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IJUÍ
2015
DIONE FERREIRA DE ÁVILA
IJUÍ
2015
Catalogação na Publicação
CDU: 330.34
633.34
elaborada por
Banca Examinadora:
Redigir agradecimentos não é difícil. O problema é não ser traído pela memória.
Agradeço ao meu pai, minha mãe e meus irmãos pelo amor, incentivo e apoio
incondicional e pelo tempo que, à força, lhes roubei. Muito obrigado!
A FIDENE/UNIJUÍ pela oportunidade de, mais uma vez, contribuir com o meu
crescimento acadêmico e pessoal.
EPÍGRAFE
“Tenho a impressão de t er sido uma criança brincando à beira -mar, divert indo -
me em descobr ir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonit a que as
out ras, enquanto o imenso oceano da verdade cont inua mist erioso diant e de
meus olhos”. (Isaac Newton).
RESUMO
The soy is relevant in the economic development of the state of Rio Grande do Sul / Brazil, as
it is one of the main products cultivated by gauchos producers, generating important income
for its economic growth. The oilseed also contributes to the strengthening of other economic
sectors and moves several supply chains before and after planting. Thus, soybean prices
received by producers gauchos promote positive and negative impacts on the state's economy.
The formation of the soybean price paid to producers in Rio Grande do Sul, is influenced by
several variables, namely: quotations on the Chicago Board of Trade, exchange rate, the prize
at the port and the marketing cost plus the gain margin of purchasing companies. This study is
limited to check the influence of prices on the Chicago Board of Trade and the exchange rate
in Brazil in the formation of average soybean prices practiced in Rio Grande do Sul fro m
1999 to 2013. The first variable refers to the prices of oilseeds practiced on the stock
exchange and are a reference in the world market and the second deals with the exchange rate
variations that influence the formation of soybean prices in the domestic market, as the prices
in Chicago are given in dollars. The choice of the analysis period was due to the Brazilian
monetary authority to adopt a floating exchange rate regime in January 1999. In the analysis,
which has a qualitative approach outlined through a literature, exploratory and descriptive
research, divided this time frame into five distinct periods, based on the average soybean
prices practiced in Rio Grande do Sul. From the data collected, grouped and interpreted, it
was concluded that the exchange rate during the study period, was more decisive in the
formation of the average price of soybeans in Rio Grande do Sul, in relation to changes in
prices in the stock exchange Chicago without, of course, ignore the importance of these.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 3 – Produção da soja por Estado, safra 2013/14, em milhões de toneladas ........ 25
Gráfico 4 – Evolução da àrea e produção da soja no Rio Grande do Sul: (1950-2013).... 27
Gráfico 5 – Evolução da produtividade da soja no Rio Grande do Sul, em kg: (1960-
2013) ............................................................................................................................. 29
Gráfico 6 – Produção de soja no Rio Grande do Sul, por mesorregião (1973-2007), em
toneladas................................................................................................................... ......30
Gráfico 7 – Cotações da soja em um dia na Bolsa de Chicago........................................37
Gráfico 8 – Cotação dólar entre 29/10 a 11/11/2014...................................................... . 40
Gráfico 9 – Média semestral da soja no Rio Grande do Sul: em R$/saca de 60kg ao
produtor, do 1º semestre de 1999 ao 2º semestre de 2013......................................... ......46
Gráfico 10 – Médias semestrais do preço da soja na Bolsa, pago aos produtores e
câmbio.................................................... ..................................................................... 47
Gráfico 11 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004 .................................................... 48
Gráfico 12 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004..49
Gráfico 13 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006 .................................................... 51
Gráfico 14 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006..52
Gráfico 15 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.................................................... 53
Gráfico 16 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.. 54
Gráfico 17 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.................................................... 55
Gráfico 18 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.. 56
Gráfico 19 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2010 ao 1º semestre de 2013.................................................... 58
Gráfico 20 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2010 ao 2º semest re de 2013.. 59
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 43
4.3 Cotações do preço da soja na Bolsa garantem bons preços aos produtores ............ 52
13
4.4 Apreciação do Real reduz o preço da soja no Rio Grande do Sul .......................... 55
4.5 Cotações altistas da soja na Bolsa asseguram bons preços aos produtores gaúchos . 57
APÊNDICES ............................................................................................................. 67
Apêndice A – Tabela dos Preços Médios Semestrais da Soja pago aos Produtores do Rio
Grande do Sul ............................................................................................................ 68
INTRODUÇÃO
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
A introdução da soja no Rio Grande do Sul tem início no ano de 1914, pelo professor
norte-americano E. C. Craig, (BONETTI, 1987). Em 1940 apareceram os primeiros dados
estatísticos da soja, onde consta oficialmente a presença da oleaginosa na safra agrícola do
Rio Grande do Sul.
De 1940 em diante a soja passa a ser plantada com mais intensidade nas lavouras
gaúchas e, definitivamente, a partir de 1970 a oleaginosa começa a ter importância na
economia do Rio Grande do Sul, pois passou a liderar a produção de grãos, com um volume
de 976.807 toneladas, ultrapassando a produção de trigo (BRUM, 1985; EMATER, 2013b).
Desde então, vários produtores aderiram à produção da soja (BRUM, 1985). Após ter se
mantido como primeiro produtor nacional durante muitos anos, atualmente o estado gaúcho
ocupa a terceira colocação no ranking nacional, atrás do Mato Grosso e do Paraná, tendo
produzido 12,76 milhões de toneladas em 2013 (EMATER, 2013a; EMATER, 2013b).
Por ser um produto de exportação, o preço da soja em dólares é cotado na Bolsa de
Chicago. As cotações na Bolsa influenciam os preços praticados no mercado internacional e
no brasileiro. As variações nas cotações são motivadas por diversos fatores, principalmente,
os especuladores e os Fundos de Pensões que lá operam. Além da Bolsa de Chicago, a
cotação do preço da soja sofre influências de outras três variáveis importantes: a taxa de
câmbio, o prêmio no porto e o custo de comercialização somado à margem de ganho das
empresas compradoras (MARGARIDO; SOUSA, 1998; MORAES, 2002; MACHADO,
2010). Este estudo, todavia, tratará apenas de duas destas variáveis: a cotação na Bolsa de
Chicago e da taxa de câmbio.
Brum et al. (2010) afirmam que o câmbio se constitui em fator importante no
comércio de um país, pois sua apreciação ou depreciação provoca a redução ou aumento da
competitividade do país, ou seja, alguns setores da economia são penalizados, enquanto outros
são favorecidos. Dito de outra maneira, a depreciação da moeda nacional perante o dólar dos
17
Estados Unidos (EUA) beneficia as exportações do país, portanto a soja, enquanto penaliza as
importações, e vice-versa (BRUM et al., 2010).
A taxa de câmbio torna-se uma das variantes mais proeminentes de uma economia
aberta em seu relacionamento com o mercado externo (CARVALHO; SILVA, 2007). A partir
do colapso do Sistema Bretton Woods, em 1971, um número significativo de países
desenvolvidos e industrializados passou a adotar o regime de taxas de câmbio flutuante, que
recebeu impulso com a abertura e a integração financeira dos mercados (FAMÁ; CHAIA,
2001). Na década de 1990, esse processo se acentuou ainda mais, alcançando os países
emergentes, sendo que no Brasil tal sistema passou a ser aplicado especialmente a partir de
1999 (BRUM et al., 2010).
Nesse contexto, o presente estudo tem como tema a influência da Bolsa de Chicago e
do câmbio na formação do preço médio da soja praticado no Estado do Rio Grande do Sul
(Brasil). O estudo aborda a influência da Bolsa de Chicago e da taxa de câmbio brasileira
adotada a partir 15 de janeiro de 1999, quando o país passou para o regime de câmbio
flutuante sujo.
1.2 PROBLEMA
1.3 OBJETIVOS
1
Cf. entrevista concedida pelo Prof. Argemiro Luís Brum, coordenador da CEEMA/DACEC/UNIJUI e analista
de mercado agropecuário, realizada em 19/08/2013, Ijuí, Rio Grande do Sul.
19
1.3.2 Específicos
1.4 JUSTIFICATIVA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com origem no Oriente, mais provavelmente nas regiões Central e Oeste da China, a
soja surgiu como planta domesticada há muitos milênios. O primeiro registro da soja no
Brasil se dá em 1882, através de Gustavo D’Utra, professor da Escola de Agronomia da
Bahia, que realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivares procedentes dos Estados
Unidos e cultivadas no Estado da Bahia (BONETTI, 1987; EMBRAPA SOJA, 2003).
No cenário nacional, a soja passa a ter importância econômica a partir dos anos de
1940, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941, no Anuário Agrícola do
Rio Grande do Sul (EMBRAPA SOJA, 2003). Porém, a soja se estabeleceu como cultura
economicamente importante para o Brasil a partir da década de 1960, quando já impulsionada
pela política de subsídios ao trigo, visando a autossuficiência do cereal. Na esteira desta
política tritícola, e por ser uma alternativa de verão, a soja assiste a um expressivo
crescimento de sua produção nesta década, com média do período ao redor de 500 mil
2
Imposto incidente sobre a comercialização da saca de soja, dentre outros produtos. Só em 2011 a soja
contribuiu com quase R$ 107 milhões com o FETHAB (FÁVARO, 2012).
23
toneladas. Na década de 1970 a produção média do período salta para 7,3 milhões de
toneladas (EMBRAPA SOJA, 2003). Em 2012 a produção brasileira de soja já alcançava 66,3
milhões de toneladas, passando a quase 90 milhões de toneladas no ano seguinte, conforme
mostra o gráfico 1.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Embrapa Soja (2003) e CONAB (2014).
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Embrapa Soja (2003) e CONAB (2014).
No Rio Grande do Sul, a oleaginosa teria sido introduzida pelo professor norte-
americano E. C. Craig, no ano de 1914, embora já fosse conhecida por outra denominação
(BONETTI, 1987). O primeiro trabalho publicado no Estado, detalhando aspectos botânicos e
culturais da soja, foi publicado em 1901, por Guilherme Minssen, professor na Escola de
Agronomia de Guignon, na França. Reverbel (1984), citado por Bonetti (1987, p. 23),
ressalta, que em 1901, a possibilidade do cultivo da soja ao afirmar que “máxime por tratar-se
de uma planta cuja cultura tem a probabilidade de prosperar no Estado”. A oleaginosa
encontrou efetivas condições para se desenvolver e expandir, por suas semelhanças climáticas
do ecossistema americano de origem – sul dos EUA – com as condições climáticas existentes
no sul do Brasil e dos materiais genéticos existentes no país (EMBRAPA SOJA, 2003).
27
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bonetti (1987) e Conab (2014).
28
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bonetti (1987) e Conab (2014).
operações na ordem de 2,2 bilhões de contratos, equivalente a US$ 1,1 quatrilhões, sendo que
três quartos desses contratos foram executados eletronicamente. “Lastreada em uma rica
história de inovação, tendo sido o berço das operações no mercado futuro, a CME Group é
responsável por desenvolvimentos chave que formaram a base da presente indústria de
futuros” (CME GROUP, 2009, p. 5).
Devido ao interesse apresentado pelos compradores e vendedores de produtos na
bolsa, os contratos futuros expandiram-se alcançando a consolidação de uma série de opções
de contratos futuros referenciados em diversos ativos subjacentes, que incluem o milho, soja,
óleo de soja, farelo de soja, aveia, trigo, bônus e notas do Tesouro americano.
As principais funções econômicas de uma bolsa de futuros são gestão de riscos e
estabelecimento de preços. Estas funções são viabilizadas por um pregão e plataformas
operacionais que congregam compradores e vendedores. Para tanto, a bolsa estabelece e
impõe regulamentos para garantir a realização das operações em ambiente aberto e
competitivo. Desta forma, as operações de compra e venda são efetuadas por intermédio do
sistema eletrônico de ordens, tal como o CME Globex, ou em uma roda (pit) do pregão, em
leilão aberto (CME GROUP, 2009).
A CBOT é o lugar onde reúnem-se os maiores volumes de operações com soja no
mundo, mobilizando aproximadamente 14 vezes a produção mundial de soja (MARQUES et
al., 2006). Os contratos futuros podem ser negociados em sete vencimentos (Setembro,
Novembro, Janeiro, Março, Maio, Julho e Agosto) e cada contrato é referente a 5.000 bushels,
correspondente a 136,05 toneladas e são negociados em dólar/bushel (US$/Bs). Machado
(2010, p. 49) explica que estes vencimentos, além de serem utilizados nos contratos futuro,
“são referências para formação do preço do grão no mercado físico internacional, assim, os
preços da soja em grão do primeiro vencimento na bolsa mercantil de Chicago (CME) é
referência base para o preço físico da soja no mercado internacional”.
O funcionamento da Bolsa de Chicago está sob a égide de diversas leis impostas pelos
órgãos ligados ao assunto e subordinados ao governo norte-americano. Os contratos
celebrados na CBOT são padronizados, com preços estabelecidos, lugar de entrega, qualidade
da mercadoria a ser entregue e mês para a entrega da mercadoria. Todavia, como são papéis,
os contratos apenas representam quantidades de soja, pois no recinto da Bolsa não se
comercializa nada de produto físico, somente a compra e venda de contratos representando
soja (BRUM, 1983). O quadro 2 apresenta um resumo do contrato de soja negociado na Bolsa
de Chicago.
35
3
Entendem-se como commodities mercadorias primárias não manufaturadas, ou parcialmente manufaturadas de
grande exposição no mercado. No mercado financeiro, uma commodity é utilizada para indicar um tipo de
produto, geralmente agrícola ou mineral, de grande importância econômica internacional porque é amplamente
negociada entre importadores e exportadores. Existem bolsas de mercadorias específicas para negociar
commodities. Neste sentido, pode-se considerar o complexo soja como uma commodity agrícola (MACHADO,
2010, p. 48).
37
Pode-se inferir que alguns fatores contribuem para a não transmissão plena das
cotações internacionais para os preços praticados no Brasil. Primeiramente, deve-se
considerar que as estratégias desenvolvidas pelas empresas esmagadoras de soja
causam certo impacto sobra a magnitude da transmissão de preços. Quando os
preços externos são vantajosos, as empresas tendem a exportar a soja em grãos e,
consequentemente, espera-se que a transmissão de preços internacional sobre os
preços domésticos seja mais intensa, independentemente do fato de o Brasil estar no
período de safra e/ou entressafra em relação aos Estados Unidos. Especificamente
no caso do período da entressafra brasileira, a transmissão de preços vai depender do
38
No tocante ao regime cambial flutuante, Zini Júnior (1996, p. 117) destaca que “a
economia mundial vive, desde 1973, sob um regime legal em que as principais taxas de
câmbio flutuam ao sabor dos determinantes do mercado”. Neste regime, o autor explica que o
Banco Central não intervém no mercado cambial, onde o mercado encontra seu equilíbrio no
dia-a-dia. Em outras palavras, o Banco Central permite que o mercado cambial estabeleça o
preço da moeda estrangeira.
No regime cambial fixo – que vigorou tanto em séculos passados (sistema ouro)
quanto no pós guerra conhecido como Bretton Woods (ZINI JÚNIOR, 1996) –, o Banco
Central determina o preço de uma moeda estrangeira em moeda nacional, onde todas as
transações envolvendo divisas com o exterior estarão sujeitas à taxa de câmbio fixa para a
conversão das moedas (CARVALHO; SILVA, 2007).
Outro regime cambial utilizado é o de bandas cambiais. O regime de bandas cambiais,
em princípio, estabelece uma taxa mínima de compra e outra máxima de venda. No caso do
Brasil, entre setembro de 1994 e janeiro de 1999, inicialmente, foi adotado o regime de
câmbio fixo, substituído pelo regime de bandas cambiais (MAIA, 2008).
Na prática, a maioria dos países não adota nem um regime cambial nem outro de
forma integral, mas adapta-os. A partir de 15 de janeiro de 1999, o mercado cambial brasileiro
sofre uma alteração em seu sistema, devido a ataques especulativos. A taxa de câmbio
administrada pelo Banco Central em regime de câmbio fixo foi substituída pelo regime
cambial flutuante “sujo”, onde a taxa de câmbio é determinada pelo mercado com
interferências do governo (MAIA, 2008; BRUM et al, 2010).
Sobre flutuação suja, Maia (2008, p. 150) explica que a taxa de câmbio livre ou
flutuante é “[...] aquela fixada pela oferta e procura. Ela se forma, portanto, dentro de um
mercado totalmente livre. A única intervenção do governo será comprar ou vender divisas,
quando a taxa atingir pontos preocupantes. Essa intervenção é conhecida por flutuação suja”
(grifos do autor). Mesmo com a adoção desse regime cambial, o Brasil não se isenta da
instabilidade cambial (BRUM, et al, 2010).
O gráfico 8 demonstra a variação do câmbio brasileiro em um determinado período,
sob o regime do câmbio flutuante. Observam-se as oscilações cambiais no período, do real em
relação ao dólar estadunidense, provocadas por esse regime, adotado pelo Brasil a partir de
1999.
40
Maia (2008) destaca que existem forças no mercado que podem alterar a taxa de
câmbio e consequentemente o preço das mercadorias. Para esse autor, essas forças são
traduzidas pela especulação com moedas, pelo governo e pela taxa de juros4. Ou seja, assim
como o preço da soja, o preço do dólar frente ao real também é dado por um processo
especulativo.
As decisões tomadas pelo governo no sentido de alterar a taxa de câmbio visam a
preservação dos seus interesses. Todavia, determinadas decisões podem afetar as relações
comerciais entre os países, pois, dependendo das oscilações cambiais patrocinadas pelo
governo, certos setores da economia serão beneficiados, tanto na depreciação (estimula
exportação) quanto na apreciação da moeda (estimula a importação), como explica Rafi
(2001, p. 139):
A taxa cambial mede o valor externo da moeda. Fornece uma reação direta entre os
preços domésticos das mercadorias e fatores produtivos e dos preços destes nos
demais países. Com os preços nacionais e externos a um dado nível, um conjunto de
4
Especulação – interferência no mercado cambial através da compra e venda de moedas. Governo –
interferência no mercado cambial através de política cambial e compra e venda de moedas. Taxa de juros –
quando o governo altera a taxa de juros, ocorre a migração de capitais, que se movimentam de um país a outro à
procura de maior lucro (MAIA, 2008).
41
3 METODOLOGIA
produtos, pessoas, por exemplo) que possuem as características que serão o objeto de
estudo” (VERGARA, 2009, p. 46). A população amostral ou amostra compreende parte
do universo selecionado por determinado critério de representatividade (VERGARA,
2009). Neste estudo, o universo e a amostra são o banco de dados contendo as cotações
médias da soja em grãos, pagas aos produtores no mercado do Rio Grande do Sul,
anunciadas na Bolsa de Chicago e as cotações médias do dólar.
No modo operacional, após a coleta dos dados referentes aos preços praticados na
CBOT, da cotação do câmbio e do preço médio pago aos produtores de soja no Rio
Grande do Sul, foi realizado o cálculo do valor bruto da soja o qual foi confrontado ao
preço pago aos produtores (este, considerado como preço líquido). A diferença percentual
entre os dois designou o desconto existente entre um e outro preço, composto pelos
custos de comercialização e a margem de ganho das empresas compradoras da soja na
região (que definem o preço líquido a pagar ao produtor rural).
A média mensal dos preços oriundos das cotações da CBOT resulta de um cálculo
que transforma o bushel de soja (27,21 quilos) em tonelada métrica (1.000 quilos) e
posteriormente essa tonelada em saco de 60 quilos, unidade de medida utilizada pelo
produtor brasileiro em geral e gaúcho em particular. A transformação de bushel de soja
para tonelada métrica é feita via uma regra de três simples. Após, divide-se o valor da
tonelada por uma constante 16,6666 5 para se encontrar o valor de um saco de 60 quilos.
5
É a divisão de 1.000 kg, correspondente a 1 tonelada, por 60 kg, que corresponde a um saco de soja.
45
Após esse cálculo, se teve o valor de um saco de soja em dólares. O mesmo foi
transformado em reais. Nesse momento foi utilizado o valor médio mensal do real em
relação ao dólar dos EUA. O resultado encontrado foi o preço do saco de soja em reais,
em média mensal.
Os dados encontrados referentes aos preços praticados nas diferentes cotações
foram transformados em gráficos onde foi possível analisar qual a participação de cada
fator na formação do preço médio da soja praticado no Rio Grande do Sul e o motivo que
determinou as variações do preço interno em cada período. A partir da análise da
formação do preço médio da soja buscou-se identificar que elemento, entre a cotação de
Chicago e a variação cambial, teve maior influência na geração de renda e, por extensão,
na contribuição ao crescimento e desenvolvimento econômico do Estado gaúcho .
46
A análise dos dados levantados sobre o preço médio da soja no Rio Grande do Sul, no
período de 1999 (ano em que o Brasil adota o regime cambial flutuante) e 2013, mostrou que
o mesmo pode ser dividido em cinco momentos distintos, caracterizados por fortes oscilações
no preço da oleaginosa, conforme gráfico 9.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014), EMATER (2014), Safras & Mercado
(2014).
Para melhor visualizar a análise, apresenta-se a seguir um gráfico com as três variáveis
estudadas: preço médio pago ao produtor gaúcho em Reais; o preço médio da soja praticado
na Bolsa de Cereais de Chicago, transformado em Reais por saco de 60 quilos; e a média
semestral do câmbio praticado no Brasil em Reais/Dólar.
Gráfico 10 – Médias semestrais do preço da soja na Bolsa de Chicago, dos preços pagos
aos produtores gaúchos e do câmbio no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014), EMATER (2014), Safras & Mercado
(2014).
Quanto ao primeiro período (cinco anos e meio) nota-se que o preço médio da soja
pago aos produtores gaúchos subiu 203,7%, havendo três momentos de altas mais
significativas: no ano de 2001 (40%); no ano de 2002 (68,5%) e entre o primeiro semestre de
2003 e o primeiro semestre de 2004 (25%). No conjunto do período o preço médio da soja no
balcão gaúcho passa de R$ 14,74 para R$ 44,76/saco.
Esse movimento foi causado particularmente por dois fatores: as cotações da soja em
Chicago e pela variação cambial (Real x Dólar) no Brasil.
Conforme o gráfico 11 verifica-se que o bushel de soja em Chicago dispara,
particularmente entre 2002 e 2004. O mesmo sai de US$ 4,63 no primeiro semestre de 2002
48
para US$ 9,12 no primeiro semestre de 2004, quase dobrando seu valor no período (97%).
Vale destacar ainda que entre 1999 e o primeiro semestre de 2002 a cotação da soja ficou
relativamente estável, cenário semelhante ao apresentado pelos preços médios praticados da
oleaginosa no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, a moeda brasileira sofre importante depreciação (94%) a partir de
janeiro de 1999, momento em que o país entra no sistema de câmbio flutuante. Assim, o Real
sai da média de R$ 1,75 por dólar no primeiro semestre de 1999 para R$ 3,40 no segundo
semestre de 2002. Deve-se levar em conta que houve uma aceleração da depreciação no ano
de 2002 (37,6%) por conta da grande instabilidade nas eleições presidenciais que elegeram,
pela primeira vez, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, na qual houve rumores de uma
mudança brusca na política econômica, fato que acabou não se confirmando posteriormente
(cf. gráfico 12). Esta incerteza no processo eleitoral provocou forte saída de divisas do país,
porém, passado o período eleitoral, o câmbio apresenta uma curva descendente, voltando aos
patamares anteriores.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
49
Acredita-se que esse movimento cambial foi responsável por aproximadamente 160%
do aumento do preço gaúcho da soja no primeiro período analisado, já que entre 1999 e 2002
Chicago apresentou um aumento de apenas 16,5%. Por sua vez, entre o primeiro semestre de
2003 até o final do período analisado (1º semestre de 2004) o Real se aprecia 12,6%, jogando
negativamente na formação do preço da soja aos produtores gaúchos. A moeda nacional passa
de R$ 3,40 para R$ 2,97. Tal movimento é compensado pela forte elevação do bushel da soja
em Chicago. O mesmo passa de US$ 5,64 no segundo semestre de 2002 para US$ 9,12 no
primeiro semestre de 2004, ou seja, uma alta de 61,7%. Nesse mesmo momento o preço da
soja ao produtor gaúcho subiu 16,6%, para se fixar em R$ 44,76/saco na média do primeiro
semestre de 2004. Ou seja, o efeito negativo da apreciação do Real não permitiu que a forte
valorização do bushel em Chicago fosse repassada em boa parte para o produtor de soja do
Rio Grande do Sul.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).
A razão pela qual ocorreu forte depreciação do real frente ao dólar, no primeiro
período, foi a adoção do regime cambial pelo governo em janeiro de 1999, onde a cotação do
50
dólar passou a ser formada pelas forças do mercado. A depreciação do Real pós 1999
favoreceu aos produtores de soja no Rio Grande do Sul, mesmo que as cotações na Bolsa de
Chicago mantiveram-se estáveis, com pequena desvalorização no período.
Outra razão que favoreceu a desvalorização do Real foi a crise argentina em 2001, que
afetou o mercado brasileiro, quando o governo argentino decretou moratória de sua dívida que
alcançava US$ 100 bilhões. Esta decisão abalou a confiança dos investidores, afugentou as
empresas estrangeiras e criou dificuldades para o país conseguir empréstimos internacionais.
Neste período a economia argentina estava ligada ao câmbio fixo, quando um peso valia um
dólar.
Somado a estes fatores, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 causaram
instabilidade na economia brasileira e mundial. O PIB americano esfria influenciado pela
queda da produção, do consumo e o aumento do desemprego. Países europeus, asiáticos e
emergentes como o Brasil também têm suas economias enfraquecidas, crescendo menos que o
esperado. Em represália aos ataques terroristas de 11 de setembro, em 2003 os Estados
Unidos iniciam um conflito militar com o Iraque, o que provocou reflexos no mercado
internacional de petróleo que, por sua vez, afetou o mercado de commodities, incluindo a soja.
O segundo período da evolução dos preços da soja no Rio Grande do Sul se dá entre 2º
semestre de 2004 até o 1º semestre de 2006. Nesse período os preços da soja praticados no
Rio Grande do Sul iniciam uma curva descendente que se estende até o 1º semestre de 2006,
chegando R$ 23,05/saco. Ou seja, o recuo é de 48,5% em relação ao auge alcançado no
primeiro semestre de 2004.
Nesse momento, tanto as cotações em Chicago quanto o câmbio no Brasil jogam
desfavoravelmente para a formação do preço ao produtor gaúcho. No caso de Chicago, o
bushel recua de US$ 9,12 na média do primeiro semestre de 2004 para US$ 5,82 no primeiro
semestre de 2006, sendo que o grande recuo se dá no segundo semestre de 2004 (34,9%),
conforme o gráfico 13.
51
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
Além da especulação dos Fundos na Bolsa de Chicago, a queda dos preços da soja a
partir do 1º semestre de 2004 sofre influência da gripe aviária que se alastrou por 10 países
asiáticos, obrigando o abate de aproximadamente 100 milhões de aves, reduzindo o consumo
de farelo de soja e milho, matérias-primas da ração animal.
As cotações da oleaginosa em Chicago continuaram oscilando negativamente no ano
de 2005. Este recuo nos preços foi influenciado, também, pela safra cheia confirmada nos
Estados Unidos, que registrou uma colheita de 85,5 milhões de toneladas em
setembro/outubro de 2004. Igualmente a tendência de uma safra cheia na América do Sul
auxiliou no processo. No Brasil, a produção de soja de 2005 foi atingida por seca que se
abateu especialmente nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, fato que alterou
momentaneamente as cotações internacionais da soja.
Por sua vez, o câmbio no Brasil assiste a uma apreciação do Real de 26,3% em relação
ao dólar, com o mesmo fechando o primeiro semestre de 2006 em R$ 2,19 por dólar,
conforme mostra o gráfico 14.
52
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).
Assim, no ano de 2004, grande parte do recuo nos preços da soja gaúcha se deu em
função da forte queda em Chicago, já que o Real, na oportunidade, se apreciou em apenas 3%
em termos médios. A partir daí, enquanto as cotações da soja se estabilizaram até o primeiro
semestre de 2006, o Real se apreciou consideráveis 24%, sendo responsável pela queda de
30,5% no preço da soja paga ao produtor gaúcho entre o segundo semestre de 2004 e o
primeiro de 2006.
A forte apreciação do Real frente ao dólar está ligada à recuperação da economia
brasileira que apresentou, em 2004, um PIB de 5,7%, com geração de empregos batendo
recorde e sinais de que a inflação, embora acima da meta, começasse a desacelerar. Somado a
isto, a economia dos países da União Europeia e a China apresentaram desempenhos
satisfatórios.
4.3 – Cotações do preço da soja na Bolsa garantem bom preço aos produtores
avançam de maneira significativa, isto é, apresentam uma curva ascendente a qual revela um
crescimento de 89,6%, com preços que variam entre R$ 23,05/saco no início do período,
alcançando o patamar de R$ 45,70/saco no final do mesmo, retomando o pico alcançado no
primeiro semestre de 2004.
O grande fator que contribuiu para o avanço dos preços médios da oleaginosa no Rio
Grande do Sul foi a elevação das cotações da soja na Bolsa de Chicago, ao mesmo tempo em
que a cotação do Real apresentava forte apreciação. Em Chicago a cotação passa de US$
5,82/bushel para o recorde histórico de US$ 13,56 no primeiro semestre de 2008,
representando uma valorização de 133% (cf. gráfico 15).
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
Todavia, os preços na Bolsa recuam a partir de 2008, isto é, iniciando uma curva
descendente que vai até o final do primeiro semestre de 2009. Nesse momento, a cotação da
oleaginosa cai para US$ 10,35/bushel, ou seja, perde 23,7%.
Por sua vez, o Real inicia o terceiro período em franca apreciação, com a mesma
registrando 21,3% (de R$ 2,19 para R$ 1,70) entre o primeiro semestre de 2006 e o primeiro
54
de 2008. A partir de então, a moeda brasileira retoma sua depreciação, voltando ao patamar de
R$ 2,19 na média do primeiro semestre de 2009 (cf. gráfico 16).
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).
Assim, o saco de soja ao produtor gaúcho tem seu preço em elevação, num primeiro
momento, graças ao comportamento altista de Chicago. Posteriormente, tal preço se mantém
graças a depreciação do Real, a qual compensa o recuo das cotações do bushel naquela Bolsa.
Esta depreciação do Real frente ao dólar apresentada no início de 2008 é reflexo da
crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que levou à falência do banco de
investimentos Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008 e afetou profundamente a
economia mundial, caracterizando a maior crise econômica mundial desde 1929. A partir daí,
ocorre o congelamento do sistema financeiro mundial e os preços dos ativos despencam
levando vários países à recessão nos anos seguintes.
Assim, a elevação dos preços da oleaginosa no Rio Grande do Sul (89,6%) foi
favorecida, em primeira instância, pela curva ascendente dos preços praticados na Bolsa de
Chicago até o primeiro semestre de 2008, quando o bushel ganhou 133%. Posteriormente, o
bushel perde 23,7%, se estabelecendo em US$ 10,35/bushel, porém, tal impacto é
compensado pela depreciação de 28,8% do Real, no mesmo período.
55
Dito de outra maneira, se por um lado, durante esse início de crise mundial, os preços
médios pagos aos produtores gaúchos oscilaram positivamente influenciados pelas cotações
em Chicago, e não pela cotação cambial, a partir de 2008 ocorre o efeito inverso. O que o
gráfico 9 torna visível é que no primeiro semestre daquele ano o preço médio pago aos
produtores chegou ao valor de R$ 43,48/saco, permanecendo estável no semestre seguinte,
inclusive apresentando uma variação positiva (5,1%) no primeiro semestre de 2009 quando
atingiu o valor de R$ 45,70/saco.
O quarto período, que se situa entre o segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre
de 2010, é marcado pela queda acentuada nos preços médios pagos aos produtores no Rio
Grande do Sul, conforme revela o gráfico 9. Tais preços recuam 23%, passando de R$ 45,70
para R$ 35,17/saco.
Essa queda nos preços médios da soja gaúcha sofre influência das cotações na Bolsa
de Chicago, pois as mesmas mantiveram seu processo de recuo iniciado no primeiro semestre
de 2008. Assim, no quarto período o bushel de soja perde 7,6%, recuando de US$ 10,35 para
US$ 9,56 (cf. gráfico 17).
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
56
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).
Desta forma, enquanto em 2008, após a eclosão da crise mundial, o câmbio foi fator
decisivo para a manutenção e mesmo elevação dos preços da soja, no quarto período se
observa que o câmbio, com a apreciação do Real em 17,8%, teve bem mais impacto no recuo
de 23% nos preços da soja gaúcha, pois na mesma oportunidade o bushel de soja, em
Chicago, recuou apenas 7,6%.
A variação cambial que ocorre entre o 1º semestre de 2009 e o 1º semestre de 2011,
quando se verifica uma apreciação do Real frente ao dólar, em grande parte se dá em função
de o país tornar-se credor internacional, com a soma dos ativos superando a dívida externa.
Nesse momento o Brasil ganha o grau de investimento pelas agências de risco internacionais.
57
Tais agências melhoram a nota de risco brasileira, o que atrai recursos estrangeiros ao país,
iniciando um processo de apreciação do Real em relação ao dólar.
4.5 – Cotações altistas da soja na Bolsa asseguram bons preços aos produtores gaúchos
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercados (2014).
De fato, ocorreu nos estados do Sul do Brasil uma forte seca no ano de 2012. Nesse
ano, o Rio Grande do Sul registrou a maior frustração em relação aos outros estados, com
uma quebra de 43,8% em relação ao ano anterior, produzindo apenas 6,53 milhões de
toneladas. Em Santa Catarina, a quebra foi de 27,2% (produção de 1,08 milhão de toneladas)
enquanto o Paraná perdeu 29,1%, produzindo 10,9 milhões de toneladas. No total, o Sul do
Brasil perdeu 35% de sua produção de soja naquele ano, fato que influiu igualmente na
formação do preço interno do produto. Ou seja, os preços dispararam influenciados pelas
cotações em Chicago, pelo Real depreciado, mas também pela forte concorrência patrocinada
pelas empresas cerealistas que tinham que honrar seus contratos acordados junto às grandes
corporações detentoras de insumos agrícolas e passaram a elevar os preços internos da
oleaginosa para além dos efeitos provocados pelos dois outros fatores aqui analisados.
59
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).
A apreciação do Real frente ao dólar, por sua vez, que se estende até o primeiro
semestre de 2011, é interrompida pela guerra cambial travada entre os principais países da
economia mundial. A desvalorização de moedas é alvo de vários debates, quando vários
países, ao buscarem resolver seus problemas internos motivados pela crise de 2007/08,
desvalorizaram suas moedas para alcançar maior competitividade de seus produtos no
mercado internacional. Um dos primeiros países a iniciar tal processo foi a China, acusada de
deixar o iuan mais fraco do que deveria. Os Estados Unidos sofreram a mesma acusação no
final de 2010, quando o Federal Reserve anunciou uma injeção de US$ 600 bilhões na
economia. Neste mesmo ano o Brasil, que após iniciar o ano com a menor taxa de juros
(Selic) desde 1999, eleva em janeiro a Selic de 8,75% para 10,75% ao ano, com o pretexto de
manter a inflação sob controle, conquistando o título de campeão em taxa de juros reais (taxa
nominal descontada a inflação). Esses fatos estimulam a depreciação do Real, a qual segue até
o final de 2013, o que contribuiu para a manutenção em elevação dos preços da soja no
mercado interno.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as principais variáveis que definem o preço da soja aos produtores rurais
brasileiros em geral e gaúchos em particular tem-se as cotações da oleaginosa na Bolsa de
Chicago e a variação da taxa de câmbio. Este estudo buscou apresentar e detectar quais destas
duas variáveis mais influenciaram a formação do preço médio da soja praticado no Rio
Grande do Sul entre 1999 e 2013. Os dados coletados e analisados permitiram identificar
cinco períodos distintos na evolução dos preços médios praticados no Rio Grande do Sul sob
influência das cotações em Chicago e do câmbio.
Por ser um produto de ampla comercialização internacional, a soja é orientada por um
preço formado no contexto da oferta e demanda mundial. Assim, a Bolsa de Chicago se
constitui a referência principal no mercado internacional para a formação do preço da soja,
pelo volume de contratos ali celebrados entre os participantes e particularmente pela liquidez
que a mesma oferece. A Bolsa não possui a função de estabelecimento de preços e sim é uma
instituição que proporciona um encontro entre compradores e vendedores, no qual se
estabelece o preço formado por forças do mercado, particularmente entre agentes do mercado,
produtores e compradores da oleaginosa. Seu principal objetivo é proporcionar esse encontro
com regulamentos e procedimentos estabelecidos para garantir a realização das operações em
ambiente aberto e competitivo, consolidando a função econômica de gestão de riscos.
Como observado anteriormente, o produtor de soja é apenas um tomador de preços, isto
é, não consegue alterar o preço do seu produto (exceto por intermédio de determinadas
estratégias de comercialização) já que sua opção de vender ou não seu produto não alcança
volume significativo para a alteração dos preços no mercado mundial. Não conseguindo
alterar o preço da oleaginosa, o produtor passa a estar sob o risco das variações, tanto
positivas quanto negativas, no preço da soja praticado na Bolsa de Chicago, deixando este
estabelecimento de preços nas mãos das grandes empresas multinacionais do setor, dos
especuladores e dos Fundos de Pensões que operam na Bolsa. Além disso, um dos problemas
enfrentados é a existência, no meio especulativo, de muitos manipuladores de preços, via
informações nem sempre confiáveis. Isso provoca oscilações de preços ainda mais agudas,
penalizando os agentes de mercado que trabalham efetivamente com o produto físico, em
particular os produtores rurais. Por ser um sistema que exige muita reserva monetária por
parte dos operadores, assim como um volume razoável de produto para ser compensador, os
produtores gaúchos, por serem em sua maioria pequenos e médios, raramente operam
61
diretamente em Chicago. Na grande maioria dos casos encontram-se operações feitas por suas
cooperativas de produção. Em síntese, o produtor rural gaúcho pouco atua na Bolsa de
Chicago, porém, tem o preço de seu produto sob forte influência das oscilações das cotações
registradas diariamente nessa Bolsa.
Essa realidade ficou evidente nas flutuações dos preços da soja demonstradas nos
gráficos dos preços médios semestrais praticados na Bolsa de Chicago em diversos momentos
do período analisado. Afinal, entre 1999 e 2013 o bushel de soja variou de um mínimo abaixo
de US$ 5,00 até um máximo ao redor de US$ 16,00. Obviamente, como foi visto neste
trabalho, no período em questão houve recuos importantes no preço do bushel.
As oscilações apresentadas pelos preços na Bolsa de Chicago são motivadas por
diversos fatores importantes, a saber: os estoques mundiais da oleaginosa, as expectativas da
área plantada, volume de produção da soja nos principais países produtores do grão, tais como
EUA, Brasil, Argentina, China, Paraguai, as previsões de estiagens ou de períodos de intensas
chuvas que provocariam frustrações da safra, os incentivos econômicos oferecidos pelos
governos desses países produtores, além da expectativa de compra do grão dos principais
países consumidores da oleaginosa, como a China e países da União Europeia. Há que se
levar em conta outros fatores, como a exportação de óleo e farelo, derivados do grão, e os
mercados do milho e do petróleo que afetam profundamente o mercado internacional da soja.
Os mais beneficiados neste mercado volátil são os especuladores, justamente por
oferecerem liquidez ao mercado, e por terem a habilidade de entrar e sair do mercado de
maneira rápida e eficiente. Seu objetivo é apenas a oportunidade de lucro, conseguindo
através de suas habilidades de acertar e se antecipar às direções do mercado e na mudança de
preços.
Outro fator que contribuiu para a formação do preço médio da soja praticado no Rio
Grande do Sul é o câmbio. Visto que o preço da soja é cotado em dólares na Bolsa de
Chicago, os preços da oleaginosa sofrem alterações na sua formação no mercado interno, pois
devem ser convertidos de dólares para reais.
Ao se analisar os gráficos apresentados neste trabalho se pode observar que o câmbio
passa a ser um dos elementos que mais influenciam a formação do preço da soja no mercado
interno. No período estudado, o câmbio teve mais influência nos preços da soja gaúcha do que
as próprias oscilações das cotações em Chicago. Tal constatação corrobora o encontrado em
Machado (2010, p. 51), pois há uma correlação positiva entre os preços da soja, cotado em
dólar no mercado internacional, e os preços no mercado interno. Além disso, o fator cambial
62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sul. Passo Fundo: Instituto Social Padre Berthier, 1987.
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ZINI JÚNIOR, A. A. Política cambial com liberdade ao câmbio. In: BAUMANN, R (Org). O
Brasil e a economia global. Rio de Janeiro: Campus, 1996.
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APÊNDICES
68
Apêndice A – Tabela dos Preços Médios Semestrais da Soja pago aos Produtores do Rio
Grande do Sul