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Índice

Reconhecimentos
Prefá cio
Introduçã o
Parte um
O fundador
1. Sonhos da juventude de cavaleiro
2. “Francis, Go, Repair My House”
3. Arauto do Grande Rei
4. “Os Irmã os Menores”
5. Rivo Torto
6. A Primeira Flor
7. Portadores da Paz
Parte dois
O missioná rio
8. Jornada Missioná ria ao Oriente Mé dio
9. A Trá gica Batalha de Damietta
10. Cara a cara com o sultã o
11. Prova de Fogo
12. Conversã o no leito de morte?
13. A Regra de 1221
14. Os primeiros má rtires franciscanos
Parte TRES
O estigmatista
15. A Creche de Greccio
16. Selo do Deus Vivo
17. Glorious Transitus
Conclusã o: Sã o Francisco e o Sultã o
Apê ndice: Declaraçã o do Papa Pio XI em 1926
Notas do Capı́tulo
Fontes
Copyright © 2007 por Frank M. Rega

ISBN: 978-0-89555-858-9

Ilustraçã o da capa: Sã o Francisco de Assis pregando aos pá ssaros /


St. Francisco de Assis pregando ao Sultã o Mameluco Al-Kamil, de
Bonaventura Berlinghieri (1235-1274), a partir de 20 histó rias da vida
de Sã o Francisco, S. Croce, Florença, Itá lia. Cré dito da foto: Scala / Art
Resource, NY.

Design da capa por Milo Persic.

Todos os direitos reservados. Breves seleçõ es de texto deste livro


podem ser citadas ou copiadas para uso sem ins lucrativos sem
permissã o, e breves seleçõ es podem ser citadas por um revisor em uma
revisã o sem permissã o. Caso contrá rio, nenhuma parte deste livro pode
ser reproduzida ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrô nico ou mecâ nico, incluindo fotocó pia, gravaçã o ou por
qualquer sistema de armazenamento ou recuperaçã o de informaçõ es,
sem permissã o por escrito da Editora.

Impresso e encadernado nos Estados Unidos da Amé rica.

Dedicação
A todos os admiradores e seguidores do grande Santo de Assis, que
encontraram Jesus Cristo ou foram atraı́dos para Ele por causa da
in luê ncia e das oraçõ es de Sã o Francisco.

“Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sede
sá bios como as serpentes e simples como as pombas. ” ( Mateus 10:16).

“Ele lutou na Cruzada, na qual ele e somente ele saiu vitorioso.”1

A Quinta Cruzada: “Ao todo, foi um episó dio triste, aliviado apenas pela
presença de Francisco de Assis, a quem Pelá gio relutantemente
permitiu cruzar as linhas, onde foi recebido com cortesia por al-Malik
al-Kamil.”2

Índice

Reconhecimentos
Prefá cio
Introduçã o

Parte um
O fundador
1. Sonhos da juventude de cavaleiro
2. “Francis, Go, Repair My House”
3. Arauto do Grande Rei
4. “Os Irmã os Menores”
5. Rivo Torto
6. A Primeira Flor
7. Portadores da Paz

Parte dois
O missioná rio

8. Jornada Missioná ria ao Oriente Mé dio


9. A Trá gica Batalha de Damietta
10. Cara a cara com o sultã o
11. Prova de Fogo
12. Conversã o no leito de morte?
13. A Regra de 1221
14. Os primeiros má rtires franciscanos

Parte TRES
O estigmatista

15. A Creche de Greccio


16. Selo do Deus Vivo
17. Glorious Transitus

Conclusã o: Sã o Francisco e o Sultã o


Apê ndice: Declaraçã o do Papa Pio XI em 1926
Notas do Capı́tulo
Fontes

Reconhecimentos
Antes de mencionar aquelas pessoas a quem sou grato, é
importante fazer uma observaçã o preliminar, tendo em vista a natureza
potencialmente polê mica do tema deste livro. Meu reconhecimento
pela gentil ajuda e contribuiçã o de algué m para a pesquisa ou redaçã o
deste livro de forma alguma signi ica que essa pessoa concorda com
meus pontos de vista ou conclusã o. Em outras palavras, qualquer nome
que apareça nos agradecimentos nã o deve ser interpretado como um
endosso de minhas opiniõ es.
Em primeiro lugar, gostaria de expressar meu sincero
agradecimento ao pe. Angelus Shaughnessy, OFM Capuchinho, que
graciosamente consentiu em escrever o Prefá cio deste livro.
Parabé ns especiais para Dick e Jan McCarthy, ministro e secretá rio,
respectivamente, de minha famı́lia franciscana secular, a Fraternidade
Santa Clara de Bethany Beach, Delaware. Dick e Jan leram e
comentaram cada capı́tulo, e seu valioso conhecimento de Sã o
Francisco serviu-lhes bem como crı́ticos e inspiraçõ es.
Um agradecimento ao Irmã o Alexis Bugnolo, Editor do Arquivo
Franciscano na web, por me permitir usar suas traduçõ es do latim do
“Testamento” de Santa Clara e do “Câ ntico do Irmã o Sol” de Sã o
Francisco, e també m por seu assistê ncia e aconselhamento
inestimá veis. Outro agradecimento vai para o professor emé rito James
M. Powell, da Syracuse University, por fornecer uma có pia de seu artigo
em italiano e també m um manuscrito nã o publicado sobre Sã o
Francisco e a Quinta Cruzada. Agradeço també m a Jeanette Salerno,
romancista e escritora, e a sua irmã Joan, por suas valiosas sugestõ es
nos ú ltimos dois anos, ao compartilharem esta jornada.
Usei o Omnibus de 1900 pá ginas como fonte para mais de vinte dos
primeiros livros e escritos franciscanos, que sã o citados nas notas de
rodapé incluı́das no Omnibus . O tı́tulo completo é São Francisco de
Assis: Escritos e primeiras biogra ias, Omnibus de fontes para a vida de
São Francisco em inglês, Marion A. Habig, editora. Quando um trabalho é
retirado do Omnibus, seu capı́tulo original e o nú mero do pará grafo sã o
fornecidos, se disponı́veis, para que as citaçõ es possam ser encontradas
em outro lugar que nã o no Omnibus .
A Igreja na é poca de Sã o Francisco usava a Bı́blia da Vulgata latina, e
a Vulgata foi usada neste livro (A Vulgata conté m livros da Septuaginta
grega, ausentes nas bı́blias nã o cató licas). A traduçã o da Vulgata usada
aqui é a versã o Douay-Rheims. Ele está disponı́vel online
em: http://www.drbo.org/ e també m impresso em TAN Books and
Publishers, Inc., Rockford, IL 61105, http://www.tanbooks.com .
Finalmente, quando um site da Internet é dado como referê ncia, o
nome do site é incluı́do junto com seu endereço na Internet. Como as
pá ginas da web à s vezes sã o removidas, uma pesquisa pelo nome do
site provavelmente resultará em uma referê ncia semelhante.

Prefácio

Se algué m na histó ria da humanidade já teve a abordagem certa


para convidar os muçulmanos a Jesus Cristo, foi Sã o Francisco de
Assis. Ele era um homem destemido de Deus, em chamas para
compartilhar a verdade e o amor do Deus-Homem para todo o mundo,
até mesmo para a tarefa mais difı́cil que poderia ser dada a qualquer
cristã o. Sã o Francisco era sá bio e prudente, disposto a colocar sua vida
em risco para trazer todos para casa, para o abraço de nosso Pai
Celestial. Esta comissã o perigosı́ssima é dada apenas à queles que estã o
quali icados para serem enviados, apó s submeterem sua inspiraçã o ao
Senhor em oraçã o e aos seus superiores na Igreja para aprovaçã o. Seu
objetivo é a salvaçã o para si pró prios e para todos os convidados a se
submeter ao Rei dos reis e Senhor dos senhores.
O autor deste volume está quali icado para apresentar sua tese para
nossa re lexã o porque sua pesquisa foi exaustiva e ele conhece Sã o
Francisco há muitos anos, pois ele é um seguidor e estudante do modo
de vida franciscano na Ordem Franciscana Secular. . Sua pesquisa é
con iá vel e aceitá vel, sem qualquer vié s indevido na interpretaçã o de
suas fontes originais.
O assunto é oportuno porque o mundo muçulmano em alguns
lugares tem assumido uma linha dura contra os cristã os, em alguns
casos recusando-se a dar-lhes permissã o para adorar em sua forma
costumeira atravé s do Santo Sacrifı́cio da Missa. Puniçã o,
encarceramento e morte sã o as ameaças em alguns paı́ses muçulmanos
para aqueles que violam suas leis. Quando Madre Angé lica em 1982
visitou o Papa Joã o Paulo II em Roma e o presenteou com uma antena
parabó lica infantil, seu ú nico comentá rio para ela foi: “Cuidado com os
muçulmanos!” E havia um certo pressentimento em sua voz.
O exemplo de Sã o Francisco ao confrontar o Sultã o do Egito oferece
à Eternal Word Television Network e ao mundo provavelmente a melhor
maneira possı́vel de apresentar o Cristianismo aos muçulmanos. Sã o
Francisco nã o atacou Maomé ! Ele apresentou Jesus Cristo como o Filho
do Deus vivo sem desculpas, embora os muçulmanos nã o acreditassem
na Santı́ssima Trindade. Ele nã o ridicularizou nenhum dos princı́pios
do Islã . Ele estabeleceu sua credibilidade
por amar verdadeiramente aqueles com quem se dirigia. Nã o há outra
entrada aceita do que esta. Sã o Francisco fez tudo isso, inspirado pelo
Espı́rito Santo, a ponto de fazer milagres. Um Santo pode fazer tudo isso
com a ajuda de Deus. O sultã o reconheceu que Sã o Francisco era um
santo que amava muito a Deus; e mesmo antes disso, també m estava
convencido de que o pró prio Sã o Francisco era amado por Deus. Sã o
Francisco estava cheio de amor a Deus e a todo o povo de Deus, mesmo
aqueles que atualmente nã o o aceitam como seu Salvador.
Sã o Francisco queria que todos amassem o Deus revelado por Jesus
Cristo. Ele iria até os con ins da terra, faria os sacrifı́cios mais difı́ceis,
colocaria em risco sua pró pria vida, se apenas "trouxesse mais uma
alma para o cé u." Jesus veio a este mundo para morrer e ressuscitar,
para dar a vida em resgate por muitos. Sã o Francisco faria o mesmo e
convidaria seus seguidores a fazer o mesmo. Alguns franciscanos foram
“entre os sarracenos e outros in ié is” explicitamente com esse
propó sito: ser má rtires de Cristo para estabelecer seu testemunho
diante de um mundo incré dulo. Isto é especialmente difı́cil quando os
que você está orando por e trabalhando para a chamada você “in ié is”
por nã o aceitar sua idé ia de Deus, e eles declararam “guerra santa” em
todos os in ié is!
A abordagem mais moderna da conversã o é o diá logo, o diá logo, o
diá logo! Suponho que esta seja a abordagem “humana” para aqueles
que pensam de forma tã o diferente de nó s - acentuam as verdades
positivas que temos em comum: proteçã o à vida humana e amor a
Maria, que sabemos ser a Virgem Mã e de Deus. Certamente as cruzadas
e as guerras nã o levarã o os muçulmanos à conversã o neste momento. A
abordagem passiva - simplesmente estar entre os muçulmanos, se
permitido, contando com nosso bom exemplo - pode levar mais alguns
sé culos para levá -los à conversã o. Mas se ao menos pudé ssemos ser os
santos que nosso Deus chamou a todos nó s, talvez tivé ssemos a
credibilidade e a autenticidade que encorajaram Sã o Francisco a fazer o
que fez. Acho que essa seria a abordagem milagrosa hoje em dia; mas
como Madre Angé lica tantas vezes repetia: “Se você quiser fazer o
milagroso, é melhor estar preparado para fazer o ridı́culo”. Tornem-se
santos! Mesmo correndo o risco de ser um má rtir!
Estou muito feliz que o autor possa destacar o ano de 1219 na vida
de Sã o Francisco de Assis para dar um tratamento extensivo a este
estudo da relaçã o cristã o-muçulmana. Esta é uma abordagem rara e
ousada da vida de Sã o Francisco e tã o necessá ria em nosso mundo
neste momento. Ainda temos muito que aprender com este humilde
pobre homem de Assis.
—Fr. Angelus Shaughnessy, OFM Cap.
Fraternidade Santa Clara de Assis, Clairton, PA
(Anteriormente com EWTN)
24 de maio de 2007
Nossa Senhora Auxiliadora

Introdução

“Apesar do longo tempo decorrido desde a morte do Será ico Padre,


a admiraçã o por ele, nã o só dos cató licos, mas també m dos nã o
cató licos, continua a aumentar de forma surpreendente, pelo motivo de
sua grandeza aparecer na mente dos homens com nã o menos
esplendor hoje do que há muito tempo. ”- Papa Pio XI.1
Embora este livro inclua uma biogra ia concisa que desdobra a
pró pria histó ria de conversã o de Sã o Francisco, ele se concentra
principalmente em sua tentativa corajosa de pregar o Evangelho no
Oriente Mé dio aos seguidores do Islã . E a sua abordagem ousada da
evangelizaçã o sob o risco do martı́rio que faz com que a histó ria de Sã o
Francisco apele a todos os crentes. Quando este grande homem de Deus
caminhou destemidamente direto para o acampamento muçulmano
durante uma calmaria na luta da Quinta Cruzada, ele tinha apenas um
propó sito. Sua intençã o era salvar as almas do sultã o muçulmano e de
tantos de seus seguidores quanto possı́vel, convertendo-os à religiã o
cristã .
Ele causou tanto impacto com sua pregaçã o que o sultã o rejeitou
alguns de seus pró prios conselheiros religiosos, os imãs, que insistiam
que a lei islâ mica exigia que Sã o Francisco e seu companheiro fossem
decapitados. Com a graça de Deus, Sã o Francisco foi capaz de exercer
uma profunda in luê ncia sobre o Sultã o e outros, pela simplicidade e
con iança de sua pregaçã o. Para Sã o Francisco, o Cristianismo era a
Pessoa de Jesus Cristo, e a conversã o à Religiã o Cristã era
fundamentalmente a conversã o à crença em Jesus Cristo como o Filho
de Deus.
São Francisco de Assis e a conversão dos muçulmanos é dividido em
trê s partes para a conveniê ncia do leitor. A missã o de Sã o Francisco aos
muçulmanos é o assunto da seçã o central do livro, ou seja, a Parte
II. Esta seçã o pode ser lida como uma peça independente para aqueles
interessados apenas neste aspecto de sua vida. Envolvidas em torno
desse foco especial em seu encontro com o Islã estã o as Partes I e III,
que compreendem uma biogra ia concisa do Santo. A Parte I enfoca sua
juventude, sua conversã o e a fundaçã o das trê s Ordens Franciscanas,
enquanto a seçã o inal trata principalmente do dom dos estigmas e seus
ú ltimos dias. Essas duas seçõ es fornecem uma visã o geral de sua
jornada espiritual, destacando aspectos representativos e eventos-
chave de sua vida.
Consultei principalmente os escritos do inı́cio do sé culo XIII (em
traduçã o) para chegar a um relato desses eventos principais que seja
razoá vel e o mais preciso possı́vel. Pedaços e pedaços da histó ria da
jornada de Sã o Francisco ao Oriente Mé dio e sua visita ao Sultã o estã o
espalhados por todo este material de fonte inicial. Tentei incluir todos
esses itens dispersos na Parte II, a im de construir um relato coeso e
cronoló gico desse perı́odo de sua vida. Uma das exceçõ es ao uso de
fontes antigas é minha con iança na importante biogra ia do Santo em
lı́ngua italiana, produzida em meados do sé culo passado pelo ex-
prefeito de Assis, Arnaldo Fortini.2
Ao estudar os escritos do sé culo XIII sobre Sã o Francisco, logo se
torna aparente que existem variaçõ es e interpretaçõ es de incidentes
especı́ icos em sua vida. Isso ocorre com bastante frequê ncia, apesar do
fato de que aqueles que conheceram pessoalmente o Santo ou seus
companheiros tenham composto essas obras logo apó s sua morte. As
fontes podem discordar em uma variedade de questõ es, como o ano do
nascimento de Sã o Francisco, o conteú do de seus sonhos, a natureza de
suas visõ es ou os nomes exatos de seus seguidores. Em alguns casos, fui
forçado a apresentar o que considerava ser a descriçã o mais
representativa ou con iá vel dos eventos, tentando ser o mais preciso
possı́vel. Minha intençã o ao longo foi fornecer uma biogra ia concisa e
legı́vel, com a ê nfase principal e foco na missã o de Sã o Francisco para
os muçulmanos, o principal impulso do livro.
Ao contrá rio de certas tentativas da moda de desmitologizar santos
e iguras cató licas, nã o me esforcei para remover o halo de Sã o
Francisco! Reduzir este santo a um assistente social glori icado, um
amante da natureza ou “o primeiro hippie” é um grande desserviço à
sua verdadeira herança. Sã o Francisco é geralmente reconhecido como
a primeira pessoa a receber as feridas de Cristo, chamadas de
estigmas. Ele fundou as trê s ordens franciscanas originais - os Frades
Menores, as Clarissas e os Franciscanos Seculares, conhecidas como a
Ordem Terceira de Sã o Francisco. Seu impacto no mundo medieval foi
imenso, e ele cumpriu a comissã o pessoalmente con iada a ele por
Cristo: “Reconstruir minha casa”. Ele era leal ao papado e à hierarquia
da Igreja e nã o era desobediente nem rebelde de qualquer tipo. Ele foi
um homem de oraçã o e um grande apó stolo, responsá vel por inú meras
conversõ es e curas. Quando ele viajou para o Egito com os cruzados,
seu objetivo era pregar Cristo aos muçulmanos sob o risco de
martı́rio. Seu nı́vel de espiritualidade era tã o elevado e tã o agradá vel a
Deus que todas as criaturas de Deus o homenageavam.
Este trabalho nã o pretende ser um estudo das vá rias interpretaçõ es
que bió grafos e historiadores deram sobre a maneira como Sã o
Francisco desejava que seus seguidores interagissem com o Islã . No
entanto, deve ser feita mençã o a um movimento revisionista
contemporâ neo que alega que o objetivo principal de Sã o Francisco nã o
era pregar o Evangelho salvador de Cristo aos muçulmanos. Na
verdade, antes de começar a pesquisar este livro, nã o tinha idé ia de que
alguns alunos de Sã o Francisco estavam interpretando tal interpretaçã o
sobre suas relaçõ es com o Islã , sugerindo que seu verdadeiro propó sito
era encorajar seus frades a buscar uma forma passiva de coexistê ncia
pacı́ ica. , enquanto vivia em sujeiçã o aos muçulmanos.
As primeiras fontes indicam que Sã o Francisco incluiu os
seguidores do Islã na categoria geral de “incré dulos” e “in ié is” que
precisavam se converter ao Deus do Cristianismo para serem batizados
e salvos. Pregar a Cristo correndo o risco de martı́rio nã o era algo a ser
esquecido por um discı́pulo comprometido como Sã o Francisco. Mas o
movimento revisionista oferece uma interpretaçã o contrastante, que
tira a ê nfase e obscurece a missã o de Sã o Francisco de salvar almas,
trazendo-as a Cristo e à Verdadeira Religiã o. O ponto crucial dessa falsa
hipó tese é que Sã o Francisco nã o tinha nenhum desejo primordial de
fazer proselitismo com os muçulmanos, preferindo, em vez disso, que
seus frades vivessem em paz e submissos a eles. Um dos principais
proponentes dessa hipó tese é o professor e estudioso holandê s J.
Hoeberichts, que admite em seu livro Francisco e o Islã que , enquanto
lecionava no Paquistã o, foi in luenciado por "teó logos asiá ticos da
libertaçã o".3 (A Teologia da Libertaçã o, muitas vezes reprovada pelo
Vaticano, parece mais preocupada com a situaçã o econô mica dos
pobres do que com suas necessidades espirituais e de salvaçã o.)
Hoeberichts resume sua posiçã o a irmando que o objetivo
principal de Sã o Francisco para sua Ordem era que os frades fossem
“sujeitos aos sarracenos, permanecendo entre eles sem qualquer
sentimento de superioridade e compartilhando seu trabalho e comida
com eles”.4 Em outro lugar, ele a irma: “Na abordagem de Francisco, a
pregaçã o nã o tinha prioridade”.5 Alé m disso, de acordo com
Hoeberichts, o martı́rio també m nã o era uma consideraçã o: “Francisco
indicou claramente que ele e seus irmã os nã o eram motivados pelo
desejo de martı́rio”, mas deveriam “evitar discussõ es e disputas e estar
sujeitos aos sarracenos, pelo amor de Deus”.6
Até mesmo o editor da traduçã o para o inglê s do livro de
Hoeberichts admite em seu Prefá cio que a visã o do autor é uma
“reinterpretaçã o radical”.7Essa reinterpretaçã o vai de encontro à s
descriçõ es da pregaçã o de Sã o Francisco aos muçulmanos fornecidas
pelas fontes originais e relatadas na Parte II do presente livro. Mas
esses relatos nã o sã o obstá culo para Hoeberichts; em vez disso, ele faz
a incrı́vel a irmaçã o de que "as histó rias sobre as disputas entre
Francisco e os sarracenos devem ser banidas para a terra das fá bulas".8
Sã o Francisco, de fato, em sua Regra de 1221, mencionou que uma
maneira de seus frades se comportarem entre os muçulmanos era
simplesmente confessar-se cristã os e evitar discussõ es vivendo em
sujeiçã o pacı́ ica. No entanto, este nã o era o objetivo principal da
missã o franciscana ao Islã , mas apenas aplicado aos irmã os que ainda
nã o haviam discernido que era a vontade de Deus que pregassem
abertamente o Cristianismo. Assim, uma forma de conduta era
essencialmente passiva, sem o risco do martı́rio que poderia advir da
proclamaçã o aberta de Cristo. A forma preferida, no entanto, era a ativa
de cumprir a comissã o de Cristo de pregar o Evangelho sem medo, que
as primeiras fontes documentam claramente é a maneira como Sã o
Francisco agiu com o sultã o no Egito.
Hoeberichts inverte a prioridade dessas duas formas de abordagem
aos muçulmanos. Sua tese é adequadamente refutada pelo Professor
Benjamin Kedar em sua obra aclamada, Cruzada e Missão.9Kedar ilustra
claramente que há uma “tensã o” entre o que ele vê como os dois
motivos principais para o alcance franciscano aos muçulmanos - o
desejo pelo martı́rio e o desejo de ganhar convertidos pela
pregaçã o. “Mas o missioná rio individual partindo para as terras do Islã
tinha que decidir se seu objetivo principal era persuadir os in ié is da
verdade do Cristianismo ou alcançar a autorrealizaçã o sofrendo a
morte em suas mã os.”10 Viver entre eles em sujeiçã o passiva nã o era o
objetivo principal do primeiro missioná rio franciscano.
Nã o há dú vida de que, para Sã o Francisco, a pregaçã o da palavra de
Deus vinha antes de tudo, e o martı́rio era o risco a ser assumido - bem
como a recompensa que poderia ser oferecida. Sã o Boaventura a irma
o fato de que Sã o Francisco estava interessado principalmente na
conversã o e salvaçã o das almas. Ele escreve em sua Vida Maior do
Santo que Sã o Francisco “costumava dizer que nada deve ter
precedê ncia sobre a salvaçã o das almas, porque foi pelas almas que o
Filho unigê nito de Deus pendurado na Cruz”.11Portanto, nã o seria
correto dizer que o propó sito de Sã o Francisco ao chegar ao Oriente
Mé dio era obter a palma do martı́rio para seu pró prio bem. E
igualmente enganoso a irmar que seu objetivo era a coexistê ncia
pacı́ ica e a sujeiçã o aos seguidores do Islã , a im de, nas palavras de
Hoeberichts, “aceitar os muçulmanos em sua alteridade”.12
A intençã o principal deste livro é apresentar o encontro de Sã o
Francisco com o Sultã o do Egito e seus imames, exatamente como as
fontes originais o retratam. Essas histó rias falam por si mesmas de
forma clara e simples e, com sorte, sã o apresentadas sem qualquer
interpretaçã o pessoal. Algumas das palavras francas do Santo ao sultã o
podem parecer duras para os cristã os de hoje que foram repetidamente
expostos a uma abordagem ecumê nica modernista, que consiste em
“uma troca de idé ias”, em vez da pregaçã o tradicional com o objetivo de
converter o ouvinte. Outros podem achar difı́cil hoje aceitar que algué m
esteja disposto a enfrentar a morte para levar Cristo aos incré dulos.
Qual foi o sucesso de Sã o Francisco em sua tentativa de converter o
Sultã o a Cristo? Ofereço minhas pró prias respostas a essa pergunta
crucial na conclusã o do livro.

PARTE UM

O fundador
“Ele é visto andando descuidado e mal vestido, implorando sua
comida de porta em porta, nã o apenas suportando o que é geralmente
considerado mais difı́cil de suportar, o ridı́culo sem sentido da
multidã o, mas até mesmo para recebê -lo com uma prontidã o e prazer
maravilhosos . E isso porque ele abraçou a loucura da cruz de Jesus
Cristo e porque a considerou a mais alta sabedoria. Tendo penetrado e
compreendido seus terrı́veis misté rios, ele viu claramente que em
nenhum outro lugar sua gló ria poderia ser melhor colocada. ”
—Papa Leã o XIII, Auspicato Concessum , no. 11*

Capítulo 1

Sonhos da juventude de cavaleiros

O futuro santo nasceu e foi batizado em 1182 como Giovanni di


Bernardone, em Assis, a cidade que ele tornou famosa - uma antiga
cidade montanhosa situada na regiã o de Umbria, no centro da
Itá lia. Umbria, uma das menores das vinte regiõ es da Itá lia, está
localizada no coraçã o geográ ico da penı́nsula. Pietro (Peter), o pai do
bebê , era um comerciante de tecidos de sucesso que estava viajando a
negó cios, talvez na França, na é poca do nascimento do ilho. Apó s seu
retorno, ele teve o nome da criança alterado de Giovanni para
Francesco (Francis). Peter conheceu sua esposa Pica na Provença, e
muitas vezes fez viagens de negó cios para a França, e acredita-se que
essas foram as razõ es pelas quais ele mudou o nome do menino para
Francesco - “o francê s”. Na é poca, o nome era considerado ú nico e
incomum.
Como um adolescente e depois como um jovem até os primeiros
vinte anos, Francisco viveu uma existê ncia mundana, dando pouca
atençã o aos assuntos celestiais. Ele trabalhava na loja de armarinhos
de seu pai e eventualmente poderia ter se tornado um comerciante
bem-sucedido, embora fosse por natureza bastante generoso e mais
inclinado a gastar do que a economizar. Sua personalidade afá vel e
extrovertida o tornava bastante popular entre seus colegas, e ele
costumava ser um lı́der em seus passatempos juvenis. Mesmo as
pessoas mais velhas notaram que o jovem possuı́a uma certa nobreza
de alma. Sua mã e Pica perguntava aos vizinhos o que eles achavam que
ele se tornaria, e ela mesma profeticamente respondia: “Saiba que ele
será ilho de Deus pela graça de seus mé ritos”.1
Há uma tradiçã o de que, quando menino, Francisco foi in luenciado
pelos trovadores, compositores e inté rpretes de cançõ es e poemas
lı́ricos escritos em louvor aos ideais do verdadeiro amor e
cavalheirismo. Esses “menestré is errantes” loresceram na Provença e
no sul da França, bem como na Espanha e em partes da Itá lia, deixando
um impacto duradouro na poesia medieval e nos costumes sociais. Os
Trovadores podem ter despertado os sonhos de infâ ncia de Francisco
de um dia se tornar um cavaleiro galante e embarcar em uma cruzada
distante. Combinando com seu nome, Francis até começou a aprender a
falar um pouco de francê s.
Sua excepcional generosidade e bondade, especialmente para com
os mendigos, indicavam que o espı́rito de Deus estava cutucando
gentilmente os jovens, mesmo antes da ocorrê ncia de suas dramá ticas
experiê ncias de conversã o. Dizia-se que ele nã o podia recusar quem lhe
pedisse esmola em nome de Deus. A origem desse compromisso surgiu
um dia na loja de seu pai, quando ele estava ocupado com seus
deveres. Um pobre entrou e pediu esmolas pelo amor de Deus. Francis
estava tã o preocupado em concluir suas tarefas a tempo que expulsou
apressadamente o infeliz mendicante da loja, mandando-o embora de
mã os vazias. Entã o a graça de Deus tocou sua consciê ncia, e ele pensou
consigo mesmo que se aquela alma necessitada tivesse buscado a
caridade em nome de algum grande prı́ncipe ou rei mundano, ele teria
lhe dado algo. Em vez disso, o homem perguntou em nome do Rei dos
Reis, e ele estava muito ocupado para ajudá -lo! Pensando nessas coisas
com vergonha no coraçã o, saiu correndo atrá s do mendigo e deu-lhe
uma esmola generosa. Depois disso, resolveu dar sempre o que
pudesse a quem lhe pedisse caridade em nome de Deus.2, 3
O Altı́ssimo prosseguiu com sua grande obra de preparaçã o da alma
e da consciê ncia do jovem Francisco, visitando-o com doença e
prisã o. Em 1202 eclodiram hostilidades entre Assis e sua rival
tradicional, a cidade vizinha de Perugia. Francisco se envolveu em uma
escaramuça conhecida como Batalha de Collestrada, na qual Perugia foi
o vencedor, e ele foi feito prisioneiro junto com muitos de seus
concidadã os. Ele permaneceu na prisã o por um ano antes de poder
voltar para casa. Embora ele tenha icado gravemente doente durante o
encarceramento, seu comportamento e espı́rito eram animados, a
ponto de causar aborrecimento a alguns de seus companheiros de
cativeiro. Algué m o chamou de tolo por ser tã o feliz, e ele respondeu
que era certo que ele se regozijasse, porque “O dia virá em que serei
honrado pelo mundo inteiro”.4
Os problemas de saú de continuaram a a ligi-lo mesmo depois de
sua libertaçã o, que provavelmente foi arranjada apó s o pagamento de
um resgate por seu pai aos perugianos. Ele sofria de uma febre baixa e
prolongada e, durante longos perı́odos de inatividade, seus
pensamentos se concentravam cada vez mais no vazio das
preocupaçõ es e passatempos mundanos. Apó s sua recuperaçã o, ele
percebeu que nã o admirava mais muitas das coisas que havia desejado
nesta vida, embora ainda nã o estivesse totalmente separado do mundo.
Mesmo com essa nova disposiçã o, seus sonhos de juventude de
cavaleiro ainda persistiam. Ele logo teve um breve encontro que
expressou sua natureza magnâ nima e cavalheiresca. Um dia ele
encontrou um cavaleiro de uma famı́lia importante que passava por
tempos difı́ceis. O nobre nã o podia nem mesmo comprar roupas dignas
de seu status na vida e estava tã o mal vestido que estava "quase nu".5O
futuro Santo foi movido de compaixã o nã o só pela pobreza do homem,
mas també m por seu constrangimento. Francisco imediatamente tirou
alguns de seus trajes caros e deu-os ao cavaleiro malvestido. Aqui sua
nobreza de alma se manifestou, mas ele mal percebeu que desistir de
suas vestes por compaixã o pelo pró ximo era apenas uma preparaçã o
para desistir de tudo pelo amor de Deus.
No inı́cio do ano 1205, um conde de Assis chamado Gentio estava
partindo para o sul da Itá lia, para servir como um cavaleiro de armas
pela causa do Papa Inocê ncio III contra certos prı́ncipes alemã es.6Ele
pretendia se juntar ao exé rcito de Walter de Brienne, perto de Ná poles,
que estava tendo um sucesso espetacular na liderança das forças
papais contra os rebeldes. Francisco viu isso como sua oportunidade
de inalmente realizar seus sonhos de cavaleiro, e nã o perdeu tempo
em adquirir as armas, equipamentos e trajes necessá rios para se juntar
ao Conde Gentio e Walter de Brienne.
Mas uma noite, enquanto estava a caminho para se juntar à s forças
de Brienne, ele teve um sonho vı́vido que o afetou muito. Ele sonhou
que a casa de seu pai havia se transformado em um castelo esplê ndido,
decorado com escudos, lanças e selas, e cheio de armaduras de
cavaleiro com o sinal da cruz. Ele ouviu uma voz que lhe disse que
todas aquelas armas foram feitas para ele e seus soldados. Ele ainda
nã o tinha noçã o do tipo de “soldados” que essa “voz” tinha em mente
para ele liderar. Com a chegada da manhã , ele continuou sua jornada,
seus pensamentos ainda repletos de visõ es de gló rias mundanas, até
que outro sonho dramá tico ocorreu na noite seguinte, na cidade de
Spoleto. Desta vez, a voz perguntou-lhe qual era a melhor escolha:
servir ao Senhor ou a um servo, a um rico ou a um mendigo? “Por que
você está escolhendo um mendigo em vez de Deus, que é in initamente
rico?”7Francisco agora entendia que esses dois sonhos eram
mensagens de Deus. Ele corajosamente colocou de lado seus
pensamentos sobre a cavalaria e aventuras militares e voltou para casa
em Assis, sua atençã o agora inexoravelmente atraı́da para as
realidades celestiais.
Ao retornar, de maneira indiferente, ele a princı́pio retomou a festa
com seus companheiros de Assis. Aproveitando sua generosidade
natural, muitas vezes o tornavam o “mestre da folia”, sabendo muito
bem que ele forneceria comida e bebida abundantes para seus
amigos.8No entanto, ele nã o se sentia mais atraı́do por esses
passatempos e só obedecia por cortesia a eles. As vezes, sua mente
parecia vagar em um devaneio enquanto estava na presença deles, e
eles o provocavam, pensando que ele havia se apaixonado e desejava se
casar. Sem revelar o segredo de seu coraçã o, ele respondeu: "Vou trazer
para casa uma noiva, mais bonita, mais rica e mais nobre do que
qualquer outra que você já viu."9
Por im, Francisco se retirou completamente dessas diversõ es
mundanas e procurou passar mais tempo sozinho em contemplaçã o,
tentando descobrir a vontade de Deus para ele. Seu desejo de buscar o
Senhor de maneira mais profunda o levou a freqü entar uma gruta
escondida perto de Assis, onde passou longos perı́odos em intensa
oraçã o. Ele deixaria apenas um amigo pró ximo acompanhá -lo, que
esperaria do lado de fora da caverna até que Francis emergisse, à s vezes
visivelmente cansado. Esses primeiros esforços na oraçã o foram um
verdadeiro esforço para encontrar Deus, conforme vividamente
descrito pelo apó stolo Paulo: “Mas uma coisa eu faço: esquecendo as
coisas que icaram para trá s, e estendendo-me à s que estã o antes,
prossigo para o marca, para o prê mio da vocaçã o celestial de Deus em
Cristo Jesus. ” ( Filipenses 3: 13-14).
Mais ou menos nessa é poca, Francisco fez uma peregrinaçã o por
conta pró pria à Bası́lica de Sã o Pedro em Roma, onde venerou o
primeiro Papa e Prı́ncipe dos Apó stolos no altar a ele dedicado. Mas
Francisco icou tã o consternado com as mesquinhas ofertas deixadas
em homenagem a Sã o Pedro que jogou um punhado de moedas diante
do altar. Moviam-se ruidosamente, atraindo a atençã o dos visitantes e
peregrinos, que se maravilhavam com tal expressã o de caridade. Saindo
da bası́lica, encontrou um grupo de mendigos que frequentava os
vestı́bulos, esperando a esmola dos peregrinos. O amor de Francisco
pela pobreza, que crescia cada vez mais em seu coraçã o, já era tã o
fervoroso que ele trocou ansiosamente suas roupas inas pelos trapos
de um dos infelizes. Ele passou o resto do dia como um deles, pedindo
esmolas e compartilhando com alegria sua escassa comida, antes de
embarcar na viagem de volta para casa.
A graça do Senhor continuou a expandir seu coraçã o e mente. Um
dia, em oraçã o, ele discerniu que Deus desejava que ele negasse a si
mesmo totalmente, conquistando sua vontade pró pria e considerando
como amargo e desagradá vel tudo o que ele uma vez amou. Ele sentiu o
Senhor lhe dizendo que se ele izesse isso, “... as coisas que antes te
faziam estremecer, te trarã o grande doçura e
contentamento”.10 Francisco tomou a resoluçã o de seguir esse
conselho e, logo apó s sua decisã o de embarcar nessa nova forma de
conduta, sua resoluçã o foi dramaticamente posta à prova.
Um problema sé rio na Itá lia e em toda a Europa durante a Idade
Mé dia, especialmente durante a é poca das Cruzadas, era a lepra. As
feridas purulentas, os tecidos apodrecidos e a des iguraçã o das vı́timas
faziam com que fossem evitadas e isoladas, e muitas vezes eram
forçadas a usar sinais e sinos avisando de sua abordagem.11A
populaçã o em geral os temia e os evitava, e Francisco nã o foi exceçã o
na maneira como tratou os leprosos. Enquanto cavalgava pelo campo
ao redor de Assis, ele inesperadamente encontrou um desses infelizes
que ele tanto odiava. Ele imediatamente experimentou uma onda de
aversã o e nojo ao ver o homem des igurado. Mas ele se lembrou de sua
resoluçã o e, superando-se, desmontou e se aproximou da pobre
criatura. O leproso estendeu a mã o para receber algumas moedas, que
Francisco prontamente lhe deu. Entã o o santo em desenvolvimento
baixou humildemente a cabeça e, inclinando-se para a frente, deu um
beijo gentil na mesma mã o doente. Enquanto o leproso agradecia,
Francisco montou rapidamente em seu cavalo e partiu mais uma
vez. Ele se virou para olhar ao redor e, embora estivesse cavalgando em
um campo aberto com uma visã o clara de todos os lados, nã o havia
sinal do leproso em lugar nenhum.
Este incidente mudou radicalmente sua visã o em relaçã o a esses
pobres infelizes, e ele logo estava fazendo visitas aos hospitais de
leprosos e lugares proibidos onde eles estavam alojados, dando
esmolas a cada um, beijando-os nas mã os e na boca. Desse modo, ele
venceu sua aversã o de toda a vida por eles e começou a experimentar a
doçura onde antes provara apenas o amargor, como o Senhor havia
predito. O pró prio Francisco escreveu em seu Testamento : “Quando eu
estava em pecado, a visã o de leprosos me enjoava alé m da conta; mas
entã o o pró prio Deus me conduziu à sua companhia, e eu tive pena
deles. ”12
Deus já havia conduzido o Pobre Homem de Assis - o Poverello - por
muito tempo em sua jornada para o desprendimento e a pobreza, mas
ele ainda estava vestido com as vestes do mundo. No entanto,
aproximava-se o dia em que Francisco faria uma ruptura de initiva e
de initiva com seu passado, sua famı́lia e seus apegos terrestres. Ele se
livraria dramaticamente das armadilhas e enfeites desta vida, a im de
se dedicar completamente, de corpo e alma, a viver o Evangelho de seu
Salvador cruci icado.

Capítulo 2
“Francis, vai, conserta minha casa.”

I T era agora o outono de 1205. Francisco passava grande parte de seu


tempo vagando pelos idı́licos sopé s da Umbria de Assis, contemplando
Deus e a beleza de Sua criaçã o, enquanto ao mesmo tempo re letia
sobre seu pró prio futuro incerto. Nã o muito longe da cidade, ele
encontrou uma velha capela em ruı́nas dedicada a Sã o Pedro Damiã o,
comumente conhecida como a igreja de Sã o Damiã o. Francisco entrou
com reverê ncia e encontrou-se completamente sozinho no edifı́cio
envelhecido, pois o padre designado para ele estava ausente na
é poca. Esse padre costumava testemunhar Francisco em seus dias
mais despreocupados, farreando pela cidade, e icaria muito surpreso
ao ver o jovem entrar na capela e se ajoelhar devotamente diante do
cruci ixo. Era uma grande pintura bizantina, retratando Jesus suspenso
na cruz em vida, seus olhos escuros expressivos exalando uma
resignaçã o pacı́ ica e calma de outro mundo. A imagem de Jesus foi
cercada por iguras menores e coloridas e sı́mbolos relacionados à
histó ria da salvaçã o. Francisco logo estava em profunda oraçã o diante
deste belo ı́cone de Nosso Senhor.1
Ao contemplar o semblante do Cristo cruci icado, viu os lá bios da
imagem começarem a se mover e ouviu claramente a voz de Jesus se
dirigindo a ele pelo nome: “Francisco, vai, conserta a minha casa, que,
como vê s, está caindo por completo para arruinar. "2Essa ordem foi
repetida mais duas vezes em sucessã o, e Francisco estava
compreensivelmente amedrontado e oprimido. Ele permaneceu
imó vel, icando extasiado em oraçã o - talvez em ê xtase. Quando ele
voltou a si, ele sabia que deveria começar imediatamente a realizar o
que o Senhor queria. Mas primeiro ele procurou e encontrou o padre
que estava no comando. Ele lhe deu algum dinheiro, pedindo que uma
lamparina permanecesse acesa diante do milagroso cruci ixo de Sã o
Damiã o.
Francisco interpretou a mensagem “consertar minha casa” no
sentido literal, como uma diretriz para consertar a capela em ruı́nas de
Sã o Damiã o. Ele voltou apressado para Assis, obteve furtivamente
algumas resmas de tecido ino e colorido na loja de secos e molhados
de seu pai e seguiu a cavalo até a cidade mercantil de Foligno. Lá ele
vendeu cavalos e tecidos, e voltou a pé para levar o dinheiro que havia
obtido ao padre de Sã o Damiã o, para que pudessem começar os reparos
na igreja. Mas esse sá bio prelado nã o aceitou os ganhos das transaçõ es
de Francisco em Foligno, porque conhecia bem o temperamento do pai
do jovem. Francisco, já tendo aprendido algo sobre desapego, nã o
estava disposto a icar com o dinheiro, entã o, com desdé m, jogou-o no
parapeito de uma janela. Esse padre gentil, no entanto, concordou em
deixar Francisco morar em sua casa perto da igreja.
Peter Bernardone, o pai de Francis, começou a procurá -lo. Nã o foi
tanto um esforço para encontrar seu ilho desaparecido, mas para
recuperar o dinheiro obtido com as transaçõ es de Foligno. Francisco,
que ainda carecia de total con iança em Deus e em sua pró pria vocaçã o,
escondeu-se, escondendo-se em uma caverna por cerca de um
mê s. Pelo menos um amigo ou parente sabia onde ele estava, já que
ocasionalmente um pouco de comida e á gua eram levados
secretamente para ele. Embora subsistir dessa maneira o enfraquecesse
isicamente, o con inamento permitiu-lhe dedicar longas e
ininterruptas horas à oraçã o e à meditaçã o. Gradualmente, sua fé
começou a se fortalecer e, iluminado pela graça de Deus, ele percebeu
sua covardia. Fortalecido por uma con iança renovada em Cristo e
transbordando de alegria espiritual, o agora desleixado rapaz saiu da
caverna e caminhou corajosamente para Assis - apenas para ser
recebido com zombaria e zombaria de seus amigos e vizinhos.
Enquanto o abatido e desgrenhado servo de Deus passava por eles
pelas ruas, os habitantes da cidade o saudaram com lama, terra e
pedras, tratando-o como se ele tivesse enlouquecido. Ouvindo a
comoçã o, seu pai correu e agarrou o jovem, arrastando-o para a casa da
famı́lia. Quando o raciocı́nio com o ilho nã o funcionou, ele o espancou e
o acorrentou no porã o, para desgosto da mã e de Francis, Pica. Seu pai
achava que era melhor manter esse ilho rebelde fora de vista, do que
fazer com que ele arruinasse a reputaçã o da famı́lia vagando pelas ruas
como um vagabundo inú til.
Alguns dias depois, o mais velho Bernardone foi chamado a
negó cios. Pica viu isso como sua oportunidade de libertar o menino, o
que ela fez, embora signi icasse que ela teria que enfrentar a ira do
marido. Francisco, exultante com sua liberdade recé m-descoberta,
voltou com alegria a Sã o Damiã o.
Quando Pedro voltou e encontrou Francisco desaparecido, ele
inicialmente expressou sua raiva em Pica, e entã o saiu em alvoroço
para resgatar Francisco a im de apresentá -lo ao bispo local. Ele já
havia tentado fazer com que as autoridades municipais izessem
Francisco entregar os rendimentos de Foligno, mas eles nã o
intervieram, alegando que seu ilho estava agora sob a tutela da Igreja e
nã o sob jurisdiçã o civil.3 Desta vez, Francisco saiu ao encontro do pai,
sem se encolher e se esconder como antes, e respeitosamente o
acompanhou até a residê ncia do bispo.
Ali, diante de muitas testemunhas ditas presentes, a dupla se
apresentou diante de Guido, o bispo de Assis. O Bispo explicou
calmamente a Francisco que seria um erro restaurar Sã o Damiã o com
os fundos obtidos com a venda de itens que nã o pertencem a ele. Ele
exortou o jovem a ter total con iança em Deus, que ielmente proveria
tudo o que fosse necessá rio para reconstruir a igreja. Francis agora
percebeu que tinha sido errado vender os bens de seu pai, mesmo por
uma boa causa. Ele concordou de bom grado que o dinheiro deveria ser
devolvido a ele.
Francisco entã o passou a realizar um dos gestos mais dramá ticos já
registrados na longa histó ria da cristandade. Ele insistiu que nã o
apenas o dinheiro, mas todos os itens em sua posse que vieram de sua
famı́lia deveriam ser devolvidos a seu pai, incluindo as pró prias roupas
que ele estava vestindo. Para a surpresa de todos, ele tirou suas belas
vestes uma a uma, inclusive as calças, e as deu a Peter Bernardone. Ele
icou agora com a ú nica peça de roupa que era dele por direito, uma
camisa de cabelo que ele estava usando secretamente. Ele acompanhou
esse feito chocante com estas palavras aos espectadores mudos: “De
agora em diante direi 'Pai nosso que está s nos cé us', e nã o pai Peter
Bernardone.”4, 5
O Bispo compreendeu imediatamente que só o Espı́rito de Deus
poderia ter inspirado um ato tã o corajoso. Francisco tinha decidido
de initivamente seguir os passos do Mestre, que se viu despojado de
tudo, estando pendurado quase nu na cruz. A partir de entã o, as
simpatias de Dom Guido foram para com o Poverello, o Pobre Homem
de Deus. Ele puxou o jovem para si e o cobriu ternamente com as
dobras de seu manto de bispo, um ato de caridade que simbolizava que
Francisco seria agora abraçado e protegido pela Igreja. O bispo pediu a
alguns de seus assistentes que trouxessem algo para Francisco vestir, e
eles voltaram com uma tú nica velha e surrada de um
lavrador. Francisco o aceitou com alegria e com um pedaço de giz
desenhou uma cruz sobre ele.6
Ele havia se comprometido irrevogavelmente em deixar o mundo e
todas as suas armadilhas para trá s e agora estava vestido com o sinal de
Cristo Cruci icado diante dos olhos de Deus e do homem. Francisco nã o
teria mais volta e foi iel ao seu chamado pelo resto da vida, atento ao
preceito do Evangelho: “Disse-lhe Jesus: Ningué m que põ e a mã o no
arado e olha para trá s é adequado para o reino de Deus. ” ( Lucas 9:62).

Capítulo 3

Arauto do Grande Rei

N OW que ele estava realmente separado do mundo, Francis passou os


primeiros dias desta gloriosa liberdade cantando os louvores de Deus,
enquanto passeia sobre as colinas charmosas e vales que embelezam a
paisagem de Assis. Ele estava tã o cheio de alegria e con iança que,
quando alguns ladrõ es o abordaram e questionaram, ele respondeu
alegremente: "Eu sou o Arauto do Grande Rei!"1Eles prontamente o
esmurraram e o jogaram em uma vala cheia de neve. Francisco desceu
alegremente, ainda louvando a Deus, e nã o pensou mais em seus
agressores depois de perdoá -los de coraçã o.
Ele logo se aventurou no mosteiro beneditino de San Verecondo,
onde permaneceu por alguns dias trabalhando como ajudante de
cozinha e criado. Aqui, o estranho malvestido era desprezado,
perseguido e tratado com desprezo. Visto que esses monges nã o o
deixavam em paz, ele saiu daquele lugar, buscando o silê ncio da oraçã o
e da meditaçã o em outro lugar. Chegou à cidade de Gubbio, onde
conheceu um conhecido anterior que se emocionou ao ver Francisco
em farrapos. Este gentil cavalheiro deu-lhe um de seus casacos, junto
com uma tira de couro, sapatos e um cajado. Enquanto em Gubbio,
Francis passou algum tempo em uma colô nia de leprosos pró xima, onde
cuidou das feridas e lesõ es dessas criaturas tristes, lavando o bichano
infectado e beijando ternamente suas feridas.
Durante esse tempo, o anjo do Senhor havia mexido com sua
consciê ncia, e seus pensamentos se voltaram para a visã o que tivera
em Sã o Damiã o e para seu dever de cumprir a sagrada comissã o de
Cristo de consertar Sua igreja. Agora era o verã o do ano 1206; cerca de
nove meses se passaram desde aquele evento milagroso.2Voltou a Sã o
Damiã o e garantiu ao padre residente que agora tinha a bê nçã o do
bispo para prosseguir com honestidade o trabalho. Os blocos de
construçã o foram necessá rios para o esforço de reconstruçã o, e
Francisco passou por Assis pedindo pedras e, em seguida, carregando
as lajes pesadas de volta para a capela.
O padre procurou compensá -lo preparando refeiçõ es um tanto
condizentes com as comidas inas a que Francisco estava acostumado
quando morava em casa. Francisco, poré m, logo reconheceu que isso
nã o condizia com seu desejo de pobreza e desprendimento, e pô s im a
esse tratamento especial. Em vez disso, desprezando a vergonha, ele foi
para a cidade carregando uma tigela e implorando por restos de
comida. Quando voltou a San Damiano e sentou-se para comer do prato,
icou enojado com a mistura nada apetitosa. Lutando para se superar,
ele conquistou sua aversã o natural e se forçou a comer; e o Senhor,
satisfeito com Seu servo leal, fez com que esse guisado amargo tivesse o
gosto de uma refeiçã o saborosa.
Aos poucos, a opiniã o popular sobre Francisco entre muitas
pessoas de Assis e arredores começou a mudar de zombaria e piedade
para admiraçã o. Sua alegria espiritual era contagiante e alguns até
começaram a ajudá -lo no projeto de construçã o. Ele profetizou a eles
que a igreja um dia faria parte de um convento de virgens santas que
dariam grande gló ria ao Senhor. Em seis anos, essa previsã o foi
cumprida ao pé da letra, quando Santa Clara de Assis e seus primeiros
seguidores izeram de Sã o Damiã o o lar de sua Ordem.3, 4A
autenticidade desta profecia é veri icada no Testamento de Santa Clara,
escrito em latim alguns anos antes de sua morte em 1253:
O pró prio Santo, como quem ainda nã o tinha frades nem companheiros,
logo apó s sua conversã o, quando estava construindo a Igreja de Sã o
Damiã o ... profetizou por causa da grande alegria e iluminaçã o do
Espı́rito Santo a nosso respeito (Clarissas), que o Senhor depois
cumprido.

Por ter subido naquele momento sobre um muro da dita igreja, a certos
pobres que moravam ali perto, falava em lı́ngua francesa, gritando:
“Vem ajudar-me nas obras do Mosteiro de Sã o Damiã o, porque um dia
haverá sejam senhoras lá , cuja famosa vida e comportamento santo
glori icarã o Nosso Pai Celestial em toda a Santa Igreja ”.5

Depois que San Damiano foi restaurado, Francisco mudou-se para


outra igreja isolada em ruı́nas. Esta casa de culto, construı́da em
homenagem a Sã o Pedro, chamava-se San Pietro della Spina; ele
també m foi reparado por Francis. Em seguida, ele encontrou uma
capela pobre e deserta, de origem verdadeiramente antiga, dedicada a
Nossa Senhora, chamada Porciú ncula, ou Pequena Porçã o. Ele foi
imediatamente atraı́do por ela, uma vez que já era muito devotado à
Mã e de Deus.
Esta pequena igreja, pertencente aos beneditinos do Monte
Subasio, estava em ruı́nas e estava totalmente abandonada, exceto
pelos pastores, que a usavam como abrigo durante o mau
tempo. Segundo a tradiçã o, foi construı́do no sé culo IV por um grupo de
eremitas da Palestina, que nele depositaram relı́quias do sepulcro da
Santı́ssima Virgem.6A Porciú ncula era també m conhecida como Nossa
Senhora dos Anjos porque se dizia que ali se ouviam com frequê ncia o
canto dos anjos. Quando Francisco começou o trabalho de restauraçã o
desta igreja, que está localizada em uma planı́cie a apenas cerca de um
quilô metro de Assis, ele estava tã o apaixonado por sua santidade que
decidiu morar perto de uma cabana abandonada. A Porciú ncula foi a
terceira capela que se comprometeu a restaurar.
O bió grafo de Francisco, Sã o Boaventura, considerou que essas
igrejas simbolizavam as trê s Ordens que Francisco encontraria ao
cumprir a ordem de Cristo para reparar Sua Igreja - a Ordem dos Frades
Menores para padres e irmã os, as Clarissas para as mulheres e a Ordem
Terceira de Sã o Francisco, instituı́da principalmente para os leigos.7A
Ordem dos Frades Menores juntam-se hoje dois ramos, os Capuchinhos
e os Conventuais. Esses ramos da Primeira Ordem surgiram ao longo
do tempo como um testemunho do poder vibrante do carisma
franciscano. Alé m disso, a Ordem Terceira Regular agora existe para
membros da Ordem Terceira que desejam viver em comunidade.
Em 24 de fevereiro de 1208, Francisco pediu ao sacerdote de Sã o
Damiã o que viesse celebrar a missa na Porciú ncula pela festa do
Apó stolo Sã o Matias. A leitura do Evangelho era do dé cimo capı́tulo de
Sã o Mateus, descrevendo as palavras de Jesus quando ele comissionou
os Doze Apó stolos para começar sua missã o apostó lica.8
E indo, pregando, dizendo: O reino dos cé us está pró ximo. Cure os
enfermos, ressuscite os mortos, puri ique os leprosos, expulse os
demô nios: de graça recebestes, de graça dai. Nã o possua ouro, nem
prata, nem dinheiro em tuas bolsas; nem alforje para a tua viagem, nem
duas tú nicas, nem sapatos, nem um bordã o; pois o trabalhador é digno
de sua comida. E em qualquer cidade ou vila em que você entrar,
pergunte quem nela é digno e ali permaneça até que você vá para lá . E,
quando entrares em casa, saú da-a, dizendo: Paz seja com esta casa. E se
essa casa for digna, sua paz virá sobre ela; mas se nã o for digno, sua paz
voltará para você . E qualquer que nã o te receber, nem ouvir as tuas
palavras: saindo daquela casa ou cidade sacudir o pó de teus
pé s. ( Mateus 10: 7-14).

Esta passagem do Santo Evangelho teve um impacto profundo em


Francisco. Parecia que essas palavras, ditas há tanto tempo, eram
dirigidas diretamente a ele, instruindo-o a viver na pobreza enquanto
pregava o reino de Deus. Depois de pedir ao padre que lhe explicasse a
leitura para ter certeza de que a entendia, Francisco imediatamente e
com alegria respondeu à mensagem. Ele gritou: “Isto é o que desejo, é
isto que procuro, isto é o que desejo fazer de todo o meu coraçã o!”9Foi
um momento transformador e crucial em sua vida, como se Jesus o
tivesse pessoalmente comissionado, por meio dessa passagem bı́blica,
para ser um de seus apó stolos. Deus havia preparado Francisco para
esta etapa decisiva de sua jornada, passo a passo ao longo dos ú ltimos
anos, criando uma saudade em seu coraçã o - uma â nsia espiritual que
Francisco foi incapaz de discernir completamente - até que essas
palavras da Escritura foram pregadas a ele. .
Seu primeiro ato foi literalmente vestir-se de acordo com as
instruçõ es de Cristo e guardou o cajado, os sapatos e a carteira. Ele
vestiu a tú nica rú stica de lã comum aos camponeses, que tinha o
formato de uma cruz, e substituiu seu cinto de couro por um cordã o de
corda. Entã o, usando um discurso claro e simples, ele saiu e começou a
pregar a mensagem de penitê ncia e o Evangelho da paz a todos que
encontrava. Ele começou suas oraçõ es com a saudaçã o: “O Senhor vos
dê a paz!” - uma saudaçã o que Francisco mais tarde declarou ter sido
ensinada a ele diretamente pelo Senhor. Suas palavras tinham o poder
do Espı́rito Santo por trá s delas, visto que ele era um homem que havia
experimentado pessoalmente o Deus que estava proclamando. Ele
imediatamente começou a in luenciar e inspirar muitos de seus
ouvintes. Muitas vezes, aqueles que se emocionaram com sua pregaçã o
já haviam testemunhado seu modo de vida e compreendiam que
Francisco estava realmente vivendo e praticando o que ensinava.
Nã o foi muito depois do inı́cio deste ministé rio pú blico que Deus
começou a chamar as pessoas a seguirem os passos de Francisco. O
primeiro deles foi um nobre e advogado rico, Bernardo de
Quintavalle. Bernard icou profundamente comovido com as palavras e
a santidade dessa alma angelical. No entanto, a im de dirimir algumas
dú vidas, um dia ele convidou o pregador itinerante para jantar em sua
casa e pernoitar. Ele providenciou para que uma cama extra fosse
colocada em seu pró prio quarto, onde uma lamparina a ó leo
permaneceria acesa durante a noite. Fingindo estar dormindo, ele
observou Francis se levantar da cama e se ajoelhar no chã o em oraçã o
fervorosa. Ele podia ouvir as palavras "Meu Deus e meu tudo!" sendo
repetido durante toda a noite, enquanto Francisco elevava seu coraçã o
ao Senhor incessantemente. No dia seguinte, Bernardo, agora
convencido de que estava na presença de um homem de verdadeira
santidade, perguntou a Francisco se poderia juntar-se a ele como
companheiro espiritual. O Poverello de Assis exultou, pois lhe foi dada a
graça de compreender que o Senhor estava chamando Bernardo de
Quintavalle para ser o primeiro de seus seguidores.
Bernardo disse a Francisco que pretendia doar toda a sua
riqueza; no entanto, os dois homens queriam ter certeza de que essa
era a vontade de Deus. Eles entraram na igreja de Sã o Nicolau,
localizada na cidade de Assis, e passaram muito tempo orando
lá . Entã o Francisco abriu o livro dos Evangelhos trê s vezes em
homenagem à Trindade para ver se o Senhor revelaria se Bernardo
deveria desistir de todas as coisas.*A primeira abertura revelou as
palavras: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá -o aos
pobres”. ( Mateus 19:21). Na segunda abertura: “Nã o leve nada na sua
jornada.” ( Lucas 9: 3). Na terceira vez: “Se algué m quer vir apó s mim,
negue-se a si mesmo.” ( Lucas 9:23). A partir daı́ icou claro o que o
Senhor desejava de Bernardo, e ele se apressou em colocar em prá tica
esses conselhos, vendendo tudo o que possuı́a, dando seu dinheiro aos
pobres e seguindo a Cristo sob a orientaçã o de Francisco.10, 11

Capítulo 4

“Os Irmãos Menores”

N EW irmã os foram adicionados rapidamente uma vez soube-se que


Francis começou a atrair seguidores. Entre os primeiros a se juntar a
ele estavam o irmã o Giles, que mais tarde se tornaria conhecido por
seu dom da contemplaçã o sublime, e um padre, o padre Silvester. Em
pouco tempo, havia cerca de uma dú zia deles, e eles icaram em
cabanas adjacentes à igreja de Nossa Senhora dos Anjos, a Porciú ncula -
berço da jovem Ordem. Eles abraçaram a Pobreza Sagrada, recusaram-
se a possuir propriedades e desprezaram o dinheiro. Quando eles nã o
podiam trabalhar para sua comida, eles imploraram por suas
necessidades. Francisco e seus seguidores adotaram este estilo de vida
porque imitava a pobreza evangé lica de Jesus e lhes permitia elevar
continuamente o coraçã o a Deus na oraçã o incessante, tanto em
comum como em particular. Ele ensinou a seus seguidores: “Saibam,
meus ilhos, que a pobreza é o caminho especial para a salvaçã o; seu
fruto é mú ltiplo, mas é realmente conhecido apenas por alguns ”.1
Francisco começou a chamar seus irmã os de irmã os menores, ou
Frades menores. Ao escolher este nome, ele se inspirou no que está
escrito no livro de Lucas: “Nã o temas, pequeno rebanho, porque a teu
Pai agradou dar-te um reino.” ( Lucas 12:32). Francisco també m tinha
em mente a pará bola das ovelhas e dos bodes, na qual o Senhor virá na
gló ria para separar aqueles que foram bons para Ele enquanto estava
com fome, necessidade e prisã o, daqueles que nada izeram. Quando os
praticantes de boas açõ es perguntam quando já O viram com fome,
sede e necessidade, eles ouvem a resposta: “Em verdade vos digo, desde
que o izestes a um destes meus irmã os menores, o izeste a
mim." ( Mateus 25:40). Por essas razõ es, Francisco desejava que seus
seguidores fossem conhecidos como os menores dos irmã os.
Francisco aproveitou a seguinte explicaçã o para encorajar os
irmã os que tinham vergonha de mendigar. Disse que sempre que
pediam esmola a uma pessoa, pelo menos, estavam a fazer um acto de
caridade, porque essa pessoa agora tinha a oportunidade de fazer um
bom trabalho. Ele explicou que aquelas almas afortunadas que deram
esmolas aos frades ganharam mé rito para sua recompensa celestial,
praticando “o que fará com que sejam glori icados pelo Juiz Supremo”.2
Francisco traçou uma breve e elementar “Regra” de vida para os
frades, baseada em sua maneira simples de viver o Evangelho - sem
posses, na castidade e na obediê ncia. Para garantir que eles eram de
fato submissos aos desejos da Santa Madre Igreja e para buscar a
aprovaçã o formal de sua Regra, o pequeno grupo de companheiros
viajou a Roma para buscar uma audiê ncia com o Papa. Era a primavera
de 1209 quando os “irmã os menores” saı́ram ao encontro do maior dos
papas medievais, Inocê ncio III. Este papa nã o era apenas o lı́der
espiritual da Igreja Cató lica, ele també m era o governante temporal de
grandes á reas da Itá lia central, conhecidas como Estados Papais, e em
breve presidiria o Quarto Concı́lio de Latrã o.
Providencialmente, o bispo Guido de Assis estava em Roma naquela
mesma é poca. Ao ver Francisco chegar com todos os seus seguidores,
começou a temer que eles tivessem decidido se mudar de Assis, onde já
haviam efetuado uma mudança maravilhosa no modo de vida de seus
cidadã os. Francisco se apressou em colocar o bispo Guido à vontade
sobre o assunto. Mas quando explicou ao bispo que os frades estavam
em Roma para buscar a aprovaçã o formal para seu estilo de vida
evangé lico, o bispo Guido expressou sua preocupaçã o de que essa
maneira de viver, sem bens e sem dinheiro, seria muito
rigorosa. Francisco respondeu que se os irmã os aceitassem o dinheiro
e os bens materiais, estes poderiam se tornar uma fonte de disputas e
contendas, impedindo-os do amor a Deus e ao pró ximo. Possivelmente
preocupado com bandidos e ladrõ es que frequentavam o campo, ele
acrescentou que possuir bens signi icaria que “també m deverı́amos
ser forçados a ter armas para protegê -los”.3
O bispo Guido decidiu apresentar Francisco a um in luente cardeal,
Joã o de Sã o Paulo, que icou muito impressionado com a sinceridade e
a piedade do pobre de Assis e seu grupo de irmã os. Ele prometeu
arranjar uma audiê ncia para Francisco e seus frades com o Papa
Inocê ncio III. Um dos primeiros relatos a irma que Francisco já havia
tentado se encontrar com o Papa por conta pró pria e fora mandado
embora.4 No entanto, no encontro organizado pelo Cardeal, o Santo
Padre ouviu com atençã o as explicaçõ es de Francisco sobre seu modo
de vida e icou favoravelmente impressionado com o comportamento e
a santidade do Poverello e seus companheiros.
Como acontecera com o bispo Guido, o Papa també m tinha fortes
reservas quanto a aprovar a Regra que Francisco estava propondo,
objetando que era muito rigorosa e extrema. Muitos dos cardeais que
ele consultou se sentiram da mesma maneira. Alé m disso, naquela
é poca, as principais heresias do albigensianismo e do catarismo
estavam em plena loraçã o em terras cató licas. Entre outras falsas
doutrinas, esses movimentos propunham um dualismo entre o bem e o
mal, que supostamente haviam criado o espı́rito e a maté ria,
respectivamente, e consideravam a maté ria e o mundo fı́sico como
intrinsecamente maus.5O papa havia até começado uma cruzada
armada contra os albigenses na França no ano
anterior. Conseqü entemente, alguns dos cardeais da Cú ria estavam
preocupados que Francisco e seus seguidores desejassem abraçar a
pobreza por razõ es heré ticas, considerando os bens materiais como
um mal em si.6
Francisco, poré m, foi motivado pelo desejo de se conformar ao
caminho da pobreza evangé lica, porque isso lhe foi revelado como um
meio de aproximaçã o com Deus. O seu abraço à “Senhora Pobreza” foi
um ı́mpeto positivo decorrente do seu desejo de seguir os passos de
Jesus Cristo, em vez de se basear num ó dio negativo à s coisas
materiais. Na verdade, seu louvor à criaçã o de Deus e de Suas criaturas,
que logo se manifestariam em seus escritos e em sua vida, era a antı́tese
dessas heresias.
O Cardeal Joã o de Sã o Paulo, vendo a hesitaçã o do Papa, dirigiu-se
ao Santo Padre e à Cú ria com uma advertê ncia de que se eles
rejeitassem a petiçã o de Francisco, na verdade estariam rejeitando o
ensinamento de Cristo. “Qualquer um que disser que um voto de viver
de acordo com a perfeiçã o do Evangelho conté m algo novo ou
irracional ou muito difı́cil de ser observado, é culpado de blasfê mia
contra Cristo, o Autor do Evangelho.”7 O Santo Padre, que apenas
desejava ter certeza da vontade de Deus neste assunto, encerrou as
deliberaçõ es, com um apelo para que oraçõ es fossem feitas para
determinar o bom prazer Divino.
As primeiras crô nicas franciscanas falam de uma sé rie de sonhos e
visõ es vividos por Francisco e pelo Santo Padre durante esse tempo. O
mais importante deles foi o sonho de Inocê ncio III logo apó s seu
encontro com Francisco. Neste sonho, ele se viu sozinho dentro da
Bası́lica e Palá cio de Sã o Joã o de Latrã o, que na é poca era a residê ncia
o icial do Papa. Ele estava olhando para toda a sua gloriosa arquitetura
e obras de arte, quando de repente houve um grande estrondo e as
paredes, colunas e teto da magnı́ ica bası́lica começaram a desmoronar
e tombar. Fechou os olhos assustado, mas quando os reabriu,
surpreendeu-se ao ver que o Latrã o ainda estava de pé , graças a uma
pessoa gigantesca que o apoiava nos ombros. Despertando
sobressaltado, percebeu que o gigante que segurava a Bası́lica em seu
sonho era o pequeno frade descalço e de comportamento humilde,
Francisco de Assis.
Agora livre de suas dú vidas, ele de bom grado aprovou verbalmente
a primeira Regra da Ordem e permitiu que Francisco e seus seguidores
pregassem em pú blico uma mensagem simples de arrependimento,
enquanto proclamavam as Boas Novas de salvaçã o. Com efeito, esta era
a mesma missã o que Nosso Senhor havia assumido quando “… veio
para a Galilé ia, pregando o Evangelho do reino de Deus, e dizendo: O
tempo está cumprido, e o reino de Deus está pró ximo: arrependei-vos, e
creia no Evangelho. ” ( Marcos 1: 14-15).
O Papa Inocê ncio deu mais um passo ao admitir todos os irmã os ao
estado clerical, conferindo-lhes o sagrado rito da tonsura (tosquia dos
cabelos). Pouco tempo depois, os primeiros franciscanos partiram de
Roma levando sua Regra aprovada, tendo obtido do Santo Padre tudo o
que haviam rezado. Assim, em 16 de abril de 1209, foi instituı́da
canonicamente a Ordem dos Frades Menores. Infelizmente, para o bem
da histó ria, as có pias desta primeira Regra, originalmente escrita por
Francisco e con irmada oralmente pelo Papa, nã o foram preservadas,
embora tenham sido feitas tentativas para reconstruı́-la.8

capítulo 5

Rivo Torto

O alegre grupo de irmã os começou sua jornada de volta para casa e


icou por um curto perı́odo perto de uma pequena cidade ao norte de
Roma chamada Orte, onde moraram em uma igreja deserta por cerca
de duas semanas antes de seguirem adiante. Francisco estava relutante
em permanecer ali por mais tempo porque o encantamento da
paisagem pitoresca e a tentaçã o de considerar sua residê ncia uma
“possessã o” poderiam enfraquecer a determinaçã o e o compromisso
de sua ordem nascente. Prosseguindo na direçã o de Assis, eles
encontraram um casebre em ruı́nas que mal podia acomodá -los. Esta
cabana sem valor, localizada em Rivo Torto, era idealmente adequada
para esses homens de Deus, comprometidos como estavam com uma
vida de oraçã o, pobreza e morti icaçã o. Aqui eles estabeleceram sua
morada. O lugar era tã o pequeno que Francisco teve que escrever o
nome de cada irmã o ao longo das vigas para que cada um soubesse
onde deveria rezar e descansar, sem incomodar ningué m.
Durante sua estada em Rivo Torto, Francisco visitava os bairros e
vilarejos pró ximos, pregando o evangelho simples, mas poderoso, do
arrependimento e do retorno ao amor de Deus. Embora ele se sentisse
fortemente atraı́do pela vida de um eremita de oraçã o e solidã o, ele
estava começando a sentir que sua verdadeira vocaçã o era sair entre as
pessoas a im de ganhar almas para Cristo. Sua pregaçã o ousada e
con iante atraiu pessoas de todas as idades e posiçõ es - tanto homens
quanto mulheres, leigos e clé rigos. Mesmo os eruditos icaram
impressionados com a simplicidade penetrante de suas palavras. Ele
falou com compaixã o sobre o amor a Deus e ao pró ximo e como viver
em paz uns com os outros por amor de Deus. Ele falou clara e
“brevemente sobre vı́cio e virtude, castigo e gló ria, porque na terra o
pró prio Nosso Senhor manteve suas palavras curtas”, como ele
escreveria mais tarde na Regra de 1223.1
No minú sculo abrigo em Rivo Torto, os irmã os passavam grande
parte do tempo imersos em oraçã o contı́nua. Visto que nã o possuı́am
livros ou escritos litú rgicos, eles meditavam sobre Cristo e Seus
sofrimentos e louvavam a Deus em Suas obras e Suas criaturas. Como
simples ovelhas diante de seu pai espiritual, certa vez perguntaram a
Sã o Francisco como deveriam orar. Ele os exortou a perseverar
no Pater Noster , o “Pai Nosso”, e a acrescentar palavras como: “Nó s Te
adoramos, ó Cristo, em todas as Tuas igrejas em todo o mundo, e Te
agradecemos, porque por Tua Santa Cruz Tu redimiste o mundo. ”2 Ele
os ensinou a prestar homenagem especial a todos os sacerdotes, sem
considerar nenhum dos seus pecados, “porque posso ver o Filho de
Deus neles e eles sã o melhores do que eu”.3 Mas acima de tudo, ele
queria que o Santı́ssimo Sacramento fosse adorado e honrado, “porque
neste mundo nã o posso ver o Altı́ssimo Filho de Deus com meus
pró prios olhos, exceto por Seu santı́ssimo Corpo e Sangue”.4
Numa noite de sá bado, Francisco foi sozinho a Assis, pois deveria
pregar na manhã seguinte na Catedral. Em preparaçã o para seu
discurso, ele passou a noite absorto em oraçã o. Por volta da meia-noite
em Rivo Torto, enquanto alguns dos irmã os rezavam e os outros
dormiam, um objeto misterioso semelhante a uma carruagem de fogo
entrou pela porta da cabana. Ele circulou a sala trê s vezes antes de
desaparecer, aterrorizando e surpreendendo a todos. A carruagem era
encimada por um globo de luz brilhante, que iluminava o casebre
escuro como o sol, e també m iluminava de forma maravilhosa as
mentes de todos os presentes. Em sua luz mı́stica, suas consciê ncias
foram expostas e eles podiam ler o coraçã o um do outro. Ao mesmo
tempo, foi-lhes revelado que o globo resplandecente era a alma do
pró prio Francisco, que se tornou presente no espı́rito aos seus
companheiros por meio desta visã o. O milagre foi permitido por Deus
para fortalecer a nova Ordem, e para con irmar e inspirar os frades na
escolha de seguir Francisco: “Os frades perceberam que o Espı́rito de
Deus habitava em Seu servo Francisco com tanta abundâ ncia que eles
nã o hesitaram em seguir sua vida e ensino. ”5, 6
Depois de alguns meses em Rivo Torto, um dia um camponê s
grosseiro e seu burro apareceram por acaso na cabana. Imediatamente,
ele e o irmã o Ass forçaram a entrada e ixaram residê ncia. Francisco
nã o precisou de mais nenhum sinal para persuadi-lo a buscar outro
lugar de refú gio para si e seus companheiros - de preferê ncia uma
pequena igreja com um abrigo pró ximo que pudesse acomodar outros
que desejassem se juntar à Ordem. Depois de tentativas infrutı́feras de
obter permissã o do bispo de Assis e dos cô negos da Catedral para o uso
de alguma capela humilde, ele se aproximou dos monges do mosteiro
beneditino do Monte Subasio, com vista para Assis.
Lá o abade simpatizou com a situaçã o deles e permitiu à
irmandade o uso da pequena capela da Porciú ncula que Francisco havia
reparado. Francisco exultou, porque amava esta igreja simples e pobre
acima de todas as outras, especialmente porque era dedicada à
Santı́ssima Virgem como Nossa Senhora dos Anjos. Na verdade, foi
revelado a ele que a pró pria Senhora Santı́ssima considerava esta sua
igreja mais querida, e ele a irmou que, “De todas as igrejas no mundo
que a Santı́ssima Virgem ama, ela tem o maior amor por esta”.7

Capítulo 6
A primeira lor

I T foi provavelmente inı́cio em 1210 que Francisco e seus


companheiros se mudou para cabanas adjacentes à capela da
Porciú ncula. Naquela é poca, havia apenas um pequeno nú mero de
frades, mas a Ordem cresceria rapidamente à medida que a reputaçã o
de santidade de Francisco se espalhava por toda a á rea
circundante. Junto com os homens solteiros, muitas vezes os casais e
as mulheres solteiras eram atraı́dos por esse modo humilde de
penitê ncia e simplicidade do Evangelho, e o Santo acabaria por
acomodar essas duas classes de pessoas na famı́lia franciscana.
Durante a Quaresma de 1212, Clara (Chiara Offreduccio), uma
jovem donzela bem nascida de Assis, ouviu com entusiasmo como
Francisco pregou um curso de sermõ es na igreja de San Giorgio. Essa
garota de dezoito anos tinha uma reputaçã o de santidade e piedade e, à
medida que sua vida espiritual se desenvolvia, també m havia seu
desgosto por atividades mundanas e aversã o ao casamento. Seu
bió grafo Thomas de Celano a retrata liricamente como “uma jovem em
idade, mas madura em espı́rito; irme em propó sito e mais ardente em
seu desejo pelo amor divino; dotado de sabedoria e excelente em
humildade. ”1 Para Sã o Boaventura, “ela brilhava como uma estrela
radiante, perfumada como uma lor desabrochando branca e pura na
primavera”.2
Inspirada pela pregaçã o de Francisco, seu coraçã o se abriu a novos
horizontes e ela desejou levar uma vida de pobreza evangé lica e oraçã o
em imitaçã o dos frades. Clare queria conhecer Poverello, de trinta anos,
que já ouvira falar de sua pró pria reputaçã o de santidade. Na verdade,
foi Francisco quem iniciou o primeiro de seus encontros furtivos e
prometeu proteger e guiar Clara em sua busca espiritual.3Depois de
vá rias dessas visitas clandestinas, nas quais sempre havia algué m,
Clara decidiu que també m ela seguiria a Cristo renunciando ao
mundo. Na noite do Domingo de Ramos de março daquele ano, ela
deixou secretamente sua casa e correu para encontrar Francisco na
Porciú ncula, como haviam planejado de antemã o.
Acompanhada de um amigo de con iança, Clara chegou em
segurança à pequena capela, onde foram recebidos por Francisco e seus
irmã os carregando velas acesas. Em uma cerimô nia diante do altar de
Nossa Senhora dos Anjos, ela assumiu o compromisso de toda a vida de
seguir Jesus Cristo sob a orientaçã o de Francisco. Durante o rito,
Francisco tosou as longas mechas loiras (ainda hoje preservadas) da
virgem ajoelhada. Ele entã o passou a vesti-la com um vé u e, em seguida,
com a tú nica á spera caracterı́stica dos primeiros franciscanos, para
simbolizar seu abraço de pobreza. Assim como Francisco se tornou um
seguidor da vida evangé lica de Jesus, Clara logo emularia a vida oculta
de Nossa Senhora.
A humilde capela da Porciú ncula parecia agora uma pequena Belé m,
berço das duas primeiras Ordens franciscanas: a Ordem dos Frades
Menores, para os homens, e as Clarissas, para as santas virgens. “Assim,
é claro que a Mã e misericordiosa deu à luz as duas Ordens religiosas
em sua pró pria casa.”4Mas a residê ncia de Clara na Porciú ncula, casa
dos frades, estava fora de cogitaçã o. Francisco providenciou para que
ela fosse acolhida no convento das freiras beneditinas de Sã o Paulo, em
Basta Umbria, a poucos quilô metros de Assis. Acompanhada por
segurança por alguns dos irmã os, ela foi calorosamente saudada ao
chegar ao convento pelas freiras residentes.
Nesse ı́nterim, sua famı́lia icou furiosa quando percebeu o que
havia acontecido - eles nã o podiam entender como algué m de
nascimento nobre poderia abandonar um futuro promissor para seguir
um bando de vagabundos. Alé m disso, o que ela fazia era sem
precedentes, já que nenhuma outra mulher havia escolhido o estilo de
vida de Francisco.
Nã o demorou muito para que os parentes de Clara, acompanhados
por alguns de seus amigos, entrassem com ousadia na capela do
convento de Basta Umbria e tentassem arrastar a determinada
herdeira para casa pela força bruta. Mas Clare, agarrando-se aos lençó is
do altar e expondo sua cabeça tosada, proclamou sua intençã o de
nunca se separar de seu compromisso de servir a Cristo. Depois que ela
se retirou para os aposentos das freiras, que eram protegidos por
decreto da Igreja de quaisquer estranhos, os intrometidos tentaram
usar a razã o e promessas persuasivas para induzi-la a mudar de
ideia. Eles lutaram por muitos dias, até que sua determinaçã o
inalmente convenceu a famı́lia de que suas sú plicas eram inú teis, e
eles partiram.5
Para dar mais solidã o a Clara, Francisco a enviou ao mosteiro
beneditino de Santo Angelo de Panzo, que icava perto de Assis, nas
encostas do monte Subasio. Pouco depois de sua chegada a este refú gio,
sua irmã Caterina, de quatorze anos, que adotaria o nome de Agnes na
religiã o, juntou-se a ela. Isso levou a uma repetiçã o das lutas que
haviam sido travadas por Clare - no dia seguinte à chegada de Agnes,
uma dú zia de homens a arrastou isicamente do convento. Agnes
clamou a sua irmã por ajuda, e Clare, prostrando-se em oraçã o,
implorou ao Senhor que protegesse sua irmã desses parentes
saqueadores.
Os homens a arrastaram para o lado do Subasio, rasgando suas
roupas e puxando seus cabelos. Ela caiu no chã o diante de um certo
riacho, e quando os sequestradores tentaram erguê -la para carregá -la
sobre a á gua, seus esforços foram frustrados por um milagre
maravilhoso. O corpo de Agnes de repente icou excessivamente
pesado, e todo o grupo de homens, exercendo todas as suas forças, nã o
conseguia movê -la. Até mesmo alguns trabalhadores de campo e
curiosos juntaram-se aos agressores na tentativa de levantar Agnes, e
ela permaneceu imó vel. Por im, Clare entrou em cena e implorou à
famı́lia que fosse embora e deixasse a menina quase inconsciente aos
seus cuidados. Percebendo que era inú til persistir, os parentes
enfurecidos icaram amuados. Assim que partiram, Agnes levantou-se
facilmente e, com grande alegria, as duas irmã s voltaram ao convento
louvando e agradecendo a Deus.6
Clara e sua irmã Inê s estavam em Santo Angelo de Panzo havia
pouco tempo quando Francisco decidiu fazer uma nova transferê ncia,
escolhendo uma pequena casa adjacente à igreja de Sã o Damiã o como
residê ncia permanente. Sã o Damiã o pertencia aos beneditinos e
obtivera permissã o para permitir que Clara e seus seguidores vivessem
e adorassem ali. Assim se cumpriu a profecia que Francisco havia feito
ao reconstruir Sã o Damiã o: que um dia seria a morada das virgens
sagradas que dariam grande honra e gló ria a Deus!
A Segunda Ordem cresceu rapidamente depois disso, e até mesmo a
mã e de Clare, junto com alguns outros parentes, acabaria deixando o
mundo para se juntar a eles. Francisco deu-lhes uma breve Regra de
vida escrita e nomeou Clara como sua superiora. Em pouco tempo,
havia mais de uma dú zia de donzelas, e a Ordem das Clarissas começou
a se espalhar para outras cidades na Itá lia e alé m. Mas a pró pria Santa
estava destinada a permanecer em San Damiano o resto de seus dias,
dedicando mais de quarenta anos a uma vida oculta de oraçã o,
enquanto a fama de sua santidade se espalhava pelo mundo.
O contemporâ neo de Santa Clara, o frade franciscano Tomé de
Celano, escreveu uma importante biogra ia da Santa junto com as que
escreveu sobre Sã o Francisco. Seu pequeno livro, The Life of St. Clare
Virgin,7relata o episó dio glorioso do dia em que Clara e suas irmã s
foram milagrosamente protegidas de um bando de guerreiros
sarracenos (muçulmanos) que invadiram o convento de San
Damiano. O ano era por volta de 1240, bem depois da morte de seu pai
espiritual Francisco. O imperador Frederico II e seus bandos de
mercená rios contratados, que incluı́am sarracenos e tá rtaros, estavam
devastando e saqueando as cidades e vilas da Itá lia central. A medida
que os invasores se aproximavam de Assis, o contingente sarraceno se
dirigia à igreja e ao convento de San Damiano. O perigo era iminente e
assustador, uma vez que esses sarracenos eram “um povo mesquinho
que tem sede de sangue cristã o e tenta até as atrocidades mais
descaradas”.8 A percepçã o geral que os cristã os tinham dos
muçulmanos durante aquela é poca é aparente na descriçã o deles feita
por Celano.
Escalando as barricadas ao redor, os sarracenos entraram
descaradamente nos con ins do claustro que abrigava Clara e suas
irmã s em Cristo. Clare estava gravemente doente e acamada na
é poca. Quando as freiras correram para sua cela em desespero por
causa dos invasores, ela ordenou que a carregassem diretamente para
a porta da frente junto com "a caixa de prata envolta em mar im na qual
elas devotamente guardavam o Corpo do Santo dos Santos".9 Entã o, em
plena vista do inimigo, ela se prostrou diante de Jesus na Hó stia,
orando por libertaçã o para ela e suas irmã s.
Torcendo contra a esperança conforme os muçulmanos se
aproximavam, ela ouviu claramente a voz de seu misericordioso esposo
declarar: “Eu sempre te defenderei”. Ciente do terrı́vel perigo para
Assis, Clara implorou pela segurança daquela cidade, que sempre
proveu para as irmã s. Ela entã o ouviu Cristo responder que Assis seria
protegida, apesar de alguns danos. Alegrando-se, Clara disse a seus
companheiros que depositassem toda a con iança em Deus, que os
protegeria de todo mal. Quase imediatamente, os espantados
sarracenos, perplexos com a coragem desta santa mulher, retiraram-se
confusos de Sã o Damiã o. Talvez eles també m tivessem ouvido a voz
misteriosa, já que Clare avisou à s irmã s que a ouviram que nã o
contassem a ningué m até depois de sua morte.

Capítulo 7

Portadores da Paz

A pesar de Francisco e Clara se reuniu com pouca frequê ncia, uma vez
que ela tinha sido enclausurada no antigo convento de San Damiano,
ela fez desempenhar um papel importante em uma das principais
decisõ es que afetam o curso de seu ministé rio. Francisco sempre se
sentiu atraı́do pela vida interior e icaria muito contente em dedicar a
maior parte do tempo à oraçã o e à contemplaçã o. Por outro lado, ele
també m tinha um dom maravilhoso para pregar. Ele pô de comunicar
e icazmente aos outros o seu amor a Deus e inspirou em muitos o
desejo de assumir o compromisso radical de seguir a Cristo no
caminho da Santa Pobreza. Ele se sentiu dividido entre essas duas
vocaçõ es e percebeu que precisava determinar qual estilo de vida Deus
queria que ele seguisse, o ativo ou o contemplativo.
A im de discernir o plano de Deus para ele, e nã o querendo con iar
em seus pró prios esforços, ele chamou um de seus companheiros, o
irmã o Masseo.1Este irmã o foi enviado para visitar Clara em Sã o
Damiã o. Seguindo os desejos de Francisco, Masseo pediu a Clara que se
juntasse em oraçã o com uma de suas irmã s na religiã o, que era
conhecida pelo dom da santa simplicidade. Juntos, os dois deveriam
pedir ao Senhor Deus que revelasse se Francisco deveria se dedicar
principalmente à pregaçã o ou à contemplaçã o. Assim que o irmã o
Masseo se despediu de Clara, subiu ao monte Subasio. Lá ele localizou o
padre. Silvester, o “Irmã o Sacerdote”, que muitas vezes icava sozinho
naquela montanha, passando longas horas em meditaçã o. Como
Francisco tinha grande con iança nele, o pe. Silvester també m foi
solicitado a perguntar qual era a vontade do Senhor para o Poverello.
Fr. Silvester imediatamente começou a orar sobre isso e foi
rapidamente favorecido por Deus com uma resposta. O irmã o Masseo,
que ainda estava por perto, foi convidado a transmitir a Francisco a
mensagem de que sua vocaçã o nã o era para a vida contemplativa; em
vez disso, ele deveria sair pelo mundo e levar as boas novas de Cristo ao
povo. O irmã o Masseo voltou entã o a Sã o Damiã o e lá descobriu que
Clara e a outra irmã haviam recebido exatamente a mesma revelaçã o
que o padre. Silvester.
Voltando à Porciú ncula, Masseo sentou-se para uma refeiçã o com
Francisco, depois da qual os dois irmã os caminharam para a loresta
pró xima. Ali, no ambiente natural que tanto amava, Francisco se
ajoelhou com solenidade e humildade e pediu a Masseo que lhe
contasse o que havia sido revelado sobre a vontade do Senhor para
ele. O irmã o respondeu que tanto Clara quanto o padre. Silvester
recebeu a mesma resposta - que Francisco deveria andar pelo mundo
pregando, porque Deus “nã o te chamou apenas para ti, mas també m
para a salvaçã o dos outros”.2
Assim que a vontade de Deus para ele foi revelada, Francisco a
aceitou sem hesitar. Ele nã o perdeu tempo em responder a esse
chamado e, com alegria, saiu mais uma vez para pregar penitê ncia nas
cidades e vilas vizinhas. Este importante momento de sua vida
provavelmente ocorreu em meados de 1212, uma vez que ocorreu apó s
o abandono do mundo por Clara no inı́cio daquele ano, e muito
provavelmente antes de Francisco começar a pregar o Evangelho aos
muçulmanos no Oriente Mé dio - uma jornada que ele empreendido pela
primeira vez na segunda metade de 1212.
Seu zelo e o poder de seu discurso em anunciar as Boas Novas eram
tã o grandes que muitas histó rias incrı́veis - e agora lendá rias - sobre
sua capacidade de se comunicar com pá ssaros e outros animais
começaram a aparecer. De acordo com algumas das primeiras fontes,
uma vez que ele se comprometeu a pregar a mensagem do Evangelho
com seriedade, as criaturas mais simples da criaçã o de Deus foram
atraı́das para ele. Francisco saiu como se Jesus o tivesse capacitado a
aceitar literalmente a ordem que deu aos primeiros discı́pulos: “E
disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as
criaturas.” ( Marcos 16:15 ) Diz-se que Francisco chegou a dirigir-se à s
lores do campo, convidando-as a “louvar ao Senhor como se fossem
dotadas de razã o”.3
Para citar apenas um exemplo, seus bió grafos-Celano, St.
Bonaventure, e o autor da Pouco Flores -todos contar um episó dio
maravilhoso envolvendo um bando de andorinhas estridente, embora
nã o concordando em se era na Alviano ou Cannara.4, 5, 6Embora
nenhuma dessas fontes forneça uma data, as Pequenas Flores colocam
este evento como ocorrendo imediatamente apó s o compromisso de
Francisco com a vida ativa, que provavelmente ocorreu em 1212.
Quando Francisco chegou à aldeia para pregar, ele reuniu a populaçã o
ao seu redor e perguntou para o silê ncio. No entanto, um grande grupo
de pá ssaros estava fazendo ninhos na á rea, e seu chilrear alto e alegre
di icultava que ele fosse ouvido. Voltando-se na direçã o das andorinhas
brincalhonas, Francis falou diretamente com elas, informando que já
estavam conversando há bastante tempo e que agora era sua vez de
falar. Ele ordenou à s criaturas que “ouçam a palavra de Deus e iquem
quietas até que o sermã o termine”.7 Para espanto dos habitantes da
cidade, o bando barulhento e chilreio imediatamente se acalmou, nã o
fazendo nenhum som ou movimento até que Francisco terminou seu
sermã o.
A notı́cia desse milagre se espalhou rapidamente por toda a á rea e
alé m. O povo da cidade onde isso ocorreu icou tã o emocionado com o
que testemunhou que, naquele momento, quiseram deixar tudo para
trá s e seguir os passos do Pobre Homem de Assis. Mas ele os
desencorajou a abandonar suas casas e sua aldeia, prometendo que
encontraria uma maneira de ajudá -los em sua busca pela salvaçã o.
As Florezinhas contam que foi nesta ocasiã o em Cannara que o
Poverello começou a pensar em organizar uma nova Ordem, uma
Ordem para os leigos, que lhes permitiria continuar a viver nas suas
pró prias casas e aldeias, seguindo o caminho da santidade.8 Fortini, o
maior bió grafo de Francisco no sé culo 20, també m cita Cannara como o
local dos eventos que inspiraram Francisco a fundar esta nova
Ordem.9 (Por outro lado, deve-se salientar que existem inú meras
outras cidades, e até mesmo indivı́duos particulares, que disputam a
distinçã o de ser o lugar onde sua Ordem Terceira foi iniciada.)
Sobre a porta de uma igreja em Cannara repousa uma placa de
pedra antiga com a inscriçã o em latim: “Sagrado ao Mestre Francisco,
que instituiu a Ordem dos Penitentes Seculares nesta cidade antes de
fazê -lo em qualquer outro lugar”.10Originalmente chamada de Irmã os e
Irmã s da Penitê ncia, esta organizaçã o para as pessoas que vivem no
mundo é comumente conhecida hoje como Ordem Franciscana
Secular. Destinada aos leigos - homens ou mulheres, solteiros ou
casados - seus membros continuam a buscar suas vidas na sociedade
em vez de renunciar aos seus bens materiais e ao estado de vida
primá rio. O clero secular (aqueles que nã o pertencem a uma ordem
religiosa) també m pode aderir, assim como muitos papas e bispos. Os
Franciscanos Seculares, ou Terciá rios (membros da “Ordem Terceira”),
como també m sã o conhecidos, nã o fazem os votos formais, mas tê m
um programa de formaçã o espiritual estruturado que devem seguir
antes de se tornarem membros professos da Ordem Terceira.
Em 1221, a regra o icial da Ordem Terceira foi aprovada pelo Papa
Honó rio III. Muito provavelmente, foi baseado em uma regra informal
para os terciá rios previamente redigida por Francisco, que estava em
uso há muitos anos. Assim, embora o ano de 1221 seja a data da
fundaçã o canô nica da Ordem Terceira, ela existia em forma de semente
desde 1212, o ano em que Francisco começou com seriedade a “pregar
o Evangelho a todas as criaturas”. Pode até ter se originado em 1209,
uma data preferida por alguns estudiosos.11, 12 E importante notar que,
historicamente, Francisco nã o foi o primeiro a instituir uma Ordem
para leigos, mas em sua é poca o conceito ainda era relativamente novo
e incomum.
Um aspecto intrigante daquela regra inicial de 1221, e de uma regra
posterior de 1289, era a disposiçã o de que os seculares deveriam
abster-se de portar armas. A Regra 1221 continha uma declaraçã o
muito geral no sentido de que: “Eles nã o devem empunhar armas letais
ou carregá -las contra ningué m”.13 A Regra de 1289 foi modi icada para
especi icar que as armas poderiam ser empunhadas em defesa de Deus
ou do paı́s: “Que os irmã os nã o portem armas ofensivas consigo, a nã o
ser em defesa da Igreja Romana, da Fé Cristã , ou de seu paı́s, ou com os
permissã o de seus ministros. ”14 Em contraste, a atual Regra da Ordem
Franciscana Secular nã o faz nenhuma mençã o a armas ou armas, mas
ao invé s disso caracteriza os terciá rios como paci icadores: “Cientes de
que eles sã o portadores de uma paz que deve ser edi icada
incessantemente”.15
Alé m da disposiçã o contra o porte de armas, outro pará grafo da
Regra 1221 impô s aos Terciá rios que se abstenham de fazer
juramentos formais, com certas exceçõ es.16Essas proibiçõ es de fazer
juramento e portar armas tiveram consequê ncias imediatas e
duradouras na sociedade da é poca. Em carta escrita pelo Papa Honó rio
III ao Bispo de Rimini, em 16 de dezembro de 1221, menciona-se uma
tentativa das autoridades civis de Rimini de obrigar os membros locais
da Ordem Terceira a prestar juramento de defesa da cidade pela força
de armas, se necessá rio. Na carta, o Papa pede ao Bispo que defenda os
direitos da Ordem contra as exigê ncias das autoridades seculares.17
As restriçõ es da Ordem Terceira a armas e juramentos tiveram o
efeito marcante de diminuir a frequê ncia do clã e das guerras e
batalhas feudais que eram comuns naquela é poca.18Senhores feudais e
barõ es da terra logo descobriram que eram incapazes de obter homens
su icientes para seus exé rcitos particulares, já que recrutas em
potencial nã o estavam dispostos a fazer um juramento de lealdade ou
empunhar armas em seu nome. Na verdade, o impacto foi tã o amplo
que alguns historiadores a irmam que o estabelecimento da Ordem
Terceira para os leigos foi um fator signi icativo no declı́nio do sistema
feudal da Idade Mé dia. “A in luê ncia bené ica da Ordem Terceira de Sã o
Francisco secular nã o pode ser su icientemente apreciada. Atravé s da
proibiçã o do porte de armas, um golpe mortal foi dado ao sistema
feudal e à s facçõ es em constante luta dos municı́pios italianos. ”19
Assim, o ano de 1212 foi signi icativo por vá rios motivos na vida do
Francisco de trinta anos. Primeiro, testemunhou o estabelecimento da
Segunda Ordem, fundada para mulheres que desejavam deixar o
mundo e seguir seu modo de vida - uma Ordem també m conhecida
como as Clarissas. Pouco depois, veio seu compromisso de initivo com
uma vida de pregaçã o evangé lica. Embora a data exata em que
Francisco concebeu a Ordem Terceira tenha sido perdida para a
histó ria, o sucesso de sua pregaçã o ressaltou a necessidade de uma
Ordem intermediá ria, que pudesse acomodar homens e mulheres que
por escolha ou necessidade permaneceriam no mundo. Outro
desenvolvimento resultante do zelo de Francisco em divulgar a
mensagem do Evangelho foi sua determinaçã o de levar sua atividade
missioná ria a terras nã o cristã s. Este desejo també m deu frutos pela
primeira vez em 1212, quando recebeu permissã o do Papa Inocê ncio III
para expandir seu ministé rio em territó rio muçulmano.20, 21

PARTE DOIS

O missionário

“Ele nã o hesitou em ir ao Egito e lá aparecer bravamente na


presença do sultã o. També m nos anais da Igreja nã o se encontram os
nomes daqueles numerosos apó stolos do Evangelho que, desde o inı́cio,
isto é , na primavera da Ordem dos Menores, encontraram o martı́rio na
Sı́ria e em Marrocos, inscrito em palavras. do maior elogio? Com o
passar do tempo, este apostolado foi desenvolvido com muito zelo e
muitas vezes com grande derramamento de sangue pela numerosa
fraternidade franciscana, pois muitas terras habitadas por pagã os
foram con iadas aos seus cuidados por meio das ordens expressas dos
Romanos Pontı́ ices ”.
- Papa Pio XI, Rite Expiatis, n. 37*

Capítulo 8
Jornada Missionária ao Oriente Médio

Com o coraçã o em chamas pelo amor de Deus, Francisco estava


ansioso por pregar a palavra salvadora de Cristo, acatando o conselho
de Sã o Paulo: “Prega a palavra: seja a tempo, fora de tempo: repreenda,
implore, repreenda em toda paciê ncia e doutrina. ” ( 2 Timóteo 4:
2). Totalmente ciente dos perigos, Francisco estava determinado a ir
em missã o aos incré dulos das naçõ es muçulmanas. As fontes primá rias
concordam que ele agora estava pronto para sacri icar sua vida e
morrer por Cristo,1portanto, nã o pode haver dú vida de que a intençã o
de sua jornada era pregar o Evangelho, mesmo correndo o risco de
martı́rio. Foi com essa disposiçã o e perspectiva que Sã o Francisco, com
um companheiro, partiu no segundo semestre de 1212 para chegar ao
Oriente Mé dio.2
Do porto de Ancona, na Itá lia, a dupla embarcou em um navio com
destino ao Levante, a costa oriental do Mediterrâ neo, e partiu para o
mar Adriá tico. Eles estavam indo para a Sı́ria, para pregar o Evangelho
aos muçulmanos. No entanto, mal haviam começado a viagem quando
surgiram ventos desfavorá veis, virando o barco na direçã o da costa da
Dalmá cia, na costa oposta do Adriá tico à penı́nsula italiana. Aı́ a viagem
do navio terminou abruptamente e os frades desapontados
desembarcaram. Percebendo que seria difı́cil encontrar outro navio
rumo ao Oriente Mé dio, Francis e seu companheiro decidiram retornar
à sua terra natal.
Embora tenham obtido sucesso na busca por um barco com destino
a Ancona, a passagem foi negada porque nã o puderam pagar a
passagem. Destemidos e desesperados, e con iantes de que o Deus
misericordioso veria com bons olhos suas açõ es, os dois frades se
alojaram clandestinamente no navio.3Um compassivo companheiro de
bordo que sabia de sua situaçã o arranjou comida e á gua secretamente
para os frades clandestinos. Uma anedota relatada por Celano relata
que o navio logo atolou em uma tempestade que durou muitos dias, e
os marinheiros icaram sem comida. No entanto, uma parte das
provisõ es que haviam sido dadas secretamente a Francisco e seu
companheiro ainda permanecia. “Estes, pela graça e poder divinos,
foram multiplicados.”4 E assim, por um milagre que lembra a
multiplicaçã o dos pã es e dos peixes, os ié is franciscanos de Nosso
Senhor puderam sustentar a todos a bordo durante os dias restantes da
viagem!
Aproximadamente um ano depois, em 1213, Francisco arrisca-se ao
martı́rio pela segunda vez, na esperança de pregar o Evangelho à queles
que ainda nã o aceitaram a Boa Nova. Seu objetivo era chegar ao
Marrocos, a im de evangelizar e converter o xeque Miramolino
Mohammed al-Nasir e seus seguidores.5Mas desta vez ele fez a viagem
por terra. Junto com um frade que o acompanhava, Francisco caminhou
para o noroeste dos Apeninos, na Itá lia central, contornou os Alpes
Marı́timos e cruzou para o sul da França. Sã o Boaventura relata que o
grande entusiasmo de Francisco freqü entemente o levava a deixar seu
companheiro para trá s, tã o ansioso estava ele para levar Cristo aos
descrentes. A condiçã o de sua saú de fı́sica, entretanto, nã o combinava
com a força de seu espı́rito. Pouco depois de cruzar a fronteira
espanhola, ele foi vı́tima de uma doença prolongada e foi forçado a
refazer seus passos. O Senhor, ao que parecia, desejava que Francisco
voltasse à Itá lia para nutrir a jovem Ordem que ele havia fundado, “e
entã o ele voltou para cuidar do rebanho que havia sido con iado aos
seus cuidados”.6
Naquele mesmo ano, o Papa Inocê ncio III iniciou os planos para
uma Quinta Cruzada, que foi inalmente lançada por seu sucessor, o
Papa Honó rio III, em 1217. Seu objetivo de retomar a Terra Santa e
Jerusalé m era para ser alcançado primeiro tomando o controle da
naçã o muçulmana do Egito, governado pelo Sultã o al-Malik al-Kamil. A
terceira e ú ltima tentativa de Sã o Francisco de chegar ao Oriente Mé dio
ocorreu durante a Quinta Cruzada. Desta vez, ele chegaria em territó rio
muçulmano e conseguiria pregar a palavra de Deus ao sultã o e sua
corte.
Nã o se pode duvidar de que sua visita ocorreu durante a Quinta
Cruzada, já que está bem documentada por historiadores e cronistas da
é poca, tanto seculares como franciscanos, embora faltem fontes
á rabes. A seguinte narraçã o de sua estada no Oriente Mé dio é derivada
principalmente de fontes franciscanas do sé culo XIII e relatos
contemporâ neos. A histó ria integral e seus componentes principais
serã o relacionados de uma maneira direta, contando com esses
primeiros registros e alguns estudos histó ricos posteriores.
Francisco empreendeu esta expediçã o missioná ria em 1219, apó s a
Cruzada estar bem encaminhada. O prelú dio dessa viagem ocorrera
dois anos antes, quando em maio de 1217 Francisco convocou o
primeiro Capı́tulo Geral dos Frades Menores. Neste Capı́tulo seminal, a
Ordem dividiu os territó rios que iria evangelizar em cerca de uma dú zia
de distritos, sete dos quais na Itá lia. Os distritos foram formalmente
chamados de “Provı́ncias”, e ministros provinciais foram nomeados
para administrá -los, junto com grupos de frades voluntá rios.
Francisco se interessou pessoalmente pelo estabelecimento da
Provı́ncia missioná ria designada para o Oriente Mé dio, a Provı́ncia
Franciscana da Sı́ria. Ele escolheu a cidade portuá ria de Sã o Joã o do
Acre, na Palestina, como sede desta provı́ncia sı́ria. Naquela é poca, a
Provı́ncia se estendia por toda a costa oriental do Mediterrâ neo, do
Egito à Gré cia e, o mais importante, incluı́a a Terra Santa.7O signi icado
histó rico desse alcance franciscano foi importante. Com efeito, pouco
mais de cem anos apó s a morte de Francisco, o Papa Clemente VI
con iou formalmente os santuá rios cristã os da Terra Santa à custó dia
da Ordem dos Frades Menores, como justa recompensa pelos seus
sacrifı́cios. Apesar das di iculdades e retrocessos ao longo dos sé culos,
os franciscanos mantiveram sua presença no Oriente Mé dio até hoje. “A
Custó dia dos Lugares Santos, mantida em perigo perpé tuo de morte,
constitui a maior gló ria da Ordem Franciscana.”8
Para administrar a provı́ncia sı́ria com base em Sã o Joã o do Acre,
Sã o Francisco nomeou o irmã o Elias de Cortona, um de seus
seguidores mais há beis. Este mesmo Irmã o Elias foi posteriormente
escolhido por Francisco para ser o segundo Ministro geral da Ordem,
sucedendo a Pedro de Catâ nia. Figura polê mica, Elias mais tarde em
sua vida foi excomungado pelo Papa por desobediê ncia. Ele morreu
arrependido, embora nã o fosse mais um membro da
Ordem.9 Ironicamente, ele é o principal responsá vel pela construçã o da
grande Bası́lica de Sã o Francisco em Assis.
Com presença franciscana já consolidada no Oriente Mé dio, o Santo
partiu em sua terceira tentativa de chegar à regiã o, partindo em 24 de
junho de 1219, festa de Sã o Joã o Batista, santo que teve lugar de
destaque nos eventos subsequentes. . Muito provavelmente, Francisco
embarcou mais uma vez do porto italiano de Ancona, mas desta vez em
uma das galeras que compunham a frota dos Cruzados. Muitos irmã os o
acompanharam até o porto, mas ele escolheu apenas doze para
acompanhá -lo, por meio de uma tá tica engenhosa. Francisco pediu a
uma criança que estava presente nas docas que apontasse ao acaso uma
dú zia de frades - um mé todo que, com sorte, indicava a escolha de Deus
sobre quem deveria ir, e també m assegurava que ningué m se sentisse
menosprezado pelo favoritismo.
Os nomes de cinco dos doze sã o conhecidos: Sabatino e Barbaro,
que foram os dois primeiros companheiros de Sã o Francisco, Leonardo
di Gislerio, Irmã o Illuminato d'Arce e Pietro de Cattanio (Pedro de
Catâ nia).10Pedro foi um dos doze seguidores originais de Francisco - na
verdade, ele foi o segundo depois de Bernardo, e seria nomeado por ele
o primeiro Ministro Geral da Ordem. Nã o se sabe muito sobre o irmã o
Illuminato (ou Illuminatus), alé m de ele ter sido colocado por Dante em
uma esfera celestial de seu Paraíso :11

Illuminato aqui, E Agostino juntou-se a mim: dois eram eles,


Entre os primeiros daqueles mansos descalços,
Quem buscou a amizade de Deus no cordã o…

No entanto, este irmã o é muito importante no contexto da missã o de


Sã o Francisco ao Oriente Mé dio. Muito do que se sabe sobre as
atividades e façanhas de Francisco nesta expediçã o foi obtido a partir
de informaçõ es relatadas pelo irmã o Illuminato ao grande erudito e
historiador franciscano Sã o Boaventura.12, 13
Em julho, o navio cruzado com o Santo e seus doze companheiros
chegou ao porto de Sã o Joã o do Acre, localizado quase no ponto mé dio
da costa palestino-sı́ria, na fronteira com o Mediterrâ neo. Hoje a cidade
é conhecida como “Atta” ou “Atto” e faz parte da Israel moderna. Situado
no braço norte da Baı́a de Haifa, nã o é mais o principal porto que era na
é poca medieval. Sã o Joã o do Acre nã o era o objetivo inal da frota
cruzada, já que a força cristã se dirigia a Damietta, no Egito, para
auxiliar no cerco daquela cidade. No entanto, Francisco desembarcou
em Sã o Joã o do Acre para visitar a primeira Provı́ncia de sua Ordem no
Oriente Mé dio.
Poucas informaçõ es existem nas fontes franciscanas sobre a visita
do santo à sua provı́ncia ultramarina da Sı́ria em 1219. Aqui ele teria
encontrado o irmã o Elias de Cortona, que era o administrador, Cé sar de
Speyer (ou Piná culos), e qualquer um dos irmã os que se ofereceram
para servir na Provı́ncia. Ele nã o icou muito tempo em Sã o Joã o do
Acre e, antes do im de julho, retomou sua passagem para o porto
egı́pcio de Damietta a bordo de outro navio dos Cruzados. Dos doze
viajantes originais, apenas Pedro de Catâ nia e Illuminato icaram com
Francisco; os outros foram enviados por ele a vá rias partes da
Provı́ncia. Acompanharam-no nesta etapa da viagem alguns dos frades
que haviam residido na Provı́ncia Sı́ria, entre eles Cé sar de Speyer e o
Irmã o Elias.14 Posteriormente, Cé sar de Speyer receberia a
responsabilidade de administrar a primeira Provı́ncia da Ordem na
Alemanha.

Capítulo 9

A Trágica Batalha de Damietta

A cidade de Damietta, no Egito, estava originalmente situada perto da


costa do Mediterrâ neo, no delta do rio Nilo, em um dos braços desse
grande rio. Foi a porta de entrada para o Cairo e, portanto,
estrategicamente importante militarmente. Um importante porto nos
tempos antigos, a cidade ainda era um centro comercial ativo durante a
Idade Mé dia. No entanto, devido à sua vulnerabilidade a ataques, a
cidade foi arrasada cerca de cinquenta anos depois que Francisco
apareceu e foi reconstruı́da mais para o interior. Conseqü entemente, a
cidade moderna está agora a cerca de 13 quilô metros do Mar
Mediterrâ neo e ica na margem leste de um braço do Nilo.1
O lı́der do exé rcito dos cruzados em Damietta era Joã o de Brienne, o
rei de Jerusalé m. Este tı́tulo era amplamente simbó lico, uma vez que a
maior parte do Reino Latino de Jerusalé m, que havia sido estabelecido
apó s a Primeira Cruzada, havia sido perdida para os muçulmanos,
incluindo a pró pria Cidade Santa. Antes de sua conversã o, Francisco
havia tentado se tornar um cavaleiro a serviço de Walter de Brienne,
irmã o de John. Sua intençã o era juntar-se ao exé rcito de Walter, que
estava lutando no sul da Itá lia em nome do papa Inocê ncio III, contra as
tropas leais ao imperador Frederico II. Francisco havia se equipado com
armaduras elaboradas e caras, mas depois de uma sé rie de sonhos, ele
entendeu que a cavalaria, a soldadesca e o porte de armas nã o
deveriam ser sua vocaçã o. Ironicamente, anos depois, ele inalmente
estava acompanhando um exé rcito cristã o de cavaleiros liderados por
Brienne, mas desta vez como um guerreiro espiritual a serviço de
Cristo.
No inal de julho de 1219, Francisco e seu pequeno grupo de frades
estavam diante das muralhas de Damietta, perto do delta do Nilo,
misturando-se à s ileiras dos Cruzados. O exé rcito estava ansioso pelo
sabor da batalha e estava icando impaciente com o cerco prolongado à
cidade forti icada. O entusiasmo dos soldados que cercavam Damietta
foi aceso por vá rios motivos, desde um desejo heró ico pela gló ria de
Cristo e da cristandade até a ganâ ncia bá sica pelos despojos de
guerra. Eles alimentaram sua excitaçã o ao ouvir lendas e rumores
pitorescos. Uma dessas histó rias a irmava que foi neste braço do Nilo
que Moisé s foi encontrado lutuando em uma cesta; també m, segundo
a lenda, a á rea foi o local de nascimento do profeta Jeremias.2Alé m
disso, um livro profé tico escrito em á rabe e circulando no
acampamento dos cruzados predisse que “uma cidade com á gua no
Egito” seria capturada pelos cristã os. A profecia serviu apenas para
aumentar a sede de batalha entre muitos dos cavaleiros. O exé rcito
interpretou isso como uma previsã o da tomada de Damietta e da
derrota inal do exé rcito sarraceno no Egito.3, 4
Planos estavam em andamento no campo para montar uma
ofensiva decisiva contra os determinados habitantes muçulmanos da
cidade, que haviam defendido Damietta com sucesso durante o cerco
de um ano. Se a cidade caı́sse, isso levaria à tomada do Cairo e,
portanto, à queda de todo o Egito. Infelizmente, em meados do verã o, a
frota dos Cruzados nã o pô de mais se aproximar o su iciente de
Damietta para montar um ataque, porque o rio estava muito baixo.5A
pressã o entã o começou a crescer dentro das ileiras do exé rcito cristã o
para tomar algum tipo de açã o, especialmente porque seus lı́deres se
recusaram até agora a atacar a principal força muçulmana, que era
liderada pessoalmente pelo rei muçulmano, Sultan al-Kamil. Seu
exé rcito, acampado mais acima no Nilo em al-Fariskur, estava tentando
quebrar o cerco de Damietta a im de socorrer a cidade.
Depois de muita deliberaçã o, os cruzados decidiram lançar um
ataque total por terra e mar no acampamento do sultã o, em vez de
marchar sobre a pró pria Damietta. A batalha foi planejada para o dia 29
de agosto.6, 7
Quando chegou a vé spera da batalha, Francisco estava morando ao
lado do exé rcito dos cruzados por cerca de um mê s e estava bastante
ciente de suas capacidades e de iciê ncias. Na noite anterior ao ataque,
ele estava profundamente absorvido em oraçõ es.8Pela manhã , ele
recebeu uma visã o profé tica clara de que um confronto naquele dia
contra as forças do sultã o seria um desastre para os cristã os. Ele queria
desesperadamente informar os Cruzados dessa revelaçã o, mas foi
desanimado pelo intenso entusiasmo das tropas, que clamavam pela
emoçã o do combate.
Na Vida Maior do Santo, de Boaventura , Francisco é citado
perguntando a um de seus companheiros se, mesmo assim, deveria
divulgar sua profecia aos soldados, informando-os de que, se fossem
para a batalha naquele dia, a vitó ria nã o seria deles. “Mas se eu disser
isso, eles vã o dizer que sou um idiota. E se eu nã o disser, minha
consciê ncia nã o me dará descanso. O que você acha que eu deveria
fazer?" Seu companheiro iluminado, que muito provavelmente era um
Illuminato, respondeu sabiamente: “Irmã o, nã o se preocupe em ser
criticado. Esta nã o será a primeira vez que você foi chamado de
idiota. Obedeça a sua consciê ncia e tenha mais consideraçã o por Deus
do que pelos seres humanos. ”9Esse incidente demonstrou claramente
a humildade de Sã o Francisco, que buscou o conselho de um de seus
pró prios seguidores antes de decidir sobre o curso de açã o. Pode-se
razoavelmente supor que ele sabia de antemã o o que deveria fazer, mas
talvez desejasse compartilhar seus pró prios pensamentos e
preocupaçõ es, ou procurou testar o discernimento de seu
companheiro.
Sem mais hesitaçõ es, Francisco se aproximou resolutamente dos
Cruzados e manifestou sua apreensã o sobre o desfecho do con lito que
se aproximava. Ele implorou ao Cardeal Pelá gio Legado Papal, a Joã o de
Brienne e aos comandantes militares, todos os homens que respeitaram
muito seu conselho. Ele os exortou a suspender a batalha, avisando-os
de que perderiam se decidissem atacar abertamente o exé rcito do
sultã o naquele dia. Enquanto os lı́deres foram in luenciados por suas
sú plicas e consideraram a revogaçã o da ordem, Francisco teve menos
sucesso em persuadir os soldados rasos. Fiel à sua premoniçã o, eles
desprezaram suas palavras de advertê ncia, alegando que seria uma
piada para os cavaleiros seguirem os conselhos desse humilde homem
da roupa, e ainda por cima de pano gasto. Quase maldosamente, eles se
tornam mais determinados do que nunca a se juntar à batalha,
endurecendo seus coraçõ es. Vendo a raiva de seus homens e temendo
ser considerados covardes, os comandantes sentiram que nã o tinham
alternativa a nã o ser prosseguir com seus planos originais para o
ataque.
Assim, em 29 de agosto de 1219, os cristã os se moveram por terra e
mar contra o acampamento muçulmano. Era a festa da decapitaçã o de
Sã o Joã o Batista, um pressá gio sinistro. Francis, sabendo qual seria o
resultado, nã o estava disposto a assistir ao confronto com os pró prios
olhos. Por trê s vezes, ele pediu a um de seus frades que fosse assistir à
batalha e relatar seu progresso.10
Os sarracenos levaram os cavaleiros a uma armadilha ingindo
fugir, atraindo os cruzados para uma á rea onde nã o havia á gua
disponı́vel para eles ou seus cavalos. A á gua potá vel foi crucial para
proporcionar alı́vio do sol quente egı́pcio de meados do verã o. Os
lı́deres cristã os derrotados debateram estraté gias possı́veis, enquanto
o exé rcito do sultã o permaneceu em uma posiçã o de controle. A
medida que o dia icava mais quente, a desordem nas ileiras dos
cruzados aumentava, já que muitos dos homens estavam febris e
desorientados com o calor abrasador e a falta de á gua. De repente, os
muçulmanos, cientes da confusã o de seus inimigos, atacaram por um
dos lancos, espalhando o pâ nico entre os cristã os acuados. Muitos
simplesmente fugiram do campo de batalha e outros, movidos em
parte pela sede, pularam no Nilo.11
Radulfus, o Patriarca Latino de Jerusalé m, carregou uma relı́quia da
Verdadeira Cruz para a batalha. Ao testemunhar a derrota do exé rcito,
ele se manteve irme e ergueu a relı́quia sagrada diante dos cruzados
em fuga, suplicando-lhes que se mantivessem irmes - como alguns de
fato izeram. A maioria deles foi agrupada em torno de John de Brienne,
que lutou brilhantemente. Mas, apesar de um grande esforço,
especialmente pelos Cavaleiros Templá rios, os Hospitalá rios, alguns
franceses e alemã es e os pisanos, o exé rcito dos cruzados foi forçado a
recuar. As forças muçulmanas avançaram até a borda do fosso que
protegia o pró prio acampamento-base dos cruzados, antes de
interromper o ataque. Nã o apenas os cristã os sofreram pesadas
perdas, mas muitos nobres foram capturados, incluindo o bispo eleito
de Beauvais.12No inal, o resultado foi uma trá gica derrota do exé rcito
cristã o, com mais de cinco mil mortos e outros mil feitos
prisioneiros. Os sobreviventes atribuı́ram a derrota ao sol escaldante e
à sua sede extrema, que minou a destreza de luta dos cavaleiros.
Ao pô r do sol nesta festa da decapitaçã o de Sã o Joã o Batista, os
Cruzados lamentavam suas perdas com desespero
angustiado. Francisco icou especialmente triste com a quase
aniquilaçã o dos contingentes espanhó is, que haviam sido os mais
impetuosos em se juntar à batalha, com o resultado de que poucos
sobreviveram.13Somando-se à dor, estava a descoberta de que muitos
dos Cruzados haviam sido decapitados pelo inimigo. Esse horror se
abateu sobre cinquenta cavaleiros dos Cavaleiros Templá rios, trinta
dos alemã es e mais de vinte Hospitalá rios. Um cronista da batalha
escreveu que Joã o Batista encontrou muitos companheiros naquele
dia. Este grande santo, que foi decapitado por causa de seu amor a
Deus, foi acompanhado por dezenas de Cruzados caı́dos, cuja pró pria fé
em Cristo os havia conduzido ao mesmo destino.14
O bió grafo de Francisco, Celano, supô s que os cruzados haviam
perdido porque desa iaram a vontade de Deus ao ignorar a
admoestaçã o do frade. Ele escreveu: “Mas se a vitó ria é esperada do
alto, as batalhas devem ser con iadas ao Espı́rito de Deus.”15 Sã o
Boaventura observou que este era um caso em que "a sabedoria de um
mendigo nã o devia ser desprezada".16Ele també m citou o versı́culo
bı́blico: “A alma de um homem santo à s vezes descobre coisas
verdadeiras, mais de sete vigias que se sentam em um lugar alto para
vigiar.” ( Eclesiástico 37:18). Pelo menos um contemporâ neo a irmou
claramente que a derrota foi na verdade um castigo justo do Alto, já que
o exé rcito havia ignorado as advertê ncias de Francisco, seguindo suas
pró prias emoçõ es e sede de batalha ao invé s de temer a Deus.17
Uma á rea de contrové rsia entre os estudiosos até hoje é se a
pregaçã o de Francisco contra o lançamento do ataque indicava que ele
se opunha a esta Quinta Cruzada como um todo. Aqueles que
consideram as Cruzadas uma tentativa injusta de reconquistar a Terra
Santa, certamente terã o o prazer de incluir o grande Santo de Assis
entre eles. No entanto, só podemos dizer com certeza que suas sú plicas
para evitar lutar contra os muçulmanos se referiam a esta batalha em
particular neste dia em particular. Alé m disso, é evidente que ele era
contra esse confronto apenas porque havia aprendido em oraçã o que os
cristã os perderiam o confronto - e mesmo assim ele hesitou no inı́cio
em fazer seu protesto. Por implicaçã o, entã o, se ele nã o tivesse recebido
essa revelaçã o, ele nã o teria feito nenhuma objeçã o a eles irem para a
batalha naquele dia.
Nã o se pode concluir razoavelmente das fontes antigas que
Francisco se opô s nã o apenas a este encontro, mas també m a toda a
Cruzada. Na verdade, até mesmo um historiador moderno observa que
"o apoio irrestrito à Cruzada tornou-se normativo na Ordem".18 Alé m
disso, como será visto em um capı́tulo subsequente, Sã o Francisco
deixou claro durante seu discurso com o Sultã o que ele acreditava que
a Cruzada em si era justi icada.*

Capítulo 10

Cara a cara com o sultão

B Y o maravilhoso trabalho da Divina Providê ncia, foi a pró pria derrota


dos cristã os em Damietta que deram Francis a oportunidade que vinha
procurando há tanto tempo: isto é , para falar com o rosto muçulmanos
rosto de Cristo, apesar do risco de martı́rio. Seu lı́der, o sultã o al-Malik
al-Kamil, foi um dos mais importantes potentados islâ micos da é poca,
já que governava o Egito, a Palestina e a Sı́ria. Foi esse sultã o, operando
a partir de seu acampamento pró ximo, que estava pessoalmente
encarregado da defesa de Damietta e que acabara de derrotar o
exé rcito cristã o.
No entanto, al-Kamil percebeu que reforços da Europa poderiam
chegar a qualquer momento para apoiar as forças dos cruzados. Ele
també m estava ciente de que os habitantes muçulmanos da cidade
estavam muito enfraquecidos pela fome e doenças, devido ao cerco
prolongado. Alé m disso, o Nilo falhou em transbordar e irrigar as terras
agrı́colas costeiras, entã o uma fome generalizada em todo o Egito era
temida.1Assim, em vez de marchar para derrotar completamente os
cavaleiros restantes apó s sua derrota vergonhosa, ele enviou um de
seus prisioneiros cristã os ao acampamento com a oferta de uma
tré gua temporá ria. A oferta foi aceita e as hostilidades cessaram na
maior parte do mê s de setembro de 1219.
Aproveitando a pausa na luta, Francisco se aproximou do Legado
Papal, o Cardeal Pelá gio de Albano. O Poverello pediu permissã o para
cruzar as linhas que separam os exé rcitos adversá rios, a im de levar o
Evangelho da paz aos lı́deres muçulmanos.*
Embora os homens do sultã o tivessem permitido que
representantes o iciais do exé rcito dos cruzados cruzassem suas linhas
durante as negociaçõ es de tré gua, uma pessoa em trajes religiosos
cristã os que vagasse em direçã o ao acampamento muçulmano estaria
em grande perigo. O Legado Pelá gio temia que Francisco pudesse ser
morto, já que certa vez al-Kamil confessou que "qualquer pessoa que
trouxesse para ele a cabeça de um cristã o deveria receber uma moeda
de ouro bizantina".2Assim, o Legado a princı́pio recusou-se a conceder
permissã o para que Francisco izesse a travessia; mas a persistê ncia e
o destemor do frade o levaram a reverter sua decisã o, e ele concordou
em permitir que Francisco e um companheiro continuassem.3Este é
um excelente exemplo da obediê ncia e lealdade do Santo à autoridade
da Igreja. Se Pelá gio nã o estivesse com os cruzados, Francisco poderia
ter tentado por iniciativa pró pria converter o sultã o. Mas com o Legado
papal presente, Francisco estava preparado para submeter sua pró pria
inclinaçã o à decisã o da Igreja, que para ele re letia a vontade de Deus.
Sã o Boaventura relata que o companheiro de Francisco era o irmã o
Illuminato,4assim como Butler em seu livro Lives of the Saints ,
aparentemente tomando Bonaventure como sua fonte.5Na verdade,
como mencionado anteriormente, o relato de Boaventura sobre
Francisco em Damietta aparentemente se baseia no testemunho
pessoal do irmã o Illuminato - uma forte indicaçã o de que foi ele quem
acompanhou Francisco. Este iel seguidor estava com ele desde 1210,
quase uma dé cada, e sobreviveria ao seu mentor por quarenta anos.6
O bispo do Acre, Jacques de Vitry, que estava com o exé rcito dos
cruzados, descreveu suas impressõ es sobre a coragem de Francisco:
Vimos o Irmã o Francisco, fundador da Ordem dos Frades Menores, um
homem simples e inculto, embora muito amá vel e amado por Deus e
pelos homens, respeitado universalmente. Ele veio para o exé rcito
cristã o, que estava diante de Damietta, e um excesso de fervor teve tal
efeito sobre ele, que, protegido apenas pelo escudo da fé , ele teve a
ousadia de ir ao acampamento do sultã o para pregar a ele e a seus
sú ditos a fé em Jesus Cristo.7

Ao partirem, os dois frades encontraram dois cordeiros pastando


nos campos que separavam os exé rcitos adversá rios. Este encontro
fortuito encheu Francisco de alegria e con iança - ele viu nas criaturas
gentis um re lexo de si mesmo e de seu companheiro, ao embarcarem
em sua missã o pacı́ ica no acampamento inimigo. Ele exortou
Illuminato a ter total con iança na proteçã o de Deus, visto que os dois
cordeiros o izeram lembrar-se das Escrituras: “Eis que vos envio como
ovelhas no meio de lobos. Portanto, sede sá bios como as serpentes e
simples como as pombas. ” ( Mateus 10:16). E lobos eles encontrariam,
justi icando a apreensã o do Legado Papal.
Os primeiros documentos sã o unâ nimes em concordar que os dois
franciscanos foram submetidos a um tratamento rude ao cruzar o
territó rio muçulmano. Os homens de Deus foram agarrados de maneira
violenta pelas sentinelas, agredidos e acorrentados. Celano relata que
Francisco “foi capturado pelos soldados do sultã o, foi insultado e
espancado”, mas nã o demonstrou medo mesmo quando ameaçado de
tortura e morte.8Os dois frades repetidamente gritaram aos seus
captores a palavra para “Sultã o”, para tentar comunicar a sua intençã o
de vê -lo. Os homens espancados foram entã o "arrastados diante do
sultã o pela providê ncia de Deus, assim como Francisco
desejava".9 Jacques de Vitry escreveu que “Os sarracenos o prenderam
no caminho”, depois que Francisco disse aos sentinelas muçulmanos
que era cristã o e desejava ver seu mestre.10
Os prisioneiros foram levados para a opulenta tenda de guerra do
sultã o al-Kamil, que lhes perguntou o motivo de sua vinda. Eram
mensageiros enviados pelos cruzados ou procuravam se converter ao
Islã ? O pobre homem de Assis icou sem medo diante do sultã o, que
estava sentado em meio a suas armadilhas ré gias de poder. O humilde
Poverello encarou seu inquisidor com total con iança em Deus, atento
à s palavras da Escritura: “E quando te trouxerem à s sinagogas, e aos
magistrados e poderes, nã o seja solı́cito como ou o que responderá , ou
o que deverá dizer; pois o Espı́rito Santo te ensinará na mesma hora o
que você deve dizer. ” ( Lucas 12: 11-12). Essas palavras profé ticas de
Nosso Senhor foram cumpridas em seu seguidor Francisco naquele dia,
quando o humilde frade enfrentou resolutamente o poderoso Sultã o.
Com o Illuminato provavelmente atuando como
inté rprete,11Francisco corajosamente respondeu que sim, eles eram na
verdade mensageiros. Mas, ele explicou, ele e seu companheiro foram
enviados por Deus e nã o pelo homem. Francisco começou
imediatamente a proclamar ao Sultã o a mensagem do Evangelho da
salvaçã o, declarando Jesus Cristo como Salvador e verdadeiro Deus
feito homem. Talvez o mais importante, como se viu, Francisco
anunciou que sua preocupaçã o pessoal era com a salvaçã o eterna da
alma de al-Kamil.12O sultã o ouviu atentamente enquanto Francisco
pregava a fé para ele e seus assistentes. Ao testemunhar a coragem, o
entusiasmo e a irmeza do Santo, ele icou profundamente
comovido. Vitry descreveu a transformaçã o do sultã o: "... aquela besta
cruel, tornou-se a pró pria doçura ..."13
A resposta do sultã o al-Kamil ao ouvir Francisco contrastou
notavelmente com a maneira como seus pró prios sentinelas e soldados
saudaram os franciscanos. O sultã o, impressionado com a coragem e
espiritualidade deste orador inspirado, desejou ouvir mais. O lobo
havia se transformado em um cordeiro,14graças à in luê ncia do Santo
sobre o sultã o educado e de mente aberta. Uma tese moderna propõ e
que al-Kamil estava atento a este ensinamento do Alcorã o: “Mais perto
deles, no amor aos crentes, encontrará s aqueles que dizem: 'Somos
Cristã os': porque entre estes estã o homens devotados ao aprendizado
e homens que renunciaram ao mundo e nã o sã o arrogantes
”. ( Alcorão 5: 82).15, 16
Francisco nã o atacou diretamente a religiã o de Maomé , mas sob a
orientaçã o do Espı́rito Santo, continuou a expor as verdades da religiã o
cristã . Celano pergunta retoricamente se algué m pode narrar a irmeza
de Francisco. “Com quanta força de espı́rito ele falou com ele, com
quanta eloqü ê ncia e con iança ele respondeu à queles que insultaram a
lei cristã .”17 Para Boaventura, o zelo de Francisco re letia a promessa do
Evangelho: “Pois eu te darei boca e sabedoria, a que todos os teus
adversá rios nã o poderã o resistir e contradizer”.18( Lucas 21:15).
Uma fonte antiga apresenta o seguinte relato do discurso dos
franciscanos: “Se nã o quiseres acreditar”, disseram os dois frades,
“vamos recomendar a tua alma a Deus, porque declaramos que se
morreres cumprindo a tua lei , você estará perdido; Deus nã o aceitará
sua alma. Por esta razã o, viemos até você . ”19 Eles acrescentaram que
iriam demonstrar aos conselheiros mais sá bios do sultã o a verdade do
Cristianismo, perante o qual a lei de Maomé nã o contava para
nada.20Em resposta a este desa io, e para refutar o ensinamento dos
dois missioná rios, o sultã o chamou seus conselheiros religiosos,
os imames. No entanto, eles se recusaram a disputar com os cristã os e,
em vez disso, insistiram que eles fossem mortos, de acordo com a lei
islâ mica.21, 22
Mas o sultã o, cativado pela fala dos dois franciscanos e por sua
sincera preocupaçã o com sua pró pria salvaçã o eterna, ignorou a
exigê ncia de seus cortesã os. Em vez disso, al-Kamil ouviu de bom
grado a Francisco, permitindo-lhe grande liberdade em sua
pregaçã o. Disse a seus imãs que decapitar os frades seria uma
recompensa injusta por seus esforços, pois haviam chegado com a
louvá vel intençã o de buscar sua salvaçã o pessoal.23 Para Francisco, ele
disse: “Vou contrariar o que meus conselheiros religiosos exigem e nã o
vou cortar suas cabeças ... você s arriscaram suas pró prias vidas para
salvar minha alma”.24
Os dois franciscanos foram hó spedes do sultã o por vá rios dias, já
que al-Kamil gostava de ter Francisco com ele e “mandou chamá -lo em
particular”.25Ele parecia preocupado com eles e certi icou-se de que os
ferimentos que haviam recebido de seus sentinelas fossem
cuidados. Ele també m providenciou para que fosse dado tratamento
aos olhos de Francisco.26 Seus problemas oculares existentes foram
agravados pelo sol egı́pcio e pelo ambiente á rido e empoeirado,
fazendo com que ele contraı́sse uma doença ocular que persistiria até
sua morte.27
Vitry menciona em seus escritos que o lı́der muçulmano “o
manteve com ele por alguns dias e com muita atençã o o
ouviu”.28Francisco, por sua vez, deve ter icado muito animado com a
atitude simpá tica do sultã o. Ele percebeu que sua pregaçã o estava
tendo pelo menos algum efeito, já que a certa altura o lı́der muçulmano
disse ao frade: “Eu acredito que sua fé é boa e verdadeira”. Essa é a
lembrança do companheiro de Francisco, o irmã o Illuminato, em suas
entrevistas com Sã o Boaventura.29
Embora possa parecer incomum que um potentado muçulmano se
sinta tã o atraı́do pelo cristianismo, deve-se considerar os mé ritos e a
pessoa desse portador da mensagem do Evangelho aos
egı́pcios. Francisco foi um dos santos mais carismá ticos e notá veis da
histó ria da Igreja. A receptividade e cortesia do sultã o, ao ver que
Francisco era um homem justo, parece ter sido in luenciada por este
conselho do Alcorão : “E nã o conteste com os seguidores do Livro,
exceto pelo que é melhor, exceto aqueles que agir injustamente.
” ( Alcorão 29: 46).30, 31
Alé m disso, o sultã o, que era uma pessoa culta com uma inclinaçã o
poé tica, sem dú vida conhecia bem os mı́sticos su istas
muçulmanos. Fontes indicam que o professor espiritual mais pró ximo
de al-Kamil foi o su i al-Fakhr al-Farisi, em cuja lá pide é mencionada a
aventura do su i com al-Kamil e "aquilo que se abate sobre ele por
causa do monge". Esta, aliá s, é a ú nica escrita á rabe conhecida alusiva à
visita de Francisco.32
Os su is eram ascetas que apresentavam algumas semelhanças
impressionantes com os primeiros franciscanos. Eles usavam tú nicas
grosseiras cingidas com uma corda e eram itinerantes que buscavam
esmolas. Eles abraçaram uma iloso ia que a irmava que um verdadeiro
su i nã o possuı́a nada e nã o era possuı́do por nada, uma perspectiva
bastante semelhante, em alguns aspectos, à ê nfase franciscana na
pobreza total.33 Alé m disso, o sé culo XIII é considerado a “idade de
ouro” dos su is, o perı́odo em que o su ismo teve seu maior
lorescimento no mundo muçulmano.34 E bem possı́vel, entã o, que a
curiosidade e o interesse do sultã o por Sã o Francisco, e a hospitalidade
que ele demonstrou a ele, possam ter sido in luenciados pelas notá veis
semelhanças entre esse mendicante seguidor de Cristo e os nô mades
muçulmanos su is.
Talvez, uma causa adicional para a recepçã o benigna concedida a
Francisco foi que o lı́der muçulmano viu em Francisco um aliado ú til
nas negociaçõ es em andamento com os Cruzados.35 Embora ele tivesse
acabado de entregar ao exé rcito cristã o uma derrota esmagadora, ele
tinha muitos motivos para desejar o im da guerra, como mencionado
anteriormente.
Mesmo que Francisco nã o tenha sido realmente enviado como
emissá rio o icial da tré gua ao sultã o, na realidade ele foi a verdadeira
“missã o de paz” para o campo muçulmano - no sentido de levar a paz
de Cristo aos lı́deres islâ micos. Essa missã o se concretizaria se eles
aceitassem o cristianismo. Converter os muçulmanos por meio de sua
pregaçã o era o objetivo inal dos esforços de Francisco, e um im
pacı́ ico para a guerra seria uma consequê ncia de sua conversã o. Nas
palavras do estudioso Christoph Maier, “Francisco, como os cruzados,
queria libertar os lugares sagrados da Palestina do domı́nio
muçulmano. O que era diferente era sua estraté gia ... Ele queria sua
submissã o total à fé cristã . ”36

Capítulo 11

Julgamento por fogo

O fogo N com o Espı́rito Santo, Francis alegremente anunciou Cristo


com o Sultan islâ mica e sua corte. Ele até se ofereceu para suportar as
chamas dolorosas de um incê ndio real, a im de provar a verdade de
seus ensinamentos. O soberano tinha insistido para que Francisco
prolongasse sua estada, e o Santo respondeu que icaria feliz em
continuar com ele por amor de Deus, desde que o lı́der muçulmano e
seu povo se convertessem ao cristianismo. O sultã o respondeu
renovando a proposta anterior, ou seja, que seus imãs e iló sofos
discutissem com os frades os mé ritos relativos das duas religiõ es. Mas
desta vez foi Francisco que declinou, respondendo: “Nossa fé é maior
do que a razã o humana. A razã o é inú til, a menos que uma pessoa
acredite. ”1Em vez disso, a im de provar a verdade da fé cristã ,
Francisco desa iou o sultã o a determinar qual religiã o era “mais certa e
mais sagrada”, acendendo uma fogueira. Entã o o sultã o deveria
convidar esses mesmos imãs e iló sofos para entrar na con lagraçã o
junto com Francisco, para ver quem sairia ileso das chamas.*
A resposta do sultã o foi uma recusa polida, associada à admissã o
franca de que nã o acreditava que seus lı́deres religiosos estariam
dispostos a enfrentar a possibilidade de a liçã o ou morte para
demonstrar a verdade de suas crenças. Sã o Boaventura acrescenta que
o sultã o viu um de seus imãs mais velhos e mais respeitados escapar ao
ouvir a proposta de Francisco.2
Vendo que os sarracenos nã o se submeteriam a tal disputa,
Francisco entã o se ofereceu para entrar no incê ndio
desacompanhado. Se o fogo o prejudicou, eles devem atribuir isso
apenas aos seus pecados. Mas se ele sair ileso das chamas, o sultã o e
sua corte devem concordar em se converter à religiã o cristã ,
reconhecendo o poder e a sabedoria de Cristo como Senhor e Salvador
de todos. Mais uma vez, o governante recusou o desa io, dizendo que
temia que seus seguidores se revoltassem se ele renunciasse à sua
pró pria religiã o. "Eu nunca poderia fazer isso. Meu povo me
apedrejaria. ”3 Como ele era o governante dos territó rios islâ micos do
Egito, Sı́ria e Terra Santa, as notı́cias da conversã o do sultã o e de
qualquer um de seus homens ao cristianismo teriam de fato
repercutido rapidamente em todo o Oriente Mé dio, com consequê ncias
nefastas para eles.
Desa iado pela disposiçã o de Francisco de submeter-se a um teste
de fé , al-Kamil elaborou um plano inteligente para levar o frade a uma
situaçã o em que seria forçado a escolher entre duas alternativas. Uma
das escolhas mostraria desprezo por seu an itriã o islâ mico e tribunal, e
a outra seria desrespeitosa por sua pró pria religiã o cristã . Foi uma
manobra semelhante à quela daqueles que desejavam enredar Jesus
perguntando-Lhe se era lı́cito pagar tributo a Cé sar, esperando que,
quer respondesse sim ou nã o, eles seriam capazes de condená -lo de
qualquer maneira.
O sultã o tinha em sua posse um elaborado tapete multicolorido
decorado com motivos em forma de cruz e ordenou a seus homens que
o estendessem diante dele. Ele se gabou para seus seguidores de que se
Francisco se aproximasse dele pisando nas cruzes enquanto caminhava
sobre o tapete, ele o acusaria de ser culpado de insultar seu Senhor. Por
outro lado, se ele se recusasse a andar sobre o tapete, recusando-se a se
aproximar do pró prio sultã o, seria culpado de insolê ncia e desrespeito
ao seu an itriã o.
Francisco foi entã o convocado a comparecer perante al-Kamil. Sem
hesitar, caminhou sobre o tapete e percorreu toda a sua extensã o para
saudar o seu an itriã o. Ele tinha plena consciê ncia de que estava
pisando nas cruzes, mas, como o irmã o Illuminato comentou mais
tarde, Francisco “recebeu da pró pria plenitude de Deus suas instruçõ es
para seus atos e també m para suas palavras”.4
O sultã o se regozijou ao acusar Francisco de insultar seu pró prio
Deus ao pisar nas cruzes tecidas no tapete. Ele o acusou de pisotear o
pró prio sinal daquele Salvador a quem os cristã os adoram. Mas
Francisco surpreendeu o sultã o ao negar que havia passado por cima
do sinal da cruz de Cristo. “Ladrõ es també m foram cruci icados com
Nosso Senhor”, explicou ele. Nó s, cristã os, temos a verdadeira cruz, que
veneramos com grande devoçã o, continuou ele. Mas se temos a Cruz
Verdadeira, entã o o que foi deixado para você sã o as cruzes dos
ladrõ es. “E por isso que nã o tive escrú pulos em passar por cima dos
sı́mbolos dos bandidos.”5
Deus inspirou Francisco a ver as cruzes no tapete do incré dulo
Sultã o como as forcas dos homens que foram cruci icados com Cristo. O
Santo havia se esquivado habilmente do estratagema do soberano ao
diferenciar as cruzes que tinham sido usadas para punir os devotos do
mundo da Cruz Verdadeira na qual Jesus estava pendurado - assim
como Cristo escapou da armadilha dos fariseus ao fazer uma distinçã o
entre as coisas que pertencem a Cé sar e aos que sã o de Deus: “E Jesus,
respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a Cé sar o que é de Cé sar, e a Deus o
que é de Deus. E eles icaram maravilhados com ele. ” ( Marcos 12: 17-
18).
Francisco també m teria dito ao Sultã o: “Nada da sagrada cruz do
Salvador pertence a você ou está entre você ”.6Com as palavras “entre
você s”, Francisco estava se referindo a uma contrové rsia em curso
entre cristã os e muçulmanos sobre a Verdadeira Cruz. Uma relı́quia da
Cruz, carregada pelo Patriarca Latino de Jerusalé m, era de fato
venerada no acampamento dos Cruzados que entã o sitiava
Damietta.7 No entanto, durante as negociaçõ es de tré gua com os
cristã os, al-Kamil alegou que ele pró prio estava de posse do maior
remanescente existente da Verdadeira Cruz, que havia sido capturado
pelos muçulmanos na batalha de Hattin em 1187.8
As forças cristã s, no entanto, nã o estavam convencidas de que o
sultã o tivesse essa relı́quia sagrada em sua posse, pois havia rumores
de que os muçulmanos a haviam perdido logo apó s a batalha de
Hattin. As a irmaçõ es de Francisco de que a “cruz dos ladrõ es” era a
porçã o do sultã o e que a verdadeira cruz nã o estava “entre você s” foi
provavelmente um desa io velado ao lı́der muçulmano para provar que
ele realmente tinha uma relı́quia da cruz de Cristo sob sua custó dia. De
qualquer forma, a verdade nã o era conhecida, pois as negociaçõ es de
paz inalmente foram interrompidas e a batalha de Damietta foi
reiniciada. Muito mais tarde, depois que os Cruzados inalmente
perderam a Quinta Cruzada, os termos de rendiçã o incluı́ram o retorno
da porçã o da Verdadeira Cruz para o muçulmano. No entanto, al-Kamil
nunca foi capaz de localizá -lo, e esta parte da relı́quia sagrada nunca foi
encontrada novamente.9
A histó ria do “tapete com cruzes” inspirou um franciscano
moderno, pe. Christopher Rengers, OFM Cap. para compor este
refrã o:10

Ajude-nos a pisar no pecado

Para apanhar os frades, o Sultã o tinha um esquema:


Um tapete com cruzes antes de o sultã o se espalhar.
Eles se recusariam, ou no piso do tapete?
Recusar seria ao Sultã o parecer um insulto.
Andar na cruz seria o pró prio Cristo blasfemar.
Entã o Francis caminhou no tapete para que todos vissem.
O Sultã o exclamou: "Você nã o ofende Cristo?"
"Nã o é assim, antes de cruzar meu joelho, eu me curvo
Na colina do Calvá rio, as cruzes eram trê s.
Para pisar nas cruzes dos ladrõ es, apresso-me de alegria.
Sã o Francisco, manda-nos frades habilidosos
Para nos ajudar a conhecer a vontade do Pai.
Cujas palavras iluminam e divertem,
E os planos de design escuro confundem.
Sã o Francisco, ajude-nos a pisar no pecado.
Pegue nossa cruz e o cé u vença.

Al-Kamil fez outra tentativa de testar Sã o Francisco, desta vez em


relaçã o aos ensinamentos do Evangelho de Cristo. Este incidente
mostra que ele tinha alguma familiaridade com a doutrina cristã , talvez
baseada no que já havia sido pregado a ele por Francisco. O sultã o
confrontou o frade com as palavras do Sermã o da Montanha de Jesus,
narrado no Evangelho de Sã o Mateus: “Mas eu vos digo que nã o
resistais ao mal; mas, se algué m te bater na face direita, volta a ele
també m o outro: E se algué m contender contigo em juı́zo e tirar a tua
tú nica, deixa ir també m para ele o teu manto. ” ( Mateus 5: 39-40).
O sultã o perguntou a Francisco por que, à luz desse ensinamento de
Jesus, os cruzados deveriam estar invadindo as terras dos
muçulmanos? Visto que a passagem ensina “dar a outra face” e retribuir
o mal com o bem, o sultã o a irmava que nã o havia justi icativa para as
invasõ es dos cruzados, embora soubesse que os muçulmanos haviam
tomado a terra dos cristã os sé culos antes.
Mais uma vez, a resposta de Francisco surpreendeu al-Kamil. O
Santo declarou que o Sultã o nã o tinha estudado completamente o
Evangelho, e indicou ao Rei as palavras que Nosso Senhor havia falado
anteriormente no mesmo discurso:
E se teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o de ti. Pois é
conveniente para ti que um dos teus membros pereça, ao invé s de que
todo o teu corpo seja lançado no inferno. E se a tua mã o direita te
escandalizar, corta-a e lança-a de ti; porque te convé m que um dos teus
membros pereça, em vez de que todo o teu corpo vá para o inferno.
” ( Mateus 5: 29-30).

Francisco entã o passou a dar uma interpretaçã o distinta a essas


linhas, referindo-as à queles que tentam afastar os cristã os de sua fé e
amor a Deus. O sultã o era tã o querido para ele quanto seus pró prios
olhos, admitiu ao potentado.11 Mas, explicando as palavras de Nosso
Senhor de que a pessoa deve arrancar o pró prio olho se isso a
desencaminha, Francisco continua.
Aqui, ele queria nos ensinar que todo homem, por mais querido e
pró ximo que seja para nó s, e mesmo que seja tã o precioso para nó s
como a menina dos nossos olhos, deve ser repelido, puxado para fora,
expulso se quiser nos afastar da fé e do amor de nosso Deus. E por isso
que os cristã os invadem a terra em que você habita, pois você blasfema
o nome de Cristo e afasta todos que puder de Sua adoraçã o. Mas se
você fosse reconhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor, os
cristã os o amariam como a si mesmos ...12

Quando Francisco terminou de se dirigir ao sultã o, “todos os


espectadores icaram admirados com suas respostas”.13
Al-Kamil, ao citar o ensino das Escrituras de que se deve retribuir o
mal com o bem, estava na verdade a irmando que os cristã os deveriam
retribuir algum mal cometido pelos muçulmanos com uma boa açã o de
sua parte, ou dando a outra face. Com essas palavras, o sultã o estava de
fato se condenando. Ele estava inferindo que ele e seu povo eram na
verdade malfeitores e que os cristã os nã o deveriam ter retribuı́do o mal
com o mal lutando contra eles nesta Cruzada. E de se perguntar que
iniqü idade ele poderia estar atribuindo a seu pró prio povo à luz da
guerra em curso, senã o a centená ria conquista e ocupaçã o muçulmana
de terras, povos e naçõ es que antes eram principalmente cristã os?
Alé m disso, a repreensã o de Francisco ao Sultã o deixa claro que ele
nã o se opunha à Cruzada, porque a via como uma tentativa justi icada
de retomar aqueles paı́ses que haviam sido perdidos para os exé rcitos
muçulmanos. Um dos maiores especialistas em Francisco e a Quinta
Cruzada, James M. Powell, a irma: “Francisco de Assis foi a Damietta em
missã o de paz. Nã o pode haver dú vida sobre isso. Nã o devemos, no
entanto, tentar torná -lo um paci ista ou rotulá -lo como um crı́tico da
cruzada ”.14 Christoph Maier, outro importante estudioso da Cruzada, é
ainda mais explı́cito: “Francisco, portanto, aceitou a Cruzada como
legı́tima e ordenada por Deus, e ele obviamente nã o se opô s ao uso da
violê ncia quando se tratava da luta entre cristã os e muçulmanos.
”15 Certa vez, Francisco comentou com seus frades que “... paladinos e
valentes cavaleiros que eram poderosos na batalha perseguiram os
in ié is até a morte ...” Francisco admirou os feitos de tais homens
corajosos porque “... esses santos má rtires morreram lutando pela Fé
de Cristo . ”16
Como um sinal de sua grande admiraçã o por Francisco, ou talvez
como um estratagema inal, o rei tentou a seguir regar o frade com
presentes monetá rios e presentes atraentes. Nas palavras de Celano, o
primeiro bió grafo do Poverello, “ele tentou inclinar a mente de
Francisco para as riquezas do mundo”.17Mas o ú nico interesse do Santo
era a salvaçã o das almas, e ele via as coisas materiais com desprezo. O
sultã o, talvez procurando bene iciar sua pró pria alma, implorou a
Francisco que pelo menos pegasse esses presentes e os doasse aos
cristã os pobres e à s igrejas. Mais uma vez o frade objetou, decidido a
nã o ter nada a ver com dinheiro ou propriedades.18A recusa de
Francisco em aceitar esses presentes serviu apenas para aumentar a
admiraçã o do sultã o por este ousado missioná rio, que era totalmente
alheio a qualquer desejo de dinheiro ou posses. Al-Kamil estava cheio
do mais alto respeito por Sã o Francisco, “e ele o via como um homem
diferente de todos os outros”.19

Capítulo 12

Conversão no leito de morte?

A POS uma estadia de vá rios dias no acampamento do Sultã o (ele pode
ter permanecido tanto tempo quanto um mê s),1Francisco percebeu
que nã o poderia progredir mais na evangelizaçã o de al-Kamil. O rei já
havia deixado bem claro que nã o estava disposto a arriscar sua pró pria
vida, ou uma rebeliã o aberta de seu povo, por abraçar abertamente o
Cristianismo. Havia murmú rios crescentes de descontentamento entre
os imames do sultã o e outros em sua corte, cuja lealdade ao Islã os fazia
se opor à pró pria presença de Francisco e Illuminato em seu meio. Por
outro lado, o sultã o temia que a pregaçã o de Francisco pudesse ter um
efeito bem diferente sobre alguns dos soldados rasos. Ele certamente
nã o queria que nenhum de seus homens abandonasse seus postos e
desertasse para o exé rcito cristã o.2
A recepçã o educada e até amigá vel que Francisco recebeu na tenda
do sultã o convenceu Francisco de que seu desejo de martı́rio nã o seria
realizado. Celano observa que Deus estava salvando Francisco para um
tipo diferente de martı́rio - aludindo aos estigmas agonizantes que ele
suportaria nos anos inais de sua vida.3No entanto, a pregaçã o do Santo
pelo menos conseguiu semear a boa semente entre os muçulmanos -
mas foi semeada em solo fé rtil? De qualquer forma, caberia a Deus dar
o aumento. “Eu plantei, o Apolo regou, mas Deus deu o
crescimento. Portanto, nem o que planta é alguma coisa, nem o que
rega; mas Deus, que dá o crescimento. ” ( 1 Coríntios 3: 6-7).
Jacques de Vitry escreveu que al-Kamil, antes de despedir o frade,
pediu-lhe em particular que orasse para que Deus “me revelasse a lei e
a fé que Lhe agrada mais”.4 O irmã o Illuminato observou que o sultã o,
depois de ouvir Francisco pregar o Evangelho com fervor, “sempre teve
a fé cristã gravada em seu coraçã o”.5 Alé m disso, há um relato antigo,
que será relatado em breve, de que al-Kamil acabou se convertendo em
seu leito de morte à fé cristã .
Embora Francisco nã o tenha aceitado nenhum dinheiro ou outro
sı́mbolo de riqueza mundana do sultã o, ele voltou ao acampamento-
base dos cruzados com dois presentes de al-Kamil, o primeiro dos
quais tem um signi icado especial, especialmente no mundo de
hoje. Era um chifre de mar im delicadamente trabalhado, usado pelos
muçulmanos para chamar os ié is para as oraçõ es diá rias e també m
para convocar as forças sarracenas para a batalha.6 O chifre foi
posteriormente decorado com ané is e correntes de prata e foi
inventariado na Bası́lica de Assis já em 1473. Um desses ané is traz a
inscriçã o: “Com isto ... Sã o Francisco reuniu o povo para ouvi-lo
pregar”.7 Este chifre ainda está em posse da Ordem Franciscana.8 Em
2003, esta trompa foi mostrada a Tariq Aziz, um cató lico caldeu que era
entã o vice-primeiro-ministro iraquiano, durante uma visita que fez ao
tú mulo do Santo em Assis.9
Como uma segunda indicaçã o de sua estima por Francisco, o sultã o
o presenteou com uma autorizaçã o de passagem segura, que permitia
ao Poverello viajar para qualquer lugar em seus domı́nios sem
impedimentos e o dispensava de prestar homenagem aos senhores
locais. Este selo ou signáculo foi a primeira autorizaçã o dos
muçulmanos em favor dos franciscanos. Isso marcou o inı́cio de seu
relacionamento especial, o que permitiu aos frades, eventualmente,
obter a custó dia dos santuá rios cristã os da Terra Santa.10 De acordo
com um relato, al-Kamil permitiu que Francisco e seus companheiros
viajassem e pregassem em todo o seu reino, e "ele lhes deu um
pequeno sı́mbolo para que ningué m que o visse os izesse mal".11
Embora haja pouca documentaçã o de suas viagens, é amplamente
sustentado que o Santo usou o signaculum para visitar muitos dos
santuá rios sagrados associados à vida de Cristo durante sua estada no
Oriente Mé dio. Como mencionado anteriormente, suas viagens ao
Egito e à Terra Santa tiveram um efeito debilitante sobre a condiçã o de
seus olhos, causado em parte pelo calor excessivo e fadiga corporal que
suportou.12 Os problemas de visã o de Francisco foram agravados pelo
seu choro habitual, enquanto contemplava com tristeza e
arrependimento os sofrimentos de Cristo e os pecados do
mundo.13 Essa a liçã o permaneceu com ele pelo resto de sua vida, e sua
visã o continuou a se deteriorar até que nos ú ltimos anos ele icou
quase totalmente cego.
Quando Francisco e Illuminato inalmente se despediram do
acampamento muçulmano, o sultã o ordenou que fossem
acompanhados por um contingente de cavalaria sarracena como
medida de segurança e guarda de honra. O espanto e a admiraçã o dos
cristã os foram ilimitados ao verem Francisco e seu companheiro
retornarem apó s uma longa ausê ncia, escoltados pelos homens do
sultã o, como se fossem conquistadores.14Sem dú vida, a essa altura os
cruzados já os consideravam mortos, martirizados nas mã os do
inimigo. Apó s seu retorno, Francisco provavelmente permaneceu com
o exé rcito cristã o até a curta captura de Damietta em novembro de
1219.15Ele entã o começou sua jornada para a Palestina, aparentemente
fazendo uso do signaculum para uma passagem segura, até sua partida
para a Itá lia.
Sua visita ao Sultã o foi imortalizada na Divina Comédia
de Dante por estes versos do Paraíso:16
… e quando
Ele tinha, por meio da sede do martı́rio, se levantou
Na presença do orgulhoso Soldan [Sultan], e lá pregou
Cristo e seus seguidores; mas encontrei a corrida
Nã o amadurecido para conversã o: voltar mais uma vez
Ele se apressou (para nã o interromper seu trabalho),
E colheu terras Ausonianas [italianas].

Embora os cruzados inalmente tenham derrotado o sultã o em


Damietta, o resultado inal da Quinta Cruzada foi uma vitó ria para al-
Kamil e as forças muçulmanas. Uma tré gua de dez anos entre os
arquirrivais foi negociada. Damietta foi devolvido ao sultã o e mostrou
que nã o era o que hoje é conhecido como fundamentalista ou
extremista, pois “tratou seus refé ns com o respeito pró prio de sua
patente e providenciou comida para o exé rcito”.17Ele até mesmo
entreteve pessoalmente John de Brienne e outros lı́deres
cristã os. Grande parte do cré dito por essa magnanimidade deve ser
atribuı́da à in luê ncia sobre o Sultã o da pregaçã o, bem como da pró pria
presença de Sã o Francisco. Alegadamente, al-Kamil foi criticado por
seu pró prio povo por sua atitude tolerante para com os cristã os e foi
acusado de nã o ser um "muçulmano fervoroso".18
As Florzinhas de São Francisco (també m conhecidas como Fioretti )
é a coleçã o de histó rias mais lida sobre os primeiros franciscanos. E
nesta obra que aparece a representaçã o encantadora e comovente da
conversã o de al-Kamil ao cristianismo no leito de morte. As pequenas
lores foram compiladas cerca de cem anos apó s a morte do
santo. Raphael Brown, o editor da ediçã o moderna de initiva, escreve
em sua introduçã o que a origem do livro deriva de “uma tradiçã o oral
direta transmitida por vá rios dos amigos mais pró ximos do Santo -
Leã o, Masseo e Giles”. Ele acrescenta ainda que esta tradiçã o oral “é
principalmente con iá vel” e seu valor histó rico, com as devidas
reservas, foi reconhecido pelos principais estudiosos franciscanos.19
De acordo com as Pequenas Flores, depois que Francisco completou
suas viagens na Terra Santa, ele fez uma ú ltima visita a al-Kamil antes
de retornar à Itá lia. O santo informou ao sultã o que se despedia de seus
domı́nios e profetizou-lhe que em seu leito de morte seria batizado
cristã o. Ao saber que Francisco estava para partir, al-Kamil
con idenciou-lhe que queria se converter ao cristianismo, mas tinha
medo de fazê -lo, pois isso signi icaria a morte nã o só dele mesmo, mas
també m de Francisco e seus companheiros. Ele acrescentou que essas
mortes prematuras seriam lamentá veis, já que ele tinha muito a fazer
para garantir sua pró pria salvaçã o, e que havia muito bem que
Francisco ainda poderia fazer. “Mas me mostre como posso alcançar a
salvaçã o, e estou pronto para obedecê -lo em tudo.”20
O Santo entã o revelou ao Sultã o o que aconteceria apó s sua pró pria
morte. Atravé s da açã o da Providê ncia Divina, dois de seus frades
seriam inspirados a viajar de longe e procurar o Sultã o, a im de instruı́-
lo na Verdadeira Fé e batizá -lo. Que ele seria salvo dessa forma, disse
Francisco, foi dado a conhecer a ele pelo Senhor Jesus Cristo. Até entã o,
al-Kamil deveria fazer tudo o que pudesse para se dispor a receber no
futuro esta grande graça.
O rei sarraceno concordou, e Francisco e os frades que estavam com
ele despediram-se do reino do sultã o. Nã o muito depois, em 1226, a
alma de Sã o Francisco partiu de seu corpo enfermo e exausto, e deu seu
vô o glorioso para o cé u. Entã o, cerca de doze anos apó s sua morte, ele
apareceu em uma visã o para dois de seus irmã os frades. Nesta visã o,
ele os instruiu a procurar o Sultã o al-Kamil, a im de administrar o
Santo Batismo a ele como havia sido prometido. A dupla imediatamente
saiu para cumprir as ordens do Santo e viajou atravé s do mar até o
reino de al-Kamil.
O pró prio potentado idoso estava em sua doença inal na é poca. Ele
instruiu seus sentinelas a vigiar os portos para a chegada de dois
homens vestidos com trajes franciscanos e trazê -los imediatamente à
sua presença. No devido tempo, os dois frades foram localizados pelos
vigias e conduzidos aos aposentos do sultã o, que os recebeu com
grande alegria no coraçã o. Ele sabia agora que sua salvaçã o estava
pró xima, como Francisco havia predito. Os frades, depois de instruir al-
Kamil na Fé , administraram o sacramento do Batismo ao Sultã o
moribundo, “e sua alma foi salva pelos mé ritos de Sã o Francisco”.21
Um bió grafo do sé culo XVIII, cujo trabalho na é poca era altamente
considerado, dedicou quase duas pá ginas para enumerar as razõ es
pelas quais é prová vel que o sultã o tenha se convertido: “Nã o há nada
nesta lenda que nã o seja muito prová vel”.22No entanto, para o homem
do sé culo XXI, a histó ria pode parecer uma icçã o total, porque na era
incré dula e materialista de hoje, ela parece um mito ou um pensamento
ingê nuo e ilusó rio. Embora nã o exista nenhuma prova histó rica para
veri icar a conversã o do sultã o, da mesma forma, ningué m pode dizer
com certeza que ela nunca ocorreu. O fato de essa histó ria ser
encantadora nã o signi ica, portanto, que deva ser uma fá bula!
Evidê ncias substanciais das visõ es iluminadas de al-Kamil sobre o
cristianismo e a civilizaçã o ocidental sã o re letidas no registro
histó rico. Na conclusã o da Quinta Cruzada e na derrota do exé rcito dos
Cruzados, ele libertou trinta mil prisioneiros cristã os, ordenando que
amplas provisõ es fossem dadas a todos aqueles que desejassem
retornar para suas pró prias terras.23 Uma carta ao Sultã o, escrita por
um dos que foram libertados, agradece-lhe com estas palavras: “Nunca
antes se falou de um exemplo semelhante de bondade para com os
prisioneiros inimigos”.24Em 1229, al-Kamil negociou um tratado de
paz com o Sacro Imperador Romano Frederico II, com quem tinha boas
relaçõ es pessoalmente. O imperador era uma pessoa extremamente
erudita e, certa vez, enviou alguns problemas cientı́ icos e
astronô micos nã o resolvidos para al-Kamil. O matemá tico egı́pcio do
sultã o os resolveu e al-Kamil devolveu as respostas junto com o
presente de um livro de astronomia para o imperador.
Entre os termos do tratado de paz de 1229 estava a restauraçã o de
Jerusalé m aos cristã os, com os muçulmanos sendo permitidos apenas
nas proximidades dos locais sagrados islâ micos da cidade. O tratado
entre o imperador e o sultã o era de fato viá vel, e as hostilidades entre
cristã os e muçulmanos basicamente cessaram durante o pacto. Foi
durante esse perı́odo de paz que os franciscanos puderam lançar as
bases para seu papel na Palestina como guardiã es dos santuá rios
cristã os.25 Al-Kamil morreu em 1238, pouco antes de o tratado expirar.
Capítulo 13

A Regra de 1221

E PENSANDO a data nã o se sabe ao certo, o retorno de Francisco à sua


terra natal provavelmente ocorreu na primavera ou no verã o de
1220.1Alguns franciscanos da Itá lia, preocupados com os graves
problemas da Ordem, enviaram um mensageiro ao Santo, pedindo-lhe
que voltasse. Este enviado era um irmã o leigo conhecido como
Estê vã o, o Simples, por causa de sua inocê ncia e piedade. Ele informou
a Francisco que muitos na Ordem rezavam com lá grimas pelo retorno
de seu pai espiritual e mestre à Itá lia, para que ele pudesse retomar sua
orientaçã o pessoal do rebanho. Stephen també m relatou a triste
notı́cia de que numerosos irmã os se desviaram do caminho da
perfeiçã o originalmente indicado por Francisco e negligenciaram a
prá tica da Santa Pobreza e outras virtudes.2 Alé m disso, os dois
vigá rios que Francisco havia deixado no comando da Ordem haviam
aprovado certas constituiçõ es e regulamentos que estavam em
desacordo com a Regra 1209 original.3
A notı́cia que chegou por meio de Estê vã o, o Simples, foi tã o
desconcertante que Francisco decidiu encerrar imediatamente sua
estada na Terra Santa. De volta à Itá lia, levou consigo o Irmã o Elias,
Cé sar de Speyer, Pedro de Catâ nia e alguns outros.4No entanto, nem
todos os frades voltaram; alguns foram deixados para trá s no Oriente
Mé dio para apoiar a fundaçã o da presença franciscana lá . Alé m da sede
da Provı́ncia Sı́ria em Sã o Joã o do Acre, esta incluı́a uma igreja e uma
casa na cidade de Damietta, que havia sido atribuı́da aos Franciscanos
em 1220, durante o breve perı́odo em que os Cruzados estiveram na
posse do cidade.5
A Regra original de 1209 foi estabelecida nos primeiros anos do
chamado de Francisco para ser um seguidor de Cristo. Visto que o
nú mero daqueles que eram atraı́dos por seu caminho de
espiritualidade estava aumentando dramaticamente, ele percebeu que
alguma regra formal de vida e conduta para a Ordem em crescimento
era necessá ria. Conseqü entemente, ele redigiu um pequeno decreto
baseado nos preceitos, conselhos e ensinamentos de Jesus, incluindo
muitas passagens das Escrituras. Depois, acompanhado de alguns de
seus companheiros, viajou a Roma para buscar a aprovaçã o do Santo
Padre para a Regra. Essa foi a ocasiã o do famoso sonho do Papa
Inocê ncio III, no qual Francisco foi visto segurando a Igreja de Sã o Joã o
de Latrã o, a igreja titular do Bispo de Roma, para evitar que ela
desabasse. Posteriormente, o Santo Padre deu sua aprovaçã o verbal
aos estatutos, que consistiam essencialmente na observâ ncia do
Evangelho na vida religiosa. Embora esta Regra tenha sido a diretriz
para a vida franciscana por uma dezena de anos, nã o há có pias
conhecidas dela.6
Ao retornar da Terra Santa, Francisco percebeu que era hora de
atualizar a Regra de 1209, a im de incorporar as muitas decisõ es,
resoluçõ es e propostas feitas desde o seu inı́cio. Assim, ele redigiu uma
revisã o eloqü ente dos estatutos originais, que concluiu em 1221.
Atribuiu ao irmã o Cé sar de Speyer a tarefa de polir com citaçõ es da
Escritura, e o resultado inal é conhecido como a Regra de 1221. Desde
que foi considerada ser um embelezamento da regra aprovada de 1209
e, por falta de formalidade em sua terminologia, nã o foi apresentada ao
Papa para sua consideraçã o.7Por isso é comumente conhecido como
a Regula non Bullata , uma vez que era uma regra, regula, que nunca foi
o icialmente endossada por uma Bula Papal.
A importâ ncia do Capı́tulo XVI da Regula non Bullata , no que diz
respeito à s relaçõ es com o Islã , nã o deve ser subestimada. E o primeiro
caso documentado de uma ordem religiosa cató lica que clama
especi icamente por um evangelismo missioná rio para os
incré dulos. “E o primeiro de seu tipo na legislaçã o das ordens
religiosas na Igreja.”8Visto que a regra original de 1209 nã o sobreviveu,
nã o se pode saber com certeza se essa regra mencionava ou nã o
muçulmanos ou incré dulos. No entanto, é prová vel que o capı́tulo XVI
da Regula non Bullata tenha sido de fato uma nova adiçã o à regra
primitiva de 1209, baseada na experiê ncia pessoal de Francisco com o
Islã durante sua longa estada no Oriente Mé dio.9 O texto completo do
Capı́tulo XVI é apresentado no inal do seguinte resumo e comentá rio.
O capı́tulo XVI é intitulado, “Em viagens entre sarracenos e outros
in ié is”. Ele começa com um versı́culo familiar do Evangelho de Mateus,
que descreve sucintamente o que os irmã os podem esperar: “Eis que
vos envio como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sede sá bios como
as serpentes e simples como as pombas. ” ( Mateus 10:16). Ao escolher
uma citaçã o que fala de “lobos”, Francisco está enviando um aviso claro
de que a missã o aos sarracenos está repleta de perigos reais. A
implicaçã o da passagem é clara: para sua pró pria segurança, os frades
devem evitar ofender desnecessariamente seus an itriõ es muçulmanos,
sendo extremamente alertas e cuidadosos no que eles dizem e fazem.
Para enfatizar a seriedade de tal empreendimento, uma injunçã o
segue imediatamente a advertê ncia inicial das Escrituras. A irma que
qualquer frade que deseje empreender uma missã o entre os incré dulos
deve obter a aprovaçã o de seu ministro (superior) na Ordem. Se o
ministro percebe que o frade está “apto para ser enviado”, deve
conceder sua permissã o, ciente de que deve prestar contas ao Senhor
por sua decisã o. Em seguida, o capı́tulo propõ e dois caminhos possı́veis
para os franciscanos se comportarem em terras muçulmanas para
cumprir sua missã o. A primeira forma de conduta em relaçã o aos
muçulmanos é simplesmente levar uma vida de testemunho cristã o,
sem pregar abertamente a Cristo, de modo "que eles nã o causem
discussõ es ou contendas". Em essê ncia, eles proclamariam o Evangelho
nã o com palavras, mas por suas vidas e açõ es - passivamente, por assim
dizer.
A segunda maneira de se conduzir é uma proclamaçã o
decididamente mais positiva e ativa do Evangelho. Os irmã os devem
proclamar a palavra de Deus abertamente, para que os incré dulos
possam ouvir as boas novas de Jesus Cristo como seu Redentor e
Salvador, “para que sejam batizados e se tornem cristã os”. Francisco
implicitamente recomenda a prudê ncia, uma vez que a Regra nunca
declara que a pró pria religiã o islâ mica deve ser denunciada ou
criticada. O ensino tradicional da Igreja sobre a necessidade de receber
o sacramento do Batismo para ser salvo é sublinhado no inal do
segundo pará grafo do capı́tulo, citando João 3: 5, “A menos que o
homem nasça de novo da á gua e do Espı́rito Santo , ele nã o pode entrar
no reino de Deus. ” Aqui está claro que Sã o Francisco pretende que os
muçulmanos se convertam e sejam batizados.
Os versı́culos do evangelho sã o entã o apresentados para mostrar
que os irmã os nã o devem ter vergonha de Jesus Cristo, mas sim
confessá -Lo diante dos homens. Francisco entende o grande risco que
os frades correm ao professar abertamente Cristo aos muçulmanos. No
entanto, ele indica que esta segunda forma de conduta é a vocaçã o
superior, e até mesmo um dever: "Em nome do Seu amor, eles devem
enfrentar seus inimigos visı́veis e invisı́veis." Ciente de que o martı́rio
pode aguardar os irmã os que pregam abertamente a Boa Nova
enquanto estiverem no Oriente Mé dio, ele os lembra que eles “se
entregaram e entregaram seus corpos ao Senhor Jesus Cristo”.
A primeira maneira de se comportar entre os incré dulos, que
ordena que os frades sejam hó spedes essencialmente dó ceis em uma
terra estrangeira, está contida em apenas uma frase: “Uma maneira é
que eles nã o causem discussõ es ou contendas, mas sejam sujeitos ' a
toda criatura humana por amor de Deus '( 1 Pedro 2:13), e confessar-se
cristã os. ” E prová vel que essa maneira tenha sido prescrita como
conduta opcional para os irmã os que nã o foram chamados nem
estavam prontos para o sacrifı́cio do martı́rio. Esta forma de
comportamento, buscando evitar con litos e estar paci icamente sujeito
a todos, é melhor compreendida à luz do conceito islâ mico de dhimma.
No Alcorão, cristã os e judeus sã o descritos como “o povo do livro”,
pois receberam revelaçõ es de Deus. Na é poca de Francisco (como em
outras é pocas), as “pessoas do Livro” eram autorizadas pela lei
islâ mica a residir e praticar sua religiã o em paı́ses muçulmanos, mas
eram consideradas pessoas de segunda classe, conhecidas
como dhimmis . Eles geralmente foram feitos para suportar condiçõ es
humilhantes. Os dhimmis foram forçados a se submeter a regulamentos
que incluı́am o tipo de roupa que podiam usar, o tamanho de suas casas
e o abrigo obrigató rio de viajantes e soldados muçulmanos. Eles foram
impedidos de exibir qualquer exibiçã o pú blica de sua religiã o alé m de
suas vestes de identi icaçã o. Basicamente, os dhimmis eram forçados a
viver em sujeiçã o aos muçulmanos e arriscavam a pena de morte caso
izessem proselitismo. Os cristã os podiam manter suas igrejas, mas
nã o podiam repará -las ou erigir novas. Na maioria dos casos, como
povos subjugados , os dhimmis eram forçados a pagar um tributo,
conhecido como “poll tax” [ sic ] ou jizya, à s autoridades
muçulmanas. Essencialmente, as opçõ es para o “povo do Livro” que
viviam no Oriente Mé dio eram trê s: converter-se ao Islã , viver
como dhimmis ou enfrentar a morte. A aplicaçã o real
de dhimma e jizya variou signi icativamente em diferentes eras
histó ricas, dependendo dos paı́ses e de seus governantes. Alguns
aspectos da lei islâ mica relacionados à dhimmitude permanecem ativos
hoje.10, 11, 12, 13
E quase certo que Francisco aprendeu essa faceta da lei islâ mica
durante suas viagens ao Oriente Mé dio e que sua primeira conduta
entre os sarracenos foi uma acomodaçã o ao dhimma . Assim, os irmã os
que escolheram essa maneira de se conduzir espiritualmente deveriam
aceitar sua condiçã o de dhimmis , “nã o causar discussõ es ou contendas”
e abster-se de pregar Cristo aos muçulmanos, mas confessar-se como
cristã os.
Embora haja essencialmente apenas uma linha no Capı́tulo XVI
da Regula non Bullata que trata da primeira forma de conduta, o
restante do capı́tulo é dedicado quase exclusivamente à segunda
forma. Como já foi referido, esta forma consiste em proclamar o
Evangelho de forma explı́cita, depois de icar claro que Deus os chama a
fazê -lo: “quando virem que isso agrada a Deus”. Os objetivos declarados
desta pregaçã o sã o , primeiro , trazer aqueles que estã o longe da Fé
Cristã ao conhecimento do Criador Onipotente, o Deus Triú no - Pai,
Filho e Espı́rito Santo; segundo , que eles passarã o a acreditar em Jesus
Cristo como o Redentor, Salvador e Filho de Deus; e , inalmente , que os
incré dulos se tornem cristã os batizados, "renascidos da á gua e do
Espı́rito Santo". Evidentemente, Francisco estava ciente de que o
conceito muçulmano de Deus, embora monoteı́sta, nã o reconhece uma
Trindade de Pessoas Divinas, nem reconhece a Divindade de Jesus
Cristo. Nas palavras de Hilaire Belloc, “Mohammed ... apresentou uma
a irmaçã o clara, plena e completa, contra toda a doutrina de um Deus
encarnado ... Ele eliminou a Trindade por completo”.14
Dois versı́culos bı́blicos sã o apresentados para mostrar que as açõ es
dos frades, ou a falta delas, terã o consequê ncias eternas. O primeiro
incentiva os frades a confessar Jesus Cristo diante dos homens, porque
Ele disse que, em troca, “Eu també m o confessarei diante de meu Pai,
que está nos cé us”. ( Mateus 10:32). A segunda adverte contra ter
vergonha de Jesus Cristo e de Seu Evangelho, porque “dele o Filho do
homem se envergonhará ”. ( Lucas 9:26).
O capı́tulo XVI certamente nã o pressupõ e que os franciscanos vã o
encontrar um povo amante da paz, aberto a considerar outros pontos
de vista sobre Deus e a religiã o que nã o os seus. Ao contrá rio, o restante
do capı́tulo sobre a missã o aos sarracenos está repleto de citaçõ es
bı́blicas destinadas a preparar os irmã os para suportar perseguiçõ es,
incluindo até a morte. Esta parte da Regra re lete apropriadamente as
pró prias experiê ncias de Francisco, uma vez que ele pró prio acolheu a
palma do martı́rio ao embarcar em trê s viagens para converter
muçulmanos ao cristianismo por meio de sua pregaçã o. As seguintes
citaçõ es das Escrituras, como diretamente citadas abaixo da Regra,
tratam especi icamente de dar a vida por causa do Evangelho. A
primeira é : “Aquele que tiver perdido a vida por minha causa, a salvará
para a vida eterna”. (Cf. Lucas 9:24; Mateus 25:46). Em segundo lugar, “e
nã o temais os que matam o corpo” ( Mateus 10:28), “e depois disso
nada mais podem fazer”. ( Lucas 12: 4). Portanto, está muito claro que
Francisco está completamente ciente das consequê ncias
potencialmente sombrias de pregar Cristo aos muçulmanos.
Que a abordagem de proclamar abertamente o Evangelho aos
incré dulos é essencialmente confrontadora é explicitada em outra
citaçã o que foi citada acima: “Eles deveriam enfrentar seus inimigos
visı́veis e invisı́veis”. Em vez de se retirar dessa posiçã o propondo uma
missã o de acomodaçã o e diá logo, Sã o Francisco apresenta as Escrituras
que sustentam os irmã os diante da morte, levando a palavra de Deus
aos incré dulos. Essa mesma palavra de Deus os fortalecerá para que
nã o desistam de sua missã o evangé lica.
As citaçõ es bı́blicas restantes do Capı́tulo XVI tê m como objetivo
encorajar a perseverança em face da adversidade. Inclui a bem-
aventurança do Sermã o da Montanha, que chama os bem-aventurados
que sã o perseguidos por causa da justiça. ( Mateus 5:11). Os irmã os sã o
lembrados de que, assim como o Mestre foi perseguido, eles també m
serã o ( João 15:20), e se forem maltratados em uma cidade, devem fugir
para outra. ( Mateus 10:23). Quando essas coisas começarem a ocorrer,
eles devem “alegrar-se naquele dia e exultar” ( Lucas 6:23), “visto que
grande é a sua recompensa no cé u”. Finalmente, eles sã o encorajados a
enfrentar essas provaçõ es com paciê ncia inabalá vel e sã o lembrados de
que aquele que “perseverou até o im, será salvo”. ( Mateus 10:22).
Como a terminologia da Regula non Bullata de 1221 nã o foi
considerada canonicamente exata e precisa, dois anos depois foi
redigida uma revisã o formal da mesma. Como consequê ncia, o Capı́tulo
XVI, "Em Viagem entre Sarracenos e Outros In ié is", foi muito reduzido
(e renumerado) na revisã o - a Regula Bullata aprovada pelo papa de
1223. Na verdade, a seçã o relevante foi comprimida em apenas duas
sentenças:
Quem quer dos frades que, por inspiraçã o divina, queira ir para o meio
dos sarracenos e outros in ié is, peça permissã o para isso aos seus
ministros provinciais. Na verdade, que os ministros nã o dê em
permissã o para ir a ningué m, exceto à queles que eles considerem
adequados para serem enviados.15

Felizmente, a descriçã o detalhada deste importante aspecto do


carisma franciscano foi preservada na regra anterior, a Regula non
Bullata de 1221. Ela fornece uma rica visã o da mente e das intençõ es
de Sã o Francisco em relaçã o à missã o dos irmã os aos seguidores do
Islã . E bem possı́vel que a remoçã o, na Regula Bullata de 1223, do
preceito positivo de proselitizar abertamente os muçulmanos tenha
sido o resultado de uma avaliaçã o mais só bria e sombria por Francisco
e sua Ordem dessa abordagem. Como se verá no pró ximo capı́tulo, os
missioná rios franciscanos foram martirizados ainda durante a vida do
Santo. Embora as estimativas variem, o nú mero total de franciscanos
que desde entã o sacri icaram suas vidas durante os perı́odos de
con lito na Terra Santa está na casa dos milhares, dos quais cerca de
quinhentos foram martirizados pela fé .16, 17
Da Regula ( Regula non Bullata ) de 122118
Capítulo XVI
Sobre viagens entre sarracenos e outros in iéis

O Senhor diz: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de


lobos. Portanto, sejam sá bios como as serpentes e simples como as
pombas. ” (cf. Mateus 10:16). Donde o frade quiser ir entre os
sarracenos e outros in ié is, vá de acordo com a permissã o de seu
ministro e servo. E deixe o ministro dar-lhes permissã o e nã o proibi-los,
se ele viu que eles sã o adequados para serem enviados; pois será
obrigado a prestar contas ao Senhor (cf. Lc 16, 2), se nisto ou em outras
coisas tiver procedido (ed) indiscretamente. Com efeito, os frades que
vã o podem conduzir-se espiritualmente entre eles de duas
maneiras. Uma maneira é que eles nã o causam discussõ es ou
contendas, mas estã o sujeitos “a toda criatura humana por amor de
Deus” ( 1 Pedro 2:13) e se confessam cristã os. A outra maneira é que,
quando eles vê em que isso agrada a Deus, eles anunciam a palavra de
Deus, para que eles possam crer em Deus, o Onipotente, Pai e Filho e
Espı́rito Santo, o Criador de todas as coisas, (e) no Redentor e Salvador,
o Filho, e para que sejam batizados e se tornem cristã os, porque “a
menos que o homem nasça de novo da á gua e do Espı́rito Santo, nã o
pode entrar no Reino de Deus”. (cf. João 3: 5). Estas coisas e outras que
agradaram ao Senhor, podem dizer a eles e aos outros, porque o Senhor
diz no Evangelho: “Todo aquele que Me confessa diante dos homens,
també m o confessarei diante de Meu Pai, que está em
Paraı́so." ( Mateus 10:32). E: “Aquele que se envergonha de Mim e dos
Meus discursos, dele o Filho do homem també m se envergonhará ,
quando Ele tiver vindo na majestade de Seu Pai e (aquela) dos
Anjos.” (cf. Lucas 9:26).
E que todos os frades, onde quer que estejam, lembrem-se de que se
entregaram e entregaram seus corpos ao Senhor Jesus Cristo. E em
nome do Seu amor ( amor ) devem enfrentar os seus inimigos visı́veis e
invisı́veis, porque o Senhor diz: “Aquele que tiver perdido a sua vida por
minha causa, a salvará (cf. Lc 9,24) para a eternidade
vida." ( Mateus 25:46). “Bem-aventurados os que sofrem perseguiçã o
por causa da justiça, porque deles é o Reino dos
Cé us”. ( Mateus 5:10). “Se eles Me perseguiram, eles perseguirã o você
també m.” ( João 15:20). E: Se eles perseguirem você “em uma cidade,
fuja para outra”. (cf. Mateus 10:23). “Bem-aventurado é s”
( Mateus 5:11), “quando os homens te odiaram” ( Lucas 6:22) “e te
amaldiçoaram” e te perseguiram (cf. Mateus 5:11) “e te separaram e
vituperaram e lançai o vosso nome como um mal ”( Lucas 6:22),“ e,
quando disseram todo o mal contra vó s, falsamente por minha causa
”. ( Mateus 5:11). “Alegrai-vos naquele dia e exultai” ( Lc 6,23), “porque
grande é o vosso galardã o nos cé us” (cf. Lc 12,4 ), e eu “digo-vos, amigos
meus, nã o os temais” ( cf. Lucas 12: 4), “e nã o temais os que matam o
corpo” ( Mateus 10:28) “e depois disso nada mais tenha que
fazer”. ( Lucas 12: 4). "Veja, você nã o é perturbado." ( Mateus 24: 6). Pois
“na vossa paciê ncia possuireis as vossas almas” ( Lucas 21:19), e aquele
que “perseverar até o im, será salvo”. ( Mateus 10:22; 24:13).

Capítulo 14

Os primeiros mártires franciscanos

O segundo modo de conduta descrito no Capı́tulo XVI da Regula non


Bullata ou Regra de 1221 é que o Evangelho deve ser proclamado sem
medo. No entanto, a Regra nã o propõ e que os irmã os refutem crenças
islâ micas especı́ icas ou se envolvam em contrové rsias, disputas ou
argumentos. Nem há qualquer sugestã o de que eles devam se preparar
para esta missã o estudando o Alcorão ou outras fontes da doutrina
islâ mica. Eles sã o ordenados simplesmente a pregar o que sabem e
crê em, as boas novas de Jesus Cristo como Deus e Salvador, para que os
sarracenos se tornem cristã os batizados. Em sua maravilhosa
simplicidade franciscana, esta é uma resposta totalmente positiva ao
mandamento de Cristo de levar o Evangelho a todas as criaturas: “Ide,
portanto, ensinai todas as naçõ es; batizando-os em nome do Pai e do
Filho e do Espı́rito Santo. Ensinando-os a observar todas as coisas que
eu vos ordenei ... ”( Mateus 28: 19-20).
Esta visã o muito prá tica e cautelosa pode ter tido sua origem em
certos incidentes violentos que já ocorreram antes da formulaçã o da
Regra de 1221, quando os primeiros missioná rios franciscanos
ridicularizaram abertamente as crenças islâ micas. O contemporâ neo
de Francisco, Jacques de Vitry, escreveu sua estimada História do
Oriente nessa é poca. Nele ele menciona que os muçulmanos foram
receptivos aos franciscanos que pregaram sobre Cristo e explicaram os
ensinamentos do Evangelho. No entanto, quando "sua pregaçã o atacou
Maomé e o condenou abertamente como mentiroso e traidor, esses
homens ı́mpios desferiram golpes sobre eles e os expulsaram de suas
cidades". Vitry escreveu que os franciscanos teriam sido mortos se
Deus nã o tivesse intervindo para protegê -los milagrosamente.1
Em 1218, um ano antes de Francisco partir para Damietta, dois dos
irmã os, Egidio e Eletto, foram enviados para pregar Cristo aos
sarracenos na Tunı́sia, no Norte da Africa.2 Eletto estava especialmente
ansioso por esta missã o, pois ouvira dizer que “Os sarracenos tratavam
com grande crueldade os cristã os que falavam mal da lei de
Maomé ”.3Depois de chegar à Tunı́sia, os dois irmã os proclamaram
publicamente a Fé por algum tempo, até que os reacioná rios
muçulmanos começaram a clamar pela morte desses homens que
ousaram falar contra seu profeta. Embora os franciscanos estivessem
preparados para sofrer o martı́rio, a comunidade cristã que os
hospedava temia que eles també m fossem incluı́dos no derramamento
de sangue iminente. Conseqü entemente, eles levaram os frades à força
a bordo de um navio que deveria zarpar para a Itá lia, e nã o os deixaram
partir até que o barco partisse. No entanto, Eletto, escapando do navio
ou retornando à Africa mais tarde, continuou a pregar aos muçulmanos
daquele continente. Depois de alguns anos, ele obteve sua tã o desejada
palma da gló ria, pela espada de um sarraceno. Antes de ser atingido, ele
humildemente se ajoelhou enquanto se apegava à regra franciscana e
confessou sua culpa e tristeza por quaisquer transgressõ es contra ela.4
Acredita-se que o martı́rio de Eletto tenha ocorrido muitos anos
depois que as Regras Franciscanas de 1221 e 1223 foram estabelecidas,
e talvez até depois da morte de Sã o Francisco. Portanto, seu destino nã o
afetou o conteú do de nenhuma das Regras. No entanto, o dramá tico
martı́rio de cinco franciscanos no Marrocos em 1220 deve ter tido um
impacto signi icativo na redaçã o do Capı́tulo XVI da Regula non
Bullata um ano depois. També m pode ter sido responsá vel pela
subseqü ente minimizaçã o da missã o aos muçulmanos na revisã o da
Regra de 1223.
Foi no Capı́tulo Geral dos Frades de 1219 que Francisco atribuiu a si
mesmo a tarefa de pregar aos muçulmanos no Oriente e, pouco depois,
iniciou sua viagem a Damietta. Nesse mesmo Capı́tulo Geral, meia
dú zia de homens da Ordem foram escolhidos para testemunhar aos
sarracenos para o Ocidente, tendo como meta o Marrocos, paı́s do
norte da Africa. Nomeado para che iar este grupo estava um irmã o
piedoso de nome Votalis; seus cinco companheiros foram os santos
Berard, Peter, Accursius, Adjutus e Otho. Diz-se que Berard sabia um
pouco de á rabe, e Pedro e Oto podem ter sido padres.5Antes de sua
partida para esta missã o, Francisco falou com eles longamente. Ele
prefaciou seu discurso com as seguintes palavras: “Meus queridos
ilhos, é Deus quem me ordenou que os enviasse entre os sarracenos,
para tornar conhecida sua fé e refutar a lei de Maomé . Eu irei em uma
direçã o diferente para trabalhar pela conversã o dos mesmos in ié is e,
assim, enviarei pregadores por toda a terra ”.6 Depois de dar muitos
conselhos e exortaçõ es, encerrou suplicando-lhes que tivessem em
mente a Paixã o de Cristo, que os fortaleceria nos sofrimentos que
viriam.7, 8
Os seis frades partiram entã o para a Espanha. No entanto, quando
chegaram ao Reino de Aragã o, na parte centro-norte do paı́s, Votalis
adoeceu gravemente e foi forçado a abandonar a missã o. Os cinco
restantes seguiram em direçã o ao sudoeste, em territó rio ocupado
pelos muçulmanos, ou mouros, como os espanhó is os chamavam. Com
seus há bitos religiosos escondidos sob roupas seculares, os frades
entraram na cidade de Sevilha, onde permaneceram escondidos por
uma semana na casa de um cristã o.9
Finalmente, com a cautela superada pelo zelo, eles irromperam da
casa e tentaram entrar na mesquita principal de Sevilha. Lá , sua
pregaçã o foi recebida com espancamentos e eles foram forçados a
recuar. Implacá veis, eles buscaram uma audiê ncia com o emir
muçulmano, que tolerou suas tentativas de convertê -lo e ser batizado,
até que os cinco frades começaram a zombar de Maomé
abertamente. Eles foram brevemente con inados no topo de uma torre,
mas depois de proclamar Jesus em voz alta para aqueles que entravam
no palá cio abaixo, eles foram transferidos para o andar té rreo e mais
tarde trazidos perante o xeque. Eles receberam perdã o total se
renunciassem ao Cristianismo em favor do Islã , mas responderam que
preferiam a morte. Vendo sua teimosia, o xeque e sua corte decidiram
bani-los para o Marrocos, que ironicamente era seu destino original.
Lá , eles encontraram Dom Pedro, o irmã o autoexilado do Rei de
Portugal. Este prı́ncipe cristã o, que estava a serviço do rei muçulmano
do Marrocos, Miramolino, recebeu-os com respeito - mas tentou, sem
sucesso, dissuadi-los de pregar Cristo ao povo. Berard, em particular,
subiu em uma carroça e começou a protestar contra o Islã , e continuou
fazendo isso mesmo enquanto Miramolino e seu cortejo
passavam. Pensando que o frade devia estar louco, o rei ordenou que
todos os cinco irmã os saı́ssem do paı́s. Mas os franciscanos escaparam
a caminho do porto. Quando retomaram a pregaçã o, foram presos em
Marrakesh pelo governante muçulmano.10
Apó s vinte dias de con inamento, onde foram privados de toda
comida e á gua, eles foram inalmente libertados. Para espanto de seus
captores, eles “... saı́ram com plena saú de e força”.11Depois de uma
longa sé rie de prisõ es, fugas e mais pregaçõ es, acompanhadas de
relatos de milagres, o rei fez com que os cinco frades fossem
amarrados e trazidos à sua presença. Ele ofereceu a eles grandes somas
de dinheiro e belas mulheres se eles apenas adotassem a religiã o
islâ mica. Otho teria respondido: "Maomé o guia por um caminho falso e
mentiroso, para o lugar da morte eterna, onde ele é atormentado junto
com seus seguidores."12Depois de ouvir isso e protestos sobre sua
vontade de morrer pela fé cristã , o rei perdeu a esperança de convertê -
los ao Islã . Com as pró prias mã os, ele agarrou furiosamente sua
cimitarra e cortou as cabeças de todos os cinco franciscanos. Era 16 de
janeiro de 1220, data hoje comemorada na Igreja como a festa dos
Má rtires Marroquinos, dos Santos Berard e seus Companheiros. Eles
foram canonizados em 1481 pelo Papa Sisto IV, sua santidade
con irmada por muitos milagres.13
Os restos mortais dos má rtires foram levados para Portugal, onde
foram depositados em grande cerimó nia no mosteiro agostiniano dos
Có negos Regulares de Santa Cruz (Santa Cruz), em Coimbra. A residir
entã o no mosteiro estava um estudante diligente das Escrituras
chamado Fernando Bouillon de Lisboa. Inspirado pela presença das
relı́quias e pela histó ria da bravura dos franciscanos, ele deixou o
claustro dos Cô negos e ingressou na Ordem dos Frades Menores. Ele
adotou o nome de Antô nio e tentou seguir os passos dos cinco má rtires
pregando no Marrocos. Ele chegou a Marrakech, mas foi forçado a
abandonar seus planos devido a uma doença grave. O navio que o
levaria de volta a Portugal desviou-se do curso por uma tempestade e
ele desembarcou nas costas da Itá lia. A caminho de Assis, o futuro
Santo Antô nio de Pá dua acabou sendo autorizado por Francisco a
ensinar teologia aos irmã os por causa de seu grande conhecimento e
seu brilhantismo como pregador.14, 15
Quando chegou a Francisco a notı́cia da morte dos cinco má rtires
marroquinos, sua reaçã o foi: “Agora posso realmente dizer que tenho
cinco irmã os”.16No entanto, ele nã o queria que seus seguidores se
demorassem nos feitos e no martı́rio de seus confrades como um
substituto para o cumprimento de sua pró pria missã o cristã . Em uma
ocasiã o, quando a histó ria dos cinco má rtires foi apresentada a ele, ele
nã o queria que fosse lido, dizendo: "Cada um deve se gloriar em seu
pró prio sofrimento e nã o no de outra pessoa."17A importâ ncia de
buscar a virtude cristã nã o apenas em palavras, mas també m em açõ es,
foi um tema recorrente para Sã o Francisco. Ele estava realmente
comprometido em viver sua fé e nã o queria que seus irmã os o izessem
indiretamente.
Mesmo assim, ele desejava que eles fossem prudentes na pregaçã o
da Palavra. Um escritor do sé culo XIII especulou que Francisco nã o
queria ouvir a histó ria dos má rtires marroquinos porque icou chocado
com a forma como eles insultaram o Islã . Especi icamente, depois que
Otho acusou Maomé de conduzir seus seguidores ao local de tormento
eterno, o frade cuspiu no chã o enquanto invocava o nome do
Profeta.18Francisco estava ciente de que as condenaçõ es explı́citas da
religiã o muçulmana só poderiam resultar no fechamento da mente e do
coraçã o de seus ouvintes à s boas novas do cristianismo. No entanto,
ica claro pelas declaraçõ es que lhe sã o atribuı́das que o motivo pelo
qual nã o quis insistir no martı́rio dos má rtires marroquinos foi sua
preferê ncia pela açã o em vez das palavras. Na verdade, comentando
sobre os Santos da Igreja em um de seus pró prios escritos,
as Admoestações , ele lamentou que “Nó s, que somos servos de Deus,
procuramos ganhar honra e gló ria contando e revelando o que eles
izeram”.19
Como mencionado anteriormente, Francisco observou certa vez
que "paladinos e cavaleiros valentes que eram poderosos na batalha
perseguiram os in ié is até a morte". Francisco admirava esses homens
corajosos porque “Esses santos má rtires morreram lutando pela Fé de
Cristo”. Ele acrescentou: “Vemos muitos hoje que gostariam de atribuir
honra e gló ria a si pró prios, contentando-se em cantar sobre as
façanhas de outros”.20 Embora o presente livro nã o seja um estudo das
diferentes interpretaçõ es que foram apresentadas ao longo dos
sé culos*sobre a visita de Francisco ao Sultã o, é interessante notar o
que um teó logo contemporâ neo tem a dizer sobre as citaçõ es
anteriores. O erudito franciscano revisionista J. Hoeberichts a irma que
esses comentá rios soam “muito estranhos, se nã o totalmente
impossı́veis, na boca de Francisco”.21O que é realmente “estranho” é
que oitocentos anos depois do fato, algué m contestaria as lembranças
do autor da anedota, o irmã o Leã o, que estava vivo na é poca e era um
dos melhores amigos de Francisco!22 Aparentemente, o “politicamente
correto” Sã o Francisco de hoje nã o poderia ter elogiado os homens que
morreram na batalha em defesa do Cristianismo.
Em contraste com a opiniã o de Hoebericht está o testemunho
ocular de Jacques de Vitry, que estava com os franciscanos durante a
batalha de Damietta. Ele observou: “Eles nã o retê m a espada do
sangue: eles lutam, eles viajam pela cidade em todas as direçõ es”. Ele
també m escreveu: “Estes sã o os homens que, em nossa opiniã o, o
Senhor levantou nestes ú ltimos tempos para lutar contra o Anticristo ...
porque dia e noite, sem interrupçã o, eles se dedicam a louvar a Deus ou
a pregar.” Eles “erguem a voz como uma trombeta”.23 Mas para os
revisionistas, o “verdadeiro” Francisco nã o era um evangelista cristã o
ousado, mas um homem tı́mido, cujo objetivo era fazer com que os
frades vivessem passivamente entre os sarracenos e “sujeitá -los”, em
vez de convertê -los ao verdadeiro Religiã o.24
O pró prio Francisco, nas admoestações citadas acima , elogia os
santos que seguiram a Cristo “nas provaçõ es e perseguiçõ es, na
ignomı́nia, na fome e na sede, nas humilhaçõ es e tentaçõ es, e assim por
diante”.25Estas nã o sã o palavras de quem renuncia à salvaçã o dos
incré dulos em favor do diá logo e da conciliaçã o, como parte de uma
polı́tica de acomodaçã o mú tua. O diá logo de Sã o Francisco com o
Sultã o foi um diá logo de conversã o a Jesus Cristo, nã o um diá logo de
encontrar um terreno comum para que as duas religiõ es coexistissem
paci icamente. Conforme observado anteriormente, o aspecto passivo
do ministé rio aos sarracenos se aplicava apenas aos irmã os que nã o
foram chamados nem estavam prontos para enfrentar um possı́vel
martı́rio por pregar a eles. Mas para o pró prio Francisco, a missã o aos
incré dulos tinha apenas um objetivo - sua conversã o ao
cristianismo. Esse era o fruto desejado. De acordo com uma das
primeiras fontes, Sã o Francisco repetia frequentemente o ditado: “O
conhecimento de um homem é revelado por suas açõ es, e as palavras
de um religioso devem ser sustentadas por seus pró prios atos, pois o
teste da á rvore está em seus frutos. . ”26

PARTE TRÊS

O estigmatista

“Alé m de tudo isso, nã o importava se estava bem ou doente, tratava


seu corpo com a maior severidade; ele costumava chamar seu corpo de
“meu irmã o, o asno”; nem poderia ser induzido a dar a si mesmo
qualquer alı́vio ou descanso, nem mesmo quando, como durante os
ú ltimos anos de sua vida, ele estava sofrendo muito, os sofrimentos de
algué m pregado na cruz, pois ele havia se tornado semelhante a Cristo
por causa do estigmas que ele carregou. ”
- Papa Pio XI, Rite Expiatis , n ° 27.*

Capítulo 15

A Creche de Greccio

B NTES descrevendo os ú ltimos anos da vida de Francisco, que foram


coroados com o dom dos estigmas, vamos observar alguns incidentes
merecedor de mençã o que ocorreram depois que ele voltou de sua
ú ltima viagem ao Oriente Mé dio.
Ao retornar à Itá lia em 1220, um dos primeiros lugares que
Francisco visitou foi a cidade de Bolonha. Na é poca, a Universidade de
Bolonha era o centro de aprendizagem de toda a Europa, com uma
matrı́cula de 10.000 alunos.1Francisco desejava visitar a casa de seus
frades, localizada perto dos portõ es da cidade, mas icou
extremamente perturbado ao saber que se chamava “A Casa dos
Frades”, como se fosse um edifı́cio majestoso de sua propriedade. Ao
vê -lo, ele se recusou até mesmo a icar na cidade e passou a noite com
os dominicanos.2Ele estava descontente porque a casa era um lugar
muito imponente para aqueles que eram esposados pela Pobreza
Sagrada. Para piorar a situaçã o, um dos frades, Giovanni da Sciacca, que
no mundo fora doutor em direito, estava tentando estabelecer a
residê ncia dos franciscanos como casa de estudos. Isso era um
aná tema para Francisco, que nã o queria que sua Ordem se
concentrasse na leitura de livros e pesquisas acadê micas, mas sim na
oraçã o e na vida simples. Repreendeu com irmeza frei Giovanni com
estas palavras: “Você quer destruir a minha Ordem! Sempre desejei e
desejei, segundo o exemplo de meu Senhor Jesus Cristo, que meus
irmã os preferissem orar em vez de ler. ”3
Ele ordenou que todos os irmã os desocupassem aquele pré dio
imediatamente, incluindo muitos frades doentes que estavam sendo
atendidos lá . Entre os enfermos estava um dos primeiros seguidores
do Poverello, o irmã o Leo, que escreveu um relato do incidente. Eles se
apressaram em obedecer, e só quando o Legado Papal, o Cardeal
Ugolino, interveio e aplacou Francisco, os frades puderam retornar. O
Cardeal explicou que os amplos quartos arejados ajudavam a restaurar
a saú de dos enfermos e garantiu ao Santo que a propriedade nã o
pertencia aos frades. Na verdade, ele declarou que garantiria a
propriedade do lugar em nome da Igreja. Isso apaziguou o Santo, e ele
permitiu que os irmã os voltassem para a casa, mas ele se recusou a
entrar.4, 5
Certa vez, ao ser questionado se alguns dos irmã os mais instruı́dos
que ingressaram na Ordem deveriam continuar seus estudos da
Sagrada Escritura, a resposta de Sã o Francisco foi: “Nã o me importo,
desde que nã o negligenciem a oraçã o, a exemplo de Cristo, de quem
somos informados de que Ele orou mais do que estudou. ”6O pró prio
Francisco nunca teve instruçã o formal em teologia ou estudos bı́blicos,
mas costumava ler as Escrituras e meditar sobre seu signi icado. Sua
memó ria excepcional e intelecto aguçado, combinados com a
iluminaçã o e graça concedida do alto, deram-lhe uma compreensã o
profunda dos misté rios sagrados. Um doutor em teologia o consultou
certa vez em Siena sobre algumas questõ es difı́ceis, e as respostas que
Francisco expô s foram tã o surpreendentes que este erudito erudito
exclamou: “Sua teologia voa alto nas asas da pureza e da contemplaçã o,
como uma á guia em pleno voo . ”7
O Poverello renunciou ao cargo de Superior dos Frades Menores em
1220, possivelmente na é poca do Capı́tulo Geral celebrado em
setembro daquele ano. Isso o liberou de responsabilidades
administrativas, embora ele ainda permanecesse o chefe espiritual da
Ordem. Ele nomeou o Irmã o Pedro de Catâ nia como Ministro
geral. Francisco demonstrou sua grande humildade curvando-se
reverentemente perante o novo superior, jurando obediê ncia. Muitos
dos frades presentes choraram de consternaçã o com esta inesperada
reviravolta, mas o Santo tranquilizou-os, recomendando a Ordem aos
cuidados de Deus e dos ministros. De acordo com as fontes primá rias,
as razõ es de sua renú ncia foram suas enfermidades fı́sicas e seu desejo
de permanecer o mais humilde e o menor dos irmã os. Outro fator
prová vel, entretanto, foi o aumento do tempo e atençã o necessá rios
para supervisionar a sempre crescente Ordem, o que prejudicou seus
esforços de pregaçã o e oraçã o.8
A Ordem havia experimentado um crescimento fenomenal desde
que a primeira dú zia ou mais de frades izeram a viagem a Roma em
1209, para buscar a aprovaçã o da Regra original da comunidade
nascente. De fato, no Capı́tulo Geral de 1221, conhecido como Capı́tulo
das Esteiras, estiveram presentes mais de cinco mil
frades.9Infelizmente, esse rá pido crescimento foi acompanhado por um
relaxamento na disciplina. Muitos irmã os começaram a se mover
espiritualmente em diversas direçõ es, nem sempre seguindo o
compromisso evangé lico com a pobreza e a simplicidade. Por exemplo,
alguns deles procuraram viver de acordo com um modelo moná stico
regulamentado, enquanto outros queriam que os estudos teoló gicos
fossem enfatizados. Francisco viu a necessidade de uma Regra nova e
ampliada, que proporcionasse uma orientaçã o mais clara para os
frades e re letisse seus desejos sobre o modo como a Ordem deve ser
guiada e desenvolvida. Foi nessas circunstâ ncias que surgiu a Regula
non Bullata , a Regra de 1221. Isso foi posteriormente revisado em
1223 e foi con irmado por Honó rio III na Bula papal “Solet Annuere”, em
29 de novembro daquele ano.
A regra de 1223 - a Regula Bullata - ainda permanece tecnicamente
em vigor quase oito sé culos depois! Embora as comunidades
franciscanas de hoje observem versõ es atenuadas dela, esta antiga
Regra dos Frades Menores permanece como um testemunho vivo do
gê nio de seu fundador. O pró prio Francisco recebeu um chamado
especial para dar prioridade à vida ativa; no entanto, para um irmã o
que segue a Regra, a “forma de vida é primá ria e essencialmente
contemplativa e inclui a obrigaçã o de uma vida de oraçã o e
jejum”. Alé m disso, “a vida é constituı́da pela pobreza pessoal e
comunitá ria e pela observâ ncia daquilo que o Papa Santo Inocê ncio XI
chamou de 'o preceito principal' da Regra de Sã o Francisco: o nã o uso
do dinheiro”.10
Menos de um mê s apó s a aprovaçã o papal da Regula Bullata ,
Francisco chegou ao eremité rio dos irmã os na pequena cidade de
Greccio - uma comunidade nos arredores de Rieti, localizada a meio
caminho entre Assis e Roma. Já era dezembro, e há muito tempo
Francisco nutria o desejo sincero de celebrar o Natal de uma maneira
nova e maravilhosa. Ele queria que outros compartilhassem de sua
alegria interior e exaltaçã o naquela que para ele era a festa mais
importante do ano, já que nossa salvaçã o foi anunciada pelo
nascimento de Cristo. Ele concebeu uma forma simples de despertar o
amor e a admiraçã o de todos pelo Menino Jesus, especialmente aqueles
que eram fracos na fé .11
Seu plano era que a Missa da Meia-Noite de Natal fosse celebrada
na presença de uma representaçã o realista da humilde gruta de Belé m,
completa com animais vivos. “Pois eu desejo fazer algo que irá trazer à
memó ria o pequeno Menino que nasceu em Belé m e colocou diante de
nossos olhos corporais de alguma forma os inconvenientes de suas
necessidades infantis.”12 Segundo Sã o Boaventura, ele até obteve a
aprovaçã o do Papa Honó rio, para que nã o fosse acusado de
intencionalmente introduzir novidades nas sagradas cerimô nias.13
Francisco havia combinado de antemã o que seu amigo, o nobre
Giovanni Velita, izesse os preparativos necessá rios e ajudasse a
divulgar o evento.14Uma pequena manjedoura ou presé pio foi montado
na loresta perto do eremité rio, cheio do feno comum e grosso de que
os animais de carga se alimentam. Um boi e um asno foram entã o
conduzidos ao local. Alguns enfeites posteriores da histó ria a irmam
que as iguras de Maria e José també m foram posicionadas ao redor da
manjedoura.15Francis icou encantado ao ver tudo ordenado como ele
desejava. Para o Poverello, “a visã o da creche [cena da manjedoura] em
sua gloriosa simplicidade era um sı́mbolo do advento da humildade, a
exaltaçã o da pobreza, o louvor da humildade”.16
Uma multidã o de irmã os de perto e de longe desceu sobre Greccio,
vindos de vá rios conventos e aldeias. Eles se juntaram à multidã o de
residentes locais, trabalhadores de campo e pastores; todos foram
atraı́dos para a manjedoura onde Francisco estava ajoelhado. As velas e
tochas dos espectadores iluminavam a noite fria, re letindo seu brilho
sobre uma neve leve que começava a cair. O som de hinos ecoou em
vales e bosques. Homens e animais e até a pró pria natureza irradiavam
grande alegria naquela vé spera de Natal especial - era realmente a festa
dos coraçõ es. “A loresta vibrou com as vozes da multidã o e as pedras
responderam ao seu jú bilo.”17
O Santo Sacrifı́cio da Missa foi celebrado à meia-noite com grande
solenidade, usando um altar que havia sido erguido sobre a
manjedoura. Francisco, vestido com suas vestes de diá cono, cantou o
Evangelho com uma voz caracterizada por Celano como doce, clara,
forte e sonora.18
Ele pregou um sermã o comovente, descrevendo o primeiro Natal e
o ambiente humilde de Maria e José no nascimento do Filho de Deus, a
quem carinhosamente se referia como o Menino de Belé m. Durante a
cerimô nia, Giovanni Vileta teve uma visã o em que viu um bebê deitado
no berço, em um sono tã o profundo que parecia sem vida. Entã o ele viu
Sã o Francisco se aproximar e pegar a criança nos braços, despertando-
a de seu sono.19Para o seu bió grafo Celano, esta visã o simbolizava com
propriedade a missã o do Santo: “pois o Menino Jesus estava esquecido
no coraçã o de muitos; mas, pela operaçã o de Sua graça, Ele foi trazido à
vida novamente por meio de Seu servo Sã o Francisco e gravado em sua
memó ria fervorosa. ”20
O brilho posterior daquela noite de devoçã o se manifestou por toda
a á rea nos dias que se seguiram. Muitas curas milagrosas ocorreram
entre os enfermos, que receberam oraçã o e foram tocados com um
pouco do feno que havia descansado na manjedoura sagrada. Até
mesmo animais enfermos que receberam os caules daquela grama
sagrada como alimento foram restaurados à saú de. A in luê ncia e o
“resplendor” daquela noite de 1223 persistem até hoje, já que é
geralmente aceito que o costume popular das creches de vé spera de
Natal - manjedouras, presé pios - foi inaugurado por Sã o Francisco em
Greccio.

Capítulo 16

Selo do Deus Vivo

"UMA
ND Eu vi outro anjo, subindo do nascer do sol, tendo o sinal do Deus
vivo; e clamou em alta voz aos quatro anjos, aos quais foi dado ferir a
terra e o mar, dizendo: Nã o façais mal a terra, nem o mar, nem as
á rvores, até que assinemos os servos de nosso Deus em seu testas.
” ( Apocalipse 7: 2-3.)
O grande Doutor da Igreja, Sã o Boaventura, aplicou esta profecia
das Escrituras a Sã o Francisco, que levaria em seu corpo o sinal e o selo
do Deus Cruci icado. “Portanto, há todos os motivos para crer que é
aquele a quem se refere a imagem de um anjo que vem do oriente, com
o selo do Deus vivo, na profecia feita por outro amigo de Cristo, o
Esposo, St Joã o, o Apó stolo e Evangelista. ”1Em seu Paradiso , Dante fala
de Assis como o Oriente, um jogo de palavras com Ascesi, um antigo
nome de Assis, que signi ica "Eu ressuscitei".2

... portanto, que ningué m, que fala


Desse lugar, diga Ascesi; pelo seu nome
Foram tã o desajeitadamente entregues; mas o Oriente,
Para chamar as coisas corretamente, seja de agora em diante
estilizado.
Por im, a Igreja rotula o Poverello de Padroeiro da Ecologia e dos
Animais. Assim, Sã o Francisco cumpre virtualmente ao pé da letra a
profecia deste Anjo do Apocalipse, surgindo do Oriente, trazendo o selo
do Deus Vivo e protegendo a criaçã o do mal.
Dois anos antes de sua morte, Francisco, com um pequeno grupo de
seus companheiros mais pró ximos, ascendeu a um pico remoto no alto
dos Apeninos da Toscana, a cerca de 55 milhas de Assis. O rico conde
Orlando de Chiusi, em agradecimento e agradecimento pela orientaçã o
que recebera do santo, havia doado o penhasco montanhoso a
Francisco para uso como retiro espiritual. Foi em meados do verã o de
1224 quando Francisco escolheu escalar este precipı́cio solitá rio
chamado La Verna (em latim, Alverna ), a im de fazer um jejum de
quarenta dias em preparaçã o para Michaelmas, a festa de 29 de
setembro de Sã o Miguel. Naquela é poca, esse jejum era conhecido
como Quaresma de Sã o Miguel, e começava no dia 15 de agosto, festa
da Assunçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria. Entre os companheiros
de con iança que Francisco levou consigo nesta peregrinaçã o espiritual
estavam os irmã os Masseo, Angelo e Leo, e provavelmente alguns
outros, incluindo o irmã o Illuminato.3
Sã o Francisco quis usar esse tempo precioso no monte isolado para
se aproximar cada vez mais do Senhor Jesus na oraçã o e na
meditaçã o. Para melhor “rezar sem cessar” e evitar interrupçõ es
desnecessá rias, mandou construir para si uma casinha solitá ria, situada
a alguma distâ ncia de onde estariam seus companheiros. O irmã o Leo
era o ú nico autorizado a visitar a cela de Francis, deixando um pouco de
pã o e á gua uma vez por dia. Ele també m deveria vir e se juntar a ele na
hora das oraçõ es noturnas (Matinas). Mas sempre que se aproximava
do alojamento do Santo, Leã o era o primeiro a chamá -lo e só podia
aproximar-se quando o Santo dava o seu consentimento. Francisco
estabeleceu este arranjo porque muitas vezes ele estava extasiado e na
contemplaçã o celestial e, portanto, nã o ciente das coisas desta terra,
sendo incapaz de falar ou ouvir. Nesse estado, ele nã o queria que
nenhum dos irmã os o perturbasse ou testemunhasse seus coló quios
secretos com o Senhor. “Ele habitará nas alturas; as forti icaçõ es de
rochas serã o sua alteza: pã o é dado a ele, suas á guas sã o seguras.
” ( Isaias 33:16).
Alé m das comunicaçõ es angelicais e divinas com as quais o Senhor
o presenteou neste santı́ssimo retiro, os demô nios també m tiveram
permissã o para atormentá -lo. Um dia, enquanto ele estava orando em
um pequeno nicho rochoso que dava para uma queda ı́ngreme, um
demô nio horrı́vel apareceu diante dele. Esta criatura feroz do
submundo começou a espancar Francis, na tentativa de lançar o corpo
do Santo nas pedras abaixo. Francis estava em grave perigo de cair da
beira do penhasco. Virando o rosto para evitar ter que olhar para o
espectro assustador, ele agarrou a lateral da rocha, em um esforço vã o
para se agarrar a um a loramento para se apoiar. No entanto, nã o havia
protuberâ ncias nas quais ele pudesse se agarrar e ele começou a
escorregar em direçã o à borda. Mas, de repente, a rocha pareceu
amolecer e se abrir como se fosse recebê -lo. Suas mã os, rosto e corpo
começam a afundar na pedra como objetos pressionados em cera
derretida. Esta transformaçã o milagrosa da rocha permitiu-lhe agarrar
a lateral do penhasco e, desta forma, ele foi salvo do ataque do
demô nio. Dizia-se que as marcas de suas mã os ainda eram visı́veis na
pedra quase duzentos anos depois.4“As montanhas se moverã o desde
os alicerces com as á guas: as rochas se derreterã o como cera diante do
teu rosto.” ( Judith 16:18).
Durante sua estada em La Verna, també m houve muitos encontros
agradá veis - já que as famosas conversas de Francisco com as criaturas
de Deus nã o faltaram. Quando ele chegou lá , um bando de vá rios tipos
de pá ssaros circulou alegremente em sua cela, saudando-o com uma
cançã o. Essa recepçã o calorosa fez com que Francisco comentasse:
“Vejo que é da vontade de Deus que iquemos aqui, nossas irmã s, os
pá ssaros, estã o tã o felizes em nos ver”.5Os penhascos rochosos eram o
habitat favorito dos falcõ es, conhecidos por atacar suas presas. Um em
particular aninhado perto da cela isolada onde Francisco havia
escolhido passar sua solidã o orante. O pá ssaro começou a fazer
companhia a Francisco “de maneira mansa” durante o dia, e
rapidamente aprendeu a rotina de Francisco de se levantar durante a
noite antes do amanhecer para as matinas.6Logo, o Irmã o Despertador
começou a cantar e bater ruidosamente suas asas à quela hora,
continuando a algazarra até o Santo acordar. Francis icou encantado
com esse desempenho, pois afastou qualquer preguiça ou relutâ ncia de
sua parte em se levantar tã o cedo. No entanto, se o frade estivesse
doente ou mais fraco do que de costume, o falcã o, como se instruı́do
por um anjo de Deus, só começaria a cantar depois do nascer do
sol. Celano, observando este maravilhoso arranjo, faz esta esplê ndida
observaçã o: “Nã o é de admirar se todas as outras criaturas també m
venerassem este eminente amante do Criador.”7
Seus primeiros bió grafos relatam um incidente profé tico
envolvendo Francisco que ocorreu no Monte La Verna ou pouco antes
de sua estada ali. Como sempre izera no passado, Francisco desejava
determinar a vontade de Deus para ele abrindo as Escrituras ao acaso e
lendo os versı́culos que apareciam diante de seus olhos. “Para provar
que nem ele nem seus discı́pulos jamais se separariam de Nosso
Senhor, ele sempre recorreu aos Evangelhos como a um orá culo sempre
que precisava tomar uma decisã o sobre qualquer assunto.” (Papa Pio
XI).8
Nessa ocasiã o, depois de elevar seu coraçã o a Deus em oraçã o, ele
fez com que os Evangelhos fossem trazidos a ele por um frade. Ele (ou
possivelmente seu companheiro) entã o abriu o livro "com reverê ncia e
temor".9A pá gina que seus olhos viram nesta primeira abertura falava
do sofrimento e da morte de Cristo. Mas Francisco queria a
con irmaçã o desse resultado desconcertante, entã o o livro foi fechado
e o processo se repetiu uma segunda e uma terceira vez. Cada vez que a
pá gina se abria com a histó ria da Paixã o. Francisco, que seguiu
ielmente os passos da vida pú blica e da pregaçã o de Jesus, entendeu
que isso signi icava que agora ele deveria seguir o Senhor na subida do
Monte Calvá rio.10Embora ele mal tivesse quarenta anos, ele previu que
o tempo de seu pró prio sofrimento e morte se aproximava. Mas ainda
nã o foi revelado a ele de que maneira ele seria cruci icado com Cristo.
O dia 14 de setembro, festa da Exaltaçã o da Cruz, estava se
aproximando. No dia anterior, Francisco teve a visã o de um anjo que
lhe dirigiu algumas palavras inquietantes: “Encorajo-o e exorto-o a se
preparar e a se dispor com humildade para receber com toda a
paciê ncia o que Deus quer fazer em você ”.11O Santo respondeu que
estava preparado para tudo o que o Senhor desejasse
dele. Aparentemente satisfeito com a resposta, o anjo partiu. Na
madrugada do dia da festa, Francisco saiu de sua cela na montanha e
permaneceu por muito tempo mergulhado na oraçã o. A natureza e a
intençã o de sua meditaçã o naquela manhã foram divulgadas muitos
anos depois a um franciscano de “grande santidade”. Este frade era o
Irmã o Joã o de Alverna que, apó s a morte de Francisco, foi agraciado
com uma apariçã o do Santo.12Nessa visã o, Francisco revelou ao irmã o
John que havia pedido ao Senhor duas grandes graças enquanto estava
no monte La Verna - favores que só quem possuı́a um amor
verdadeiramente será ico de Deus ousaria pedir, ou mesmo conceberia
pedir. A primeira era que ele sentiria na pró pria alma e no corpo , tanto
quanto possı́vel, toda a dor e o sofrimento que Jesus experimentou
durante a Sua Paixã o na Cruz. A segunda graça pedida por Francisco foi
que ele pudesse experimentar em seu coraçã o o grande amor que Jesus
tinha pela humanidade pecadora, um amor tã o excessivo que o levaria
a suportar de bom grado um sofrimento tã o intenso pela nossa
Redençã o. Enquanto orava, ele compreendeu que Deus havia atendido
ao seu pedido e permitiria que ele experimentasse esses dois favores
tanto quanto possı́vel para "uma mera criatura".13
Francisco continuou com sua oraçã o solitá ria e meditaçã o ao longo
da manhã , contemplando o misté rio do amor e sofrimento irresistı́veis
de Cristo. Entã o, enquanto olhava para o cé u, ele viu descendo
rapidamente do alto o que parecia ser um ser angelical em chamas. A
medida que se aproximava de cima, ele podia ver que carregava as seis
asas de fogo do Sera im, o mais alto dos nove coros de anjos. Este
personagem misterioso se aproximou, até pairar bem diante de seus
olhos. Francisco pô de discernir claramente que o Sera im estava na
forma de um Homem, com mã os e pé s presos a uma cruz. Duas das
asas foram levantadas sobre sua cabeça, as duas ao seu lado foram
estendidas para o vô o, e o terceiro par de asas estendeu-se por grande
parte de seu corpo até os pé s.14
Os Sera ins sã o descritos nas Escrituras como “criaturas vivas” que
ministram no pró prio trono do Altı́ssimo, louvando a Deus como trê s
vezes santo. Em Isaias está escrito sobre os Sera ins: “E clamaram uns
aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus dos Exé rcitos,
toda a terra está cheia da Sua gló ria.” ( Isaias 6: 3). O Apocalipse revela
que Deus é louvado para sempre por quatro criaturas vivas, cada uma
com seis asas. “E eles nã o descansavam dia e noite, dizendo: Santo,
Santo, Santo, Senhor Deus Todo-Poderoso, quem era, quem é e quem há
de vir.” ( Apocalipse 4: 8). Em resposta à pergunta sobre por que um
Sera im foi enviado a Francisco, uma vez que um Sera im nã o foi
cruci icado por nó s, Sã o Boaventura responde: “Um Sera im é um
espı́rito que é assim chamado por causa de seu amor fervoroso, e o fato
de que um Sera im foi enviado a Sã o Francisco signi ica que ele estava
em chamas com o ardor do amor. ”15
O Sera im olhou para ele com benevolê ncia e compaixã o, o que
encheu o coraçã o do Santo de profunda alegria. Mas, ao mesmo tempo,
vendo que a criatura estava cruelmente presa a uma cruz, sua alegria se
mesclou com uma certa tristeza e angú stia. Ele icou maravilhado e
surpreso com a visã o, e nã o conseguia compreender o que signi icava,
ou como uma entidade será ica do Cé u poderia ser a ligida de tal
maneira. Sã o Boaventura declarou que a apariçã o era do pró prio Jesus:
“Ele icou muito feliz com a maneira como Cristo o considerou tã o
graciosamente sob a aparê ncia de um Sera im”.16 Finalmente, por
inspiraçã o divina, Francisco compreendeu o signi icado da visã o:
signi icava que ele pró prio seria transformado, pelo seu amor será ico
a Deus, na imagem perfeita de Cristo Cruci icado.17
Em Sua sabedoria insondá vel, o Pai Celestial operou em Francisco
um novo milagre e prodı́gio até entã o iné dito. Ele enviou um sinal e
uma con irmaçã o à Igreja e ao mundo inteiro, para demonstrar o
quanto estava contente com o amor de Francisco por seu Filho
cruci icado. Deus, em sua grande misericó rdia, quis mostrar que
Francisco havia cumprido perfeitamente o preceito do Evangelho
ensinado por Jesus Cristo: “E convocando a multidã o com seus
discı́pulos, disse-lhes: Se algué m quer me seguir, negue-se a si mesmo
e receba suba em sua cruz e siga-me ”. ( Marcos 8:34). Portanto, nas
mã os, pé s e lado de Sã o Francisco, o Altı́ssimo imprimiu as marcas
sagradas da cruci icaçã o de Jesus - os estigmas. As mã os e os pé s do
Santo foram perfurados no meio, e em seu lado direito apareceu uma
ferida aberta e sangrenta. Francisco mais tarde revelou que o Senhor
havia dito: “Eu dei a você s os emblemas da Minha Paixã o para que
você s sejam Meu porta-estandarte”.18
Nã o só Francisco foi a primeira pessoa na histó ria da Igreja a ser
agraciada com as cinco feridas de Cristo, mas havia uma singularidade
em suas feridas que nunca foi duplicada nos muitos estigmatistas que
o seguiram.19* A carne na parte interna da palma de cada mã o e no
peito do pé de cada pé tinha a forma de uma cabeça de prego, enquanto
no lado oposto de suas mã os e pé s, as pontas dessas unhas misteriosas
se erguiam acima de sua carne a uma curta distâ ncia e entã o foram
dobrados para trá s. “As cabeças eram pretas e redondas, mas as pontas
eram compridas e dobradas para trá s, como se tivessem sido
golpeadas com um martelo.”20
A visã o será ica també m comunicava ao Santo alguns segredos
maravilhosos, que Francisco se recusava a revelar a quem quer que
fosse em vida. No entanto, apó s sua morte, Francisco apareceu a um
frade devoto (nã o o citado Irmã o Joã o de Alverna), que orou durante
oito anos para aprender um pouco dos segredos. Francisco revelou a
este frade que, assim como Cristo desceu ao mundo dos mortos apó s a
cruci icaçã o para libertar as almas dos justos e os conduziu ao cé u, o
Senhor havia prometido a Francisco uma generosidade
semelhante. Jesus assegurou-lhe que pelos mé ritos e virtude dos
santos estigmas: “Todos os anos, no dia da tua morte, podes ir ao
Purgató rio e… tirar de lá todas as almas das tuas trê s Ordens” e
conduzi-las à recompensa celestial.21Assim, o Santo seria conformado
tanto na morte como na vida ao Salvador. Francisco disse ao frade que
manteve isso em segredo enquanto ainda estava vivo, para nã o ser
acusado de vangló ria e vangló ria.22
O Poverello sabia que seria virtualmente impossı́vel manter a
existê ncia de suas sagradas feridas escondidas de seus
companheiros. O im do jejum de quarenta dias se aproximava e
Francisco teria que sair de sua solidã o e descer a montanha com seus
irmã os. No entanto, ele temia que qualquer atençã o especial ou afeiçã o
mostrada a ele o levasse a perder o favor de Deus, a quem toda a gló ria
e honra sã o devidas: “Mas, para que o favor humano nã o roubasse
qualquer graça que lhe foi dada, ele se esforçou em todos os sentidos
ele poderia esconder isso. "23Conseqü entemente, a princı́pio ele tentou
esconder os estigmas mantendo as mã os e os pé s cobertos, mas os
frades logo perceberam sua incomum di iculdade para andar. Alé m
disso, era costume os irmã os lavarem o há bito e as calças de Francisco,
sobre as quais agora eram visı́veis as manchas de sangue de suas
feridas.
Incerto quanto ao seu curso de açã o, ele consultou seus
companheiros. Falando apenas em termos gerais, ele perguntou-lhes se
era sensato revelar algo espiritual que havia acontecido com ele
recentemente. Entã o, o mesmo irmã o Illuminato - que anos antes havia
aconselhado Francisco a revelar aos Cruzados sua profecia sobre o
resultado desastroso de uma batalha iminente (capı́tulo 9) -
falou. Iluminado por Deus, o Illuminato percebeu que algo maravilhoso
havia acontecido com Francisco, algo que o mundo inteiro deveria
saber. Explicou-lhe que as revelaçõ es dadas por Deus muitas vezes
eram dirigidas aos outros també m, e lembrava o Santo da pará bola dos
talentos e do triste destino do homem que o sepultou.24, 25
Francisco aceitou humildemente esse conselho do Illuminato. Ele
interpretou como um sinal de Deus revelar a este grupo de seus frades
mais pró ximos a notı́cia do grande e iné dito dom dos estigmas que lhe
foram conferidos. Isso ele fez em conformidade com as Escrituras que
aconselham: “Porque é bom esconder o segredo de um rei, mas
honroso é revelar e confessar as obras de Deus”. ( Tobias 12: 7). Por
outro lado, embora tenha contado aos poucos que estavam com ele em
La Verna o que havia acontecido, ele só permitiu que um deles visse as
feridas. Este afortunado era o Irmã o Leã o, escolhido pelo Santo para
envolver as lesõ es com ligaduras, muitas vezes trocadas por causa do
sangue que continuamente absorviam. Visto que os envoltó rios
proporcionavam a Francisco algum conforto e alı́vio da dor das feridas,
ele nã o deixava o irmã o Leo trocá -los de quinta-feira à noite até sá bado
de manhã . Ele desejou abraçar plenamente as dores da Paixã o de Cristo
em seu pró prio corpo durante aquele tempo em que nosso Salvador foi
preso, sofreu, morreu e foi sepultado.26“Com Cristo estou pregado na
cruz. E eu vivo, agora nã o eu; mas Cristo vive em mim. ” ( Gálatas 2: 19-
20).
O dom das feridas sagradas foi concedido a Francisco em ou por
volta de 14 de setembro, festa da Exaltaçã o da Cruz, també m conhecida
como o Triunfo da Cruz. Para comemorar aquele grande acontecimento
do outono de 1224, a Igreja homenageia os Estigmas de Sã o Francisco
no dia 17 de setembro.

Capítulo 17
Glorious Transitus

A notá vel apariçã o de Cristo na forma de um Sera im ocorreu antes do


nascer do sol, fazendo com que o Monte La Verna icasse totalmente
incandescente, pois brilhava com a gló ria da visitaçã o de
Deus. Pastores cuidando de seus rebanhos durante a noite relataram
que a montanha parecia estar envolta em chamas por mais de uma
hora. Alguns muleteiros hospedados em um albergue na á rea
realmente se levantaram de suas camas pensando que já era
madrugada. A notı́cia do maravilhoso fenô meno se espalhou
rapidamente e serviu para aumentar a expectativa e alegria sentida em
todo o campo quando, duas semanas depois, se espalhou a notı́cia de
que “o Santo” estava descendo a montanha!1
Aqui Francisco inicia a sua passagem para a gló ria, montado num
burro que um camponê s lhe emprestou, porque os pé s feridos nã o o
suportaram. A populaçã o alinhou os caminhos e atalhos para ter um
vislumbre do agora famoso homem de Deus enquanto ele passava. Eles
vieram de todos os distritos vizinhos, na esperança de experimentar a
sensaçã o de admiraçã o, alegria e admiraçã o que vinha de simplesmente
estar na presença do Santo Homem de Assis.
Eles ainda nã o sabiam nada sobre os estigmas - ele agora usava
meias com as sandá lias e as mã os perfuradas estavam enfaixadas e
parcialmente escondidas pelas mangas. Mas o poder de cura
meramente das pontas de seus dedos operou milagres ao longo do
caminho, enquanto ele viajava de La Verna para Santa Maria dos
Anjos. Um dos muitos encontros maravilhosos que aconteceram nesta
é poca foi a respeito de uma mulher que se aproximou do Santo com
seu ilho pequeno. O menino estava gravemente doente com hidropisia
há anos e seu estô mago estava tã o inchado que ele nem conseguia ver
as pró prias pernas ou pé s. A mã e da criança implorou ao Santo que
orasse por ele, e ele o fez enquanto acariciava suavemente a barriga do
menino. Ao toque de suas mã os estigmatizadas, o inchaço começou a
diminuir imediatamente e o menino foi instantaneamente curado.2
O santo continuou seu caminho, rodeado por um pequeno grupo de
seus frades. Eles entraram em uma cidade chamada Borgo de Sepolcro,
pois Francisco queria visitar um leprosá rio que icava do outro lado da
aldeia. O pequeno grupo percorreu lentamente as ruas da cidade,
lotado de moradores que gritavam de alegria, agitando ramos de
oliveira e proclamando em voz alta: "Lá vem o Santo!" Eles
expressaram suas hosanas a esse homem santo montado em um
jumento de uma forma que lembrava a entrada do Salvador em
Jerusalé m doze sé culos antes. A multidã o em Borgo esbarrou
repetidamente em Francis na tentativa de tocá -lo e até mesmo
arrancou pedaços de seu há bito. No entanto, ele estava completamente
insensı́vel à comoçã o, porque o Senhor havia elevado seu espı́rito ao
ê xtase e ele estava absorto em contemplar as coisas do cé u, nã o da
terra. Depois de terem atravessado a cidade e se aproximado da
colô nia de leprosos, Francisco voltou a si. Para espanto de seus irmã os,
ele perguntou: “Quando estaremos perto de Borgo?”3, 4
Francisco e seus irmã os chegaram naquela noite a um convento em
Monte Casale e na manhã seguinte ele mandou dois dos frades de volta
a La Verna para devolver o burro que havia emprestado. No caminho,
esses irmã os passaram por uma cidade no distrito de Arezzo, onde
viram um grupo de aldeõ es correndo em direçã o a eles, pensando que
Francisco estava chegando com seus frades. Eles esperavam pedir-lhe
que orasse por uma mulher em trabalho de parto que estava em
trabalho de parto há muitos dias e corria o risco de morrer porque nã o
poderia dar à luz seu bebê . Quando viram que o Santo nã o estava com o
grupo, suas esperanças começaram a esmaecer. Mas, estimulados por
sua fé no Pobre Homem de Deus, eles perguntaram aos irmã os se eles
tinham alguma coisa que suas mã os sagradas tivessem tocado. Como o
burro que Francisco havia montado ainda carregava as mesmas ré deas
que ele tinha manuseado, os irmã os removeram cuidadosamente o
cabresto e o carregaram até a cabeceira da mulher grá vida. Ali tocaram
suavemente no corpo daquela mulher as ré deas que haviam estado em
contato com as mã os feridas da Santa, recomendando-a a Sã o
Francisco. Embora já tivesse mostrado sinais de morte, a mulher
imediatamente começou a se sentir melhor. Em pouco tempo ela se
recuperou completamente e deu à luz uma criança saudá vel sem
di iculdade, para alegria e gratidã o de todos.5
Os ú ltimos dois anos da vida de Francisco foram marcados por
muitos sinais do favor e da predileçã o de Deus. Nã o se limitando aos
milagres realizados por meio de sua intercessã o, a graça de Deus
també m se estendeu para permitir que ele participasse ainda mais dos
sofrimentos de Cristo. O corpo do Poverello estava agora desgastado
por seus contı́nuos jejuns, vigı́lias, austeridades e atividades
constantes e oraçõ es. Seus tormentos eram aumentados pela
enfermidade de seus olhos, que o deixava quase cego e lhe causava
tanta dor que ele mal conseguia dormir. Ele estava verdadeiramente
reduzido a um estado de pele e ossos. A certa altura, um frade muito
inocente e simplista sugeriu-lhe que implorasse a Deus que fosse mais
fá cil com ele e nã o o tratasse com tanta grosseria. Francis soltou um
gemido. Ele respondeu à quele frade que, se nã o fosse por sua total
simplicidade, nunca mais se aproximaria dele, porque ousara criticar a
maneira como Deus o tratava. Entã o Francisco se jogou no chã o e,
beijando a terra, agradeceu a Deus por todos os seus
sofrimentos. “Nada me faria mais feliz do que você me a ligir com dor e
nã o me poupar. Fazer sua vontade é consolo su iciente, e mais do que
su iciente, para mim. ”6 Francisco conhecia bem o segredo dos santos.
Durante este perı́odo de intensa agonia que acompanhou seus
ú ltimos anos, Francisco nã o conseguia mais andar por causa das
dolorosas feridas de unha em seus pé s. Destemido, ele fez com que os
frades o carregassem para vá rias cidades e vilas pró ximas, onde ele
procurou encorajar outros a suportar suas pró prias cruzes e
provaçõ es.7Embora mal conseguisse se mover, repetia com frequê ncia:
“Meus irmã os, devemos começar a servir a Nosso Senhor e a nosso
Deus. Até agora, izemos muito pouco. ”8
Por dois meses ele residiu perto de seu amado Sã o Damiã o, onde
Clara e suas virgens viviam em contı́nuo louvor ao Senhor. Um
sacerdote e alguns frades foram designados para alojamentos
adjacentes ao convento, a im de prover as necessidades espirituais das
irmã s de clausura e buscar esmolas para seu sustento. Esses homens
construı́ram uma pequena cabana para Francisco ao lado de sua
residê ncia, que já foi a casa do velho padre que havia ajudado na
reparaçã o de Sã o Damiã o anos atrá s. Francisco passava quase todo o
tempo nesta pequena cela, atormentado pelo frio e atormentado pelo
irmã o Ratos, que até subia na mesa enquanto tentava comer sua
escassa refeiçã o. Clara e suas irmã s pediram aos frades que trouxessem
remé dios que haviam preparado, na esperança de aliviar seu problema
de visã o, mas o tratamento foi em vã o.
Uma noite, sozinho em sua cabana e suportando pacientemente
suas tribulaçõ es, Francisco elevou seu espı́rito a Deus e orou por forças
para perseverar em carregar sua cruz - parecia estar icando pesada
demais para ele suportar. Em resposta, ele ouviu o Senhor falar em seu
coraçã o, encorajando-o a abraçar seus sofrimentos e a se alegrar e
con iar Nele, “como se você já estivesse compartilhando o Meu
Reino”.9Francisco entendeu que esta era uma promessa de Cristo de
que ele entraria no Reino dos Cé us apó s sua morte, para desfrutar a
vida eterna com seu Amado. Na manhã seguinte, ele disse
jubilosamente a seus confrades desta graça tã o ú nica e especial: “Ele se
dignou a assegurar-me, Seu servo indigno, de Seu Reino enquanto
ainda vivia na carne”.10
Francisco desejava honrar a Deus por este maravilhoso favor,
compondo uma cançã o em louvor ao Doador de todas as boas dá divas -
um hino em honra do Altı́ssimo e de toda a Sua maravilhosa criaçã o. E
assim nasceu o imortal “Câ ntico do Irmã o Sol”, també m chamado de
“Câ ntico das Criaturas”. Ele pretendia que fosse cantado e ensinou a
melodia a seus irmã os. Oxalá conhecê ssemos esse refrã o há muito
perdido hoje! O Câ ntico é considerado o poema mais antigo conhecido
em qualquer linguagem moderna; foi composta no dialeto da Umbria
da é poca.11Francisco també m se referiu à composiçã o como "Os
louvores do Senhor". Ele desejava que sempre que os frades pregassem
em uma cidade, eles cantassem o Câ ntico para o povo, como
verdadeiros menestré is de Deus.
O Câ ntico do Irmã o Sol12

Altı́ssimo, Onipotente, Bom Senhor,


Teu seja os louvores, a gló ria e a honra e
todas as bê nçã os.
A Ti somente, Altı́ssimo, eles pertencem,
e nenhum homem é digno de mencioná -lo.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas
criaturas, especialmente o senhor irmã o Sol,
de quem é o dia, e tu nos iluminas
por meio dele.
E ele é lindo e radiante com um grande
esplendor; de Ti, Altı́ssimo, ele transmite o
signi icado.
Que Tu seja louvado, meu Senhor, pela irmã Lua
e as estrelas no cé u; Tu os
tornaste claros, preciosos e bonitos.
Que Tu sejas louvado, meu Senhor, pelo irmã o Vento,
e pelo ar e o tempo nublado e claro
e todo tempo, atravé s dos quais Tu dá s sustento a todas as
Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Agua,
que é muito ú til e humilde, preciosa e
casta.
Que Tu seja louvado, meu senhor, pelo irmã o Fire,
atravé s de quem Tu iluminas a noite,
e ele é bonito e alegre e robusto e
forte.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã ,
Mã e Terra, que nos sustenta e governa
e produz vá rios frutos com lores coloridas
e plantas verdes.
Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam
por amor a Teu amor e suportam enfermidades
e tribulaçõ es.
Bem-aventurados os que os suportam em paz,
porque por Ti, Altı́ssimo, eles serã o coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã , a
Morte Corporal, de quem nenhum homem vivo pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal:
bem - aventurados aqueles que ela encontrará em Teus
santos desejos,
porque a segunda morte nã o lhes fará mal.
Louve e bendiga o meu Senhor,
dê graças e sirva-o com grande
humildade!
A pedido do Irmã o Elias, Francisco partiu de Sã o Damiã o para
buscar tratamento mé dico para seus olhos com os mé dicos de Rieti e
Siena. Lá ele passou por procedimentos primitivos e dolorosos que no
inal trouxeram poucas melhorias. A medida que sua condiçã o fı́sica
enfraquecia, tornou-se ó bvio para todos que Francisco estava em seus
ú ltimos dias, e foi decidido levá -lo ao palá cio do bispo em Assis. Como
a viagem a Assis os levaria perto de Perugia, o grupo disfarçadamente
tomou um caminho indireto para evitar a cidade. A razã o para tal
desvio foi o medo muito real de que os perugianos detivessem à força o
moribundo Francisco em sua cidade, a im de poder reclamar suas
relı́quias em sua morte.13
Chegou a Assis em julho de 1226, para grande jú bilo do povo, e se
hospedou no palá cio episcopal de Dom Guido. O pró prio bispo estava
em peregrinaçã o ao santuá rio do Arcanjo Sã o Miguel, no Monte
Sant'Angelo, na montanha Gargano, no sul da Itá lia.14Para garantir que
seu precioso patrimô nio permanecesse em segurança em Assis, os
cidadã os colocaram uma guarda 24 horas na residê ncia. Francis sabia
que o im estava pró ximo. Ele estava preparado para a morte e a
acolheu, pois tinha uma irme esperança de chegar ao cé u. Seu corpo
estava desbotando e enfraquecendo rapidamente, mas seu espı́rito
alegre o inspirou a erguer a voz em hinos e cançõ es em louvor a
Deus. Mandou chamar o Irmã o Angelo e o Irmã o Leo e pediu-lhes que
cantassem os louvores do Senhor e de Suas criaturas entoando “O
Câ ntico do Irmã o Sol”. Acredita-se que nesta ocasiã o o Santo compô s
aqueles ú ltimos versos em louvor a “nossa irmã , a Morte Corporal”.15
O irmã o Elias era um dos que cuidavam dele. Ele icou preocupado
que os guardas e outras pessoas pró ximas icassem escandalizados
porque Francisco nã o parecia penitente e triste em preparaçã o para
sua morte iminente. Francisco e Elias concordaram que seria bom
deixar o palá cio do Bispo, e o Santo pediu para ser transferido para
Santa Maria dos Anjos, para devolver a alma a Deus na sua amada
Porciú ncula.16 E assim, acompanhado por uma grande multidã o de
pessoas, ele foi levado em uma maca e levado para fora dos muros da
cidade, de onde eles desceram para o vale que levava a Santa Maria.
Quando eles estavam na metade do caminho, e perto de um certo
hospı́cio, Francis foi forçado a perguntar até onde eles haviam
avançado, já que sua visã o estava quase totalmente perdida. Ao ser
informado de que haviam chegado ao local deste pequeno hospital, ele
pediu que a liteira fosse colocada no chã o e virada na direçã o de sua
amada cidade de Assis. Elevando-se um pouco, abençoou solenemente
aquela cidade privilegiada com muitas palavras inspiradas e santas,
concluindo com: “Rogo-te pois, Senhor Jesus Cristo, Pai de
misericó rdia, nã o olhes para a nossa ingratidã o, mas recorda o amor
in inito que Tu mostraste a esta cidade. Que sempre permaneça a
morada e residê ncia daqueles que conhecerã o e glori icarã o Teu
bendito e glorioso Nome nas eras que virã o. Um homem."17 Entã o,
mandando-o embora pela ú ltima vez de Assis, os carregadores
procederam ao transporte de Sã o Francisco para a Porciú ncula, onde
passaria as ú ltimas semanas de sua vida.
Ao mesmo tempo em que Francisco esperava a morte em Santa
Maria dos Anjos, sua irmã em Cristo, Clara, estava gravemente doente
em seu convento de San Damiano. Ciente de que seu Pai espiritual
estava morrendo, ela icou triste com a ideia de nunca mais ver seu
amado Francisco novamente nesta vida. Ela mandou uma notı́cia de
sua preocupaçã o para ele por meio de um dos irmã os. Ao receber a
notı́cia, Francisco mandou este irmã o de volta a Sã o Damiã o com uma
bê nçã o para Clara e com a mensagem de que ela e todas as suas irmã s o
veriam certamente mais uma vez, para grande consolo.18
Na noite de sá bado, 3 de outubro de 1226, o pobrezinho de Assis,
sabendo que a Irmã Morte estava pró xima, pediu para ser colocado nu
no chã o descoberto. Os irmã os enlutados consentiram em seu desejo e
ele colocou a mã o sobre o peito para esconder o ferimento. Entã o um
de seus companheiros, por inspiraçã o divina, emprestou-lhe sua
pró pria tú nica, colocando-a gentilmente sobre Francisco. Isso encantou
o Santo, pois agora ele era realmente o mendigo de Cristo, vestido com
um há bito emprestado. Ele estava contente em morrer neste abraço
perfeito da Senhora Pobreza. Da mesma forma que havia iniciado sua
vida religiosa despojando-se de suas vestes diante do bispo, desejava
terminar sua vida despojado de tudo, à imitaçã o de seu Mestre
cruci icado.19
Ao se aproximarem os momentos inais, Francisco convidou os
irmã os a se aproximarem e proferiu suas palavras de despedida de
encorajamento e consolo, abençoando a todos. Rogou-lhes que nã o
abandonassem o caminho da pobreza e exortou-os a suportar com
paciê ncia as provas e tribulaçõ es que a Ordem enfrentaria no futuro
sem ele. Mais importante ainda, ele os exortou a se apegarem ao
Evangelho e à fé da Santa Madre Igreja.20
A seguir, pediu-lhes que lessem o capı́tulo XIII de João , que começa
com: “Antes da festa da pá scoa, Jesus sabendo que era chegada a sua
hora, para que passasse deste mundo para o Pai: tendo amado os seus
que estavam no mundo, ele os amou até o im. ” ( João 13: 1).21Cercado
por seus companheiros de luto, Francisco, que també m amou os seus
até o im, gentilmente passou deste mundo para o Reino Celestial. Seu
ú ltimo desejo era que ele fosse polvilhado com cinzas, para simbolizar
a poeira e as cinzas à s quais seu corpo voltaria.22
Prodı́gios e milagres ocorreram imediatamente apó s sua morte e
continuam ao longo dos sé culos até hoje. Um dos frades, no momento
da passagem de Francisco, teve uma visã o da alma do Santo subindo ao
cé u, brilhando gloriosamente, erguido sobre uma nuvem branca. Outro
frade, de uma cidade distante, estava perto da morte e nã o conseguiu
falar durante sua doença inal. De repente, ele gritou: “Espere por mim,
padre. Esperar! Eu vou com você ! ” Ele disse aos irmã os chocados ao
lado de sua cama que estava se dirigindo a Francisco, a quem viu
subindo ao cé u. Naquele momento ele també m morreu.23Na mesma
é poca, o bispo Guido de Assis, que ainda estava no Gargano em
peregrinaçã o ao santuá rio de Sã o Miguel, teve uma visã o do Santo. Um
alegre Francisco disse a ele que estava feliz por deixar este mundo para
o Reino dos Cé us de sua amada esposa. Ao retornar a Assis, o bispo
pô de veri icar que Francisco havia morrido na mesma noite em que
teve esta visã o.24
Mas a maior maravilha de todas foi a manifestaçã o das sagradas
feridas dos seus estigmas aos irmã os que chegavam de longe e aos
cidadã os de Assis que se apressavam para a Porciú ncula. De acordo
com Sã o Boaventura, “Um grande nú mero de pessoas de Assis foram
admitidas para ver os estigmas e beijá -los”.25A fé de muitos leigos e
frades foi fortalecida ao ver este prodı́gio, e sua tristeza pelo
falecimento de Francisco se converteu em espanto e alegria. Na manhã
seguinte, uma grande multidã o de ié is, religiosos e leigos,
acompanhou o corpo do Santo até a cidade de Assis, em meio ao canto
de hinos e louvores a Deus.
Ao se aproximarem do convento de Santa Clara e suas irmã s em San
Damiano, a comitiva parou e se aproximou da lareira onde as freiras de
clausura costumavam receber a Sagrada Comunhã o dos padres. A grade
de ferro foi removida e o corpo de Francisco foi levantado para que
Clara e sua famı́lia espiritual pudessem venerar as sagradas feridas de
seu pai. Assim se cumpriu a profecia do moribundo Francisco, que
mandou dizer a Clara que ela e suas irmã s o veriam mais uma vez.26
A procissã o entã o se dirigiu para a cidade, e os restos mortais do
amado Poverello foram depositados na Igreja de San Giorgio, a mesma
em que Clara o ouviu pregar pela primeira vez. Ele morrera no
quadragé simo quinto ano de vida e no vigé simo desde sua conversã o
espiritual em 1206, tendo suportado os estigmas por dois anos.
Em 16 de julho de 1228, o papa Gregó rio IX veio a San Giorgio em
Assis e canonizou Sã o Francisco - nã o exatamente dois anos depois de
sua morte! No dia seguinte, o Santo Padre lançou a pedra fundamental
para a grande nova bası́lica que honraria Sã o Francisco e abrigaria
permanentemente seus restos mortais. Dois anos depois, seu corpo foi
secretamente enterrado nas profundezas do altar na cripta da
igreja. Permaneceu escondido lá por seiscentos anos até ser
encontrado em 1818.27
O ritual do Transitus , ou a passagem de Francisco da morte para a
vida eterna, é decretado pelos franciscanos todos os anos na noite de 3
de outubro. Embora ele realmente tenha falecido nessa data, a festa de
Sã o Francisco é celebrada durante todo o Mundo cristã o em 4 de
outubro.

Conclusão
São Francisco e o Sultão

A S prometido na introduçã o, este capı́tulo inal irá considerar ou nã o


Francis foi bem sucedido em seus esforços para converter o sultã o do
Egito, para a verdadeira fé . Os argumentos podem ser feitos para
ambas as teses: que o Sultã o al-Malik al-Kamil foi inalmente
convertido à religiã o cristã ou que ele permaneceu leal ao Islã . Embora
Francisco tenha sido a principal fonte de exposiçã o de al-Kamil ao
Cristianismo, ele nã o foi a ú nica pessoa a tentar convertê -lo. Dois anos
apó s os encontros entre Francisco e o Sultã o, um dos Cruzados, Oliver
de Paderborn, escreveu uma carta a al-Kamil na qual tentava persuadi-
lo a se tornar cristã o. Paderborn foi feito prisioneiro pelos muçulmanos
apó s o desastre da Quinta Cruzada, e escreveu a carta apó s sua
libertaçã o. Nele, ele tentou convencer o sultã o a se converter usando
argumentos teoló gicos em grande parte do Antigo Testamento, que ele
erroneamente pensava que os muçulmanos aceitavam.1
A histó ria das Pequenas Flores contada acima no Capı́tulo 12 sobre
a conversã o do Sultã o no leito de morte pode parecer uma fá bula
piedosa, mas é muito possivelmente baseada em um incidente
real. Conforme mencionado naquele capı́tulo, a histó ria é tirada de
antigas fontes franciscanas que nã o sã o meramente folcló ricas, mas
tê m um “valor histó rico de inido”.2O franciscanismo loresceu no
sé culo seguinte ao falecimento de seu fundador. Assim, nã o há razã o
para crer que os frades que conheceram Francisco ou que viveram
pouco depois de sua morte embelezariam intencionalmente as
crô nicas da Ordem a ponto de fabricar completamente um
acontecimento.
Por causa de seus esforços, é certo que a pregaçã o de Francisco
in luenciou o sultã o. Na verdade, o contexto de toda a sua visita re lete a
incrı́vel operaçã o da graça. O sultã o tinha o poder de mandar executar
Francisco decapitando, como seus conselheiros, os imames ,
imploraram que izesse em nome da lei islâ mica. Se Francisco tivesse
morrido nesta é poca de sua vida, que foi antes de inalizar a Regra e
receber os estigmas, é bem possı́vel que a Ordem tivesse
naufragado. Vimos que durante a sua permanê ncia no Oriente Mé dio
começaram a surgir graves problemas e divisõ es na Ordem. Mas a
Providê ncia de Deus quis o contrá rio.
Embora a visita tenha ocorrido durante um perı́odo de tré gua,
Francisco e Illuminato chegaram como missioná rios cristã os, e nã o
como emissá rios dos Cruzados. Portanto, nã o havia razã o polı́tica para
poupar esses frades in ié is, que ousaram tentar afastar o sultã o e sua
corte da adoraçã o a Alá . Alé m disso, o sultã o al-Kamil poderia ter visto
sua ousada pregaçã o do cristianismo como um insulto e uma afronta à
dignidade e ao orgulho dos conquistadores dos cruzados na batalha
travada recentemente em Damietta. Mas o poder da pregaçã o do Santo
em nome de Jesus e o amor manifestado por seu desejo pela salvaçã o
de al-Kamil levaram o sultã o a poupar a vida do Poverello e de seu
companheiro.
Francisco causou tanto impacto no sultã o que parece que uma
amizade baseada no respeito mú tuo se desenvolveu entre
eles. Francisco nã o apenas sobreviveu ao perigo de ser martirizado,
mas també m conseguiu agradar ao sultã o, que gostava de ouvi-lo e
estar em sua presença. Durante a prolongada visita, que pode ter
durado vá rias semanas, al-Kamil freqü entemente mandava chamar
Francisco para comparecer diante dele. No entanto, é de crucial
importâ ncia enfatizar que Francisco visitou o sultã o com o propó sito de
convertê -lo à religiã o cristã , nã o para se engajar em um diá logo
amigá vel a im de estabelecer uma tolerâ ncia nã o beligerante das duas
partes pela religiã o uma da outra. Francisco foi capaz de manter essa
amizade enquanto se engajava em suas conversas voltadas para a
conversã o, mesmo apesar de suas declaraçõ es contundentes e
contundentes de que o Islã nã o era a religiã o verdadeira e, portanto,
nã o poderia trazer vida eterna aos seus seguidores.
E claro que esse sucesso foi devido à graça. Mas no nı́vel visı́vel, isso
só poderia ser devido aos aspectos positivos da pregaçã o de Francisco,
na qual ele se tornou a face do Cristianismo para os muçulmanos. Esse
rosto de Francisco, essa espé cie de persona Christi , re letia a
profundidade de sua espiritualidade cristã . Em suma, Francisco foi a
presença de Cristo para o Sultã o. As virtudes cristã s que emanavam
dele - seu amor, compaixã o, bondade e misericó rdia, alé m de sua
preocupaçã o pela alma do sultã o - eram o coraçã o de seu
cristianismo. Esse amor se juntou à sua abertura, sinceridade e sua
simples humildade franciscana. Uma obra atribuı́da a alguns dos
primeiros seguidores de Sã o Francisco descreve sua santa
simplicidade: “Ele falava com o fervor de seu coraçã o, pois havia sido
escolhido por Deus para ser simples e iletrado, sem usar nenhuma das
palavras eruditas da sabedoria humana , e em todas as coisas ele se
portava com simplicidade. ”3
Sã o Francisco era ousado, mas gentil. Sua gentileza e mansidã o
cristã nã o eram tı́midas ou covardes e nã o o izeram recuar e se
encolher diante da situaçã o ameaçadora, especialmente durante seus
primeiros encontros com as sentinelas e os imãs hostis . Sua con iança
e destemor re letiram a açã o do Espı́rito Santo. O Espı́rito inspirou seu
zelo e encorajou-o a superar as fraquezas humanas. O Papa Gregó rio IX,
na Bula de Canonizaçã o do Santo, escreveu que Francisco conquistou
“pela sua pregaçã o simples, sem adornos com as palavras persuasivas
da sabedoria humana e tornada contundente pelo poder de Deus, que
escolhe os fracos deste mundo para confundir os Forte."4
Qual foi entã o o conteú do especı́ ico de sua pregaçã o que causou tal
impacto no sultã o? A Regra franciscana é a chave que revela a
substâ ncia da pregaçã o de Francisco. O capı́tulo XVI da Regra de 1221, a
respeito da missã o aos incré dulos, foi provavelmente escrito logo apó s
seu retorno do Egito, conforme observado anteriormente (Capı́tulo
13). Nela, ele declara que os frades, quando virem que é agradá vel ao
Senhor, devem “anunciar a palavra de Deus”. Este é o primeiro preceito
de ensino que ele menciona. E com que propó sito a palavra de Deus é
anunciada? Que os in ié is e sarracenos creiam no Deus Triú no e em
Jesus Redentor para serem batizados e se tornarem
cristã os. Essencialmente, Francisco estava apresentando Jesus como
uma Pessoa Divina e o Salvador da humanidade, ao invé s de apenas
outro profeta que nã o era diferente dos profetas que vieram antes dele,
como o Alcorão ensina. ( Alcorão 2: 136).
Sã o Francisco era totalmente leal à Igreja Cató lica e suas crenças,
hierarquia, sacerdó cio e sacramentos. O Apê ndice apresenta a
declaraçã o do Papa Pio XI de 1926, criticando aqueles que ainda
naquela é poca tentavam retratar o Santo em oposiçã o à autoridade e
disciplina da Igreja. No entanto, pelo que se sabe sobre o conteú do de
sua pregaçã o aos muçulmanos, ele nã o parecia estar expondo a
natureza e a estrutura da Igreja Cató lica como tal, nem estava pedindo
que eles consentissem em uma longa lista de crenças exigidas e
cerimô nias. Ele estava simplesmente pregando o Evangelho e uma
Pessoa - Jesus Cristo. Em essê ncia, ele estava confessando sua fé em
Jesus, como a irma na linha seguinte do Capı́tulo XVI da Regra: “Todo
homem, que Me confessa diante dos homens, eu o confessarei també m
diante de Meu Pai, que está nos Cé us. ” ( Mateus 10:32).
Francisco tinha uma compreensã o apostó lica e uma consciê ncia de
Jesus Cristo - seu conhecimento e amor por Cristo baseavam-se em
encontros reais com ele. Mesmo antes de o Senhor falar com ele por
meio do cruci ixo de Sã o Damiã o, Ele já havia manifestado Sua vontade
a ele em sonhos. Para Francisco, o caminho para o Monte La Verna, seu
pró prio Calvá rio, foi pavimentado com muitas visõ es e comunicaçõ es
celestiais de Nosso Senhor.
Assim, para o Poverello, pregar o Cristianismo signi icava pregar
Jesus Cristo, porque o Divino Cabeça da Igreja é uma
Pessoa. ( Colossenses 1:18). Isso nã o é novidade. Quando Saulo, o futuro
apó stolo Paulo, se aproximou de Damasco, “exalando ameaças e
massacres contra os discı́pulos do Senhor”, Jesus disse-lhe: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?” (Cf. Atos 9: 1-4). Aqui, Nosso Senhor se
identi icou com Seus discı́pulos e Sua Igreja. Ao perseguir a Igreja que
estava nascendo, Saulo perseguia o pró prio Jesus Cristo.
Nas palavras de Fortini, “Ele lutou na Cruzada, na qual ele e
somente ele saiu vencedor”.5No mı́nimo, Francisco in luenciou
profundamente o sultã o e talvez até efetuou sua conversã o. A
abordagem simples de Francisco, com seu foco na Pessoa de Jesus e em
Sua Divindade, pode ser a resposta ao lamento comum até hoje de que
converter os muçulmanos é uma tarefa tã o difı́cil. “Muitas vezes ouve-
se repetidas vezes pelas pró prias pessoas que vivem nas terras do Islã :
'Nã o há nada que possa ser feito!' Quantas vezes, durante os dezessete
anos que passei em territó rio muçulmano, ouvi meus pró prios
confrades enunciarem esta triste conclusã o ”.6 Assim escreveu um
Frade Menor do sé culo XX.
A religiã o cristã deve abranger todos os povos, raças e naçõ es. A
grande comissã o de Cristo para Seus seguidores é pregar o Evangelho a
todas as criaturas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espı́rito
Santo. Isso é o que motivou Francisco a sair entre os incré dulos, e é a
ú nica opçã o para os seguidores de Cristo. “E Jesus, vindo, falou-lhes,
dizendo: Todo o poder Me é dado no cé u e na terra. Indo, portanto,
ensinai todas as naçõ es, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do
Espı́rito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que eu vos
ordenei; e eis que estou convosco todos os dias, até à consumaçã o do
mundo. ” ( Mateus 28: 18-20).
A missã o de Sã o Francisco deve ser contı́nua e deve continuar,
porque desde o inı́cio da sua vocaçã o foi encarregado por Cristo de
reconstruir a Igreja: “Francisco, vai, repara a minha casa, que, como vê s,
está caindo por completo ruı́na." O Cristianismo é a casa que Cristo
construiu. No entanto, hoje mais do que nunca, a cristandade está
dividida e em ruı́nas. Nã o há necessidade ou desejo aqui de expor a
longa e ó bvia lista de problemas, que vã o desde o aparente triunfo do
secularismo de hoje até a possı́vel ascensã o do Islã no futuro.
Embora a questã o de saber se o sultã o al-Kamil foi ou nã o
convertido nã o possa ser respondida de initivamente, eu pessoalmente
acredito que Francisco foi bem-sucedido em seus esforços para fazê -
lo. E bem possı́vel que essa conversã o tenha ocorrido no coraçã o de al-
Kamil durante a visita de Francisco na Quinta Cruzada. No entanto, a fé
recé m-nascida do sultã o pode nã o ter sido forte o su iciente para ele
enfrentar a perspectiva do martı́rio imediato que se abateria sobre ele
se fosse batizado naquela é poca. Claro, nada disso pode ser provado, e
seria um esforço vã o tentar provar o imprová vel. Mas uma coisa é
certa. Sabemos que Francisco tentou . Se Francisco nã o tivesse pelo
menos feito um esforço para converter al-Kamil, nem estarı́amos nos
perguntando se ele foi bem-sucedido ou nã o. E por isso que a histó ria
de Sã o Francisco e do Sultã o continua viva - porque o Santo tentou, com
risco de vida, salvar a alma do Sultã o. E esse nobre empreendimento
que é o verdadeiro legado dos franciscanos e de toda a cristandade.

Apêndice
Declaração do Papa Pio XI em 1926

“ QUANTO mal eles fazem e quã o longe de um verdadeiro apreço pelo


Homem de Assis estã o aqueles que, a im de sustentar suas idé ias
fantá sticas e errô neas sobre ele, imaginam uma coisa tã o incrı́vel como
o fato de Francisco ser um adversá rio da disciplina de a Igreja, que nã o
aceitou os dogmas da Fé , que foi o precursor e profeta daquela falsa
liberdade que começou a se manifestar no inı́cio dos tempos modernos
e que tem causado tantos distú rbios tanto na Igreja como na sociedade
sociedade! Que ele era de uma maneira especial obediente e iel em
todas as coisas à hierarquia da Igreja, a esta Sé Apostó lica e aos
ensinamentos de Cristo, o 'Arauto do Grande Rei' provou tanto para
cató licos quanto para nã o cató licos pelo admirá vel exemplo de
obediê ncia, que sempre deu. E um facto comprovado por documentos
contemporâ neos, que sã o dignos de todo o cré dito, 'que ele tinha em
veneraçã o o clero e amava com grande afecto todos os que estavam nas
Ordens Sacras'. (Thomas de Celano, Legenda , Cap. I, No. 62). 'Como um
homem que era verdadeiramente cató lico e apostó lico, ele insistia
acima de tudo em seus sermõ es que a fé da Santa Igreja Romana
deveria ser sempre preservada, e inviolavelmente, e que os sacerdotes
que por seu ministé rio trazem à existê ncia o sublime Sacramento da o
Senhor, deve, portanto, ser mantido na mais alta reverê ncia. Ele
també m ensinou que os doutores da lei de Deus e todas as ordens do
clero devem receber o má ximo respeito em todos os momentos.
' (Julian a Spira, Vida de São Francisco , nº 28). Aquilo que do pú lpito
ensinava ao povo, insistia muito mais fortemente entre os seus
frades. Podemos ler sobre isso em seu famoso ú ltimo testamento, e
novamente na hora da morte, ele os advertiu sobre isso com grande
insistê ncia, ou seja, que no exercı́cio do sagrado ministé rio, eles
deveriam sempre obedecer aos bispos e ao clero e deve conviver com
eles, pois convé m aos ilhos da paz ”.
—Pio Pio XI
Rite Expiatis , No. 23*
Notas do Capítulo

Dedicação

1Arnaldo Fortini, Nova Vita di San Francesco (Roma: Carucci Editore,


1981) p. 14
2“Cruzadas” (2007), na Encyclopædia Britannica . Recuperado em 19 de
abril de 2007, da Encyclopædia Britannica
Online: http://www.britannica.com/eb/article-235538

Parte um

T HE F OUNDER

* http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/h
f_l-xiii_enc_17091882_auspicato-concessum_en.html .

Introdução

1Papa Pio XI, Rite


Expiatis, n. 3, http://www.vatican.va/holy_father/pius-
xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_30041926_rite-
expiatis_en.html .
2Arnaldo Fortini, Nova Vita di San Francesco, Roma, Carucci Editore,
1981.
3J. Hoeberichts, Francis and Islam , Quincy, IL, Franciscan Press, 1997,
p. XI.
4 Ibidem , p. 86
5 Ibidem , p. 133
6 Ibidem , p. 134
7 Ibidem , p. ix, Prefá cio de Terrence J. Riddell, Diretor, Imprensa
Franciscana.
8 Ibidem , p. 75
9Benjamin Z. Kedar, Cruzada e Missão: Aproximações Européias em
relação aos Muçulmanos , Princeton, Princeton University Press,
1984.
10 Ibidem , p. 125
11Sã o Boaventura, Vida Maior de São Francisco , Tr. por Benen Fahy,
OFM, incluı́do em São Francisco de Assis: Escritos e Biogra ias
Antigas, English Omnibus of Sources for the Life of St.
Francis (doravante identi icado como Omnibus ), Marion A. Habig,
Editor, Chicago, Franciscan Herald Press, 1973, terceira ediçã o
revisada, capı́tulo IX, no. 4, pá g. 700
12Hoeberichts, p. 196

Capítulo 1.

Y OUTHFUL D resmas de K NIGHTHOOD

1Tomá s de Celano, A Segunda Vida de São Francisco, Livro Um , Tr. por


Placid Hermann, OFM, Capı́tulo 1, no. 3; p. 363, Omnibus .
2Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 1, no. 1; pp. 635-636, Omnibus .
3 Lenda dos Três Companheiros , Tr. por Nesta de Robeck, Capı́tulo 1,
no. 3; p. 892, Omnibus .
4 Ibidem , p. 893.
5Celano, Second Life, Book One , Chapter 2, no. 5; p. 365, Omnibus .
6Tomá s de Celano, A Primeira Vida de São Francisco, Livro Um , Tr. de
Placid Hermann, OFM, Livro I, nota de rodapé
no. 20; p. 563, Omnibus .
7Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 1, no. 3; p. 637, Omnibus .
8Celano, Second Life, Book One , Chapter 3, no. 7; p. 367, Omnibus .
9 Três companheiros , Capı́tulo 5, nã o. 13; p. 903, Omnibus .
10 Ibid ., Capı́tulo IV, no. 11; p. 900, Omnibus .
11“Leprosy” (2007), na Encyclopædia Britannica. Recuperado em 23 de
fevereiro de 2007, da Encyclopædia Britannica
Online: http://www.britannica.com/eb/article-248485 .
12 O Testamento de São Francisco , Tr. por Benen Fahy,
OFM; p. 67, Omnibus .

Capítulo 2.

“F RANCIS , L O , R eparo H Y H OUSE ”


1A histó ria e o signi icado do cruci ixo de Sã o Damiã o sã o explicados
em vá rios sites, como: A histó ria da
cruz, http://www.poorclarestmd.org/cross.htm , e A histó ria do
cruci ixo de Sã o Damiã o, http: /
/www.monasteryicons.com/info/san_damiano_cross.hzml .
2Celano, Second Life, Book One , Capı́tulo 6, no. 10; p. 370, Omnibus .
3 Três companheiros , Capı́tulo 6, nã o. 19; p. 908, Omnibus .
4Celano, Second Life, Livro Um , Capı́tulo 7, no. 12; p. 372, Omnibus .
5 Três companheiros , Capı́tulo 6, nã o. 20; p. 909, Omnibus .
6Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 2, no. 4; p. 643, Omnibus .

Capítulo 3.

H ERALD DO G REAT K ING

1Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 2, no. 5; p. 643, Omnibus .


2Omer Englebert e Raphael Brown, Cronologia ; p. xi, Omnibus .
3Celano, Second Life, Livro Um , Capı́tulo 8, no. 13; p. 373, Omnibus .
4Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 8, no. 18; p. 244, Omnibus .
5Santa Clara de Assis, Testamento , traduzido do latim pelo Irmã o Alexis
Bugnolo, Editor de “The Franciscan Archive, A WWW Resource on St.
Francis & Franciscanism,” http://www.franciscan-
archive.org/ ; usado com permissã o.
6“Porciú ncula”, de Michael Bihl, em The Catholic Encyclopedia , vol. XII,
1911, pá g. 286, cortesia do site do Novo Advento de Kevin
Knight: http://www.newadent.org/cathen/12286a.htm .
7Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 2, no. 8; p. 646, Omnibus .
8Fortini, nota de rodapé no. 2, pá g. 317.
9Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 9, no. 22; p. 247, Omnibus .
10Celano, Second Life, Livro Um , Capı́tulo 10, no. 15; p. 375, Omnibus .
11Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 3, no. 3; p. 647-648, Omnibus .
* Algumas fontes relatam que Pedro de Catâ nia, outro dos primeiros
seguidores de Francisco, també m estava presente, e que o pá roco de
Sã o Nicolau abriu e leu o Missal para as trê s leituras.
Capítulo 4.

“T HE L ESSER B ROTHERS ”

1Celano, Second Life, Livro Dois , Capı́tulo 151, no. 200; p. 522, Omnibus .
2Fr. Candide Chalippe, OFM, A Vida e as Lendas de São Francisco de
Assis , revisada e reeditada por pe. Hilarion Duerk, OFM, Nova York, PJ
Kenedy & Sons, 1918, p. 59.
3 Três companheiros , Capı́tulo 9, nã o. 35; p. 923, Omnibus .
4Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 3, no. 9; p. 651, Omnibus .
5“Albigenses”, de NA Weber, The Catholic Encyclopedia , vol. I, 1907,
pá g. 267, http://www.newadvent.org/cathen/01267e.htm .
6 Fortini, pp. 375-376.
7Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 3, no. 9; p. 652, Omnibus .
8 A regra de 1221 , Tr. de Benen Fahy, OFM, Introduçã o e notas de Placid
Hermann, OFM, nota de rodapé no. 7; p. 28, Omnibus .

Capítulo 5.

R IVO T ORTO

1 A Regra de 1223 , Tr. por Benen Fahy, OFM, Introduçã o e notas de


Placid Hermann, OFM, Capı́tulo 9; p. 63, Omnibus .
2Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 4, no. 3; p. 655, Omnibus .
3 O Testamento de São Francisco , p. 67, Omnibus .
4 Ibid .
5Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 18, no. 47; pp. 268-
269, Omnibus .
6Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 4, no. 4; pp. 655-656, Omnibus .
7 Legend of Perugia , Tr. de Paul Oligny, no. 9; p. 985, Omnibus .

Capítulo 6.

T HE F IRST F INFERIOR

1Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 8, no. 18; p. 244, Omnibus .


2Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 4, no. 6; p. 657, Omnibus .
3 A Vida de Santa Clara , Virgem , Fr. Tommaso da Celano, Tr. por
Catherine Bolton Magrini, Assis, Editrice Minerva, 2001, p. 18, nota
de rodapé no. 15
4 Ibidem , p. 23
5 Ibidem , p. 24
6 Ibid ., Pp. 48-51.
7 Veja a nota 3 acima.
8 Ibidem , p. 44
9 Ibidem , p. 45

Capítulo 7.

B EARERS DE P EACE

1 Pequenas Flores de São Francisco , Tr. por Raphael Brown, Capı́tulo


16; p. 1334, Omnibus .
2 Ibidem , p. 1335.
3Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 29, no. 81; p. 297, Omnibus .
4 Ibid ., Capı́tulo 21, no. 59; pp. 278-279, Omnibus .
5Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 12, no. 4; p. 723, Omnibus .
6 Florezinhas , Capı́tulo 16; p. 1335, Omnibus .
7Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 12, no. 4; p. 723, Omnibus .
8 Florezinhas , Capı́tulo 16; pp. 1335-1336, Omnibus .
9 Fortini, pp. 663-669.
10A Igreja de S. Francesco em
Cannara, http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places
/Europe/Italy/Umbria/Perugia/Cannara/Cannara/churches/S.Fran
cesco/home.html .
11 A Regra da Ordem Terceira , Tr. por Benen Fahy, OFM, Introduçã o e
notas de Placid Hermann, OFM, p. 167, Omnibus .
12Marion A. Habig, OFM, e Mark Hegener, OFM, Uma Breve História da
Ordem Terceira , Chicago, Franciscan Herald Press, Ediçã o Revisada,
1977, pp. 18-19.
13 Ibid ., Capı́tulo V, nã o. 16; p. 171
14Regra e forma de vida dos irmã os e irmã s da
Penitê ncia, http://www.franciscan-sfo.org/Rule1289.htm , seçã o 7.
15A Regra da Ordem Franciscana Secular, http://www.franciscan-
sfo.org/FFMR/Rule.htm , Capı́tulo 2, no. 19
16 A Regra da Ordem Terceira , Capı́tulo V, no. 17; p. 171, Omnibus .
17Esboço histó rico, A Ordem Franciscana
Secular, http://www.franciscan-sfo.org/history2.htm .
18“Franciscan Nonviolence,” http://www.ofm-
jpic.org/peace/nonviolence/nonviolence_en.pdf , pp. 12, 20.
19“Third Orders,” por Bede Jarrett et al., Em The Catholic Encyclopedia ,
Vol. XIV, 1912,
pá g. 637, http://www.newadvent.org/cathen/14637b.htm .
20Fortini, pá g. 465.
21Chalippe, p. 82

Parte dois

T HE H ISSIONARY

* http://www.vatican.va/holy_father/pius-
xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_30041926_rite-
expiatis_en.html .

Capítulo 8.

M ISSIONARY J OURNEY AO M iddle E AST

1Sezzi, Linda, San Francesco alla corte del sultano. Fallimento del
dialogo interreligioso all'alba del XIII secolo? Tese, Universidade de
Bolonha, 2002-2003; http://www.tesionline.com/intl/thesis.jsp?
idt=9362 , pá gina 101.
2Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 20, no. 55, nota de rodapé
no. 181; pá gina 573, Omnibus .
3 Ibid ., Pá gina 275.
4 Ibid .
5Martiniano Roncaglia, São Francisco de Assis e o Oriente Médio , Tr. por
Stephen A. Janto, OFM, Centro Franciscano de Estudos Orientais,
Cairo, 1954, p. 26
6Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 6; p. 702, Omnibus .
7Custó dia Franciscana da Terra
Santa, http://www.christusrex.org/www1/ofm/cust/TShistry.html .
8Roncaglia, p. 21
9“Elias de Cortona.” por Paschal Robinson, em The Catholic
Encyclopedia , vol. V, 1909,
pá g. 286, http://www.newadvent.org/cathen/05382a.htm .
10 Fortini, pp. 496-497.
11Dante Alighieri, A Divina Comédia: Paradiso , Tr. por Rev. HF Cary, MA,
Canto XII, v. 130-132, http://www.gutenberg.org/etext/8800 .
12 Pequenas Flores , Capı́tulo 24; nota de rodapé
nº 3; p. 1519, Omnibus .
13 A New Fioretti , Tr. por John RH Moorman, DD, Capı́tulo
54; p. 1878, Omnibus .
14Celano, Second Life, Livro Dois , Capı́tulo 4, no. 30, nota de rodapé
no. 11; p. 589, Omnibus .

Capítulo 9.

T HE t RAGIC B Attle DE D AMIETTA

1“Damietta” (2007), em Encyclopædia Britannica . Recuperado em 26


de fevereiro de 2007, da Encyclopædia Britannica
Online: http://www.britannica.com/eb/article-9028650 .
2 Fortini, pp. 499-500.
3James M. Powell, Anatomy of a Crusade, 1213-1221 , Filadé l ia,
University of Pennsylvania Press, 1986, p. 178.
4EL Skip Knox, The Fifth Crusade , curso online da Boise State
University, http://Crusades.boisestate.edu/5th/04.shtml .
5 Ibid ., Http://crusades.boisestate.edu/5th/06.shtml .
6Powell, Anatomy of a Crusade , p. 158.
7Fortini, pá g. 514.
8 Ibidem , p. 512.
9Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 11, no. 3; p. 713, Omnibus .
10Celano, Second Life, Livro Dois , Capı́tulo 4, no. 30; p. 388, Omnibus .
11 Fortini, pp. 514-516.
12Powell, Anatomy of a Crusade , pp. 158-159.
13Celano, Second Life , Livro Dois , Capı́tulo 4, no. 30; p. 389, Omnibus .
14Alberto Milioli, Gesta obsidionis Damiatae, mai , p. 1098, citado em
Fortini, nota de rodapé no. 3, pá g. 517.
15Celano, Second Life , Livro Dois , Capı́tulo 4, no. 30; p. 389, Omnibus .
16Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 11, no. 3; p. 713, Omnibus .
17Milioli, Gesta , p. 1098, citado em Fortini, nota de rodapé n. 5,
pá g. 517.
18Kedar, p. 158.
*Todo o episó dio histó rico das Cruzadas (sé culos 11 a 13) contra as
forças muçulmanas na e sobre a Terra Santa é quase universalmente
mal compreendido pelas pessoas hoje. O historiador cató lico e
comentarista histó rico, Hilaire Belloc (1870-1953), talvez tenha
explicado melhor a causa raiz das Cruzadas. Eles foram causados
pelos ataques muçulmanos ao Impé rio Romano do Oriente, sob o
governo romano em Constantinopla (que inalmente caiu nas mã os
dos turcos em 1453). Belloc a irma que o Impé rio Romano no
Ocidente nunca realmente “caiu”, como a maioria dos textos
histó ricos diz, datando esta “queda” em 476 DC, quando Roma no
Ocidente nã o conseguiu selecionar um novo imperador. Belloc a irma
que nã o houve uma ú nica força grande o su iciente durante a histó ria
de Roma para derrotá -la inteiramente - embora partes do Impé rio no
Ocidente tenham sido destruı́das. Em vez disso, o Impé rio no
Ocidente envelheceu e mudou, e o governo de Roma, e mais tarde de
Ravenna, nã o foi mais capaz de administrá -lo efetivamente. Mesmo
assim, o povo do Impé rio ainda se considerava parte desse Impé rio,
fato ilustrado no ano 800, quando Carlos Magno foi coroado Sacro
Imperador Romano em Roma. Por que ele chamaria seu reino por
este nome, a menos que ele e seu povo acreditassem que o Impé rio
ainda existia? No sé culo 6, o Islã explodiu para fora da Ará bia,
tomando todo o norte da Africa e, no primeiro terço do sé culo 8,
conquistou a Espanha. Seu avanço na Europa foi interrompido no
centro da França em 732, quando as forças de Carlos Martel
derrotaram o exé rcito muçulmano em Tours, apó s o que eles se
retiraram para trá s das montanhas dos Pireneus na Espanha. Entã o,
quando os turcos foram convertidos ao Islã e todas as guerras
sagradas islâ micas foram renovadas durante o sé culo 10 na Terra
Santa e no Oriente Mé dio - uma á rea sob o Impé rio Romano do
Oriente - o povo do Ocidente (com toda essa histó ria bem em mente)
levantou-se na forma de Cruzadas, ou uma guerra santa contra o Islã ,
inalmente para ajudar a porção oriental de SEU IMPÉRIO - que nos
ú ltimos 1.000 anos controlou o Oriente Mé dio! Sob esta luz, as
Cruzadas fazem muito sentido, especialmente quando se percebe que
os cristã os do Impé rio Romano lutaram contra o Islã por mais de 500
anos, quando a Primeira Cruzada foi lançada. - Publisher , 2007.

Capítulo 10.

F ACE PARA F ACE COM O S ultan

1Roncaglia, p. 27
2Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 7; p. 703, Omnibus .
3Powell, Anatomy of a Crusade , p. 159.
4Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 8; p. 703, Omnibus .
5Herbert J. Thurston, SJ, e Donald Attwater, Editores, Butler's Lives of
the Saints , Volume IV, 4 de outubro, “St. Francisco de Assis, Fundador
dos Frades Menores ”, Westminster, Maryland, Christian Classics,
1987, p. 28
6Sezzi, p. 111
7Jacques de Vitry, History of the Orient , Capı́tulo 32, citado em
Chalippe, p. 169
8Celano, Primeira Vida , Livro Um , Capı́tulo 20, no. 57; p. 277, Omnibus .
9Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 8; p. 703, Omnibus .
10Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; p. 1612, Omnibus .
11Roncaglia, nota de rodapé no. 52, pá g. 28
12Fortini, pá g. 547.
13Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; p. 1612, Omnibus .
14Sezzi, p. 111
15 Ibidem , p. 101
16Trê s traduçõ es do Alcorã o (Al-
Qur'an), http://www.gutenberg.org/ iles/16955/16955.txt , Tr. por
Abdullah Yusuf Ali.
17Celano, Primeira Vida , Livro Um , Capı́tulo 20,
no. 57; p. 276, Omnibus .
18Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 8; pp. 703-704, Omnibus .
19Ernoul, Cronaca di Ernoul e di Bernardo il Tesoriere , citado em Sezzi,
p. 105, traduçã o do autor atual.
20 Ibid .
21Powell, Anatomy of a Crusade , p. 159.
22Christoph T. Maier, Pregando as Cruzadas: Frades Mendicantes e a
Cruz no Século XIII , Cambridge, Reino Unido, Cambridge University
Press, 1994, p. 11
23Fortini, p. 548.
24Ernoul, Cronaca di Ernoul e di Bernardo il Tesoriere , citado em Sezzi,
p. 116, traduçã o do autor atual.
25Jacques de Vitry, Carta, 1220 ; p. 1609, Omnibus .
26Sezzi, p. 111
27“Francisco de Assis, Santo” (2007), na Encyclopædia
Britannica . Retirado em 28 de fevereiro de 2007, da Encyclopædia
Britannica Online: http://www.britannica.com/eb/article-2422 .
28Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; p. 1612, Omnibus .
29 Little Flowers , Capı́tulo 24, nota de rodapé no. 3; p. 1519, Omnibus .
30Sezzi, p. 112
31Trê s traduçõ es do Alcorã o (Al-
Qur'an), http://www.gutenberg.org/ iles/16955/16955.txt , Tr. por
Mohammad Habib Shakir.
32Roncaglia, nota de rodapé no. 46, pá g. 26
33 Ibid ., Nota de rodapé 54, p. 28
34“Su ism” (2007), na Encyclopædia Britannica . Retirado em 28 de
fevereiro de 2007, da Encyclopædia Britannica
Online: http://www.britannica.com/eb/article-68905 .
35James M. Powell, “ Francesco d'Assisi e la Quinta Crociata, Una
Missione di Pace ,” in Schede Medievali , 4 (1983), p. 75
36 Maier, pp. 16-17.
*Uma minoria de estudiosos a irma que a visita de Francisco ocorreu
alguns meses depois, apó s a queda de Damietta para os cruzados; no
entanto, naquela conjuntura nã o houve perı́odo de tré gua.

Capítulo 11.

T RIAL POR F IRE

1Sã o Boaventura, excertos de outras obras , Tr. de Benen Fahy, OFM,


no. 3; p. 838, Omnibus .
2Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 8; p. 704, Omnibus .
3Sã o Boaventura, Trechos , no. 3; p. 839, Omnibus .
4Anô nimo, São Francisco e o Sultão do Egito, Testemunhos do Século
XIII , Tr. de Paul Oligny OFM, no. 13; p. 1614, Omnibus .
5 Ibid .
6 Sra. Vaticano, Biblioteca Apostolica, Ottob. Lat. 522, f.243r (92r) , nota
de rodapé no. 19, citado em Maier, p. 14
7Powell, Anatomy of a Crusade , p. 143
8Maier, p. 14
9Knox, EL Skip, The Fifth Crusade , curso online da Boise State
University, http://crusades.boisestate.edu/5th/13.shtml .
10Rengers, Christopher, OFM Cap., Frades Franciscanos Capuchinhos,
Provı́ncia de Santo
Agostinho, http://www.capuchin.com/index.php?page=home .
11Fortini, pá g. 552.
12Anô nimo, São Francisco e o Sultão do Egito ,
no. 13; p. 1615, Omnibus .
13 Ibid .
14Powell, James M., Caminho da Paz de São Francisco de Assis , có pia do
manuscrito disponibilizada ao presente autor, cortesia do Professor
Powell. O artigo será publicado na pró xima ediçã o da revista
“Medieval Encounters”, publicada pela Brill, http://www.brill.nl .
15Maier, p. 16
16 Legend of Perugia , Tr. de Paul Oligny, no. 72; pp. 1048-
1049, Omnibus .
17Celano, Primeira Vida , Livro Um , Capı́tulo 20,
no. 57; p. 277, Omnibus .
18Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 9, no. 8; pp. 704-705, Omnibus .
19Celano, Primeira Vida , Livro Um , Capı́tulo 20,
no. 57; p. 277, Omnibus .
*O julgamento por provaçã o, també m conhecido como ordalia , era uma
prá tica comum nos tempos antigos e medievais para determinar a
culpa ou a inocê ncia de uma pessoa acusada.

Capítulo 12.

D EATHBED C ONVERSÃO ?

1Fortini, pá g. 553.


2Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; p. 1612, Omnibus .
3Celano, Primeira Vida , Livro Um , Capı́tulo 20, no. 57; p. 277, Omnibus .
4Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; p. 1612, Omnibus .
5 Little Flowers , Capı́tulo 24, nota de rodapé no. 3; p. 1519, Omnibus .
6Fortini, pá g. 554.
7Site o icial da Bası́lica e Convento Sagrado de Sã o Francisco em
Assis, http://www.sanfrancescoassisi.org/ .
8 Ibid .
9“Louvor de Aziz em Assis aos manifestantes,” Site da
CNN, http://www.cnn.com/2003/WORLD/meast/02/15/sprj.irq.azi
z.assisi.1330/index.html?eref=sitesearch .
10Fortini, nota de rodapé no. 3, pp. 554-555.
11 Pequenas Flores , Capı́tulo 24; p. 1354, Omnibus .
12 Legend of Perugia , no. 37; p. 1015, Omnibus .
13Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 5, no. 8; p. 668, Omnibus .
14Fortini, pá g. 553.
15Powell, “ Francesco d'Assisi e la Quinta Crociata,” p. 71
16Dante, The Divine Comedy: Paradiso , Canto XI, v. 100-
105, http://www.gutenberg.org/etext/8800 .
17Powell, Anatomy of a Crusade , p. 191.
18 Little Flowers , Capı́tulo 24, nota de rodapé no. 3; p. 1519, Omnibus .
19 Ibid ., “Introduçã o”, p. 1283.
20 Ibid ., Capı́tulo 24, p. 1355.
21 Ibidem , p. 1356.
22 Chalippe, pp. 173-174.
23Jacques de Vitry, História do Oriente , citado em Sezzi, p. 116
24Oliviero da Colonia, Epistola salutaris regi Babilonis , citado em Sezzi,
p. 117, traduçã o do autor atual.
25Roncaglia, p. 41

Capítulo 13.

T HE R ULE DE 1221

1 Cronologia ; p. xiii, Omnibus .


2Fortini, pá g. 558.
3Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 20, no. 57, nota de rodapé
no. 191; pp. 573-574, Omnibus .
4 Ibid .
5Roncaglia, p. 30
6 A regra de 1221 , Tr. de Benen Fahy, OFM, Introduçã o e notas de Placid
Hermann, OFM, nota de rodapé no. 7, pá g. 28, Omnibus .
7 Ibid ., Pp. 30-31.
8“A experiê ncia franciscana, 2. Escritos de Sã o Francisco de
Assis,” http://www.christusrex.org/www1/ofm/fra/FRAwr03.html .
9 Hoeberichts, p 47.
10Serge Tri kovic, The Sword of the Prophet , Boston, Regina Orthodox
Press, Inc., 2002, pp. 103-109.
11Robert Spencer, The Politically Incorrect Guide to Islam (and the
Crusades) , Washington, DC, Regnery Publishing, Inc., 2005, pp. 49-
54.
12“The Dhimmi: an
Overview,” http://www.dhimmi.com/dhimmi_overview.htm .
13“Jizya” (2007), em Encyclopædia Britannica. Recuperado em 12 de
março de 2007, da Encyclopædia Britannica
Online: http://www.britannica.com/eb/article-9043677 .
14Hilaire Belloc, “The Great and Enduring Heresy of Mohammed,”
originalmente de The Great Heresies in Muçulmanos: Suas Crenças,
Práticas e Política , Ridge ield, CT., Roger A. McCaffrey Publishing,
2002, p. 107
15“Os Escritos de Sã o Francisco de Assis”, The Regula Bullata ,
traduzido da ediçã o latina crı́tica de pe. Kajetan Esser, OFM, do
irmã o Alexis Bugnolo, Editor do Arquivo
Franciscano, http://www.franciscan-
archive.org/patriarcha/opera/rules.html ; usado com permissã o.
16Francis Borgia Steck, OFM, Glórias da Ordem Franciscana , Chicago,
Franciscan Herald Press, 1926, p. 49.
17Marion A. Habig, OFM, In Journeyings Often , New York, The
Franciscan Institute, 1953, p. 196
18“Os Escritos de Sã o Francisco de Assis”, The Regula non Bullata ,
traduzido da ediçã o latina crı́tica de pe. Kajetan Esser, OFM, do
Irmã o Alexis Bugnolo, Editor do Arquivo
Franciscano, http://www.franciscan-
archive.org/patriarcha/opera/rules.html ; usado com permissã o.

Capítulo 14.

T HE F RIMEIRO F RANCISCAN M ARTYRS

1Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; pp. 1612-


1613, Omnibus .
2Fortini, p. 491.
3Chalippe, p. 154
4Celano, Second Life, Livro Dois , Capı́tulo 158, no. 208; p. 528, Omnibus .
5Chalippe, p. 161
6 Ibid .
7 Ibidem , p. 162
8Fortini, pá g. 492.
9Chalippe, p. 192
10John V. Tolan, Saracens: Islam in the Medieval European Imagination ,
Nova York, Columbia University Press, 2002, pp. 216-217.
11Chalippe, p. 193.
12Sezzi, p. 113, traduçã o do autor atual.
13Marion A. Habig, OFM, The Franciscan Book of Saints , Chicago,
Franciscan Herald Press, 1959, p. 34
14“St. Anthony of Padua ”, de Nicolaus Del-Gal, em The Catholic
Encyclopedia , vol. I, 1907,
pá g. 556, http://www.newadvent.org/cathen/01556a.htm .
15Portal o icial de Santo Antô nio de
Pá dua, http://www.saintanthonyofpadua.net/portale/home.asp .
16 Butler's Lives of the Saints , Volume I, 16 de janeiro, “SS. Berard e
seus companheiros, má rtires ”, p. 103
17 Chronicle of Jordan , citado em Hoeberichts, p. 74
18Giordano da Giano, citado em Sezzi, p. 113
19 As admoestações , Tr. por Benen Fahy, OFM, Introduçã o e notas de
Placid Hermann, OFM, no. 6; p. 81, Omnibus .
20 Legend of Perugia , Tr. de Paul Oligny, no. 72; pp. 1048-
1049, Omnibus .
21Hoeberichts, p. 87
22 Legend of Perugia, Introdução , Theophile Desbonnets, Tr. por Paul
Oligny; pp. 959-971, Omnibus .
23Jacques de Vitry, História do Oriente , Capı́tulo 32; pp. 1612-
1613, Omnibus .
24Hoeberichts, p. 87
25 As admoestações , nã o. 6; p. 81, Omnibus .
26 Espelho da perfeição , Tr. por Leo Sherley-Price,
no. 4; p. 1131, Omnibus .
*Um livro em francê s do Professor John V. Tolan da Universidade de
Nantes discute as diferentes interpretaçõ es da visita histó rica de
Francisco ao Sultã o. Ele examina as obras de escritores e artistas ao
longo dos ú ltimos oito sé culos. Espera-se uma traduçã o para o inglê s
em 2008, segundo o autor. São Francisco e o Sultão: Une rencontre vue
à travers huit siècles de textes et images (Paris: Seuil, 2007) - São
Francisco e o Sultão: um encontro visto ao longo de oito séculos de
escritos e imagens .
Parte TRÊS

T HE S TIGMATIST
* http://www.vatican.va/holy_father/pius-
xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_30041926_rite-
expiatis_en.html .

Capítulo 15.

T HE C rêche DE L RECCIO

1Fortini, pá g. 564.


2 Butler's Lives of the Saints , Volume IV, 4 de outubro, “St. Francisco de
Assis, Fundador dos Frades Menores ”, p. 28
3Fortini, pá g. 568 (traduçã o do presente autor).
4Chalippe, p. 181.
5 Espelho da perfeição , nã o. 6; p. 1132, Omnibus .
6Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 11, no. 1; p. 712, Omnibus .
7 Ibid ., Capı́tulo 11, no. 2
8Celano, Second Life, Book Two , Chapter 104, no. 143; pp. 477-
478, Omnibus .
9Bası́lica Patriarcal de Santa Maria dos
Anjos, http://www.porziuncola.org/english/porziuncolaengli.htm .
10Traditional Franciscan Life, http://www.franciscan-
archive.org/index2.html .
11Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 10, no. 7; pp. 710-
711, Omnibus .
12Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 30,
no. 84; p. 300, Omnibus .
13Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 10, no. 7; pp. 710-
711, Omnibus .
14Chalippe, p. 251.
15“Crib”, de Stephen M. Donovan, em The Catholic Encyclopedia , vol. IV,
1908, p. 488, http://www.newadvent.org/cathen/04488c.htm .
16Fortini, pá g. 684 (traduçã o do autor).
17Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 30,
no. 85; p. 300, Omnibus .
18 Ibid ., Nã o. 86, pá g. 301.
19Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 10, no. 7; p. 711, Omnibus .
20Celano, Primeira Vida, Livro Um , Capı́tulo 30,
no. 86; p. 301, Omnibus .

Capítulo 16.

S EAL DO G Iving G OD

1Sã o Boaventura, Vida Principal , Prefá cio, no. 1; p. 632, Omnibus .


2Dante, The Divine Comedy: Paradiso , Canto XI, v. 52-
54, http://www.gutenberg.org/etext/8800 .
3 Pequenas lores, as considerações sobre os sagrados estigmas, a
primeira consideração ; p. 1432, Omnibus .
4 Ibid ., A segunda consideração ; p. 1442, Omnibus .
5Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 8, no. 10; p. 696, Omnibus .
6 Pequenas lores , a segunda consideração ; p. 1443, Omnibus .
7Celano, Second Life , Livro Dois , Capı́tulo 127,
no. 168; p. 498, Omnibus .
8Papa Pio XI, Rite Expiatis ,
n. 11, http://www.vatican.va/holy_father/pius-
xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_30041926_rite-
expiatis_en.html .
9Celano, First Life , Book Two , Chapter 2, no. 93; pp. 307-308, Omnibus .
10 Pequenas lores , a terceira consideração ; p. 1448, Omnibus .
11 Ibid .
12 Pequenas lores , a quinta consideração ; p. 1469, Omnibus .
13 Pequenas lores , a terceira consideração ; p. 1448, Omnibus .
14Celano, First Life , Book Two , Chapter 3, no. 94; p. 309, Omnibus .
15Sã o Boaventura, Trechos , no. 10; p. 842, Omnibus .
16Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 13, no. 3; p. 730, Omnibus .
17 Pequenas lores , a terceira consideração ; p. 1449, Omnibus .
18 Pequenas lores , a quinta consideraçã o ; pp. 1468-1469, Omnibus .
19“Mystical Stigmata”, de Aug. Poulain, em The Catholic Encyclopedia ,
vol. XIV, 1912,
pá g. 294, http://www.newadvent.org/cathen/14294b.htm
20Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 13, no. 3; p. 731, Omnibus .
21 Pequenas lores , a quinta consideraçã o ; p. 1469, Omnibus .
22 Ibid ., Pp. 1468-1469.
23Celano, First Life , Book Two , Chapter 3, no. 95; p. 310, Omnibus .
24Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 13, no. 4; pp. 731-
732, Omnibus .
25 Pequenas lores , a terceira consideraçã o ; p. 1451, Omnibus .
26 Ibidem , p. 1452.
*Alguns interpretam o seguinte versı́culo da Escritura como
signi icando que o Apó stolo Sã o Paulo recebeu os estigmas, embora
nã o haja nenhuma evidê ncia ou relato corroborante: “De agora em
diante nenhum homem me incomode, pois trago as marcas do Senhor
Jesus em meu corpo . ” ( Gálatas 6:17).

Capítulo 17.

G LORIOUS T RANSITUS

1 Pequenas lores , a terceira consideração ; p. 1449, Omnibus .


2 Pequenas lores , a quarta consideração ; p. 1454, Omnibus .
3 Ibid .
4Celano, Second Life , Livro Dois , Capı́tulo 64, no. 98; p. 443, Omnibus .
5 Pequenas lores , a quarta consideração ; pp. 1455-1456, Omnibus .
6Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 14, no. 2; p. 738, Omnibus .
7 Ibid ., Capı́tulo 14, no. 1; p. 737.
8 Ibid .
9 Legend of Perugia , no. 43; p. 1021, Omnibus .
10 Espelho da perfeição , nã o. 100; p. 1236, Omnibus .
11 Os Escritos de São Francisco , Tr. por Benen Fahy, OFM, com
Introduçã o e Notas de Placid Hermann, OFM; p. 128, Omnibus .
12Traduçã o com copyright do antigo texto italiano pelo irmã o Alexis
Bugnolo, editor do The Franciscan Archive, http://www.franciscan-
archive.org , usada com permissã o.
13“St. Francisco de Assis ”, de Paschal Robinson, em The Catholic
Encyclopedia , vol. VI, 1909,
pá g. 221, http://www.newadvent.org/cathen/06221a.htm .
14Fortini, pá g. 764.
15 Espelho da perfeição , nã o. 123; p. 1264, Omnibus .
16 Pequenas lores , a quarta consideração ; p. 1462, Omnibus .
17 Legend of Perugia , no. 98; p. 1075, Omnibus .
18 Ibid ., Nã o. 109; pp. 1084-1085.
19Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 14, nos. 3,4; pp. 738-
739, Omnibus .
20 Ibid ., Nã o. 5; p. 740.
21 Ibid .
22Celano, Primeira Vida , Livro Dois , Capı́tulo 8, no. 110; p. 324, Omnibus .
23Sã o Boaventura, Vida Menor de São Francisco , Tr. por Benen Fahy,
OFM, Capı́tulo 7, no. 6; p. 829, Omnibus .
24 Ibid .
25Sã o Boaventura, Vida Maior , Capı́tulo 15, no. 4; p. 743, Omnibus .
26 Legend of Perugia , no. 109; p. 1085, Omnibus .
27“St. Francisco de Assis ”, de Paschal Robinson, em The Catholic
Encyclopedia , vol. VI, 1909,
pá g. 221, http://www.newadvent.org/cathen/06221a.htm .

Conclusão

S T. F RANCIS E O S ULTAN

1John V. Tolan, Saracens , pp. 201-202.


2 Florzinhas , “Introduçã o”; p. 1283, Omnibus .
3 Três companheiros , Capı́tulo 7, no. 21; p. 911, Omnibus.
4Papa Gregó rio IX, Mira Circa Nos ,
no. 3, http://www.papalencyclicals.net/Greg09/g9mira.htm .
5Fortini, pá g. 14
6“Muhammad and Saint Francis,” de Giulio Basetti-Sani, OFM, incluı́do
em Roy M. Gasnick, Editor, The Francis Book: 800 Years with the Saint
de Assisi , Nova York, Macmillan Publishing Company, Inc., 1980,
p. 184
Apêndice

* http://www.vatican.va/holy_father/pius-
xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_30041926_rite-
expiatis_en.html .
Fontes

Mídia impressa

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Alexis Bugnolo, Editor do Arquivo
Franciscano, http://www.franciscan-
archive.org/patriarcha/opera/rules.html .

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1882 Comentá rio prá tico sobre a Sagrada Escritura. Bispo 30,00
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0095 As formas de oraçã o mental. Dom Vitalis Lehodey 16,50
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Cap
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1732 Três Idades / Int. Vida. Garrigou-Lagrange, OP 2 vol 48,00
1261 Bl. Francisco Marto de Fá tima. Cirrincione , comp 2,50
1997 Bl. Jacinta Marto de Fá tima. Cirrincione 3,00
1056 Os fatos sobre Luther. Mons. Patrick O'Hare 18,50
1061 Pequeno Catecismo do Cura d'Ars. São João Vianney 8,00
1060 O Cura d'Ars - Padroeiro dos Pá rocos. Fr. B. O'Brien 7,50
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1067 Isabella da Espanha: The Last Crusader. William Thomas 24,00
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1053 Personagens da Inquisiçã o. William Thomas Walsh 16,50
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1057 As quatro ú ltimas coisas - morte, julgamento, inferno, 9,00
cé u. Fr. von Cochem
10: Con issã o de um Cató lico Romano. Paul Whitcomb 2,50
25h
1024 A Igreja Cató lica tem a resposta. Paul Whitcomb 2,50
1031 O Guia do Pecador. Ven. Luís de Granada 15,00
1032 Verdadeira devoçã o a Maria. St. Louis De Montfort 9,00
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1023 Autobiogra ia de Santo Antô nio Maria Claret 13,00
1026 Eu espero por você. Irmã Josefa Menendez 1,50
1034 Palavras de amor. Menendez, Betrone, Maria da Trindade 8,00
0090 Pequenas Vidas dos Grandes Santos. John O'Kane Murray 20,00
1029 Oraçã o - a chave para a salvaçã o. Fr. Michael Müller 9,00
0080 Paixã o de Jesus e seu signi icado oculto. Fr. Groenings, SJ 15,00
2130 Cidade Mı́stica de Deus. 4 vols 85,00
0128 Câ nones e decretos do Concı́lio de 16,50
Trento. Tradução Schroeder
0748 Sermõ es de Santo Afonso de Ligó rio para todos os 18,50
domingos
0078 Um Catecismo do Modernismo. Fr. JB Lemius 7,50
0094 Alexandrina - a agonia e a gló ria. Johnston 7,00
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0200 Sã o Francisco de Paola. Simi e Segreti 9,00
0057 St. Martin de Porres. Giuliana Cavallini 15,00
0056 A Histó ria da Igreja. Johnson, Hannan, Dominica 22,50
0175 Inferno Quizzes. Rádio Respostas Imprensa 2,50
0171 Testes do purgató rio. Rádio Respostas Imprensa 2,50
0179 Testes de adoraçã o à Virgem e à Está tua. Rádio Respostas 2,50
Imprensa
0161 Oraçã o de meditaçã o sobre Maria Imaculada. Padre Pio 2,50
0063 Pequeno Livro da Obra do Amor In inito. de la Touche 3,50
1851 Concordâ ncia textual das Sagradas 35,00
Escrituras. Williams. pb
1772 Qual Bı́blia você deve ler? Thomas A. Nelson 4,00
0104 O Caminho do Amor Divino. Irmã Josefa Menendez 21,00
1973 Great Magdalens. Cego 18,50
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1747 Gló rias da graça divina. Fr. Matthias Scheeben 18,00
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1270 Salve Rainha Santa (das Glórias de Maria). Santo Afonso 9,00
1265 Novena das Sagradas Comunhõ es. Lovasik 2,50
1219 Breve Catecismo para Adultos. Cogan 12,50
1215 The Cath. Religiã o—Illus./Expl. para criança, adulto, 12,50
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1047 Milagres Eucarı́sticos. Joan Carroll Cruz 16,50
0199 Os Incorruptı́veis. Joan Carroll Cruz 16,50
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1048 Auto-Abandono à Providê ncia Divina. Fr. de Caussade, SJ 22,50
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0303 Profecia para hoje. Edward Connor 7,50
0504 Sã o Miguel e os Anjos. Fontes aprovadas 9,00
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1126 Santos modernos - suas vidas e faces, livro II. Ann Ball 23,00
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0086 Favores Divinos Concedidos a Sã o José . Père Binet 7,50
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0807 Catecismo do Concı́lio de Trento. McHugh / Callan 27,50
0136 O Pé da Cruz. Fr. Faber 18,00
0185 O Rosá rio em Açã o. John johnson 12,00
0115 Padre Pio - o estigmatista. Fr. Charles Carty 16,50
0162 Por que desperdiçar doenças? Frs. Rumble & Carty 4,00
0046 Fá tima - o grande sinal. Francis Johnston 12,00
1012 Heliotró pio - conformidade da vontade humana com a 15,00
divina. Drexelius
0750 Caridade para as almas sofredoras. Fr. John Nageleisen 18,00
0129 Devoçã o ao Sagrado Coraçã o de Jesus. Verheylezoon 16,50
0159 Quem é o Padre Pio? Rádio Respostas Imprensa 3,00
0157 The Stigmata and Modern Science. Fr. Charles Carty 2,50
0110 Santo Antô nio - o Milagroso de Pá dua. Stoddard 7,00
0132 O Precioso Sangue. Fr. Faber 16,50
0164 O Santo Sudá rio e as Quatro Visõ es. Fr. O'Connell 3,50
2127 Amor limpo no namoro. Fr. Lawrence Lovasik 4,50
0106 O Segredo do Rosá rio. St. Louis De Montfort 5,00
0101 A Histó ria do Anticristo. Rev. P. Huchede 4,00
1947 Onde temos a Bı́blia. Fr. Henry Graham 8,00
0111 Tesouro Oculto - Santa Missa. São Leonard 7,50
0149 Imitaçã o do Sagrado Coraçã o de Jesus. Fr. Arnoudt 18,50
0075 A Vida e as Gló rias de Sã o José . Edward Thompson 16,50
0144 Pè re Lamy. Biver 15,00
1860 Humildade de coração. Fr. Cajetan da Bergamo 10,00
0184 O Cura D'Ars. Abbé Francis Trochu 24,00
1013 Amor, Paz e Alegria. (Santa Gertrudes). Prévot 8,00

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Sobre o autor

Terceira Ordem (Secular) Franciscano, Frank Rega tem sido um


á vido aluno de Sã o Francisco de Assis e do Padre Pio. Seu primeiro livro
intitula-se Padre Pio e a América. Ele é o moderador de um grupo de
oraçã o e discussã o na Internet, Sã o Pio de Pietrelcina, com 350
membros, e hospeda um popular site do Padre
Pio, www.sanpadrepio.com . Um bolsista Henry Rutgers e membro Phi
Beta Kappa da Rutgers, o Sr. Rega estudou no Instituto de Relaçõ es
Humanas da Universidade de Yale com uma bolsa Woodrow
Wilson. Mais recentemente, ele foi consultor de software para a
Compuware Corp., designado para a NASA e projetos para o
Departamento de Segurança Interna.

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