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A psicanálise não trabalha com uma equação exata, tem situações que
favorecem, situações de fragilidade, para a estruturação do bebê, mas nessa
estruturação bem, muitos parâmetros estão implicados, o que faz que com o
ser humano nunca podemos dizer nada com exatidão. O ser humano tem
sempre coisas inesperadas, é por isso que a ciência não pode abarcar o
particular de cada um.
Então quem são esses outros que cuidam da criança? São o pai e a mãe. E o
que é ser pai e ser mãe?
Função materna: A mãe para entrar em contato com o bebê toma-o como
uma parte de si mesmo, elas tendem a ser muito coladas, pelo fato da
gravidez se passar no próprio corpo. É a mãe quem fornece as substâncias
que nutrem o bebê, e é por isso que elas têm dificuldade de se separarem
dele. Winnicott chamou de loucura das mães, esse pequeno momento de
delírio em que só pensam no bebê, ficam totalmente disponíveis para ele,
exceto aquelas que colocam as babás. A questão da mãe se dedicar ao bebê
e fornecer nutrientes durante a gravidez, assim como os significantes para a
entrada na linguagem, constitui a dimensão atributiva. Pois ao mesmo tempo
em que ela dá o alimento, ela fornece significantes com o alimento, é ela que
vai tentar interpretar as manifestações do bebê, é assim que o bebê entra na
linguagem. Ela vai supor o que o bebê deseja, é ela quem descobre o que ele
quer, atribuindo significados, instituindo a função de apelo. Então a função
materna tem duas dimensões, a dimensão atributiva e a dimensão transitiva,
ela se coloca no lugar do bebê, já supõe que ele é um sujeito que deseja, antes
mesmo dele desejar, age como se ele estivesse pedindo isso, desde a
instalação do apelo, a partir do grito do nascimento. Então ela vai decifrar se
ele está com fome, se quer colinho do braço, se quer conversar, se quer
dormir, conseguindo ler cada tipo de choro.
Algumas mães que estão com quadros de depressão após o parto não falam
o manhês porque, deprimidas, não falam muito, ou falam com o tom de voz
muito monótono, sem entonação, sem a prosódia e essa é uma das situações
que favorecem a criança se tornar autista.
A função materna não é uma coisa inata, ser mãe não é uma coisa inata, nem
toda mãe é instintivamente mãe. Para que uma mãe seja mãe, é preciso que
ela tenha tido um mãe e que nela tenham ficado inscritas as marcas de como
a mãe cuidou dela.
A função paterna é diferente da função materna, pois o bebê para o pai desde
o inicio é outro, enquanto que para a mãe ele é continuidade dela, mas isso é
essencial para o bebê se tornar sujeito, pois a função paterna é a que vai
causar a separação da mãe e do bebê, sendo que a partir desse corte, o bebê
vai ter a noção da unidade do corpo, de seu corpo separado do corpo do outro.
A função paterna regula a onipotência da mãe, por exemplo, quando a mãe
não quer largar a criança, e o pai diz que já basta, “venha para cá um
pouquinho, você está mimando demais esse menino”, favorecendo dessa
forma, a introdução da lei e a separação. Para exercer a função paterna não
necessariamente tem que ser homem, mas é melhor que seja. Resumindo, a
função paterna produz um corte de separação nessa ligação estreita entre a
mãe e o bebê.
Até mesmo nos casais homossexuais, um deles vai exercer a função materna
e outro com um lado mais masculino, vai exercer preferencialmente a
função paterna, e assim, a lei pode ser transmitida, embora a criança
necessite de explicações adicionais. No casal heterossexual já existe uma lei,
entretanto no caso dos casais homossexuais é preciso que algo seja
explicado, senão o bebê vai ficar com certas interrogações e não vai
conseguir compreender. Com certeza a criança vai ter um pai simbólico, mas
a questão que se coloca é com o pai real. Existem certa fragilidades,
entretanto isso não quer dizer que crianças criadas por homossexuais, vão
ser homossexuais. Da mesma maneira que casais heterossexuais podem ter
filhos homossexuais. Depende da historia da criança e de fatores muito
variado.
As mães precisam de uma terceira pessoa que lhes chame a atenção, que lhes
dê apoio. Sendo que elas têm dificuldade de admitir que estejam mimando
demais seus filhos, daí a importância do pai em quebrar de certa forma a
onipotência da mãe. È importante que a mãe deixe espaço para que a lei seja
cumprida, dessa forma permitindo o equilibro da tríade (pai, mãe e filho).
Ela permite que isso aconteça porque ela ama o homem, que escolheu para
ser o pai da criança.
Podemos observar que as funções não estão sendo bem exercidas, quando a
mãe dorme com o menino na cama e o pai vai dormir na sala.
Ligados a cada uma dessas pulsões, teremos alguns sintomas que mostram
que algo não está bem. No lactente a gente pode observar sinais positivos de
desenvolvimento e os sinais de sofrimento psíquico. Isso é muito importante
porque podemos perceber sinais que são precursores de perturbações mentais
futuras.
Na relação oral o bebê é o objeto de satisfação para o outro, o bebê tem prazer
em sugar e receber não somente o alimento, mas também a presença do outro,
o olhar do outro, o olhar e a voz da mãe.
O registro especular:
No primeiro tempo, o bebê percebe que tem outro, não sabe que é ele
mesmo, vai atrás para brincar; no segundo tempo ele se dá conta que não é
outra criança, mas apenas um reflexo, daí a importância da mãe nesse
momento pra mostrar que aquele reflexo é o dele. Este é o terceiro tempo,
momento em que assume seu corpo e forma o eu, de fora pra dentro. O
espelho é na realidade, uma metáfora do olhar da mãe.
A série silenciosa é a não fixação do olhar, pode fixar no teto ou num ponto,
o que se chama agarramento do olhar. Muitas vezes suspeitam de cegueira,
mas o exame não dá nada. Outro sintoma seria o estrabismo que persiste
depois dos seis meses de idade. Até os seis meses há certo estrabismo por
imaturidade fisiológica até seis meses de idade, e a persistência é um sintoma
da perturbação do olhar com o outro, sintomas estes característicos do
registro escópico.
O fato de a mãe entender a mensagem do bebê é que vai fazer com que ele
seja introduzido no código lingüístico. Durante o intervalo das mamadas ele
começa a fazer ruídos, que são tentativas de imitar o que a mãe diz, ele tenta
dialogar com a mãe (protoconversações), enquanto a mãe fala, ele se cala e
depois ele faz ruídos e ela se cala. Eles alternam turnos de palavras. Esses
sons que o bebê começa a fazer, a mãe decodifica, o bebê se torna legível
para a mãe. Ela sabe pelos sons que ele faz ou quando esperneia, se quer
mamar, se está com frio ou calor, se quer sair do berço, ou seja, ele é legível,
a mãe consegue ler. Nós veremos que algumas crianças autistas, a mãe não
consegue ler, não consegue compreender suas manifestações, não entende os
sons que ele faz e este é um dos motivos pelo quais a criança não entra na
linguagem. Cada choro da criança vai ser diferente, o choro da fome, do
cansaço, de raiva, de dor. Então a percepção, a leitura do bebê, são sinais
positivos de desenvolvimento.
Muitos bebês autistas não reclamam, às vezes até choram quando alguém
pegar nele, pois preferem ficar sozinhos. Essas crianças autistas apresentam
uma estrutura psíquica profundamente diferente e a medicina científica não
consegue entender isso, atribui significações médicas, relativas ao corpo.
Outros registros que são importantes para que percebamos a dialética entre
função materna e paterna são os registros do tônus corporal e do sono, que
também dão indicações sobre a relação com o outro.