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ESSA – FISIOTERAPIA FCNM II -2020/2021

Protocolo de intervenção baseado na evidência num caso AVC no


hemisfério direito
Mira.M. 1
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Escola superior de Saúde do Alcoitão

INTRODUÇÃO uma em cada cinco pessoas que apresenta um


AIT irá sofrer um AVC extenso nos próximos
No presente trabalho pretende-se realizar uma três meses. Nunca se deve ignorar um AIT. É
análise do caso clínico 4 ‘’Utente com AVC no ainda comum designar-se o AVC como
hemisfério direito”, à luz daquilo que é o “trombose”.
processo da Fisioterapia, procurando perceber Uma vez que o cérebro controla as funções
quais são os principais problemas ao nível da corporais, os seu sinais irão variar de acordo
função e da estrutura do utente e de que modo com a área afetada. Por exemplo, se o AVC
é que estes se vão fazer refletir na sua atingir a área que controla os movimentos do
participação/atividade, tendo em conta fatores corpo do lado direito, esse lado irá ficar com a
pessoais e ambientais que podem facilitar ou mobilidade reduzida. Como o cérebro também
dificultar a sua recuperação. controla os processos mentais mais complexos,
O acidente vascular cerebral (AVC) é a principal como a comunicação, as emoções, o raciocínio
causa de morte em Portugal. Em todo o e o pensamento, todas estas funções tenderão
mundo, estima-se que: uma em cada seis a ficar afetadas após um AVC.
pessoas terá um AVC; a cada segundo uma
sofre esta enfermidade; e a cada seis segundos Como ocorre de forma súbita, pela oclusão ou
esta doença é responsável pela morte de pela rotura de uma artéria, os seus efeitos no
alguém. corpo são imediatos.
Por ano, 15 milhões sofrem um AVC e, desses,
Os fatores de risco são numerosos e, quanto
seis milhões não sobrevivem. De acordo com a
maior for o seu número, maior o risco de
Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular
ocorrência de um AVC. Alguns desses indícios
Cerebral, Portugal é, na Europa Ocidental, o
não são controláveis, como a idade, o género
país com a mais elevada taxa de mortalidade,
(mais frequente nos homens) e a genética. Em
sobretudo na população com menos de 65
relação à idade, é importante referir que cerca
anos.
de 25% dos AVC ocorrem em pessoas jovens. A
O AVC resulta da lesão das células cerebrais,
diabetes, a hipertensão arterial, o colesterol, a
que morrem ou deixam de funcionar
obesidade, o sedentarismo, as arritmias, a
normalmente, pela ausência de oxigénio e de
displasia fibromuscular, o consumo de tabaco e
nutrientes na sequência de um bloqueio do
de álcool também aumentam o seu risco.
fluxo de sangue (AVC isquémico) ou porque são
Os medicamentos mais úteis para o tratamento
inundadas pelo sangue a partir de uma artéria
e prevenção do AVC são os anti-hipertensores,
que se rompe (AVC hemorrágico). Os
os antiagregantes plaquetários e os
isquémicos correspondem a cerca de 4/5 do
anticoagulantes. No seu conjunto, estas três
total. As células do cérebro morrem pouco
classes de fármacos melhoram a circulação e
tempo depois da ocorrência desta lesão.
garantem um melhor fluxo de sangue, oxigénio
Contudo, pode durar algumas horas se o fluxo
e nutrientes às células cerebrais. A escolha da
de sangue não estiver completamente
combinação de fármacos deverá sempre ser
interrompido. Por essa razão, é fundamental
realizada pelo médico. Em alguns casos, a
agir rapidamente de modo a minimizar as
cirurgia poderá ser fundamental para
lesões cerebrais.
desbloquear uma artéria entupida.
Existe também uma outra forma de duração
Cerca de um terço dos doentes recupera de um
mais reduzida, inferior a 24 horas, que se
modo significativo no primeiro mês mas muitos
designa por acidente isquémico transitório
doentes irão exibir sequelas ao longo das suas
(AIT). Nestes casos, o entupimento da artéria
vidas.
cerebral é momentâneo e os sintomas podem
durar alguns minutos ou horas. É importante A recuperação irá depender da localização e
reforçar que, mesmo nos casos transitórios, é extensão do AVC mas também do tempo
fundamental recorrer ao hospital, uma vez que decorrido, razão pela qual é crucial o recurso
um AIT pode ser o primeiro sinal de um AVC imediato ao hospital quando existe suspeita do
com consequências devastadoras. De facto, seu desenvolvimento.
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Protocolo de intervenção baseado na evidência num caso de Avc no hemisfério direito
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A fisioterapia e a alteração no estilo de vida são neglet o que irá dificultar no tratamento na
aspetos importantes para a reabilitação. A realização das tarefas solicitadas.
manutenção de uma atitude positiva, o suporte A hemiparésia esquerda por compromisso da
profissional e familiar são igualmente peças via cortico-espinhal leva a uma alteração da
fundamentais para que tudo possa correr o força e das amplitudes articulares que por
melhor possível. consequência irão comprometer a realização
das transferências e por sua vez irá
As consequências vão depender do seu tipo, da comprometer as tarefas durante a sua
localização da artéria atingia, da área cerebral rialização.
lesionada, do estado de saúde e de atividade A alteração do equilibrio devido a possivél
antes do episódio. Todos os AVC são diferentes compromisso da via vestibulo-espinhal,
e cada pessoa afetada irá apresentar problemas aumenta o risco de quedas nomeadamente na
e necessidades diferentes. marcha que poderá induzir a novas lesões e por
sua vez incapacita o utente de realizer certas
DESCRIÇÃO DO CASO tarefas.
As alterações posturais levam a
Utente do sexo masculino, 73 anos com encurtamentros e atrofias musculares que
diagnóstico médico de Avc no hemisfério dificultam a realização das tarefas motoras.
direito. Atualmente encontra-se nos cuidados Por sua vez o utente apresenta espasticidade
agudos. estando num padrão que também dificulta a
Como principais problemas da estrutura e realização das atividades
função, apresenta hemiparésia esquerda com Todas estas alterações levam a uma perda de
força generalizada de 2 nos MS e MI à autonomia nas atividade da vida diária (AVD's)
esquerda. Padrão de sinergia espástica em e diminuição da qualidade de vida.
flexão do cotovelo e punho e de flexão plantar.
Apresenta diminuição das amplitudes do DIAGNÓSTICO
movimento (apresenta -10 de flexão dorsal e 0 Utente de 73 anos que apresenta incapacidade
graus de extensão da anca (esquerda)). Para de realizar marcha e manter a posição de
além destes problemas já apresentados, há pé(controlo postural) por alterações do
espasticidade de grau 2 nos flexores plantares equilibrio e por hemiparésia esquerda.
esquerdos. A perceção encontra-se alterada Incapacidade de realizer mobilidade no leito e
com neglet esquerdo. transferências de forma autónoma devido a
O equilibrio está – sem alterações significativas hemiparésia esquerda.
na posição de sentado, ligeira inclinação do
tronco para o lado afetado. Necessita de apoio PROGNÓSTICO
de outra pessoa em pé, empurra-se para o lado Num caso de AVC, o prognóstico é dividido
afetado (pusher syndrome). tendo em conta duas fases: os primeiros seis
Como principais problemas ao nível da meses desde o AVC e a segunda fase que é
atividade e participação, identifica-se a referente aos meses seguintes. Nos primeiros
necessidade de ajuda moderada na mobilidade meses é de esperar que se verificam grandes
na cama e transferências. Não realiza marcha. melhorias a nível funcional. Relativamente à
Os principais objetivos referidos pelo utente marcha sabe-se que a maioria dos utentes
são: melhorar o equilibrio na posição de pé, conseguem readquirir a marcha de forma
voltar a andar e realizer as AVD´s de forma independente (sendo as principais melhorias
autónoma. observadas nos primeiros três meses).
De forma a identificar corretamente os Relativamente às AVDs, define-se que a maioria
problemas identificados no utente, procedeu- dos utentes vão precisar de auxílio a longo
se à sua listagem tendo em conta a classificação prazo.
internacional da funcionalidade (CIF- Apêndice Em relação a este caso como o utente já tem
1) uma idade que não é de fator positivo espera-
se que nos primeiros meses de tratamento haja
PROBLEMAS E SUA RELAÇÃO algumas melhorias, de forma a realizer algumas
tarefas com mais autoniomia, espera-se que
A idade do utente é um fator negativo devido à possa realizer a marcha mas com ajuda de
neuroplasticidade, que com o tempo se vai terceiros. Após os 6 meses não irá haver
perdendo. Por sua vez o utente apresenta melhorias visando manter os ganhos
adquiridos.
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PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO normalmente num corridor com pelo menos 30


metros de comprimento. O utente tem que
O utente apresenta alterações do equilíbrio estar calmo, com a devida medicação tomada
(controlo postural) e para se avaliar procedeu- com roupa e sapatos confortáveis. Tem que ser
se à escala de Berg. A escala de Berg contém 14 feita a medida dos sinais vitais antes da prova e
items. Cada item tem um score que vai de 0 a 4 pode ser aplicada a escala de borg para avaliar
e o score total máximo é de 56. Segundo a tolerância ao esforço. Deve ser marcado um
Miyata et al. (2020) demonstra-se que a escala registo de 3 em 3 metros normalmente com
de Berg e a escala mini best-test são escalas cones. Os utentes podem parar a prova ou
válidas para utentes com uma certa idade com lentificar a marcha e é de realçar que o
AVC. A escala de Berg é mais propicia para este terapeuta dê um feedback durante a prova.
utente pois apresenta maiores dificuldades em
realizer as tarefas visto que o utente não realiza
marcha. Segundo o estudo a escala de berg tem PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO
uma sensibilidade de 75,4% e uma
especificidade de 85,2%. Desde 1990 os estudos demonstram que o
O utente apresenta alterações da força e para treino de força muscular e a realização de
se avaliar procedeu-se ao teste muscular atividades requerendo esfroço não prejudicam
functional, em conjunto com o teste dos 6 utentes com AVC´s. Em caso de fraqueza
minutos de marcha que por sua vez avalia a muscular o treino de força alivia os efeitos da
força dos membros inferiores, que no presente atrofia muscular.
estudo é validada para utentes com AVC Para utentes pós AVC alguns autores apontam
Segundo Wist. S et al. (2016). Uma difrença de para a prescrição do exercicio com mais
50 metros atingida após a aplicação do teste no repetições do que individos normais, porém
mesmo utente significa uma melhoria com menos carga no peso, cerca de 10 a 15
considerével Segundo Wist. S et al. (2016). repetições Segundo Wist. J et. al(2016). Por sua
Também se pode avaliar a força do utente vez os ganhos fe força resultam duma
através do 1RM ou seja, o peso máximo que o adaptação do tecido nervoso.
utente consegue suportar numa repetição. Para intervir sobre o equilíbrio é nexessário
Em relação aos problemas da definir objetivos (SMART), a curto e longo
atividade/participação require-se a avaliação da prazo, de modo a melhorar as estratégias de
função do membro superior visto que o utente tratamento para a recuperação do utente.
refere que tem como objetivo ser autonomo Espera-se que o utente melhore o score na
nas AVD´s. Para avaliar a funcionalidade do escala de berg de 25 para 35 após a
membro superior procedeu-se à escala (ARAT) intervenção intervenção de 2 a 3 meses. Após
que avalia a funcionalidade do membro este periodo procura-se manter os objetivos
superior. Esta escala avalia a apreensão, o adquiridos. Por sua vez também se procura
alcance dos objetos e também os movimentos intervir no aumento da força muscular do
mais finos e mais grossos enquanto se faz a utente definindo os objetivos (SMART), a curto
transferência dos objetos de difrentes e a longo prazo para um melhor tratamento.
tamanhos. Este teste tem um score total de 57 Espera-se que o utente aumente a força no
pontos. Segundo Rand D. a escala é viável e hemicorpo esquerdo através do teste muscular
válida e por sua vez este autor apresenta a de um grau 2 para um grau 3+ em 2 a 3 meses.
utilização de um questionário Motor Activity Após os objetivos a curto prazo procura-se
LOG (MAL). Este questionário consiste em manter a força do utente a longo prazo.
quantificar a qualidade do uso do membro Para intervir tanto no equibrio como na força
superior afetado no dia a dia. O questionário muscular encontrou-se um estudo com 355
tem 14 questões baseadas em difrentes tarefas pacientes com as idades entre os 49 e os 67
que requerem o membro superior no dia a dia. anos com AVC´s em estado agudo e crónico.
O outro problema de atividade e participação é A intervenção progride no sentido de realizer
relacionado com a marcha visto que o utnte tarefas mais simples para mais complexas.
não realiza marcha e é um dos seus principais Para se intervir na força muscular e no
objetivos. Para avaliar a marcha procedeu-se ao equilibrio, Segundo Wist. J et al.(2016),
teste dos 6 minutos de marcha. Segundo procede-se ao treino de resistência progressive,
Giannitsi S et al. (2019), é uma ferramenta para ao treino de uma tarefa em especifico como
avaliar a funcionalidade de utentes na marcha por exemplo o levantar e sentar duma
feita num ambiente fechado, com um chão liso, cadeira(sit-to-stand), exercicio aérobico e

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estimulação elétrica functional combinado com fortalecimento dos membros superiores,


cycling. inferiores e tronco. Ambos os grupos
O treino de resistência progressivo consiste em realizaram este protocolo de tratamento de 75
treinos com 70%-80% de peso da capacidade minutos durante 6 dias por semana ao longo de
maxima ou seja 1RM. Deve ser medido 4 semanas. A evolução dos utentes foi avaliada
regularmente a força do utente para se antes e depois de cada sessão através da escala
reajustar o treino. Segundo o estudo após 16 M-PAS, e da medição das amplitudes com um
horas de treino verifica-se ganhos de goniómetro quer à cervical quer à toraco-
capacidade motora. lombar.
O treino duma tarefa em especifico demonstra Neste estudo, ambos os grupos apresentaram
melhorias na marcha quando é feito duma melhorias ao nível das amplitudes articulares e
forma intensificada e deve ser implementado dos movimentos de rotação do tronco bem
na terapia quando o objetivo for melhorar a como uma diminuição da rigidez axial, levando
funcionalidade do utente. Por exemplo o sit-to- assim a uma melhoria da mobilidade no leito.
stand requer um control postural adequado, Todavia os exercícios do kayaking apresentam
requer força muscular e equilibrio por parte do
melhorias ligeiramente superiores aos
utente. Quando a tarefa fôr realizada com mais
exercícios de fortalecimento, devido ao facto
rapidez e demonstra uma melhor simetria na
posiçao de pé e demonstra uma melhoria na de no kayaking existir dissociação de cinturas e
estabilidade postural e no control directional. movimentos rítmicos, tornando assim os
movimentos corporais mais fluidos (Shujaat et
al., 2014). Deste modo, para cumprir os
objetivos definidos para este problema iríamos
adotar este tipo de intervenção por apresentar
Definidos acima os problemas de estrutura e boa evidência e resultados na melhoria da
função e respectiva evidência para a mobilidade no leito.
intervenção sobre os mesmos. Irá definir-se,
abaixo, as estratégias intervencionais descritas Com o intuito de dar uma resposta mais
na evidência que poderão ser utilizadas ao nível completa e holística do problema em questão,
dos problemas de atividade e participação. Janssens et al. (2014) no seu estudo utilizaram
Deste modo um dos problemas referidos pelo Lee Silverman Voice Treatment Big (LSVT BIG)
utente é a dificuldade na mobilidade no leito. que consiste num conjunto de exercícios de
Esta encontra-se reduzida pela possível grande amplitude e intensidade focados em 3
diminuição das amplitudes articulares ao nível componentes específicas: marcha e equilíbrio;
do ombro, anca e TT. Para além destes
mobilidade no leito e destreza, tendo como
problemas de estrutura, outro fator que pode
objetivo obter uma melhoria da bradicinesia
influenciar a performance da tarefa é a perda
da funcionalidade do utente ao longo da em pacientes com DP. Este tipo de tratamento
progressão da doença. Deste modo, foram tem um protocolo de intervenção de 4
definidos objetivos a curto e a longo prazo. A semanas, com sessões de 1 hora, 4 vezes por
curto prazo, nos primeiros 2 a 3 meses de semana.
intervenção, o objetivo prende-se no ganho de Para além do trabalho supervisionado pelos
amplitudes, nomeadamente da flexão do fisioterapeutas, os utentes foram encorajados a
ombro (110º para 135º), extensão da anca (- realizar o tratamento de forma autónoma no
10º para 0º) e flexão dorsal (0º para 15º) de seu domicílio o que se torna bastante útil, uma
modo a melhorar a performance durante esta vez que o utente dá continuidade aos
tarefa, tornando-a mais fácil. Ao final de 6 tratamentos, aumentando assim a eficácia do
meses (objetivo a longo prazo) pretende-se a mesmo e atrasando o avanço da doença
manutenção do objetivo em cima referido.
(Janssens et al., 2014).
De acordo com Shujaat et al. (2014), a
prescrição de exercícios de kayaking é uma das O outro problema encontrado foi o Freezing of
estratégias de intervenção para melhorar a gait (FOG) que é uma incapacidade motora
mobilidade no leito. Neste estudo foram causada pela doença de Parkinson (DP) que
selecionados 24 participantes divididos em 2
afeta a marcha. A FOG afeta cerca 60% a 80%
grupos, 1 grupo experimental onde foram
dos utentes diagnosticados com Parkinson e
submetidos a exercícios de kayaking, e 1 grupo
ocorre normalmente no início de atividades
de controlo que foi submetido a exercícios de
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como a marcha, mudanças de direção, dual primeira fase corresponde a uma intervenção
tasking (tarefa dupla), alteração de ambientes e seguindo objetivos a curto prazo, ou seja, de 2
circunstâncias, tais como locais estreitos, e a 3 meses, e a segunda fase a uma intervenção
quando ocorre alteração de luminosidade do seguindo objetivos a longo prazo, de 6 semanas
espaço envolvente (Miller et al., 2019; Rutz & a 6 meses.
Benninger, 2020).
Na primeira fase, o objectivo inicial é que o
A FOG é a principal causa de quedas e de utente consiga obter um score na escala da
incapacidade funcional na DP e pode ser FOG significativo, para que o freezing não seja
dividida em três tipos: marcha com passos um obstáculo na marcha através de
curtos (aumento da cadência), hesitação no intervenções com estímulos visuais, estímulos
início de movimento (tremores) e bloqueio auditivos, uso de treadmill e obstáculos
total (ausência de movimento). Esta aquáticos. Na segunda fase, o objetivo passa
incapacidade é caracterizada por ter episódios pela manutenção dos ganhos adquiridos
de curta duração, entre 10 a 30 segundos, o anteriormente referidos, e que o utente ao
que por sua vez vai acabar por atrasar a longo do tempo consiga diminuir o score,
iniciação da maioria das atividades funcionais aproximando-se de zero, de modo a que o
(Rutz & Benninger, 2020). O freezing na marcha freezing deixe de ser uma barreira tão
ocorre com maior incidência em períodos off expressiva na marcha. Para conseguir alcançar
(off freezing), e apresenta uma melhoria com a estes objetivos, realizam-se atividades de ‘’dual
administração farmacológica dopaminérgica. tasking’’ e dança (Miller et al., 2019).
Por vezes também ocorre em períodos on (on De acordo com Rutz & Benninger (2020), para
freezing), devido a possíveis efeitos colaterais melhorar o freezing durante a marcha uma das
da medicação dopaminérgica. (Capato et al., melhores estratégias é a prescrição de sessões
2015) de fisioterapia em que é realizado o ‘’cueing’’,
Deste modo, os 3 tipos de FOG, o aumento da ou seja, utilização de diversos estímulos.
predisposição para quedas e o medo que essa Neste estudo, foram selecionadas 762
predisposição provoca, levam a uma pacientes com DP de 20 RCT’s. A intervenção
diminuição da independência funcional e nestes utentes passou por “cueing” visual e
consequentemente da qualidade de vida dos auditivo.
utentes com DP. O ‘’cueing’’ visual consiste na utilização de fitas
Assim sendo, a fisioterapia tem como objetivo estacionárias nas passadeiras, uso de lasers e
melhorar a capacidade do utente em realizar as lanternas e linhas no chão. O “cueing” visual é
atividades funcionais de forma independente recomendado para utentes numa fase mais
durante o maior período de tempo possível, avançada da patologia, porque promove o
uma vez que se trata de uma condição aumento do tamanho do passo e a velocidade
degenerativa e crónica. Os estudos do mesmo. Deste modo o “cueing” visual
encontrados utilizam as escalas Freezing of Gait apresenta uma recomendação de nível A e
Questionaire (FOG-Q) e New Freezing of Gait deve ser utilizado para o tratamento do
Questionaire (NFOG-Q), que é uma nova versão freezing na marcha (Rutz & Benninger, 2020). O
da mesma escala. Segundo Rutz & Benninger ‘’cueing’’ auditivo, (apesar de só ter evidência
(2020), o NFOG-Q oferece uma avaliação mais de três dos vinte estudos recolhidos) também
completa do impacto da FOG no dia-a-dia, o revelou ser eficaz no tratamento do freezing na
que permite uma intervenção mais adaptada às marcha com a utilização de um metronome, de
necessidades de cada utente. Segundo Miller et sons rítmicos ou de música. Este método
al. (2019), sessões de fisioterapia através de promove na marcha um aumento do
intervenções como o treadmill e o uso de comprimento do passo, da velocidade e da sua
estímulos variados, apresentam um nível de cadência. Também por poder ser realizado de
evidência elevada para a melhoria do freezing forma autônoma em casa, o ‘’cueing’ ‘auditivo
na marcha em comparação à fisioterapia tem recomendação de nível A, na melhoria do
convencional. freezing na marcha (Rutz & Benninger, 2020).
A partir dos estudos observados, foram Outra intervenção que apresenta uma boa
delineadas duas fases de recuperação. A evidência (recomendação nível A) para a

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redução do freezing na marcha é o treadmill apresentava na sua constituição os elementos


(Rutz & Benninger, 2020). O treino no treadmill pretendidos (Apêndice 3). O artigo escolhido foi
não só melhora a velocidade da marcha nos os seguinte: Miyata K, Hasegawa S, Iwamoto H,
utentes com DP, como também melhora a Otani T, Kaizu Y, Shinohara T, Usuda S.
noção de freezing no próprio utente, fazendo Comparing the measurement properties and
com que o mesmo consiga obter um maior relationship to gait speed recovery of the Mini-
Balance Evaluation Systems Test and the Berg
controlo e por sua vez, uma melhoria na
Balance Scale in ambulatory individuals with
marcha. Através do treino do treadmill, existe
subacute stroke.
uma melhoria no comprimento do passo, Para a avaliação da força foi feita a questão:
aumento da cadência e aumento da distância “Será que o teste muscular functional é
percorrida pelo utente (Rutz & Benninger, apropriado para avaliar a força?”.
2020). Foi aplicada a expressão PICO (Apêndice 4),
Deste modo, segundo Miller et al. (2019), as Stroke AND strength evaluation) foi a PubMed e
sessões de fisioterapia convencional não dessa pesquisa encontram-se 614 artigos.
aparentam ser muito eficazes para o Foram lidos os títulos apresentados que se
tratamento do FOG. Por outro lado, sessões de consideraram relevantes para responder à
fisioterapia com estímulos (cueing) quer visuais questão PICO utilizada. Foi escolhido 1 artigo
quer auditivos juntamente com o treadmill é a válido. (Apêndice 5): Wist S, Clivaz J,
intervenção que apresenta melhores outcomes Sattelmayer M. Muscle strengthening for
hemiparesis after stroke: A meta-analysis.
funcionais da melhoria do FOG.
(2016).
É importante realçar que a DP não apresenta
Para avaliar a função do membro superior foi
apenas alterações a nível motor, pelo que a feita a questão: “qua los instrumentos de
questão psicológica também representa uma medida para avaliar a função do membro
fatia considerável no processo de recuperação. superior?” Foi feita a questão PICO (Apêndice
Assim, doentes com DP evidenciam algumas 6), (Stroke AND daily living measure) de
barreiras que podem constar um obstáculo ao seguida, pesquisou-se essa mesma expressão
tratamento físico, tais como, falta de na base de dados PubMed. Foram encontrados
motivação, fadiga e baixa auto-estima. Uma 472 resultados aos quais se inseriu um limite de
boa estratégia para contrariar essas barreiras é pesquisa (artigos a partir de 2016) Após leitura
o uso de música ou ritmos, uma vez que há dos títulos foi selecionado 1 artigo válido
evidência que demonstra que com este método (Apêndice 7), Rand D. Proprioception deficits in
chronic stroke-Upper extremity function and
o utente consegue adquirir bastantes
daily living. (2018).
benefícios a nível físico (Miller et al., 2019).
Posto isto, foi estipulada uma proposta de
Para a avaliar a marcha, foi feita a questão
intervenção para o utente em questão “(Será que o teste dos 6 minutos de marcha é
(Apêndice 18). indicado para utentes com AVC?)” A expressão
PICO (Apêndice 8) pesquisada na base de dados
ESTRATÉGIA DE PESQUISA PubMed foi: “Stroke” AND 6 minuts walk test),
Avaliação onde foram encontrados 396 resultados, dos
Para criar uma expressão PICO com o objetivo quais, se obteve 1 resultado válido (Apêndice
de procurar evidência que sustentasse a 9), Giannitsi S, Bougiakli M, Bechlioulis A,
utilização da Escala de Berg na avaliação do Kotsia A, Michalis LK, Naka KK. 6-minute
equilíbrio, criou-se a seguinte questão clínica, walking test: a useful tool in the management
“Será a escala de Berg indicada para avaliar o of heart failure patients. (2019)
equilíbrio num utente com AVC?”.
Criou-se a expressão PICO (apêndice 2): Stroke Intervenção
AND (evaluation validation). Ao submeter esta Para proceder à intervenção no equilíbrio,
questão na Pubmed (base de dados utilizada) realizou-se a seguinte questão clínica: “Será o
obteve-se 63 resultados, aos quais foi aplicado Tai Chi uma técnica de intervenção eficaz no
um critério de exclusão de artigos antes de melhoramento do controlo postural em utentes
2016, resultando num total de 63 artigos. com DP?”. A expressão PICO para esta
Destes 63 artigos foram lidos os títulos em estratégia de intervenção foi (Apêndice 10):
conjunto com os respectivos abstratos, “Parkinson’s disease” AND “Tai Chi” AND
identificando-se 1 resultado válido que (physiotherapy OR exercise OR rehabilitation).
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Utilizou-se como base de dados a PubMed na leito em utentes do DP?”. A questão PICO
qual foram encontrados 71 resultados. formada foi (Apêndice 14): “Parkinson's
Introduziu-se 2 critérios de inclusão (revisões disease" AND “bed mobility” AND
sistemáticas e RCT’s) e obtiveram-se 26 (physiotherapy OR exercise OR rehabilitation) e
resultados dos quais foram retirados 3 válidos submeteu-se esta mesma expressão na base de
(Apêndice 11). Assim, os artigos escolhidos dados PubMed. Foram encontrados 15
foram: Ni, X., Liu, S., Lu, F., Shi, X., & Guo, X. resultados dos quais foram escolhidos, após
(2014). Efficacy and Safety of Tai Chi for leitura de títulos e abstratos, 2 artigos válidos
Parkinson’s Disease: A Systematic Review and (Apêndice 15): Janssens, J., Malfroid, K.,
Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Nyffeler, T., Bohlhalter, S., & Vanbellingen, T.
PLoS ONE, 9(6), e99377; Li, F., Harmer, P., (2014). Application of LSVT BIG Intervention to
Fitzgerald, K., Eckstrom, E., Stock, R., Galver, J., Address Gait, Balance, Bed Mobility, and
Maddalozzo, G., Batya, S. S. (2012). Tai Chi and Dexterity in People With Parkinson Disease: A
Postural Stability in Patients with Parkinson’s Case Series. Physical Therapy, 94(7), 1014–
Disease. New England Journal of Medicine, 1023; Shujaat, F., Soomro, N., & KHAN, M.
366(6), 511–519 e Houston, P. & McFarlane, B. (1969). The effectiveness of Kayaking exercises
(2016). Health benefits of tai chi: What is the as compared to general mobility exercises in
evidence? College of Family Physicians of reducing axial rigidity and improve bed mobility
Canada. in Parkinson’s patients. Pakistan Journal of
Com o intuito de comprovar a eficácia da dança Medical Sciences, 30(5).
como estratégia interventiva na endurance foi Com o objetivo de encontrar as melhores
desenvolvida a seguinte questão clínica: “Será a estratégias de intervenção sobre o freezing na
dança uma estratégia eficaz na melhoria da marcha, a questão clínica elaborada foi: “Qual
endurance num utente com doença de será a melhor estratégia interventiva para
Parkinson?”. A questão PICO (Apêndice 12) melhorar o freezing na marcha em utentes com
criada foi “Parkinson’s disease” AND Dance DP?”. Desta forma foi construída a expressão
AND (physiotherapy OR exercise OR PICO (Apêndice 12): “Parkinson's disease” AND
rehabilitation) que foi introduzida na base de "freezing of gait" AND (physiotherapy OR
dados PubMed e obteve-se 123 resultados. exercise OR rehabilitation). Aplicou-se esta
Devido ao número elevado de resultados expressão de pesquisa na PubMed juntamente
optou-se por fazer uso de alguns critérios de com um critério de inclusão (revisões
inclusão disponíveis na base de dados em sistemáticas) o que deu um total de 22 estudos.
questão (revisões sistemáticas, meta-análises e Desses estudos escolhidos foram selecionados
revisões com máximo 10 anos), conseguindo 2 para análise mais detalhada (Apêndice 13).
reduzir o número de resultados para 36, dos Rutz, D. G., & Benninger, D. H. (2020). Physical
quais foram analisados e recolhidos 3 artigos therapy for freezing of gait and gait
considerados válidos. (Apêndice 13) impairments in Parkinson‘s disease: a
Mak, M. K., Wong-Yu, I. S., Shen, X., & Chung, C. systematic review. PM&R e Miller, K. J., Suárez-
L. (2017). Long-term effects of exercise and Iglesias, D., Seijo-Martínez, M., Ayán, C. (2020).
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689–703; Dos Santos Delabary, M., Komeroski, Revista de Neurologia 70(5): 161-170.
I. G., Monteiro, E. P., Costa, R. R., & Haas, A. N.
(2017). Effects of dance practice on functional DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
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people with Parkinson’s disease: a systematic A elaboração deste protocolo de intervenção,
review with meta-analysis. Aging Clinical and apresentou um desafio para a nossa
Experimental Research, 30(7), 727–735 e aprendizagem no contexto da unidade
Shanahan, J., Morris, M. E., Bhriain, O. N., curricular de Fisioterapia em Condições
Saunders, J., & Clifford, A. M. (2015). Dance for Neuromusculares II. O presente trabalho
People With Parkinson Disease: What Is the consistiu na análise de um caso clínico de um
Evidence Telling Us? Archives of Physical utente com DP, em que nos foi proposto
Medicine and Rehabilitation, 96(1), 141–153. adquirir um maior e mais vasto conhecimento
De forma a desenvolver a melhor intervenção acerca da condição clínica apresentada. Este
possível sobre a mobilidade no leito foi criada a tem como objetivo proceder à criação de um
seguinte questão clínica: “Qual será a melhor protocolo de avaliação e intervenção aplicável
estratégia interventiva para a mobilidade no
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e viável, baseado na melhor evidência optou-se por manter a avaliação deste


disponível, no contexto de DP. problema com a EEB uma vez que o utente, na
Deste modo, começou-se por realizar a descrição do seu caso já tinha sido sujeito à
introdução onde se fez uma revisão mesma (EEB 35/56 com maior limitação nos 9
bibliográfica expondo elementos referentes à últimos itens da escala). Deste modo, ao fazer
fisiopatologia e fisiologia da condição uso da mesma escala de avaliação é nos
apresentada. permitido re-avaliar esta componente tendo
Uma vez que os processos fisiopatológicos em conta um meio de comparação inicial.
desta doença ainda não se apresentam Para além disso, a avaliação proposta a nível da
completamente estudados e explicados tornou- endurance seguiu a mesma linha de
se um desafio para nós, enquanto grupo, estruturação que a avaliação do equilíbrio.
descrever da forma mais completa possível Optou-se por manter a utilização do teste 6MM
alguns dos sinais mais comuns presentes na DP, de forma a que a re-avaliação fosse executada
como o processo de rigidez e bradicinesia. com termos de comparação em relação aos
Assim, aliada à revisão bibliográfica realizada, dados iniciais apresentados no caso.
recorreu-se à explicação do professor da Um dos documentos que foram utilizados como
unidade curricular a fim de dar sentido à fio condutor da elaboração do protocolo de
informação recolhida e acrescentar nova intervenção foram as DEFPD. A partir deste
informação. documento foram encontradas as restantes
A nível da descrição do caso clínico, este escalas utilizadas no processo de avaliação e
apresentava-se pouco desenvolvido pelo que, por esse facto as estratégias de pesquisa
de forma a completar a descrição deste apresentadas têm na sua composição a
considerámos importante que algumas escalas, referência direta a essa mesma escala (FOG-Q;
nomeadamente a escala de Hoehn e Yahr, M-PAS).
deveriam estar expostas no mesmo para que as Em relação à definição de objetivos, na medida
estratégias escolhidas ao nível da avaliação a serem mensuráveis, deparamo-nos com
bem como da intervenção fossem mais dificuldade visto que, apesar de termos
correlacionadas com o estadio de evolução da encontrado valores de cut off, não fomos
DP. Outro elemento importante em falta na capazes de interpretar os mesmos,
descrição do caso clínico é o tempo de inviabilizando o seu uso no decorrer do
evolução da patologia, com este dado era trabalho.
possível estabelecer objetivos mais realistas e Outro dos problemas que se fez sentir foi o
atingíveis que guiassem de forma mais correta estabelecimento dos objetivos a curto e longo
a nossa proposta de estratégias de prazo. Este facto deveu-se a vários fatores, de
intervenção. entre eles, a reduzida informação que é
As limitações apresentadas acima aliadas ao apresentada sobre o estadio de evolução da
pouco detalhe apresentado no caso clínico doença, não permitindo perceber se o utente
fornecido, revelou-se como um problema em questão se encontrava numa fase em que
aquando da elaboração da relação de era expectável ainda ter alguns ganhos ou se
problemas. No entanto, considera-se que a estava numa fase mais avançada da condição,
relação de problemas está construída de forma em que se iria basear mais na manutenção e no
a dar resposta a todos os problemas retardar das complicações funcionais da DP.
evidenciados pelo utente, relacionando, da Outro dos fatores que influenciou os objetivos
melhor forma, os problemas de estrutura e estabelecidos foi a dificuldade em precisar uma
função com os de atividade e participação. Para linha temporal do prognóstico e como
além disto, a procura de evidência científica consequência disso, tornou-se inviável delinear
que corroborasse a relação dos problemas nas timings precisos e alcançáveis para os
diversas dimensões da CIF revelou-se um objetivos a longo prazo e por conseguinte a
desafio pelo que tivemos algumas dificuldades. curto prazo.
No decorrer do trabalho, surgiram mais No decorrer da elaboração do plano de
algumas limitações e dificuldades que intervenção, surgiram também algumas
acabaram por condicionar o plano de avaliação dificuldades e limitações que restringiram o
que foi proposto acima. Ao longo do trabalho delineamento desse mesmo plano. Uma das
de pesquisa de evidência em relação ao limitações que foi sentida foi a falta de prática
problema do equilíbrio, apercebemo-nos que clínica no contexto de DP. Apesar de termos
uma das escalas mais utilizadas para avaliar tido aulas referentes a possíveis métodos e
esta componente é a Mini-BESTest no entanto, estratégias de intervenção nesta área, o
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reduzido conhecimento prévio de algumas revelou-se limitativo para que nós pudéssemos
destas estratégias tornou-se limitante para nós ser mais específicos aquando da integração do
enquanto grupo, realizarmos um plano de Tai Chi no plano de intervenção. Assim,
intervenção bem estruturado e coerente com a assumimos que este facto pode ter tornado o
realidade do utente referido no caso. nosso plano de intervenção um pouco menos
Assim, após termos definido e avaliado os abrangente uma vez que esta arte marcial se
principais problemas iniciamos a pesquisa a fim baseia em movimentos que possivelmente
de encontrar evidência sobre as melhores alguns dos utentes com DP não serão capazes
estratégias de intervenção que podem ser de realizar. Contudo, os estudos encontrados
utilizadas perante um caso de DP. referem que a utilização desta estratégia nestes
Posto isto, recorreu-se às DEFPD com o intuito utentes apresenta resultados bastante
de recolher informação acerca de possíveis significativos em relação aos ganhos de
intervenções que pudessem ser aplicadas, e foi equilíbrio, pelo que foi incorporada no nosso
revista a aula dada na unidade curricular sobre plano de intervenção.
este tema em busca de métodos Em relação à proposta de intervenção para a
intervencionais válidos e aplicáveis para esta mobilidade no leito, surgiram-nos algumas
situação. Deste modo, recorreu-se à dança dificuldades no que toca à procura de
como estratégia de intervenção para melhorar evidência. Primeiramente optou-se por realizar
a endurance do utente. No entanto, apesar de uma estratégia de pesquisa mais centrada na
termos encontrado diversos estudos que prática e na aprendizagem motora para que a
comprovam que o exercício de forma nossa intervenção, neste campo, fosse mais
inespecífica melhora a qualidade de vida do abrangente, no entanto, não foram
utente de forma geral, não foram encontrados encontrados artigos que considerássemos
estudos que utilizassem na sua metodologia utilizáveis e que nos ajudassem a pôr em
estratégias de intervenção específicas em que prática esta estratégia. Deste modo, decidiu-se
os outcomes fossem especificamente ganhos a realizar uma pesquisa mais global a fim de
nível da endurance e capacidade física. Assim, recolher da evidência científica uma ou mais
consideramos que só a dança como estratégia estratégias aplicáveis para melhorar este
de intervenção para a endurance se torna problema que o utente apresenta. Assim,
limitativo. Contudo, os estudos encontrados foram escolhidos 2 artigos que referiam o uso,
(RCT’s) revelaram-se de boa qualidade o que na sua metodologia, de estratégias alternativas
nos permite realizar um plano de intervenção à prática de fisioterapia vulgar pelo que se
baseado na dança com alicerces válidos. A considerou interessante explorar um pouco
frequência de treino da dança está descrita na mais estes métodos. Contudo, um dos estudos
literatura que tem maiores ganhos após 2 escolhidos é de baixo grau de evidência já que a
sessões semanais, no entanto, não nos foi sua amostra é de apenas 3 indivíduos. Não
possível adotar essa frequência numa primeira obstante, com base neste estudo, considerou-
fase visto que o utente se encontra em se que a sua metodologia pode ser aplicada em
ambulatório, só tendo 3 sessões semanais. contexto prático uma vez que, a partir dela, se
Considerou-se que ao incluir as 2 sessões obtiveram resultados positivos nos ganhos a
semanais iria sobrecarregar fisicamente o nível da mobilidade no leito. Todavia, revela-se
utente, tendo em conta que foi proposto importante o desenvolvimento de mais estudos
trabalhar mais 3 problemas. focados nesta estratégia de intervenção para
Retirado das DEFPD foi também a nossa que a mesma possa ser utilizada, na prática
proposta de intervenção focada no equilíbrio. clínica, com mais fundamento científico na sua
Desta forma, escolheu-se o Tai Chi para intervir base.
na melhoria do equilíbrio. Decidimos incidir a No entanto, também existiriam aspectos
nossa pesquisa apenas nesta estratégia de positivos aquando da realização deste
intervenção já que achamos intrigante o uso protocolo. Um desses aspectos foi a
desta arte marcial nestes utentes em oportunidade de termos aprofundado e
específico. Assim, desenvolvemos a pesquisa de consolidado os conhecimentos acerca desta
evidência que nos permitisse afirmar que a patologia. Deste modo, a realização deste
utilização do Tai Chi com o outcome final, trabalho irá apresentar-se como uma mais valia
melhoria do equilíbrio, fosse sustentado e para o contexto clínico no futuro em utentes
válido. Todavia, os artigos encontrados não com DP.
especificavam o tipo de exercícios, dentro desta Um outro desafio, foi a apuração de critérios de
técnica, que foram utilizados. Este facto inclusão e exclusão, para diminuir o número de
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resultados das questões de pesquisa para


evidência científica. Este aspecto tornou-se um
ponto favorável visto que enriqueceu as skills
de pesquisa de evidência. Outro aspecto
positivo presente no trabalho foi o trabalho de
equipa e a superação dos problemas em grupo,
de forma a atingir os objetivos finais do
trabalho.
Em suma, considerou-se que a realização deste
protocolo de intervenção constitui numa
aprendizagem para o futuro enquanto
fisioterapeutas na área da neurologia em
especial com utentes com DP.

BIBLIOGRAFIA
Miyata K, Hasegawa S, Iwamoto H, Otani T,
Kaizu Y, Shinohara T, Usuda S. Comparing the
measurement properties and relationship to
gait speed recovery of the Mini-Balance
Evaluation Systems Test and the Berg Balance
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stroke. (2020)

Wist S, Clivaz J, Sattelmayer M. Muscle


strengthening for hemiparesis after stroke: A
meta-analysis. (2016)

Rand D. Proprioception deficits in chronic


stroke-Upper extremity function and daily
living. (2018)

Giannitsi S, Bougiakli M, Bechlioulis A, Kotsia A,


Michalis LK, Naka KK. 6-minute walking test: a
useful tool in the management of heart failure
patients. (2019)

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ANEXOS
ANEXO 1– Escala de Hoen & Yhar

ANEXO 2– Valores normativos de ICC (intraclass correlation coefficients)

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ANEXO 3 - Escala de Equilíbrio de Berg (apenas um excerto)

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ANEXO 4 -M-PAS (apenas um excerto)

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ANEXO 5-FOG Q (apenas um excerto)

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ANEXO 6 - 6WMT (apenas um excerto)

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APÊNDICES
Apêndice 1 – Quadro CIF

CONDIÇÃO: AVC hemisfério direito

ESTRUTURA e FUNÇÃO ACTIVIDADE e PARTICIPAÇÃO

1. b235 Funções vestibulares 1. d410 Mudar a posição


(Necessita de apoio de outra pessoa básica do corpo
em pé) -d4106 Mudar o centro de gravidade
do corpo (necessidade de ajuda na
2. b156 Funções perceção mobilidade na cama)
(alterada com neglet
esquerdo) 2. b770 Funções relacionadas
código com o padrão de marcha
3. b710 Funções da mobilidade (não realiza marcha)
das articulações
-b7101 Mobilidade de várias
articulações (-10 de flexão dorsal e 0
graus de extensão da anca (esquerda))

4. b730 Funções da força


muscular
-generalizada de 2 nos MS e MI à
esquerda

Fatores pessoais:
Idade- Utente de 73 anos;
Fatores ambientais:

Apêndice 2- Questão PICO da Escala de Equilíbrio de Berg

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com AVC Escala de Equilíbrio de Não existe Equilíbrio


Berg / EEB

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Apêndice 3- Diagrama de Pesquisa da Escala de Equilíbrio de Berg

Apêndice 4- Questão PICO 6MWT

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Seis minutos de Não existe Endurance


Parkinson marcha/ 6MM

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Apêndice 5 - Diagrama de pesquisa de 6MWT

Apêndice 6- Questão PICO M-PAS

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com AVC Modified Parkinson Não existe Mobilidade


Activity Scale/ M-PAS

Apêndice 7- Diagrama de Pesquisa de M-PAS

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Apêndice 8- Questão PICO da FOG-Q

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Reabilitação Não existe Freezing Da Marcha


Parkinson

Apêndice 9- Diagrama da pesquisa da FOG-Q

Apêndice 10 - Questão PICO Tai Chi

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Tai Chi Não existe Equilíbrio


Parkinson

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Apêndice 11- Diagrama de Pesquisa Tai Chi

Apêndice 12 - Questão PICO Dança

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Dança Não existe Endurance


Parkinson

Apêndice 13 - Diagrama de Pesquisa Dança

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Apêndice 14 - Questão PICO Mobilidade no leito

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Reabilitação Não existe Mobilidade no Leito


Parkinson

Apêndice 15 - Diagrama de pesquisa Mobilidade no leito

Apêndice 16 - Questão PICO Freezing

População (P) Intervenção (I) Comparação (C) Outcome (O)

Utente com doença de Reabilitação Não existe Feeking na marcha


Parkinson

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Apêndice 17 – Diagrama de Pesquisa Freezing

Através da expressão de
pesquisa “Parkinson's
disease” AND "freezing of
gait" AND (physiotherapy OR
exercise OR rehabilitation) na
base de dados pubmed

Critério de inclusão: resisões sistemáticas

Resultados obtidos
(n=22)

Resultados Válidos
(n=2)

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Apêndice 18 - Plano de Tratamento

Avaliação - Avaliação do equilíbrio através da escala de Berg;

-Avaliação da endurance através da implementação do teste 6 MM;

- Avaliação da mobilidade no leito através da escala M-PAS

-Avaliação do freezing na marcha através da FOG-Q – através da


escala iremos perceber quando é que ocorrem os episódios de
freezing e através dessa informação tentar despertá-los para avaliar
o tipo de freezing e perceber qual a melhor estratégia interventiva.

- A avaliação da marcha através da TUG. Apesar de não fazer parte


do decorrer do trabalho, considerou-se um problema importante.

Sessão Progressão

Primming 1º dia da semana: Ao longo do tempo pretende-se


diminuir a quantidade de
- Aquecimento das estruturas primming no início das sessões.
músculo-tendinosas e preparar
as articulações para as 1º dia da semana:
amplitudes que vão ser usadas
nos exercícios com 10 minutos - Diminuir o tempo de
na pedaleira de pés e braços. preparação das estruturas
músculo-tendinosas e articulares
- Pré-ativação muscular de para as amplitudes que vão ser
grandes grupos (cintura usadas nos exercícios.
escapular, core, quadricípite e
isquiotibiais) com mobilização - Pré-ativação muscular de
ativa assistida e PNF. grandes grupos (cintura
escapular, core, quadricípite e
isquiotibiais) com PNF.

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2º dia da semana 2º dia da semana:

- Aquecimento das estruturas - Aquecimento das estruturas


músculo-tendinosas e preparar músculo-tendinosas e preparar
as articulações para as as articulações para as
amplitudes que vão ser usadas amplitudes que vão ser usadas
nos exercícios com 10 minutos nos exercícios com 10 minutos
na pedaleira. na passadeira.

3º dia da semana 3º dia da semana:

- Aquecimento das estruturas - Aquecimento das estruturas


músculo-tendinosas e preparar músculo-tendinosas e preparar
as articulações para as as articulações para as
amplitudes que vão ser usadas amplitudes que vão ser usadas
nos exercícios com 10 minutos nos exercícios com 10 minutos
na pedaleira. na passadeira.

- Pré-ativação muscular de
grandes grupos (cintura
escapular, core, quadricípite e
isquiotibiais) com mobilização
ativa assistida e PNF.

Treino da tarefa 1º dia da semana 1º dia da semana

- Trabalho de mobilidade da - Kayaking (ML)


cintura escapular e movimentos
de tronco. Exercício 1 - Como progressão
Exercício 1 - Utente em DD com para este exercício, o utente
os MS’s ao longo do tronco. O deverá realizar flexão do tronco
utente tem como objetivo ativando o core, antes de
tentar chegar a bola com o realizar rotações do tronco para
M.S’s contrário, sem levantar o ir alcançar a bola com o membro
tronco da marquesa; superior contrário.
Exercício 2 - Utente em DV em Exercício 2 - A progressão deste
cima de um rolo grande, com os exercicio consiste na redução do
membros superiores no chão tamanho do rolo de apoio do
(posição de carrinho de mão). O tronco e eventualmente trocá-lo
objetivo é progredir utilizando por um objeto mais instável
apenas os membros superiores; como uma bola de bobath
Exercício 3 - Utente em DV com Exercício 3 - Para aumentar a
os M.S’s apoiados no rolo. O dificuldade dos exercícios de
objetivo é o utente puxar o rolo dissociação da cintura escapular
para si, realizando uma podemos trocar os rolos por

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extensão do tronco e ficando objetos mais instáveis como


com os M.S’s em extensão e em bolas de bobath.
cima do rolo (promove o
alongamento da cadeia
anterior).

2º dia da semana 2º dia da semana

- Sessão de tango (60 min) - Sessão com maior intensidade


(endurance - E ) e eventualmente progredir para
duas sessões semanais (E).

3º dia da semana 3º dia da semana

-Exercicio 1: Tai Chi (controlo -Exercício 1: Trabalhar com


postural- CP) exercícios mais desafiantes para
o equilíbrio do utente usando
-Exercício 2: Treino de estratégias como: aumentar a
passadeira com cueing visual instabilidade do solo (utilização
(10-20 min) com velocidade de um colchão) e incluir o dual
reduzida e passo curto tasking (CP).
(tamanho do passo medido com
faixas colocadas na passadeira) -Exercício 2: As hipóteses de
(Freezing- F). progressão são várias, como:
aumentar a velocidade na
-Exercício 3: Treino de subir o passadeira; aumentar o
degrau com cueing auditivo, ou tamanho do passo e dificuldade
seja, o utente vai subindo e do mesmo (uso de barbatanas);
descendo o degrau à velocidade tempo na passadeira; entre
do ritmo das músicas (F). outros (F).

-Exercícios 3: Como progressão


poderíamos aumentar o
tamanho do degrau utilizado ou
aumentar o ritmo da música
escolhida (F).

Ensino ao utente Promover hábitos de caminhada ao utente quando não se encontra


em sessões de fisioterapia, utilizando três formas de cueing:
auditivo, através de ‘’bips’’ ou ritmos, visual, através do uso de
flashes de luz e sensoriomotores através de vibrações no pulso, por
exemplo.

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