de protensão pode estar vinculada com o comprimento da
peça, conforme a posição, e geralmente, a perda que interessa está localizada em uma
seção crítica, como por exemplo como a seção mais solicitada pelos carregamentos
externos.

Tabela 1: Perdas de protensão e ocorrência.


Fonte: Bastos (2021)

A NBR 6118 destaca que o projeto deve prever as perdas da força de protensão em
relação ao valor inicial aplicado pelo equipamento, ocorridas antes da transferência
da protensão ao concreto (perdas iniciais, na pré-tração), durante essa transferência
(perdas imediatas) e ao longo do tempo (perdas progressivas).
Para tanto a norma faz uma classificação das perdas em função do instante de
ocorrência:
• Perdas iniciais (pré-tração): aquelas que ocorrem antes da transferência da
protensão para a peça;

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• Perdas imediatas: aquelas que ocorrem durante a transferência da protensão


para a peça;
• Perdas progressivas posteriores: aquelas que ocorrem após a transferência da
protensão, crescentes ao longo do tempo de vida útil da peça.

Podemos observar que algumas perdas de protensão estão vinculadas ao tempo


(chamadas progressivas ou diferidas), e outras perdas não são dependentes do tempo.

11.1 Título 2 ( Perdas de Protensão na Pré-tração)

Segundo Bastos (2021) a figura 3 destaca as perdas de força de protensão que


ocorrem na armadura de protensão na pré-tração (ou pré-tensão), ao decorrer do
tempo de vida do elemento estrutural.
Segundo Bastos (2021) podemos compreender os passos das perdas de protensão
na pré-tração da seguinte forma (figura 3):
• Vamos adotar que a fabricação do elemento seja realizada em pista de
protensão. Para tanto no término da operação de estiramento de um fio, o
cilindro hidráulico solta o fio, que por sua vez possui um movimento elástico
contrário ao alongamento, por condição física de instalação, o fio escorrega
alguns milímetros nos dispositivos de fixação (cunha), e assim ocorre a primeira
perda de protensão, classificada como inicial (ΔPanc). Como destacado na Tabela
1, ocorre antes da transferência da protensão.
• Podemos compreender que os fios após desvinculados do cilindro hidráulico,
permanecem alongados ao longo da pista (estirados), fixados nas extremidades,
e só serão relaxados quando o concreto das peças tiver a resistência necessária.
Considerando que os fios se mantém sob tensão e com comprimento constante
durante esse período, temos a perda por relaxação (ΔPr1), observe que a
transferência da protensão para a peça não foi realizada, logo temos uma perda
inicial.
• No final do estiramento de todos os fios e finalizado a execucao das fôrmas,
o concreto é lançado, entrando em contato com os fios, e tem o processo
de endurecimento iniciado. Temos assim o inicio do processo de ratracao do
concreto (começa a diminuir de volume), originando a perda por retração (ΔPcs1)
também chamada inicial.

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• Quando o concreto alcanca a resistência necessária, os fios são soltos das


ancoragens nas extremidades da pista, nesse momento ocorre a transferência
da protensão para a peça, dando inicio ao encurtamento da peca de concreto,
gerando a perda de protensão por encurtamento elástico inicial (ΔPenc).
• Podemos agora entender que os fios permanecem estirados no interior da
peça, por toda sua vida útil, o que leva à perda por relaxação posterior (ΔPr2),
condicao natural do aço, que ocorre gradativamente com o tempo, denominada
progressiva, até a estabilização.
• O concreto continua a apresentar deformações decorrentes da retração e da
fluência, que por sua vez geram outras duas perdas posteriores e progressivas
(ΔPcs2 e ΔPcc2).

Podemos assim concluir que a perda de força de protensão total na pré-tensão é,


portanto descrita pela seguinte equação:

Podemos entender que as três primeiras perdas são iniciais, ΔPenc é uma perda
imediata, e as três últimas são perdas progressivas posteriores.

Figura 3: perdas de força de protensão que ocorrem na armadura de protensão na pré-tração (ou pré-tensão).
Fonte: Bastos (2021)

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Na pré-tensão, se os fios ou cordoalhas não forem retos, ou seja, terem mudança


de direção, deve-se considerar as perda por atrito que ocorrem nos desvios (apoios
- ver Figura 4).

Figura 4: Fios ou cordoalhas que não sao retos.


Fonte: Bastos (2021)

A Figura 5 apresenta a variação típica de tensão na armadura de protensão em


peça pré-moldada pré-tensionada, com cura a vapor, tensão inicial no aço de 0,8fptk
e tensão final um pouco superior a 0,5fptk.

Figura 5: Variação típica de tensão na armadura de protensão na pré-tensão, em peça pré-moldada com cura a vapor.
Fonte: Bastos (2021)

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11.2 Título 2 (Perdas de Protensão na Pós-tração)

Segundo Bastos (2021) o gráfico da figura 6 apresenta as perdas de força de


protensão que ocorrem em um cabo de protensão no processo de pós-tração, ao
decorrer do tempo de vida da peça, com alguns cabos. Podemos dar início ao processo
de perdas quando o primeiro cabo é estiradas e devido à curvatura do cabo dentro da
peca, origina-se o atrito entre as cordoalhas e a superfície interna da bainha, que por
sua vez, origina a primeira perda de protensão, por atrito (ΔPatr). No final do processo
de estiramento, as cordoalhas são liberadas dando início ao processo de acomodação
completa, proporcionada pelas cunhas, e assim ocorre a perda por escorregamento
na ancoragem (ΔPanc).
A partir do momento em que temos a completa cravação das cunhas, tem o início
das perdas por relaxação do aço e retração e fluência do concreto (ΔPr1 , ΔPcs1
e ΔPcc1), denominadas de iniciais, mesmo quando os outros cabos são estirados
subsequentemente, pois a força de protensão total ainda não está completamente
aplicada na peça.
Podemos entender que as perdas de protensão iniciais por relaxação da armadura
e por retração e fluência do concreto só acontecem quando existem múltiplos cabos
de protensão, com estiramento em instantes diferentes. Para a condição de existir
apenas um cabo, essas perdas deixam de ser chamadas iniciais e passam a ser
denominadas progressivas posteriores.
Na prática entende-se que a força de protensão (Po) corresponde à força aplicada
na peça ao término da operação de estiramento de todos os cabos. Para o caso de
peças com vários cabos, as perdas vinculadas a relaxação e por retração e fluência
do concreto, em um cabo, acontecem no instante em que este cabo é fixado nas
ancoragens até o instante do estiramento e fixação do último cabo.
Com o término do estiramento de todos os cabos temos o início das perdas
progressivas posteriores em todos os cabos.
A perda inicial por fluência do concreto ocorre porque cada cabo esticado aplica
tensões de compressão na peça, que causam fluência do concreto, logo compreendemos
que, cada cabo que é estirado provoca perda por fluência nos cabos já instalados e
fixados.

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Figura 6: Perdas de força de protensão com o tempo em um cabo de protensão na pós-tração.


Fonte: Bastos (2021)

Segundo Bastos (2021) temos que considerar as seguintes especificações:


• O primeiro cabo que sofreu o processo de estiramento não causa em si próprio
perda por encurtamento elástico imediato do concreto (ΔPenc), tal motivo está
vinculado com à medida que a peça encurta, pois o cilindro hidráulico compensa
esse encurtamento, e no final da operação não temos o processo de perda
• O segundo cabo sofre o processo de estiramento, este ira provocar perda por
encurtamento elástico imediato no primeiro cabo, ou seja, um cabo estirado
causa perda por encurtamento em todos os cabos anteriormente estirados.
• Temos que o último cabo não terá a perda por encurtamento, ou seja, para a
condição em que todos os cabos forem estirados simultaneamente temos a
perda sendo nula em todos os cabos.
• No momento da transferência completa da força de protensão (todos os cabos
alongados), temos as chamadas perdas progressivas posteriores, por relaxação
do aço (ΔPr2) e por retração e fluência do concreto (ΔPcs2 e ΔPcc2).

A perda de força de protensão total na pós-tensão é, portanto:

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As seis primeiras perdas são compreendidas como imediatas, e as três últimas


são perdas progressivas posteriores. A Figura 7 apresenta a variação característica
de tensão na armadura de protensão para peça pós-tensionada, com tensão inicial
no aço de 0,8fptk , e um pouco superior a 0,5fptk para a tensão final.

Figura 7: Variação típica de tensão na armadura de protensão na pós-tensão.


Fonte: Bastos (2021)

9.1 Título 2 (Valores Típicos da Força de Protensão )

Para o projeto e execução das peças de Concreto Protendido podemos destacar


algumas situações ou etapas em que podem ser relacionadas com valores particulares
da força de protensão, e que são responsáveis pela orientação na verificação de
esforços solicitantes e execução da protensão na obra ou na fábrica.
Podemos observar na Figura 3 e Figura 6, que as forças de protensão são denominadas
como, (Pi , Pa , Po , Pt e P∞), pois estão expostas em função das diferentes perdas
de protensão que podem ocorrer.

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Segundo Bastos (2021) para uma melhor exemplificação e entendimento de tais


forças a NBR 6118/2014 define no item 9.1, como:
• Força de Protensão (Pi): Pi é caracterizado como sendo a força máxima aplicada
à armadura de protensão pelo equipamento de tração, ou seja, é a força máxima
de início aplicada na armadura antes da fixação das ancoragens, tanto na pré-
tensão quanto na pós-tensão.
• Força de Protensão (Pa): Podemos entender que a força Pa ocorre somente
na pré-tensão, sendo caracterizada como à força na armadura de protensão
imediatamente antes à liberação das ancoragens.
• Força de Protensão (Po): A força Po (x) é a força na armadura de protensão
no tempo t = 0, na seção de abcissa (x), ou seja, é o valor inicial da força de
protensão transferida ao concreto.
• Força de Protensão (Pt): A força Pt (x) corresponde à força na armadura de
protensão, no tempo t, na seção de abscissa (x), onde (t) é a variável no tempo
em função das perdas progressivas posteriores.
• Força de Protensão (P∞): Força de Protensão (P∞), corresponde a força de
protensão final, aquela após ocorridas todas as perdas.

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AULA 12
POSICIONAMENTO DOS CABOS
AO LONGO DA ESTRUTURA

Sobre a Traçado de cabos de protensão, podemos apontar que a armadura de


protensão pode ser retilínea, curvilínea, poligonal ou de traçado misto, respeitada a
exigência referente à armadura na região dos apoios.

Figura 1: Traçado típico dos cabos de uma laje protendida.


Fonte: EMERICK (2002, p. 50).

Segundo a NBR 6118 (2014) Em apoios intermediários podemos observar a


necessidade de dispor uma armadura, que possuirá um prolongamento dos vãos
adjacentes, capaz de resistir uma força de tração igual
Fsd=(al.d).ΔVd+Nd≥Fsd,min=0,2Vd

Nessa expressão,
• ΔVd é caracterizada como sendo a máxima diferença de força cortante de um
lado para o outro do apoio
• Nd é a força de tração eventualmente existente.

Podemos entender que a armadura a dispor nesse apoio é obtida para o maior dos
(FSd) calculados para cada um dos lados do apoio.
Para podermos compreender melhor sobre o traçado, vale destacar o comportamento
da Curvatura do Cabo de Protensão, que por sua vez devem respeitar os raios mínimos

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exigidos em função do diâmetro do fio, da cordoalha ou da barra, ou do diâmetro


externo da bainha.
Podemos entender que os desvios que os cabos podem, introduzir um carregamento
contrário ao das ações externas.
A determinação deste carregamento, contrário ao das ações externas, é o chamado
método das cargas equilibrantes. A Figura 2 ilustra este conceito. De tal forma, o cabo
da Figura 1, irá gerar carregamentos contrários ao das ações externas.

Figura 2: Método das cargas equilibrantes.


Fonte: THOMAZ (1993, p. 4)

Para a determinação dos raios mínimos de curvatura, tem-se a possibilidade


da realização de ensaios, desde que tenha os procedimentos de investigação
adequadamente realizados e documentados.
Segundo a NBR 6118 (2014) Dispensa-se justificativa do raio de curvatura adotado,
desde que ele seja superior a 4 m, 8 m e 12 m, respectivamente, nos casos de fios,
barras e cordoalhas. Para a situação que a curvatura ocorre em região próxima à face
do elemento estrutural, provocando empuxo no vazio, devem ser projetadas armaduras
que garantam a manutenção da posição do cabo sem afetar a integridade do concreto
nesta região.

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Segundo Bastos (2021) a curvatura nas proximidades das ancoragens, onde, os


raios mínimos de curvatura dos fios, cordoalhas ou feixes podem ser reduzidos, desde
que devidamente comprovada a possibilidade de redução por meio de ensaios.
Estas regiões, devem ter sua resistência garantida, pois o concreto pode sofrer
fendilhamento, ou ainda da posição do cabo, uma vez que ele provocar empuxo no
vazio.
A NBR 6118 (2014) descreve que a fixação da armadura de protensão durante a
execução em sua posição no elemento estrutural deve ser garantida por dispositivos
apropriados. De ordem pratica a NBR 6118 (2014) no item 18.6.1.5 descreve que os
cabos de protensão devem ter, em suas extremidades, segmentos retos que garantam
o alinhamento de seus eixos com os eixos dos respectivos dispositivos de ancoragem.
Além de que o comprimento desses segmentos não pode ser inferior a 100 cm, salvo
para os caso de monocordoalhas engraxadas, pois este valor pode ser de 50 cm.

Figura 3: Detalhe de ancoragem para o trecho parábola + reto.


Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 4: Detalhe de ancoragem para o trecho totalmente parabólico.


Fonte: elaborado pelo autor.

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Podemos observar por meio das figuras 3 e 4, o comportamento do cabo de


protensão na saída da ancoragem, destacando o que foi discutido anteriormente,
sendo considerado como crítico o ponto da figura 4, pois o cabo graficamente está
criando força de corte na ancoragem, porém como fisicamente isso é impossível, o
cabo fará uma dobra neste ponto, que é a problemática que temos que evitar, o que
não ocorre na figura 3, já que o cabo não terá contato com a ancoragem, apenas a
cunha de ancoragem está em contato direto.
Conforme a NBR 6118 (2014) os cabos de protensão devem ter prolongamentos
de extremidade que se prolongam além das ancoragens ativas, com comprimento
adequado à fixação dos aparelhos de protensão. As emendas (As) das barras da
armadura de protensão podem ser emendadas, desde que seja realizado por rosca e
luva. São permitidas as emendas individuais de fios, cordoalhas e cabos, por dispositivos
especiais de eficiência. As características e a posição das emendas devem estar
detalhadas em projeto. Podemos assim dizer que as ancoragens devem respeitar o
disposto em 9.4.7.” (NBR 6118, 18.6.1.8).
Referente ao agrupamento de Cabos na Pós-tração, tem-se que os mesmo, ficam
alojados em bainhas que podem ser composto por grupos de dois, três e quatro cabos
nos trechos retos, desde que não ocorram disposições em linha com mais de dois
cabos adjacentes.
Segundo a NBR 6118 (2014) para os trechos curvos, os cabos podem ser dispostos
apenas em pares, cujas curvaturas estejam em planos paralelos, evitando uma possível
pressão transversal entre eles.
Segundo Bastos (2021) a respeito dos espaçamentos mínimos podemos destacar
que os elementos da armadura de protensão devem estar afastados entre si, para
que seja garantido o seu perfeito envolvimento pelo concreto.
A NBR 6118 (2014) indica que os afastamentos na direção horizontal devem ser
garantidos para que seja possível a livre passagem do concreto e, quando for empregado
vibrador de agulha, a sua introdução e operação.
Os valores mínimos dos espaçamentos estão indicados na Tabela 1 para a pós-
tração e Tabela 2 para a pré-tração.

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Tabela 1: Espaçamentos mínimos − Caso de pós-tração


Fonte: NBR 6118 (2014) editada por Bastos (2021)

Tabela 2: Espaçamentos mínimos − Caso de pré-tração


Fonte: NBR 6118 (2014) editada por Bastos (2021)

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AULA 13
FORÇA CORTANTE

Segundo Bastos (2021) a força cortante, destacado na figura 1, são alterados pela
força de protensão inclinada (Pd) que por sua vez introduz nas vigas tensões normais
de compressão reduzindo assim as tensões principais de tração (sI). Temos assim as
fissuras por efeito de força cortante, caracterizadas como fissuras de cisalhamento,
que apresentam-se com menor inclinação que nas vigas de concreto armado.
Podemos assim entender que quanto maior o grau de protensão, menores são
os esforços de tração na alma, sendo menor a quantidade de armadura transversal
necessária.
O encurvamento dos cabos nas proximidades dos apoios produz uma componente
de força contrária à força cortante solicitante, tal que:
Vsd=Vd -Pd.senα

Figura 1: Componente de força devido à curvatura do cabo.


Fonte: Bastos (2021)

Segundo Bastos (2021) podemos compreender que o banzo de concreto comprimido


pela flexão inclina-se em direção aos apoios, formando um arco na viga entre os
apoios, de tal forma a biela comprimida inclinada que surge (figura 2) absorve uma
parte da força cortante. Podemos assim dizer que a tração na alma diminui. A ação
de arco é o mecanismo dominante de resistência de vigas-paredes à força cortante
com o carregamento externo aplicado na região comprimida.

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Figura 2: Ação de arco nas proximidades dos apoios.


Fonte: Bastos (2021)

Conforme a NBR 6118 (2014) o valor de VSd. deve-se considerar o efeito da projeção
da força de protensão na sua direção, com o valor de cálculo correspondente ao tempo
(t) considerado. Entretanto, quando esse efeito for favorável, a armadura longitudinal
de tração junto à face tracionada por flexão deve satisfazer à condição:
Ap.fpyd + As.fyd VSd

Essa condição visa garantir uma melhor contribuição do concreto na zona (banzo)
comprimida pela flexão, garantindo a rigidez do banzo tracionado (Figura 3).

Figura 3: Banzo de concreto comprimido próximo ao apoio


Fonte: Bastos (2021)

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13.1 Título 2 (Força Cortante no Estado-Limite Último (ELU))

Conforme a NBR 6118, a resistência do elemento estrutural, em uma determinada


seção transversal, deve ser considerada satisfatória, quando verificadas simultaneamente
as seguintes condições:
VSd ≤ VRd2
VSd ≤ VRd3 = Vc + Vsw

onde:
• VSd é a força cortante solicitante de cálculo, na seção;
• VRd2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais
comprimidas de concreto;
• VRd3 = Vc + Vsw é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por
tração diagonal, onde Vc é a parcela de força cortante absorvida por mecanismos
complementares ao da treliça e Vsw a parcela resistida pela armadura transversal,
de acordo com os modelos indicados pela 6118 (2014).

Segundo Bastos (2021) a NBR 6118 possibilita o dimensionamento à força cortante


segundo dois Modelos de Cálculo (I e II).
O Modelo de Cálculo I: Treliça clássica, com ângulo de inclinação das diagonais
comprimidas () fixo em 45°.
O Modelo de Cálculo II: Treliça generalizada, onde o ângulo de inclinação das
diagonais comprimidas pode variar entre 30° e 45°.
Aos modelos de treliça foi associada uma força cortante resistente (adicional) Vc
, proporcionada por mecanismos complementares ao de treliça.

13.1.1 Título 3 (Modelo de Cálculo I)

Conforme a NBR 6118 (2014) podemos entender que o modelo I admite diagonais
de compressão inclinadas de = 45° em relação ao eixo longitudinal do elemento
estrutural, além de admitir ainda que a parcela complementar (Vc) tenha valor constante,
independentemente de VSd .Podemos realizar a verificação da diagonal comprimida
pela equação:

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VRd2=0,27.(1-(fck/250)).fcd.bw.d

Considerando fck em MPa. A parcela de força cortante a ser resistida pela armadura
transversal é descrita como:
Vsw=Vsd + Vc

Na flexo-compressão a parcela Vc é caracterizada como:


Vc=Vco.(1+(Mo/Msd,max))≤2.Vc0

Onde temos que:


Vco=0,6.fctd.bw.d

Sendo fctd dado por:

Segundo Bastos (2021) o entendimento do cortante na peça protendida pode ser


vinculado aos seguintes tópicos:
• Podemos entender que bw é a menor largura da seção, compreendida ao longo
da altura útil (d), porém para os casos de elementos estruturais protendidos,
quando possuírem bainhas injetadas com diâmetro Φ> bw /8, a largura resistente
a considerar deve ser bw - (½).∑ Φ na posição da alma em que essa diferença
seja mais desfavorável, com exceção do nível que define o banzo tracionado
da viga.
• Podemos entender que (d) é descrito com a altura útil da seção, sendo igual à
distância da borda comprimida ao centro de gravidade da armadura de tração.
Porém para o caso de elementos estruturais protendidos com cabos distribuídos
ao longo da altura (d) não precisa ser tomado com valor menor que 0,8h, desde
que exista armadura junto à face tracionada.
• O termo (s) é descrito como sendo o espaçamento entre elementos da armadura
transversal (Asw), medido segundo o eixo longitudinal do elemento estrutural.
• fywd é a tensão na armadura transversal passiva, limitada ao valor fyd, para
aplicação de estribos é 70 % desse valor, para a situação de barras dobradas,
não se tomando para nenhum dos casos valores superiores a 435 MPa. Porém
para armaduras transversais ativas, o acréscimo de tensão devida à força

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cortante não pode ultrapassar a diferença entre fpyd e a tensão de protensão,


nem ser superior a 435 MPa;
• Temos que α é o ângulo de inclinação da armadura transversal em relação ao
eixo longitudinal do elemento estrutural, podendo-se tomar 45≤α≤ 90;
• Mo é o valor do momento fletor que cancela a tensão normal de compressão na
borda da seção que sofre tracao devido ao Md,máx, que por sua vez é ocasionado
pelas forças normais de diversas origens simultaneamente com VSd. Sendo essa
tensão calculada com valores de γf e γp iguais a 1,0 e 0,9, respectivamente.
Vale destacar que os momentos que geram as forças normais não podem ser
considerados no cálculo dessa tensão, pois são considerados em MSd, devem
ser adotados apenas os momentos isostáticos de protensão;
• MSd,máx é caracterizado como sendo o momento fletor de cálculo máximo no
trecho em análise, que pode ser tomado como o de maior valor no semitramo
considerado.

O momento fletor (Mo), como discutido é o momento fletor que anula a tensão normal
na borda mais comprimida, ou seja, corresponde ao momento fletor de descompressão
referente a uma situação inicial de solicitação, em que atuam:
• a força normal e o momento fletor (Npd e Mpd) provocados pela protensão,
ponderados por p = 0,9;
• as forças normais oriundos de carregamentos externos (Ngd e Nqd), afetados por
f = 0,9 ou 1,0, desconsiderando-se a existência de momentos fletores simultâneos.
Mo=(γp.P∞+γf.Ng+q).(Wb/Ac)+γp.P∞.ep

A relação (Wb /Ac) corresponde à distância da extremidade superior do núcleo central


de inércia da seção ao centro de gravidade, ou seja, corresponde à excentricidade do
centro de pressão com a qual a tensão na borda inferior se anula.

A área de armadura transversal é:


Asw,α/S=Vsw/(0,9.d.fywd.(senα+cosα))

A tensão máxima imposta pela norma refere-se ao aço CA-50, pois fyd = 50/1,15
= 435 MPa.

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Para o dimensionamento do estribo ser feito com o aço CA-60, esta tensão máxima
também deve ser obedecida, ou seja, deve-se calcular como se o aço fosse o CA-50.
No caso de serem utilizados os aços CA-50 ou CA-60 e armadura transversal somente
na forma de estribos com = 90, fywd assume o valor de 43,5 kN/cm2 , que aplicado
na Eq. anterior temos:
Asw,α/S=Vsw/(39,2.d)
com: Asw,90 = cm ² /cm, Vsw = kN e d = cm.
Segundo Bastos (2021) para o cálculo da parcela resistente (Vc), deve-se considerar
a relação (Mo/MSd,máx) que por sua vez oferece uma indicação do comprtamento
de fissuração por flexão, no ELU. Se a relação é próxima de zero (Mo tem valor muito
pequeno), então a região estará com esforços de tração e possivelmente fissurada
por flexão (zona b). Se a relação tem valor 1,0 (Mo tem valor próximo de MSd,máx),
então não há fissuração (zona a), figura 4.

Figura 4: Zona (b) com fissuração e zona (a) sem fissuração.


Fonte: Bastos (2021)

Armadura mínima para estribo vertical ( = 90) e com s = 100 cm, é descrita como:
Asw,min=(20.fct,m.bw)/(fywk)

• Asw,mín = área da seção transversal de todos os ramos verticais do estribo


(cm² /m);
• bw em cm;
• fywk em kN/cm² ;
• fct,m em kN/cm².

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O exemplo a seguir pertence a postila de Bastos (2021)


Dimensionar a área de armadura transversal de uma viga protendida seção I,
biapoiada sob flexão, considerando:
• composta por estribos verticais - concreto C35, aço CA-50;
• coeficientes de ponderação: γc = f = 1,4, γs = 1,15, p = 0,9;
• largura da alma bw = 12 cm, altura útil da armadura de protensão dp = 90,6 cm;
• força cortante solicitante VSd = 235,4 kN;
• força de protensão final P∞ = 686,6 kN;
• momento fletor solicitante máximo no vão MSd = 79.593 kN.cm;
• Ac = 2.344 cm2 , Wb = 50.044 cm3 , excentricidade da armadura de protensão
ep = 45,0 cm.

Resolução:
O cálculo da armadura transversal será feito conforme o Modelo de Cálculo I (treliça
clássica, = 45) e com ângulo de inclinação dos estribos de (estribos verticais para
a viga de eixo longitudinal horizontal).
a) Verificação da compressão nas bielas de concreto: Para não ocorrer o
esmagamento do concreto que compõe as bielas comprimidas deve-se ter
Vsd VRd2 . Vamos assim definir o valor de VRd2 e comparar com cortantente
solicitante Vsd.
VRd2=0,27.(1-(fck/250)).fcd.bw.d
VRd2=0,27.(1-(35/250)).(3,5/1,4).12.90,6
VRd2=631,1 kN
Vsd=235,4 ≤VRd2=631,1 kN

Podemos entender que não ocorrerá esmagamento do concreto das bielas.


b) Cálculo da armadura transversal: Para calcular a armadura transversal devem
ser determinadas as parcelas da força cortante que serão absorvidas pelos
mecanismos complementares ao de treliça (Vc) e pela armadura (Vsw), tal
condição implica em:
Vsd=Vc + Vw
Na flexo-compressão a parcela Vc é dada por:
Vc=Vco.(1+(Mo/Msd,max))≤2.Vc0
A resistência média do concreto à tração é dado por:

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A força cortante resistente Vco é dada por:


Vco=0,6.fctd.bw.d
Vco=0,6..,161.12.90,6
Vco=105 kN

O momento fletor Mo é aquele que anula a tensão normal de compressão máxima


atuante na borda da seção transversal, e que causa a tensão (Figura 7.4), de tal forma
temos:
σbp∞,d+σbM0=0
Lembrando que:
σbMo=(Mo/Wb)

Figura 5: Tensões normais na viga e estado de descompressão.


Fonte: Bastos (2021)

A tensão na base, devida à força de protensão final é:


σbp∞,d=-P∞,d.((1/Ac)+(ep/Wb))
Temos que a força de protensão final de cálculo: P∞,d = P∞,d=γp.P∞=0,9.686,6=617,9
kN. A tensão final na base é:
Da qual é definido o valor do momento fletor de descompressão Mo :
Mo=P∞,d.((Wb/Ac)+(ep))
Mo=617,9.((50044/2344)+(45))
Mo=40.988 kN.cm

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Portanto a parcela Vc, é dado por:


Vc=105.(1+(40998/79593))
Vc=159,1 kN
2.Vc=2.105=210 kN
Vc=159,1 kN ≤2.Vco=210 kN

Portanto, a parcela da força cortante solicitante a ser resistida pelos estribos é


dada por:
Vsw=Vsd - Vc=235,4 - 159,1=76,3 kN

Podemos assim determinar a armadura transversal:


Asw,90/S=Vsw/(39,2.d)
Asw,90/S=76,3/(39,2.90,6)
Asw,90/S=0,0215 cm²/cm

Podemos assim entender que para 1 m de comprimento da viga, tem-se:


Asw,90 = 2,15 cm2 /m.

É válido verificar a armadura mínima para estribo vertical (α=〖90〗^0) e aço CA-50 é
dado por:Asw,min=(20.fct,m.bw)/(fywk)
Asw,min=(20.0,321.12)/(50)
Asw,min=1,54 cm²/m

Portanto, deve-se dispor a armadura calculada, de 2,15 cm² /m. Fazendo estribo
de dois ramos 6,3 mm (Φ6,3 com 0,62 cm²):
Asw,90/S=0,0215 cm²/cm
0,62/S=0,0215 cm²/cm
S=28,8 cm

Vale destacar que deve-se verificar se este espaçamento atende ao espaçamento


máximo permitido.

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AULA 14
SOLICITAÇÕES NORMAIS

Podemos entender que os problemas que envolvem flexão em peças de concreto


protendido podem ser divididos em dois grupos, que são problemas de verificação ou
problemas de dimensionamento.
Para realizar a verificação de um elemento estrutural, temos que ter o controle sobre
os materiais, os carregamentos atuantes, seção transversal, às áreas de armaduras
(ativas e passivas), bem como o valor e ponto de aplicação da força de protensão.
Segundo Bastos (2021) os problemas que envolvem dimensionamento estão
atrelados ao tipo de materiais, carregamentos atuantes e as tensões admissíveis. De
tal forma o projetista deve determinar a forma e dimensões da seção transversal de
concreto, bem como a intensidade e a posição da força de protensão e as quantidades
de armaduras (passivas e ativas).
Bastos (2021) descreve três diferentes procedimentos para o projeto de peças
protendidas à flexão:
• Podemos adotar a seção transversal e calcular o valor de excentricidade da
força de protensão, considerando os carregamentos atuantes ou fase mais
importante, verificando na sequência as tensões atuantes no concreto para
diferentes estágios de carregamentos. Para finalizar podemos determinar a
capacidade resistente à flexão da peça projetada, que pode ser alterada a fim
de se obter um projeto melhor;
• Para a condição de grandes vãos, a peça mais eficiente pode resultar tomando
como base as tensões admissíveis do concreto na escolha da seção transversal,
fazendo as tensões atuantes próximas das tensões admissíveis;
• Tem-se a escolha da seção transversal, seguida pela determinação das forças de
protensão e o perfil da armadura ativa. Ao final pode-se ser feitas modificações
de forma a atender as tensões admissíveis e exigências de resistência.

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14.1 Título 2 (Estados limites últimos devido a solicitações normais)

Para dar início ao nosso estudo podemos entender que os domínios de deformação
estabelecem as possíveis posições da seção transversal no instante da ruptura,
conforme o tipo de solicitação atuante.
Como foi discutido no parágrafo anterior, o projetista deve analisar as condições
de tensões atuantes na peça, para tanto tem-se o entendimento dos domínios de
deformação sendo a base para tal entendimento. De tal forma temos que as peças
protendidas estão sujeitas a erros de dimensionamento.
Podemos ter vigas subarmadas e normalmente armadas, de tal forma que a
ruptura tem início devido ao alongamento excessivo das armaduras ativa e passiva,
acompanhado de fissuração da viga.
Temos ainda a possibilidade do aumento gradativo do carregamento, as deformações
e a fissuras aumentam, alterando a posição da linha neutra, reduzindo assim a área
de concreto comprimido e por consequência aumento das tensões de compressão
no concreto.
Segundo Veríssimo (1999) quando a tensão de compressão atinge o valor da
resistência do concreto, temos o processo de esmagamento desta região, provocando
o colapso da viga. Esse comportamento de ruptura apresenta uma grande vantagem,
pois as flechas e as fissuras, decorrentes do alongamento da armadura, se mostram
bastante visíveis alertando sobre a aproximação do colapso (comportamento dúctil).
Obviamente é de grande interesse, no projeto de estruturas de concreto, dimensionar
as vigas de maneira que tenham ruptura dúctil

Figura 1: Domínios de deformação


Fonte:Veríssimo (1999)

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Podemos assim entender que as vigas superarmadas, ou seja, com elevadas


quantidades de armação, o concreto da zona comprimida da seção é esmagado antes
que o aço atinja o limite de escoamento.
Segundo Veríssimo (1999) estas condições é chamada de ruptura brusca, sem
aviso, o que é indesejável do ponto de vista da segurança do projeto. Em vez da carga
de colapso, adota-se como estado limite último de deformação (anterior ao colapso),
para o qual a viga já pode ser considerada inutilizada (Figura 2).
O projetista deve dimensionar o elemento de tal maneira que a deformada da seção
permaneça no domínio 3 (domínio das peças normalmente armadas), que corresponde:
εcd = 0,35% e εyd ≤ εsd ≤ 1,0%

Figura 2: Hipótese de cálculo de viga para o (ELU)


Fonte:Veríssimo (1999)

Para as peças de concreto protendido, com aderência inicial ou posterior, o cálculo


deve ser realizado conforme a NBR 6118, considerando a relação ao estado limite último
de ruptura ou alongamento plástico excessivo, tomando-se como situação inicial o
estado de neutralização. O estado convencional de neutralização é obtido por meio da
condição em que existem apenas os esforço devidos à protensão, acrescentando-se
solicitações que tornem nulas as tensões no concreto em toda a seção transversal
considerada (VERÍSSIMO, 1999)
Tem-se que o estado limite último de alongamento plástico excessivo é atingido
quando o alongamento da armadura mais tracionada alcança o valor de 1,0%, medido
a partir do estado convencional de neutralização.

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Segundo Veríssimo (1999) as hipóteses de cálculo são as seguintes:


• As seções permanecem planas após a deformação.
• Admite-se aderência integral entre o aço e o concreto. Logo, as deformações
dos dois materiais na região de contato são consideradas iguais;
• O encurtamento de ruptura do concreto vale 0,2% na compressão axial e 0,35%
na flexão;
• A alongamento máximo permitido convencionado para os aços é de 1,0% a fim
de se evitar deformações plásticas excessivas. É importante lembrar que nas
peças de concreto protendido esse alongamento máximo é contado a partir do
estado convencional de neutralização;
• O diagrama tensão-deformação do concreto é o parábola retângulo podendo
ser substituído por um diagrama retangular simplificado, de altura igual a 0,8x
(figura 2);

Para melhorar nosso entendimento podemos entender que o limite convencional


de 1,0% para a deformação no aço está vinculado à fissuração do concreto. Quando
a deformação na armadura tracionada atinge um valor elevado, o concreto adjacente
encontra-se fissurado e com abertura de fissuras consideráveis . Pode-se assim analisar
que em uma peça com fissuras espaçadas de 10 cm, por exemplo, com deformação
de 1,0% na armadura acarreta aberturas da ordem de 1,0 mm. Para tanto tem-se que,
a deformação limite de 1,0% para a armadura deve ser medida a partir do estado de
neutralização, ou seja, deve-se considerar 1,0% além do pré-alongamento (Hanai, 1988).
A interpretação e entendimento da deformação da armadura é importante, pois é
a base para analisar um elemento estrutural. Vamos assim compreender primeiro o
diagrama tensão-deformação dos aços de protensão.
Para efeito de dimensionamento das peças estruturais, permite-se o emprego de
diagrama simplificado, análogo ao diagrama correspondente aos aços da classe B,
especificado pela NBR 6118. Em casos particulares, pode ser empregado o diagrama
tensão-deformação determinado experimentalmente com amostras de aço de protensão
a ser efetivamente empregado (NBR 7197/89).
As TABELAS 2.1 e 2.2, elaboradas a partir de resultados de ensaios, fornecem
valores de tensão para uma dada deformação no aço em regime inelástico.

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Tabela1: Tensões no aço de protensão, no estado limite último


Fonte:Veríssimo (1999)

Tabela 2: Tensões na armadura passiva, no estado limite último


Fonte:Veríssimo (1999)

14.2 Título 2 (Valor de cálculo da força de protensão)

De forma geral o valor de cálculo da força de protensão é obtido através da expressão:

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Pd=γp.Pk

Segundo Veríssimo (1999) o coeficiente γp pode assumir valores distintos em


função do efeito da força de protensão ser favorável ou desfavorável para a situação
considerada. Podemos verificar na tabela 3 os valores de γp recomendados pela NBR
7197 e pelo CEB para as situações em que o efeito da força de protensão é favorável
ou desfavorável. Para condição em que temos cabos protendidos na parte superior
da viga (banzo comprimido da peça), o efeito da protensão é desfavorável, ou seja, na
eventualidade de o valor final da força de protensão ficar maior que o valor de projeto,
por quaisquer razões, haverá um acréscimo de tensões de compressão nessa região
da peça.
Por tal motivo o coeficiente de segurança γp para essa situação vale 1,1. Em
contrapartida, para os cabos protendidos posicionados na parte inferior da viga (banzo
tracionado) o efeito da protensão é favorável, pois combate as tensões de tração
decorrentes do carregamento externo.

Tabela 3: Valores do coeficiente de ponderação γp da força de protensão, para o estado limite último de ruptura ou alongamento plástico excessivo.
Fonte:Veríssimo (1999)

14.2.1 Título 3 (Análise do pré-alongamento )

Podemos observar na figura 2 a situação em que uma viga protendida está submetida
apenas à força de protensão. A tensão normal no concreto na fibra correspondente
ao centro de gravidade da armadura vale σcp .

Figura 2: (a) situação da peça de concreto quando atuam apenas os esforços de protensão; (b) estado convencional de neutralização.
Fonte:Veríssimo (1999)

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Segundo Veríssimo (1999) a figura 2.b representa o estado convencional de


neutralização, ou seja, uma situação fictícia obtida através da aplicação de uma força
externa (Pn = P + ∆P) de magnitude tal que anula a tensão no concreto na fibra
correspondente ao centro de gravidade da armadura.
A deformação na armadura ativa, está vinculada à força de neutralização (Pn)
denominada como deformação de pré-alongamento, designada por εpn .
A condição apresentada é utilizada para anular as tensões no concreto, pois consiste
em impor à armadura ativa uma deformação adicional igual à deformação sofrida
pelo concreto em função da tensão de compressão σcp.
Trata-se de um processo inverso ao que ocorre na pista de protensão com aderência
inicial, pois quando os cabos são liberados das ancoragens o esforço de protensão
é transferido para o concreto.

Portanto temos que:

Segundo a NBR 7197 é permitido que pré-alongamento seja calculado através da


equação (ϵpn), desde que a solicitação normal devido ao peso próprio e as outras
ações mobilizadas pela protensão forem inferiores a 90% da solicitação total em
serviço admitida no projeto.

14.2.2 Título 3 ( Resistência da seção ao momento fletor )

Segundo Veríssimo (1999) o procedimento de cálculo para análise da capacidade


resistente da seção consiste, das seguintes etapas:
• Determina-se o valor de cálculo da força de protensão;
• Calcula-se o pré-alongamento;
• Determina-se o alongamento e a respectiva tensão de tração no aço de protensão,
em função da rotação da seção, provocada pelo momento fletor de cálculo.
Através desses dados, e com o diagrama de deformações, pode-se determinar:

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a posição da linha neutra; a resultante de compressão no concreto, a resultante


de tração na armadura ativa; o braço de alavanca entre as resultantes de tração
e compressão;
• Verifica-se o equilíbrio. Caso a força de tração na armadura ativa seja menor
que a força de compressão no concreto deve ser acrescentada uma armadura
passiva suplementar. Caso a força de tração na armadura ativa seja maior ou
igual à força de compressão no concreto, fica evidente que a armadura ativa é
suficiente para suportar o carregamento atuante. Nesse caso, deve-se colocar a
armadura passiva mínima recomendada pela norma, para a situação em questão.

Nas figuras 3, 4 e 5 estão representadas as configurações possíveis das armaduras


ativa e passiva em vigas protendidas:

Figura 3: cabos protendidos no banzo tracionado da peça e armadura passiva simples.


Fonte:Veríssimo (1999)

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Figura 4: cabos protendidos nos banzos tracionado e comprimido da peça e armadura passiva simples.
Fonte:Veríssimo (1999)

Figura 5: Cabos protendidos nos banzos tracionados e comprimidos da peça com armadura dupla

A NBR 7197 descreve que a segurança em relação à ruptura no ato da protensão


deve ser verificada seguindo os procedimentos da NBR 6118 em relação ao estado
limite último de ruptura ou alongamento plástico excessivo, considerando as seguintes
hipóteses suplementares:
• Considera-se como resistência característica (fckj) do concreto o valor que
correspondente à idade do material no ato da protensão, não se tomando valores
superiores à resistência característica especificada no projeto.

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• Para esta verificação adota-se os seguintes valores dos coeficientes de


ponderação: γc = 1,2 γs = 1,15 γp = 1,0 na pré-tração γp = 1,1 na pós-tração γf
= 1,0 para as ações desfavoráveis γf = 0,9 para as ações favoráveis Devem ser
consideradas apenas as cargas que efetivamente possam atuar nessa ocasião.

Segundo Veríssimo (1999) pode-se considerar que a segurança em relação ao


estado limite último de ruptura no ato da protensão, fique garantida desde que, as
solicitações determinadas com γp = 1,1 e γf = 1,0 , respeitem as seguintes condições:
• A tensão máxima de compressão na seção de concreto simples, calculada em
regime elástico linear, não ultrapassa 70% da resistência característica fckj
prevista para a idade de aplicação da protensão;
• A tensão máxima de tração no concreto, nas seções transversais, não ultrapassa
1,2 vezes a resistência à tração correspondente ao valor fckj especificado;
• Quando existem tensões de tração nas seções transversais, deve haver armadura
de tração calculada com a hipótese de ser nula a resistência à tração do concreto.
Permite-se admitir que a força atuante nessa armadura, para esta fase da
construção, seja igual à resultante das tensões de tração no concreto. Essa
força não deve provocar acréscimos de tensões na armadura ativa superiores
a 150 MPa no caso de fios e barras lisas e a 250 MPa em barras nervuradas
com ηb ≥ 1,5

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AULA 15
TENSÕES DE CISALHAMENTO

Segundo Bastos (2021) a protensão longitudinal em elementos de concreto produz


tensões normais de compressão que contribuem para redução das tensões principais
de tração, porém, estas tensões principais ficam mais inclinadas em relação ao eixo
da peça.
Segundo Veríssimo (1999) as fissuras de cisalhamento se formam com menor
inclinação do que nas peças de concreto armado sem protensão, devido a esse
comportamento de inclinação das tensões principais.
Segundo Lenhardt (1979) a inclinação das bielas comprimidas fica entre 25 e 35
graus, possuem inclinação inferior às de 45 graus da analogia clássica de treliça.
Segundo Veríssimo (1999) podemos observar em resultados experimentais que
a protensão reduz os esforços de tração na alma das vigas, na proporção inversa
do grau de protensão, ou seja, quanto maior o grau de protensão, menores são os
esforços de tração na alma, por consequência, a armadura transversal necessária.
Este efeito favorável da protensão sobre os esforços de tração é explicado com
base nos seguintes fatores:
• Na região de momentos fletores pequenos, as bielas comprimidas se desenvolvem
com pouca inclinação;
• Na região de grandes momentos fletores, como por exemplo nos apoios
intermediários de vigas contínuas, uma parcela da força cortante é absorvida
na zona comprimida, de tal modo que a força de tração na alma é menor do que
na treliça clássica, apesar da inclinação da biela nesse ponto ser de 45 graus.

15.1 Título 2 (Forças cortantes)

Segundo a NBR 7197 a determinação da força cortante a ser considerada na


verificação ao cisalhamento, deve-se aplicar as prescrições da NBR 6118, incluindo os
efeitos das componentes tangencial respeitando as exigências peculiares da NBR 7197.

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Para a alma de peças submetidas a cisalhamento com bainhas de diâmetro maior


que bw/8, a largura resistente a considerar deve ser:
1 . ∑ Φo
bw - __
2

para posição em que essa diferença é mais desfavorável. É permitido desprezar os


efeitos da protensão, quando favoráveis à segurança.
Seguindo as recomendações da NBR 7197 presente no item 8, o cálculo do valor
de Vd deve ser considerado a projeção da força de protensão na sua direção, tendo
assim que dá força cortante atuante a componente da protensão na sua direção,
como podemos verificar na figura 1.

Figura 1: Decomposição da força de protensão.


Fonte: Veríssimo (1999)

Segundo Leonhardt (1979) acreditava-se que no caso de vigas simples, a passagem


de cabos parabólicos era a melhor solução, pois a componente vertical da força de
protensão reduzia a força cortante que atuava no concreto.
Porém, por meio de estudos e ensaios, verificou-se que a passagem para o estado
limite último é reduzida, quando a relação entre as rigidezes dos banzos e das almas
desempenha papel importante. Ou seja, quando o tirante inferior é muito fraco, com
comportamento deformável, as bielas de compressão que se dirigem ao apoio não
se apoiam nele, mas sim na região de ancoragem dos cabos, que por sua vez é mais
rígida e está situada mais acima. Com isso, temos bielas menos inclinadas e a parcela
da força cortante absorvida pela zona comprimida na flexão é menor.
Os estudos indicam que para as vigas com cabos inclinados, forças nos estribos
maiores do que em vigas com cabos retos dispostos no banzo tracionado.
Por meio do conceito discutido, recomenda-se que não se subtraia da força cortante
a componente vertical da protensão no caso de cabos curvos. Podemos assim concluir

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que o valor de cálculo da força cortante atuante deve ser obtido a partir da expressão
a seguir:
Vdmax=(γg.Vgmax) + (γq.Vqmax)

Vamos agora discutir sobre o efeito da componente normal,ou seja, a força de


protensão pode ser equiparada ao de uma força normal externa de compressão, com
igual intensidade. A determinação da influência dessa componente normal é dada
pela expressão:

A NBR 6118 define que para o cálculo da armadura transversal necessária à


resistência dos esforços oriundos da força cortante, onde para o cálculo de (Mo) são
considerados os efeitos de (Npd) e (Mpd) acrescidos dos efeitos de (Ngd) e da parcela
(Nqd) concomitante com Vd, calculando-se esses efeitos com γf = 0,9.
O valor de cálculo da tensão de cisalhamento no concreto, que atua na alma das
peças (tensão de referência) , é determinado pela seguinte equação:

Essa tensão de cálculo () não pode ultrapassar o valor de (tensões últimas resistentes).
Tem-se que (bw) é a largura da seção transversal.

15.1.1 Título 3 (Tensões últimas resistentes)

para peças lineares com bw < 5 h:


a) com armadura transversal a 45°
é o menor valor entre
τwu ≤ 0,35.fcd
τwu ≤ 5,5 MPa

b) com armadura transversal a 90°


é o menor valor entre
τwu ≤ 0,30.fcd
τwu ≤ 4,5 MPa

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para lajes e peças lineares com bw > (5.h) os coeficientes 0,35 e 0,30 devem ser
multiplicados por um dos seguintes fatores, mantidos os limites absolutos
(h em cm ):

15.1.2 Título 3 (Cálculo da armadura transversal)

A armadura transversal das peças lineares e das lajes, para resistir aos esforços
oriundos da força cortante, deve ser calculada pela teoria clássica de Mörsch, com
base na seguinte tensão
τd= 1,15.τwd - τc > 0

O corresponde à parcela do cisalhamento resistida pelo concreto comprimido nas


peças fletidas, calculado pela expressão:
τc=Ψ1.√fck (fck e τc em MPa)
sendo:
• Ψ1 = 0,15 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a
seção
• Ψ1=0,15.(1+Mo/Mdmax) na flexo-compressão;
• Ψ1 = 0 na flexo-tração com a linha neutra fora da seção
onde:
• Mo é o valor do momento fletor que anula a tensão normal na borda menos
comprimida;
• Mdmax é o momento fletor de cálculo da seção transversal que está mais
solicitada à flexão, no trecho considerado pelo cálculo.

A tensão na borda menos comprimida é calculada em função da eventual protensão


(Npd e Mpd), acrescida dos efeitos de (Ngd) e da parcela de (Nqd) concomitante com
Vd, ambos os efeitos calculados com γf = 0,9.
Segundo Lenhardt (1979) por simplicidade e a favor da segurança, (Mdmax) pode
ser tomado como o maior valor do semi-tramo considerado. O coeficiente ψ1, está

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vinculado a valores que estão vinculado ao estado de solicitação longitudinal, ou seja,


depende de como a peça é solicitada por flexão.
Podemos entender que quando a peça é solicitada por esforços elevados de tração
(flexo-tração com linha neutra fora da seção), não temos contribuição do concreto,
logo podemos tomar-se ψ1 = 0.
Para os casos de flexão simples ou de flexo-tração com a linha neutra cortando a
seção, ψ1 pode ser considerado igual a 0,15.
Quando temos a condição de flexo-compressão, que se inclui o caso da existência
de protensão, o efeito favorável da força normal de compressão é considerado por
meio de um fator de majoração, dado por:

Para o cálculo de β1, (Mo) corresponde ao momento fletor que anula a tensão
normal na borda menos comprimida,referente a uma situação inicial de solicitação
em que atuam:
a) a força normal e o momento fletor (Npd e Mpd) provocados pela protensão,
ponderados com γf = 0,9;
b) as forças normais oriundas de carregamentos externos ( Ngd e Nqd ), também
afetados por γf = 0,9, desconsiderando-se a existência de momentos fletores
concomitantes.

Logo, podemos verificar que o momento Mo pode ser calculado pela expressão
seguinte:
Mo=(γp.P∞+γf.Ng+q).(Wb/Ac)+γp.P∞.ep
lembrando que corresponde à distância da extremidade superior do núcleo central
de inércia da seção ao centro de gravidade, ou seja, corresponde à excentricidade do
centro de pressão com a qual a tensão na borda inferior se anula.
Para estribos verticais a 90°, a armadura transversal pode ser calculada conforme
indicado na NBR 6118, ou seja:

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CONCLUSÃO

Observamos no decorrer dos nossos estudos que o desenvolvimento científico é


fruto da atividade humana, nesse contexto, para compreender o mundo que o cerca,
o homem passa a aprimorá-lo, tendo em vista a possibilidade de novas descobertas.
A partir dessas descobertas e desenvolvimento da vida em sociedade foi possível
estudarmos o quanto a educação modificou-se sob influência de tal desenvolvimento
social, a fim de adequar-se às demandas de cada período, desse mesmo modo o
perfil de estudante e de professor também foi se alterando com o tempo, até as
características observáveis na atualidade.
Vimos também que a sociedade contemporânea é muito dinâmica e está em
constante mudança, percebemos as mudanças nos valores, nas instituições, tudo sobre
muita influência da tecnologia, o imediatismo e a quantidade de informação faz com
que os alunos queiram aulas mais significativas. Nesse contexto, a complexidade da
sociedade contemporânea nos leva a acreditar que uma forte tendência da educação
é a formação docente para a mudança e a incerteza, para essa sociedade dinâmica
e em constante mudança, considerando a formação integral do indivíduo.
Torna-se muito desafiador ser um profissional da educação, sobretudo na atualidade
e esses desafios são ainda maiores pela necessidade de sujeitos ativos no processo
educacional. Esse desafio depende da sua ação enquanto profissional e cidadão!
Sucesso!

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CONCLUSÃO

O presente livro alcançou o resultado esperado, que era de revelar ao leitor o


verdadeiro entendimento sobre estruturas que utilizam o conceito de concreto armado
e protendido.
Destaca-se que o livro oferece ao leitor o entendimento das funções dos elementos:
Reservatório, escada, elementos de fundação e concreto protendido.
Observamos que o livro “Estrutura de concreto armado II” mescla conceitos práticos,
estudados com uma apresentação teórica das principais contribuições de autores de
diferentes centros de pesquisas.
Neste sentido foram discutidas as perspectivas do concreto armado e protendido
de forma teórico prática.

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

LIVRO

Título: Desconstruindo o Projeto Estrutural de


Edificios: Concreto Armado e Protendido
Autor: José Sérgio dos Santos
Editora: Editora Oficina de Textos
Sinopse: Desconstruindo o projeto estrutural:
concreto armado e protendido é um livro sobre
leitura e interpretação de projetos estruturais.
Ricamente ilustrada, com mais de 100
ilustrações, a obra explica de forma prática
e didática como interpretar corretamente,
principalmente no canteiro de obras, e
transpor para o físico, os desenhos técnicos
que compõem o projeto estrutural.

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FILME

Título: Elevado 3.5


Ano: 2010
Sinopse: Mostra o mundo das pessoas que
vivem ao redor do Elevado Presidente Costa
e Silva, mais conhecido como Minhocão,
construído na zona central de São Paulo
durante a ditadura militar. O documentário
faz um questionamento sobre a falta
de planejamento, o papel das grandes
construções e como elas são capazes de
afetar as cidades e os seus moradores.

WEB

Paulo Sérgio dos Santos Bastos, atualmente é Professor Doutor da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP - Campus de Bauru/SP. Tem experiência na área
de Engenharia Civil, com ênfase em Estruturas de Concreto, atuando principalmente
nos seguintes temas: cálculo estrutural em Concreto Armado e Protendido e dormentes
ferroviários de concreto. Oferece o site abaixo, com conteúdos de grande valia para o
estudante e profissional da área de estrutura de concreto armado.
<https://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/>

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REFERÊNCIAS

Indicações Para Projeto De Muros De Arrimo Em Concreto Armado.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: cargas para o cálculo


de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9077: saídas de emergência


em edifícios. Rio de Janeiro, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas


de concreto. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

ARAÚJO, J. M. de. Curso de concreto armado. 4. ed. Rio Grande: Dunas, 2014a. v. 2.

BASTOS, P. S. S. Estruturas de concreto III. Sapatas de fundações. Universidade


Estadual Paulista. Apostila, 2019.

BASTOS, P. S. S. Estruturas de concreto III. Blocos de fundações. Universidade


Estadual Paulista. Apostila, 2020.

BASTOS, P. S. S. Fundamentos do concreto protendido. Universidade Estadual


Paulista. Apostila, 2021.

CUNHA, A. J. P. da; SOUZA, V. C. M. de. Lajes em concreto armado e protendido. 2.


ed. Niterói: EDUFF, 1998.

CAPUTO, H.P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Volume 2. 6ª edição. Rio de
Janeiro: Editora LTC, 1987. 498 p.

DOMINGUES, P. C.. Indicações Para Projeto De Muros De Arrimo Em Concreto


Armado. 97 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) São Carlos: EESC
– USP, 1997.

EMERICK A.A. Projeto e Cálculo de Lajes Planas Protendidas. 1. ed. Brasília:


Interciência, 2002. PFEIL, W. Concreto Protendido: Processos construtivos, perdas
de protensão. 2ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora LTDA, 1984.

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Gerscovich, Denise M. S. Estabilidade de taludes / Denise M. S. Gerscovich. 2. ed.


São Paulo: Oficina de Textos, 2016.

VELLOSO, Dirceu de Alencar; LOPES, Francisco de Rezende. Fundações: critérios de


projeto, investigação de subsolo, fundações superficiais, fundações profundas. São
Paulo: Oficina De Textos, 2010.

VASCONCELOS, Z. L. Critérios para projetos de reservatórios paralelepipédicos


elevados de concreto. 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas).
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.

VERÍSSIMO, Gustavo de Souza; JUNIOR, Kléos M Lenz César. Concreto protendido.


Fundamentos básicos. Universidade Federal de Viçosa, 1998.

RESMIN, T. Análise do dimensionamento estrutural de reservatórios retangulares


em concreto armado. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade de Santa Cruz
do Sul, 2017.

HANAI, J. B. Reservatórios com parede ondulada. Dissertação (Mestrado) - Escola


de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1981.

HANAI, João Bento de. Fundamentos do concreto protendido. Universidade de São


Paulo. Escola de engenharia de São Carlos. 2005.

SOUZA, V. C. M.; CUNHA, A. J. P. Lajes em Concreto Armado e Protendido. 2ª ed.


Niterói: EDUFF, 1994.

MARTHA, L. F. Análise de Estruturas: conceitos e métodos básicos. 2ª ed. Rio de


Janeiro: Campus, 2017.

MONTOYA, J. Hormigon armado, v.1-2. Barcelona, Ed. Gustavo Gili, 5a . ed., 1971.

MELGES, J. L. P.; PINHEIRO, L. M.; GIONGO, J. S. Concreto armado: escadas. São


Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos, USP, 1997.

MARANGON, M. Mecânica dos Solos II. Empuxos de Terra. Edição 2018. Faculdade
de engenharia – NuGeo/Núcleo de Geotecnia – UFJF, 2018.

MOLITERNO, A.. Caderno de muros de arrimo. 2ª edição. São Paulo: Editora Edgard
Blucher, 1994. 194 p.

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KIMURA, A. Informática Aplicada em Estruturas de Concreto Armado: cálculo de


edifícios com o uso de sistemas computacionais. 2ª ed. São Paulo: Pini, 2018.

KUEHN, A. Comparação entre métodos de análise estrutural para reservatórios


retangulares de concreto armado. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de
Santa Catarina, 2002.

LEONHARDT, F.. Construções de concreto, vol. 3: princípios básicos sobre a armação


de estruturas de concreto armado. Rio de Janeiro: Interciencia, 2007. Tradução de:
Vorlesungen über Massivbau: Dritter Teil-Dritte Auflage. ISBN 978-85-7193-167-1.

THOMAZ E.C.S. Concreto Protendido – Momento Hiperestático de Protensão, IABSE


Workshop, International Association for Bridge and Structural Engineering, New Delhi,
1993. (Notas de Aula).

URBANO, A.R. Dimensionamento de fundações profundas. 2. ed. São Paulo: Blucher,


2012.

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