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MODELO Mandado de Seguranca ANVISA
MODELO Mandado de Seguranca ANVISA
DISTRITO FEDERAL - DF
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—I— DA CONEXÃO ENTRE AS AÇÕES
Conforme dispõe o artigo 103, do Código de Processo Civil, são conexas as ações
quando lhes for comum o objeto e a causa de pedir.
Estabelece o artigo 253, inciso I, do mencionado diploma legal, por seu turno, que
serão distribuídas por dependências as causas de qualquer natureza quando se
relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada.
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“O que importa, nos institutos regidos pela conexidade, é a utilidade desta como
critério suficiente para impor certas conseqüências (prorrogação da competência,
reunião de processos) ou autorizar outras (litisconsórcio). Essa utilidade está
presente sempre que as providências a tomar sejam aptas a proporcionar a harmonia
de julgados ou a convicção única do julgador em relação a duas ou mais demandas
(Redenti). Ainda que ocorra a mera identidade parcial de títulos, será útil a
prorrogação da competência, com reunião das causas sob um juiz só, assim como será
útil a formação do litisconsórcio (dois ou mais sujeitos demandado ou sendo
demandados num só processo) ou a admissão da reconvenção – sempre que a convicção
para julgar haja de ser a mesma e não deva haver discrepância entre os julgamentos.
Conquanto vaga, essa orientação tem as vantagens da flexibilização de critérios,
permitindo ao juiz alguma margem de poder para a inteligente avaliação dos casos
concretos e da nulidade da medida a ser determinada.” (in Instituições de Direito
Processual Civil. Volume II. Ed. Malheiros. pp. 151 – destacou-se). Também
relevantes são as palavras de THEREZA ALVIM sobre o tema: ―Do texto, supra
transcrito, decorre a afirmação de alguns autores de ter o legislador encampado a
mais tênue ligação entre as ações, para reputá-las conexas. Contudo, outros casos
de conexão existem, pela própria natureza das coisas, que não podem ser
desconhecidos e, até mesmo com ligação mais tênue entre as duas ações, do que a
ligação prevista em lei, se não for interpretado extensivamente esse art. 103, do
diploma processual civil. Inegável a existência de causa de pedir próxima e remota,
porque essa dicotomia corresponde à realidade jurídica. Assim, toda petição
inicial, necessariamente, indicará o fato, que deu nascimento à pretensão, e os
fundamentos jurídicos do pedido (arts. 282, III e 295, parágrafo único, inc. I, do
Código de Processo Civil. O conglobamento de ambos, essenciais a qualquer lide,
recebe, por lei, a denominação de causa de pedir, mas, qualquer delas, comum a
ambas a ações, é suficiente para determinar a conexão‖ (in O Direito Processual de
Estar em Juízo, Editora Revista dos Tribunais, p. 130, destacou-se). Pede-se venia
para trazer a lume, em abono, a título exemplificativo, os seguintes precedentes do
Col. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
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―PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. CONEXÃO. JUSTO PREÇO.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
292 E 356/STF E 7/STJ. (...) 4. Em razão de conter elementos semelhantes,
perfeitamente correta a utilização, in casu, do instituto da conexão, cujo objetivo
maior é o de evitar a prolação de decisões contraditórias‖ (STJ, 4ª Turma, Resp
94.600-MS, Rel. Min. Castro Meira, DJ 16.11.2004 – destacou-se)
----------------------------------------------------------------------------
―CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES COM IDÊNTICO OBJETO: SANDÁLIAS „IPANEMA‟.
CONEXÃO. PREVENÇÃO. JUÍZES COM JURISDIÇÃO TERRITORIAL DIVERSA. PRECEDENTES.
Processos que envolvem um mesmo objeto (uso de marcas e modelos) são conexos. Não
se exige identidade. Basta que deles se extraia a conveniência de os dois receberem
julgamento por um só juiz, evitando-se decisões contraditórias‖ (STJ, 2ª Seção, CC
37.805-CE, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 01.07.2005 – destacou-se)
----------------------------------------------------------------------------“PROCES
SUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA LITISPENDÊNCIA NÃO CARACTERIZADA.
CONEXÃO E CONTINÊNCIA. LITISPENDÊNCIA PARCIAL. 1. A litispendência ocorre quando
forem propostas ações com as mesmas partes litigantes, o mesmo pedido e a mesma
causa de pedir, consoante dispõe o art. 301, § 1º, do CPC. 2. A ratio essendi da
litispendência visa a que a parte não promova duas demandas visando o mesmo
resultado, o que, frise-se, em regra, ocorre quando o autor formula em face do
mesmo sujeito, idêntico pedido, fundado da mesma causa de pedir. 3. In casu, há
identidade parcial dos pedidos, porquanto o do segundo mandamus (declaração de
isenção da COFINS e compensação) é mais abrangente que o do primeiro (declaração de
isenção da COFINS) o que configura a continência, que é espécie de litispendência
parcial. 4. O instituto da continência, como na conexão, importa a reunião dos
processos, que visa evitar o risco de decisões inconciliáveis. Por esse motivo,
diz-se, também, que são conexas duas ou mais ações quando, em sendo julgadas
separadamente, podem gerar decisões inconciliáveis, sob o ângulo lógico e prático.”
(...) (STJ – 1ª Turma - REsp 953034/PR - Rel. Min. LUIZ FUX - DJe 29.06.2009)
(destacou-se) Tenha-se presente, ainda, que o Col. SUPERIOR TRIBUNAL
DE
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que sejam proferidas decisões conflitantes é suficiente até mesmo para ensejar a
propositura de conflito de competência (STJ, 1ª. Seção, AgRg no CC 66.507/DF, Rel.
Min. Castro Meira, DJ 12.05.2008).
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(...)
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Ou seja, a ANVISA jamais apresentou à Impetrante resposta, com a devida motivação -
ínsita, aliás, a qualquer ato administrativo -, às manifestações por ela
apresentadas no âmbito daquela consulta pública, na forma da legislação de
regência. Também não deu publicidade a qualquer documento dessa natureza.
Ou seja, a reunião tinha por objetivo definir a data em que o produto METAMIDOFÓS
não mais seria comercializado, não deixando dúvida de que naquela oportunidade já
havia uma decisão final, que jamais havia sido comunicada à Impetrante.
Sem dúvida alguma, essa situação revela a adoção, pela ANVISA, de um processo
sigiloso, ao menos em sua parte substancial.
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Gerente Geral de Toxicologia daquela Autarquia a concessão de vista dos autos do
processo de reavaliação do Metamidofós..
Fato é que nem mesmo naquela oportunidade, quando da reiteração do pedido de vista
dos autos, a Impetrante pôde ter acesso aos autos do processo administrativo ou à
decisão proferida pela Diretoria Colegiada. De acordo com a ANVISA, os pedidos da
Impetrante ainda não haviam sido processados internamente e, em razão disso, não
poderiam ser atendidos naquela data
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Não bastasse o quanto exposto, ainda para a maior surpresa da Impetrante, em
17.01.2011 — portanto, apenas 04 (quatro) dias após a citada reunião (incluindo-se
aí um final de semana) —, a ANVISA fez publicar no Diário Oficial a Resolução da
Diretoria Colegiada de nº. 01 (RDC nº. 01/2011).
Saliente-se, por relevante, que nem mesmo após a publicação da decisão final a
Impetrante teve atendido os seus pedidos anteriormente formulados de acesso aos
autos do processo administrativo e aos documentos que embasaram a decisão final,
refletida na já referida Resolução da Diretoria Colegiada de nº. 01 (RDC nº.
01/2011). Vale dizer, o decêndio previsto no artigo 59 da Lei nº. 9.784/991 para
que a Impetrante possa interpor recurso administrativo — inclusive recurso
administrativo hierárquico — foi deflagrado sem que ela tenha a oportunidade de
conhecer todos os atos relativos ao processo administrativo correspondente, a
despeito de sucessivos pedidos.
. Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de 10 (dez) dias o prazo para
interposição de recurso administrativo, contado a partir da ciência ou divulgação
oficial da decisão recorrida”
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Oportuno ressaltar, entretanto, que a medida liminar concedida por Vossa Excelência
não foi prontamente obedecida pelas autoridades coatoras, tendo a ANVISA criado
óbices infundados para o cumprimento do mandamus, conforme notificação recebida às
16:19h do dia 21.01.2011 (uma sexta-feira), dois dias após o deferimento da medida
liminar por esse D. Juízo, fazendo exigências descabidas para vistas e extração de
cópias reprográficas do processo administrativo.
Diante das infundadas restrições impostas pela Anvisa, ciente de que o procedimento
arbitrário adotado colocaria a Impetrante em eminente risco de não ter acesso aos
autos no prazo necessário para a apresentação de seu recurso, em aditamento a
petição inicial, foi requerido a este D. Juízo que a contagem do prazo se
reiniciaria apenas após a vista efetiva vista dos autos, pretensão deferida nos
seguintes termos: “Ante o exposto, determino que seja concedida ao impetrante vista
dos autos do Processo Administrativo de reavaliação toxicológica de produtos
técnicos e formulados à base do ingrediente ativo METAMIDOFÓS, inclusive de todos
os documentos que fundamentaram a decisão proferida. A contagem do prazo para
eventual recurso somente se iniciará após a vista. Publica. Intimar o Diretor-
Presidente da ANVISA para cumprir a decisão liminar em 72 horas, e para prestar
informações no prazo de 10 dias. Após, ao MPF. Retifique-se a autuação para que
conste no pólo passivo apenas o Diretor-Presidente da ANVISA.” (destacou-se) Tal
decisão, proferida em 24 de janeiro de 2011 e integralizadora da liminar
anteriormente deferida, foi reiteradamente descumprida pela ANVISA, tendo a
Impetrante obtido vista do processo administrativo somente em 02 de fevereiro de
2011– esclareça-se, acesso parcial dos documentos que o compõem -, iniciando seu
prazo para a apresentação do recurso, encerrado em 14 de fevereiro de 2011.
“Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face das razões de
legalidade e de mérito.” www.teixeiramartins.com.br
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Interposto tempestivamente o recurso administrativo, uma vez mais a ANVISA cerceou
direito da impetrante, não promovendo, como exige o artigo 26 da Lei Federal nº
9.784 de 29 de janeiro de 1999, sua intimação para a Reunião Presencial Aberta ao
Público nº 02/2011 designada para 21 de março de 2011, na qual, conforme ata
aprovada em 03.03.2003, restou designado o julgamento de seu recurso.
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É o que, adiante, se passa a expor. — III— DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO: Da Patente
Violação ao Devido Processo Legal e aos Princípios do Contraditório e da Ampla
Defesa – Cerceamento de Defesa - Ato ilegal da Diretoria Colegiada da ANVISA –
Cabimento do Recurso – Ato da ANVISA sujeito a Controle
Não se deve perder de vista, contudo, as razões que impõem que a atuação da
Administração seja, cada vez mais, procedimentalizada. Trata-se, em realidade, de
imperativo que diz com a legitimação dos atos da Administração, bem como com o seu
controle.
Ou seja, o controle que se exerce sobre os atos da Administração Pública é cada vez
mais intenso, notadamente porque o processo permite um controle dinâmico. O
controle do ato apenas, por exemplo, é somente superveniente, ou ainda, como
preferem alguns doutrinadores, trata-se de controle ex-post factum. O processo, por
outro lado, permite um controle constante e dinâmico, como visto.
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Fala-se,
ainda,
de
uma
função
garantista
do
processo
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A respeito do devido processo legal e de sua correlação com a garantia de direitos
dos administrados, assevera com maestria EGON BOCKMANN MOREIRA: “O adjetivo ´devido
´ reporta-se à adequação da conduta administrativa. Atuação adequada, tal como
exigida pela Constituição, é aquela que atende às expectativas mínimas de um Estado
Democrático de Direito, devendo corresponder e satisfazer o que se espera de uma
Administração aberta e participativa, em que se garante ao particular voz ativa, em
condição de igualdade com o ente público e sem qualquer espécie de submissão e /ou
supressão de expectações. A adequação confere ao cidadão segurança e certeza que
seus direitos serão respeitados. O processo será instalado e conduzido de maneira
equitativa, com observância do rol de garantias constitucionais e legais. O núcleo
do objetivo visado pelo Estado está no prestigio à dignidade da pessoa humana, não
à máquina administrativa. (―Processo Administrativo: princípios constitucionais e a
Lei 9.784/1999‖ – 3ª edição atualizada, revista e aumentada – São Paulo: Malheiros,
2007 – p.281-282) (Destacou-se) Portanto, é corolário do princípio do devido
processo legal que os demais princípios atinentes ao processo administrativo sejam
respeitados pelos atores que dele participam. Afinal, a mera instauração de
simulacro de processo administrativo não garante de maneira plena a observância dos
princípios mais basilares do processo administrativo, tais como o contraditório,
ampla defesa, publicidade, eficiência e demais arrolados no caput do artigo 2º da
Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 19994.
Aliás, os princípios do contraditório e da ampla defesa, que poderiam até mesmo ser
reunidos sob a rubrica do ―direito à participação no processo administrativo‖, são
garantias que encontram fundamento na própria Constituição. Outro não é teor do
artigo 5º, LV: ―Art. 5 º - (....) LV – aos litigantes em processo judicial ou
administrativo, e aos acusado em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes‖
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administrativo. Contudo, é de se constatar que os órgãos públicos ainda resistem em
adotar procedimentos integralmente convergentes com tais princípios.
Fato é que diversas ilegalidades podem ser extraídas da conduta da ANVISA: (i) por
primeiro, não compete à Diretoria Colegiada da ANVISA se manifestar sobre o
cabimento do recurso direcionado ao Ministro de Estado da Saúde, tendo ocorrido
verdadeira usurpação de competência; (ii) jamais poderia aquele órgão jurídico
obstar o processamento de recurso regularmente interposto, sob pena de verdadeiro
cerceamento de defesa.
Frise-se, uma vez mais, que o princípio do contraditório não deve ser mera garantia
formal, no sentido de que se estabeleça um simulacro ou arremedo de processo
administrativo, o qual, contudo, cede ante uma análise mais detida da questão. Em
outros termos, de nada adianta assinalar-se prazo para que a Impetrante recorrer de
decisão proferida pela Diretoria Colegiada, se o recurso, regular e tempestivamente
apresentado, não puder ser regularmente processado.
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Os Tribunais também são assentes neste sentido. Vejamos: ―ADMINISTRATIVO. RÁDIO
COMUNITÁRIA. PROCESSO ADMINISTRATIVO. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO. MORA DA ADMINISTRAÇÃO.
ESPERA DE CINCO ANOS DA RÁDIO REQUERENTE. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E
DA RAZOABILIDADE. INEXISTÊNCIA. VULNERAÇÃO DOS ARTIGOS 165, 458, I, II, II E 535,
II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO NA SEARA
DO PODER EXECUTIVO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PELA ALEGATIVA DE VIOLAÇÃO DOS
ARTIGOS 2º DA LEI 9612/98 70 DA LEI 4.117/62 EM FACE DA AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DOS DEMAIS ARTIGOS ELENCADOS PELAS RECORRENTES. DESPROVIMENTO
(....) A lei 9.784/99 foi promulgada justamente para introduzir no nosso
ordenamento jurídico o instituto da mora administrativa como forma de reprimir o
arbítrio administrativo, pois não obstante a discricionariedade que reveste o ato
de autorização, não se pode conceber que o cidadão fique sujeito a uma espera
abusiva que não deve ser tolerada e que está sujeita, sim, ao controle do
Judiciário a quem incumbe a preservação dos direitos, posto que visa a efetiva
observância da lei em cada caso concreto. 5. O Poder Concedente deve observar
prazos razoáveis para instrução e conclusão dos processos de outorga de autorização
para funcionamento, não podendo estes prolongar-se por tempo indeterminado”, sob
pena de violação dos princípios da eficiência e da razoabilidade.” (STJ – Resp nº
690.811-RS – 1ª Turma – Rel. Min. JOSÉ DELGADO – DJ 19.12.2005) (Destacou-se) No
caso sob análise, nítido se revela que a violação da regra de competência se deu
porque não cabia à Diretoria Colegiada da ANVISA realizar juízo de admissibilidade
do recurso, mas, apenas, decidir se era o caso ou não de reconsiderar sua decisão à
luz do pedido aduzido no Recurso Administrativo, nos termos do que prescreve o já
citado artigo 56, §1º.
Vale dizer, não compete, em hipótese alguma, à Diretoria Colegiada da ANVISA obstar
a reapreciação do pedido pelo Ministro de Estado da Saúde. Em realidade, a tal
órgão acabou por decidir a questão, sem, contudo, que tivesse competência para
tanto!! Houve verdadeira usurpação de atribuição legal, em prejuízo
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dos mais comezinhos princípios que asseguram um processo administrativo hígido em
favor dos administrados. A esse respeito, importante trazer à colação recente
decisão proferida pelo Juízo da 9ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito
Federal, nos autos do Mandado de Segurança nº 0022272-22.2011.4.01.3400, em tudo e
por tudo semelhante ao caso em análise, já que no citado processo a Procuradoria
Jurídica da INFRAERO obstou a apreciação do recurso administrativo pelo Conselho de
Administração e, posteriormente, pela ANAC.
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Enfim, não restam dúvidas de que a deliberação da Diretoria Colegiada da ANVISA
tomada na reunião púbica ordinária nº 02/2011, que acolheu o Parecer CONS nº
48/2011 da Procuradoria da ANVISA, ao deixar de processar o recurso administrativo
hierárquico impróprio manejado pela Impetrante, é
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Sob o ângulo subjetivo, os recursos administrativos podem ser considerados como
instrumentos de proteção de direitos e interesses eventualmente lesados pela
Administração, pois permitem reagir a decisões e medidas adotadas. Apresentam-se
menos formalistas e onerosos que as ações perante o Judiciário, dispensando o
patrocínio de advogado. Por outro lado o reexame suscitado pelo recurso abrange
questões atinentes à legalidade e ao mérito das decisões. O direito de interpor
recurso administrativo foi afirmado no direito francês como um princípio geral,
mesmo sem texto que o preveja explicitamente. Esse entendimento deve prevalecer
também no ordenamento pátrio, sobretudo ante o direito de petição assegurado na
Constituição Federal, art. 5º, XXXIV, a. Além do mais, decorre da garantia de ampla
defesa nos processos administrativos em geral, prevista na Constituição Federal,
art. 5º, LV.” (Direito Administrativo Moderno, 10ª edição, São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2006, pp. 378-79) Em verdade, o cabimento de recurso no âmbito do
processo administrativo com vistas a reformar, nos aspectos de mérito e de
legalidade, decisão anteriormente proferida é, ademais, respaldado pelo princípio
da revisibilidade das decisões, expressamente acolhido pela melhor doutrina
administrativista. Vejamos o que ensina o ilustre juspublicista CELSO ANTÔNIO
BANDEIRA DE MELLO a esse respeito: ―Princípio da revisibilidade. Consiste no
direito de o administrado recorrer de decisão que lhe seja desfavorável. O STF
reconheceu o direito ao duplo grau de jurisdição e afastou a exigência de prévio
depósito ou caução para interposição de recurso administrativo (REs 388.359,
389.383 e 390.513 e ADI 1.976)..” Sobre o mesmo princípio, porém valendo-se de
terminologia distinta – qual seja, duplo grau de jurisdição administrativa-,
discorrem com propriedade mais uma vez SÉRGIO FERRAZ e ADILSON ABREU DALLARI: “O
duplo grau de jurisdição administrativa é um princípio tão elementar na teoria
geral do processo que muito pouco existe na doutrina a seu respeito.
Evidententemente, é ainda mais escassa a literatura a respeito do duplo grau de
jurisdição administrativa. O direito ao reexame de uma decisão parece e,
efetivamente é, elementar ao devido processo legal. (...) 22
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De todo modo, o direito ao recurso de decisão proferida inauguralmente pela
Administração Pública está usualmente previsto nas leis de processo administrativo,
inclusive aquelas que cuidam de assuntos específicos ou que estabelecem
procedimentos especiais, mesmo as que foram editadas antes da promulgação da
Constituição Federal de 1988, por se entender que isso é um imperativo de justiça,
configurando um princípio geral de Direito. A possibilidade de um reexame da
decisão retira o arbítrio de quem decide e obriga a que a decisão proferida seja
devidamente fundamentada e motivada, abrindo ensejo à possibilidade de controle,
inclusive judicial, sem o qual não existe o chamado Estado de Direito.” (Processo
Administrativo, São Paulo: Ed. Malheiros, 2003, pp. 88-89) No caso vertente, a
autoridade prolatora da r. decisão recorrida (a saber: a RDC ANVISA nº. 01/2011) é
a Diretoria colegiada da ANVISA, ou seja, seu órgão interno máximo, consoante
disposto no artigo 15, §2º da Lei nº 9.782/995, o que predica, por uma conclusão
lógica e insofismável, que a r. decisão final é de último grau interno.
Art. 15. Compete à Diretoria Colegiada: (...): § 2o Dos atos praticados pela
Agência caberá recurso à Diretoria Colegiada, com efeito suspensivo, como última 23
instância administrativa”
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Aliás, com respeito às atribuições deste Ministério, o Decreto nº. 7.336, de 2010,
que regulamenta a Lei supra mencionada, é ainda mais incisivo em seu Anexo I: “Art.
1º O Ministério da Saúde, órgão da administração direta, tem como área de
competência os seguintes assuntos: I - política nacional de saúde; II - coordenação
e fiscalização do Sistema Único de Saúde; III - saúde ambiental e ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva, inclusive a dos
trabalhadores e a dos índios; IV - informações de saúde; V - insumos críticos para
a saúde; VI - ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de
fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos; VII - vigilância de saúde,
especialmente quanto às drogas, medicamentos e alimentos; e VIII - pesquisa
científica e tecnológica na área de saúde.” Nesse sentido, claro se afigura que o
escopo de atuação da ANVISA (ex.: insumos críticos para a saúde; ação preventiva em
geral, vigilância e controle sanitário de fronteiras e de portos marítimos e
fluviais, dentre outros) está abarcado pelo escopo mais abrangente da Pasta à qual
aquela autarquia está submetida e vinculada.
Sob outro ângulo, é nítido e irrefutável que as políticas públicas a serem traçadas
nas linhas de atuação circunscritas no artigo supra transcrito cabem,
primordialmente, ao Ministério da Saúde. Daí ser corolário lógico que quaisquer
atos expedidos pela ANVISA estão sujeitos à revisão do Ministério competente, no
caso o da Saúde, notadamente quando tais atos se revestirem de ilegalidade!! Mas
não apenas, como se demonstrará adiante.
E não poderia ser de outra forma, porquanto as Agências reguladoras, em que pese
sua autonomia, estão submetidas incondicionalmente à supervisão da Presidência da
República e respectivos Ministérios, inclusive com fundamento nos arts. 76, 84, II
e 87, parágrafo único, I, da Constituição Federal 6, até mesmo porque seus atos
devem ser compatíveis com as finalidades institucionais e com as políticas públicas
do País, como demonstrado acima.
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19.6.2006, Seção 1, páginas 1-11, para os efeitos do art. 40, § 1º, da Lei
Complementar nº 73/037 --, que adotou, ―nos termos do Despacho do Consultor-Geral
da União nº 438/2006, para os fins do art. 41 da Lei Complementar nº 73, de 10 de
fevereiro de 1993, o anexo PARECER Nº AGU/MS-04/06, de 23 de maio de 2006, da lavra
do Consultor da União, Dr. MARCELO DE SIQUEIRA FREITAS, e submeto-o ao
EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA‖.
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Constituição e pelas leis, em cujos limites, por isso, exercem também a supervisão
e controle dos órgãos intermediários e inferiores da administração. Em outros
termos, a adequada compreensão como acima mencionada se fixa pela exata
inteligência constitucional que exclui nichos de autonomia absoluta no interior da
administração e pela necessária atenção ao sistema constitucional de regulação.
Nesse quadro é que se deve desenvolver a discussão ora descrita no parecer em
causa. Assim, a questão não é a quantidade de autonomia destinada pela lei às
agências reguladoras senão a intensidade da supervisão que lhes pode votar a
administração direta dos Ministérios. Nesse sentido, a argumentação do parecer
referido é precisa ao definir as bordas da “autonomia” reguladora titulada por elas
nos limites de suas precípuas finalidades legais e na escrupulosa sintonia com as
políticas públicas a cargo dos ministérios. A rigor, uma e outra têm sede legal ou
constitucional, daí porque em verdade a controvérsia não se situa no reconhecimento
da autonomia ou não, mas na compreensão da vontade legal-constitucional relacionada
com a atividade de cada uma delas. Nessa linha de compreensão, as ações e
atividades das agências reguladoras, embora submetidas ao mesmo regime de
supervisão, só desfrutam dessa pretendida autonomia na medida em que desempenhem
seus encargos ou poderes no limite da competência legal, situação em que a
supervisão ministerial fica inversamente mitigada, o que, de resto, é comum a todas
as entidades da administração indireta. Assim, o pressuposto necessário da premissa
é a existência incondicional da supervisão ministerial como traço essencial do
regime presidencialista vigente - que, aliás, repita-se, não é mera aplicação das
regras do Decreto-Lei n° 200/1967, mas reconhecimento da aplicação sistemática das
prerrogativas constitucionais de regulação privativas do Presidente da República -
e então a aferição da autonomia das agências e de suas condutas além de diretamente
vinculadas às suas finalidades institucionais se mede principalmente pela adequada
compatibilização com as políticas públicas adotadas pelo Presidente a República e
os Ministérios que o auxiliam. Pelas mesmas razões, o cabimento do recurso
hierárquico impróprio não encontra objeções já que inexiste área administrativa
imune à supervisão ministerial, reduzindo-se, contudo, o âmbito de seu cabimento,
de modo idêntico, na mesma razão inversa da obediência às políticas de iniciativa
do Ministério supervisor. Em suma, não há suficiente autonomia para as agências que
lhes possa permitir ladear, mesmo dentro da lei, as políticas e orientações da
administração superior, visto que a autonomia de que dispõem serve justamente para
a precípua atenção aos objetivos públicos. Não é outra, portanto, a conclusão com
respeito à supervisão ministerial que se há de exercer sempre pela autoridade
ministerial competente, reduzindo-se, no entanto, à medida que, nos limites da lei,
se atendam às políticas públicas legitimamente formuladas pelos Ministérios
setoriais. Por isso, 27
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se afirma que a autonomia existe apenas para o perfeito cumprimento de suas
finalidades legais.” Impende salientar, por oportuno, que o citado Parecer
vinculante, embora analisasse precipuamente a vinculação da ANTAQ ao Ministério dos
Transportes, faz expressa referência à revisão de decisões proferidas pela ANVISA
ao frisar que ―E essa autonomia decisória das agências, atualmente, seria
compartilhada em determinado grau por todas elas, pois nada justifica que apenas
ANATEL, ANVISA, ANS e ANAC não estivessem sujeitas à revisão ministerial (...)”
(destacou-se).
E nem se argumente que este raciocínio, externado no acórdão acima transcrito, não
se aplicaria às agências reguladoras por faltar-lhes o requisito de subordinação
hierárquica aos Ministérios. Com efeito, mesmo nos casos de subordinação por
vinculação (como é a hipótese das agências em respeito aos respectivos
Ministérios), e, portanto, nos casos do dito recurso hierárquico impróprio, o
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entendimento da E. Corte Superior é o mesmo. Senão vejamos:
Com efeito, assevera MARCOS JURUENA VILLELA SOUTO: “Os Ministérios e as Secretarias
exercem sobre os órgãos de sua estrutura administrativa um controle interno,
utilizando-se de hierarquia (controle por subordinação) e sobre as pessoas da
Administração Indireta (controle externo e por vinculação) um controle finalístico
(supervisão), podendo ser instrumentalizado em contrato de gestão. A este último
ficam sujeitas as agências reguladoras, já que, como dito, a independência não
afasta a incidência da norma constitucional que as submete à direção superior do
chefe do Poder Executivo.” (Direito 29
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Administrativo Regulatório, Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002, p. 253) Impende
observar, contudo, que os Ministérios não exercem apenas um controle finalístico
sobre as atividades das agências reguladoras. Há, importante que se diga, um
controle mais amplo, o qual, ademais, é respaldado pela previsão do artigo 19 do
Decreto-lei nº. 200/67:
“Não é demais recordar que a doutrina, acertadamente, encarece que o controle das
autarquias existe nos casos, forma e modos que a lei estabelece (...) A ingerência
que cabe à Administração Central exercer sobre elas e a própria integração de suas
atividades no planejamento geral administrativo hão de realizar-se segundo os meios
que a lei haja previsto, ao estabelecer o controle da entidade autárquica. Tal
controle configura a chamada tutela ordinária. Cumpre observar, entretanto, que a
doutrina admite, em circunstâncias excepcionais, perante casos de descalabro
administrativo, de graves distorções no comportamento da autarquia, que a
Administração Central, para coibir desmandos sérios, possa exercer, mesmo à falta
de disposição legal que a instrumente, o que denominam tutela extradordinária.”
(Curso de Direito Administrativo, 2ª edição, São Paulo:Ed. Malheiros, 2010, p. 164)
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No caso em análise, qual seja, o processo administrativo de reavaliação
toxicológica do Metamidofós, o qual culminou na edição da indigitada RDC ANVISA nº.
01/2011,é até mesmo difícil cindir o que seja legitimidade/legalidade de mérito do
ato administrativo, eis que, como visto, tantas e tamanhas foram as atrocidades
cometidas ao longo do processo, que o ato final restou viciado desde sua origem.
Por outro lado, a doutrina contemporânea até mesmo admite que não existem contornos
precisos e claramente delimitados do que seja mérito e legalidade do ato
administrativo, de modo que hodiernamente se preconiza, em matéria de controle dos
atos administrativos, que tanto os aspectos de legalidade quanto os de mérito são
sindicáveis.
A esse respeito, valemo-nos, uma vez mais, das palavras da Ilustre Profa. ODETE
MEDAUAR, que, ao discorrer sobre a ampliação do controle jurisdicional em relação
aos atos administrativos, claramente evidencia a ampliação da noção de legalidade:
“A tendência da ampliação do controle jurisdicional da Administração se acentuou a
partir da Constituição Federal de 1988. O texto de 1988 está impregnado de um
espírito geral de priorização dos direitos e garantias ante o poder público. Uma
das decorrências desse espírito vislumbra-se na indicação de mais parâmetros de
atuação, mesmo discricionária, da Administração, tais como o princípio da
moralidade e o princípio da impessoalidade. O princípio da publicidade, por sua
vez, impõe transparência na atuação administrativa, o que enseja maior controle. E
a ação popular pode ter como um dos seus fulcros a anulação de ato lesivo da
moralidade administrativa, independentemente de considerações de estrita
legalidade. Hoje no ordenamento pátrio, sem dúvida, a legalidade assenta em bases
mais amplas e, por conseguinte, há respaldo constitucional para um controle
jurisdicional mais amplo sobre a atividade da Administração, como coroamento de uma
evolução já verificada na doutrina e na jurisprudência antes de outubro de 1988.‖
(Direito Administrativo Moderno, 10ª edição, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,
2006, p. 395)
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Ou seja, a clássica distinção entre atos vinculados e discricionários – os
primeiros correspondendo àqueles através dos quais a Administração pratica a única
conduta permitida em lei (ou seja, em que à Administração é vedada conduta
diversa), e os segundos dizendo respeito, em sentido inverso, às hipóteses em que a
Administração, através de análise de conveniência e oportunidade (mérito), tem
liberdade no agir e decidir – não se presta, na atualidade, a definir quais os atos
que devam ou não ser objeto de controle!!
Neste ponto, não há como prevalecer o entendimento exposto no parecer emitido pela
Procuradoria da ANVISA, visto que a especialidade da atividade desenvolvida pelo
órgão não torna suas decisões imunes à revisibilidade no âmbito administrativo. Nem
mesmo o ―maior grau de autonomia decisória‖ pode ser invocado como argumento para
afastar a competência do Ministro de Estado da Saúde, autoridade máxima da esfera
administrativa, para apreciar os recursos contra as decisões proferidas por tais
órgãos.
“O fato da agência reguladora ser independente não significa que não possa ser
objeto de controle. Esse controle pode ser administrativo, via contrato de gestão,
controle social – por meio do direito de petição a ouvidorias ou aos legitimados à
apreciação da validade dos atos – ou até por meio do recurso hierárquico impróprio
(que se limite à declaração de ilegalidade de atos regulatórios, após prévio
parecer jurídico sobre o tema); pode se dar o controle no âmbito do Pode
Legislativo (para sustação dos efeitos dos atos ilegais) e dos Tribunais de Contas
(limitado este ao exame das contas e não da parte regulatória em si) e, por fim, o
controle judicial” (SOUTO, Marcos Juruena Villela Souto. As Agências Reguladoras e
os Princípios Constitucionais)
Por outro ângulo que se analise a questão, o direito de petição, como natural
corolário do princípio do devido processo legal, é cláusula pétrea e direito
fundamental do cidadão, de modo que não seria aceitável que uma decisão proferida
em única e última instância administrativa não pudesse ser objeto de reavaliação.
Por outro lado, a vedação ao duplo grau de jurisdição na esfera administrativa
importaria no cerceamento do direito constitucionalmente assegurado ao
contraditório e à ampla defesa. Na lição de JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO:
O art. 7º, III, da Lei Federal nº. 12.016/09, estabelece o seguinte: “Artigo 7º -
Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) III - que se suspenda o ato que deu
motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder
resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado
exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica”. A concessão de liminar é ínsita ao mandado de
segurança uma vez que a sua finalidade é obstar a prática de uma ilegalidade pelo
Poder Público e, ainda, conservar in natura o direito perseguido.
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fruição integral, plena e „in natura‟ do bem da vida por ele reclamado, o caso é de
„ineficácia da medida‟ („periculum in mora‟) e, pois, desde que diante de
fundamento relevante, de concessão da liminar...” (p. 68). E em outro trabalho
doutrinário sobre o tema (Liminar em Mandado de Segurança, Editora Revista dos
Tribunais, 2ª edição), o mesmo Jurista afirma, com propriedade, o seguinte: ―Como a
própria evolução destes textos legislativos [CPC de 1939 e Lei 1.531] é
transparente em demonstrar, no atual regime, o legislador acabou por assumir, em
plena consonância com a previsão constitucional do mandado de segurança (...), que
o ‘periculum in mora’ revista-se tão-somente da ineficácia da medida, valorando,
portanto, a conservação da possibilidade de fruição ‘in natura’ do bem questionado
se concedida, a final, a ordem. Se, como visto, o mandado de segurança volta-se,
precipuamente, à garantia plena do bem da via questionado, não desejando o
constituinte sua conversão (ou conversibilidade) em perdas e danos, não poderia ser
outro o comando da previsão legal da liminar no mandado de segurança, até mesmo de
acabar por minimizar a potencialidade plena que pode ser extraída da Constituição
em prol do instituto (p. 68). (....) Temos como correto o entendimento pelo qual
„há dano irreparável toda vez que, por ato ilegal ou abusivo, atinge-se direito
subjetivo da parte, somente afastado mediante a tutela jurisdicional, até porque,
„reconhecida a plausibilidade do direito nos pródomos do mandado de segurança, não
há mais como coonestar sua exposição aos riscos da autuação fiscal, já que
comportam estes avaliação objetiva. Como efeito, como já referido por diversas
vezes, o mandado de segurança é ação predisposta à conservação do bem „in natura‟
sendo contrário à sua „ratio‟ e à sua previsão constitucional entender-se reparável
o bem da vida em questão. (...) Não se trata de outorgar ao impetrante uma posição
mais favorável que outro no pólo da relação processual (no caso, o Estado ou quem
lhe faça as vezes), mas, antes, em resguardo a plena eficácia final da decisão, se
concedida em natura, de evitar que a duração do processo resulte em uma alteração
do equilíbrio inicial da força entre as partes, mormente como na hipótese do
mandado de segurança, quando a força entre as partes já é presumivelmente
desequilibrada no ordenamento jurídico, como elemento de operatividde do ato
estatal (presunção de auto-executoriedade e de legitimidade do ato estatal)‖ (p.
120/123).
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E conclui CÁSSIO SCARPINELLA BUENO no indigitado trabalho: ―Diante disto,
considerando que o valor maior a ser prestigiado pelo mandado de segurança é a
possibilidade de realização „in natura‟ do bem jurídico apontado como ameaçado, o
pressuposto relativo à ‘fundamentação relevante’ acaba, na exata proporção em que
se agiganta o receio de ineficácia da medida, relevando-se nitidamente indicativo
da possibilidade do sucesso do ‘mandamus’. Nestes casos, ainda que se verifique a
efetiva satisfação do direito do impetrante mercê da concessão da liminar (com grau
de preponderância), esta não deixa de se dar, em conformidade com a clássica de
Calamandrei, a título de acautelamento. E dizemos „acautelamento‟ porque somente
com a sentença final é que será declarada a existência daquele direito em prol do
impetrante e fixadas as responsabilidades daí decorrentes‖ (p. 124 – destacou-se).
Pois bem. No vertente caso, está comprovado, de plano, o chamado fumus bonis iuris,
uma vez que a ilegalidade dos atos perpetrados pelas autoridades coatoras salta aos
olhos.
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(iii) ao negar seguimento ao recurso administrativo hierárquico impróprio
interposto pela aqui Impetrante, a ANVISA acabou por usurpar a competência do Exmo.
Sr. Ministro de Estado da Saúde, e, ainda, negar eficácia às garantias
constitucionais do devido processo legal e aos princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Tenha-se presente, como também demonstrado acima, que esse entendimento encontra
guarida em solida jurisprudência, inclusive do Colendo Superior Tribunal de Justiça
(STJ, MS nº 10.254-DF e MS nº 6.737-DF).
Por outro lado, o periculum in mora é inquestionável no presente caso. Isto porque
a manterem-se os efeitos da RDC nº 01/2011, a Impetrante estará fadada a fechar
suas portas, vez que, não poderá comercializar o Metamidofós, produto essa cuja
venda corresponde a aproximadamente 80% (oitenta por cento) do faturamento da
Impetrante.
Não se olvide, ainda, que a Resolução em comento já está surtindo seus efeitos, de
modo que a fabricação do Metamidofós deverá ser suspensa a partir de 31.06.2011,
isto é, em 45 (quarenta e cinco) dias!
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Ou seja: trata-se de prazo sobremaneira exíguo e que poderá, caso seja verificado
na situação atual, inviabilizar completamente as atividades empresariais da
Impetrante.
Registre-se, por oportuno, que não se verifica in casu, o chamado periculum in mora
reverso, apto a impedir a concessão da liminar ora pleiteada.
Tenha-se presente, uma vez mais, que o Metamidofós é utilizado no Brasil, com o
aval das autoridades, desde 1969, tendo ele recebido o referendo da ANVISA em 2002.
(i)
(ii)
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—V— REQUERIMENTOS FINAIS
Diante de todo o exposto, requer-se seja concedida medida liminar, inaudita altera
parte (Lei 12.016/09, art. 7º, III), para o fim de:
(i)
(ii)
(i) seja notificada a autoridade coatora, na pessoa dos Impetrados para que prestem
suas informações no prazo de 10 (dez) dias e, ainda, sobre o conteúdo da decisão
que apreciou o pedido de liminar acima referido;
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Por fim, requer sejam as publicações atinentes ao presente mandamus veiculadas em
nome dos subscritores da presente.
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