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14393/OUV-v20n1a2024-66963
•PALAVRAS-CHAVE
Carnavalescos; curadoria; arte popular; arte contemporânea; decolonial .
•ABSTRACT
Considering the work “Brazilian Flag” (2019-2021) produced by the carnival maker Leandro
Vieira – who works at Rio de Janeiro’s carnival schools –, and more specifically its exhibition and
subsequent incorporation at MAM-Rio’s collection, we will discuss issues and strategies
concerning recent events that means transits between “popular” and institutionalized
contemporary art. From a decolonial perspective, we will discuss how these transits between
carnivalesque and institutional art spaces by way of curatorship and exhibitions, when that
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agents and their productions are assimilated as “contemporary art”, reconfigure artistic
institutions and the ways that they produce narratives, meanings and legitimation. For this, we
will contextualize the Vieira’s case in relation to other carnival artists who interested agents and
different artistic institutions, and we will make brief considerations about the carnival artist crafts,
its practices and specific knowledge, referenced in Helenise Monteiro Magalhães and Maria
Laura Viveiros de Castro Cavalcanti researches.
•KEYWORDS
Carnival maker; curatorship; popular art; contemporary art; decoloniality .
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Figura 1. Leandro Vieira, “Bandeira brasileira”, 2019-2021. Vista da exposição “Hélio Oiticica
– a dança na minha experiência” (MAM-Rio, 2020-2021, Adriano Pedrosa e Tomas Toledo).
Foto: Fábio Souza. Fonte: https://mam.rio/programacao/bandeira -brasileira/. Acesso em
junho 2022.
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É importante ressaltar que esses eventos aconteceram em um momento dramático para a
cadeia produtiva das escolas de samba do Rio de Janeiro em decorrência da pandemia de
COVID-19, a qual inviabilizou a realização dos desfiles naquele ano, fazendo com que
profissionais e diversos tipos de artistas do carnaval ficassem sem trabalho e sem renda (NAME,
2021). A ocupação proposta por Leandro Vieira no MAM-Rio pautou essa discussão sobre a
fragilidade dos trabalhadores e trabalhadoras desse segmento, o que não ac onteceu no MASP,
fato que nos chama atenção para a dimensão social e política da curadoria.
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Ofereceram oficinas a rainha de bateria Evelyn Bastos, o mestre de bateria Wesley, a porta -
bandeira Squel Jorgea, o mestre-sala Matheus Olivério, todos eles integrantes da escola de
samba Mangueira naquele momento. Cf. https://mam.rio/educacao/saberes -da-mangueira/.
Acesso em: junho 2022.
3
Igor Matos em entrevista concedida ao autor em 2 de setembro de 2021.
4
Dirceu Nery (1919-1967) era cenógrafo e bailarino de frevo pernambucano, e Marie Louise Nery
(1924-2020), suíça, havia trabalhado com folclore no Museu de Etnologia de Neuchâtel
(CAVALCANTI, 2006a, p. 71).
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Segundo o relato de Luiza Olivetto publicado no folheto da exposição (1987), “Carnavalescos”
foi concebida a partir da leitura de matéria escrita por Nicolau Sevecenko sobre o artista e
carnavalesco Peter Minshall, nascido na Guiana e atuante no carnaval de Trinidad e Tobago,
publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 1986. Além de Minshall e Fernando Pin to, a exposição
também expôs trabalhos de Lasar Segall, Joãosinho Trinta e fantasias de Fran Carvalho
produzidas para Linda Conde, notória destaque de carros alegóricos da escola de samba Beija -
Flor de Nilópolis (BARBOSA; OLIVETTO; LOEB, 1987).
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Trata-se dos projetos “Arte e minorias” e “Estética das massas” que integraram o Programa
Multiculturalista do Museu do MAC USP instituído por Ana Mae Barbosa durante sua gestão,
resultando nas seguintes exposições: “Arte e loucura: limites do imprevisível” (1987),
“Civilidades da selva: mitos e iconografia indígena na arte contemporânea” (1988) e “Conexus”
(1989), integrantes do módulo “Arte e minorias”; e “Carnavalescos” (1987), “A estética do
candomblé” (1989) e “A mata” (1990), integrantes do módulo “Estética das massas”. Finalmente,
a exposição “Combogós, latas e sucatas: arte periférica” transitava entre ambos os módulos
(STOCO; BRITO, 2020).
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Fazemos referência à discussão de Ivair Reinaldim (2017) sobre como, no contexto do debate
sobre arte e artefato indígena, o “perspectivismo ameríndio” de Eduardo Viveiros de Castro
constitui uma proposição teórico-metodológica que, partindo de cosmologias indígenas
observadas nas Américas, questiona a simetria da concepção ocidental de relativismo cultural.
Ao tratar do “multinaturalismo”, isto é, da proposição referente a como o ponto de vista que
agencia e produz o sujeito, Viveiros de Castro não propõe uma equivalência cultural, mas a
existências de diferentes epistemologias e ontologias.
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Devemos ressaltar que a dimensão política não garante o trânsito de carnavalescos e de suas
produções para o contexto da arte contemporânea. Basta lembrar a ausência em nosso campo
de nomes como Luiz Fernando Reis, Carlinhos D’Andrade, Roberto Costa e de seus desfiles de
protesto realizados nas escolas de samba Caprichosos de Pilares e São Clemente durante as
décadas de 1980 e 1990.
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Como Citar:
FREITAS LIMA, P. E. No museu e na Avenida, Leandro Vieira “de fora”: considerações sobre
carnavalescos em exposições de arte contemporânea. ouvirOUver, [S. l.], v. 20, n. 1, [s.d.]. DOI:
10.14393/OUV-v20n1a2024-66963. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/ouvirouver/article/view/66963.
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