Você está na página 1de 2

Disciplina: Introdução a Antropologia (Turma I)

Aluna: Silvia Beatriz Moreno Diniz (190116901)


Psicologia - 3º Semestre

Querida amiga,
Acabei de assistir o filme documentário “Babies”. O documentário aborda o desenvolvimento
de quatro crianças no início da vida, sendo cada uma delas de um local diferente do mundo:
Ponijao, de Namíbia; Hattie, dos EUA; Bayargargal, da Mongólia e Mari, do Japão. Apesar
de ser um filme sobre as diferenças, a primeira coisa que me chamou atenção foram as
semelhanças. É impressionante pra mim como, no fim, ser humano é sempre ser humano,
sabe? Mesmo estando em partes completamente distintas do planeta, circundadas de valores
culturais e formas de vida completamente diferentes, muitos aspectos ainda se parecem. O
primeiro deles é o cuidado e a relação que os pais desenvolvem com os bebês. Todos os pais
preocupam-se em divertir seus filhos, escutar e dar atenção aos aspectos presentes na fase dos
primeiros anos de vida. Eles se preocupam com os primeiros passos e as primeiras palavras.
Eles se preocupam com manter os filhos felizes e amamentados. E no fim, apesar das
diferenças e dos diversos outros aspectos que me causaram estranhamento, acho que as
quatro crianças possuem o essencial para um desenvolvimento saudável: afeto, cuidado e
carinho.
Mas para além das semelhanças as diferenças também chamaram bastante atenção aos meus
olhos. Tanto entre as crianças do documentário quanto a minha própria criação. É inevitável
comparar com aspectos da minha própria educação. Em primeiro lugar, por exemplo, minha
mãe sempre teve uma rejeição extrema por deixar animais e crianças muito pequenas muito
próximas, rejeição que acho ter internalizado também. No filme essa proximidade acontece
com praticamente todas as crianças. Seja animais de estimação, como no caso da Hattie e da
Mari, como com animais de fazenda ou soltos, como no caso de Bayarvargal e Ponijao. Os
animais lambendo, cheirando e andando por cima das crianças me causa sensação de
apreensão pelo bem estar físico das crianças e pela saúde, pois sinto como se os animais
fossem transmitir algum tipo de doença para elas. A cena de Ponijao comendo a poeira do
local e colocando na boca coisas que estavam no chão também me deram essa sensação. E,
apesar de ter noção de que muitas culturas vivem assim tranquilamente, as crianças
Bayarvargal e Ponijao engatinhando e se arrastando pelos lugares sem roupa também me
causou estranhamento.
Ao comparar as crianças do documentário, outro aspecto que chama atenção é a forma como
os pais e as pessoas ao redor lidam com o desenvolvimento da criança. Hattie e Mari, por
exemplo, são circundadas de estruturas específicas para bebês. Ambas possuem uma vasta
quantidade de brinquedos, carrinhos para circular nas ruas, aulas especializadas para
estimular seus respectivos desenvolvimentos, etc. A sensação que tive foi como se a todo
tempo houvesse uma preocupação formal em avaliar as melhores formas de estimular o
desenvolvimento do bebê. Ideias pautadas em teorias pedagógicas e etc. Já no caso de
Bayarvargal e Ponijao, tive a impressão de que o cuidado se dá de forma mais espontânea,
baseado na integração do bebê nas atividades que já existem no lugar. As brincadeiras de
Ponijao, por exemplo, envolvem galhos que estão na região, riachos que estão por ali, os
cachorros, etc., sendo todos esses itens coisas já presentes no ambiente.
Por último, também reparei bastante nas redes de apoio que circundam as crianças. No caso
da mãe em Mongólia, por exemplo, toda a responsabilidade de cuidar de Bayarvargal e de
uma outra criança recai sobre ela. É obrigação dela acompanhar tudo o que acontece com o
bebê - dar banho, alimentar, interagir, vigiar, cuidar do cabelo, etc. -, cuidar da casa e dos
animais do campo. A impressão que tive foi que a criança passava mais tempo sozinha
devido a esse aspecto. Já no caso dos EUA e Japão, apesar do cuidado ainda ser
predominantemente da mãe, os pais ainda aparecem no documentário e contribuindo nas
atividades diárias. A presença das atividades mais específicas para bebês também transmite a
sensação de um cuidado mais compartilhado sobre o bebê. No caso de Ponijao, em Namíbia,
as mães realizam o cuidado de todas as crianças juntas, e as crianças mais velhas também
contribuem com carregar o bebê, cuidar, repreender, etc. O cuidado é o mais compartilhado
dentre todos. Apesar do estranhamento que relatei com Ponijao comendo coisas do chão e
engatinhando, também sinto que é a criança que mais tem uma rede de afetos. Ela
dificilmente está sozinha.
Mas como disse no início, todas as crianças parecem felizes. E amadas. Eu ri em diversas
partes do documentário , como com o choro da Mari ao não entender seus brinquedos, com
Ponijao levantando a roupa pra ver entre as pernas, com a cabra bebendo água da bacia de
Bayarvargal, etc. As diferenças entre suas criações talvez sejam só responsáveis por formar
diferentes pessoas, pertencentes a diferentes culturas.
Atenciosamente,
Silvia Moreno

Você também pode gostar