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TESTE 3

Prof.ª Lídia Correia Português 11.º ano


100 minutos Fevereiro.2022

Nome: ____________________________________________________ N.º ______ Turma: ______


EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 200 pontos

Lê o texto seguinte.

1 - Pois sabei, reverendo padre - prosseguiu o arquiteto, atalhando o ímpeto erudito do prior -, que este
mosteiro que se ergue diante de nós era a minha Divina Comédia, o cântico da minha alma: concebi-o eu; viveu
comigo largos anos, em sonhos e em vigília: cada coluna, cada mainel, cada fresta, cada arco, era uma página de
canção imensa; mas canção que cumpria se escrevesse em mármore, porque só o mármore era digno dela. Os
5 milhares de favores que tracei no meu desenho eram milhares de versos; e porque ceguei arrancaram-me das mãos
o livro, e nas páginas em branco mandaram escrever um estrangeiro! Loucos! Se os olhos corporais estavam mortos,
não o estavam os do espírito. O estranho a quem deram meu cargo não me entendia, e ainda hoje estes dedos
descobriram nessa pedra que o meu alento não a bafejara. Que direito tinha o Mestre de Avis para sulcar com um
golpe do seu montante a face de um arcanjo que eu criara? Que direito tinha para me espremer o coração debaixo
10 dos seus sapatos de ferro? Dava-lho o ouro que tem despendido? O ouro!... Não! O Mestre de Avis sabe que o ouro
é vil; só é nobre e puro o génio do homem. Enganaram-no: vassalos houve em Portugal que enganaram seu rei! Este
edifício era meu; porque o gerei; porque o alimentei com a substância da minha alma; porque necessitava de me
converter todo nestas pedras, pouco a pouco, e de deixar, morrendo, o meu nome a sussurrar perpetuamente por
essas unas e por baixo dessas arcarias. E roubaram-me o filho da minha imaginação, dando-me uma tença!... Com
15 uma tença paga-se a glória e a imortalidade? Agradeço-vos, senhor rei, a mercê!... Sois em verdade generoso... mas
o nome de mestre Ouguet enredar-se-á no meu ou, talvez, sumirá este no brilho da sua fama mentida...
O cego tremia de todos os membros: a veemência com que falara exaurira-lhe as forças: os joelhos vergaram-
lhe, e sentou-se outra vez em cima do fuste. Os dois frades estavam em pé diante dele.
HERCULANO, Alexandre, A Abóbada, Porto, Porto Editora, 2015

A. Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
Cot
1. Situa o excerto na estrutura interna da narrativa.
40
2. Com base nas suas palavras, explicita três traços do perfil psicológico de Afonso Domingues. Fundamenta a tua
40 resposta com citações textuais.

3. Comenta dois efeitos expressivos da metáfora no discurso do arquiteto, transcrevendo exemplos desse recurso
40
estilístico.

4
B. Tendo em conta o teu conhecimento global sobre a A Abóbada, de Alexandre Herculano, preenche os
X espaços em branco com os nomes das personagens em falta. Na folha de respostas, regista apenas os
5 números e o nome adequado a cada um.
=
a) “A palavra do –1—não voltara atrás, não por ser palavra de rei, mas por ser palavra de cavaleiro português
20
daqueles tempos […]”;
b) E o –2—e o seu guia sumiram-se por entre as bastas vigas que sustinham as traves dos simples: el-rei, --3— e os
mais frades ficaram atónitos e calados.”;

c) “Soltando estas palavras, --4— tirou as mãos das algibeiras e, cerrando os punhos, ergueu os braços ao ar, com os
meneios de quem já brandia a tremebunda e patriótica pá de forno […]”

Cot C. Partindo do conhecimento global do conto estudado, seleciona a opção correta e escreve, na folha
10 de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
X
6 1. O povo veio em grande número ao mosteiro da Batalha no dia de Reis de 1401, para
= (A) ver D. João I . (B) assistir a um auto religioso.
60 (C) aplaudir Afonso Domingues. (D) ver a rainha D. Filipa de Lencastre.

2. Nesta altura, o mosteiro da Batalha tinha a construção


(A) iniciada. (B) suspensa.
(C) em fase adiantada. (D) terminada.

3. O arquiteto português considerou a decisão de ser afastado do seu cargo


(A) justa. (B) extemporânea.
(C) compreensível. (D) injusta.

4. Mestre Ouguet é de nacionalidade


(A) francesa. (B) inglesa.
(C) irlandesa (D) belga.

5. D. João I
(A) louva o trabalho original de Mestre Ouguet.
(B) refere a humildade profissional de David Ouguet.
(C) censura o estrangeiro por não consultar Mestre Afonso Domingues.
(D) ordena ao Mestre português que colabore com Ouguet na reconstrução da abóbada.

6. No final do Capítulo II, David Ouguet vê alguma coisa que o faz ficar
(A) atrapalhado. (B) realizado.
(C) horrorizado. (D) injustiçado.

7. O povo fixa a sua atenção principalmente na personagem do(a)


(A) Diabo. (B) Fé.
(C) Esperança. (D) Idolatria.

8. O arquiteto apresentava-se em tal estado de perturbação que os presentes pensaram que estaria
(A) louco. (B) ébrio.
(C) possuído pelo Diabo. (D) sonâmbulo.

9. Mestre Afonso Domingues comprometeu-se a levantar a nova abóbada em


(A) três meses (B) três anos.
(C) quatro meses. (D) quatro anos.

10. Os “simples” ou travejamentos que seguravam a nova abóbada foram retirados por
(A) trabalhadores portugueses. (B) trabalhadores especializados.
(C) prisioneiros estrangeiros e criminosos. (D) soldados portugueses.
GRAMÁTICA e LEITURA - 200 pontos

1 Quando soube da morte do DJ e produtor sueco Tim Bergling, de 28 anos, mais conhecido por
“Avicii”, que tanta comoção gerou entre os adolescentes, estava a ver na RTP1 uma reportagem com
laivos de escândalo sobre um festival alternativo da chamada “música de dança”, que se havia realizado
uns dias antes perto da localidade de Fronteira.
5 Segundo a reportagem, terão passado pelo festival cerca de 12 mil pessoas, tendo ido parar ao
hospital 14 pessoas (entre as quais, três ficaram internadas). Ao mesmo tempo, terão sido efetuadas
cinco detenções e terá sido apreendida droga. Tudo isto, segundo a mesma reportagem, num quadro
de tensões entre a legalidade e a ilegalidade. […]
Pensava nisso quando recebi a notícia da morte de Avicii, alguém proveniente da mesma cultura
10 da música de dança que a reportagem televisiva tentava compreender, embora o universo em que se
movimentava constituísse por inteiro a antítese do festival que se realizou em Fronteira.
Dir-se-ia que Avicii foi durante anos a imagem resplandecente do sucesso, do profissionalismo, da
exigência. O seu percurso confunde-se com o crescimento na última década da chamada “EDM”
(electronic dance music), um movimento musical sem sustentação sociocultural, sem uma correlação
15 óbvia entre a vida dos seus agentes e a música praticada. Como se fosse mera estratégia comercial
impulsionada por uma indústria que, de vez em quando, necessita de produzir heróis e novos negócios
milionários. […]. Tudo vivido por Avicii e outros em velocidade máxima, conduzidos por uma máquina
voraz, profissionalizada, altamente capitalizada, feita de festivais para multidões, digressões e pressões
contratuais, com muitos milhões de visualizações na Internet, luxo, competitividade, viagens em jatos
20 particulares e muito álcool à mistura. Tudo devidamente legalizado, claro. Melhor ainda: tudo aceite
por todos nós como sendo o melhor dos mundos, o paraíso na terra, e incentivado como sendo a
aspiração máxima de cada um. Afinal, quem não desejaria, que o seu filho, aos vinte e poucos anos,
tivesse uma conta milionária, fosse adulado globalmente por milhões de adolescentes e convivesse
com Madonna ou Rihanna?
25 E, no entanto, por vezes o paraíso pode transformar-se em inferno. Os problemas podem
maquilhar-se durante algum tempo, mas não eternamente. No caso de Avicii há o álcool e as suas
complicações. Uma pancreatite aguda. O estado de saúde a deteriorar-se. A frustração de ter menos
êxito a partir de determinada altura. O perceber que a sua música plastificada não perdurará na
memória. O ter vivido iludido pelo vil metal. O desistir. O desejo de se isolar. A morte. E agora as
30 suspeitas de suicídio.
Como em tantos outros casos – de Kurt Cobain a Amy Winehouse –, dir-se-á agora que aquilo que
o matou foi a incapacidade em lidar com o êxito, sendo vitimado por ele. Outros, mais cínicos, dirão
mesmo que são os efeitos colaterais de se viver sempre no máximo, forma de agregar
responsabilidades individualizadas, fazendo esquecer as coletivas. Mas a verdade é que a máquina que
35 matou Avicii somos todos nós que a alimentamos, quando a escolhemos como modelo sedutor de vida.
O problema é que assumir isso implicava assumir que existem problemas no paraíso. É-nos mais
fácil demonizar acontecimentos que por vezes podem escapar às normas, embora mais não façam do
que reproduzir aquilo que são as dinâmicas sociais um pouco por todo o lado, como o festival de
Fronteira, do que imaginar que aquilo que consideramos vulgar, sistémico, legal, aceite e até
40 incentivado por todos pode ser tão ou mais violento do que aquilo que não conseguimos enquadrar e
foge ao nosso controlo.
Vitor Belanciano in https://www.publico.pt/2018/04/29/opiniao/opiniao/problemas-no-paraiso-
a-morte-de-avicii-1815551 (consultado em 20 de fevereiro de 2022).

Para responderes a cada um dos itens de 1. a 10., seleciona a opção correta. Escreve, na folha de respostas, o número
Cot. de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

16 1. A referência ao festival de música de Fronteira tem a intenção de


X (A) divulgar este festival.
10 (B) dar conta da participação de Avicii neste evento.
(C) ser o ponto de partida para uma reflexão.
(D) criticar este acontecimento.
2. Com a afirmação “num quadro de tensões entre a legalidade e a ilegalidade.” (ll.7-8) realça-se:
(A) a insegurança vivida no festival de Fronteira.
(B) a ilegalidade deste tipo de festivais.
(C) a existência de muita vigilância policial nestes eventos.
(D) a permissividade de comportamentos inerente a este tipo de eventos.
3. Segundo o autor, e tendo em conta o conteúdo do quarto parágrafo, a música eletrónica
(A) é uma manifestação cultural cheia de tradição.
(B) reflete o talento dos seus agentes, tanto cantores como produtores.
(C) visa sobretudo o lucro e a espetacularidade.
(D) pretende criar nos jovens uma sensação de euforia.
4. No quinto parágrafo, o autor
(A) enuncia os problemas de saúde que levaram o DJ ao suicídio.
(B) contextualiza, referindo as razões que levaram Avicii à morte.
(C) elenca as situações profissionais que levaram o DJ à depressão.
(D) diz que Avicii não foi responsável pelos factos que conduziram à sua morte.
5. No último parágrafo, o autor
(A) considera os excessos inerentes à música eletrónica perigosos para os jovens.
(B) realça a falência dos valores morais e sociais.
(C) condena a sociedade por demonizar acontecimentos anómalos.
(D) desresponsabiliza os jovens pela vivência intensa deste tipo de eventos.
6. Na frase “Quando soube da morte do DJ e produtor sueco Tim Bergling, de 28 anos, […] estava a ver na RTP1 uma
reportagem […]” (ll. 1-2), o elemento sublinhado configura um mecanismo de coesão
(A) lexical por substituição.
(B) gramatical frásica.
(C) gramatical interfrásica.
(D) gramatical referencial.
7. O referente do pronome presente na frase “que tanta comoção gerou entre os adolescentes” (l. 2) é
(A) “a morte do DJ”.
(B) “a morte do DJ e produtor sueco Tim Bergling”.
(C) “DJ e produtor sueco Tim Bergling”.
(D) “Tim Bergling”.
8. O elemento sublinhado em “embora […] constituísse por inteiro a antítese do festival que se realizou em Fronteira.”
(ll. 10-11) é
(A) uma conjunção subordinativa condicional.
(B) uma conjunção subordinativa completiva.
(C) um pronome pessoal.
(D) um pronome indefinido.
9. Na expressão “(…)ter vivido iludido pelo vil metal.” (l.29) está presente
(A) uma personificação.
(B) uma antítese.
(C) uma metonímia.
(D) uma metáfora.
10. O primeiro parágrafo tem três orações subordinadas,
(A) duas adjetivas relativas, uma restritiva e uma explicativa, e uma adverbial temporal.
(B) uma adjetiva relativa explicativa, uma substantiva completiva e uma adverbial temporal.
(C) duas adjetivas relativas explicativas e uma adverbial temporal.
(D) duas adjetivas relativas restritivas e uma adverbial temporal.
Cot.
Responde aos itens a seguir apresentados.
11. Classifica a oração subordinada presente no segmento “Dir-se-ia que Avicii foi durante anos a imagem
20
resplandecente do sucesso, do profissionalismo, da exigência.” (ll. 12-13).
20 12. Indica a função sintática desempenhada pelo pronome sublinhado em “É-nos mais fácil demonizar
acontecimentos” (ll.36-37).

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