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SALUM, M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de m useologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
lógico e plano de exposição, bem como ao seu pla ravolo 1993 (sobre a coleção e exposição do MAE)
nejamento. e Salum 1988 (sobre classificação e coleções afri
Paralelamente a tudo, foi necessário ajustar a canas de museus no Brasil). Grata oportunidade
implantação de um processo de documentação do para registrar urna auto-crítica - silenciosa, pois
acervo (ainda inexistente na ocasião), que é do tipo que sem remissões diretas, mas humildemente de
universalmente convencionalizado como de Arte sarmada - com relação a este último citado, já que
Africana. Refiro-me à produção plástica e estética nele a Coleção do Museu Afro-Brasileiro não figu
de inspiração secular e tradicional dos povos africa ra com a atenção merecida desde aquela ocasião.
nos até época recente, que, na maioria dos casos, É por isso que considero este texto como urna
desapareceu das sociedades de origem devido ao “reunião de reflexões”, já que se apresenta como
fato colonial, e que hoje encontra-se parcialmente uma continuidade de um processo inesgotável de
conservada em coleções particulares e museológi- amadurecimento e revisão, voltado à concepção
cas. Além disso, sabemos que a “descoberta da arte de trabalho com um acervo africano, procurando
africana” deve-se, originalmente, à Etnologia e à reiterar sua importância especial entre nós. Se de
História das Religiões. um lado, devemos constatar que as peças africa
Nesse sentido, uma coleção africana não pode nas que conservamos não alcançam, na sua enor
ser tratada como uma coleção genérica da cultura me maioria, a primazia de que gozam coleções
material, sem as prerrogativas oferecidas pela His inteiras no mundo ocidental, em particular na Eu
tória da Arte, pela Tradição Oral e pela Etno-estéti- ropa, não podemos, de outro lado, depreciar o ines
ca africanas - estas, como sustentáculo de todo o timável valor dos testemunhos plásticos e da cultu
projeto museológico. Isso justificaria a elaboração, ra material que integram coleções como a do Mu
baseada nessas prerrogativas, de um thesaurus es seu AFRO.
pecífico (ainda inexistente), redimindo o papel que Esses testemunhos são instrumentos sensíveis
a Arqueologia e Etnologia tiveram especialmente no processo de construção de identidade, especial
na África, ao longo do processo em que a qualidade mente no Brasil que mantém relações umbilicais e
do objeto passou de etnográfico a museográfico, históricas com populações do continente africano,
ou ao longo de um passeio conceituai, sem nenhu podendo propiciar às pessoas de todas as nações
ma isenção, entre os conceitos de artefato e objeto caminhos mais humanos para interagir com o que
de coleção. hoje se denomina “globalização” - fazendo-nos
Esse problema desperta meu interesse no nível preservar, ou redescobrir, nossa “especificidade
da fundamentação teórica, mas é na prática e no afro-”
campo museológico e das coleções que ele emerge2 No texto original para publicação, o assunto
nem sempre dentro das “salas de exposição” mas estava dando forma de artigo à Proposta de um
necessariamente em função delas, e do público in projeto de exposição permanente (Salum 1995a),
teressado e especializado. que apresentamos ao CEAO como relatório da con
E é no momento em que se fecha a exposição sultoria prestada. No final, acrescentamos breves
até hoje em vigor para a remontagem dessa nova observações sobre o andamento do plano da nova
exposição de longa duração do Museu AFRO, que exposição de longa duração do Museu AFRO, que
a Revista do MAE abre-nos espaço para publicar neste momento se encontra em fase preparativa
uma produção científico-académica elaborada ao para montagem.
longo de dois anos face a esse novo projeto de Sal
vador, como o fez em ocasiões anteriores, duas das
quais publicando artigos correlatos - Salum, Ce- II - Do acervo ao projeto expositivo
A) Diagnóstico do acervo
(2) Sou de origem artista plástica e licenciada em Educação do Museu AFRO-CEAO/UFBA
Artística. Meu ingresso na Antropologia (Etnologia e arte
africana) deu-se graças ao vínculo de pesquisa com o Mu
O acervo do Museu Afro-Brasileiro é compos
seu de Arqueologia e Etnologia-MAE da Universidade de
São Paulo desde 1981, responsável pela oportunidade, em to por uma grande diversidade de peças da cultura
1984, de realizar estágio em museus africanos especializados material de origem ou inspiração africana, tanto
como o de Tervuren (Musée Royal de l ’Afrique Centrale). do ponto de vista de proveniência como da funcio
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ciedades Fon (jêje) e dos Yorubá (nagô)5 e, em tu cidade é tão vigoroso -, projetando um exemplo
do, mais representadas que as da África central no de alcance afro-americano (cf. objetivos em Jefer-
acervo através de peças originais. son 1995b), além de fomentar os estudos africa
O novo plano expositivo que sugerimos, ao nistas que integram os propósitos do CEAO relati
contrário, procura dar ao visitante uma dimensão vos à extensão e pesquisa universitária.
da diversidade étnica no continente africano como
um todo, destacando África de Brasil, já que as B) Da conceituação da
semelhanças entre culturas de sociedades tradicio exposição de longa duração
nais dos países africanos e a da sociedade brasileira
são irrefutáveis - não apenas, mas especialmente A África é um território em constante redivisão
- na plasticidade e na iconografia, já que “materia em virtude do fato colonial recente (1885 - década
lizadas” nos objetos. de 60) - isso, aliás, estabelecendo um contraponto
Além do que, as semelhanças, ou unidade cul com o Brasil colonial (1500-1822) nas relações his
tural, devem ser explicadas não pela generalidade, tóricas e culturais comuns entre as partes. Disso
mas, pelo menos, por dois fatores. O primeiro é decorre a dificuldade teórica em “congelar” (como
que a escravidão distribuiu em territórios brasilei se fosse possível trazer um “retrato” da Africa para
ros diferentes africanos de mesma origem, dificul dentro do espaço museológico) todo o processo
tando o reagrupamento étnico no Brasil. O segundo dinâmico de modernização e mudança social.
é que, apesar de o maior contingente de imigração Essa dificuldade, porém, não deve ser argu
recente (século passado) no Brasil, e na Bahia, ter mento para restringir a história da África ao assen
sido jêje-nagô, muito do mundo bantu continuou tamento dos europeus naquele território no fim do
se revelando presente desde tempos imemoriais.6 século passado, como se, por outro lado, a chamada
Podemos pensar que a incorporação que se África pré-colonial tivesse descontinuidade históri
mostra prioritária de peças referentes às tradições ca, a menos que, erroneamente, fosse vista, confor
ancestrais no Togo, Nigéria e Benin no Museu me ocorreu no pensamento científico ocidental nos
AFRO corresponda ao destaque, quando da for séculos precedentes, como um bloco monolítico.
mação do acervo, e até uma década atrás, dos can Por isso, ao contrário, deve-se falar da situação
domblés de origem jêje, nagô e fon, em particu colonial que perdura até anos recentes, principal
lar na Bahia. mente porque é de dentro dela que provêm os obje
E, aqui, finalmente, tocamos no ponto mais tos que constituem coleções africanas como as
suscetível, mas dos mais importantes para a com nossas no Brasil. Não deixam, por isso, de ser teste
preensão da nossa realidade e do imaginário brasi munho da tradição (vez que a materialidade per
leiro: a polarização entre o mundo yorubá e o mun mite uma forma de “resistência” negada no plano
do bantu. Pois se o mundo yorubá é mais conhecido social), mas também testemunham toda a dinâmi
entre nós - sendo às vezes tomados pelo todo: a ca, alteridade e decolagem tradição-modemidade
África - , há de outro lado uma forte tendência, ao nas diversas regiões africanas, entre si, internamen
se tentar superar o problema, em contruirmos um te, e externamente, com o exterior. E aqui nos en
novo mito: o dos bantu. quadramos os brasileiros também.
Dessa forma, o Museu AFRO, em Salvador, Qual é, então, a diferença entre o Brasil e os
redefinindo-se hoje como um autêntico “museu de países europeus? Trata-se de uma questão menos
etnologia africano e afro-brasileiro” ou “etnográ histórica, e mais de tempo-espaço sócio-cultural.
fico” (Bacelar 1995a), exerce seu papel devido à O acervo, apesar de focar relações Brasil-África,
comunidade no que diz respeito ao processo de determina um posicionamento antropológico e
construção de identidade sócio-cultural - que nessa etno-histórico.
À apresentação da exposição é imprescindível
um texto explicativo sobre o potencial do acervo,
(5) Esses grupos étnicos são politicamente divididos na atua que deve ser aproveitado em informações sobre
lidade pelos limites do Togo. Benin (ex-Daomé) e Nigéria.
organizações sócio-políticas tradicionais da África,
(6) Ramos (1979), Bastide (1967) são clássicos para o iní
cio dessa discussão. No que diz respeito aos Candomblés
permitindo ao visitante estabelecer discernimento
do Brasil, ver, entre outros, Carneiro (1967) e Prandi (1991). entre realidades brasileiras e africanas. Pois, repre
Ver tb. Encontro (1984). sentativas dessas organizações, a maioria das peças
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coisa ao gosto do observador ou do expositor, como trabalhos visando à montagem da exposição per
diz Hainard (1988). À museologia estrito senso tal manente, agora chamada de longa duração.11
vez isso fosse concedido, mas pior, aqui, seria o
compromisso com o pensamento estrutural exacer B) Tipologia utilizada na apreciação do acervo e
bado. E isso não sendo suficiente, devemos refutar na formulação da proposta para o Museu AFRO
a influência daqueles que, baseando-se em Leroi-
Gourhan (1984), relegam a forma à mercê da téc 1) Tipo do objeto:
nica e do material. Pois qualquer objeto - por mais
utilitário que pareça - constitui-se de um complexo máscaras, estatuetas, armas, ferramentas, ins
símbolo-significado predestinado pelo uso, mas trumentos musicais, utensãios, tecidos, conside
não necessariamente caracterizado pela função, rando uso, função e/ou representação universal.
pois que às vezes o que importa é a matéria (exem 2) Material e técnica:
plo disso são alguns objetos rituais, seja na sua
estrutura ou em seus adereços). Assim é que, se tecelagem, cestaria e trançado, metalurgia {fer
existe relação entre técnica e material, ou material ro e bronze), cerâmica, arquitetura, penteados etc.
e função, nada disso permite inferir com precisão Observa-se que parte do acervo está assim clas
o modo de vida de um povo, como dita Leroi. E, sificado na Sala Fazer da exposição atual.12
por fim, se devemos refutar o determinismo cultu Trata-se de um critério usando parâmetros uni
ral, não podemos, sem precauções, aceitar hipóte versais. Organiza termos do critério anterior e ab
ses de recorrências universais. sorve peças que por ele se excluem, como “fotos
Cabe-nos, ainda, pensar nas classificações de de contexto” demonstrando emprego e finalidade,
âmbito geográfico-cultural, ou espaço-ambientais ou objetos relacionados a seus termos como um
- ou melhor, étno-estilísticas -, através das quais tear junto de tecidos correspondentes, e as peças
as categorias de tempo-espaço do objeto possam que demonstram o processo de escultura de uma
ser consideradas por quem o observa. Desse modo, máscara géledé**,13 por exemplo.
é possível criar um campo de isenção - aquele que Como o anterior, esse critério permite, cruzan
traz à consciência a diversidade -, já que as classi do dados obtidos pelo critério regiões geográficas
ficações por função, forma, ou mesmo as “semânti e estilísticas (ver adiante), quantificar o potencial
cas” nos levam a associações, e a campos, diga expositivo do acervo.
mos, de identificação por semelhança (o que pode, 3) Categoria temática do objeto (os exemplos
sem esse campo de isenção, ser confundido com dados existem no acervo):
“identidade”). São muitas as classificações desse
tipo. Fugindo daquelas que ditam “áreas culturais” a) objetos utilitários (relativos à vida cotidia
ditadas pelos difusionistas, ou das baseadas em cri na e a técnicas de produção e comércio), ex: utensí
térios tecnológicos, de origem evolucionista, desta lios, mobiliário, ferramentas, instrumentos musi
camos, entre as mais isentas, as de Leíris & Delange cais, armas, panos, teares.
e de Unesco.10 E, por último, qualquer que seja a
classificação adotada, ela, lembramos, deve ser
adaptada, levando em consideração o que o acervo (11) Extraído de Salum 1995b, aqui adaptado e revisto.
Cf. tb. projeto de implantação (Jeferson, Cunha, Salum
oferece, bem como adequada à realidade do que
1996).
ele exprime, ou pode exprimir, sobre as relações (12) Não mais em vigor. Trata-se de uma das três salas de
África-Brasil e Américas. exposição permanente chamadas “O Fazer”, “O Crer”, “A
Eis agora o que foi sugerido como metodolo Memória” (cf. Museu 198-?).
gia ao CEAO para dar sustentação ao início dos (13) Todos os termos assinalados com (**) correspondem
a categorias ou nomes de objetos já bastante familiariza
dos e vulgarizados pelos catálogos e obras de divulgação
das artes africanas. Algumas publicações especializadas tra
(10) Aqui, vemos três modos de abordagem: “Materiais e zem um glossário em que normalmente são mencionados.
técnicas” “História”, e “Zonas estilísticas” Esta última Um dos que, a meu ver, parece interessante para consulta
subdividida em “Regiões sudanesas; Costa e selva atlânti eventual é o de Leíris, Délange (1967:425-48) e Balandier,
ca; Golfo da Guiné, Bacia do Congo; Regiões do Leste e Maquet 1968. Alguns poucos termos afro-brasileiros tam
do Sul” O que interessa não é a nomenclatura das partes, bém vão grifados assim, por serem menos usuais, mas de
mas o que determina a divisão do todo. fácil procura.
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b) objetos rituais (relativos a mitos, usados mentos”** de divindades (peças de metal que não
na adivinhação, ritos e cultos e práticas mágico- devem ser confundidas com bastões, “ferramentas”
medicinais), ex: a réplica da estatueta “maternida - nome usual entre os iniciados - , pois são antes
de” Bena Luluwa do MRAC, objetos do culto de de mais nada altares - termo não adotado nesta
Ifá, os ibeji**, “bonecas” como as akua-ba** de tipologia ou fazem parte deles).
Gana, “ferramentas” de orixás, as insígnias edan**
4) Áreas temáticas:
dos Ogboni, entre outros.
c) objetos de prestígio (bens e insígnias sociais a) sistema de crenças e visão de mundo
e políticas), ex: bastões, e outros atributos rituais - natureza - meio ambiente, cosmología, vege
ou utilitários, como bancos de chefes dos Ashanti, tais, animais, minerais, medicina tradicional, topo
jóias, símbolos de alguns orixás** (enquanto che nimia
fes políticos na Nigéria, Benin), tapeçaria dos Ba- - indivíduo e sociedade - educação e identida
kuba do Congo (ex-Zaire), entre outros. de, culto de ancestrais, noção de pessoa, noções
d) objetos comemorativos ou cerimoniais (de de fertilidade, fecundidade e descendência (“ances-
representação coletiva, funerários, relativos à autori tralidade”)
dade e ao poder, e os de culto de ancestrais), ex: - pensamento e filosofia - noções de força
réplicas de estátuas (ndop** e “efígies reais”**), da vital, tempo mítico, cosmogonia, oralidade, o prin
estatueta “maternidade” dos Bakongo, das figuras cípio dual e antropomorfismo
com cariátides dos Baluba e da cadeira de chefe dos b) sistema sócio-político
Batshokwe - todas do MRAC algumas máscaras - poder político (relações entre sagrado e pro
a serem determinadas, os asèn** dos Fon, os “reca fano: sacralização do chefe, significado do terri
des”**, “cabeça de bronze”** do tipo dos Bini, e tório e da economia)
alguns outros produtos de bronze e cerâmica (?). - organização social (noções de autoridade e
e) objetos educativos (que são suporte de co poder, modo de vida, cotidiano)
municação e veículo de mensagens socializantes, - etno-história (história oral e cultura material)
e os que estão relacionados com a transmissão oral - tempo cronológico (pré-colonial, colonial e
da história), ex: algumas máscaras, como as géledé, contemporâneo)
enfocando o significado da iconografia proverbial; Organiza termos do critério anterior, conside
bonecas akua-ba; pesos de ouro dos Ashanti de rando aquilo que o acervo possui para representar
Gana; os “récades” e os asèn, aqui também; panos questões e sociedades enfocadas pelo Museu e o
de Benin (com emblemas reais, e outros ideogra potencial expositivo do acervo.
mas proverbiais).
5) Regiões geográficas e estilísticas:
f) objetos estéticos (enfoque artístico univer
sal, relativos a regiões tradicionais estilísticas e his a) proveniência (centro de produção, produtor
tóricas, e a processos técnico-artísticos tradicio e usuário), visando ensino e pesquisa, por local de
nais), ex: estátuas e máscaras, jóias, tecidos, “arte origem - “ateliê” ou artista; cidade ou aldeia; che
de corte”**, objetos que ilustrem processos técni fias e reinos; comunidade ou grupo étnico; país
cos e produtos das diversas artes atual; regiões estilísticas - a partir da documenta
É um critério específico, referente ao emprego, ção original do acervo ou de pesquisa especializada
à finalidade e à representação do imaginário so b) procedência, visando a curadoria e pesquisa,
cial (do contexto sócio-cultural de origem). Seus por local de aquisição, a partir do levantamento do
termos são estipulados a partir do exame prelimi histórico institucional. No caso de ser doação, ou
nar do conjunto de peças da coleção. As peças, depósito por empréstimo, e não havendo documen
que podem ter mais de uma dessas qualidades, es tação suficiente, seria desejável entrevistar antigos
tarão assim classificadas conforme o potencial di curadores e, se possível, proprietários anteriores dos
dático e de pesquisa do acervo. objetos (museus ou outras instituições, galerias, lo
Pode ser determinante na escolha de áreas te jas e mercados, coleções ou colecionadores).
máticas para a exposição do acervo. É importante para o recadastramento e, even
Além de dar dimensão antropológica à peça, tualmente, para a identificação de peças, mas so
esse critério absorve as demais peças excluídas pe bretudo para a manutenção e para a dinâmica de
los critérios anteriores: entre outras, os “assenta composição do acervo.
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aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afiro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
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- montar pequena vitrine com objetos utiliza mulheres - penteados”) da sala Fazer (subindo-se
dos na metalurgia reportando-se à célebre e secular as escadas, indo-se da esquerda da parede do fundo
técnica de fundição pelo “processo da cera perdi - mais vitrines centrais - para a parede da direita
da”, criando uma seção especial de jóias e adomos. até o fim), revendo a quantidade e qualidade de
- montar exemplares (não muitos) de panos representação das fotos e panos, destacando o as
resultantes de diferentes procedimentos de tecela pectos simbólico ou histórico das peças ou de sua
gem e pintura, junto com teares, num enfoque me iconografia.
ramente técnico, e destacando a originalidade ou Para isso, devem ser excluídas as indumentá
especificidade africana dessa produção. rias e tear (que estaria na Primeira divisão), entre
No entanto, considero mais importante neste outras peças sem relação com o tema, e devem ser
módulo: “enxertadas” peças como:
- destacar réplicas de peças de estilos buli** - bastões de chefes, símbolos de alguns orixás
dos Baluba, de estátuas dos Bakuba do Congo (ex- - como o machado de Xangô e a espada de Ogum
Zaire) e de outras estatuetas e máscaras dos Ba- e edans da sociedade Ogboni dos Yorubá.
kongo, Batshokwe e Lunda (Congo - ex-Zaire - e - um dos “tronos” ou “bancos” com cariátides
Angola), além da máscara dos Bobo de Burkinafas- dos Baluba-réplicas ou o pilão “virado para baixo”
so (ex-Alto-Volta). de Xangô - ou os dois -, os asèn (pelo menos todos
- justapor peças jêje-nagô do Togo, Benin (ex- aqueles que contêm “cenas de enredo” ou figu
Daomé) e Nigéria, como ibeji, exu, objetos antropo- ras).
mórficos de Ifá numa perspectiva formal-estilística. - “récades”, algumas máscaras géledé enfo
- criar espaço para mencionar a “arte de corte” cando o significado da sua decoração, pesos de
de Ifé e Benin (antigos reinos da Nigéria) da África ouro dos Ashanti de Gana e panos proverbiais.
ocidental e a “arte de corte” do reino kuba da África - os appuie-tête - parecem bancos pequeni
central, através de algumas peças da metalurgia do nos, mas servem para apoiar a nuca e proteger pen
bronze e ferro (da vitrine da atual exposição) e de teados típicos,
uma ou mais réplicas de estátuas dos Bakuba, - pelo menos uma das estátuas dos Bakuba-
montada junto da “tapeçaria do Congo (ex-Zaire)” réplicas, o busto de bronze Yorubá e a “estátua de
(kuba), que está na vitrine 8-9 da sala Fazer da cavaleiro” que está na vitrine de Ogum da atual
atual exposição. exposição (que reporta-se à representação de Xan
- não deixar de utilizar painéis da UNESCO gô enquanto chefe político).
(série “Zonas estilísticas”), ou preparar material - “par de gêmeos” Congo (ex-Zaire)-réplica
iconográfico adicional para ilustrar contexto, com (na vitrine de ibeji na exposição atual), “bonecas”
plementar informações visualmente, ou dar senti akua-ba, par ou pares de ibeji e oxê(s) de Xangô,
do de continuidade preenchendo lacunas como a entre outros objetos janiformes que possam ilustrar
ausência no acervo de objetos de produções reno- concepção de fertilidade e força vital.
madas como as máscaras tyi wara** dos Bambara,
c) terceira divisão: mundo ancestral
máscaras e estatuetas dos Dogon (Mali), estátuas
e máscaras janiformes como a dos Ekoi (Nigéria, Selecionar as peças pelo tema objetos rituais.
Camarões), pilares e “arte de corte” dos Bamileke Sugiro, nesse módulo:
(Camarões), figuras de relicário dos Bakota (Ga- - criar um espaço especial para Exu, enquanto
bão), cabeça de bronze de Ifé, estátuas esculpidas divindade das portas, do tráfego, “que abre cami
sobrecarregadas de matérias heteróclitas chama nho” para o sagrado, mantendo idéias subjacentes
das na literatura em geral “fetiches”** (não utili na exposição atual. Ressaltar característica de Exu
zar o termo). na Africa ocidental, tanto do ponto de vista simbó
lico, quanto da sua representação formal. Parece-
b) segunda divisão: visão de mundo e organi
me que o MAB só possui uma pequena estatueta
zação social
Exu localizada na vitrine de Ifá da exposição atual,
Selecionar peças pelos temas objetos de pres sobre uma bandeja de adivinhação, mas há os bas
tígio, comemorativos, educativos. tões com figura esculpida e fotos que podem ilus
Sugiro utilizar a seqüência de vitrines de tece trar o problema. Verificar se as bengalas que estão
lagem e painéis fotográficos (“palácio - chefe - na vitrine de Ifá não são referentes a Exu.
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Paulo, 7: 71-86, 1997.
- ressaltar o caráter de antepassados sacrali- ser implantado, mas de um exemplo a ser seguido,
zados das divindades jêje-nagô, por localidades e no que diz respeito à alteridade na busca de uma
reinos conforme os relatos orais ou míticos. dinâmica renovadora.
Peças relevantes: Originalmente integra um dos tópicos de Sa-
- insígnias, atributos, “ferramentas” e toda pa lum (1995b), entregue como proposta para o Mu
rafernália material, devidamente selecionados, de seu AFRO ao CEAO.20
proveniência africana (excetuando-se indumen
tárias personalizadas, ou circunstanciais) de todos A) Museografia
os orixá e vodun que integram a exposição atual,
- estatuetas e objetos de culto ibeji, insígnias
1) Separação das peças que integrarão a ex
edan dos Ogboni (se houver excedentes, já que
posição
figuram na sugestão da Segunda divisão),
- estatueta “maternidade” Bena Luluwa-répli- a) determinação de fotos, objetos e outras
ca (usada em culto de ancestrais e relacionada à peças pertencentes aos grupos de peças especifi
adivinhação), cados no plano da exposição, listando-as por nú
- numa vitrine “tipo-cubo” exclusiva - como mero de tombo, localização atual, e por módulo e
está na sala Fazer (subindo-se a escada, à direita) divisão da exposição em que serão integrados
- deve ser exposta a peça “objeto de adivinha (neste caso, usar como critério de escolha o po
ção” 19Seria interessante se fosse integrada ao acer tencial visual do objeto, considerando, claro, sua
vo como doação. procedência documental) e
Observação importante:
b) localização das peças especificadas indi
Sugiro criar um espaço especial para as duas
vidualmente no plano da exposição, listando-as
estatuetas do Benin, da vitrine 7 da atual exposi
com os mesmos dados acima relacionados
ção, uma delas cadastrada como “botiê” - ambas
provavelmente bochio. Parecem-me muito impor c) integrar as informações anteriores em uma
tantes. Eram figuras antropomórficas colocadas em única listagem ou fichário para controle, e enca
praça pública de entrada em aldeia Fon. Podem, minhá-la para o exame de conservação e para a
por isso, ter uma relação com uma das facetas uni equipe de pesquisa [na época, a ser constituída]
versalmente atribuídas a Exu, de um lado e, de ou
2) Elaborar o plano de circulação da exposi
tro, são, certamente, uma referência da visão de
ção definitivo
mundo e da noção de autoridade. De modo que
poderiam figurar tanto nesta como na Segunda di a) estudo de um esquema gráfico definitivo
visão. da exposição (planta em escala) - situando mó
dulos, ou setores, divisões, painéis e vitrines, e
b) definição do mobiliário e painéis expositi
IV - Plano de ações e atribuições vos, que devem ser feitos concomitantemente à
relativas à documentação e pesquisa Separação de peças
do acervo visando à montagem da exposição
3) Produção da exposição
O esquema que se segue poderia ser aplicado, a) seleção das fotos de informação comple
eventualmente, no tratamento de outras coleções mentar designadas pela equipe de pesquisa
com problemas similares de museografia aplicada.
b) preparo da ficha técnica para cada peça e
Ele resulta de um aprendizado de trabalho com a
foto exposta, com dados como tipo do objeto, pro
Coleção Africana e Afro-Brasileira do MAE/USP
veniência ou região geográfica ou estilística (a meu
que, a nosso ver (Salum, Ceravolo 1993), deu mos
ver, não é necessário colocar a procedência, se
tra de um criativo processo de trabalho entre docu
mentação e pesquisa, quando de sua formação e
exposição inaugural. Não se trata de um modelo a
(20) Alí sob o título de “III - Plano de ações e atribuições:
para dar sustentação ao início dos trabalhos visando à mon
(19) Ver Adendo, no final do item V. tagem da exposição permanente”
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SALUM, M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de museologia
áplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
não nas de peças doadas ao Museu pela comuni V - Ensaio de crônica atual da
dade), país atual, dimensões, nome vernacular, se exposição de longa duração do Museu AFRO
houver na documentação do acervo (ou fornecido
pela equipe de pesquisa) Seguem-se aqui apenas algumas palavras fi
c) preparo gráfico dos textos produzidos pela nais sobre o projeto hoje, no início da fase final,
equipe de pesquisa que é a montagem.
Antes de mais nada, lembrar que ele vem das
d) planejamento visual das peças dentro das “Idéias” de Jeferson Bacelar (1995a), atual diretor
vitrines do CE AO, procurando consolidar a tão almejada
revitalização do Museu AFRO (Bacelar 1995b).
B) Pesquisa Nessa gestão do CEAO surge a possibilidade
de renovar e atualizar, investida de uma coragem
poderosa - a meu ver, como surgiu no MAE/USP
1) Levantamento de informações específicas
em 1985-87 (aqui talvez precocemente).
sobre cada peça ou grupo de peças do corpus piloto
Uma coragem poderosa, pois que necessaria
e elaboração de legendas de conteúdo para cada
mente solene, já que a parte de procedência africa
uma delas (que devem complementar a legenda co
na tanto de uma, como da outra coleção (afastadas
mum - ficha técnica, uma para cada peça - feita
pelo trajeto Salvador - São Paulo - Salvador), por
pela museografia)
pouco não seria resultado de uma partilha, “sacra-
2) Elaboração de textos: “legendas-textos” lizada” por Marianno Carneiro da Cunha, Pierre
(textos complementares para grupo de peças ou vi Verger e tantos outros.
trines), textos explicativos específicos para a entra Será que não? - o que dizer de seus nomes em
da de cada módulo, texto introdutório da exposi correspondências e fragmentos escritos da época,
ção nos dois museus?21 - o que pensar dos similares
géledé em um e outro museu: são réplicas de um
3) Levantamento e separação de ilustrações original ou uma duplicata da outra? Poderiam cons
(fotos e gravuras) nas publicações e do acervo - tituir-se numa totalidade bi-partida: há autores que
algumas já sugeridas verbalmente e assinaladas nas afirmam que as géledé são feitas em pares. Não
listagens sobre as quais trabalhei em Salvador; as investigamos essa informação, mas, mais do que
outras - mostrando: um processo simbiòtico (de qualquer modo ilusó
a) uso do objeto em contexto rio), a presença de tais máscaras similares (assim
como tecidos sudaneses, sem contar a de objetos
b) objetos representativos e/ou renomados rituais baianos, como os Mercado Modelo), lá e
institucionalmente que preencham lacunas da cole aqui, revelam o esforço cúmplice de surpreender e
ção do Museu, por ex., uma cabeça de bronze ou superar a dificuldade de um momento nacional,
terracota de Ifé no British Museum (cf. Jean Laude, em acompanhar o reflorescimento de uma identi
entre outros, na biblioteca) dade cultural, de raízes feito (ou elaborado) por
um mesmo grupo de pessoas (Foto 1).
c) elementos de arquitetura, meio ambiente e Não é à toa, portanto, que, quando visitei pela
humano relacionados às sociedades mencionadas primeira vez o Museu AFRO - apesar da imposição
nos textos da exposição, ou relacionados à peças de suas grandes vitrines-armários -, não pude evitar
ou a grupo de peças expostas o sonho de repisar novamente na antiga e primeira
4) A partir do corpus piloto, selecionar outras
peças do acervo que integrariam a exposição na
( 2 1 ) 0 material correspondente do MAE já foi trabalhado
lista ou fichário de peças inicial.
pela historiadora Patricia Tavares Raffaini, orientada por
5) Determinação da localização das peças ou Maria Isabel D ’Agostino Fleming. O tema de sua pesquisa
foi o conjunto de peças da família Carneiro da Cunha no
grupo de peças, umas em relação às outras, nas
acervo africano do MAE, e o objeto de estudo foi a docu
vitrines e/ou nos módulos. mentação escrita da época. Marianno Carneiro da Cunha
foi o responsável principal pela constituição da Coleção
africana e Afro-Brasileira, tal qual ela se apresenta hoje.
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SALUM , M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de m useologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Re v. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
Foto 1 - Um dos pares de m áscaras similares no Museu Afro e no MAE. Madeira policromada. Comprimento: c. 40cm.
A da esquerda, no Museu Afro e a da direita no MAE.
D o cadastro nos dois museus: “máscara geledé de Oxumaré" Proveniência: Nagô; procedência: Benin. Duplicadas?
Réplicas?
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SALUM , M.H.L. Critérios para o tratamento museológico de peças africanas em coleções: uma proposta de museologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Re v. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
Liberato e Antonio Rios. Destes, na equipe atual, participação especial de Maria Inês Côrtes de Oli
permanece apenas Marcelo Cunha, hoje coordena veira (UFBA).
dor do Museu.
- Da memória e dos cultos afro-baianos
Esquema do projeto original entregue como
relatório (Salum 1995a): Ainda restava, nos últimos dias em que estive
junto ao Museu da última vez, definir a parte dos
I - Tipologia classificatória cultos afro-brasileiros e a da memória afro-baiana,
ainda não projetadas.
II - Plano expositivo
Quanto à primeira, a maior preocupação estava
1. Diagnóstico da montagem atual.
na adequação das orientações teórico-religiosas, ao
2. Montagem da nova exposição.
contrário do que me ocorria com relação ao trata
a) Módulo de entrada. Apresentação da expo
mento das peças e objetos rituais isoladamente.
sição.
Trabalhamos o assunto, visando ao desenho de
b) Segundo módulo. África
um plano expositivo em separado desse setor. Esse
- Primeira divisão. Estilos e sociedades.
desenho foi realizado pensando-se nas orientações
- Segunda divisão. Visão de mundo e organi
mais adequadas e passíveis de serem eleitas, para,
zação social.
no caso de ser aprovado, permitir sua rearticulação,
- Terceira divisão - Mundo ancestral.
se necessário, num mesmo traçado espacial, já
c) Terceiro módulo. Nações e religiões afro-
especificado no todo.
brasileiras na Bahia.
Tratava-se, por exemplo, de decidir, entre ou
d) Quarto módulo. Referências africanas nas
tros fatores, se as peças relativas a orixás, voduns**,
artes plásticas do Brasil.
inquices**, caboclos**, deveriam estar separadas,
III - Plano de ações e atribuições... pela sua especificidade conceituai e ritual, ou se
1. Museografia poderiam estar correlacionadas - como, de fato,
2. Pesquisa vêm, às vezes, associados, no contexto cultuai,
certos voduns a orixás. Poderiam estar juntas? -
IV - Gráficos em transparência
claro que se encarados como divindades, não,
1. Primeira montagem (inaugural, ainda em
porque em termos de categoria, estaríamos tratando
vigor na época)
de personificação, e, portanto, contexto. Mas, se
2. Plano expositivo (preliminar)
representados enquanto forças, a coisa podia mu
No decorrer deste ano, já com verba destinada dar de figura. Afinal, sem querermos simplificar,
para a exposição de longa duração, o projeto mu- mas na necessidade de sermos breves, Shango (Áfri
seográfico tinha sido redimensionado por várias ve ca) é no Brasil tanto Xangô, como Nzazi - re
zes, contando com a contribuição, além da de Mar presenta a mesma força, ou princípio, seja em cul
celo Cunha, da arquiteta - e, como Marcelo, tam tos jêje-nagô ou banto. A questão temática - re
bém museóloga - María Emilia Neves, efetivada ligiosidade ou sistema de crenças, ou nome outro
por concurso da UFBA no Museu. O levantamento que se lhe atribua - restabeleceria, essa “totalidade
da documentação e o recadastramento das peças, cosmogónica” (particular dos cultos afro-brasilei
feito por três estagiárias, estava em fase adiantada, ros), desde que então os encarássem os como
em agosto deste ano, durante minha estadia de vol “forças-energia” dinâmicas. Isso foi a chave para a
ta ao Museu AFRO entre os dias 21 e 27. elaboração daquele “traçado” a que nos referimos
Nesse período, alteramos, acrescentamos e no parágrafo anterior.
excluímos o que era oportuno no projeto museo- Com tudo em mãos, fizemos uma reunião de
gráfico (até então, mais desenvolvido na parte da trabalho com Jeferson Bacelar e Júlio Braga (UFBA),
cultura material e das artes africanas), dimensio especializados na abordagem desses pontos mais
namos os suportes expositivos, elaboramos a pri suscetíveis, e tradicionalmente mais relevantes para
meira lista completa de peças a serem expostas. o Museu, já que toca às demandas da comunidade
A seção inicial da exposição, na entrada, que local, popular e a “de culto” - o povo de santo (diga-
comportaria, conforme previsto inicialmente, gran se de passagem, que grande parte do acervo foi
de massa de texto orientado por gráficos e mapas, constituída com sua generosidade e participação).
tem sido discutida desde agosto, contando com a E, definidas aquelas idéias, coube a Júlio Bra
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SALUM, M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de m useologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
ga o acompanhamento científico da solução mu- especial atenção, pois, trata-se de uma figura antro
seográfica final da “Religiosidade afro-brasileira” pomòrfica bastante ilustrativa da estatuária da Áfri
No que diz respeito ao material da memória afro- ca central, que supunha vir da região kongo ou
baiana, seria focado introduzindo a cultura negra kwilu do sudoeste do Congo (ex-Zaire), inserida
no Brasil e o negro na sociedade baiana”, conforme numa estrutura pendular. Daquela zona, e sobre
proposta de Jeferson Bacelar, e sob sua curadoria tudo ao sul, em regiões tshokwe, lunda (já em
científica. Angola), temos conhecimento do uso na prática
adivinhatória de emblemas em superfícies e obje
Adendo final, usando como pretexto o “objeto tos que sinalizariam pontos cardeais, o que, do
de adivinhação ’’proveniente do Zaire, menciona ponto de vista plástico-morfológico, pode ser pro
do na terceira divisão do item III. duzido pelo movimento pendular,
Na documentação do Museu, essa peça consta Mas apesar da pesquisa em catálogos especia
como “objeto de adivinhação” procedente do Zaire lizados durante os dois anos que separam essas mi
(Foto 2). No prim eiro exame, despertou-m e nhas últimas visitas ao Museu, não encontrei, como
Foto 2 - O bjeto pendular com figura esculpida (detalhe). Em depósito (comodato) na coleção do Museu Afro. M adeira
escurecida. Altura da peça em equilíbrio: 42cm; altura da estatueta: 18cm.
Do cadastro: “objeto de adivinhação (Zaire)”. Uma ‘arte de aeroporto”? Desconhece-se objeto tradicional sim ilar na
região.
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SALUM, M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de museologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
Paulo, 7: 71-86, 1997.
referência, nenhum objeto tradicional do Congo le jeu. II n ’apparait jamais dans la divination en
ou Angola similar. Afrique centrale [...]”
Se, por isso, no início estabelecemos que deve De fato, temos ali no acervo uma peça de bron
ria ser exposta em “vitrine exclusiva”, creio ter su- ze em miniatura - “um equilibrista” - peça tam
pervalorizado, mais recentemente, o potencial di bém registrada como de adivinhação, esta prove
dático dessa peça. Isso se justifica ainda, a meu niente do Benin ou da Nigéria(?). É de nosso co
ver, por uma questão morfo-estilística, mas poderia nhecimento que peças “de equilibristas”, como esta
estar subestimando a possibilidade de distorção de última, são vendidas hoje em museus da Nigéria,
conhecimento, caso a colocássemos num contexto como objeto de jogo e lazer, e não de adivinhação.
de adivinhação, sem controlar a fonte de documen E, o problema exposto sobre o dimensiona-
tação original. mento museológico dessa peça nos mostra o fun
Registro, então, aqui a apreciação sobre o as damental desempenho da antropologia na reflexão
sunto de François Neyt, especialista reconhecido museológica na determinação de processos de ti
da história e etno-estilística da arte africana, gentil pologia e de classificação de coleções. Ao final
mente cedida à minha solicitação de ajuda, graças deste artigo, faltam poucos dias para a próxima
ao questionamento que Júlio Braga me dirigiu so visita a Salvador. A tristeza de ver o acervo “des
bre a sua legitimidade. montado”, deverá ser compensada pelo resultado
É o que Neyt diz em carta pessoal: “/ .../1) Je ne do árduo trabalho investido por Marcelo, Emilia e
donne jamais un avis sur un objet par fax. J ’attend equipe de colaboradores e consultores do Museu
donc de le voir. 2) Les traits morphologiques ne se e do CEAO, além do apoio e iniciativa de institui
rapprochent pas clairement d ’un style, mais on peut ções e entidades. A previsão é de que a UFBA e o
penser aux Bakongo. 3) Le mouvement pendulaire CEAO reabram as portas do Museu AFRO no fi
est utilise' en Afrique de l ’Ouest dans la décoration, nal de janeiro de 1998.
SALUM, M.H.L. Criteria for the muscological treatment of African pieces in collections: a proposal
o f applied museology (documentation and exhibition) for the Afro-Brasilian Museum. Rev.
do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 7: 71-86, 1997.
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SALUM, M.H.L. Critérios para o tratamento m useológico de peças africanas em coleções: uma proposta de museologia
aplicada (documentação e exposição) para o Museu Afro-Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São
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