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A IMPORTÂNCIA DO BUDÔ NA FORMAÇÃO DE


PRATICANTES DAS ARTES MARCIAIS (JUDÔ, KARATE-
X Salão de
Iniciação Científica DÔ, AIKIDÔ): Um espreitamento multicultural.
PUCRS

Lucas Lopez da Cruz1, Tiago Oviedo Frosi1, Alberto de Oliveira Monteiro2 (orientador)
1
Escola de Educação Física, UFRGS, Bolsista PET/ESEF/UFRGS 2Escola de Educação Física, UFRGS, Professor
Adjunto ESEF/UFRGS

Resumo

Considerações Iniciais

Em função do processo de globalização especula-se que a tecnologia poderá


substituir, em parte ou no todo, o ser humano em suas diferentes funções, em especial, na
escola, na universidade, no desporto e em outros espaços por onde circula a humanidade.
Embora seja assim, temos certeza de que nada substituirá a relevância do discernimento, da
criatividade, da espontaneidade, da perspicácia e dos sentimentos de amor e paixão cuja
expressão é obra apenas do espírito humano e, em igual medida, da riqueza (prática e
simbólica) emanada das tradicionais relações sociais e interculturais.
O que notamos é uma determinada suscetibilidade do gênero humano para escolher,
como ocorreu nas diferentes etapas da civilização, a sua escala de valores onde, na atualidade,
constam predominantemente os econômicos, os práticos, os utilitários e os do conhecimento.
A questão dos valores é tão antiga quanto a própria humanidade e quanto a todos os
tipos de sociedade e cultura. Gregos, romanos e egípcios, povos do oriente e do ocidente, o
homem antigo e o homem moderno, o adolescente e o adulto: todos têm em comum o fato de
estarem sempre perguntando pelo bem, pelo mal, pela escolha, pelo sentido das coisas. Como
a cultura se revela pelo modo de vida de um povo, onde se incluem suas atitudes, valores,
crenças, artes, ciências, desporto, modos de percepção e hábitos de pensamento e de ação,
entendemos que especialmente o mundo dos valores é forjado pela dimensão cultural.
A educação com a finalidade de desenvolvimento do conhecimento baseado na
técnica, no consumo e na tecnologia fica, por si, limitada e reduzida, especialmente se
entendermos que é a cultura a substância do processo de educação e que, através dela, nos

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apropriamos dos valores desenvolvidos, através dos tempos, pela nossa civilização (Jaeger,
2003; Patrício, 1993). Destacamos, então, os valores tradicionais especialmente àqueles
vinculados ao sagrado, ao religioso e a ética como os mais elevados e, portanto, dignos de
serem permanentemente lembrados e principalmente nesse momento de intensa efervescência
técnica e profissional.
Nosso objetivo é a de trazer para o centro das preocupações, não como uma ciência
experimental em busca de leis, mas sim, elaborar um esforço interpretativo do significado que
possui a interação pedagógica e cultural elaboradas a partir da relação dos praticantes de artes
marciais (Judô, Karate-Dô e Aikidô) e a nobreza do Budô.

Metodologia

Este estudo caracterizar-se-á como descritivo interpretativo, seguindo o veio do


paradigma interpretativo próximo a uma hermenêutica filosófica. Para realizar este estudo,
entrevistaremos professores e atletas de Aikidô, Karate-Dô e Judô. Para tal optamos por
utilizar a entrevista de tipo semi-estruturada, uma vez que, enquanto instrumento de coleta de
dados, possibilita a pessoa revelar em liberdade discursiva as suas referências normativas,
sistema de valores, experiências e símbolos; portanto, possibilita a transmissão das
representações de grupos determinados.
No sentido de buscarmos a elucidação do nosso problema de pesquisa e sob a
orientação da concretização dos nossos objetivos do estudo, consideramos que seria
recomendável aplicar uma combinação de técnicas de interpretação qualitativas. Análise de
conteúdo e hermenêutica dos discursos (Ricoeur, s/d).

Resultados Preliminares

Os resultados preliminares apontam para um processo de assimilação da cultura do


Budô por parte dos praticantes de artes marciais no Rio Grande do Sul. Ainda assim, certos
métodos que não respeitam os princípios pedagógicos e do treinamento físico ainda são
utilizados (principalmente no caso do Karate-Dô). Em vias gerais, os princípios e valores do
Budô são conhecidos pela maioria dos entrevistados, apesar de se notar que o seu aprendizado
em si não é o foco do treinamento, como previam os manuscritos dos fundadores, e sim coisas
como a saúde ou a competição esportiva.

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Considerações Preliminares

Até o presente momento foi possível observar um processo de apropriação da cultura


do Budô pelos professores e praticantes no Rio Grande do Sul. Mesmo que muitos dos
princípios e valores não sejam compreendidos plenamente, percebe-se que esse entendimento
e aplicação no dia-a-dia das academias vem melhorando, principalmente pelos relatos de
como os atuais professores eram tratados quando eram alunos. Ainda é possível perceber que
os treinamentos se voltam cada vez menos para a defesa pessoal e cada vez mais para as
competições esportivas.

Referências

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