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VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS COM A

EDUCAÇÃO BÁSICA DE EJA

PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS PARA UMA PRÁXIS FREIREANA


DE EDUCAÇÃO NA REDE PÚBLICA DO RN

REGISTRO DE ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE A PANDEMIA


RESULTADO DAS PRODUÇÕES DESENVOLVIDAS PARA A
FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE EJA – 2021

VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS COM A


EDUCAÇÃO BÁSICA DE EJA

PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS PARA UMA PRÁXIS FREIREANA


DE EDUCAÇÃO NA REDE PÚBLICA DO RN
VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS COM A EDUCAÇÃO BÁSICA DE EJA
PERSPECTIVAS E DIÁLOGOS PARA UMA PRÁXIS FREIREANA
DE EDUCAÇÃO NA REDE PÚBLICA DO RN

GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE


Maria de Fátima Bezerra

SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA,


DO ESPORTE E DO LAZER –SEEC
Getúlio Marques Ferreira

SECRETÁRIA ADJUNTA
Márcia Gurgel

SUBSECRETÁRIO ADJUNTO
Marcos Lael de Oliveira Alexandre

COORDENADORA DE DESENVOLVIMENTO ESCOLAR - CODESE


Glauciane Pinheiro Andrade

SUBCOORDENADORA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – SUEJA


Liz Araújo

RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DOS TEXTOS


Educadores e Educadoras que trabalham com o ensino de EJA no Rio Grande do Norte

RESPONSÁVEIS PELA ORGANIZAÇÃO


EQUIPE PEDAGÓGICA DA SUEJA
Ana Roberta da Rocha Moreno
Antônio Rosembergue Pinheiro e Mota
Francisco das Chagas de Morais
Maria da Glória Freire da Costa
Maria Kaliza de Arruda Pinheiro
Thaise de Santana Lopes
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 6

AGRADECIMENTOS 8

VÍNCULO AFETIVO: ESSENCIAL NA RELAÇÃO PROFESSOR / ALUNO 11


Marinês Nóbrega de Medeiros Moura

EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS EM TEMPOS DE PANDEMIA NA ESCOLA


ESTADUAL VIRGÍLIO FURTADO: OS CAMINHOS DA EJA 17
Érica Maria Araújo de França
Rita de Cássia Rocha

OFICINA DE ESCRITA PARA ALUNOS PRIVADOS DE LIBERDADE 21


Amanda Aparecida da Costa
Ananias Agostinho da Silva
Gabrielly Thiciane dos Santos Andrade

PROGRAMA EJA EM AÇÃO: O INÉDITO VIÁVEL EM TEMPOS DE PANDEMIA 26


Fabíola Maria Dantas
Iaponira Costa

PLANO DE REINSERÇÃO: RESGATAR PARA AVANÇAR 31


Daniela Deyse Silva de Alencar
Maria Jakilene de Menezes

ATIVIDADES AVALIATIVAS DE BIOLOGIA E HISTÓRIA NO ENSINO REMOTO 36


Leandro Alves Rodrigues
Maria Janiele Pinto da Silva Araújo

ESTUDANTE DE EJA TAMBÉM APRENDE 41


Francisco Alves Galvão Neto

PROGRAMA DE RÁDIO AQUARELA DO SABER 44


Samaya Fagundes
Iracy Morais
Fátima Barreto

REINVENTANDO O ENSINO DA EJA EM TEMPOS DE PANDEMIA 49


Maria de Fatima Fernandes

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS MANOEL PESSOA


MONTENEGRO - CEJAMPM EM AÇÃO 53
Weslayny Crys Fernandes Costa Alves

DESAFIOS DA EJA EM TEMPOS DE PANDEMIA: REINSERIR PARA INCLUIR 58


Gercivan de Oliveira
Vanilson Pinheiro da Silva
Dacy Alves da Silva

POÉTICAS VISUAIS: INSPIRAÇÕES NO MEU COTIDIANO- EJA 65


Crislane Araujo
ALFABETIZANDO A QUATRO MÃOS SOB UM OLHAR FREIREANO 68
Edna Dantas
Maria Aparecida da Costa Campos

PASSAPORTE DA LIBERDADE 74
Areillen Ronney Rocha Reges
Cláudia Oliveira dos Santos Ferreira
Marcus Venicius Filgueira de Medeiros
Rômulo Galdino da Rocha Lima
Yara Gomes de Souza Silveira

DIÁLOGOS EJA: EXPERIENCIANDO RODAS DE CONVERSA 80


Dayze Carla Vidal da Silva
APRESENTAÇÃO

Amoroso (a) Professor (a),

A Secretaria de Educação e Cultura do Esporte e Lazer do Rio Grande do Norte (SEEC),


por meio da Subcoordenadoria da Educação de Jovens e Adultos (SUEJA) e apoio das
Diretorias Regionais de Educação e Cultura (DIREC), realizou a III Formação Continuada, II
Círculo de Diálogo Paulo Freire para Educadores e Educadoras que trabalham com a
Modalidade EJA.
É com muita felicidade que retomamos esse processo de encontro e diálogo com todos
e todas que fazem a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Uma partilha não apenas didática, e
sim, uma partilha amorosa. Portanto, neste ano de 2021, quando se comemora o Centenário de
nosso amoroso Patrono da Educação, Paulo Freire, comemoramos também a realização de nossa
III Formação Continuada. Uma formação voltada para o desenvolvimento do trabalho
educacional, tanto aquele que ocorre em espaços escolares quanto em espaços não escolares, e
sempre voltada para um público muito especial: nossos jovens, adultos e idosos do RN.
Em razão das consequências geradas pela pandemia, estamos num momento ainda
desafiador. A aptidão humana de reinventar seu modo de viver mostra-se primordial e é refletida
em todos os aspectos, sobremaneira, no modo de compreender e fazer a Educação. Diante das
dúvidas sobre esse novo percurso e das possibilidades diversas de comunicação com nossos
estudantes, ouvimos a voz e a experiência do educador e educadora que atuam com a EJA. Um
processo formativo delineado e edificado na boniteza e coragem das lições do inolvidável
mestre Paulo Freire.
A III Formação Continuada – 2021, objetivou ser um espaço para o compartilhamento
das experiências vividas pelas DIRECs/escolas. Assim, a SEEC/SUEJA convidou educadores
e educadoras a socializarem suas experiências, através dos Círculos de Diálogos que ocorreram
nos dias 20, 21 e 22 de julho de 2021. Cada DIREC foi convidada para indicar uma experiência
significativa vivenciada por uma escola de sua circunscrição, ou mesmo por sua equipe
pedagógica, no período de pandemia. Os Círculos de Diálogos foram organizados do seguinte
modo:

6
DATA CÍRCULOS DE DIÁLOGOS - TEMAS DIRECs
RESPONSÁVEIS
CÍRCULOS DE DIÁLOGO I: ESTRATÉGIAS DE ENSINO 1ª,4ª, 7ª,10ª,13ª,16ª
20/07/2021 REMOTO EM TEMPOS DE PANDEMIA, SOB O OLHAR
FREIREANO.
CÍRCULOS DE DIÁLOGO II: PLANO DE REINSERÇÃO 2ª, 5ª, 8ª, 11ª, 14ª
21/07/2021 COMO ESTRATÉGIA INCLUSIVA DE EDUCAÇÃO E
PRÁXIS FREIREANA.
CÍRCULOS DE DIÁLOGOS III: ESTRATÉGIAS 3ª, 9ª,12ª,15ª
22/07/2021 INTERDISCIPLINARES EM DIÁLOGO COM OS SABERES
COTIDIANOS DOS(AS) ESTUDANTES DA EJA: UMA
PERSPECTIVA FREIREANA.

A proposta que pensamos foi idealizada com o intuito de ponderar, compartilhar,


integrar, simplesmente unir. A educação precisa ser compreendida de modo reflexivo, sendo
norteada por uma práxis que priorize um fazer pedagógico embasado na interação com nossos
estudantes da EJA. Dessa forma, as palavras de nossos educadores e educadoras em cada
momento de partilha e o olhar de cada um deles refletia a amorosidade e os ideais freireanos.
Assim, no decorrer dos referidos dias, foram experienciadas várias possibilidades
encontradas pelos professores (as) para realizar o trabalho com os estudantes durante a
pandemia. É possível identificar em cada relato, o empenho, a dedicação e o compromisso de
cada profissional para dar continuidade ao trabalho de aprendizado com o público da EJA, de
maneira criativa, cheia de significado e contextualizada com cada realidade.
Vivenciamos um momento ainda desafiador e muitas sequelas precisam ser tratadas.
Para nossa caminhada, entretanto, não estamos sozinhos. Caminhamos juntos, amorosos e
corajosos, em uníssono com as palavras de Paulo Freire: “A amorosidade de que falo, o sonho
pelo qual brigo e para cuja realização me preparo permanentemente, exigem em mim, na minha
experiência social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de amar!” .

EQUIPE SUEJA

7
AGRADECIMENTOS

O banquete teórico e prático que estamos apresentando neste material, valida os


conhecimentos e experiências patenteados no fazer dos educadores e educadoras que estão na
educação básica da Educação de Jovens e Adultos. Na singularidade das paixões pela EJA que
se interioriza nesses educadores (as), estão sempre presentes a criação, a criatividade, a
interpelação e, acima de tudo, o desejo de ampliação do acesso e permanência de todos e todas
à educação, num esforço coletivo que garanta a educação como direito primordial para a
formação de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade.
Aqui estão transcritos um conjunto de experiências, práticas e pensamentos de
educadores e educadoras que atuam com a EJA em espaços escolares e não escolares. Trata-se,
portanto, de uma organização coletiva e cooperativa que traz a viabilização do saber de forma
socializada e concreta, rompendo com a cultura escolar de padronização e intervenções
elaboradas de cima para baixo.
Nossa gratidão aos educadores e educadoras que estão compartilhando suas experiências
neste espaço colaborativo. Gratidão também àqueles que não fizeram seus relatos neste
material, mas que atuaram com dedicação e esforço para acolher e acompanhar nossos (as)
estudantes. Quando todos “esperançamos” juntos, misturados e diversificados fazemos a EJA
acontecer e damos corpo, com ética e amorosidade, às interações pedagógicas escolares na EJA
inclusiva que tanto queremos, sonhamos e lutamos para construir.
Essa forma política e criadora que traz relatos dos educadores nas formações continuadas
e nos nossos materiais de apoio vem oferecendo novos momentos de reconstrução com a
modalidade EJA, o que gera desdobramentos a partir das necessidades de diálogos que se dão
nas relações entre professor e estudantes, sem os limites de modelos preexistentes e impostos.
O momento dessa criação e socialização revela que não estamos sós, nem educadores,
nem estudantes, nem gestores. Estamos unidos no mesmo objetivo que é o de viabilizar o
processo de aprendizagem com a melhor forma de acesso ao conhecimento. Para que, assim, se
vença o maior desfio da educação: a ampliação da política de acesso e permanência de cada
cidadão e cidadã nas redes escolares.
Salve o povo de EJA. Salve a escola pública brasileira. Salve os saberes da e na
diversidade!
Liz Araújo
(Subcoordenadora da SUEJA)

8
CENTENÁRIO DE PAULO FREIRE (1921 – 2021)
PATRONO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

“A AMOROSIDADE de que falo, o SONHO pelo qual

brigo e para cuja realização me preparo

permanentemente, exigem em mim, na minha

experiência social, outra qualidade: a CORAGEM DE

LUTAR AO LADO DA CORAGEM DE AMAR!”

(Paulo Freire)

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CÍRCULO DE DIÁLOGOS I

ESTRATÉGIAS DE ENSINO REMOTO EM TEMPOS


DE PANDEMIA, SOB O OLHAR FEIREANO
DIRECS: 1ª, 7ª,10ª,13ª,16ª

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OFICINA DE ESCRITA PARA ALUNOS PRIVADOS DE LIBERDADE
Amanda Aparecida da Costa7
Ananias Agostinho da Silva8
Gabrielly Thiciane dos Santos Andrade9
Penitenciária Estadual do Seridó (PES) - Caicó/RN (10ª DIREC)

Considerada uma das competências mais relevantes na vida de um indivíduo, a escrita,


hoje, é entendida como ferramenta de aprendizagem capaz de indicar o sucesso escolar de um
estudante, uma vez que percorre os processos de construção do saber em diversas áreas. É nesse
sentido que algumas propostas de trabalho surgem, em vários níveis e modalidades
de ensino, para proporcionar
experiências com a escrita que vão além do
domínio de regras ou métodos de produção de
textos aos estudantes, possibilitando
autonomia e protagonismo nos
processos de interlocução a partir do
desenvolvimento da competência da escrita. Essa
perspectiva vai ao encontro do pensamento de
Paulo Freire (2003, p. 26-27), quando afirma que
“é necessário oportunizar a expressão das vozes
aos que foram e estão calados, e o diálogo é a
forma concreta de realizar o encontro dos
homens”. Assim, o professor precisa enxergar os
alunos como sujeitos autores e atores de sua
própria história.

7
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino - UFERSA/UERN/IFRN. Especialista em Linguística e
Ensino do Texto - UFRN. Licenciada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas
Literaturas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Professora temporária da SEEC/RN, na
10ª DIREC. E-mail: amanda17aparecida@gmail.com.
8
Doutor em Estudos da Linguagem. Professor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Programa de Pós
Graduação em Ensino. Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto. E-mail:
ananias.silva@ufersa.edu.br.
9
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino - UFERSA/UERN/IFRN. Licenciada em Letras com
habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade do Estado do Rio Grande -
UERN. Professora efetiva da SEEC/RN, na 12ª DIREC. E-mail: gabriellythiciane@gmail.com.

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Nossa prática leva em conta essa abordagem, quando realizamos uma atividade com
finalidade de apresentar estratégias de aprendizagem da escrita e proporcionar a alunos privados
de liberdade possibilidades de democratização do conhecimento e o fomento à interação entre
estudantes da penitenciária e a comunidade acadêmica.
Além disso, com base na Lei Complementar nº 12.433, através do Art. 126º, que dispõe
sobre a remição de pena em regime fechado ou semiaberto “por trabalho ou por estudo, parte
do tempo de execução da pena, sendo a cada doze horas de frequência escolar - atividade de
ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação
profissional”, os alunos privados de liberdade, público alvo desta oficina, apresentaram
considerável interesse em atividades educacionais, uma vez que almejam o benefício legal de
remição penal.
Assim, o Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto (GPELT), em parceria
com a professora Amanda Aparecida da Costa, servidora da Secretaria de Estado da Educação,
da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC/RN), lotada no Centro de Educação Jovens e Adultos
Senador Guerra (CEJA), da cidade de Caicó-RN, da 10ª Diretoria Regional de Educação e
Cultura (DIREC), realizou a atividade Oficina de escrita para alunos privados de liberdade
voltada para alunos do Ensino Fundamental II da Penitenciária Estadual do Seridó (PES)
candidatos ao Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos para
Pessoas Privadas de Liberdade (ENCCEJA - PPL).
Para concretizar a oficina, além da professora titular da turma, a prática exitosa contou
com a colaboração do professor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)
Ananias Agostinho da Silva, doutor em Estudos da Linguagem, da professora Gabrielly
Thiciane dos Santos Andrade, servidora efetiva de Língua Portuguesa no quadro de
funcionários da SEEC/RN, lotada na 12º DIREC e da Policial Penal Francisca Gomes da Silva,
funcionária efetiva da Penitenciária Estadual do Seridó (PES), na cidade de Caicó/RN.
A Penitenciária Estadual do Seridó (PES), localizada na Rua da Liberdade, bairro
Salviano Santos, município de Caicó/RN, oferece a educação continuada nos níveis de Ensino
Fundamental I e II e Médio, desde 2003, através do projeto Educando para a Liberdade,
gerenciado pela SEEC/RN, em parceria com a Subcoordenadoria de Educação de Jovens e
Adultos (SUEJA), 10ª DIREC e o CEJA Senador Guerra.
Atualmente, estão matriculados, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, 43 homens e
10 mulheres privados de liberdade. Nos anos finais, são 41 homens e 13 mulheres. No Ensino
Médio, 19 homens e 03 mulheres. Já no ensino superior, são 09 homens e 02 mulheres em
condição de apenado. O ingresso no ensino superior é por meio do ENEM PPL, que possibilita

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o ingresso em Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas. Nesse sentido, o
público-alvo desta oficina foram os alunos do Ensino Fundamental dos anos finais que, durante
o período da oferta, estavam cursando as disciplinas correspondentes à área de conhecimento
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, sob ministração da docente Amanda Aparecida da
Costa.
Na produção escrita, a maioria dos alunos enfrenta inúmeras dificuldades, e isso se torna
ainda mais acentuado quando se trata de alunos que estão privados de liberdade e, portanto, de
informação. Foi a partir de Geraldi (2002, p. 117) que se pergunta “para que tem servido o
ensino de português, se o estudante não "aprende" o domínio real da língua escrita?” e também
das experiências da docência no sistema prisional que surgiu a ideia de elaborar uma oficina de
escrita para contribuir com o desenvolvimento da prática de produção textual.
Diante dessa realidade, a oficina se justificou pela necessidade de aprimorar a prática de
escrita de alunos do Ensino Fundamental da PES - Caicó/RN que estão privados de liberdade e
estão limitados ao conhecimento que é trazido pelos professores da unidade. Portanto, com essa
oficina foi possível estabelecer uma parceria com o GPELT, da UFERSA, e contribuir para o
processo de formação e aprendizado de alunos que buscam, através do estudo, a ressocialização
na sociedade.
Em se tratando da educação no contexto prisional, Onofre (2007, p. 19) aponta o
significado da escola na prisão para alguns privados de liberdade como formas de “ocupação
do tempo e da mente com coisas boas”. Já na concepção de outros, privados de liberdade
percebem a educação na prisão “como possibilidade de melhoria de vida quando em liberdade”,
além do “sentimento de tempo perdido, destruído ou tirado de suas vidas, e que pode se
configurar com o motivo que os leva à escola” (ONOFRE, 2007, p. 19). Há de se considerar
que a educação na prisão desempenha funções imensuráveis, desde o simples fato de amenizar
a ociosidade até a restauração de suas identidades e ressignificação de suas vidas para uma
futura reintegração social.
Para Onofre, “as prisões caracterizam-se como teias de relações sociais que promovem
violência e despersonalização dos indivíduos” (ONOFRE, 2007, p.12), sendo a educação na
prisão uma alternativa capaz de restaurar aspectos negativos internalizados na subjetividade dos
privados de liberdade, pois, considera a educação indispensável. Para isso, compreende-se que
a educação no sistema prisional tem seu amparo legal na Constituição Federal de 1988, onde,
em seu artigo 205, estabelece que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

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desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho” (BRASIL, 1988).
Diante dessa contextualização, a oficina foi promovida no dia 15 de julho (quinta-feira),
no horário das 13h às 16h, através da plataforma do Google Meet de forma síncrona. Para
estabelecer a conexão entre os professores Ananias Silva e Gabrielly Santos, que, no momento
da oficina, estavam em suas respectivas casas, a policial penal Francisca Gomes e a docente
Amanda Costa realizaram a reunião
virtual através do notebook e
ampliaram a tela por meio
retroprojetor para que todos
pudessem ter acesso à reprodução da
atividade ao vivo. Dessa forma, os
alunos puderam participar de uma
comunicação com a comunidade
acadêmica e interagir virtualmente
para assistir à oficina e tirar suas
principais dúvidas sobre escrita de
texto.
Na prática, a oficina de redação abordou como são realizadas as provas do ENCCEJA -
PPL, explicando o passo a passo de como o exame é realizado. Para melhor compreensão dos
alunos, usou-se imagens de propostas de redações anteriores, explorando a importância da
leitura e interpretação dos textos motivadores, da necessidade de compreensão do tema sugerido
na proposta de redação do exame, e também como seguir a estrutura adequada do gênero
solicitado no comando da questão de redação. Além disso, foi apresentado quem avalia as
redações, as competências exigidas e estrutura de uma redação de caráter
dissertativo/argumentativo.
Através dos slides apresentados, os professores mediadores expuseram exemplos de
redações e motivaram os alunos à elaboração de tese e sustentação através de argumentos. Para
finalizar, foi aberto um momento de interação, no qual os alunos puderam tirar suas dúvidas e
apresentar suas perguntas sobre a temática, estrutura do gênero, tipos de argumentos,
demonstrando assim interesse para o início das produções textuais. Depois do momento virtual,
os alunos tiveram uma aula prática, presencialmente, com a docente Amanda Costa, onde
produziram um texto dissertativo-argumentativo, a partir dos conhecimentos mediados pelos
professores.

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Os organizadores da oficina procuraram desenvolver uma atividade que, além das
competências de escrita, servisse também como uma prática social, logo a ênfase foi dada na
consciência de temáticas que confrontam com os problemas coletivos. Essa orientação tem o
propósito de levantar valores que fortaleçam a confiança dos alunos e assim possa contribuir
para o exercício da cidadania em seu regresso à sociedade, embora o público esteja em situação
limite tida, segundo Freire define, como barreiras. Assim, o autor esclarece que “na realidade
são essas barreiras, essas situações-limites que mesmo não impedindo, depois de percebidos
destacados, a alguns e algumas de sonhar o sonho, vêm proibindo à maioria a realização da
humanização e a concretização do ser mais.” (FREIRE, 1992, p. 206-207).
Sendo assim, a oficina foi elaborada tomando como base os ensinamentos de Paulo
Freire ao afirmar que apesar da escola ter a função conservadora, por que já reflete a sociedade
injusta, os espaços se tornam a própria força necessária no enfrentamento dos problemas a partir
dos atores da educação com seu destacado papel político pedagógico. O educador deve entender
que a educação não é neutra, por isso é preciso ter ciência sobre a concepção de homem, mundo
e sociedade o qual defende. Essa consciência pode favorecer a tomada de posicionamento
crítico por parte dos alunos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.

BRASIL. Constituição. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio


de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. 3 ed. São Paulo: Editora Ática,
2002.

Lei n. 12.433, de 29 de junho de 2011 (2011). Altera a Lei nº. 7210/84 de 11 de julho de 1984
e dispõe sobre a remição da pena por estudo. Brasília, DF. Acessado em 13 de agosto, 2021 em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm

ONOFRE, Elenice Maria Cammarosano. Educação Escolar entre as grades. São Paulo,
Ed.UFSCar, 2007.

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