Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Relação de Poder Na Avaliação Da Aprendizagem - Monograf. 53p
A Relação de Poder Na Avaliação Da Aprendizagem - Monograf. 53p
A
ARRE
ELLA
AÇÇÃ
ÃOOD
DEEP
POOD
DEER
RNNA
AAAV
VAAL
LIIA
AÇÇÃ
ÃOOD
DAAA
APPR
REEN
NDDIIZ
ZAAG
GEEM
M
Salvador
2009
LILIAN DA ENCARNAÇÃO CONCEIÇÃO
A
ARRE
ELLA
AÇÇÃ
ÃOOD
DEEP
POOD
DEER
RNNA
AAAV
VAAL
LIIA
AÇÇÃ
ÃOOD
DAAA
APPR
REEN
NDDIIZ
ZAAG
GEEM
M
Salvador
2009
FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB
Bibliotecária : Jacira Almeida Mendes – CRB : 5/592
Contém referências.
CDD : 371.26
LILIAN DA ENCARNAÇÃO CONCEIÇÃO
A
ARRE
ELLA
AÇÇÃ
ÃOOD
DEEP
POOD
DEER
RNNA
AAAV
VAAL
LIIA
AÇÇÃ
ÃOOD
DAAA
APPR
REEN
NDDIIZ
ZAAG
GEEM
M
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profª M.Sc.Iêda Rodrigues da Silva Balogh
Universidade do Estado da Bahia
______________________________________________
Prof. Dr. Luciano Sérgio Ventin Bonfim
Universidade do Estado da Bahia
______________________________________________
Prof. M.Sc.Professora Rilza Cerqueira
Universidade do Estado da Bahia
A todos que lutam destemidamente
pela transformação da educação e,
consequentemente, da sociedade .
AGRADECIMENTOS
Agradecer talvez seja um dos momentos mais nobres da elaboração desta pesquisa.
Momento de reconhecer o companheirismo, a solidariedade e a compreensão
daqueles que de algum modo me ajudaram a construir mais uma etapa desta
existência. Emociona-me profundamente neste momento em declarar o quanto foi
imprescindível a presença dos meus grandes amigos. A elaboração desta pesquisa
me fez reafirmar que na trajetória desta vida tenho verdadeiros companheiros que
estão e estarão ao meu lado no momento de festa, de alegria, mas principalmente
de tristeza, de incerteza, de insegurança, de crise existencial, de stresse, de chatice.
Amigos que diante da vontade de desistir, da sensação de incapacidade, me fizeram
acreditar nas minhas potencialidades. Algumas que nem sabia que tinha. Agradeço
a Jesus Cristo, amigo incondicional em todas as etapas da minha vida; a minha
família pelo apoio e compreensão; a minha companheira Angélica, minha
Orientadora da Vida, por acreditar em mim e de maneira tão especial jamais me
deixou desistir; aos companheiros do CFJI/OAF que tanto me ensinaram a ser uma
pessoa melhor e, especialmente, a Vanderlino (“Vandico”) pela maneira solidária
pela qual ajudou-me a construir esta pesquisa; a todos os meus companheiros do
curso de Pedagogia que me proporcionaram momentos especiais na construção e
aperfeiçoamento de nossos seres. A todos, sinceramente, muito obrigada. As
palavras neste momento de grande emoção fogem de mim, e neste instante peço
auxílio a Vinícius de Moraes que com seu brilhantismo conseguiu expressar neste
poema os sentimentos que emanam do meu ser:
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dores, que tivessem morrido
todos os meus amores, mas enlouqueceria
se morressem todos os meus amigos!
A alguns deles não procuro, basta me saber que eles existem.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem a noção
de quanto me são necessários, de como são indispensáveis...
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
Vinícius de Moraes
Elogio da Dialética
Bertolt Brecht
RESUMO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10
2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 14
4 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM.........................................................................28
REFERÊNCIAS.................................................................................................................49
10
1 INTRODUÇÃO
A formação plena da cidadania no Brasil pelo sistema público de ensino tem sido
largamente questionada face ao seu evidente fracasso. No afã de encontrar uma
solução para esta desconfortante realidade, muitas análises, críticas e sugestões
vêm sendo feitas pelos estudiosos da questão. E neste debate a avaliação da
aprendizagem tem sido um dos elementos centrais no foco das discussões. O tema
avaliação é bastante amplo e permeia todo o processo de ensino -aprendizagem.
Expressões do tipo: “Estudem. Isso vai cair na prova”; “ Eu não dou 10(dez) a
nenhum aluno, pois nenhum aluno merece 10(dez)”; “Se não se comportarem irei
fazer um teste surpresa” ; “Se não fizerem silêncio considerarei o assunto como
dado e vai cair na prova”; “Caprichei na prova. Quero ver quem não estudar,
passar”; “Na hora da prova, nós temos que botar esses alunos para tremerem. Só
assim eles valorizam a gente” são normalmente observadas no cotidiano
pedagógico das escolas brasileiras. Segundo Luckesi(2005) estas práticas fez em
construir a Pedagogia do Exame, pois a avaliação de meio passou a representar o
fim da ação pedagógica. Estas práticas podem ser presenciadas principalmente na
educação básica, mas e, lamentavelmente, são ainda aplicadas também na
educação superior.
Diante desta realidade caótica Luckesi(2005) afirma que o professor que recorre
esses métodos não está interessado em descobrir quem aprendeu o que foi
ensinado, mas sim, quem não aprendeu, para poder expor publicamente aos
colegas a sua aparente fragilidade. Foucault(2000) reintera esta idéia quando
afirma que a punição tinha finalidade de punir o crime e também reavivar nas
mentes dos súditos o que ocorria com qualquer um que ousasse desafiar a lei, quer
dizer, a vontade do soberano .
Esta pesquisa se compõe por dois capítulos. O primeiro capítulo se propõe analisar,
ainda que brevemente, a relação Sociedade – Educação – Escola na perspectiva de
que as práticas pedagógicas utilizadas no processo de Avaliação da Aprendizagem
são reflexos de uma estrutura social historicamente construída e o espaço
educacional não representa seu início nem seu fim. Educadores e educandos são
13
seres sociais contextualizados. As relações que se estabelecem entre Educador e
Educando, portanto, são, portanto, profundamente marcadas pelas contradições
sociais inerentes a nossa sociedade. Assim, analisaremos como a sociedade para
manter a regulação social utiliza instrumentos de punição e coação que condicionam
o comportamento passivo e subserviente das pessoas. Partindo do princípio que
toda ação educativa é fundamentalmente uma atividade política, seria demasiado
ingênuo imaginar a Avaliação da Aprendizagem como algo envolto numa couraça de
neutralidade. A Avaliação da Aprendizagem, como qualquer outra atividade humana
está consciente ou inconscientemente, pautada nas relações de poder estabelecidas
numa sociedade de classes. Portanto, o objetivo deste capítulo é identificar a
relação entre a estrutura social e as práticas educativas. Este capítulo está
subdividido em 03(três) tópicos: Homem ser Social e Formação da Sociedade;
Relação de Poder e Estrutura Social e Educação e Sociedade.
2 METODOLOGIA ADOTADA
O escopo deste capítulo é sem ter, obviamente , um caráter exaustivo, fazer uma
análise da relação Sociedade – Educação – Escola na perspectiva de que as
práticas pedagógicas historicamente empregadas no processo de avaliação são
produtos históricos de uma estrutura social fundamentada na divisão de classes,
onde, evidentemente, não há neutralidade no ato pedagógico da Avaliação da
Aprendizagem.
A história da formação das sociedades tem como marca característica uma estrutura
de relação de poder que, em função de uma dinâmica histórica, muda os
personagens mais preservam as funções de dominadores e dominados. Marx, no
Manifesto do Partido Comunista (1998), analisa como este processo de extrema
complexidade de sociabilização tem, historicamente , se configurado na marcha
civilizatória da humanidade. Ele explica:
Marx afirma que a formação da sociedade tem como motor propulsor o conflito
incessante entre dominados e dominadores. E as relações de poder estruturadas
17
neste processo sustentam a posição de uma minoria que manda e uma maioria que
obedece. É, pois, de se esperar que tais conflitos estejam presentes nas atividades
pedagógicas de uma sociedade tal como a sociedade brasileira. A sociabilização
humana desta forma é determinada pela sua condição histórica e, portanto , política.
Segundo Paro (2008) a sociabilidade humana implica sua condição histórica quando
afirma:
A consideração do homem como ser histórico implica necessariamente
considerá-lo como ser social e, mais do que isso como ser político. Entendida
a política de uma forma rigorosa e abrangente, a condição política do homem
advém do fato de que ele, em sua historicidade, não pode de modo nenhum
ser tomado de forma isolada. (PARO: 2008. p.26)
Neste contexto podemos afirmar que o ser social conduz à condição do ser histórico
e o ser histórico, assim, cond uz à condição de ser político. De modo que, a
necessidade de sociabilização humana impõe a convivência com grupos e pessoas.
Desta forma, o homem social é, necessariamente , o homem no plural e se ele é
plural, ele se articula com outros: então, ele é necessariamente político,
(PARO:2008). Esta condição política rege a sobrevivência e configura as estruturas
sócias existentes. Portanto, conforme Marx, “a essência do homem é o conjunto das
relações sociais o que o faz afirmar que não é a consciência dos homens que
determina o seu ser, mas, é seu ser social, é inversamente que determina sua
consciência”. (FRIGOTTO:1993).
Desta forma, o processo educacional não está, obviamente, isento deste conflito
incessante entre dominadores e dominados, pois as práticas educativas exercidas
em sala de aula têm historicamente sido permeadas por esta estrutura ideológica.
Segundo Luckesi(2005) as pedagogias hegemônicas que se definiram
historicamente nos períodos posterior à Revolução Francesa estão atreladas e a
serviço do modelo social vigente. Consequentemente, a avaliação educacional
contextualizada nessas pedagogias, estiveram e estão instrumentalizadas pelo
mesmo entendimento teórico-prático da sociedade.
Para que uma sociedade tão complexa funcione é necessária a existência de regras,
normas e leis coletivas que orientam a vida dos indivíduos, que organizam a
estrutura social e legitimam as relações de poder existentes. Para Foucault(1993),
mais importante que a lei na manutenção da ordem social é o poder da norma, pois
segundo ele a norma é a maior responsável pela criação dos padrões de
comportamento social, pois se estende por todo o corpo social.
Embora as Leis e Normas nos pareçam condição para que se estabeleça a ordem
na sociedade e embora pareça uma necessidade coletiva, podemos perceber que a
efetivação das leis e normas, regulamentadas pelo Estado, ocorrem por estarem
atreladas à punição. Assim, provavelmente obedecemos porque a obediência é
gratificante, ou mais frequentemente porque o preço da desobediência (aferido
objetiva ou subjetivamente) é maior, (EPSTEIN :1993). Conforme Saul(2006)
O exercício do poder ocorre por meio das instituições, como o Estado. E por
conseguinte, a escolas, que são grupos sociais sistematizados possuem
normas padronizadas, impostas aos indivíduos na maioria das vezes
independentemente de suas vontades. Esse modelo disciplinador conduz
uma outra postura do professor, ele passa a ser um ditador, usando a
avaliação como arma, ‘um instrumento de controle’ que tudo pode. Através
deste uso exagerado do poder, o professor mantém o silêncio, ‘a disciplina
dos alunos. (SAUL: 2006, p. 49.)
Neste contexto, a idéia de punição está propagada em todo tecido social onde as
práticas educativa estão impregnadas desta concepção. Portanto, conforme
Foucault(1993) a punição exerce o papel de revitalizadora do poder, pois, a
obediência não pertence à condição natural do homem. Assim, o desejo de paz, a
doçura do compromisso, a aceitação tácita da lei, longe de ser a origem das regras e
normas humanas são pelo contrário seu resultado e particularmente sua perversão.
21
Assim entendido, a necessidade de segurança e a opção pela não punição são o
que sustentam o cumprimento as leis e regras criadas e asseguradas pelo Estado
que as cria em nome do coletivo, de forma muitas vezes arbitrária e exercendo a
função de “ regulador social” .
O temor da punição faz com que os homens pensem duas vezes antes de trair
aqueles que consideram superiores e/ou que têm mais força, pois atentar contra
uma estrutura de poder estabelecido é colocar-se forçosamente numa situação de
perigo, (LEBRAUN:1985). Ceder à força consiste um ato de necessidade, não de
escolha é no mínimo um ato de prudência. Na prática educativa não diferente desta
estrutura, o professor, através da avaliação estabelece um jogo de relações onde o
saber, o conhecimento e o crescimento intelectual destituem-se de valor para dar
lugar a um jogo de recompensas e punições.
Em consonância com esta realidade o professor em sala de aula deverá vigiar, punir
ou premiar, inculcando valores(competição, disputa, individualismo) que são próprios
da estrutura social estabelecida, (SILVA:1993). Acresce-se a este contexto o traço
autoritário presente nos processos avaliativos, constituindo-se em um exercício de
poder sustentado pela idéia de punição.
22
Portanto, mesmo sem o uso explícito da coação, aquele que exerce o poder provoca
o comportamento do outro, objetivando garantir a manutenção da estrutura social.
Para Foucault(1993) o poder não é uma propriedade, mas uma estratégia onde os
efeitos de dominação não são atribuídos a uma apropriação, mas a disposições, a
manobras, a táticas e técnicas de funcionamento. Assim, a estrutura de poder
exercida na sociedade é composta, necessariamente , pela coerção e também pela
persuasão, esta representada pela imposição sutil da ideologia dominante
apresentada como uma “verdade imutável”. Este processo conduz ao conformismo,
onde muitas vezes são apresentadas justificativas ditas “científicas” para que esta
estrutura seja entendida como natural. Assim, o dominado é convencido de sua
própria subalternidade e da legitimidade do dominador pelo que Althusser(2001)
chamou de ideologia.
Deste modo esse espaço educacional gerido pelo Estado possibilita a expansão da
ideologia da ordem e da produtividade. A classe dominante busca manter sua
hegemonia por meio de práticas pedagógicas articulando e atrelando o interesse dos
dominados aos seus, portanto, toda ação pedagógica é, obviamente, uma violência
simbólica enquanto imposição por um poder arbitrário, Vasconcellos(2002).
Segundo Frigotto (1993) à medida que a relação mediada entre educação estrutura
econômica social capitalista se efetiva numa sociedade de classes, vai expressando,
cada vez mais intensa e nitidamente os interesse antagônicos que estão em jogo. O
conflito básico capital-trabalho coexiste em todas as relações sociais e perpassa,
portanto, a prática educativa em seu conjunto. A Educação, portanto, tem se
25
revelado como um dos elementos sociais com maior poder de persuasão para a
manutenção da ordem estabelecida.
Por que avaliar causa tanta controvérsia? O que deveria ser uma atividade natural
que consolidaria a garantia da aprendizagem se apresenta impregnada de um poder
simbólico constituindo-se num instrumento de controle e regulação. A avaliação tem
se apresentado como um instrumento condicionador da disciplina e viabilizador do
exercício da autoridade constituída institucionalmente pelo professor. Não sendo,
portanto, diferente dos instrumentos utilizados pelas instâncias do poder no controle
social. Nesta perspectiva, Demo(2002) afirma que é impraticável escamotear a
visível relação entre avaliação e desigualdade social, bem como imaginar que não
avaliando ou fazendo de conta que se avalia, estaríamos com isso eliminando as
desigualdades sociais.
No que se refere ao Exame Luckesi(2005) nos lembra que a Ratio Studioriun, obra
publicada pelos padres jesuítas, em 1599, primeiro sistema organizado da educação
católica, há um capítulo denominado “dos exames escritos e orais” onde estão
definidas as regras de como deveriam ser conduzidos os exames dos educandos
em um colégio dirigido pela ordem Jesuítica. É impressionante como as orientações
que constam nesta obra, que tem mais de quatrocentos anos, ainda façam parte
das nossas ações pedagógicas tais como: “no dia das provas, os estudantes
deverão trazer para a sala de aula todo material do qual necessitarão, tendo em
vista não ter que solicitar nada aos seus companheiros” ; “após terminar sua prova,
o estudante deverá tomar seu material, entregar a prova concluída ao prefeito de
estudos(personagem que tomava conta das provas) e sair imediatamente da sala de
aula”; “o estudante que permanecer na sala de aula, após um colega seu ter saído,
não poderá mudar-se do lugar onde está sentado para o lugar daquele que já
terminou sua prova e saiu”; o estudante que tiver terminado de fazer sua prova,
deverá entregá-la imediatamente ao Prefeito de Estudos e não poderá retomá-la a
não ser depois de corrigida”... essas eram regras para o exames finais de cada ano.
São regras que ainda hoje fazem parte do cotidiano de muitas escolas
principalmente nos dias de provas e/ou testes que equivocadamente têm sido
denominada de Avaliação da Aprendizagem .
Esta obra deixa evidente que a Avaliação era utilizada como instrumento de garantia
da disciplina. A rígida disciplina era cultuada e venerada para estabelecimento da
“ordem” numa sociedade escravocrata. A educação dos jesuítas objetivava a
formação das elites burguesas, para prepará-las a exercer a hegemonia cultural e
política. Os Jesuítas foram como afirma Gadotti (2001), eficientes na formação de
classes dominantes, mas não tiveram nenhum interesse na educação popular.
Seguia princípios cristãos e se opunha a pregação religiosa protestante. O criador
da companhia de Jesus (Inácio de Loyola) estabeleceu uma rígida disciplina e o
culto à obediência a todos os componentes da ordem.
31
Luckesi(2005) afirma ainda, que a pedagogia que surge a partir das teorias
pedagógicas jesuítica e comeniana constituiu o que hoje denominamos Pedagogia
Tradicional. A centralização e a hierarquização características do modelo social são
reproduzidas na prática pedagógica como uma de suas mediações. A luta pela
democratização da educação no Brasil foi árdua, mas não superou as diretrizes da
educação jesuítica.
Conforme Savianni(2007), no final dos anos 70, início dos anos 80 as concepções
críticos – reprodutivistas são disseminadas no Brasil. Estas concepções postulam
não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes
sociais. Influenciada por essas concepções e em contraposição a abordagem
quantitativa surgia nova proposta para avaliação com abordagem qualitativa. A
35
avaliação qualitativa prima pelos seguintes princípios: A objetividade é relativa tanto
na ciência como na avaliação portanto não poderá ser considerada como objetivo
central ou prioritário. As ações humanas são sujeitas as limitações e erros, portanto,
não poderão ser precisas; A posição do avaliador não é neutra, portanto, não está
livre de considerações de valores; Nem a educação nem a avaliação pode ser
considerada como processo meramente técnico; a avaliação não pode ser
desenvolvida unicamente para comparar, de modo asséptico, resultados
conseguidos com objetivos preestabelecidos, observáveis e quantificáveis,
(SAUL:2006).
A prática dos exames através das provas manifesta-se tanto na história da educação
quanto na prática escolar do presente, como um recurso muito especial de exercício
do poder na relação pedagógica. A prática dos exames reproduz o modelo de
administração do poder na sociedade; modelo centralizador. Em última análise, a
avaliação escolar reproduz e legitima as relações de poder de uma sociedade
classista. (VASCONCELLOS:2002)
...o poder que possuo é a contrapartida do fato de que alguém não possui.
Tomemos o exemplo mais anódino: um professor pode ser amigo de seus
alunos, deixá-los chamarem-no de você...Ainda assim detém um poder (de
dar-lhes notas) que os alunos não têm sobre ele. Isto é essencial. E é por
isso que só se pode compreender uma relação intersubjetiva(em qualquer
plano que seja profissional, comercial sentimental...) se for possível
responder a questão quem está em posição inferior? Quem está em posição
superior? – Quem é o soldado? Quem é oficial? (LEBRAN:1985, p.8)
Assim, como em toda ação pedagógica, não existe neutralidade no ato de avaliar.
Como não existe educação isolada das condições sociais concretas, a relação
educador e educando estará também condicionada à lógica da estrutura social
vigente. Vasconcellos(1998), reitera este pensamento afirmando que toda ação
pedagógica é objetivamente uma violência enquanto imposição por um poder
arbitrário, dum arbitrário cultural.
O educador ao servi-se da nota como fim absoluto, demonstra não ter idéia que a
avaliação é um dos vários momentos de coleta de dados a ser realizada dentro do
processo de ensino-aprendizagem, capaz de lhe proporcionar subsídios para um
juízo de valor que permita a tomada de decisão sobre o trabalho pedagógico que
vem sendo desenvolvido. (RISTOW:2008)
Diante deste contexto , há ainda alguns educadores que dizem que “por eles não
haveria avaliação, mas como é exigência do sistema, eles têm que se submeterem”.
Este comportamento embora possa imediatamente representar para o educando
que o educador só vai realizar a avaliação pró forme, mas de forma velada é
também um atitude política que não favorece o educando, pois proporciona a
negação da construção do conhecimento.
Demo (2002) afirma, que é impraticável escamotear a visível ligação entre avaliação
e desigualdade social, bem como imaginar que não avaliando ou fazendo de conta
que se avalia, estaríamos com isso combatendo as desigualdades sociais. Temos
consciência de que esta exclusão no interior da escola não só se dá apenas pela
avaliação e, sim, pelo currículo como todo. No entanto, além do seu papel específico
na exclusão, a avaliação classificatória acaba por influenciar todas as práticas
escolares.
A história da educação formal no Brasil demonstra que a avaliação tem uma função
essencialmente seletiva e classificatória e, portanto, pouco ou muito pouco tem
contribuído para um efetivo processo de aprendizagem. Nesta perspectiva, a
avaliação não é tida como fator de integração ao processo educativo. Entende-se,
obviamente, que para que a avaliação cumpra de fato a sua função, deve analisar a
aprendizagem bem como o ensino. Estudiosos da questão preconizam a
necessidade de eliminar o efeito punitivo da avaliação para que haja , de fato , uma
perfeita integração do processo ensino e aprendizagem.
Assim sendo, uma avaliação não poderá ser caracterizada apenas como um
cumprimento de procedimentos burocráticos é necessário que a avaliação esteja
pautada no enfoque ético da prática educativa deverá ter como prioridade estimular
o desenvolvimento autônomo do educando como pessoa e como cidadão e garantir
sua aprendizagem, seu desenvolvimento, seu crescimento intelectual e moral sem
restrição, ou seja, sem privar sua capacidade de criação e inovação,
(VASCONCELLOS:2002). É nesta perspectiva que Luckesi (2005) afirma que
acolher o educando é o princípio para proceder atividades de avaliação, assim como
toda a prática educativa. Para ele sem acolhimento, temos a recusa. E a recusa
significa o impedimento de estabelecer um vinculo que viabilizaria o trabalho
educativo com quem está sendo recusado, portanto, não haverá efetiva
aprendizagem e nem a construção de um processo eminentemente democrático.
Nesta perspectiva, a relação educador educando deverá está alicerçada na
confiança.
Demo (1996) observa que para que uma avaliação tenha um caráter democrático,
necessita de procedimentos que respeitem os direitos dos avaliados. E para tanto
sugere algumas condições: a avaliação deve ser estruturada de tal forma que o
avaliado possa reagir para poder defender-se; os critérios de avaliação deverão ser
transparentes e consistentes, pois a avaliação que se propõe ser alicerce da
democracia não poderá possuir procedimentos sigilosos e inacessíveis, não apenas
porque significam atitudes pouco democráticas, mas, sobretudo porque impedem
que o avaliado aprenda; o sentido mais profundo da avaliação é a de ser educativa,
não excludente sem, no entanto, gerar farsas. Tudo que não possibilita a construção
45
do espírito crítico, não pode ser educativo. A avaliação precisa assumir a conotação
de diálogo crítico e criativo, para permitir ambiente de aprendizagem; o avaliador
tem obrigação de expressar de modo elaborado as razões da avaliação, sobretudo
quando é desfavorável ao avaliado; Em consonância com essas idéias de avaliação
que proporcionam a democratização do processo educativo e a emancipação da
pessoa humana . Saul(2006) afirma que a avaliação deverá ser emancipatória,
caracterizando-se como um processo de descrição, análise e crítica da realidade,
visando transformá-la. Sua concepção político-pedagógica deverá ser
emancipadora, ou seja, libertadora, visando provocar a crítica, de modo a libertar o
sujeito de condicionamentos deterministas. Os conceitos básicos que envolvem a
proposta são: emancipação, decisão democrática, transformação e crítica educativa.
Os procedimentos de avaliação são norteados pela participação e diálogo de
maneira que, o processo avaliativo só tem razão de ser se constituir como agregador
de valor à qualidade do processo de aprender.
Neste estudo foi possível uma discussão sobre como as relações de poder se
manifesta m no processo avaliativo , o que nos fez perceber como o processo de
avaliação está impregnado de valores pautados na estrutura social e, portanto , não
representando um elemento imparcial de averiguação da aprendizagem, mas, tem
sido, historicamente, um enorme instrumento de exercício do poder. Analisar e
compreender as manifestações da prática avaliativa é ao mesmo tempo
compreender as implicações ideológicas deste processo, é entender aquilo que nela
está implícito. Historicamente a condição de subjugação entre os homens tem sido o
traço de sua existência e diante desta condição, a avaliação tem se manifestado
como um instrumento educativo que consolida esta idéia.
A concepção conservadora e tradicional, embora tão criticada, ainda tem uma forte
influência nas práticas educativas. A autoridade como poder legítimo é indispensável
para a realização da educação, (PARO:2008), porém, muitos educadores não
sabendo exercer esta autoridade utiliza a avaliação como sustentáculo do seu
autoritarismo. O educador no processo educativo detém o conhecimento mais
elaborado sobre a prática social e, portanto, possui autoridade pedagógica. A
autoridade pedagógica é distinta do autoritarismo: enquanto o autoritarismo está
articulado com a coação e o disciplinamento, a autoridade pedagógica está
articulada com a elevação cultural e crítica dos educandos. Enquanto aquele é
disciplinador, esta é participativa. (LUCKESI:1994).
Uma questão da maior relevância é que, sem dúvida, a avaliação vem suscitando, já
algum tempo, entre os profissionais da área uma enorme discussão. Essa grande
48
preocupação é uma prova irrefutável de que há uma evidente insatisfação como tal
atividade vem se realizando e há, portanto, uma busca incessante por uma avaliação
que se aproxime do ideal. A avaliação é crucial à educação. E sua característica
essencial é a investigação pois, se o educador não avalia constantemente sua ação
constrói sua docência em verdades indiscutíveis, absolutas e terminais
(HOFFMAN:2007).
REFERÊNCIAS
_____. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Raquel Ramalhete.
22 ed., Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
50
______________. História das idéias pedagógicas. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
PARO, Vitor Henrique. Educação como Exercício do Poder. São Paulo: Cortez,
2008.
SAUL. Ana Maria. Avaliação Emancipatória . 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2006
SILVA, Ezequiel Teodoro da. Magistério e Mediocridade, São Paulo: Cortez, 1993.
52