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O novo escândalo na bancarrota do Banco Cruzeiro do Sul

O novo escândalo na bancarrota do Banco Cruzeiro do Sul


O Fundo Garantidor de Créditos assumiu a gestão do Cruzeiro do Sul e, depois, terceirizou o serviço para uma empresa
vinculada a seu diretor executivo

FELIPE PATURY E MARCELO SPERANDIO, COM REPORTAGEM DE TERESA PEROSA


16/08/2013 - 21h13 - Atualizado 23/08/2013 19h13
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ENTRE AMIGOS
Celso Antunes (à esq.), diretor do FGC, contratou uma empresa de seu ex-sócio para gerir o Cruzeiro do Sul, de Luis Octavio Indio da Costa (à dir.) (Fotos:
Alexandre Rezende/Ag. O Dia e Jefferson Dias/Valor/Folhapress)

Capítulo 1
E DILMA DISSE: “DESSE JEITO NÃO DÁ”
O escândalo é um traço comum às liquidações bancárias. Está presente em todas, do princípio ao fim. A execração pública começa no momento em que o
banqueiro é afastado de sua empresa. Evolui com a descoberta de fraudes, corriqueiras nesses casos. Quando a história deixa de ser acompanhada pela
imprensa e a poeira baixa, vem a fase de boatos de desvios de liquidantes, de acordos espúrios feitos com devedores e de manobras ilegais dos falidos. Esse
falatório costuma se esvair com o tempo, sem deixar consequências. As falcatruas, reais ou não, ficam impunes, e as calúnias são esquecidas. Parecia que
seria assim também com o Cruzeiro do Sul, que naufragou em junho de 2012. Por causa do governo, o caso tomou outro rumo.

O burburinho sobre desvios na liquidação do banco que pertence à família Indio da Costa começou na caserna. Especializado em crédito consignado, o
Cruzeiro do Sul tinha uma clientela cativa entre os militares. O controle desses empréstimos entrou em colapso depois que o Banco Central interveio no
banco, afastou os controladores – Luis Felippe Indio da Costa e seu filho Luis Octavio – e incumbiu o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) de administrá-lo.
Criado em 1995 sob a supervisão do governo, o FGC se tornou um elemento poderoso do mercado financeiro. Com mais de R$ 30 bilhões em caixa, socorre
bancos em dificuldade. Quando não é possível evitar a bancarrota, o FGC entra para pagar os depósitos de seus correntistas.

Uma vez dentro do Cruzeiro do Sul, o FGC terceirizou a tarefa de auditar os empréstimos consignados concedidos pelo banco. Depois, terceirizou também as

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cobranças e os pagamentos. Em vez de diminuir, os problemas do Cruzeiro do Sul se avolumaram. Os clientes quitavam seus débitos, mas o banco não
registrava os pagamentos. Por isso, os clientes continuavam devendo. O Cruzeiro do Sul lançou nomes de bons pagadores no Serviço de Proteção ao Crédito.
Quem tentava transferir sua dívida para outro banco também não conseguia, o que contraria a lei.

Furiosa, a clientela militar se queixou ao Ministério da Defesa. As reclamações foram encaminhadas ao Planalto. O diretor executivo do FGC, Celso
Antunes, foi o primeiro administrador do Cruzeiro do Sul depois da intervenção do BC e sabe exatamente o que aconteceu: “O caso subiu para a presidente
Dilma Rousseff. Ela disse: ‘Desse jeito não dá’”. O presidente do conselho de administração do FGC, Antonio Carlos Bueno, diz que as mesmas falhas
também motivaram questionamentos do Ministério Público. Ao se debruçar sobre o caso, o BC verificou que, em seu próprio serviço de atendimento à
população, as queixas envolvendo o Cruzeiro do Sul triplicaram desde a intervenção. O diretor do BC, Sidnei Marques, responsável pela organização do
sistema financeiro, descobriu uma situação ainda mais desconfortável. Durante a liquidação do Cruzeiro do Sul, todos os serviços do banco acabaram
terceirizados para uma empresa desconhecida, ligada a dirigentes do FGC. Marques cobrou providências.

Em 24 de maio, o chefe de Liquidações do BC, Dawilson Sacramento, convocou o liquidante Sérgio Prates para uma reunião. Prates passou a apresentar o
modelo que implantava no Cruzeiro do Sul. Sacramento interrompeu. “Você não está entendendo. Vim aqui para substituí-lo”, disse, ao anunciar o novo
liquidante do Cruzeiro do Sul, Eduardo Bianchini. Terceirizações são comuns nas liquidações bancárias. O que o BC encontrara de tão grave no Cruzeiro do
Sul?

Capítulo 2
A ASCENSÃO DE UMA EMPRESA DE FUNDO DE QUINTAL
Só é possível esclarecer a questão recorrendo à cronologia de fatos que antecederam a crise do Cruzeiro do Sul. Executivo do sistema financeiro, Celso
Antunes foi colega do presidente do conselho do fundo, Antonio Carlos Bueno, no antigo Real ABN-Amro. Em setembro de 2010, Antunes aventurou-se
como empreendedor. Ao lado do empresário Carlos Cesarini, fundou uma empresa de desenvolvimento de sistemas de informática para bancos chamada
Interbank. Dois meses depois, a convite do FGC, Antunes tornou-se superintendente do Banco PanAmericano, a estranha sociedade entre Silvio Santos e a
Caixa Econômica Federal que entrara em parafuso. Nessa época, Antunes e Cesarini conheceram e estreitaram relações com José Marcelo Brandão, chefe do
setor de cobrança do PanAmericano. No início de 2011, Brandão abriu uma firma de cobrança em nome da mulher e do filho, a M7. Depois que o
PanAmericano foi comprado pelo BTG Pactual, Antunes foi contratado pelo FGC como consultor.

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“VIM PARA SUBSTITUÍ-LO”


O diretor do BC Sidnei Marques (acima) constatou que as reclamações da clientela do Cruzeiro do Sul triplicaram durante a liquidação. Depois, descobriu
que a IMS, ligada à direção do FGC, assumira o banco. Foi então que decidiu ti (Foto: Valter Campanato/ABR )

A partir daí, as datas assumem importância ainda maior. Em agosto de 2011, o BC concluiu uma inspeção de oito meses no Cruzeiro do Sul. Na sequência,
convocou o banqueiro Luis Octavio Indio da Costa para exigir que algumas operações de crédito fossem lançadas a prejuízo e que o banco fosse capitalizado.
Indio da Costa pediu socorro ao FGC, que lhe prometeu um aporte financeiro. Esse dinheiro seria suficiente para sanar definitivamente a deficiência de
liquidez do Cruzeiro do Sul. Em dezembro de 2011, o chefão do FGC, Antonio Carlos Bueno, comunicou a Antunes que ele seria promovido a diretor. Antes,
porém, Antunes deveria cumprir uma tarefa: vender sua participação na Interbank. “Para vir para cá, você tem de se desincompatibilizar do que tem fora, a
fim de evitar qualquer tipo de ilação”, disse Bueno a Antunes. O futuro diretor do FGC acatou a ordem. Já como diretor do FGC, Antunes foi informado de
que o BC detectara fraudes nas contas do Cruzeiro do Sul. A situação do banco se deteriorara. Em 4 de junho, o BC interveio no Cruzeiro do Sul e nomeou
Antunes como administrador da instituição.

Uma vez no cargo, Antunes decidiu contratar uma empresa para verificar a consistência dos 3 milhões de empréstimos consignados concedidos pelo Cruzeiro
do Sul. Uma ata de 7 de junho, assinada por ele, outros diretores do FGC e dois servidores aposentados do BC, mostra que a IMS foi escolhida para prestar o
serviço. O documento revela também que os presentes pareciam capazes de prever o futuro. Naquele dia, a tal IMS ainda não existia. Ou melhor, existia, mas
tinha outro nome. Também não era uma empresa de auditoria ou de informática, mas, sim, de cobrança. Na verdade, tratava-se da M7, empresa que pertencia
a José Marcelo Brandão, que Antunes conhecera em sua temporada no PanAmericano.

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No dia em que foi selecionada sem precisar passar por nenhuma concorrência, a M7 tinha R$ 1.000 de capital, funcionava na casa de Brandão e era uma
microempresa. Por que, então, foi escolhida para um trabalho tão complexo? “A expertise de uma empresa não vem da data de sua fundação. Tem de ver as
pessoas que estão trabalhando nela”, diz Antonio Carlos Bueno. s Brandão, da IMS, explica o mesmo fato de uma forma mais simples: “A M7 foi criada para
ser um braço operacional do FGC”. Onze dias depois de ganhar o contrato, a M7 mudou de nome, de atividade e ganhou um novo sócio. Cesarini, o parceiro
de Antunes na Interbank, entrou na companhia. Ao ingressar na IMS, levou consigo o sistema de informática da Interbank, que dizia ser capaz de verificar a
consistência dos empréstimos do Cruzeiro do Sul.

Dessa forma, Antunes levou o Cruzeiro do Sul a contratar um serviço que ele mesmo ajudara a criar e no qual investira antes. Essa situação configura
conflito de interesses? Para Antonio Carlos Bueno, não. “Ser sócio de uma empresa é igual a casamento. Se sair, acabou”, diz ele. A IMS se esforçou muito
para fazer esse matrimônio funcionar. Quando foi contratada, não tinha computadores, pessoal nem infraestrutura para realizar o serviço da magnitude que
lhe foi atribuído no Cruzeiro do Sul. Afinal, era o primeiro contrato da microempresa. “Precisamos aumentar em cinco vezes nossos equipamentos e o data
center para atender o Cruzeiro do Sul”, diz Cesarini.

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A partir daí, a IMS deslanchou. Em setembro, Antunes deixou o Cruzeiro do Sul e conseguiu que fosse nomeado para seu lugar Sérgio Prates, um
funcionário aposentado do BC. Aos poucos, a IMS assumiu o Cruzeiro do Sul. “A IMS foi contratada para administrar toda a carteira de cobrança e fazer o
trabalho de tecnologia, que requer expertise”, diz Prates. Os funcionários do banco foram demitidos e recontratados pela IMS para fazer o mesmo trabalho. A
IMS alugou móveis, computadores e equipamentos que pertenciam ao banco. No fim, mudou-se para a elegante sede do Cruzeiro do Sul – um enorme salto
para uma empresa que, meses antes, funcionava numa residência de Osasco. A massa falida do Cruzeiro do Sul pagava pouco menos de R$ 10 milhões por
mês para que seus ex-funcionários prestassem, por meio da IMS, o mesmo serviço que faziam antes da intervenção. Ao todo, a IMS recebeu R$ 70 milhões.
O negócio ia tão bem que Rafael Lattaro, o filho de um dos diretores do FGC, José Lattaro, acabou contratado pela IMS para prestar serviços ao Cruzeiro do
Sul. “É um cara recém-casado que precisava trabalhar e foi contratado como estagiário”, diz Antunes.

Capítulo 3
E O GOVERNO INTERVÉM NO BANCO PELA SEGUNDA VEZ
O fato de a IMS ter ligações com os dirigentes do FGC, ter sido contratada por eles para administrar um banco falido sem licitação e ter recebido em menos
de um ano R$ 70 milhões configura conflito de interesses? Ouvidos, Antonio Carlos Bueno, Celso Antunes, Sergio Prates, Carlos Cesarini e José Marcelo
Brandão afirmam que não. Na opinião de Bueno, também não há conflito de interesses em outro fato: o FGC contratou o escritório do advogado Otto Steiner,
que lhe presta serviços, para trabalhar no Cruzeiro do Sul. Dessa forma, Steiner passou a defender tanto o credor, FGC, como o devedor, Cruzeiro do Sul. Há
um episódio curioso envolvendo Steiner. Em 22 de outubro, Sergio Prates leiloou um Mercedes-Benz S-63 AMG modelo 2010/2011. Em nome do Cruzeiro
do Sul, o carro era usado por Luis Felippe Indio da Costa, pai de Luis Octavio Indio da Costa. Quem arrematou? Otto Steiner. “Paguei R$ 411 mil num
pregão altamente competitivo”, diz Steiner.

Os fatos narrados até aqui foram considerados tão graves pelo BC que levaram a uma segunda intervenção no Cruzeiro do Sul. Desta vez, para tirar não os
Indios da Costa do comando, mas seus ex-servidores e o FGC. A demissão de Sergio Prates da liquidação foi justificada formalmente como se fosse uma
decisão dele próprio. “Prates já informara sua intenção de permanecer na função por um período limitado, por razões pessoais”, diz o procurador-geral do
BC, Isaac Sidney Ferreira. Uma das primeiras providências do novo liquidante do Cruzeiro do Sul foi cancelar todos os contratos com a IMS. A segunda foi
procurar Luis Octavio Indio da Costa para tentar uma composição. O encontro ainda não ocorreu. O advogado Roberto Podval, que representa Indio da
Costa, não se diz disposto a uma composição. Ao contrário, manifesta a intenção de abrir processo para averiguar a existência de delitos contra o Cruzeiro do
Sul e cobrar ressarcimento a seu cliente. “A situação nos causa perplexidade. Tomaremos medidas judiciais contra todos os envolvidos”, diz.

É justo que Podval defenda os interesses de seu cliente e é justo também que os Indios da Costa tomem medidas duras contra eventuais desvios ou despesas
exorbitantes que tenham consumido o caixa do banco. O dinheiro que sobrou acabará rateado entre os credores do Cruzeiro do Sul. Se ele foi dissipado, as
perdas desses credores serão maiores. É preciso não esquecer também que o banco só está nessa situação porque foi mal administrado pelos Indios da Costa.
As investigações feitas pelo Banco Central já convenceram a Polícia Federal de que os administradores do Cruzeiro do Sul incorreram em fraudes. Com base

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em levantamentos feitos pelo BC antes da intervenção, a PF acusa os administradores do banco de ter montado operações fictícias que totalizavam R$ 1,3
bilhão. O objetivo: maquiar o balanço e permitir que os donos continuassem a receber dividendos, algo que o BC já determinara que fosse suspenso. Os
Indios da Costa pai e filho deverão se defender dessas acusações na Justiça. E, se depender do advogado deles, é lá que pararão também os diretores do FGC.

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