Você está na página 1de 50

COLETÂNEA SOBRE

EDUCAÇÃO

Fonte: Revista Nova Era – Fundação Mokiti Okada

São Paulo,
Dezembro, 2001
SUMÁRIO

Pág.
A saúde dos filhos depende da cabeça dos pais ......................................................03
Os filhos são reflexos dos pais ................................................................................05
Os três anos mais importantes da vida ....................................................................06
Estudos para uma nova geração ..............................................................................07
Educar é formar homens bons .................................................................................08
Útero influi no QI, diz estudo ..................................................................................10
É melhor ouvir do que falar .....................................................................................10
Solidão e carência ....................................................................................................11
A importante missão da família ..............................................................................12
Preparando os filhos para os desafios da vida .........................................................13
Aborto ......................................................................................................................15
Não matarás .............................................................................................................17
Educação .................................................................................................................21
Os três anos que decidem uma vida ........................................................................21
Aprendendo a viver melhor .....................................................................................23
Educação vem de berço ...........................................................................................24
Educação na medida certa .......................................................................................25
Século XXI ..............................................................................................................30
A ética e a moral na educação .................................................................................31
Desenvolvimento com equilíbrio ............................................................................33
A guerra dos jovens .................................................................................................35
TEXTOS QUE COMPLEMENTAM A COLETÂNEA
Ensine seu filho a se controlar .................................................................................37
Por que é preciso dizer não .....................................................................................40
A mentira infantil cai na real ...................................................................................44
O berço ....................................................................................................................46
PREFÁCIO

O MAU COMPORTAMENTO DOS FILHOS

Atualmente, o mau comportamento das crianças é considerado um problema social, mas


parece-me que ainda não lhe foi atribuída nenhuma solução adequada. As variadas teorias
preventivas ainda são muito superficiais, e é extremamente lamentável que nenhuma delas toque
no âmago da questão. Vou mostrar o método que eu acredito ser a prevenção absoluta.
Antes de mais nada, é preciso deixar bem clara a causa fundamental do problema. Para
isso, temos de pensar na relação entre pais e filhos. Em termos mais claros, se o pai é o tronco da
arvore, o filho é o ramo; por conseguinte, tomar medidas para não deixar apodrecer o ramo, mas
esquecer-se de cuidar do tronco, assemelha-se a colocar o carro na frente dos bois. A condição
básica para solucionar o problema é ter plena consciência de que a causa do mau comportamento
dos filho está nos pais
Em primeiro lugar, façamos urna análise espiritual.
Como sempre digo, os pais e os filhos estão ligados por um elo espiritual.
Conseqüentemente, se houver máculas no espírito dos pais, através desse elo o espírito dos filhos
também ficará maculado. Esta é a causa do seu mau comportamento. Sendo assim, o método para
evitar a delinqüência infantil é fazer com que o espírito da criança não adquira máculas. Para
isso, é preciso, em primeiro lugar, fazer com que o espírito dos pais não fique maculado.
Ignorando esse princípio, os pais têm preconceitos errados e, sem saber, cometem pecados que
dão origem a máculas, as quais se refletem nos filhos. Portanto, é necessário que eles pensem
constantemente no bem e tenham um comportamento correto, preocupando-se sempre em elevar
o seu próprio caráter. Este é o único método eficiente; não existe outro.
A interpretação acima baseia-se no aspecto espiritual. Agora vou explicar materialmente.
Como todos sabem, os filhos aprendem com os pais e procuram imitá-los. Por isso, quando os
pais pensam no que não é correto ou praticam o que não é bom, por mais habilmente que o
escondam, é certo que um dia os filhos ficarão sabendo, uma vez que moram sob o mesmo teto.
Então, é óbvio que a criança pense assim: "Se nossos pais fazem isso, que mal há em que nós
façamos também?"
Em síntese, não é errado dizer que o mau comportamento dos filhos é uma conseqüência
do mau comportamento dos pais. Por conseguinte, não passa de uma forma para desmascarar a
corrupção destes.
Pessoas que têm filhos! Saboreiem bem esta tese e, se desejam que eles sejam bons,
tomem-se bons pais primeiro.
22 de abril de 1950,
Mokiti Okada

A Saúde Dos Filhos Depende Da Cabeça Dos Pais

SAKAMOTO, Koji . A saúde dos filhos depende da cabeça dos pais. In: Revista Nova Era, Ano
V, nº 21. São Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A., pp. 10-11.

O homem, desde o nascimento, traz máculas espirituais adquiridas de seus pais em vidas
passadas. Quando pequeno, conforme seu desenvolvimento e através de seu metabolismo,
purifica as impurezas do sangue recebidas no ventre materno, bem como recebe tudo o que for
necessário à manutenção de sua nova vida. Assim, o aparecimento de febres brandas, erupções,
pús, diarréia e outras manifestações infantis necessárias para a evolução do corpo físico são ações
purificadoras da própria natureza.
Os pais, desconhecendo esse processo, se preocupam quando o filho adoece e recorrem ao
método mais perigoso que existe: o uso de antibióticos. Meishu-Sama explica que se o homem
for bem cuidado desde o seu nascimento e entender a lei da purificação, não terá a necessidade de
recorrer a remédios. O organismo da criança sente mais os efeitos colaterais dos remédios que o
adulto, pois ele não tem a mesma capacidade de recuperação física. Diante das purificações dos
filhos, os pais se apavoram e interrompem o processo com medicamentos. Exemplo: a diarréia
com coloração esverdeada é provocada pelas toxinas da mãe, ingeridas através do leite materno
no período de amamentação. Preocupados, os pais dão remédio para a criança e decidem não
alimentá-la com leite materno. A ausência deste no organismo provoca prisão de ventre e cólicas
no bebê, gerando um segundo problema.
É natural que os pais se preocupem com as doenças dos filhos, mas se utilizarem o
conhecimento religioso e compreenderem que as toxinas estão sendo eliminadas através de um
processo natural, não há perigo. O importante é observar as reações da criança e não deixar de
receber orientações religiosas de superiores.
As doenças naturais como o sarampo, catapora e outras, também são toxinas adquiridas
dos pais que precisam ser eliminadas. Por isso não se pode fazer nada além de esperar, tomar
alguns cuidados e deixar que a doença vá embora naturalmente.
Em um de seus livros, o Reverendíssimo Katsuiti Watanabe, pai do Presidente da Igreja
Messiânica Mundial do Brasil, falou sobre o modismo de ministrar remédios à criança, ao menor
sinal de febre. A mãe dá qualquer tipo de remédio para qualquer tipo de febre, causando, às
vezes, graves problemas físicos, além de dificuldades no próprio processo de crescimento. Ele
salienta que, para o verdadeiro benefício da saúde da criança, não se deve interromper o processo
de purificação natural. Diz ainda que as crianças purificam bastante a cabeça porque, durante o
período de gestação, ficam com ela para baixo, provocando acúmulo de impurezas em maior
quantidade neste local. Por esta razão, os olhos do bebê eliminam secreção, os ouvidos purgam, o
nariz elimina coriza e o topo da cabeça, muitas vezes, apresenta feridas.
O Ver. Watanabe comenta ainda que o leite materno é essencial para o fortalecimento do
bebê. Entretanto, se a mãe tiver problemas psicológicos, nervosos ou emocionais como lamuriar
suas insatisfações, agitar-se, sentir ansiedade, tristeza e sofrimentos, deixar-se dominar pela ira ou
sofrer choque emocional durante o período de amamentação, o bebê infalivelmente terá febre.
Este fato ocorre porque a mãe que amamenta nestas condições psicológicas transfere, através de
um processo químico, os seus sentimentos ao bebê, provocando febre, que é um meio de purificar
o organismo.
Quando os pais tomam muito remédio, o filho também purificará bastante, para eliminar
as toxinas do sangue. Assim, poderão ter na purificação do filho um retrato do que eles lhes
ocasionaram através da ingestão acentuada de medicamentos. Certa vez, um Ministro foi
chamado para ministrar Johrei em uma criança com febre constante de 39, 40 graus, provocada
por uma infecção nas amígdalas. Após duas horas de Johrei, a febre subiu para 42 graus. A
criança quase desfaleceu, mas não chegou a ter convulsão. A partir daí, a temperatura começou a
cair até ficar normal. Depois disso, nunca mais teve febre alta e problemas com amígdalas,
porque conseguiu purificar até o final.
Entretanto, o procedimento usual é interromper a purificação com a utilização de
remédios causando problemas no organismo da criança. Problemas que aparecerão quando ela for
adolescente ou adulta.
Diante de um problema de purificação dos filhos, o melhor que os pais têm a fazer é
procurar orientação superior, antes de recorrer indiscriminadamente aos medicamentos, pois a
preocupação de nós, religiosos e espiritualistas, é desenvolver uma criança verdadeiramente
sadia.
Neishu-Sama explica que a maioria dos problemas da humanidade tem sua origem nas
toxinas adquiridas através dos remédios, que são os maiores responsáveis pelo enfraquecimento
da estrutura física do homem.
Os filhos de um Ministro que quando pequenos não tomaram remédios, apesar de vários
problemas de saúde, foram obrigados, uma vez no colégio, a tomar vacina. Passaram mal durante
uma semana até purificar, pois seus organismos não estavam preparados para receber toxinas.
Meishu-Sama escreveu vários Ensinamentos sobre as doenças. Ele ensinou, por exemplo,
que a bronquite não é uma doença infantil, pois existem adultos que sofrem deste mal. A causa,
segundo ele, é o acúmulo de toxinas no diafragma e pulmão, Sua crise passa quando a pessoa
elimina o catarro. Enquanto isso não ocorre, a respiração fica ofegante. Ministrando Johrei na
boca do estômago e atrás dos pulmões, as toxinas acumuladas são eliminadas na forma de
catarro.
Sobre o nervosismo de algumas crianças, Ele tem uma teoria bastante interessante. “A
criança é nervosa porque nasceu com toxina no ombro e pescoço, o que provoca febre constante,
deixando-a irritada. Ela se acalmará através do Johrei ministrado nesse local. Quanto à meningite,
seus sintomas são febre alta na parte frontal da cabeça e tonturas. A causa deste tipo de doença
provém da grande quantidade de toxinas existentes no cérebro. A medida que a criança toma
conhecimento do mundo a sua volta, começa a usar o cérebro fazendo com que essas toxinas se
concentrem na parte frontal da cabeça. Quando entra na escola, passa a utilizar mais o cérebro,
razão pela qual, nesta época, há maior facilidade para contrair a doença. Os pais, preocupados,
fazem o possível para abaixar a febre, colocando bolsa de gelo. Dessa maneira, solidificam as
toxinas que estavam no início do processo de eliminação, prejudicando a atividade cerebral da
criança, que poderá ficar debilitada mentalmente ou até inválida. Entretanto, através do Johrei, as
toxinas se dissolvem e são eliminadas pelos olhos e nariz, em forma de pús e sangue. A limpeza
da cabeça melhora e a atividade cerebral e o aproveitamento escolar tornam-se excelentes.
Meishu-Sama também nos orienta sobre as causas, conseqüências e o tratamento com o
Johrei de várias outras doenças infantis, como tosse comprida, escarlatina, desinteria, etc. Ele nos
ensina como criar verdadeiros homens fortes, tanto espiritual como fisicamente.
Os Filhos São Reflexo Dos Pais

RUGGIERI, Eny. Os filhos são reflexo dos pais. In: Revista Nova Era, Ano V, nº 21. São Paulo:
Fundação Mokiti Okada – M. O. A., pp. 12-13.

Neide Pinheiro é freqüentadora da IMMB desde agosto de 1995. Ela veio encaminhada à
Igreja para receber orientação do Ver. Sakamoto, pois estava purificando bastante com um filho
que, na época, estava envolvida com o uso de drogas-crack. No momento que tomou
conhecimento do que estava acontecendo com o seu filho, ficou muito revoltada, chamou a
polícia, pediu às vizinhas para vigiarem a casa e até pensou em dar fim à vida do filho.
Neide é atendente de enfermagem e trabalhava, na época, em um hospital durante o dia e
em uma clínica durante a noite. E era quando trabalhava à noite que o filho trazia a “turma” para
a sua casa para a reunião e utilização da droga. Quando ela retornava do trabalho, percebia que
faltavam objetos da casa, estava tudo de forma diferente do que ela havia deixado, inclusive
percebia falta de dinheiro. Sua vida era constante conflito, pois não tinha paz interior nem para
trabalhar. O dinheiro que ganhava, mal dava para as necessidades da casa, sempre vivia com tudo
muito controlado. Além disso, ela própria era uma pessoa que cultivava muitas mágoas, muito
ressentimento contra o ex-marido, a família e o próprio filho.
Foi nessa situação que veio procurar o grupo de saúde para obter orientação para salvar
seu filho. Foi aí que combinamos encontrá-la uma vez por semana para acompanhá-la. Não foi
solicitada a presença de seu filho, pois como está escrito nos Ensinamentos de Meishu-Sama: “...
se o pai é o tronco da árvore, o filho é o ramo, por conseguinte, tomar medidas para não deixar
apodrecer o ramo, mas esquecer-se de cuidar do tronco, assemelha-se a colocar o carro na frente
dos bois”. “Os pais e os filhos estão ligados por um elo espiritual. Conseqüentemente, se houver
máculas no espírito dos pais, através desse elo, o espírito dos filhos também ficará maculado.
Esta é a causa do mau comportamento”.
“Baseado nesse Ensinamento foi orientado, primeiramente, que Neide recebesse Johrei
todos os dias, o que ela passou a fazer sem falhas. Ia todos os dias ao Núcleo de Johrei, após sair
de seu plantão noturno e, uma vez por semana vinha à Igreja Vila Mariana para relatar a sua
evolução. Nesse tempo, seu filho ainda usava drogas todos os dias e levava os amigos para a sua
casa quase todas as noites”.
Na seqüência da orientação, além de receber Johrei, foi orientada que iniciasse a prática
da gratidão diária para a eliminação de máculas financeiras. Praticando as duas orientações,
Neide começou a perceber que estava mais calma, sentia-se mais leve e passou a olhar seu filho
com mais carinho e mais compreensão, apesar dele continuar da mesma maneira.
Após um mês, foi solicitado que observasse o ensinamento “Entregue-se a Deus”. “Se
interpretarmos espiritualmente o ato de preocupar-se, verificamos que ele representa uma forma
de apego. É o apego, à preocupação ... Quanto mais forte o apego, mais fraca é a proteção Divina,
daí nem sempre as coisas correr como gostaríamos”, escreveu Meishu-Sama.
Neide iniciou o treino de desapego: parou de telefonar para a vizinhança para saber o que
acontecia em sua casa à noite e começou a observar as qualidades que seu filho tinha deixando-o
participar das atividades da casa e enaltecendo o seu lado positivo.
Nessa época, já tínhamos quase dois meses de acompanhamento e a situação já era
diferente, sendo que já havia diminuído em 80% a entrada dos amigos na casa e também o uso de
drogas, Seu filho estava mais calmo e já havia um relacionamento mais amigável entre a mãe e
ele. É importante lembrar que até então não conhecíamos o rapaz e apenas orientamos a mãe que
seguia as orientações sem nenhum questionamento. Sua obediência era cega, o que acreditamos
que acelerou muito a melhora da situação.
Com relação ao conflito familiar, ela tem um irmão, de quem tinha muita mágoa, e que
estava doente e desempregado. Foi à Igreja, fez pedido de graça, fez donativo de gratidão em
nome do irmão e dois dias após, ficou sabendo que tinha melhorado do problema de saúde. O
mais importante é que ela percebeu que tinha perdoado esse irmão.
Durante todo esse tempo, o Reverendo orientou-a que o problema não seria resolvido
totalmente de uma hora para outra, que ocorreria, inicialmente, um aumento no intervalo do uso
de drogas. E assim ocorreu aos poucos, ele foi espaçando o uso das drogas gradativamente.
Por espontânea decisão, ela aumentou a gratidão, e o dinheiro que o filho pedia, ela não
dava: fazia donativo de gratidão. Neide percebeu que o filho estava melhorando mais e seus
colegas de trabalho também notaram que ela estava diferente.
Passou a dedicar na Igreja e nos locais onde trabalhava. Relatava os milagres que
alcançava diariamente e também iniciou a leitura do Alicerce do Paraíso.
Com isso, notou que o filho estava melhorando cada vez mais, a cor de sua pele começou
a se modificar, estava mais calmo e não encontrava mais a sua “turma”. A situação financeira de
Neide também foi se equilibrando, ela passou a Ter melhor controle sobre o dinheiro que
ganhava.
Após cinco meses de orientação e obediência, sua vida e a do filho se modificaram muito,
a ponto do próprio filho dizer que não estava mais usando drogas. Hoje, Neide tem apenas o
emprego do hospital e faz atendimento particular para pessoas doentes, podendo assim estar mais
tempo em sua casa, dando atenção e carinho ao seu filho. Ela está muito agradecida a Deus e
Meshu-Sama e quer fazer o curso de iniciação para receber o Ohikari, podendo assim transmitir a
outras pessoas o mesmo que recebeu e que a tornou tão feliz.
Com essa experiência, fica comprovado que o mau comportamento dos filhos é reflexo do
sentimento e comportamento dos pais e, sobretudo, que se obedecermos e aceitarmos o que está
escrito nos ensinamentos de Meishu-Sama, as purificações se transformam. Esse; e o segredo da
obediência cega e da felicidade.

Os Três Anos Mais Importantes Da Vida


Revista Newsweek . Os três anos mais importantes da vida. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 26.
São Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A., p. 16.

Recentes descobertas de pesquisadores sobre a influência da hereditariedade e do


ambiente do desenvolvimento dos bebês revelam que os três primeiros anos de uma criança
podem decidir sua vida. A ciência está confirmando aquilo que os pais sensatos sempre souberam
por instinto: uma criança precisa de muito tempo e atenção dos adultos em sua vida.
Os bebês são como máquinas de aprender. Tudo para eles é novidade. Sombras na parede,
o latido de um cão, o canto de um pássaro. Os pais ao compartilharem dessa admiração farão com
que as crianças cresçam sentindo que as suas observações são percebidas. Isso significa que os
pais devem aproveitar da curiosidade natural dos filhos.
Coisas simples como abraçar e balançar a criança estimulam o seu crescimento. Uma
criação destituída de carinho pode gerar efeitos devastadores. Um órfão em uma creche, por
exemplo, pode Ter áreas do seu cérebro seriamente comprometidas.
Psicólogos garantem que o desenvolvimento da linguagem começa cedo e que muitas
brincadeiras são estimulantes nesses primeiros anos que moldam a personalidade de uma criança.
Estudos realizados mostram que um bebê que é freqüentemente abraçado e que se sente amado
tem uma maior tendência para crescer confiante e otimista. Ou seja, a genética fornece a
matéria-prima; a vida forma o espírito e a alma.
O relacionamento com os pais e parentes continua sendo o centro do desenvolvimento
social e tem grande importância na educação da criança. As pesquisas também mostram que os
valores tradicionais estão vivos e saudáveis, e que os pais têm como maior objetivo que seus
filhos sejam pessoas de moral.
Os interesses sobre os primeiros anos apresenta um desafio para pais e educadores, pois as
crianças que estão começando a andar agora serão os homens do século 21. Elas estão
caminhando para esse futuro assim, devagar, passinho por passinho.

Estudos Para Uma Nova Geração


CAMPOS, J. L. Estudos para uma nova geração. In: Revista Nova Era – Ano V – Nº 24. São
Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A.

“A Educação, em todos os campos da atividade humana, deve estar voltada


para o conhecimento e o respeito às Leis da Natureza. Devemos nos empenhar
na prática de todos os ideais de Meishu-Sama, para que o homem possa
realmente reorganizar sua vida, promovendo o equilíbrio do Planeta e,
conseqüentemente, transformar a Terra num Paraíso. Objetivando salvar a
humanidade, precisamos salvar a humanidade, precisamos nos esforçar para
criar um sistema modelo de ensino, que contribua para o desenvolvimento de
todas as potencialidades do indivíduo: formar homens íntegros e úteis a Deus e
Meishu-Sama”.

Com este ideal, alguns profissionais da área de Educação estão se reunindo regularmente
para estabelecer um novo método de ensino e criar uma instituição que, acima de tudo, promova
o altruísmo.
As últimas gerações foram educadas para o materialismo, para galgar sucesso baseadas
numa inteligência superficial e ambição desmedida. Os homens, por desconhecerem a Justiça
Divina e as Leis Naturais, perseguem tenazmente seus objetivos, nem sempre úteis à sociedade e,
na maioria das vezes, sem se importar com os métodos. O que vale é o saldo da conta bancária. É
a sociedade dos resultados, da esperteza e dos malabarismos de formas sem conteúdo, onde
impera o dinheiro e as intenções mal disfarçadas.
Está na hora de promover um retorno ao caminho da Verdade, ensinando que o mais
importante não é ser aclamado como um homem inteligente e poderoso, mas ser amado como um
homem íntegro, honesto e altruísta. Este é o pensamento que deve reger os pais na educação dos
filhos e os professores na hora de transmitir conhecimento. É preciso ensinar sobre o Mundo
Espiritual e as suas leis perfeitas e imutáveis.
Para corrigir o homem mau, é necessário fazer brotar na criança os bons sentimentos. Só
que não dá para passar algo positivo se isso não estiver enraizado dentro de cada um. Os pais
precisam estar bem conscientes da sua enorme missão e do esforço constante em se tornarem
bons exemplos. Os professores também. Não basta ensinar a contar ou a conjugar corretamente
os verbos. Precisam compreender que a missão é bem maior, que por trás de cada aluno há um ser
humano, com corpo, mente e espírito, e que o ensino só será completo se entender este ponto.
Para ensinar, é preciso usar ao máximo a capacidade de amar. O saber é importante, mas
como ensina Meishu-Sama, a sociedade está carente de homens dotados de verdadeira
inteligência. O que tem imperado é a inteligência superficial, a inteligência usada para o próprio
usufruto.
A verdadeira inteligência é utilizada para o bem da humanidade, é sabedoria, é percepção.
É esta inteligência que precisa ser cultivada e incentivada nos lares como nas escolas.
A escola da Nova Era vai ensinar matemática, história e geografia, mas também mostrará
os métodos da agricultura natural, a alimentação que gera a verdadeira saúde, os princípios
espirituais que regem a nossa vida, e a arte em toda a sua plenitude. Haverá espaço para o corpo,
a mente e a alma. E mais do que espaço, haverá uma integração perfeita entre espírito e matéria.
Os educadores que tiverem consciência da sua missão e impresso no currículo
conhecimento verdadeiro, amor e fé na profissão, já têm vaga assegurada.

Educar É Formar Homens Bons Educar É Formar Homens


Bons
SAKAMOTO, Koji. Educar é formar homens bons. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 25. São
Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A, pp. 10-11.

Esta matéria é a primeira de uma série que faz parte de um estudo que o
Reverendo Sakamoto vem preparando a respeito da educação. São textos
baseados em palestras feitas em escolas e nos Ensinamentos do nosso mestre
Meishu-Sama, onde o Reverendo procura analisar as conseqüências de um
aprendizado fora dos princípios da verdadeira educação, e o reflexo disto na
sociedade.

A base de uma boa educação se alicerça em casa, vinda dos pais, e não na escola, como
querem alguns. A escola tem a missão de alfabetizar a criança.
Não se deve relegar à escola a responsabilidade de educar um filho, pois esta obrigação é
dos pais. A educação tem que ser de uma forma pragmática e para saber como educar bem um
filho é necessário que os pais, em primeiro lugar, entendam a sua verdadeira missão.
A missão dos pais, através da educação dos filhos, é poder prepará-los como pessoas
capacitadas para servirem a Deus e à humanidade.
Se os pais não entenderem essa missão não será possível ensinar aos filhos a verdadeira
educação. É muito importante entender que a finalidade da educação, na verdade, é a formação
de homens bons.
Meishu-Sama nos ensina que "a verdadeira educação é aquela que ensina o princípio de
que o bem leva o homem à felicidade e o mal o leva à desgraça”. E também que " a educação que
forma homens incapazes de distinguir o Bem e o Mal está baseada na pseudoverdade”.
De acordo com as Leis da Natureza, a verdadeira educação começa desde a concepção de
um filho. A partir do momento em que passa a existir o espírito nesta criança, ela começa então
receber dos pais as primeiras informações para a sua formação, porque existe entre os pais e os
filhos uma ligação invisível que se chama elo espiritual.
Este elo funciona como um canal entre os pais e os filhos. Através dele é que os filhos
herdam todas as características que podem ser positivas ou negativas de seus pais. A formação
inicial, portanto, é espiritual.
Todas as atitudes dos pais, as práticas na vida cotidiana, influenciam diretamente na
formação de um filho, e a soma desses comportamentos é que vai servir de base para a verdadeira
educação das crianças.
É importante que os pais entendam isso. Esta parte invisível é a que os materialistas não
conseguem compreender. Se formarem um casal que viva em constante harmonia, forem
altruístas, praticando sempre o bem e pensando sempre na felicidade do próximo, disto é que
resultará uma base sólida para que se possa educar um filho, fazendo que ele conviva sempre com
informações positivas para a consolidação de seu caráter.
Mas além disso, no caso dos messiânicos, temos outra possibilidade que é a ministração
do Johrei. Se desde o início da gestação a mulher for recebendo Johrei, o resultado na formação
da criança será diferente.
Os filhos nascem por nosso intermédio, mas não nos pertence, e sim a Deus. Isto é
interessante se analisarmos o desenvolvimento de uma criança até que ela torne um adulto. Desde
que se corta o cordão umbilical já há uma primeira fase de separação. Depois vem uma fase em
que ela começa a andar, logo em seguida passa a se alimentar sozinha, tornando-se cada vez mais
independente em relação aos pais com o passar dos anos.
Com o tempo, atingindo um certo grau de amadurecimento, sentirá a necessidade de viver
a sua própria vida, com uma outra pessoa, em uma outra casa. É como o ciclo dos animais na
natureza Os pais voltam a viver novamente sozinhos como no início do casamento.
Todo ser humano recebe ao nascer três tipos de influência: informações acumuladas de
vida anterior; a herança de nossos ancestrais e também tudo que os pais já passaram para nós
nesta vida antes de nascermos. São muitas influências em nossa formação.
Existe também uma determinação divina. A criança nasce em uma determinada família
para cumprir sua missão, que é designada por Deus. Poderíamos chamar isto de pré-destino. As
crianças vêm ao mundo material já sabedoras de onde vão nascer e quanto tempo irão viver.
Nossa missão é darmos melhores condições possíveis na parte espiritual, para que os filhos
tenham uma possibilidade a mais de compreenderem suas missões. Entender como e o que
vieram fazer no mundo.
Meishu-Sama nos orientou que aquele homem que não sabe o que veio fazer neste mundo
está vegetando, levando uma vida vazia e ociosa, por não entender sua missão no mundo
material.
Os pais devem estar atentos ao momento oportuno para ensinar às crianças determinadas
práticas. Na base da educação temos que nos preocupar em desenvolver na criança a criatividade,
a espontaneidade e a percepção. Tudo dentro de um bom senso, dando a ele uma tarefa que
poderá ser cumprida sem problemas, de acordo com seu potencial. Essa é a verdadeira missão dos
pais.

Útero Influi No QI, Diz Estudo


Útero influi no QI, diz estudo. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 26. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada – M. O. A.

O ambiente uterino pode influenciar o quoeficiente de inteligência (QI) dos filhos, diz
estudo publicado na revista Nature.
Pesquisadores da Universidade Carnegie Mello, em Pittsburg (EUA), submeteram 212
estudos anteriormente realizados com gêmeos e irmãos não-gêmeos a análises estatísticas.
Segundo ele, o “efeito materno”, isto é, o comportamento do útero, ajudaria a explicar por
que gêmeos tendem a apresentar Qis mais parecidos do que não-gêmeos, que se desenvolvem no
mesmo útero, mas em momentos e circunstâncias diferentes. Também afirmou que o cérebro
apresenta crescimento significativo no útero, e vários estudos mostram que o QI é afetado pelo
ambiente a que são expostos o feto durante a gravidez.
Um dos resultados do estudo é que o comportamento genético parece ter menos
importância do que se acreditava. Isto porque gêmeos idênticos compartilham o mesmo conjunto
de genes, enquanto não idênticos apresentam a mesma semelhança genética do que apresentariam
dois irmãos não gêmeos.
Os pesquisadores também sugerem que se o “fator materno” for levado em consideração,
os genes explicariam apenas 34% da variação do QI entre pais e filhos e 48% da variação na
população em geral, isto é, em ambos os casos o ambiente constitui com mais de 50%.

É Melhor Ouvir Do Que Falar

É melhor ouvir do que falar. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 26. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada – M. O. A.

Muitas vezes os adultos não dão a devida atenção às crianças e não percebem que elas
têm dificuldades, medos, barreiras... Acreditam que o tempo para enfrentar tais problemas está
bem longe de chegar, pois ficam apenas preocupadas com seus próprios sofrimentos. Com as
alegrias e tristezas dependessem de idade e não de carinho, atitudes, palavras.
Quando Ricardo Camargo Gomes Pereira, uma criança com nove anos, procurou o Min.
Amadeo Bernardo, responsável pela Casa de Johrei Jardins, abriu espaço para as pessoas terem
uma maior preocupação com os jovens.
A mãe de Ricardo, incentivada pela irmã, pediu que o Min. Amadeo o orientasse e
mudasse sua vida. Durante a conversa com o Min. Amadeo, Ricardo contou o motivo de seu
sofrimento: “Sabe ministro, eu estou sofrendo porque papai e mamãe andam brigando muito”.
Além disso, também falou que quando sua mãe o deixava tomando conta de seu irmãozinho de
dois anos, queria que desse seus brinquedos para ele ficar quieto e parar de chorar, mas ele
sempre quebrava os brinquedos e sua mãe gritava, ficava brava...
Também na escola havia um corredor que ele gostava de brincar com seus amiguinhos,
mas as professoras reclamavam porque atrapalhava as aulas, por isso começou a correr no fundo
da escola, correr escondido, o que também achava ruim.
Assim, depois de ouvir o menino, o Min. Amadeo lhe disse que é possível mudar
qualquer coisa na vida se nos tornarmos úteis a Deus. Explicou-lhe que se fizesse algo para as
pessoas ficarem felizes também se sentiria feliz. Por exemplo, antes de seu pai chegar em casa,
que deixasse o jornal mais perto para que ele pudesse achar mais facilmente. Também ficou
combinado que todos os dias ele fizesse alguma coisa para agradecer seu pai, sua mãe ou a
professora. Mas como ele disse que quase não via o seu pai, tinha que se esforçar no que ele
gostava que fizesse. Então, seguindo a orientação, todos os dias fazia um desenho para entregar
ao pai quando o encontrasse.
Outra coisa que o deixava contente era quando telefonava para o seu trabalho. Assim
passou a ligar para ele e dizer que o amava. Com sua mãe e com a professora era mais fácil, era
só Ter mais obediência, perceber o que estava fazendo de errado e mudar isso.
Pouco a pouco Ricardo vem polindo sua alma, se tornando amigo de todos e sempre
ajudando em casa, na escola, sua família. Isso também trouxe grandes resultados para seu lar e
até contribuiu para melhorar a conviv6encia entre seus pais e seu rendimento escolar. Isso prova
que ouvindo e dando apoio aos jovens aprendemos muito e podemos conseguir de Deus grandes
milagres.

Solidão E Carência
Solidão e carência. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 26. São Paulo: Fundação Mokiti Okada –
M. O. A.

As pessoas, por mais rodeadas de gente que estejam, sentem-se cada vez mais sozinhas.
Há algumas que passam o dia-a-dia na companhia de dezenas de amigos, parentes, colegas de
trabalho ou de classe, vizinhos, clientes, fornecedores, funcionários... Conversam, riem,
aparentam felicidade e extroversão. Mas no íntimo, são solitárias. E, por causa disso são infelizes.
O homem, na atualidade, considera moderno ser independente, mas não consegue lidar
bem com a solidão que esta suposta independência acarreta. Ele orgulha-se em poder fazer o que
quiser, na hora que entender e da forma que melhor lhe convier. Mas será que na prática isso
acontece realmente assim? Será que esta “liberdade” tão sonhada não é, na verdade, uma prisão?
Durante anos, a humanidade veio tentando tenazmente se libertar de todos os dogmas
enraizados geração após geração, mas sem perceber, acabou criando outros. Hoje, existe um
preconceito em relação ao casamento, à fidelidade, aos relacionamentos duradouros. Mesmo
assim, a maioria das pessoas não suporta uma traição, se sente insegura diante da incerteza e
indiferença, e procura relacionamentos sólidos. Aparência e interior se contradizem e lutam entre
si. Todos querem vencer por si só, Ter o carro do ano, freqüentar os lugares mais badalados,
vestir as grifes famosas. Todos almejam ser reconhecidos como bons e conceituados
profissionais. Mas será que isso preenche a alma, o vazio da auto-realização?
Será que não é como um pássaro que só aprendeu a desenvolver uma das asas (parte
material) e agora quer dar vôos longos, mas não consegue voar? Isso acontece porque um dos
lados está atrofiado. Assim é a vida.
O ser humano nasceu para crescer e se multiplicar, já ensinava Cristo há quase dois mil
anos. E mesmo sem querer, ele tem necessidade de Ter alguém para compartilhar suas glórias e
seus fracassos, para escutá-lo, aplaudi-lo e ampará-lo. Mesmo assim, algumas pessoas passam
uma boa parte da vida rejeitando a idéia de unir-se definitivamente a alguém. O homem moderno
não convive bem com a idéia do definitivo e parte para opções nem sempre satisfatórias. Outras
perdem a juventude só enxergando as próprias qualidades em relação aos defeitos “do resto do
mundo”. E aí quando percebem, estão irremediavelmente sós. Bate uma angústia, uma vontade de
se sentir amado e amar, de Ter aquilo por que fugiram durante tanto tempo. Então, não resta outra
alternativa: cadastra-se nas “agências de casamento” por um valor nada acessível e sem garantias
de encontrar o “príncipe encantado” que só existe mesmo nos contos de fadas infanto-juvenis. Ou
anunciar nos classificados procurando alguém que se encaixe no seu perfil. O número de páginas
de jornal dedicados a esse tipo de anúncio está crescendo bastante. Ah, atualmente, também
existe a Internet e os namoros virtuais. Outra opção.
Mas onde foi parar a esperança, a paquera, a incerteza de Ter que se tornar mais atraente,
física e espiritualmente? Foi trocado pelas facilidades de ter alguém “pago” que resolva suas
necessidades, que encontre a pessoa certa dos sonhos.
Enquanto isso não acontece, a carência vai ganhando espaço e as pessoas vão tentando
contorná-la direcionando sua atenção para as outras coisas: objetos, animais, diversões,
passatempos. Esquecem que para resolver o problema precisam, como o pássaro, desenvolver a
outra asa que é a parte espiritual, o altruísmo. Para ganhar vida, precisam antes ajudar as pessoas
a ter vida. Só assim se tornarão verdadeiramente atraentes.
Estamos chegando a uma era que não adiante impor nossa vontade, precisamos
conquistá-la. Se queremos alguém ao nosso lado, precisamos criar as condições para merecê-la.
Se ficarmos aprisionados nos nossos velhos dogmas e pontos de vista ultrapassados e não
evoluirmos podemos perder o “tempo” e desperdiçar nossa chance de cumprir nossa missão e ser
feliz. Está na hora de deixarmos o nosso egoísmo de lado. Se procurarmos alguém apenas para
satisfazer nossa vaidade, estaremos nos distanciando cada vez mais da felicidade e aumentando o
índice de população carente e solitária. Ainda temos uma opção.

A Importante Missão Da Família


A importante missão da família. In: Revista Nova Era – Ano V – Nº 27. São Paulo: Fundação
Mokiti Okada – M. O. A.

A manutenção do núcleo familiar vem sendo muito valorizada na atualidade como


preparação do mundo para o próximo milênio. Tida como uma das mais antigas instituições da
história da humanidade, a família e o seu papel na formação de pessoas aptas a praticarem o bem
é a prioridade do século XXI, segundo pregam religiosos e teorizam psicólogos. O bem-estar de
uma criança depende da preservação da família e do convívio saudável entre seus membros. Ela
vai precisar destes elementos durante os primeiros anos de sua vida para posteriormente ser
componente de uma sociedade equilibrada, onde prevaleça o respeito ao próximo. Casamentos
desfeitos geralmente são responsáveis por indivíduos problemáticos. Pessoas que acabam
passando por uma serie de dificuldades ao longo da vida – como incapacidade de adaptação ao
meio em que vive, insegurança, depressão – porque não tiveram uma infância regada de
compreensão e carinho de seus pais. “Uma criança que não se sente valorizada pela família terá
uma auto-estima superbaixa”, comenta Mery Scapin, psicóloga clínica, que faz parte do Grupo de
Saúde da Unidade Vila Mariana. A psicóloga enfatiza que o ambiente em que vive e as situações
que envolvem uma criança são de fundamental importância para a solidificação de seu caráter e
personalidade. Uma abordagem teórica chamada matriz de identidade usada pela psicóloga avalia
o ambiente onde nasce e cresce uma criança e toda a rede de relações com que ela se depara. É
nesta célula familiar e através desse envolvimento primário que a criança começa a desenvolver
os conceitos de amor, respeito, admiração, adquirindo assim o molde com o qual vai enfrentar o
mundo. Isso é vital para a sua formação.
Um exemplo de como a desagregação da família pode gerar comportamentos desviados
está na própria natureza. Filhotes de elefantes que foram separados de seus pais para repovoarem
outras áreas em parques na África do Sul se transformaram em assassinos. Eles estão atacando e
matando os rinocerontes dos parques. Como os elefantes vivem em bandos, os mais velhos
conseguem exercer forte influencia sobre os mais novos, mantendo a ordem e o respeito. Os
elefantes rebeldes foram criados sem esse convívio com os pais, sozinhos, o que deu origem a
esse comportamento agressivo, afirmam os pesquisadores responsáveis pela transferência dos
animais.
Em um de seus Ensinamentos, Mikiti Okada escreveu que “a condição básica para
solucionar o problema é ter plena consciência de que a causa do mau comportamento dos filhos
esta nos pais”. E ainda que aqueles que “desejam que os filhos sejam bons, que tornem-se bons
pais primeiros”.

Preparando Os Filhos Para Os Desafios Da Vida


RODARTE, A. P. Preparando os filhos para os desafios da vida. In: Revista Nova Era – Ano V –
Nº 27. São Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A., pp. 18 e 19.

Vera Lúcia Barbeiros Barbieri, coordenadora da Academia de Ikebana Sanguetsu da


Regional Brasília acredita que o momento certo para fazer outras coisas seja quando a criança
demonstra certa independência, já sabe se expressar, dizer o que aconteceu com ela, expor uma
idéia, um sentimento. “As mães começam a ter uma certa liberdade quando os filhos começam a
ir para a escola, mas a própria natureza vai mostrar”, diz ela.
Depois que casou, com 24 anos, teve cinco filhos, com uma diferença entre eles. “Como
sempre fui muito ativa, não me conformava com a necessidade de largar tudo para cuidar dos
filhos”, comenta Vera. Na época, confessa que praticou por obrigação, porque não havia outro
jeito, mas hoje vê o quanto isso foi positivo e a libera para suas atividades. A assistência que
pôde dar naquela fase está se refletindo em qualidade e liberdade hoje.
Com idades muito próximas, é difícil estabelecer limites, os direitos e deveres de cada
um. Por exemplo, uma das filhas tinha dificuldade de organização, usava a blusa do irmão, o
sapato da irmã, a caneta do outro... Era preciso lhe mostrar que não podia invadir o espaço das
pessoas. Assim, como treinamento, passou a dormir sozinha num quarto menor, que era utilizado
como escritório, para que pudesse compreender fisicamente a noção do espaço. Também foram
determinadas algumas praticas a serem seguidas, com opor exemplo, orar todos os dias de manhã,
receber e ministrar Johrei (energia universal transmitida pelas mãos), mas sem falhar um dia.
Com isso, ela criava confiança em si mesma e se sentia capaz de cumprir uma meta, com o
objetivo de melhorar a cada dia. Para a surpresa de todos, ela melhorou completamente sua
organização em todos os sentidos.
No lar, eles sempre obedecem a uma hierarquia de uma forma muito natural. Se houvesse
um doce apenas, ao contrário do que normalmente as famílias fazem, que é oferece-lo primeiro
para as crianças, lá, o melhor é do pai. Quando chegava, ele resolvia dar o doce para as crianças.
Assim, despertava nelas o respeito pelo pai e se formava um ambiente harmoniosos e com ordem
dentro de casa.
Durante o almoço, primeiro eles servem o pai, a mãe, depois se servem. Isso ajuda a
compreender e estabelecer prioridades, a ter respeito na profissão, no trabalho, na escola e, dessa
forma, serão respeitados também.
Vera também sempre corrigia as falhas dos filhos logo na primeira vez, por mais que
pudessem passar despercebidas. Para ela, se a criança cometer um erro, por menor que seja, e não
for corrigida, certamente não saberá se posicionar diante de um fato maior. “Não importa o que
aconteceu e sim o pensamento dela naquele momento”, diz Vera.
Mokiti Okada nos ensina que devemos “ceder para conquistar”, mas como transmitir isso
para uma criança de quatro anos? Vera sempre orientou seus filhos a oferecer algo para seus
colegas, não brigar, não bater, a perceber os dois lados de todas as coisas. “Nunca existiu a idéia
do ‘toma lada cá’, ‘bateu levou’, ‘filho meu não leva desaforos para casa’”, comenta ela. Mas
havia uma insegurança, uma preocupação de que abusassem da bondade deles ou de que não
conseguissem se impor na sociedade. No entanto, hoje eles conquistam o espaço verdadeiro, o
que todas as pessoas almejam, que são o respeito, a amizade, a valorização, o reconhecimento.
“nós sempre achamos que a criança é pequena, indefesa, e a protegemos, criamos um
escudo a sua volta ou compensamos suas falhas, porém, devemos fazer com que ela se fortaleça
para enfrentar os desafios e superar seus limites”, afirma Vera. Logo nos primeiros dias de aula,
seu filho chegou à escola e se lembrou que não havia feito o dever de casa. “Mãe, e agora? A
professora vai ficar brava”, disse ele. Vera pediu que dissesse a verdade para a professora, que
havia esquecido de fazer a tarefa. Para ela, cada um tem que cumprir suas responsabilidades,
quando existe cobrança, cria-se dependência. “Ah, a mamãe vai cobrar, não cobrou, não vou
fazer”, conta.
Atualmente, existe uma grande inversão de valores, conceitos, e a sociedade dá grande
importância ao estudo dos filhos, ao ingresso deles numa universidade, etc. Da mesma forma,
existe a preocupação de que filho tem que passar de ano, tirar boas notas e de repente ele não esta
amadurecido para o estudo.
Outra experiência foi com um de seus filhos que foi reprovado na mesma serie por duas
vezes. Isso seria motivo para muita discussão e castigos. Mas ela e seu marido lhe chamaram a
atenção, mas não se incomodaram tanto. Segundo Mokiti Okada, existe o “ensino vivo” e o
“ensino morto”. Talvez ele estivesse sendo aliviado muito mais por uma capacidade de guardar
informações do que pela sua própria formação. Vera, muito constrangida, foi à escola conversar
com a diretora. E para sua surpresa, só recebeu elogios: “Ele é um amor de menino, é muito
especial, é extremamente participativo, muito bem entrosado com a turma, educado ...”
“Agradeci tanto a Deus... Muitos tiveram aprovação na escola, mas quantos pais receberam esse
tipo de aprovação de professores?”, comenta. Ela tinha a certeza de que quando chegasse a hora,
ele iria amadurecer, estudar, já que não tinha nenhuma dificuldade. E foi o que aconteceu.
Como o mercado de trabalho exige produtividade e competitividade, o importante é
existir harmonia e iniciativa de estimular o grupo inteiro a trabalhar, tornando-se muito mais
produtivo. No primeiro emprego de uma de suas filhas houve grande aprendizado. A funcionária
que deixava o cargo estava magoada por ter que pedir demissão, pois trabalhava naquele setor há
muito tempo, mas almejava um salário maior.
Assim, não lhe passava o serviço e informações, não lhe ensinava nada desde transferir
uma ligação ate como dar entrada no computador, criando uma situação difícil. Mas Vera lhe
mostrou que tinha que conquista-la, procurar demonstrar que não estava tomando o lugar dela,
que a respeitava e reconhecia seu trabalho. “A vitória vai ser sua, não pode exigir que a outra
pessoa mude”, disse-lhe Vera.
Ao invés de reclamar para o chefe para repreende-la, deveria encontrar a maneira mais
inteligente, sem desarmonia para mudar a situação. Até que certa vez ela prestou um favor à
ex-funcionária e se tornaram grandes amigas. Mesmo depois que ela saiu da empresa,
continuaram mantendo contato por telefone. Diante disso, Vera agradece o quanto sua família foi
abençoada e relembra que o papel dos pais é fundamental na formação de homens íntegros,
sinceros. “O importante é adquirirmos sabedoria para orientar corretamente, além de polirmos
nossas atitudes e pensamentos para servirem de exemplos para nossos filhos”, conclui. E, nesse
ponto, certamente Mokiti Okada e sua filosofia foram de vital importância.
Aborto
BOLDORINI, M. L. Aborto. In: Revista Nova Era – Ano VI – Nº 28. São Paulo: Fundação
Mokiti Okada – M. O. A.

Questões das mais polêmicas dos últimos tempos, o aborto, legalizado em quase todos os
paises desenvolvidos do mundo – a Inglaterra teve sua primeira legislação sobre o assunto em
1967 e a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o aborto era um direito adquirido da
mulher em 1973 -, tem causado muitos conflitos entre segmentos conservadores e outros mais
liberais da sociedade brasileira.
Vigente no Código Penal brasileiro desde 1940, diz em seu artigo 128 que o aborto é
permitido quando houver má-formação congênita do feto, quando a mulher correr risco de vida
com a gravidez ou for vítima de estupro. Os mais radicais alegam que muitas mulheres poderiam
alegar a violência sexual para poder abortar as custas do dinheiro do Estado, caso a lei que
autoriza a rede pública de hospitais a fazer o aborto nos casos já citados seja aprovada. O projeto
de lei está em trâmite no Congresso.
No Brasil, fala-se em 1,5 milhões de abortos por ano. A legislação pune a mulher que
provocar o aborto fora dos termos estabelecidos com um a três anos de prisão. E com um a quatro
anos o médico ou a parteira que realizar tal trabalho. Apesar de a lei vigorar há décadas, nenhuma
mulher foi condenada pelo 1ª Tribunal do Júri, o maior do País, nos últimos dez anos.
Pessoas conhecidas do grande público foram obrigadas a abortar, por diversas razões,
mesmo acreditando que o direito à vida não se nega assim de forma tão abrupta, mas também
concordam que para se colocar um filho no mundo é preciso, em primeiro lugar, que ele seja
resultado do amor entre um homem e uma mulher e que o casal tenha meios de educa-lo e dar-lhe
uma vida decente.
Independente da situação que leve uma mulher a impedir que um ser venha a nascer, é
preciso, pelo menos, imaginar o que acontece com os abortados. Como se sentem e a que lugar
eles vão? Algumas religiões famosas de origem e oriental como o budismo e o xintoísmo
acreditam que o espírito destas crianças que são impedidas de nascer e de cumprir sua missão
sofrem em demasia.
Um aborto pode trazer sérias conseqüências para a mulher que o pratica, como os casos
de depressão, para citar apenas um exemplo.
Segundo Mary Scapin, psicóloga, clínica e supervisora de formação de terapeutas da
Escola Paulista de Psicodrama existe uma complexa relação entre o aborto e essa doença. “Do
ponto de vista psicológico, quando a pessoa faz a opção pelo aborto, ela está em uma posição
absolutamente materialista. Ela pensa que está com um problema que vai alterar a sua vida e não
quer que isso aconteça. Não quer perder o controle da situação naquele momento e faz a opção
pelo aborto. Tem-se a sensação de alívio com a resolução do problema, mas se esquece que
acabou assassinando alguém. Eu penso que esse julgamento interno de quem pratica um aborto
fica no inconsciente. Num outro momento da vida em que ela tem que se ver com questões de
auto-estima, esse julgamento vem com toda intensidade e aí a pessoa se deprime”, explica
Scapin.
Crime Hediondo
Para o endocrinologista Francisco Vasconcelos “o aborto nada mais é que um assassinato.
É você condenar alguém que ainda não nasceu à morte, sem ao menos haver um motivo para
isso”. Segundo o médico, o aborto pode ser considerado um crime como outro qualquer, portanto,
punível. Ele comenta que o aborto pode deixar profundas seqüelas. Quando malfeito, pode levar à
morte da mulher devido a infecções graves causadas pela septicemia, que é uma contaminação
generalizada do corpo. Para aquelas que conseguem fazer um aborto em condições favoráveis,
sem o perigo de infecções, “sempre vai sobrar a possibilidade de existir aderência intra-uterina,
que causam dificuldades de gravidez futura e isso vai ser mais traumático ainda”, acrescenta o Dr.
Vasconcelos. E ainda prossegue com convicção: “Eu acho que nenhum de nós tem direito de
condenar alguém à morte, de decidir quem vai viver ou quem vai morrer. Em caso de estupro, o
crime foi cometido pelo estuprador e não pelo feto que está no útero”.
Interrompendo de forma cruel a continuidade de uma vida elimina-se momentaneamente
um problema da matéria, mas o pior está por vir. O que acontece após um aborto não se restringe
apenas à parte física e mental da mulher ou do homem que tenha participado da concepção, mas
que no entanto se nega a assumir a responsabilidade.
“Legalizando o aborto, estão esquecendo a gravidade do problema na parte espiritual, por
que isso é um assassinato e acaba gerando um grande karma. Isso acumulado um dia vai se
refletir na vida de quem praticou um aborto, em forma de doença e principalmente conflito”,
garante Koji Sakamoto, coordenador da Fundação Mokiti Okada e reverendo da Igreja
Messiânica Mundial do Brasil.
Sakamoto alerta também para a questão do controle da natalidade. Acredita que se as
coisas continuarem como estão, com um número assombroso de abortos, “daqui a alguns anos vai
faltar material humano, e isso vai quebrar a lei da natureza”.
E vai mais longe em sua análise do problema dizendo que o aborto surgiu em função da
necessidade de se controlar o crescimento da população de alguns países do mundo.
O comentário feito pelo padre Antonio Marcondes, assessor de comunicação do Santuário
São Judas Tadeu, em São Paulo, deixa claro que está na hora de a sociedade participar com mais
boa vontade nas decisões que atinjam um sem-número de pessoas e que não tem a menor
coerência resolver uma situação em que houve um crime praticando outro crime.
“Temos a obrigação de proteger e lutar em favor da vida humana, desde o ventre materno
até sua fase terminal. Portanto, onde existir com segurança uma vida humana individual e
pessoal, ninguém tem o direito, nem mesmo a mãe, de dispor autoritariamente sobre a
continuação da existência desta vida inocente”, diz padre Antonio.
Sem dúvida, um homem que comete o crime de estupro deve ser punido com rigor pela
lei.
De formação cristã, padre Antonio diz que mesmo em caso de anomalia grave para o feto,
onde o aborto terapêutico prima pela vida da gestante, a sua moral prega pela valorização da vida
sem distinção.
Idealiza que deve haver empenho da sociedade e do Estado em criar estruturas sociais
onde as mulheres que são vítimas de violência sexual possam receber tratamento psicológico
durante a gestação e que os filhos que resultem de estupro sejam criados por entidades
subsidiadas como solução para se evitar o crime de aborto.
Não Matarás.
STABELITO, A. C. Não matarás. In: Revista Nova Era – Ano VI – Nº 28. São Paulo: Fundação
Mokiti Okada – M. O. A.

Esta é a resposta a uma das perguntas iniciais contidas no livro de Nércio Antonio Alves,
“Nós Abortamos...”, que são relatos psicografados de diversos espíritos que praticaram o aborto e
encontram neste alerta à humanidade uma forma de redimir um pouco da sua pena.
Para os espíritas, seguidores de Alan Kardec, o aborto é algo abominável. Segundo o
relato de diversos espíritos – apresentados em livros – os abortados voltam ao Plano Espiritual
num estado lamentável, deformados, vítimas da rejeição. A maioria, durante um bom tempo,
continua se contorcendo de dor, revivendo os instantes da morte, sua luta para viver, frágil e
indefesa diante das modernas “técnicas” adotadas pela medicina. Demoram para retornar ao
estado natural. Dizem que os que demoram são aqueles que acreditam na possibilidade da mãe se
arrepender antes de praticar o aborto. Muitos voltam com um ódio profundo, revoltados, com
desejo de vingança. Outros, de tanta dor e ódio, não conseguem retornar ao Plano Espiritual,
ficam encostados na mãe, tentando faze-la pagar pelo crime que cometeu. Geralmente, segundo
afirmam, mulheres com distúrbios mentais, depressão e acometidas por doenças que não
conseguem ser diagnosticadas levam consigo estes espíritos.
No livro “Deixe-me viver”, Irene Pacheco Machado, que psicografa as mensagens do
espírito de Luiz Sérgio, mostra que o trabalho para a recuperação do espírito de um abortado
exige paciência e muita dedicação, pois explica que as pessoas estão sempre ligadas por uma
família espiritual, ou seja, nascemos, encarnação após encarnação, dentro do mesmo grupo ou
linhagem, devido às nossas afinidades. Por isso, um filho pode ter sido um pai ou irmão em outra
vida. Às vezes, pode ter sido uma pessoa por quem se jurou amor eterno, por ignorância, agora é
rejeitada e assassinada. Pode ter sido alguém a quem se precisava agradecer ou receber perdão.
Para os espíritas, o corpo da mulher é sagrado, é como uma “terra fértil”. Tem a missão de
reproduzir e deixar nascer o fruto que carregava no ventre. “Mas muitas mulheres não entendem
o real significado da maternidade e usam o corpo apenas para sentir prazer”.
Fazendo parte da edição “Valorizar a Maternidade para Preservar a Vida”, o livro de
Nércio Antônio Alves, citado no início, contém mensagens mediúnicas de espíritos que
ignoraram a vida e desprezaram a missão quando estavam vivos. Acompanhe alguns desses
relatos.

O Aborto Feito por Dinheiro


“Num abismo profundo, vivi dias incontáveis em um sofrimento que não terminava
nunca. Mergulhada na escuridão, ouvia lamentos, gritos, choros. Sem meios para me libertar,
tinha somente o remorso e o peso na consciência por companhia, ouvindo constantemente as
vozes infantis das minhas vítimas, os pedidos de clemência e choros soluçantes. Como louca
tentava fugir daquilo...”. Estas palavras são do espírito de uma enfermeira que praticou um
número sem fim de abortos com intuito de ganhar dinheiro. Com o sofrimento externo,
lembrou-se de Deus e passou a suplicar-lhe perdão. Passaram-se anos que conseguiu ir para um
estágio de recuperação, onde ficou por mais um bom tempo até que foi avisada de que iria
reencarnar em uma favela, passaria muitas dificuldades e teria que carregar nos braços as vítimas
do passado que não souberam lhe perdoar, devendo-lhe dar muito amor.
Há também a história do espírito de um médico, criado com muito carinho pelos pais para
ser “as mãos abençoadas que ofereceria a vida aos pequeninos seres”. Em vez disso, influenciado
pelos bens materiais, o ginecologista começou a praticar o aborto. Ficou rico, mas morreu muito
doente. No Plano Espiritual vagou “ouvindo cada uma das pequeninas vítimas amaldiçoando-me
e chamando-me de assassino. Foi um sofrimento aflito e interminável”. Depois de anos, este
espírito conta que foi recolhido a uma espécie de manicômio, onde permaneceu por muito tempo
até ser avisado que estava próximo o seu reencarne. Pensava que seria medico novamente e que
não iria medir esforços dessa vez, para cumprir bem a sua missão. Mas no dia do retorno foi
avisado que nasceria no corpo de um idiota para reparar o mau uso da inteligência e a falta de
dever medico.
Muitos espíritos contam que rejeitaram os filhos por falta de condições, por não querer se
privar dos prazeres materiais – bens, luxo, passeios, viagens. Alguns não suportavam crianças,
não queriam arcar com as despesas da escola e alimentação e nem com a responsabilidade da
educação. E sofreram muito com as conseqüências quando estavam no mundo material. Quando
desencarnaram então, é indescritível o seu sofrimento, ainda mais por verem o mal que causaram
a pessoas que lhe eram tão queridas.

A Esperança do Altruísmo
Estes relatos confirmam o que ensina Mokiti Okada: as leis do Mundo Espiritual são
justas e imparciais.
É impossível saber os laços que ligam um feto a uma família. É impossível imaginar qual
seria a sua missão e as conseqüências dos atos cometidos levianamente, em nome do egoísmo e
absolvidos pelo materialismo. E é justamente o materialismo grande vilão da história da
humanidade. Foi por buscar poder, fama, e dinheiro apenas para si próprio que o homem se
afastou tanto das Leis da Natureza, da verdade divina. Mas o excesso de egoísmo só lhe trouxe
infelicidade e, hoje, ele colhe os resultados das suas más ações.
Rejeitar um filho é o mesmo que rejeitar a missão como ser humano. Existe algo mais
bonito do que doar um pouco do nosso tempo para formar um outro ser? E formar não é só gerar,
é ensinar, amar, fornecer o alimento físico e espiritual.
O ideal é deixar as coisas acontecerem naturalmente, sem se preocupar em ser capaz de
educar uma criança ou ter condições materiais para sustenta-la. Segundo Mokiti Okada, cada
criança já nasce com seu dote. Mas como o homem só enxerga a matéria, ele não consegue
compreender isso. E prefere abortar do que enfrentar uma situação que, com sua visão limitada,
julga lhe dará muitas “dores de cabeça”.
A Ministra Gilda da Silva Costa, que fica no Solo Sagrado da Igreja Messiânica Mundial,
em São Paulo, SP, ouve e orienta quase todos os dias pessoas que sofrem devido a um (ou mais)
aborto. E para mostrar a gravidade do problema e o que deve ser feito para soluciona-lo, ela
apresenta a experiência de Moacyr Antônio Lopes Silva, de Jacobina, Bahia, que vem a seguir.
“Em 1988 minha mãe sofreu um acidente (no dia das mães) no qual quebrou as duas pernas, 22
costelas, a clavícula direita e perfurou os pulmões e fígado. Ficou vários dias na UTI em Feira de
Santana e Salvador. Na ocasião os médicos acharam que não sobreviveria mais do que alguns
dias. Nessa fase a pressão artéria caiu a zero, teve uma parada cardíaca e uma infecção
generalizada.
Após alguns dias de tratamento nós contratamos uma auxiliar de enfermagem (Fátima,
que era messiânica) para acompanha-la durante a noite. No primeiro plantão minha mãe suplicou
para que lhe fosse aplicada uma injeção à base de morfina, pois não suportava mais as dores.
Fátima então lhe disse que não, pois esta substancia química era muito forte e traria graves
conseqüências.
No mesmo instante, Fátima foi ao banheiro, lavou as mãos e começou a ministrar Johrei.
Mamãe sentiu-se aliviada e dormiu a noite toda. Depois disso ela recebeu Johrei todos os dias.
Retornando para Jacobina, BA, continuou o tratamento médico. Em 1990, por intermédio
de uma funcionária da loja de minha mãe, conhecemos um casal messiânico na cidade.
Recebemos Johrei, nos sentimos bem, e ficamos de voltar outro dia. Deste dia em diante eu e
minha mãe não deixamos de freqüentar a Igreja Messiânica.
Em 1993 fui escolhido pelos membros como responsável pela Casa de Johrei Jacobina,
função que exerço até hoje. Minha mãe, recebendo Johrei nestes setes anos, ficou completamente
curada das seqüelas do acidente, porem, nunca sentiu gratidão para se tornar messiânica. Mas esta
historia começa bem antes.
Em 1980 minha namorada engravidou. Com meu materialismo e egoísmo a convenci a
abortar, pois não queria me casar. Tive até que vender um carro para pagar o médico em Salvador
que aceitou matar meu filho. Casei em 1981 com outra moça, Ângela. Nossa vida era feliz, com
uma situação financeira razoável. Deste casamento nasceram dois filhos.
Nossa purificação começou em dezembro de 1987 quando perdi meu emprego e
roubara-me o carro que fora de minha mãe. Um ano antes Ângela ficou grávida. Mais uma vez
pelo materialismo e egoísmo rejeitamos esse filho. Até comemorarmos quando Ângela começou
a perder sangue e depois o feto. Em 1988 meu pai faleceu e em maio veio o acidente de minha
mãe, capítulo que abre essa minha experiência. Estávamos passando por uma grave situação
financeira em 1994. Nosso filho mais velho, o Leandro, que desde pequeno sempre foi muito
rebelde, começou a arrancar os cabelos deixando buracos no couro cabeludo. Tirava também os
pêlos das sobrancelhas e cílios. Não entendíamos o que estava acontecendo. Na época não
tínhamos a convicção de hoje, por isso procuramos uma psicóloga para análise. Tenho um irmão
que possui mediunidade e ele recebeu um espírito no momento em que olhou assustado para a
cabeça do Leandro. Esse espírito estava com ódio de mim e de Ângela, nos humilhou e dizia que
sabíamos o motivo. Em 1995 vendemos um vídeo e fomos ao Solo Sagrado, durante a sua
construção, dedicar pela salvação dos nossos antepassados.
Já no ano de 1997 minha mãe estava sofrendo de depressão e muita agonia, parecendo
que iria enlouquecer. Na casa de Johrei, para minha surpresa, ela relatou sua experiência desde o
acidente e pediu emocionada para que todos orassem por ela. Durante os preparativos para um
culto, uma freqüentadora incorporou um espírito. Pedi para que uma assistente religiosa ficasse
ministrando-lhe Johrei durante o culto. Quando este terminou um membro disse-lhe que o
espírito incorporado estava dizendo que era meu filho. Ele estava com ódio de mim e não aceitou
meu pedido de perdão. Dizia que eu o havia matado duas vezes. Lembrei dos dois abortos de 80 e
86. Perguntei-lhe e ele confirmou que por duas vezes veio para ser meu filho e eu o rejeitara. Ele
não tinha mais raiva da minha mulher, Ângela, pois ela orava por ele, e com isso ele recebia luz e
tinha seu sofrimento aliviado. Começou a xingar também a minha mãe com muita raiva, dizendo
que não era só ele que estava deixando ela louca, que havia vários espíritos com magoa dela.
Disse ainda que minha mãe há mil anos era um carrasco e o tinha abortado em outra vida e por
isso os espíritos tentaram mata-la no acidente, mas não conseguiram. E não deixavam que ela
recebesse o Ohikari (medalha messiânica para a transmissão do Johrei).
Ângela continuava durante todo o tempo ministrando Johrei no peito da incorporada para
que o espírito conseguisse perdoar e assim saísse do lugar horrível no qual se encontrava, uma
“lagoa de sangue cheia de ratos roendo a sua cabeça”, e que milhares de espíritos, todos
abortados, ali sofriam, segundo ela dizia. Depois de perdoar a todos ele foi embora e não mais
voltou. Relatei o que tinha acontecido para os membros e todos ficaram muito emocionados.
Pessoas choravam compulsivamente ao lembrarem que também haviam praticado o aborto.
Decidimos desde o dia 3 de agosto de 1997 orarmos diariamente, pela salvação de todos os
espíritos abortados. Leandro mudou completamente, começou a dedicar como Oficiante e nosso
lar se transformou em um Lar de Luz”.
Esta matéria não foi realizada com o objetivo de condenar ninguém. Afinal, o homem é
livre para escolher o seu destino. Ela é um louvor à vida. Às Leis da Natureza que precisam ser
respeitadas. É um grito de alerta. Quando o homem aprende a enxergar a existência do mundo
espiritual, entenderá que um corpo, ou um feto, é mais do que simples matéria, é um espírito com
direito à liberdade de viver e escolher seu próprio caminho, seu destino, sua missão e sua
felicidade.

Educação
SAKAMOTO, K. Educação. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 29. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada – M. O. A.

Muitas Vezes os pais pensam que os filhos nasceram para viver em sua própria função,
chegam a achar que são suas propriedades particulares e se esquecem que eles também possuem
uma missão a cumprir. Independente de quem os gerou.
No filme Pássaro Azul, o autor belga Maurice Materlinck mostra que a criança, antes
mesmo de nascer, já está predeterminada no mundo espiritual a conviver com a família.
Assim, os filhos vêm pelo intermédio dos pais, mas nem por isso lhes pertencem. Eles
pertencem a Deus. Cabe aos pais prepará-los para servirem da melhor maneira possível a Deus, à
humanidade e à sociedade.
Certamente as crianças têm espírito e matéria, portanto, é missão dos pais criar condições
para cuidar espiritualmente delas. Isso não depende apenas das palavras que lhes são
transmitidas, além do conforto, amor e carinho que lhes são oferecidas, pois são fatores materias,
que podemos sentir.
A verdadeira educação é transmitida dos pais para os filhos através do elo espiritual –
uma ligação invisível por onde passam diretamente as coisas boas e ruins. Por isso, os pais devem
se preocupar em fazer o bem, alegrar o próximo, acumular bons pensamentos e atitudes para
transmitir coisas boas à formação dos filhos.
É bom lembrar que o problema dos filhos é problema dos pais, portanto, para corrigir os
filhos, primeiramente é preciso corrigir os pais.
Os Três Anos Que Decidem Uma Vida
RODARTE, A. P. Os três anos que decidem uma vida. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 29. São
Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A., p. 09.

A ciência está agora confirmando o que os pais sempre souberam instintivamente: as


crianças pequenas precisam de muito tempo e atenção dos adultos em sua vida.
Apesar da descoberta de que os genes podem prever todos os tipos de comportamentos
emocionais, da felicidade à agressividade e o meio ambiente caminham juntos para determinar a
personalidade e os três primeiros anos de vida são fundamentais. Como afirma um ditado
japonês: “O que aprendemos em três anos não esquecemos em cem”. Em outras palavras, a
genética fornece a matéria-prima; a vida forma o espírito e a alma.
Estudos também mostraram que os relacionamentos familiares estão no centro do
desenvolvimento social de uma criança. Mesmo no útero, os bebês começam a reconhecer as
vozes abafadas das pessoas que provavelmente cuidarão deles e a perceber o que se passa a sua
volta. Por isso, é muito importante que os pais cultivem um ambiente harmonioso, controlem a
ansiedade, transmitam amor e carinho desde cedo e sempre se perguntem: “Isso vai fazer bem
para o bebê ou para mim?” Esse é o primeiro passo positivo para se chegar.

Doce Lar
Com o casamento e a chegada dos filhos é cada vez mais crescente o número de mulheres
que deixam suas profissões e passam a se dedicar integramente a eles. Como diz o ditado
popular: “amor de mãe é único” e o acompanhamento nesse primeiro momento de
desenvolvimento é muito importante para a criança. Caso não exista essa possibilidade, a mãe
pode se dedicar igualmente aos filhos quando chega do trabalho e nos finais de semana. Basta ter
a preocupação de investir na educação e na formação do caráter da criança.
Segundo a psicóloga Silvana Scavone Carneiro da Cunha, os aspectos emocionais e
educacionais são basicamente os que se desenvolvem nos três primeiros anos de vida. “Nesta
fase, a criança precisa de afeto, sente alegria, tristeza, medo, raiva, e não sabe como lidar com
esses sentimentos”, comenta a psicóloga.
Quando a criança nasce, a figura da mãe é seu maior vínculo com o mundo e a primeira
demonstração de afeto é a amamentação. O leite materno, além de ser um alimento natural,
oferece bem-estar e equilíbrio ao bebê. Mas a presença do pai é tão importante quanto a da mãe.
É ele quem vai traduzir sinais de segurança e de conforto. Estas fortes ligações também são
garantias de sobrevivência para o bebê e vão contribuir para definir sua personalidade.
Nessa fase, a criança acha que é o centro do mundo e que os pais existem para viver em
função dela. Principalmente se for o primeiro filho. Por isso, é muito importante ensiná-lo o
quanto antes os limites de cada um assim como conceitos sobre organização, hierarquia e
obediência. Por exemplo, o que proporciona grande satisfação à criança são os alimentos e o
sono. E são nesses pontos que a mãe se submete à vontade dos filhos.
“O sono é um aprendizado”, afirma a psicóloga Silvana. “Habituar a criança a dormir no
colo é inconveniente para ela e para os pais”, continua. Caso haja uma disciplina de horário,
melhor. Se a criança já recebeu colo, foi amamentada, está com a fralda limpa e não está com
nenhum incômodo, já está pronta para dormir. Mas ela se comunica através do choro e quando
percebe que consegue o que quer, mobiliza toda a situação com isso. Na primeira noite, ela pode
chorar um pouco no berço; na Segunda, se a mãe conteve a ansiedade, não chora mais. Às vezes,
é difícil agüentar o choro intermitente de um bebê, mas se isso for feito uma vez, ela vai perceber
que não conseguirá nada com isso e sossegará. É um treinamento que traz melhoras a cada dia e
grande crescimento interior para ambas as partes.

Crianças mais Felizes


Apesar de achar que a criança é pequena, indefesa, não devemos compensar suas falhas e
sim fazer com que ela se fortaleça para enfrentar os desafios e superar os seus limites. Quando ela
cai, por exemplo, depois de verificar que não foi nada grave, podemos incentivá-la a levantar
sozinha, sem a nossa ajuda. Ela lembrará disso o resto da vida e também aplicará em outras
questões, na escola, no trabalho, na sociedade.
A assistência dada nessa fase pode se refletir em qualidade e liberdade para os pais no
futuro. Isto porque a certeza de que seu amor é retribuído, que ela é valorizada e que pode contar
com a mãe e com o pai cria um ligação mais segura. Porém, a superproteção cria indivíduos
fracos, inseguros, e impede o crescimento do ponto de vista emocional. Segundo a psicóloga
Silvana, geralmente a causa disso está em pais que tiveram pouca atenção na infância ou que
também foram super protegidos. Os limites estão dentro daquilo que a criança precisa no seu
contato com a realidade. Com aproximadamente três anos, inicia-se a fase da individuação e da
descoberta. A criança começa a se libertar da mãe, já quer escolher as roupas que vai usas,
vesti-las sozinha e, diante de novas situações, quer se sentir protegida, acompanhada pelos
cuidados. Assim, o desprendimento dos pais é o maior benefício para o desenvolvimento
emocional da criança, na medida em que é um reforço positivo, uma permissão para atingir
objetivos através da curiosidade e da exploração do ambiente e para tornar a criança feliz.

Aprendendo A Viver Melhor


RUGGERINI, M. E. Aprendendo a viver melhor. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 29. São Paulo:
Fundação Mokiti Okada – M. O. A.

Um acompanhamento cuidadoso desde o nascimento da criança até seu primeiro ano de


vida pode prevenir e diagnosticar doenças na infância e se refletir em qualidade e saúde no
futuro.
O desenvolvimento neurológico, do peso e da estatura, assim como a coordenação motora
está intimamente ligado com os estímulos que os pais oferecem à criança. Por exemplo, colocá-la
em pé, brincar freqüentemente com ela estimula o desenvolvimento motor e físico.
Os problemas alérgicos, na maioria das vezes, podem ser suspeitados com
aproximadamente 15 dias de vida. Os sinais são obstrução nasal, casquinhas nos cílios e na
cabeça. Assim, basta evitar roupa de lã ou sintética, agentes externos do meio ambiente como
produtos de limpeza, desinfetantes, aerosol, poeira. Os pais também devem ficar atentos quanto
aos alimentos que são oferecidos aos filhos e procurar evitar os industrializados. O leite de vaca
pode ser substituído por leite de soja, que é mais natural, e o açúcar refinado pelo da própria
fruta.
Todos sabem que o leite materno é fundamental para estabelecer relações seguras com o
meio e com o mundo. Isso porque é alimento físico, emocional e espiritual e é bom que seja
exclusivo até os seis primeiros meses. O desmame pode ser feito gradualmente, incluindo outros
alimentos em sua dieta. Pesquisas comprovam que crianças que receberam o aleitamento são
mais tranqüilas e seguras, têm menos problemas dentários e adoecem menos do que as que não
receberam e quando adoecem, apresentam uma grande força de recuperação.
A produção de leite ocorre naturalmente após o nascimento. A liberação do leite pelo seio
depende de fatores emocionais como a disponibilidade para amamentar e a tranqüilidade. Mães
ansiosas têm mais dificuldade para amamentar e, com isso, têm filhos mais irritados e com
cólicas intestinais. As cólicas também são relacionadas ao ambiente agitado e ansioso. Quanto
mais harmônico o casal e o ambiente, mais tranqüila será a criança.
A saúde do bebê é a principal preocupação da mãe, mas muitas vezes ela se sente insegura
para resolver questões muito simples. Geralmente o resfriado dura de três a sete dias e a
hidratação é a melhor maneira para eliminá-lo. A mesma coisa acontece com a febre. Segundo a
homeopatia, a antroposofia e a filosofia de Mokiti Okada, a febre é sinal de que o corpo está
reagindo a uma determinada agressão e um dos meios para dissolver a toxina acumulada no
organismo.
O cuidado excessivo dos pais é um fator favorável à evolução das doenças,
principalmente na infância. E na manifestação da bronquite é onde mais pesa. Por isso, é muito
bom que haja mudança de postura dos pais e melhor observação dos limites dos filhos, pois
apresenta muitos fatores emocionais. Compreender as causas dos problemas ao invés de tentar
tratar os sintomas é tratá-los pela raiz. Esta é a maneira eficaz e só depende das atitudes e da
confiança dos pais.

Educação Vem Do Berço


Educação vem do berço. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 29. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada – M. O. A.

Os pais são as primeiras pessoas a acompanhar o desenvolvimento dos filhos através do


amor, da segurança, do altruísmo. E nem é preciso dizer como o caráter deles influencia a vida
dos filhos. Ensiná-los depende muito dos exemplos oferecidos. Não adianta só falar e mostrar o
que é certo. Precisa também pensar e agir corretamente.
Ser pacientes, compreensivos, atenciosos e até adivinhadores são grandes desafios que
fazem parte de toda família, principalmente nos três primeiros anos de vida do bebê. Nessa fase,
tudo é interessante para eles. Sombras na calçada, o distante latir de uma cão, uma voz no
telefone. Se os pais responderem com um sorriso e admiração e o riso do bebê, ele crescerá
sentindo que suas observações e reações são válidas e que as pessoas o ouvem, porém, se
crescerem num lar que não é muito acolhedor, poderão ser mais agressivos. Ao confortar uma
criança, por exemplo, os pais também estão mostrando que as necessidades dos outros também
devem ser levadas em conta.
Os psicólogos afirmam que o que conta mesmo é o tom com que se fala para crianças e a
atenção que lhes é dada num determinado momento. No filme “Três Solterões e um bebê”, o
personagem que estava contando uma história para o bebê disse: “Não importa o que estou lendo
e sim como eu o faço”. Falar pausadamente, ajudar a criança a expressar seus sentimentos.
Repetir suas expressões, como por exemplo, Isso mesmo! Ë um passarinho!”, deixa-a segura de
que foi compreendida.
Lembre-se sempre que os elogios motivam a criança a obedecer as normas mais simples.
Orienta-a para oferecer algo a seus colegas, não brigar, não bater, respeitar acima de tudo.

A Influência da Televisão
Pesquisas realizadas recentemente mostram que a televisão pode influenciar o
desenvolvimento do feto por meio das emoções que causa na gestante. No período de gravidez, a
mulher fica mais sensível e é muito importante que tenha uma vida alegre e tranqüila para
transmitir bons sentimentos ao bebê.
Já foi comprovado que diversos fatores ambientais podem Ter influência sobre o feto,
como o fumo, o álcool e a radiação, mas ninguém ainda tinha considerado a televisão como um
desses fatores.
Foram reunidas 60 gestantes entre 36 e 38 semanas na Universidade de New South Wales,
em Sidney (Austrália). Inicialmente, foi analisado se a gestação era normal e desejada pela mãe,
pois a rejeição também pode causar distúrbios no feto. Submetidas a apresentações de vídeos, os
resultados mostraram que a reação dos bebês foi maior quando havia som e imagem. Isto porque
o feto não só reage às emoções da mãe, mas também ouve e sente o que se passa ao redor.
Assim, hoje em dia até os desenhos animados são violentos, é bom que a gestante fique
alerta e que a mãe acompanhe ao que os filhos assistem.
Desde o momento em que a criança nasce, dizem os pesquisadores, ela aprende a copiar o
que vê, é assim que aprende. A televisão oferece todo um universo para ser copiado e as crianças
passam horas assistindo a programas que poderiam ser muito mais educativos, que estimulassem
a criatividade e a conviv6encia com as pessoas.
Estudos também revelam que a televisão impede a criança de fazer ö que deveria fazer –
como criar pequenos mundos que ela possa controlar”. Mas os pais podem mudar essa situação,
direcionando a programação para seus filhos.
As crianças que assistem aos desenhos de luta, por exemplo, são mais agressivas que
aquelas que preferem brincadeiras criativas. Depois de assistir a um episódio sobre construção de
casas, um grupo de crianças com idade entre dois e três anos resolveu fazer a mesma experiência
com seus brinquedos. Um outro grupo que assistiu ao desenho Power Rangeres, “literalmente”
resolveu lutar. Segundo pesquisadores, os personagens apresentados pela mídia estão sendo
usados pelas crianças como válvula de escape de seus problemas, já que não recebem a devida
atenção dos pais.
Andar de bicicleta, passear nos parques são sempre boas alternativas para levar a
criançada. Para os que preferem ficar em casa, que tal uma boa e divertida leitura? Basta usar a
imaginação e abusar da criatividade.
Educação Na Medida Certa
RODARTE, A. P. e STABELIYTO, A. C. Educação na medida certa. In: Revista Nova Era, Ano
VII, nº 30. São Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A., pp. 18 - 21.

À Procura de Heróis
Nesta fase da vida em que o corpo começa a mudar e os dentes já são quase todos
definitivos, o ser humano age através de exemplos. Ele precisa de um modelo. Bombardeado por
uma série de “heróis animados” que lutam com as mais modernas e poderosas armas, a criança
precisa Ter em casa um modelo que combata toda essa violência e não a incentive cada vez mais.
Segundo Mokiti Okada, filósofo contemporâneo, os filhos são o reflexo dos pais, por isso,
a base dos problemas das crianças está justamente em quem os gerou.
Quando a criança é agitada na sala de aula, agressiva com a professora, não faz tarefas
nem se envolve com os trabalhos escolares, os pais sempre dizem “ não sei porque ele é assim”,
“não sei a quem ele puxou”, “ele está impossível”... Ao invés disso, deveriam refletir sobre a sua
própria postura e o que poderiam estar fazendo para atrapalhar o desenvolvimento da criança. E
também o que estão deixando de fazer para a correta educação dos filhos.
Já que estão no papel de heróis, precisam Ter uma postura correta para influenciar
positivamente seus filhos e evitar decepcioná-los. Se a criança perder a identidade com os pais,
corre o risco de copiar maus exemplos e assumir um caráter perigoso. Por isso, se os pais querem
formar no futuro um adulto bom, íntegro e honesto precisam assumir esse mesmo perfil hoje.

Perdendo é que se Ganha


Às vezes é o ciúme do irmãozinho que nasceu, outras vezes a criança não quer dividir a
atenção da professora com os colegas, não empresta seus brinquedos para ninguém... Se ganha
uma bola, acha que sempre deve ganhar o jogo. Mas é importante ensiná-la que um dia ela perde,
no outro ela ganha e, se tiver compreensão, se divertirá todos os dias. E sempre terá amigos para
brincar.
Mokiti Okada ensina que o homem precisa perder para ganhar. À primeira vista, parece
algo estranho, mas é assim que funciona. Em primeiro lugar, o ser humano precisa deixar sua
própria vontade em segundo plano e, de forma altruísta, privilegiar o próximo, ajudando-o
sempre que possível. Numa discussão, é melhor deixar que a outra pessoa pense que saiu
vencedora. No final e aos olhos de Deus o vencedor será sempre aquele que soube ceder para
conquistar. Aquele que sempre quer levar a melhor, no fundo está caminhando para o abismo.

O Eterno Cordão Umbilical


A maioria dos pais acha que seus filhos não podem resolver suas coisas sozinho. Sempre
se colocam na posição de: “estamos aqui para fazer por vocês”. Esta é a opinião da psicóloga e
psicanalista Gina Tamburrino, 35 anos. “Na verdade, os pais retomam a infância deles como
referência e desejam proteger os filhos das dificuldades por que passaram”, explica a psicóloga.
Além disso, desejam que seus filhos sejam os melhores (mesmo que só na aparência), mas
os tornam fracos, ajudando-os sempre. Se eles caem, estão ali para ergue-los, se choram, sentem
pena e lhes enxugam as lágrimas. Se lhes negam alguma coisa, esmorecem e não conseguem
sustentar sua opinião. Saber dizer “não” é tão importante quanto o consentimento. Basta saber
dosar e encontrar o equilíbrio. “Chorar, se debater, ficar triste, também é uma forma de expressar
os sentimentos e todas as crianças precisam Ter essa oportunidade”, comenta Gina, que trabalha
com terapia familiar.
O papel dos pais é ensinar aos filhos que eles têm uma missão e precisam cumpri-la da
melhor maneira possível. Mostrar-lhes o caminho e transmitir-lhes os valores altruístas e
espiritualistas consiste na maior missão dos pais.

A Importância do Limite

Com aproximadamente quatro anos de idade, forma-se a identidade e se define o caráter


da criança. Os exemplos a serem seguidos são muito importantes nessa fase. Aos nove ele
percebe o que é bonito e o que é feio, já sabe que existem limites e valores a serem respeitados e
tem a noção de convivência com as pessoas.
Quando chega aquela idade do “mãe posso sair?” é difícil controlar a situação. “Se a mãe
sabe que o lugar é perigoso ou que a freqüência não é confiável, deve sustentar sua postura de
mão permitir que seu filho saia, caso contrário, pode deixá-lo se divertir à vontade”, afirma a
psicóloga. “Os filhos ficam confusos quando não há firmeza nas decisões e não sabem o que
devem ou não fazer”, continua Tamburrino.
Para Mokiti Okada todo sucesso depende do respeito aos limites, de não pender para os
extremos. “Só assim existirá a perfeita ordem e harmonia”, ensinou ele. “Todo exagero é
prejudicial. A resignação enfraquece o ritmo das atividades, mas a falta de resignação também
gera tragédias. Por isso, é bom ter noção de limites. Esse mundo é realmente difícil e interessante;
doloroso e agradável. Mal podemos distinguir as fronteiras da alegria e do sofrimento”.
Hoje, as crianças ou pré-adolescente, como preferem ser chamados, querem contestar,
desafiar a sociedade e o mundo. Cada dia mais violento, eles perderam a noção do limite. Andam
armados, roubam e até matam, como já ficou comprovado. De vítima, o jovem passou a agressor.
Em São Paulo, a Associação dos Comissários da Infância e da Juventude estimou em
mais de 70% o aumento da violência entre jovens de classe média e alta. Ë importante que as
escolas e as famílias ensinem que sempre haverá divergências e tensões, mas que existem formas
civilizadas de resolvê-las. E o diálogo é mais eficiente delas. Além disso, se uma pessoa
(independente da idade) for boa altruísta, acreditar no princípio espírito-matéria, odiará o conflito
e sempre conseguirá exercer suas atividades com justiça, respeito e ética. Sempre enxergará
maneiras de resolver um problema pacificamente, pensando em primeiro lugar no bem e
felicidade das pessoas.
O Papel de Cada um para o Sucesso do Conjunto
Nem é preciso dizer o quanto uma estrutura familiar sólida passa modelos importantes
como amor, respeito e dedicação. O quanto é fundamental que cada um cumpra seu papel s e se
aproprie do seu espaço. Existe o lugar do pai, que oferece segurança, o da mãe, que proporciona
conforto, assim como o da avó, do irmão mais velho, do filho do meio, do caçula... “Quando as
coisas não correm normalmente, a causa é a falta de ordem, principalmente tratando-se de
problemas humanos”, dizia Mokiti Okada. Quando a família se desestrutura, a criança cresce
repleta de incertezas.
O que se vê hoje em dia é uma inversão desses valores. A mãe desautoriza o pai na frente
dos filhos, transmite sua insatisfação pessoal ou deixa toda a educação por conta dos professores.
Em alguns casos, o filho obedece mais à avó do que à própria mãe. Mas quem gerou essa
situação?
A verdadeira educação é transmitida para os filhos através do elo espiritual, por isso, os
pais devem se preocupar em fazer o bem, alegrar o próximo, acumular bons pensamentos e
atitudes para influenciar positivamente o caráter deles.
De acordo com a filosofia de Mokiti Okada, a missão dos pais é cuidar espiritualmente
dos filhos e prepará-los para os desafios da vida. Os limites estão dentro daquilo que a criança
precisa no seu contato com a realidade.
Pais que mantém uma boa relação com seus filhos, acompanham suas vidas e conhecem
seus amigos têm melhor controle da situação. É o vínculo com os pais baseado no afeto, na
confiança e no respeito que permite que o filho possa se sentir amado, protegido e seguro.

O Perigo das Gangues


Uma vez que a família deixa de suprir as necessidades de apoio, o jovem passa a procurar
nas “gangues” um grupo para se identificar, até se tornar a sua grande refer6encia. Ele se sente
forte com a turma e faz coisas que não fazia sozinho. “Eles se vestem, falam, agem iguais, pois
precisam sentir que fazem parte de um grupo”, argumenta a psicóloga.
Muitas vezes, os pais não sabem o que fazer, têm medo, colocam barreiras ou preferem
dizer que sabem tudo, mas não esclarecem as dúvidas dos filhos. “Na verdade, há uma espera, os
jovens gostariam muito que os pais conversassem com eles sobre as mudanças que ocorrem no
seu corpo, sexualidade, drogas, profissão...”, afirma a psicóloga.
Quando os filhos se envolvem com pessoas de má índole e começam a praticar atos
terríveis, os pais procuram cortar o mal pela raiz. Proíbem, gritam, os afastam do convívio social.
É bom saber que o nível espiritual é que determina as amizades. Se um jovem for bom
(conseqüência de uma sólida base familiar), por afinidade, seus amigos também o serão e os pais
jamais precisarão se preocupar se eles serão violentos ou se envolverão com drogas, armas e
marginais.

A Lei da Compensação
A velha tática de cortar o mal pela raiz funciona. O problema é que, culpados pelo pouco
tempo que passam com os filhos e com medo de serem repressivos, os pais acabam se perdendo
numa educação muito liberal. Freqüentemente ouve-se os pais dizerem para os filhos o quanto é
duro trabalhar: ä mamãe precisa ganhar dinheiro”. O ideal seria: "eu me sinto feliz
desenvolvendo minha profissão e cumprindo minha missão”. Agindo dessa forma, fica difícil
administrar a sensação de abandono da criança. E como compensar isso tudo?
Com receio de frustrar as crianças, os pais fazem tudo que elas querem, na hora que elas
pedem, não importa qual seja o pedido ou quanto custe atendê-lo. E isso é prejudicial à formação
do ser humano e só ocorre porque a missão dos pais de educar não está sendo cumprida. Eles,
inconscientemente, acabam colocando trabalho, ascensão profissional, vaidades pessoais e
amigos na frente dos filhos. Pensem que os bens materiais compensam a aus6encia física e
espiritual. Os filhos precisam de atenção, carinho, de tempo para contar as novidades, mostrar o
que aprenderam e já sabem fazer. Precisam falar e ser ouvidos, necessitam dos pais para poderem
ser crianças.

Energia em Excesso
O mau comportamento, a falta de concentração ou a indisciplina que reina na maior parte
das escolas (não importa o nível social) tem origem no próprio lar. É conseqüência da falta de
educação, literalmente falando. Se a criança fica em casa o dia inteiro em frente à televisão
apresenta muita energia disponível quando se vê livre. “Neste caso, é natural que ela enlouqueça
a todos na escola, pois é lá o seu primeiro contato com a realidade fora do seu dia a dia”, enfatiza
a psicóloga Sônia Braga Urbano, que também é especialista em terapia familiar. É nesse ponto
que os pais começam a ficar preocupados. Nessa fase, as crianças apresentam suas emoções de
forma clara, transparente como um espelho. Assim, os pais podem se observar através delas: “o
meu filho sou eu”. Às vésperas do século XXI, as crianças sabem o que querem, só não sabem
como adaptar suas vontades ou como usar uma defesa melhor do que a agressividade. Por isso,
precisam de um par6ametro para dizer o que é certo e o que é errado na formação de seu caráter.

O Diálogo é Ponto de Partida


Os conflitos com os pais acontecem porque eles são autoritários e não aceitam as opiniões
dos filhos. “Quando existe o diálogo, as crianças têm uma melhor compreensão dos fatos de sua
vida e aprendem a gostar e aceitá-la como é”, comenta Sônia.
Medir esforços com os filhos gera mais revolta e complexos. “Antes de criticá-los,
deve-se saber o motivo pelo qual não querem atender à solicitação, ouvir suas opiniões e o que
estão sentindo”, diz a terapeuta. É preciso que haja respeito de ambas as partes. Os pais devem
oferecer exemplos e exigir o mesmo tratamento das crianças. Para consertar um problema,
criticar ou proibir só agrava a situação. Se deseja realmente revertê-la, é preciso agir com
maturidade e inteligência. Em vez de atacar o lado negativo, que tal explorar o positivo?
Ë importante fazer com que a criança exista e seja valorizada. Melhorar sua auto-estima
com elogios e incentivos faz com que ela se fortaleça para os desafios da vida e aprenda a se
reconhecer como indivíduo. Como uma pessoas íntegra, boa e honesta. Como alguém que não
precisa passar a vida tentando ser melhor nos cálculos, na aquisição de dinheiro e poder. Mas
como um ser humano que faz o melhor possível para cumprir sua missão e fazer do mundo uma
verdadeira civilização.

“Este mundo está tão consolidado na instrução materialista, que não percebe a eternidade da
vida”.

Mokiti Okada

Século XXI
Século XXI. In: Revista Nova Era, Ano VI, nº 30. São Paulo: Fundação Mokiti Okada – M. O. A.,
p. 22.

“Estamos às portas de um novo milênio. As transformações são muito


rápidas. A humanidade vai criando meios de facilitar cada vez mais o seu
dia a dia. Mokiti Okada um dia sonhou como seria a vida no futuro.
Nesse sonho ele viu coisas maravilhosas”.

“Nos jornais não existiam artigos sobre crimes. Destacava-se a parte relativa às diversões;
os artigos principais versavam sobre esporte, turismo, música, belas-artes, teatro e cinema,
redigidos em linguagem simples e precisa. Havia 50% de textos e 50% de fotos. Abundante era a
propaganda de livros e lançamentos. Lia o jornal todo em quinze minutos. Explicaram-me que
assaltantes e ladrões eram histórias do passado. Nas ruas apenas os automóveis. Os trens e ônibus
trafegavam pelo subsolo. Além disso não faziam nenhum barulho. Existiam dispositivos em volta
das janelas para isolar o som em toda parte, não havendo poluição sonora. Quando chovia, a água
se infiltrava e não se formavam poças. A força motora dos carros eram um mistério que
conseguia fazê-lo percorrer várias milhas. Assim que entrei num deles vi que não havia
motorista. Bastava segurar para movimentar-se. Árvores frondosas, cobertas de flores, frutas e
bordas coloridas embelezavam diversos pontos da cidade. Cada bairro. possuía um ou dois
pequenos parques públicos, onde as crianças brincavam alegremente. A cidade era o Paraíso das
Crianças. As mais diversas flores exalavam um perfume agradável por toda parte. O silêncio era
tão grande que não parecia estar-se numa metrópole. Artistas, profissionais e amadores faziam
apresentações conjuntas. Nesse novo mundo, era surpreendente a intensidade do turismo. Nos
parques nacionais, nas regiões montanhosas, nas praias e em ilhas pitorescas de várias regiões
havia um grande número de visitantes, provenientes de todos os países. As ferrovias e os meios
de comunicação eram magníficos e luxuosos; os preços, no entanto, eram bem baratos. Chegava a
ser quase de graça. Por isso, aquele era um mundo maravilhoso”.

Resumo de texto não-publicado de 1948


A Vida Embaixo da Terra
Você já se imaginou vivendo por caminhos subterrâneos, não ver o sol, não sentir frio,
sem respirar ar livre? Pois é. Isso existe. Durante a Segunda Guerra Mundial era comum as
pessoas ficarem horas e mesmo dias em abrigos subterrâneos fugindo dos ataques aéreos dos
bombardeios nazistas.
Hoje, para fugir do intenso frio, milhares de habitantes da cidade canadense de Toronto
vivem durante o rigoroso inverno da região em uma rede quilométrica de túneis que conduzem
diretamente para suas residências, trabalho, diversão e compras. Parece impossível, mas não é.
Qualquer um pode pegar seu carro, dirigir até o centro da cidade e subir para seu escritório sem
ver a cara do dia nem sentir os ossos congelarem. Os hotéis estão ligados por vias subterrâneas
aos principais locais de trabalho. Existe muita facilidade em chegar a qualquer lugar para comer
ou comprar alguma coisa sem o incômodo dos congestionamento e do barulho do trânsito. Tem
gente que já está tão habituada que afirma não Ter saudades da vida ao ar livre. Outros estranham
quando saem de recintos fechados e vêem novamente a luz do sol depois de um longo inverno.

Fonte: The Eall Street Journal

A Ética E A Moral Na Educação


RODARTE, A. P. A ética e a moral na educação. In: Revista Nova Era, Ano VII, nº 34. São
Paulo: Editora Fundação Mokiti Okada – M. O. A., pp. 33-35.

Divulgar mensagens diferentes sobre o ser humano, transmitir que ele não
é só matéria, e que por isso, a Educação tem também de atingir o espírito.
São estes os importantes ideais que Dora Incontri, 36, jornalistas, mestre,
doutoranda em Educação segue em sua vida.

Ela formou-se em 1985 e logo que saiu da faculdade de jornalismo voltou-se para a área
de Educação. Trabalhou no jornal O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde e Shopping News
sempre escrevendo sobre este tema. Na época da faculdade, lançou seu primeiro livro: Educação
da Nova Era (84), uma crítica ao sistema contemporâneo com algumas propostas inovadoras.
Trabalhou durante sete anos no colégio Nova Era, onde teve a oportunidade de desenvolver
algumas delas e hoje é coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade Ítalo-Brasileira.

Nova Era – Como, quando e por que você se interessou pela Educação?
Dora Incontri – Vários fatores me levaram a dedicar minha vida à Educação. Um deles
foi que eu morei três vezes na Europa e pude estudar em alguns colégios muito bons na
Alemanha, o que despertou em mim um grande senso crítico e me deu uma visão diferente sobre
Educação. Outro ponto foi a forte influência da minha mãe, sempre muito democrata, aberta ao
diálogo e à participação.
Nova Era – Quais as dificuldades encontradas?
Dora – Apesar do pouco investimento e incentivo na área de cultura, o maior obstáculo é
a resistência dos adultos em mudar o sistema convencional. Eles acreditam que a Educação está
voltada apenas para o vestibular, porém ela é muito mais complexa, já que tem o poder de
estimular a potencialidade e a criatividade do ser humano.
Nova Era – Quais as maiores realizações que fizerem você continuar com o projeto?
Dora – Eu tenho paixão pelas crianças. O retorno de tudo que lhes é proposto é muito
bom. O difícil é mudar a cabeça dos adultos. Por exemplo, discutir as questões levantadas por
elas e dar-lhes oportunidade para que exponham suas idéias, incentivam-nas a desenvolver tudo
que têm de bom dentro delas. Certa vez, quando lecionava para uma classe de primeira série, os
alunos propuseram a seguinte questão: para que nascemos? Eu não lhes dei a resposta, mas
coordenei a discussão até que chegaram à conclusão de que nós nascemos para aprender, ajudar
uns aos outros, crescer e sermos felizes. Eu não poderia ter melhor resposta do que esta.
Nova Era – Como você vê a Educação atualmente?
Dora – O problema financeiro que era predominante nas classes menos privilegiadas
agora está também atingindo as classes médias e alta, tendo em vista que nas escolas particulares
o índice de inadimplência, indisciplina e revolta está crescendo cada vez mais. Pedagogos do
mundo inteiro são unânimes em argumentar que a escola não está adequada para a criança
contemporânea. Mesmo a criança que mora em favela, assiste os programas de televisão, pode
Ter acesso a milhões de informações pelo computador, Internet, e freqüentar cinemas, teatro, etc.
Por isso, certamente não vai agüentar ficar sentada ouvindo o professor despejar-lhes
conhecimentos mortos com o giz na mão.
Nova Era – Na sua opinião, como chegou a esse ponto?
Dora – Existe uma anedota sobre um homem que foi congelado séculos atrás e que, ao
despertar no século XX, não conseguiu se reconhecer em nenhum lugar ou identificar alguma
instituição, porque tudo mudou, a tecnologia, a política, o setor do comércio, a indústria...
Somente a escola não evoluiu nos últimos 100, 200 anos. Apenas são colocados remendos, salas
de computadores, realizadas atividades extras, já que as pessoas não admitem romper o sistema
vigente.
Nova Era – O que é possível fazer para melhorar esta situação?
Dora – Eu não concordo com a educação atual por que ela é ultrapassada. O esquema de
lousa, carteiras, alunos sentados, quietos, ouvindo o professor falar é muito autoritário. Eu acho
que a Educação tem de ser ativa, que o aluno precisa ceder participativo, produzir coisa, ser
estimulado, e desenvolver sua criatividade. Além disso, a escola poderá prestar serviços à
comunidade, contribuindo com alguma coisa. Já que não se aprende a ser altruísta ouvindo os
outros falar, e sim praticando. Sempre pensando que bons sentimentos não se despertam através
da obrigação, mas pelo contágio.
Nova Era – Como você define o conceito de cidadania nos dias de hoje?
Dora – Está muito abusado. Todos falam em ética, cidadania, mas a linha de pensamento
adotada no Brasil considera o ser humano como um produto da sociedade. Na verdade, ele é uma
totalidade, tem aspectos espiritual, social, biológico, emocional, afetivo. Quando se enfatiza
apenas um deles, corre-se o risco de mutilar esse ser humano. Por isso, um cidadão pode ser uma
pessoa que cumpre seus deveres sociais, conhece todos os seus direitos, mas será que ele é feliz?
O ser humano precisa de algo mais: está faltando o sentimento.
Nova Era –Como respeitar os direitos e deveres do cidadão?
Dora – A educação está além dos direitos e deveres, por isso, eu acredito que a ética
precede a cidadania. Afinal, a ética não é só uma questão de respeitar o direito do outro e cumprir
seus deveres por obrigação; ela tem que despertar uma consciência moral, sentimentos de amor
ao próximo, fraternidade, justiça. Isso porque os sentimentos irão gerar os atos.
Nova Era – Já que a sua proposta é o retorno à espiritualidade, como você define a
missão dos pais?
Dora – Ela é primordial e um dos pontos falhos é a falta de atenção dos pais, pelo excesso
de trabalho, profissionais ou sobrevivência. É muito importante que a criança seja ouvida,
observada, que o pai e a mãe, participem de sua vida. Educar é acima de tudo estar junto,
compartilhar, dialogar. Não dá para ser pai só de fim de semana; é preciso de tempo. É preciso
haver equilíbrio dos pais no trabalho, na família, nos afazeres domésticos.
Nova Era – E o papel da escola na formação do caráter do homem?
Dora – Ela não está cumprindo seu papel de centro de cultura, expansão, afeto,
criatividade. Está mais preocupada com a parte burocrática, de organização, de notas, boletim,
caderno, do que tocar a essência do indivíduo. Assim, um dos problemas é a obrigatoriedade
permanente de todas as atividades. E qual é o modelo de criança que estamos formando na
escola? Ainda o de pessoas obedientes, calada, passiva, sem iniciativas, sendo que atualmente as
empresas necessitam de profissionais com autonomia, que não saibam apenas obedecer, mas
inventar, criar.
Nova Era – Qual a influência da TV e dos computadores nas atitudes das crianças?
Dora – A televisão pode ser um instrumento educativo se transmitisse programas que
estimulassem o conhecimento, a informação, o entretenimento. Porém, não deve ser assistida o
tempo inteiro, pois cria uma passividade muito grande no indivíduo. Além do uso moderado,
teria que ser qualificado, onde os programas pudessem ser escolhidos sem serem proibidos. Desta
foram, é melhor que sejam oferecidos alternativas de atividade para as crianças. Se os pais estão
presentes, participando, observando, podem de uma certa maneira exercer uma influência nesse
sentido. Os computadores também podem ser excelentes métodos educacionais, já que podem ser
usados como meio de produção e a Internet como fonte de pesquisa.
Nova Era – O que pode ser feito para conscientizar a sociedade sobre esta
problemática?
Dora – Nós precisamos de coragem para promover a libertação das crianças como
fizemos com os escravos no século19. Esta conscientização é um processo multiplicador que não
pode ser imposto pelo governo, mas que tem de brotar na sociedade e formar uma corrente ativa
na construção de um mundo melhor.
Nova Era – Quais os seus planos de caminhos alternativos para a educação?
Dora – Já estamos realizando vários cursos com professores da Universidade de São
Paulo (USP) sobre como escrever para crianças, formação e aspectos éticos do professor de
Artes, Educação em Família, etc. Também abrimos o Espaço da Hora, com turmas reduzidas,
pois se trata de atividades livres onde as crianças podem escolher o que fazer: música, poesia,
leitura, multimídia, trabalhos no computador, jogos pedagógicos e experiências científicas. Nosso
próximo projeto é criar uma grande colônia com uma escola totalmente revolucionária,
juntamente com uma faculdade de pedagogia.
Desenvolvimento Com Equilíbrio

OKADA, I. Desenvolvimento com equilíbrio. In: Revista Nova Era, Ano VIII, nº 37. São Paulo:
Fundação Mokiti Okada – M. O. A., p. 20.

É princípio elementar que os pais encarem a educação dos filhos como


sua principal responsabilidade, segundo Itsuki Okada, filha do filósofo
Mokiti Okada.

A época agitada das provas terminou. A vida escolar está mais tranqüila. Parece que, a
essa altura, os maus tratos entre os colegas de escola se acalmaram um pouco. Mas a situação real
ainda não foi contornada. Atualmente estão sendo discutidas questões sobre a consolidação da
Educação e a sua simultânea aplicação escolar e extra-escolar. Todos se lembram do incidente
ocorrido em uma escola de ensino médio dos EUA. Foi um incidente doloroso em que duas
crianças fizeram 15 vítimas. Parece que os pais dessas crianças afirmaram: “Jamais imaginei que
meu filho fosse capaz de fazer uma coisa dessas”.
A responsabilidade final pela educação não é apenas dos professores nem da sociedade,
mas sim dos pais. O que preocupa é se os pais possuem real compreensão do perfil de seus filhos.
Uma pesquisa realizada por um jornal constatou que nos Estados Unidos e na Europa o grau de
confiança das crianças nos pais é de 50 % a 70%. Entretanto, no Japão este índice cai para 15%.
Mesmo num país como os Estados Unidos, onde ocorreu um incidente como aquele, o grau de
confiança nos pais é elevado. No Japão, o porte de arma não é permitido por lei, por isso a
agressividade não se manifesta exteriormente. Mas se o índice acusa 15%, o relacionamento no
lar deve estar muito frio.
Dizem que nas escolas de ensino fundamental não são raras as crianças que se dirigem aos
professores dizendo: “te mato” ou “morra”, com muita naturalidade. Os japoneses são
naturalmente tensos a ponto de serem criticados. Por isso, é importante aprender a relaxar. Em
suma, o desejável é fazer com que as crianças possam se desenvolver sabendo manter o
equilíbrio, distinguir o particular do público.
Certo dia, uma pessoa famosa, que já passou dos 60 anos, disse que o seu mestre na época
da escola primária, que já tem mais de 90 anos, é saudável e continua dedicando-se à pintura. Ao
ser perguntado porque era tão saudável assim, o mestre respondeu, que durante a pintura, ora se
aproxima da tela para pintar ora se afasta da mesma para observar. Esse movimento é repetido
várias vezes. Normalmente, o ser humano anda para frente, mas dificilmente acontece de andar
para trás. Sendo assim, esse movimento de andar para trás é que talvez faça bem à saúde. Essa foi
sua resposta. Ele pode Ter razão sobre isso. Mesmo do que se refere a observação da saúde como
de todas as outras coisas, se dermos alguns passos para trás teremos uma visão geral. Podemos
Ter visão da posição que nos encontrávamos até então.
Em relação às crianças, será que as vezes não seria importante que elas fossem observadas
dando-se um passo para trás? Estamos em uma época em que, apesar de estarmos ligados aos
filhos através dos elos espirituais, não se pode descuidar.
Nesta época em que ouve redução no número de filhos por casal, será que não está
havendo uma tend6encia dos pais em relação aos filhos de interferir demasiadamente em suas
vidas? Tratando-os como um rei ou um material frágil, permitindo que façam de tudo e à vontade,
sem voz ativa?
Nessas ocasiões devemos dar um passo para trás e fazer uma reflexão: “Será que o meu
procedimento está correto? Quando estamos precipitados não conseguimos visualizar os fatos
reais. Os filhos também não ouvem com atenção. Devemos repreendê-los de acordo com a
situação. Se isso acontecer no momento certo, os filhos acabarão acatando o que é dito. Mokiti
Okada ensinou-nos: “Se estes desejam que seus filhos melhorem, antes de mais nada, é preciso
melhorar o próprio sentimento. “Observar os filhos retrocedendo um passo, significa observar a
sua própria postura. O fato dos pais manterem na própria consciência que seu pensamento e
postura se refletem diretamente nos filhos é algo de suam importância. Dessa maneira, pais e
filhos são submetidos a um polimento espiritual, por isso há casos em que não se deve pressionar
indiscriminadamente os pais, responsabilizando-os. O fundamental é os pais terem consci6encia
de que a criação dos filhos é de sua responsabilidade e, na mais, basta que ajam de acordo com a
circunstância.
Antigamente havia no bairro uma espécie de encontro de crianças, em que as maiores
como as menores brincavam juntas. Durante as brincadeiras, as crianças se misturavam e,
cuidando umas das outras, aprendiam natural e inconscientemente a respeitar e amar os colegas.
Para as crianças, a familiarização com os adultos e amigos, passando dificuldades e se divertindo
juntas, são tesouros para o resto da vida. O importante é desenvolver nas crianças, da mesma
forma que nos adultos, o sentimento de consideração pelas pessoas, de respeito e de gratidão.
Rumo a esse objetivo, as crianças precisam estudar e pensar na própria vida. Além disso, se
houver a soma de esforços, haja o que houver, elas jamais seguiram o caminho errado e acabarão
tornando-se pessoas úteis ao próximo.
Mokiti Okada dizia: “Se o homem deseja se elevar, é importante que crie uma ‘segunda
pessoa’ que passe a criticar a segunda pessoa. Assim procedendo, os equívocos deixarão de
ocorrer”. Dessa forma, uma atuaria voltada para o lado de fora e a outra, para o lado de dentro.
Esta, última, que atua voltada para o lado de dentro, seria aquela que se relaciona ao fato de
retroceder alguns passos e observar os filhos.

A Guerra Dos Jovens


“A guerra dos jovens”. In: Revista Nova Era, Ano VIII, nº 37. São Paulo: Fundação Mokiti
Okada – M. O. A., p. 22.

A infância e a adolescência tornam-se um pesadelo para aqueles que não


conseguem destacar-se entre os melhores nos estudos, esportes e
conquistas amorosas.

O que deveria ser um lugar de lazer, entretenimento onde pudesse dar início ao
aprendizado e à sociedade, transformou-se em pânico para as crianças, pelo menos no Japão. A
sociedade japonesa já vê com desconfiança o sacrifício a que são submetidas as crianças por
causa da obsessão das mães em busca do sucesso individual e do poder dos filhos. As chamadas
kyoiku mamas (mães obcecadas pela educação), que impulsionam esse sistema de competição
acirrada por um lugar no topo da pirâmide, chegam a atitudes extremas e irracionais para que
seus filhos ingressem em um prestigiado jardim de infância, o que praticamente lhes abre as
portas para escolas de melhor qualificação, garantia de um futuro mais promissor. Uma dessas
mães, em desespero bestial por sua filha ter sido reprovada num exame de admissão,
covardemente assassinou uma outra criança, de 2 anos, que havia sido aprovada no mesmo
exame. Ela confessou à polícia que estrangulou a pequena menina e a enterrou cerca de 200
quilômetro da cidade de Tóquio.
O sistema de educação japonês é implacável para aqueles que não tem um bom começo
nos estudos. Ë como se eles não tivessem chance de recuperação pelo resto de suas vidas.
Os jornais japoneses, em seus editoriais, analisam a degeneração do país em uma
sociedade hostil, “impulsionada por medidas exteriores de sucesso em vez de relacionamentos
humanos e sentimentos”.
Gentaro Kawakami, professor de sociologia da Universidade de Shumei, é um feroz
crítico desse sistema de educação. “Quando eu era jovem, os relacionamentos eram mais ricos,
não apenas entre parentes, mas entre vizinhos”, diz o professor. Ele explica que havia outras
maneiras de se avaliar a capacidade de uma pessoa, mas que hoje isso é feito por meio de notas
escolares.
Mesmo tendo ressurgido das cinza e pertencendo ao bloco dos países mais desenvolvidos
do mundo, esse tipo de comportamento que incita a rivalidade e provoca o suicídio entre aqueles
que “fracassam” não pode ser tomado como modelo exemplar de educação.
No Brasil, especialistas reconhecem que o aprendizado de outras línguas e informática,
por exemplo, estimulam muito o desenvolvimento intelectual das crianças. Por outro lado alertam
para o risco de se formar uma geração de adultos de inteligência superior, mas extremamente
estressados, neuróticos, e pior, infelizes.
A criança tem de desfrutar o lado lúdico da infância, que será uma única fase de sua vida,
na opinião de pesquisadores. Eles ainda dizem que a criança aprende quando a atividade faz
sentido para ela.
Suicidas – Ninguém consegue encontrar uma resposta que explique o fato de dois jovens
de família de classe média dos Estados Unidos provocarem uma tragédia que deixou 13 mortos
em uma escola de segundo grau em Denver, Colorado, no último mês de dezembro. Para
justificar o ato insano, os dois jovens gravaram fitas de vídeo onde diziam buscar notoriedade
com o feito. Excluindo-se a clara personalidade psicopata dos dois estudantes, pode-se considerar
também como responsável por tais atitudes extremas e selvagens o rígido sistema de educação
imposto à sociedade norte-americana, que praticamente obriga os alunos a obter sucesso nos
estudos e esportes, que naquele país têm peso dobrado. Quem não consegue vê nos
bem-sucedidos inimigos potenciais.
Por outro lado, estudos realizados em Londres demonstram que o comportamento
violento tem causas biológicas, não podendo ser atribuído apenas à criação de cada indivíduo.
TEXTOS QUE
COMPLEMENTAM A
COLETÂNEA
Fonte Variada

Ensine Seu Filho A Se Controlar


SHANNON, S. Ensine seu filho a se controlar. In: Revista Seleções, Ano ///, nº ///, agos. 1999,
pp. 60 – 65.

A última vez que o filho de 5 anos de Kathy Hrenko perdeu o controle, ele estava
patinando. Adam tentava imitar os garotos mais velhos que davam voltas e saltos espetaculares
com facilidade. Mas, toda vez que arriscava uma acrobacia, caía.
“Vi que ele estava ficando cada vez mais irritado”, diz Kathy, de New Jersey. Por fim,
Adam teve um acesso de raiva, chorando e atirando longe os patins.
Qualquer que seja a nossa idade, em qualquer momento todos sentimos raiva. Mas aquele
que não aprende a controlar o gênio segue pela vida rompendo relacionamentos, magoando
amigos, perdendo promoções ou algo pior.
“As explosões de raiva são um meio de expressar sentimentos”, diz a terapeuta Alicia
Tisdale, de Michigan, “mas são muito produtivas. Mesmo as crianças pequenas sabem que não se
sentem bem consigo mesmas quando perdem o controle. Portanto, precisamos ensinar-lhes que
podem optar por não ter um acesso de fúria, e também conversar sobre a razão porque estão com
raiva”.
Kathy HRENKO E O MARIDO, George, criaram formas de ajudar Adam a reconhecer
quando está a ponto de perder o controle, acalmar-se descobrir o que realmente o está irritando e
então tomar a atitude adequada. Eles sabem que auxiliar Adam a aprender esse tipo de controle
será um processo gradual, baseado tanto em derrotas quanto em pequenas vitórias.
Da mesma forma, uma vez que compreenda por que seu filho está zangado, você pode
ajudá-lo a dominar os sentimentos. Aqui estão os fatores mais importantes que contribuem para
despertar a raiva nas crianças:
* Traços inatos. A freqüência e intensidade com que uma pessoa se zanga é em grande parte
determinada pela personalidade. No livro The challenging child (A criança desafiadora), o
psiquiatra Stanley I. Greenspan descreve cinco tipos de crianças: altamente sensíveis, sensíveis,
introspectivas, rebeldes, desatentas, ativas/agressivas. “Cada um desses padrões pode ser parte do
desenvolvimento de uma personalidade saudável”, diz Greenspan, “ou, se potencializados, um
desafio. O importante é que, compreendendo em que tipo seu filho se enquadra, você pode
transformar os desafios em aspectos positivos”.
Uma criança de personalidade forte pode ficar zangada por razões que um colega mais
tranqüilo poderia desconsiderar. Será um pouco mais de tempo para ajudá-la a conhecer as
alternativas à perda de controle.
* Estágios do desenvolvimento. Quando uma criança está em meio a um grande salto no
desenvolvimento físico ou social, ela pode ficar mais propensas a explosões. Diferentes estágios
têm “deflagradores de raiva”. Uma criança de 1 a 3 anos, por exemplo, pode ficar enraivecida
quando tenta pegar uma tigela de morangos e ouve: “Isto é para o jantar. Não posso lhe dar
agora”. Uma criança de dez anos está apta a aceitar a mesma resposta porque já aprendeu a ser
paciente.
Sexo. Em geral, os meninos expressam raiva mais abertamente do que as meninas. Deve haver
uma explicação cultural para isso. Segundo Meg Eastman, co-autora de Taming the dragon in
your child (Domando o dragão em seu filho), pais e professores “estão mais propensos a esperar
e desculpar uma explosão de agressividade num menino e aceitar um acesso de choro de
frustração numa menina. As crianças de ambos os sexos, porém, precisam aprender a lidar com a
raiva sem violência ou manipulação”.
* Vida familiar. Uma criança contrariada por causa de um divórcio, uma doença, o nascimento de
um irmão, a mudança de cassa ou qualquer outro acontecimento importante muitas vezes mascara
sua confusão e mágoa ficando zangada. Por se sentir magoada, tenta magoar também.
O fato de a criança optar por fazer uma brincadeira para aliviar uma situação
potencialmente explosiva em vez de jogar a mochila do irmão – ou o próprio irmão – no chão
depende, até certo ponto, da maneira como a família lida com a raiva. Isso é mais evidente nas
famílias em que a raiva leva a gritarias ou comportamentos agressivos como bater portas. Em
famílias mais reprimidas, o padrão é diferente: como os membros da família se sentem
constrangidos com as emoções, ficar zangado é um crime. “As crianças imitam o que vêem a sua
volta”, diz Alicia Tisdale.
Uma vez que a idade influencia o modo como as crianças reagem a acontecimentos e
pessoas, aqui vão alguns conselhos sobre como ensiná-las a controlar a raiva em vários estágios
do desenvolvimento.

Acesso de raiva em crianças de 1 a 3 anos. Os bebês se enfurecem quando suas


necessidades físicas não são satisfeitas de imediato. Da mesma forma, uma criança de 1 a 3 anos
que esteja muito cansada, faminta, com sede, magoada, amedrontada ou frustrada esperneia,
chora e grita.
Algumas crianças precisam ser contidas fisicamente, com delicadeza porém com firmeza,
para que se acalmem, mesmo que a princípio resistam. É possível também ajudá-las falando-lhes
num tom de voz tranqüilizante. Outras precisam ser distraídas com uma nova atividade. “O mais
importante é que os pais não se enraiveçam também’, diz Alicia. “Isso assusta a criança, pois a
faz pensar: ‘Se a mamãe ou papai não podem se controlar, como é que eu vou pode?’”
Não castigue uma criança com menos de 3 anos deixando-a sozinha depois de um acesso
de raiva. Segundo o Dr. Greenspan, isolar uma criança zangada pode levá-la a pensar que a raiva
“é algo que faz a mãe sumir”. Em vez de aprender que pode se sentir feliz de novo depois de ficar
zangada, a criança relaciona a raiva ao abandono e ao desespero.
Frustração em pré-escolares. Francess Lantz, de Santa Barbara, Califórnia, estava
passeando na praia com o filho Preston, 4 anos, e uma amiga com um filho da mesma idade.
Quando a outra criança pegou uma vareta, Preston a quis também. “Tive de segurar Preston, que
já estava aos gritos"” recorda Francess.
Desejar o que o amiguinho tem geralmente trás frustração e raiva à criança na idade
pré-escolar. Na lista de “deflagradores” incluem-se também: fome, exaustão, medo, falta de
habilidade motora, incapacidade de encontrar as palavras certas para expressar os sentimentos e
que a situação em que o adulto assume uma tarefa que ela deseja fazer sozinha.
Quando uma criança dessa idade está zangada, os pais podem apelar para a “atenção
ativa”- eles ouvem o filho, compartilhando seus sentimentos: “Sei que está tendo um dia difícil.
Voc6e parece zangado. Quer falar comigo sobre o assunto?” Isso dá à criança a oportunidade de
se compreender melhor.
Os pais devem dizer aos filhos que é normal ficar zangado, desde que não se firam outras
pessoas ou destruam seus objetos. Tire a criança da situação que desencadeou a raiva tentando
distraí-la: “Sei que você quer o caminhão do Tyler, mas não é certo tomá-lo ou bater nele. Vamos
ver o que este outro caminhão pode fazer”.
Se após essa interação a criança tiver um acesso de raiva, Meg Eastman aconselha
ignorá-la por alguns minutos. Fique por perto, mas não lhe dê atenção. Isso faz seu filho
compreender que não pode controlar voc6e com a raiva. Após três minutos diga: “Agora está na
hora de você se controlar. Enquanto eu conto até dez você se controla, quero que se acalme”. Se o
acesso de raiva continuar, dê a ele um castigo, como cancelar um passeio ao parque.
Agressividade em crianças em idade escolar. Entre os 6 e os 12 anos as crianças querem
ser aceitas pelos colegas. A raiva muitas vezes é uma reação à sensação de não estar integrado ao
grupo.
Uma vez que as crianças dessa idade desejam ser consideradas autoconfiantes e capazes,
elas podem ter a idéia errada de que precisam vencer todos os conflitos. Isso pode levar uma
troca de insultos espantosamente cruéis. “Você tem cara de idiota”, grita uma criança zangada.
“Todo mundo sabe que você é o pior do time”, replica a outra.
Os pais devem deixar claro que, mesmo zangadas, as crianças ainda podem escolher como
reagir. Perda de controle, agressão física ou verbal são inaceitáveis. Reconheço a raiva, mas
contenha o mau comportamento pondo a criança de castigo, tirando-lhe privilégios ou
atribuindo-lhe mais tarefas.
Você também pode ensinar seu filho a aliviar a tensão de uma forma física que não seja
violenta: treinar arremessos de basquete, brincar de atirar objetos para o cachorro pegar, fazer um
desenho que mostre a sua raiva.
Adolescentes geniosos. Muitas vezes a raiva do adolescente vem da necessidade dos pais
de proteger os filhos contendo sua ânsia de independência. Nessa idade é mais importante do que
nunca ser aceito num grupo, e nessa fase a atração sexual faz parte da aceitação. O que quer que
impeça isso – como proibir o uso de uma saia muito justa ou marcar hora de voltar para casa –
serve de combustível para raiva.
Meg Eastman aconselha os pais a Ter senso de humor, desistir do controle total e
estabelecer castigos – como suspensão da mesada – no caso da violação das normas domésticas.
Estas devem incluir a cortesia e o respeito mútuo: gritos, violência e insultos não serão tolerados.
Ajudar as crianças a controlar a raiva não é tarefa muito fácil, mas traz recompensas.
Desde que Kathy e George Hrenko começaram a conversar com Adam a respeito de seus
sentimentos, o menino vem progredindo efetivamente. “Agora, quando está exausto e sente que
uma ‘crise’ se aproxima, ele diz: ‘Preciso descansar’”, conta Kathy.
“Aprendemos também que o humor ajuda”, continua ela. “Quando digo para ele ‘Se você
não conseguir de imediato... ‘, Adam conclui ‘... desista’”.

Por Que É Preciso Dizer Não


GRANATO, A. Por que é preciso dizer não. In: Revista Veja, Ano ///, nº ///, 16 jun. 1999, pp. 124
– 130.

Depois de uma geração que tudo permitia aos filhos, agora educar é
saber impor limites

Você, pai e mãe da virada do milênio, sabe quanto está difícil educar filhos. Na hora do
banho, o pequeno chora e esperneia. Só come na frente da televisão. No shopping, quando vê um
brinquedo novo na vitrine, faz birra até que a mãe decida comprá-lo. Para os pais de hoje,
nascidos ou educados nos anos 60 e 70, lidar com essas situações é mais complicado do que se
imagina. Dar uma palmada ou impor um castigo, nem pensar. Afinal, essa geração de pais
cresceu ouvindo dizer que nada é mais saudável do que deixar as crianças exercitarem suas
próprias emoções, limites e potencialidades. As idéias em voga na época em que esses pais
estavam na universidade sustentavam que é assim que se formam adultos criativos, curiosos e
críticos, mais habilitados a tomar decisões e mais tolerantes com idéias alheias. E agora? O que
fazer com o adolescente que passa a madrugada na frente do computador, dorme até tarde e deixa
as roupas espalhadas pelo quarto? E se a filha queridinha do papai aparece em casa de piercing no
nariz?
Dizer não é um desafio que está além das forças e convicções de muitos pais e mães. Veja
o caso da comerciante Gleisy Pires, do Recife. Genuíno produto dos anos 60, Gleisy nasceu em
1963, numa família conservadora. “Eu não tinha liberdade para nada”, conta ela. “Nunca pude
discutir meus problemas com minha mãe. Meu pai não me deixava sair de casa, nem para ir a
festinhas na casa dos amigos. E, se errasse ou desobedecesse, apanhava.” Hoje, aos 36 anos,
Gleisy é mãe de três filhos, uma adolescente, de 13 anos, e um casal de gêmeos, de 8 anos. As
crianças brigam, tiram os móveis de lugar, perseguem o cachorro em cima dos sofás, espalham
roupas e brinquedos pela casa. “Eu vivo num eterno dilema”, conta Gleisy. “Sei que é preciso
colocar limites, mas não quero repetir com meus filhos o que os meus pais fizeram comigo.
Tenho medo de que, no futuro, eles me vejam como uma pessoa que vivia gritando e cerceava
tudo o que tentavam fazer”.
Esse tipo de insegurança é mais do que natural. Milhões de pais e mães no mundo se
sentem assim. Muitos chegam a Ter medo de entrar em confronto com os filhos. Não sabem o
que pode resultar de um embate. No passado, os pais acreditavam que os filhos lhes deviam
obediência cega. Justificavam-se perante si próprios com a crença de que estavam impondo uma
linha de comportamento rígida para o bem das crianças. Os jovens pais da geração que agora está
vendo os filhos crescer não acreditam mais nisso. Aprenderam que, pelo velho modelo, os
adultos corriam o risco de ser tiranos com as crianças, ser injustos e até mesmo usar os filhos
como saco de pancada apenas para dar vazão às próprias frustrações. Acontece que muitos pais
modernos se tornaram modernos em excesso. Não sabem dizer não para nada. Com isso,
prejudicam os filhos. A liberdade excessiva, ensina gora um número crescente de psicólogos e
pedagogos, produz adultos sem noção de limites e responsabilidades.
Esse é o assuntos do momento entre especialistas em educação no mundo inteiro. No
catálogo da Amazon.com, a maior livraria da internet, existem nada menos que dezesseis títulos
de livros sobre dizer não aos filhos. Eles tratam de tudo, do sono dos recém nascidos à prevenção
do uso de drogas. Na Inglaterra, um dos maiores sucessos editoriais nos últimos meses é um livro
chamado Saying No – Why It’s Important for You and Your Child ( Dizer Não – Por que Isso É
Importante para Você e seu Filho). A autora, a psicoterapeuta Asha Phillips, afirma que desde os
primeiros meses de vida dos bebês os pais devem estabelecer claramente certos limites. “Pais que
se recusam a dizer não nos momentos apropriados estão roubando de seus filhos a capacidade de
exercitar suas emoções”, escreve a terapeuta.

Asha Phillips também diz que cabe aos pais escolher a hora e a forma adequada de dizer
não. Espancar ou impor castigos físicos é, evidentemente, um comportamento absurdo e
inaceitável nos dias de hoje. “Mas um tapinha simbólico, bem de leve, num momento de birra,
pode ser uma atitude saudável dos pais”, afirma a terapeuta. Segundo ela, é errado permitir que
uma criança faça escândalo no supermercado ou no meio da rua porque se cansou de acompanhar
os pais nas compras. Da mesma forma, os adolescente precisam Ter horários para chegar em casa
e saber respeitar os demais membros da família.
“Quem diz sim o tempo todo, para não passar a imagem de autoritário, está criando uma
situação fantasiosa e perigosa diante da vida real”, explica Asha Phillips. “Frustração, raiva, ódio,
disputa e privação fazem parte do aprendizado de uma criança tanto quanto o amor, o carinho e o
afeto que ela deve receber dos pais”.
É curioso observar como as idéias a respeito da educação dos filhos vão mudando. Até a
metade deste século, a criança era encarada com um selvagem a ser civilizado. Essa noção serve
de roteiro ao filme Karakter, atualmente nas locadoras. É uma produção holandesa, ganhadora do
Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado, na qual um pai tenta moldar a personalidade
do filho e transformá-lo num adulto bem-sucedido usando uma receita que mistura desafios,
castigos e a mais completa ausência de afeto. Esta idéia, por incrível que pareça, prevaleceu até
bem poucas décadas atrás. O pai era o senhor absoluto da cassa, ao qual os filhos deviam prestar
respeito e obediência. Dele não se esperava nenhuma demonstração de carinho ou emoção,
especialmente em relação aos filhos homens.
De repente, tudo mudou. Nos revolucionários anos 60 e 70, ficou-se sabendo que amor, e
só amor, era a fórmula infalível para que uma criança crescesse feliz e emocionalmente estável.
All you need is love (tudo que você precisa é amor), anunciavam uma célebre canção dos Beatles.
Em casa e na escola, as surras de palmatória, cintos e varas imediatamente deram lugar à
liberdade quase absoluta. Alguns pais chegaram ao ponto de não incutir seus princípios religiosos
nos filhos, sob o argumento de que a escolha de uma religião ou nenhuma deveria ser tomada
pelo próprio filho quando ele tivesse a idade adequada para isso. Nas chamadas escolas
alternativas, surgidas nessa época, os alunos não precisavam fazer provas nem tinham notas ou
regras de conduta. Com isso, a geração que cresceu sob o domínio de pais autoritários fazia um
esforço sincero de dar mais liberdades aos filhos, para que a espontaneidade das crianças
florescessem sem ser abafada pela opressão dos mais velhos. Em muitos casos, o resultado foi
desastroso. Está aí uma geração de adolescentes e jovens entre os quais muitos se sentem
despreparados para enfrentar um mundo que cobra eficiência, respeito e disciplina.
Os pais dos anos 90 estão empenhados em buscar um ponto de equilíbrio entre aquela
autoridade opressiva do pai-patrão e a noção de liberdade sem fronteiras que a sucedeu. O
psicoterapeuta José Ernesto Bologna, consultor dos colégios Bandeirantes e Santa Cruz, em São
Paulo, costuma contar a história de Ícaro, um mito grego de mais de 3000 anos, nas suas palestras
sobre a importância dos limites na educação dos filhos. Nessa história, Ícaro é um garoto que, na
adolescência, recebe do pai, Dédalo, um par de assas feita de penas de aves coladas com cera.
Com elas, Ícaro poderia voar, desde que obedecesse determinadas regras, como não se aproximar
demais do sol. Pois foi exatamente isso que aconteceu. Ícaro voou tão alto que o calor solar
derreteu a cera de suas asas e ele caiu e morreu. “No mito há uma lição simples: os pais devem
estimular seus filhos a fazer coisas novas, como voar no caso de Ícaro, mas antes é necessário Ter
certeza de que o filho é capaz de respeitar limites”, observa Bologna. “É preciso ser sempre
muito claro e até intransigente quanto às regras e condutas a ser seguidas”.
Filha de uma geração mais repressora, a fotógrafa Loris Machado, de 48 anos, tornou-se
hippie na adolesc6encia. Era militante da onda flower power, ala fundamentalista do movimento.
“Cheguei a morar com índios embaixo de um jatobá à beira do Rio Araguaia”, conta. Sua forma
de vestir-se e comportar-se em público renderam-lhe muitas críticas dos filhos, que agiam como
se fossem seus pais. “Eu me lembro que vivia pedindo para ela se comportar”’ diz a atriz Maria
Valentim, de 21 anos, filha de Loris, que mora no Rio de Janeiro. “Dava bronca mesmo: suas
roupas pareciam uma fantasia. Eu sou mais certinha”. Maria é hoje mãe de Luana, de 1 ano e
meio, e quer encontrar um meio termo entre a educação liberal que teve dos pais e a autoritária
que sua mãe recebeu dos avós.
“Quero mostrar tudo o que pode, mas também o que não pode”.
Como tudo na vida, impor limites é também uma questão de bom senso. Castigos e
reprimendas não têm utilidade alguma se na relação entre pais e filhos também não houver
diálogo, compreensão, amor e carinho. Quando se diz não, é preciso explicar claramente por quê.
“Não adianta nada os pais castigarem uma criança proibindo-a de fazer algo que não tem nada
haver com os erros cometidos”, afirma o professor Nilson José Machado, da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, USP. Nesse caso, o não pode ser entendido como uma
arbitrariedade ou vingança. E isso não tem utilidade pedagógica alguma. “Às vezes um choro, ou
uma bagunça exagerada, é apenas um pedido de ajuda do filho”, explica a psicóloga infantil
Anair Mello, do Recife. “Nessas situações, as crianças pedem limites. Se os pais cedem, elas
ficam sem parâmetros para a vida”.
Aos 32 anos, mãe de uma menina de 1 ano 2 9 meses e grávida de sete meses, a psicóloga
paulista Christiana Cunha Freire imaginou que seria mais fácil educar sua filha. “Estabelecer
limites é difícil”, reconhece. “Nem sempre consigo manter o não até o fim, mas agora estou
tentando ser mais firme. Isso é importante para o futuro da minha filha”. Outro exemplo é o da
professora de inglês para crianças Ana Luisa Carneiro de Mendonça. Mãe de Leo, de 1 ano e 10
meses, ela prefere ser parcimoniosa nas repreensões e negociar de maneira mais cuidadosa os
limites com o filho. “Proibir tudo sem motivo pode frustrar a criança”’ raciocina ela. “Só uso o
não quando é realmente necessário”.
São raros os pais que conseguem dosar direito essa fórmula. Geralmente, começa a ceder
quando o filho é recém-nascido. Basta que chore no berço antes de dormir – e eles prontamente
acendem a luz, pegam-no no colo e o levam para dormir na cama do casal. Mais tarde, cedem
novamente quando ele, mais crescidinho, se recusa a comer o que os pais lhe oferecem e
transforma a hora de desligar a televisão num pesadelo doméstico. Aos pouco, perdem o pé da
situação, criando em casa um pequeno déspota. Muitas vezes o resultado dessa ausência de
limites dentro de cassa só vai aparecer na escola, ocasião em que a criança ou adolescente
começa a dar sinais de problemas emocionais.
Hoje é enorme a quantidade de instituições que dispõem de serviços especiais para
atendimento de alunos com problemas de disciplina e falta de par6ametros de comportamento. E
a procura costuma ser grande. “Em muitas famílias, liberdade é confundida com abandono”,
adverte a psicóloga Andréa Capelato, do Intituto Paulista de adolescência. “Infelizmente, muitos
pais nunca se preocuparam com seus filhos, nem para ajudá-los nos problemas nem para
corrigi-los nos erros”. Nesse caso, como o Dédalo do mito grego, acabam superestimando o
poder da avaliação dos próprios filhos. “Só definir os limites não basta”, afirma Andréa. “É
preciso observar como os filhos administram a própria autonomia”.
“É muito comum os pais não terem a menor idéia do que se passa com os filhos”, diz a
pedagoga Angela de Azevedo Antunes, coordenadora do departamento de orientação educacional
do Colégio Bandeirantes, escola tradicional de São Paulo. “Muitas vezes as crianças e os jovens
têm sérios problemas para encarar as mais básicas regras do convívio social”, constata. Desde
fevereiro, o serviço que ela coordena já realizou aproximadamente 700 atendimentos, de cerca de
2800 alunos matriculados na escola. Os casos incluem desde dificuldades de concentração e
atenção na sala de aula até uso de drogas e indisciplina. “a maioria dos pais trabalha dez, doze
horas por dia e mal consegue ver o filho, que passa a maior parte do tempo na escola”, explica
Angela. “Tivemos de assumir, pelo menos parcialmente, o papel da família, sob pena de vermos
nosso trabalho educacional comprometido”.
A ausência dos pais, na educação dos filhos é também responsável pelo aumento da
clientela nos consultórios psicológicos. É cada vez maior o números de crianças e adolescentes
que precisam desse tipo de ajuda. O psicoterapeuta Eugenio Chipkevich fez uma pesquisa
informal sobre o assunto em escolas particulares de São Paulo. Constatou que, em algumas
turmas, um terço dos alunos já tinha passado por algum tipo de terapia. “Estamos vivendo uma
excessiva medicalização e psicologização das dificuldades das crianças”, afirma ele. “Os pais
preferem pagar para que seus filhos resolvam essas questões em consultórios psicológicos, em
vez de assumir eles próprios a tarefa de ajudar”.
Chipkevich acredita que o problema de autoridade e imposição de limites está
particularmente ligado à figura paterna. Tradicionalmente investido da última palavra quando o
assunto diz respeito aos filhos, o pai moderno está muito mais preocupado com o trabalho, com
as formas de ampliar os rendimentos e com as realização pessoal do que com a educação dos
filhos. “O adolescente que flerta com o perigo e com a violência está em busca da figura do pai,
investida de autoridade”, diz ele. “As vezes acaba encontrando-a num delegado de polícia”. Por
essa razão, segundo ele, pais e filhos precisam ter um relacionamento de respeito e amor mútuos.
Outro aspecto crucial é a integridade. O filho deve identificar coerência nos conselhos e
orientações que recebe. “Os pais não podem ensinar uma coisa e fazer outra muito diferente”,
ensina Nílson Machado, professor da Universidade de São Paulo. É preciso também haver
alguma afinidade entre as orientações dadas pelo pai e pela mãe. Mesmo casais separados devem
fazer um esforço para estar de acordo nesse aspecto. “É muito ruim para os filhos quando
recebem dos pais orientações muito diferentes e contraditórias”, afirma Machado.
Educar sempre envolveu erros e acertos. Nenhum pai ou mãe tem a receita infalível para
transformar os filhos em pessoas felizes e bem-sucedidas. Essa é uma experiência que vem sendo
testada e aperfeiçoada desde que a humanidade existe. Tão errada quanto abandonar os filhos é
achar que eles devem seguir à risca as fórmulas idealizadas pelos pais. “Os pais não se devem
julgar onipotentes”, diz Machado. “Nem tudo depende deles. Por melhor que sejam as intenções,
não podem obrigar os filhos a serem exatamente o que eles querem”. A única receita segura, que
jamais deu errado, é fazer tudo com amor e carinho. A pior coisa que pode acontecer com uma
criança é ser deixada a própria sorte. Nenhuma pessoa , por mais inteligente e genial que seja,
tem a capacidade de educar a si mesma e preparar-se sozinha para os desafios da vida adulta.
Essa é uma tarefa dos pais – com o natural apoio da escola, dos parentes, dos amigos e de quem
mais puder ajudar nesse fascinante desafio que é preparar uma nova geração.

A Mentira Infantil Cai Na Real


OLIVEIRA. M. A mentira infantil cai na real. In: Revista Veja, Ano ///, nº ///, 02 mai. 2001, pp.
120 – 121.

Inspirados na cara-de-pau com que o personagem infantil Pinóquio contava suas


mentirinhas, enquanto o nariz esticava, dois psicólogos americanos divulgam os resultados de
uma pesquisa que avalia como as crianças tendem a misturar realidade e fantasia, um tema que
sempre preocupou pais e educadores. Um grupo de 114 garotos e garotas de várias cidades do
Estado de Michigan, em idade pré-escolar, submeteu-se a um teste dividido em três etapas. Na
primeira, cada uma delas foi colocado numa sala com um homem apresentado como senhor
ciência, que fazia divertidas experiências de laboratório. Os pesquisadores produziram, então, um
relatório por escrito do que se passara, acrescentando detalhes fictícios: duas experiências que o
senhor Ciência não havia feito e um suposto machucado causado na barriga da criança, quando
ela tentava afixar uma identificação. Passado três meses, veio a Segunda etapa. Os pais leram
para os filhos a história com as modificações. Finalmente, depois de decorrido outro mês, os
psicólogos pediram para que os pequenos contassem o que acontecera no encontro com o
professor Ciência. Nada menos que quarenta crianças (35% do total) citaram espontaneamente no
mínimo um dos eventos fictícios como se eles tivessem sido de fato vivenciados. O episódio da
barriga, por exemplo, foi descrito por dezessete dentre os participantes da pesquisa. “Os relatos
infantis passaram bem longe da exatidão”, constataram os pesquisadores Debra Poole e Stephen
Lindsay, das universidades de Michigan e Victória, interessados em evitar que crianças tenham
seus depoimentos tomados como decisivos em julgamentos nos tribunais americanos.
Psicólogos de diferentes correntes concordam que a confusão entre fantasia e realidade é
normal e faz parte de uma fase crucial do desenvolvimento, entre os três e os sete anos de idade,
mas alteram para a necessidade de que os pais combatam as mentiras deliberadas e arquitetadas
pela criança para se livrar de alguma responsabilidade ou levar outro tipo de vantagem. A
principal dificuldade da família é identificar quando os filhos estão de fato falando a verdade ou
quando estão dando asas a imaginação. A melhor reação ao ouvir uma história cabeluda da boca
da criança é não acreditar em tudo nem duvidar completamente. É preciso cautela para filtrar a
realidade, tarefa que requer conversa paciente e boa dose de habilidade. Ela pode dizer que
apanhou da professora no colégio, mas talvez tenha ficado impressionada com uma bronca.
“Os pais só devem se preocupar quando a criança tiver o objetivo claro de fugir da
realidade e não enfrentar determinadas situações”, diz a psicóloga Madalena Ramos,
coordenadora do Núcleo de Casal e Família da Pontifício Universidade Católica de São Paulo. O
ideal é ficar no meio-termo, já que o excesso de fantasia pode revelar egocentrismo elevado e o
oposto indica amadurecimento precoce. Na idade pré-escolar, as crianças aprendem a usar
símbolos – trocam um objeto por outro, uma palavra por outra. “Se alguém fala sobre Sol e a Lua
e a criança imagina que o Sol é o pai e a Lua é a mãe, aquilo se torna uma verdade para ela”,
exemplifica o psiquiatra e psicólogo Haim Grunspun, que há três décadas mantém em São Paulo
um consultório especializado em crianças. Só mais tarde, por volta dos sete anos, meninos e
meninas começam a trocar a simbolização pura pela compreensão de uma linguagem mais
elaborada. Ele ressalta que as crianças não são sempre boazinhas e muitas vezes mentem de
propósito, com objetivo de prejudicar alguém, especialmente se estão vivendo um momento
difícil, como a separação dos pais. Podem, por exemplo, inventar que o novo namorado da mãe a
agrediu, só para provocar reação do pai – uma tentativa ingênua de vê-los novamente juntos.
Numa idade mais avançada, ali pelos 10 anos, o emprego bastante freqüente de histórias
fantasiosas, entretanto, pode revelar problemas sério a ser diagnosticado como mitomania, a
tendência doentia a mentir. Um dos indícios é a permanência do “amigo imaginário”, uma criação
típica da faixa pré-escolar que tende a desaparecer com o convívio com outras crianças. Distúrbio
similar é a síndrome de Munchausen, em que a criança finge doença para chamar a atenção.
“Percebemos a síndrome quando a criança começa a reclamar de dores sem explicação
neurológica, como formigamento ao redor dos pulsos”, exemplifica Grunspun. A criança também
costuma chorar sem motivo. O tratamento da mitomania em consultório, depois de diagnosticada
por meio de testes psicológicos, costuma prolongar-se por até dois anos e é feito com base na
observação lúdica, ou seja, o psicólogo vê como a criança age livremente ao brincar, desenhar ou
simplesmente conversar e a corrige gradualmente. A missão é deixar evidente a separação entre o
mundo de verdade e o reino da imaginação, algo difícil de compreender para a criança que
desenvolveu essa patologia. Contudo, na imensa maioria das vezes, ‘a imaginação fértil’ da
garotada indica um crescimento saudável, mas que exige a atenção de sempre. “Um menino sadio
não sai voando pela janela achando que é Super-Homem, mas nenhum pai deve deixá-la aberta
esperando que isso não aconteça”, alerta Leila Cury Tardivo, do departamento de psicologia
clínica da Universidade de São Paulo.

O Berço
O berço. In: Revista Época, Ano ///, nº ///, 15 nov. 1999, pp. 134 - 138.

Descobertas sobre o desenvolvimento precoce das crianças levam os pais


a investir em computadores e aulas de idiomas para bebês

É para deixar os pais embevecidos. O pequeno Henrique, além de encantador, é quase um


prodígio. Ele mesmo escolhe o programa infantil que deseja, liga o computador, digita a senha de
seis algarismos e brinca com uma perícia de fazer inveja aos adultos. Faz mais: sabe contar até
109 em dois idiomas (português e inglês), digita o próprio nome, recita o alfabeto e associa cada
letra a uma palavra – a de avião, b de bola, c de casa, até z de zabumba. Fala em portugu6es com
a babá e em inglês com o pai, o diretor de marketing americano Joseph Henry DaMour. Henrique
tem apenas dois anos e meio de vida.
Com essa idade, a maioria das crianças não consegue se expressar com tanta facilidade
nem tem a mesma eficiência motora. Mas os pais de Henrique não acreditam que ele seja
superdotado e as professoras do jardim de infância o consideram uma criança normal. A
diferença é que, depois de ouvir muito sobre as etapas do desenvolvimento da inteligência e
tendo a oportunidade de adquirir um arsenal de brinquedos educativos, a família faz questão de
estimular o menino sempre que pode. “Até os três anos, quanto mais informação melhor, mesmo
que a criança aparentemente não demonstre que está aprendendo, afirma a mãe, Simone DaMour.
Fez sentido. Até recentemente os especialistas levavam muito em conta a inteligência, a
sensibilidade e a linguagem dos bebês. Hoje existe a convicção generalizada de que o
investimento na capacidade de aprender da criançada que ainda dorme no berço vai resultar em
melhores oportunidades quando chega a hora de freqüentar a universidade e lutar por espaço no
mercado de trabalho. Pesquisadores de diversas nacionalidades informam que habilidades
individuais podem e devem ser aprimoradas desde cedo em casa, na escola e nos playgrouds.
Para isso, costumam comparar o cérebro de recém-nascidos a um computador em que ainda não
foram acionados os programas do seu funcionamento. Com os programas prontos para uso, ou
seja, quando os neurônios (células nervosas) começam a se ligar numa teia de conexões (as
sinapses), é dada a largada para a vida.
Hoje se sabe que a centelha dessa ignição acontece muito cedo. O cérebro de um bebê
contém 100 bilhões de neurônios que vão se ligar a mais de 100 trilhões de conexões. Sob a
batuta da experi6encia e dos estímulos do ambiente, a criança aprende a enxergar, ouvir, falar.
Pensa, emociona-se, raciocina. A intensidade com que isso acontece é assombrosa e não vai se
repetir ao longo da vida. Com o tempo, muitas conexões que não são usadas acabam se perdendo.
As outras permanecem e são aperfeiçoadas ao longo da vida. Os testes clínicos realizados com
bebês que passaram os primeiros anos dentro de um berço, sem contato físico com os pais,
mostram que eles não se desenvolvem da mesma maneira que aqueles estimulados desde o
nascimento.
Há três semanas, a revista americana Science divulgou o resultado parcial do Projeto
Abecedário, executado pelo Centro de Desenvolvimento Infantil Frank P. Graham, da
Universidade da Carolina do Norte. Durante mais de duas décadas, os pesquisadores americanos
acompanharam a evolução de 111 crianças nascidas em 1872 em famílias de baixa renda. Sua
conclusão: aquelas que freqüentaram a escola e receberam reforço extra para aperfeiçoar
coordenação, linguagem e desenvolvimento da afetividade e do raciocínio antes dos cinco anos
de vida apresentaram maior desempenho intelectual ao chegar à idade adulta. “Isso prova os
benefícios a longo prazo do estímulo precoce”, afirma a coordenadora do estudo, Frances
Campbell.
A partir da constatação desse tipo, neurologistas e psicólogos começaram a estudar o que
se convencionou chamar de “janelas de oportunidades”, ou seja, o melhor para estimular as
conexões cerebrais que levam ao desenvolvimento da habilidades do indivíduo. Coordenação
motora, linguagem, visão, ritmo e musicalidade dependem da formação de circuitos neuronais
logo na primeira infância. É conhecida a capacidade da criança de ouvir e identificar os fonemas
de várias línguas e aprender a falar sem sotaque. Depois dos dez anos, essa habilidade se perde –
é como se a criança ficasse surda aos sons que não lhe são familiares.
Nos Estados Unidos, os primeiros anos de vida são vistos como tão decisivos para o
desenvolvimento da inteligência do indivíduo que recentemente foram adotadas medidas para
expandir o acesso à pré-escola a todas as crianças. Em estados como Geórgia e Tennessee, todo
recém-nascido ganha um CD de música clássica ao deixar a maternidade. A música clássica, de
preferência a de Mozart, também faz parte do currículo das crianças que freqüentam as escolas
públicas da Flórida. Com isso, os pedagogos americanos não estão expressando a esperança de
que os jovens desistam do heavy metal. Eles acreditam que a música é um dos principais
estímulos dos circuitos neuronais. Não desistiram nem mesmo depois que um estudo, publicado
pela revista inglesa Nature em agosto, mostrou que não existem evidências de que esses CDs
beneficiem os ouvidos infantis.
Pais zelosos não resistem aos apelos dos produtos destinados a incentivar a inteligência
dos recém-nascidos e até a da criança ainda dentro do útero da mãe. No mercado americano estão
à venda gravações de sons para tranqüilizar os fetos, programas de computador que prometem
estimular a coordenação visual e motora e o vocabulário dos bebês, além de vídeo e livros que
ensinam a ler e a fazer contas. Como no filme Presença de Grego, estrelado por Diane Keaton
(1987), alunos que ainda não deixaram as fraldas aprendem a Segunda língua antes de
pronunciar as primeiras palavras em inglês.
Mas nessa questão do aprendizado dos bebês não há fórmulas mágicas nem regras
infalíveis. Com o objetivo de impor um frei às receitas que prometem crianças mais inteligentes,
foi lançado em setembro nos Estados Unidos o livro The Myth of Ffirst Three Years ( “O mito dos
três primeiros anos, ainda sem tradução em português). O autor, John Bruer, é presidente de uma
fundação de estudos sobre o desenvolvimento da aprendizagem. Ele garante que, até hoje, a
neurociência não conseguiu comprovar a tese de que muitos recursos apresentados precocemente
são fundamentais para despertar a inteligência ou para criar um superbebê. Trechos isolados de
experiências velhas estão sendo mal interpretados para sustentar visões preexistentes sobre
desenvolvimento da criança”, escreve Bruer no primeiro capítulo do livro.
De fato, as últimas pesquisas indicam que, mesmo submetidas a privações na primeira
infância, muitas crianças se superam caso vivam em lares bem estruturados mais tarde. Dez anos
depois de ser adotadas por famílias americanas, crianças criadas em orfanatos da Romênia
durante o regime comunista conseguiram livrar-se dos efeitos do abandono interior. Da mesma
forma, bebês deixados pelos pais em uma das unidades da Febem em São Paulo consegue reagir e
ganham um pouco de tranqüilidade com pequenos estímulos, como massagens terapêuticas
executadas semanalmente por uma estudante. “Se uma criança está deprimida pedimos a alguém
que se concentre exclusivamente nela”, relata a diretora Marise Mancini, para quem o carinho
concentrado faz a diferença. “Um bebê tratado com afeto desenvolve a curiosidade e, com ala, é
capaz de aprender naturalmente”, acrescenta a pediatraYasuko Soussumi, da Associação
Brasileira para o Estudo do Psiquismo Pré e Perinatal.
Também há no Brasil há lapwares, ou softwares criados para crianças que não têm
condições de se sentar sozinhas e precisam de colo (lap, em inglês). Alguns são vendidos em
supermercados. Versões de música clássica fazem sucesso nas lojas de discos. E pré-escolas
bilíngües são procuradas por pais ansiosos em exercitar os jovens neurônios de seus rebentos. Se
isso resulta em benefícios, é cedo para saber. A pequena Marina ainda não tem três anos, mas já
pode se considerar uma veterana dos computadores. Ela experimentou o primeiro CD-ROM aos
dez anos de idade. Hoje, sua coleção de 33 softwars é duas vezes maior que a do pai., o jornalista
cearense Paulo Barros, especializado em informática. Mariana ganhou um mini-mouse próprio
para mexer no micro, que já sabe ligar sozinha. Todos os dias, passa pelo menos meia hora na
frente da telinha divertindo-se com os jogos educativos. “O mundo de hoje cobra mais
habilidades e, quanto mais cedo ela começar. Melhor”, filosofa o pai.
No projeto cérebro, desenvolvido desde 1996, no Colégio Objetivo de Sorocaba, interior
de São Paulo, baseado na teoria das inteligências múltiplas do educador Howard Gardner, bebês
de 1 ano brincam com números, letras e músicas para “ativar as ligações neuronais”. Segundo o
diretor Luís Samuel Castanho, “enquanto a criança estiver interessada, iremos em frente”. Ele
acrescenta: “Nessa fase, os neurônios estão loucos para se ligar”.
É difícil resistir a esse apelo. Ainda mais que as crianças de hoje têm acesso a brinquedos
desconhecidos pela geração de seus pais. O computador, por exemplo, faz parte da mobília da
sala de estar e não há como mantê-las afastadas dele. Nem é preciso. Anna Carolina Gandlfi, de 2
anos e 3 meses, por exemplo, não tem paciência para brincar com bonecas e jogos infantis. “Ela
solicita coisas mais estimulantes”, conta a mãe, a administradora de empresas Sandra Gandolfi.
Diante do interesse, no ano que vem ela pretende matricular a menina numa escola que ensina
informática e inglês.
“As mães criam filhos há milhares de anos, mas hoje se preocupam em estimulá-los mais
que tenham sucesso, não importa a que custo”, critica o psiquiatra Infantil do Hospital da clínicas
de São Paulo. Ele pede cautela às famílias. “Um enfeite da sala de estar ou uma brincadeira ao
lado dos pais podem despertar a fantasia, a coordenação e outros aspectos da inteligência de
maneira natural”, afirma. A neurologista infantil Ana Maria Sedrez Piovesana, da Universidade
Estadual de Campinas, sugere: “Os pais devem fazer os bebês tocar os objetos da casa e
conversar muito, usando corretamente as palavras”. Outra orientação é deixar que a criança
absorva um estímulo por vez – e não oferecer muitas distrações ao mesmo tempo. É um treino de
atenção, considera uma característica importante do intelecto.
Seja com brinquedo, seja com dicas simples, não há garantia de que as oportunidades
oferecidas pelos pais vão fazer os filhos mais ou menos geniais. O ambiente é decisivo, mas a
herança genética ainda concorre com boa parte do desempenho do cérebro. Uma prova foi
apresentada em setembro, quando cientistas das universidades de Princeton e Washington
conseguiram aprimorar a memória de um rato implantando cópias extras de um gene associado à
inteligência desses animais. Mas, dos ratos aos humanos, o caminho para descobrir o peso do
gene e o do ambiente na inteligência ainda é longo. Além disso, a natureza ensina que
inteligência antes de mais nada tem haver com a capacidade de adaptação ao meio. O que
significa que nem sempre o prodígio em lógica ou computação é mais feliz.

Você também pode gostar