Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2023-2024
Abstract
A ação conjunta destes minerais confere ao osso maior dureza e rigidez. Por outro
lado, a componente orgânica consiste principalmente em fibras de colagénio, com uma
quantidade menor de glicoproteínas e proteoglicanos, proporcionando flexibilidade e
elasticidade. A composição óssea não é constante, pelo que pode variar ao longo do
tempo, sendo influenciada por fatores como a localização anatómica, idade e
metabolismo [6].
Figura 1. Ilustração em escala intermédia do osso [7]
O osso cortical, também conhecido como osso compacto, é o tipo de tecido ósseo
que forma a camada externa e mais densa dos ossos, constituindo 80% da sua massa total.
Este é caracterizado pela sua estrutura compacta e organização em unidades estruturais
designadas ósteons, que proporcionam proteção e rigidez mecânica aos ossos. Os canais
de Havers atravessam o centro do ósteon e permitem que as fibras nervosas e capilares
sanguíneos os atravessem e abasteçam o osso dos nutrientes que necessita.
O osso trabecular, também conhecido como osso esponjoso, está encapsulado pelo
osso cortical através do endósteo que forma a barreira entre estes tecidos ósseos. É mais
fraco e menos denso, mas mais flexível do que o osso cortical. O osso trabecular constitui
20% da massa total do sistema esquelético, mas tem aproximadamente uma área de
superfície dez vezes maior do que o osso cortical. Este tecido ósseo consiste numa rede
porosa, altamente vascularizada, organizada em unidades estruturais designadas
trabéculas, que são responsáveis pela estabilidade estrutural do osso e absorção de energia
(mecânica) [8].
a) b)
b)
Figura 2. a) Curva tensão-deformação do osso cortical e trabecular; b) curva tensão-deformação (cerâmicas, metais e
polímeros [9]
Desta forma, devido à sua abundância no tecido ósseo endógeno, os fosfatos de cálcio
têm vindo a emergir como um biomaterial adequado para engenharia de tecidos [14].
Como o nome indica, os fosfatos de cálcio são minerais compostos por catiões de
cálcio e aniões de fosfato. No geral, estes possuem caraterísticas adequadas, como
rugosidade, solubilidade e porosidade que lhes conferem propriedades de osteoindução e
osteocondução.
Os cimentos são menos invasivos, tendo como vantagem uma melhor adaptação
à geometria do defeito, do que os materiais cerâmicos, como os grânulos que são inseridos
como sólidos. No entanto, estes cimentos possuem baixa resistência mecânica, tornando-
se um bloco de material dentro do corpo, ao contrário dos grânulos. Para além disso, a
aplicação de grânulos, permite uma melhor circulação de células, devido ao espaço
existente entre eles, o que promove uma melhor regeneração óssea.
(6) Prensagem de uma fase sólida, seguida de moagem de modo a se obterem grânulos de
tamanho pretendido
Nesta atividade laboratorial, o método utilizado foi a pulverização de fase líquida,
seguida por cristalização por secagem ou arrefecimento, pois este permite a formação de
grânulos esféricos com um intervalo de diâmetros abrangente [5].
2.1.2. DRX
0,3792
= 1,053 mL
0,36
Pretende-se obter uma solução de cloreto de cálcio 1M com 250 mL. Sabendo que
a massa molar do cloreto de cálcio é 110,984 g/mol, temos que:
Posteriormente, com o auxílio de uma seringa e uma agulha, esta mistura foi
injetada gota a gota na solução de cloreto de cálcio e através da reação descrita
anteriormente formaram-se os grânulos de hidroxiapatite pretendidos. Estes grânulos
foram deixados em solução entre 30 minutos a 1 hora e posteriormente foram filtrados,
secados e parte destes foram sinterizados a diferentes temperaturas (950ºC e 1100ºC)
obtendo-se assim os grânulos de hidroxiapatite “verdes” e sinterizados para posterior
caracterização.
A observação à lupa foi efetuada na lupa Leica EZ4 HD com ampliações 8x e 16x
as amostras “verdes”, assim como as amostras sinterizadas.
O aparelho utilizado para o DRX foi o Panalytical X’Pert PRO 3 com 10º < 2θ <
60º e as referências indicadas na folha de resultados foram utilizadas para identificação
dos materiais.
3.1. Análise ao pó de HA
Nesta secção analisamos as caraterísticas do pó de hidroxiapatite, em termos do seu
tamanho e da sua estrutura cristalina através de uma distribuição granulométrica por
peneiração e por DRX, respetivamente.
O resultado que mais sobressai no gráfico é que a grande maioria dos grânulos ficou
retido na peneira de 1-2 mm, indicativo que a maioria dos grânulos possui tamanho nesse
intervalo, independentemente da temperatura a que foram sinterizados.
Grânulos
sinterizados
a 950ºC
Grânulos
sinterizados
a 1100ºC
Figura 8. Imagens obtidas através da lupa dos grânulos em verde, sinterizados a 950ºC e 1100ºC com ampliações 8x
e 16x
Através da lupa, verifica-se que os grânulos em verde apresentam uma cor branca
com ausência de uma superfície reluzente, com textura semelhante ao gesso. A mesma
opacidade é evidenciada nos grânulos sinterizados a 1100ºC só que com cor azulada. Por
sua vez, os grânulos sinterizados a 950ºC aparentam uma cor azulada como os grânulos
sinterizados a 1100ºC, porém destacam-se em relação às outras amostras pela sua
superfície brilhante.
c) d)
Figura 9. imagens dos grânulos (linha superior) e das suas superfícies (linha inferior) obtidas no SEM de grânulos
sinterizados a 950ºC (a e c) e 1100ºC (b e d)
Figura 11. Difratograma dos grânulos sinterizados a 950ºC e 1100ºC em comparação com o de difratograma de
referência da hidroxiapatite
Na figura acima, podemos observar que os picos dos difratogramas dos grânulos
sinterizados não correspondem com os picos da hidroxiapatite, o que indica que ocorreu
uma mudança da fase cristalina da hidroxiapatite em ambas as temperaturas de
sinterização.
Uma análise aos picos destes grânulos permitiu identificar que estes coincidem
com os picos típicos de cloroapatite. Efetivamente ao compararmos os picos dos
difratogramas dos grânulos com o difratograma de referência da hidroxiapatite
verificamos que estes coincidem, e, portanto, podemos afirmar a presença de cloroapatite
nos grânulos sinterizados.
Isto pode ser explicado através da reação de crosslinking entre o alginato de sódio
e o cloreto de cálcio que deu originou cloreto de sódio (NaCl) como subproduto. O cloro
depois reagiu com a hidroxiapatite e os iões hidróxido foram substítuidos por iões cloreto
na sua estrutura cristalina, originando cloroapatite.
Conclusão
A morfologia dos grânulos foi estudada através da lupa e SEM com a obtenção de
dados diretos e visuais. Através da lupa verificou-se uma maior opacidade nos grânulos
em verde, uma superfície brilhante nos grânulos sinterizados a 950ºC e diferença de
tonalidade dos grânulos em verde (tonalidade branca) e sinterizados (tonalidade azulada).
Além disso, verifica-se uma diminuição não significativa do tamanho dos grânulos. Para
complementar os dados morfológicos recorreu-se ao SEM, onde foi possível verificar
uma forma geométrica mais regular e uma superfície mais uniforme para os grânulos
sinterizados a 1100ºC.
O EDS revelou uma quantidade de cloro superior ao esperado o que pode ser
explicado por uma lavagem deficiente, ou então de uma concentração de cloreto de cálcio
superior à necessária. A análise DRX revelou que ocorreu uma mudança de fase nos
grânulos sinterizados, e a HA transformou-se em cloroapatite. Uma experiência futura
poderia ser feita para averiguar se com uma concentração mais baixa de cloreto de cálcio
iria ocorrer esta transformação de fase da HA.
Referências
[1] D. Lopes, C. Martins-Cruz, M. B. Oliveira, and J. F. Mano, “Bone physiology as inspiration for tissue
regenerative therapies,” Biomaterials, vol. 185, pp. 240–275, Dec. 2018, doi:
10.1016/j.biomaterials.2018.09.028.
[2] 1% M Libbin, R. Ozer, P. Person, and A. Hirschman, “In vitro Accumulation of Mineral Components
by Invertebrate Cartilage,” Springer-Verlag, 1976.
[3] C. Da Saúde, P. Sofia, and P. Batista, “UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Nova abordagem
terapêutica para a regeneração do Osso.”
[4] N. H. Hart et al., “Biological basis of bone strength: anatomy, physiology and measurement.,” J
Musculoskelet Neuronal Interact, vol. 20, no. 3, pp. 347–371, Sep. 2020, [Online]. Available:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32877972
[5] V. P. Orlovskii, V. S. Komlev, and S. M. Barinov, “Hydroxyapatite and Hydroxyapatite-Based
Ceramics,” Inorganic Materials, vol. 38, no. 10, pp. 973–984, 2002, doi: 10.1023/A:1020585800572.
[6] J. Girón et al., “Biomaterials for bone regeneration: an orthopedic and dentistry overview,” Brazilian
Journal of Medical and Biological Research, vol. 54, no. 9, 2021, doi: 10.1590/1414-
431x2021e11055.
[7] A. Kumar, A. Sood, R. Singhmar, Y. K. Mishra, V. K. Thakur, and S. S. Han, “Manufacturing
functional hydrogels for inducing angiogenic–osteogenic coupled progressions in hard tissue repairs:
prospects and challenges,” Biomater Sci, vol. 10, no. 19, pp. 5472–5497, 2022, doi:
10.1039/D2BM00894G.
[8] N. H. Hart et al., “Biological basis of bone strength: anatomy, physiology and measurement.,” J
Musculoskelet Neuronal Interact, vol. 20, no. 3, pp. 347–371, Sep. 2020, [Online]. Available:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32877972
[9] A. Moslemi Petrudi, K. Vahedi, M. Rahmani, and M. Moslemi Petrudi, “Numerical and analytical
simulation of ballistic projectile penetration due to high velocity impact on ceramic target,” Frattura
ed Integrità Strutturale, vol. 14, no. 54, pp. 226–248, Sep. 2020, doi: 10.3221/IGF-ESIS.54.17.
[10] T. C. Oliveira, M. S. Gomes, and A. C. Gomes, “The Crossroads between Infection and Bone Loss,”
Microorganisms, vol. 8, no. 11, p. 1765, Nov. 2020, doi: 10.3390/microorganisms8111765.
[11] M. Tobeiha, M. H. Moghadasian, N. Amin, and S. Jafarnejad, “RANKL/RANK/OPG Pathway: A
Mechanism Involved in Exercise-Induced Bone Remodeling,” Biomed Res Int, vol. 2020, pp. 1–11,
Feb. 2020, doi: 10.1155/2020/6910312.
[12] G. Karsenty and S. Khosla, “The crosstalk between bone remodeling and energy metabolism: A
translational perspective,” Cell Metab, vol. 34, no. 6, pp. 805–817, Jun. 2022, doi:
10.1016/j.cmet.2022.04.010.
[13] B. J. C. Luthringer, F. Feyerabend, and R. Willumeit-Römer, “Magnesium-based implants: a mini-
review,” Magnes Res, vol. 27, no. 4, pp. 142–154, Oct. 2014, doi: 10.1684/mrh.2015.0375.
[14] Z. Bal, T. Kaito, F. Korkusuz, and H. Yoshikawa, “Bone regeneration with hydroxyapatite-based
biomaterials,” Emergent Mater, vol. 3, no. 4, pp. 521–544, Aug. 2020, doi: 10.1007/s42247-019-
00063-3.
[15] J. Jeong, J. H. Kim, J. H. Shim, N. S. Hwang, and C. Y. Heo, “Bioactive calcium phosphate materials
and applications in bone regeneration,” Biomater Res, vol. 23, no. 1, p. 4, Dec. 2019, doi:
10.1186/s40824-018-0149-3.
[16] D. Tecido Ósseo, “CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS CURSO DE ENGENHARIA DE
MATERIAIS NATÁLIA OLIVEIRA SENA PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ESPUMAS
DE POLI ÁLCOOL VINÍLICO E FOSFATO DE CÁLCIO BIFÁSICO PARA POTENCIAL USO NA
ENGENHARIA,” 2018.
[17] M. Vallet-Regí and J. M. González-Calbet, “Calcium phosphates as substitution of bone tissues,”
Progress in Solid State Chemistry, vol. 32, no. 1–2. pp. 1–31, 2004. doi:
10.1016/j.progsolidstchem.2004.07.001.
[18] M. S. Firdaus Hussin, H. Z. Abdullah, M. I. Idris, and M. A. Abdul Wahap, “Extraction of natural
hydroxyapatite for biomedical applications—A review,” Heliyon, vol. 8, no. 8, p. e10356, Aug. 2022,
doi: 10.1016/j.heliyon.2022.e10356.
[19] M. S. Firdaus Hussin, H. Z. Abdullah, M. I. Idris, and M. A. Abdul Wahap, “Extraction of natural
hydroxyapatite for biomedical applications—A review,” Heliyon, vol. 8, no. 8, p. e10356, Aug. 2022,
doi: 10.1016/j.heliyon.2022.e10356.
[20] Z. Yaneva and N. Georgieva, “Physicochemical and morphological characterization of pharmaceutical
nanocarriers and mathematical modeling of drug encapsulation/release mass transfer processes,” in
Nanoscale Fabrication, Optimization, Scale-Up and Biological Aspects of Pharmaceutical
Nanotechnology, Elsevier, 2018, pp. 173–218. doi: 10.1016/B978-0-12-813629-4.00005-X.
[21] R. Z. LEGEROS and J. P. LEGEROS, “Hydroxyapatite,” in Bioceramics and their Clinical
Applications, Elsevier, 2008, pp. 367–394. doi: 10.1533/9781845694227.2.367.
[22] O. Frent et al., “Sodium Alginate—Natural Microencapsulation Material of Polymeric
Microparticles,” Int J Mol Sci, vol. 23, no. 20, p. 12108, Oct. 2022, doi: 10.3390/ijms232012108.
[23] H. Lu, J. A. Butler, N. S. Britten, P. D. Venkatraman, and S. S. Rahatekar, “Natural Antimicrobial
Nano Composite Fibres Manufactured from a Combination of Alginate and Oregano Essential Oil,”
Nanomaterials, vol. 11, no. 8, p. 2062, Aug. 2021, doi: 10.3390/nano11082062.
Anexos
Tabelas 3 e 4. EDS grânulo sinterizado a 1100ºC