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PROJUDI - Processo: 0000504-06.2018.8.16.0082 - Ref. mov. 20.

1 - Assinado digitalmente por Glaucio Francisco Moura Cruvinel:18022


16/07/2018: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE FORMOSA DO OESTE
VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO
EXTRAJUDICIAL DE FORMOSA DO OESTE - PROJUDI
Avenida São Paulo, 477 - Formosa do Oeste/PR - CEP: 85.830-000 - Fone: (44) 3526-1272 -
E-mail: varacivelformosa@hotmail.com

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ6BY E38JL 8S5JJ 8572Y


Autos nº. 0000504-06.2018.8.16.0082

SENTENÇA

Cuida-se de Suscitação de Dúvida formulada pela Oficial de Serviço de Registro Civil de Pessoas
Naturais de Jesuítas (seq. 1, 8, 9, 10, 13, 18 e 19). Afirma que diversos interessados comparecerem ao
Serviço buscando segundas vias de certidões de nascimento e casamento, contudo, existe dúvida de como
proceder na medida em que, em que pese a certidão estar cadastrada no sistema ANSATA, encontram-se
nos arquivos físicos apenas partes dos registros, como somente a habilitação de casamento, somente
certidões, entre outros.

O Ministério Público se manifestou pela não intervenção no feito (seq. 15.1).

Vieram conclusos para julgamento.

Fundamento e decido.

Pela análise das informações prestadas pela Oficial Registradora verifica-se que o cerne da dúvida
apresentada se resume ao seguinte questionamento: É possível fornecer segunda via de certidões de
nascimento e casamento através da coleta de informações junto ao sistema ANSATA, bem como com
base em outros documentos arquivados em cartório em que se encontram cadastrados os registros do
interessado, como habilitações, certidões entre outros?

Em 28 de abril de 2009 o Ofício de Registro Civil de Jesuítas-PR foi acometido por incêndio, fato esse
público e notório na Comarca de Formosa do Oeste-PR e Região. As consequências do incidente vêm
sendo sentidas até os dias de hoje, na medida em que centenas de pessoas estão com dificuldades em
obter certidões dos registros contidos na serventia, já que diversos livros e certidões foram extraviadas,
deterioradas, enfim, julgadas inválidas pelos deletérios efeitos do fogo.

O caso que se apresenta é mais uma das consequências do fatídico episódio. Dezenas de pessoas têm
procurado o Ofício de Registro Civil de Jesuítas-PR objetivando a emissão de segunda via de certidões de
nascimento e casamento, dentre outros, encontrando óbice, porém, na dúvida cartorária já aventada acerca
da possibilidade de expedir essas certidões com base em informações e registros contidos em sistemas e
outros elementos porventura existentes ou apresentados na serventia.

Embora do ponto de vista prático, seja esse o caminho mais fácil e menos moroso, não há como conceber
a possibilidade de emissão dessas certidões sem que haja a devida conferência no livro respectivo, uma
vez que foi este o procedimento elencado pela legislação brasileira para constatar os fatos e atos que
atingem o estado civil das pessoas naturais (art. 1º e 3º da Lei n. 6.015/73).
PROJUDI - Processo: 0000504-06.2018.8.16.0082 - Ref. mov. 20.1 - Assinado digitalmente por Glaucio Francisco Moura Cruvinel:18022
16/07/2018: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença

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Nesse contexto, caso não haja a possibilidade de conferência dos livros próprios em razão de extravio ou
danificações, o ordenamento jurídico igualmente prevê o procedimento de restauração, estampado no art.
109 da Lei n. 6.015/73 a ser levado a efeito pelos respectivos interessados, tudo de modo a conferir
segurança jurídica para os registros públicos, especialmente porque tal princípio norteia a aplicação de
suas normas, bem como todo seu funcionamento.

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Foi nessa perspectiva, embora com objeto diverso, que a Corregedoria Nacional de Justiça editou o
provimento n. 23, de 24 de outubro de 2012.

O provimento foi publicado em razão de inspeção realizada nos estados do Pará e Piauí em que se
constatou vício na prestação do serviço público na medida em que serventuários estavam realizando a
abertura de nova matrícula para imóvel tendo por base, apenas, a certidão de registro anterior expedida
pela mesma unidade do serviço extrajudicial, sem a conferência da existência e do teor do correspondente
registro em livro próprio.

Diante da situação, foi expedido referido ato normativo, de observância obrigatória em todo país, que
assim revela (destaque acrescido):

Art. 1ºO extravio, ou danificação que impeça a leitura e o uso, no todo ou em


parte, de qualquer livro do serviço extrajudicial de notas e de registro deverá ser
imediatamente comunicado ao Juiz Corregedor, assim considerado aquele
definido na órbita estadual e do Distrito Federal como competente para a
fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, e à Corregedoria Geral da
Justiça.
Art. 2ºÉ vedada a abertura de nova matrícula para imóvel tendo como base
apenas certidão de matrícula, de transcrição, ou de inscrição expedida pela
mesma unidade do serviço extrajudicial de registro de imóveis em que a nova
matrícula será aberta, sem que se promova a prévia conferência da existência
e do inteiro teor da precedente matrícula, transcrição ou inscrição contida no
livro próprio.
Art. 4ºÉ vedada a expedição de nova certidão de inteiro teor ou de parte de
registro de imóvel (transcrição, inscrição, matrícula e averbação) tendo como
única fonte de consulta anterior certidão expedida por unidade do serviço
extrajudicial.
Art. 5ºSendo impossível a verificação da correspondência entre o teor da certidão
já expedida e a respectiva matrícula, transcrição ou inscrição mediante consulta do
livro em que contido o ato de que essa certidão foi extraída, por encontrar–se o
livro (encadernado ou escriturado por meio de fichas), no todo ou em parte,
extraviado ou deteriorado de forma a impedir sua leitura, deverá o Oficial da
unidade do Registro de Imóveis em que expedida a certidão, para a realização de
novos registros e averbações e para a expedição de novas certidões, promover a
prévia restauração da matrícula, transcrição ou inscrição mediante autorização do
Juiz Corregedor competente.
Art. 9ºA restauração do assentamento no Registro Civil a que se refere o artigo
109, e seus parágrafos, da Lei nº 6.015/73 poderá ser requerida perante o Juízo do
foro do domicílio da pessoa legitimada para pleiteá–la e será processada na forma
prevista na referida lei e nas normas editadas pela Corregedoria Geral da Justiça
do Estado em que formulado e processado o requerimento. Quando proveniente de
jurisdição diversa, o mandado autorizando a restauração deverá receber o
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“cumpra–se” do Juiz Corregedor a que estiver subordinado o Registro Civil das

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Pessoas Naturais em que lavrado o assento a ser restaurado.

Em que pese o provimento referir-se essencialmente à correição das irregularidades no Registro de


Imóveis, não constato qualquer óbice para sua aplicação de maneira extensiva aos assentamentos do
Registro Civil de Pessoas Naturais[1]. Primeiro porque a finalidade da regulamentação, qual seja, conferir
segurança jurídica aos registros públicos de imóveis é plenamente aplicável aos Registros Públicos de

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Pessoas Naturais. Segundo, pois, nessa perspectiva, deve-se dispender muito maior cuidado aos atos e
fatos que refletem o estado civil das pessoas naturais, valores estes substancialmente mais importantes
que o interesse patrimonial que pretende cuidar o dispositivo.

Extrai-se do exposto que o interessado que teve o registro extraviado ou de qualquer forma deteriorado,
deve procurar a competente restauração prevista no art. 109 da Lei n. 6.015/73, especialmente porque as
certidões e demais documentos expedidos com base em registros e outros documentos que estejam
depositados em cartório não possuem eficácia jurídica, nos termos da lei.

Em assim sendo, julgo IMPROCEDENTE a dúvida suscitada pela Sra. Oficial Registradora para definir
a impossibilidade de emissão de segundas vias de quaisquer documentos que não possam ser conferidos
em seus livros respectivos.

Sem custas, nos termos do art. 207 da Lei 6.015/73.

Demais diligências necessárias.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Oportunamente, arquivem-se.

[1] Sobre o tema, conveniente transcrever a lição de Carlos Roberto Gonçalves, que ao tratar sobre o tema
alude que a interpretação extensiva “consiste na extensão do âmbito de aplicação da mesma norma a
situação não expressamente previstas mas compreendias pelo seu espírito, mediante uma interpretação
menos literal” [GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
p. 73].

Formosa do Oeste, 16 de julho de 2018.

Glaucio Francisco Moura Cruvinel


Magistrado

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