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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM
DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E GESTÃO DE SISTEMAS
PRODUTIVOS
DIONE FERREIRA DE ÁVILA

A INFLUÊNCIA DA BOLS A DE CHICAGO E DO C ÂMBIO NA


FORMAÇÃO DO PREÇO MÉDIO DA SOJ A PRATICADO NO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL (BRASIL)
- 1999 A 2013 -

IJUÍ
2015
DIONE FERREIRA DE ÁVILA

A INFLUÊNCIA DA BOLS A DE CHICAGO E DO CÂMBIO NA


FORMAÇÃO DO PREÇO MÉDIO DA SOJ A PRATICADO NO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL (BRASIL)
- 1999 a 2013 -

Di ssert a çã o de Mestra do a pr esenta da a o Cur so


de Pós Gra dua çã o Sc rict o Se nsu em
Desen vol vim en t o – Linha de pesqui sa de
Pesqui sa: Desen vol vi m ent o T errit or ial e
Gest ã o de Si st ema s Pr odut i vos da
Un i ver si da d e Regi on al do Nor oest e do E sta do
do Ri o Grande do Sul, com o r equi sit o para
obt en çã o do t ít ul o de Mestr e em
Desen vol vim en t o.

Or i enta dor: Pr of. Dr. Argemir o Luís Brum

IJUÍ
2015
Catalogação na Publicação

A958i Ávila, Dione Ferreira de.


A influência da bolsa de Chicago e do câmbio na formação do preço
médio e da soja praticado no Estado do Rio Grande do Sul (Brasil) – 1999 a
2013 / Dione Ferreira de Ávila. – Ijuí, 2015. –
70 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado


do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Argemiro Luís Brum”.

1. Preço. 2. Soja. 3. Desenvolvimento econômico. 4. Agricultura. I.


Brum, Argemiro Luís. II. Título.

CDU: 330.34
633.34

Aline Morales dos Santos Theobald


CRB10/1879
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

A INFLUÊNCIA DA BOLSA DE CHICAGO E DO CÂMBIO NA FORMAÇÃO DO


PREÇO MÉDIO E DA SOJA PRATICADO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
(BRASIL) – 1999 A 2013

elaborada por

DIONE FERREIRA DE ÁVILA

como requisito parcial para a obtenção do grau de


Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. Nilson Luiz Costa (UFSM): _____________________________________________

Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ):_________________________________________________

Ijuí (RS), 17 de março de 2015.


DEDICATÓRIA

À Deus, о que seria de mim sem a fé que eu tenho Nele.


Pois quando sentindo-me desacreditado e perdido nos meus objetivos,
me fez vivenciar a delícia de me formar.
Aos meus pais e irmãos, pelas infindáveis formas de encorajamento.
À Sara Zanelato, meu grande e eterno amor.
AGRADECIMENTOS

Redigir agradecimentos não é difícil. O problema é não ser traído pela memória.

À Deus, pela luz e pelo caminho.

Agradeço ao meu pai, minha mãe e meus irmãos pelo amor, incentivo e apoio
incondicional e pelo tempo que, à força, lhes roubei. Muito obrigado!

Ao professor Argemiro Luís Brum. Muito mais que um orientador, um amigo e


parceiro. Muito obrigado, professor, pela sua generosa capacidade, confiança e colaboração.

Aos demais familiares e amigos pelo constante incentivo.

Aos colegas, professores e demais colaboradores do Programa de Pós-Graduação Stricto


Sensu em Desenvolvimento da UNIJUÍ. Pessoas importantes que contribuíram neste processo
de formação.

À CAPES pelo apoio financeiro.

A FIDENE/UNIJUÍ pela oportunidade de, mais uma vez, contribuir com o meu
crescimento acadêmico e pessoal.
EPÍGRAFE

“Tenho a impressão de t er sido uma criança brincando à beira -mar, divert indo -
me em descobr ir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonit a que as
out ras, enquanto o imenso oceano da verdade cont inua mist erioso diant e de
meus olhos”. (Isaac Newton).
RESUMO

A soja possui relevância no desenvolviment o econômico do Est ado do Rio


Grande do Sul/Brasil, visto que é um dos principais produtos cult ivados pelos
produtores gaúchos, gerando uma important e renda para o seu crescimento
econômico. A oleaginosa t ambém cont ribui para o fortalecimento de outros
setores econômicos e moviment a vár ias cadeias de fornecedores ant es e depois
do plant io . Dest a forma, os preços da soja recebido s pelos produtores gaúchos
promovem impact os posit ivos e negat ivos na economia do Est ado. A formação
do preço da soja, pago aos produtores no Rio Grande do Sul, sofre in fluência
de algumas var iáveis, a saber: cot ações na Bolsa de Chicago, taxa de câmbio, o
prêmio no porto e o custo de comercialização somado à margem de ganho das
empresas compradoras. Este est udo se limit a em ver ificar a influência das
cotações na Bolsa de Chicago e da t axa de câmbio no Brasil na formação do
preço médio da soja prat icado no Rio Grande do Sul no período de 1999 a
2013. A primeira var iável se refere aos preços da oleaginosa prat icados na
Bolsa e que são referência no mercado mundial e a segun da t rat a das variações
cambiais que influenciam a formação do preço da soja no mercado int erno,
visto que as cot ações em Chicago são dadas em dólares. A escolha do período
de análise se deu em função da autoridade monet ária brasileira adotar o regime
de câmbio flut uant e em janeiro de 1999. Na análise, que possui uma abordagem
qualit at iva delineada at ravés de uma pesquisa biblio gráfica, exploratória e
descrit iva, dividiu-se est e espaço de t empo em cinco períodos dist intos, com
base nos preços médios da soja prat icados no Rio Grande do Sul. A part ir dos
dados colet ados, agrupados e int erpret ados, se concluiu que a t axa de câmbio,
no período est udado, foi mais decisiva na formação do preço médio da soja no
Rio Grande do Sul, em relação às oscilações das cotações na Bolsa de Chicago
sem, obviament e, ignorar a importância dest as.
ABSTRACT

The soy is relevant in the economic development of the state of Rio Grande do Sul / Brazil, as
it is one of the main products cultivated by gauchos producers, generating important income
for its economic growth. The oilseed also contributes to the strengthening of other economic
sectors and moves several supply chains before and after planting. Thus, soybean prices
received by producers gauchos promote positive and negative impacts on the state's economy.
The formation of the soybean price paid to producers in Rio Grande do Sul, is influenced by
several variables, namely: quotations on the Chicago Board of Trade, exchange rate, the prize
at the port and the marketing cost plus the gain margin of purchasing companies. This study is
limited to check the influence of prices on the Chicago Board of Trade and the exchange rate
in Brazil in the formation of average soybean prices practiced in Rio Grande do Sul fro m
1999 to 2013. The first variable refers to the prices of oilseeds practiced on the stock
exchange and are a reference in the world market and the second deals with the exchange rate
variations that influence the formation of soybean prices in the domestic market, as the prices
in Chicago are given in dollars. The choice of the analysis period was due to the Brazilian
monetary authority to adopt a floating exchange rate regime in January 1999. In the analysis,
which has a qualitative approach outlined through a literature, exploratory and descriptive
research, divided this time frame into five distinct periods, based on the average soybean
prices practiced in Rio Grande do Sul. From the data collected, grouped and interpreted, it
was concluded that the exchange rate during the study period, was more decisive in the
formation of the average price of soybeans in Rio Grande do Sul, in relation to changes in
prices in the stock exchange Chicago without, of course, ignore the importance of these.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução da soja no Brasil: (1960-2013) ................................................... 23

Gráfico 2 – Evolução da produtividade da soja no Brasil, em kg: (1960-2013) .............. 24

Gráfico 3 – Produção da soja por Estado, safra 2013/14, em milhões de toneladas ........ 25
Gráfico 4 – Evolução da àrea e produção da soja no Rio Grande do Sul: (1950-2013).... 27
Gráfico 5 – Evolução da produtividade da soja no Rio Grande do Sul, em kg: (1960-
2013) ............................................................................................................................. 29
Gráfico 6 – Produção de soja no Rio Grande do Sul, por mesorregião (1973-2007), em
toneladas................................................................................................................... ......30
Gráfico 7 – Cotações da soja em um dia na Bolsa de Chicago........................................37
Gráfico 8 – Cotação dólar entre 29/10 a 11/11/2014...................................................... . 40
Gráfico 9 – Média semestral da soja no Rio Grande do Sul: em R$/saca de 60kg ao
produtor, do 1º semestre de 1999 ao 2º semestre de 2013......................................... ......46
Gráfico 10 – Médias semestrais do preço da soja na Bolsa, pago aos produtores e
câmbio.................................................... ..................................................................... 47
Gráfico 11 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004 .................................................... 48
Gráfico 12 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004..49
Gráfico 13 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006 .................................................... 51
Gráfico 14 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006..52
Gráfico 15 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.................................................... 53
Gráfico 16 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.. 54
Gráfico 17 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.................................................... 55
Gráfico 18 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.. 56
Gráfico 19 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago em bushel/ saca
60kg, do 1º semestre de 2010 ao 1º semestre de 2013.................................................... 58
Gráfico 20 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2010 ao 2º semest re de 2013.. 59

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Formação do preço da soja no Brasil a partir da cotação dada em Chicago...32


Quadro 2 – Contrato futuro de soja na CBOT .............................................................. 35
11

LISTA DE ABREVIATURAS

BACEN – Banco Central do Brasil.


CBOT – Chicago Board of Trade.

CEEMA/UNIJUÍ - Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado


Agropecuário.

CME – Chicago Mercantile Exchange.


CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento.
EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
EMBRAPA SOJA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: Soja.
EUA – Estados Unidos.
FETHAB – Fundo Estadual de Transporte e Habitação.
FOB – Free on Board.
PIB – Produto Interno Bruto.
UE – União Europeia.
12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO .......................................................... 16

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ........................................................................... 16

1.2 PROBLEMA ...................................................................................................... 17

1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 18

1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 18

1.3.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 19

1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 21

2.1 O agronegócio brasileiro e a produção de soja ..................................................... 21

2.2 A expansão da produção de soja no Brasil ........................................................... 22

2.3 A expansão da produção de soja no Rio Grande do Sul ........................................ 26

2.4 Os Preços no agronegócio................................................................................... 30

2.5 Bolsa de Chicago e os preços internacionais da soja ............................................ 33

2.6 Taxa de câmbio .................................................................................................. 38

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 43

3.1 Delineamento da pesquisa .................................................................................. 43

3.2 Universo e amostra ............................................................................................. 43

3.3 Procedimento de coleta de dados ........................................................................ 44

3.4 Procedimento de análise e interpretação dos dados .............................................. 44

4 CÂMBIO INFLUI MAIS DO QUE OSCILAÇÕES DA BOLSA DE CHICAGO:


ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 46

4.1 Forte influência do câmbio entre 1999 e 2004 ..................................................... 47

4.2 Real forte derruba os preços da soja na Bolsa de Chicago .................................... 50

4.3 Cotações do preço da soja na Bolsa garantem bons preços aos produtores ............ 52
13

4.4 Apreciação do Real reduz o preço da soja no Rio Grande do Sul .......................... 55

4.5 Cotações altistas da soja na Bolsa asseguram bons preços aos produtores gaúchos . 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 63

APÊNDICES ............................................................................................................. 67

Apêndice A – Tabela dos Preços Médios Semestrais da Soja pago aos Produtores do Rio
Grande do Sul ............................................................................................................ 68

Apêndice B – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago. .......................... 69

Apêndice C – Cotações Médias Semestrais do Câmbio (R$/Dólar) ............................... 70


14

INTRODUÇÃO

A soja é considerada o principal grão produzido no país e uma commodity importante


para a exportação brasileira. Conforme os dados da Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB), de janeiro a dezembro de 2013 o complexo da soja, que compreende o grão e seus
subprodutos como o farelo e o óleo, teve uma participação na balança comercial do
agronegócio de aproximadamente 32% e no total de exportações de 13%. Um dos principais
motivos pelo impulso da soja nesse ano foi o aumento da área plantada em aproximadamente
10% e a melhora nos ganhos de produtividade, que também teve aumento de 10% em relação
ao ano anterior.
Em 2013 a soja ocupou aproximadamente 27 milhões de hectares em todo o território
nacional e alcançou uma produção de 81 milhões de toneladas (CONAB, 2014). No Rio
Grande do Sul, a área colhida chegou a 4,6 milhões de hectares e a produção da oleaginosa
alcançou o recorde de 12,76 milhões de toneladas, o que levou o Estado a figurar no terceiro
lugar na produção nacional, definindo assim, a importância da soja para o Brasil e para o
Estado do Rio Grande do Sul.
Como uma commodity, a soja tem seus preços balizados na Bolsa de Chicago. Cabe
ressaltar que no ano de 1936, a soja teve contratos lançados na Chicago Board of Trade
(CBOT), a qual foi um dos primeiros mercados a vender contratos futuros (CME GROUP,
2009). Desta forma, os preços internacionais da oleaginosa passaram a ser regulados pelas
cotações da Bolsa. Desde então, a volatilidade dos preços dos produtos agrícolas, em grande
parte, é função direta da incidência de choques sobre esse mercado (CME GROUP, 2009).
Além das cotações dos preços em Chicago, os preços da soja no mercado brasileiro
sofrem influência das variações na taxa de câmbio, visto que as cotações em Chicago se dão
em dólares. Para tanto, este estudo buscou analisar a influência da Bolsa de Chicago e da
variação cambial na formação do preço médio da soja praticado no Rio Grande do Sul. A
escolha da análise dos preços médio pago aos produtores neste Estado é justificada pela
importância que o mesmo tem na produção nacional de soja, estando entre os três maiores
produtores do país, atrás apenas do Estado do Mato Grosso e do Estado do Paraná.
O estudo está estruturado em quatro capítulos divididos em subcapítulos, além da
introdução e da conclusão. No primeiro capítulo busca-se contextualizar o estudo
15

apresentando o tema, problema, objetivos e justificativas. No segundo capítulo, é apresentado


uma revisão de literatura sobre o agronegócio brasileiro e a produção de soja no Brasil e no
Rio Grande do Sul, a Bolsa de Chicago e os preços internacionais da soja e a taxa de câmbio.
No terceiro capítulo é definida a metodologia, os pressupostos ontológicos e os
procedimentos da pesquisa. O quarto capítulo abrange a análise dos dados, divididos em cinco
períodos para fim de análise e interpretação do comportamento das variações do preço médio
da soja no Rio Grande do Sul, do preço praticado na Bolsa de Chicago e das oscilações
cambiais.
16

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Este capítulo apresenta o tema, o problema central que conduzirá à investigação, os


objetivos e a justificativa deste estudo.

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

A introdução da soja no Rio Grande do Sul tem início no ano de 1914, pelo professor
norte-americano E. C. Craig, (BONETTI, 1987). Em 1940 apareceram os primeiros dados
estatísticos da soja, onde consta oficialmente a presença da oleaginosa na safra agrícola do
Rio Grande do Sul.
De 1940 em diante a soja passa a ser plantada com mais intensidade nas lavouras
gaúchas e, definitivamente, a partir de 1970 a oleaginosa começa a ter importância na
economia do Rio Grande do Sul, pois passou a liderar a produção de grãos, com um volume
de 976.807 toneladas, ultrapassando a produção de trigo (BRUM, 1985; EMATER, 2013b).
Desde então, vários produtores aderiram à produção da soja (BRUM, 1985). Após ter se
mantido como primeiro produtor nacional durante muitos anos, atualmente o estado gaúcho
ocupa a terceira colocação no ranking nacional, atrás do Mato Grosso e do Paraná, tendo
produzido 12,76 milhões de toneladas em 2013 (EMATER, 2013a; EMATER, 2013b).
Por ser um produto de exportação, o preço da soja em dólares é cotado na Bolsa de
Chicago. As cotações na Bolsa influenciam os preços praticados no mercado internacional e
no brasileiro. As variações nas cotações são motivadas por diversos fatores, principalmente,
os especuladores e os Fundos de Pensões que lá operam. Além da Bolsa de Chicago, a
cotação do preço da soja sofre influências de outras três variáveis importantes: a taxa de
câmbio, o prêmio no porto e o custo de comercialização somado à margem de ganho das
empresas compradoras (MARGARIDO; SOUSA, 1998; MORAES, 2002; MACHADO,
2010). Este estudo, todavia, tratará apenas de duas destas variáveis: a cotação na Bolsa de
Chicago e da taxa de câmbio.
Brum et al. (2010) afirmam que o câmbio se constitui em fator importante no
comércio de um país, pois sua apreciação ou depreciação provoca a redução ou aumento da
competitividade do país, ou seja, alguns setores da economia são penalizados, enquanto outros
são favorecidos. Dito de outra maneira, a depreciação da moeda nacional perante o dólar dos
17

Estados Unidos (EUA) beneficia as exportações do país, portanto a soja, enquanto penaliza as
importações, e vice-versa (BRUM et al., 2010).
A taxa de câmbio torna-se uma das variantes mais proeminentes de uma economia
aberta em seu relacionamento com o mercado externo (CARVALHO; SILVA, 2007). A partir
do colapso do Sistema Bretton Woods, em 1971, um número significativo de países
desenvolvidos e industrializados passou a adotar o regime de taxas de câmbio flutuante, que
recebeu impulso com a abertura e a integração financeira dos mercados (FAMÁ; CHAIA,
2001). Na década de 1990, esse processo se acentuou ainda mais, alcançando os países
emergentes, sendo que no Brasil tal sistema passou a ser aplicado especialmente a partir de
1999 (BRUM et al., 2010).
Nesse contexto, o presente estudo tem como tema a influência da Bolsa de Chicago e
do câmbio na formação do preço médio da soja praticado no Estado do Rio Grande do Sul
(Brasil). O estudo aborda a influência da Bolsa de Chicago e da taxa de câmbio brasileira
adotada a partir 15 de janeiro de 1999, quando o país passou para o regime de câmbio
flutuante sujo.

1.2 PROBLEMA

A Bolsa de Chicago se constitui numa variável importante na formação do preço da


soja. Os preços praticados na Bolsa são determinados pela oferta e a demanda mundial do
produto, seus estoques mundiais e a especulação do setor financeiro e dos Fundos de
investimento e pensão que ali aportam seus recursos visando lucro imediato (MARQUES et
al., 2006). Assim, as cotações geradas na Bolsa influenciam na formação dos preços da soja
no mercado doméstico (MARGARIDO; SOUSA, 1998) produzindo efeitos negativos ou
positivos.
Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio também é uma variável importante na formação
do preço da soja e é utilizada como instrumento de política econômica, pois exerce um
desempenho preponderante no comércio internacional uma vez que afeta a escala de preços
entre os países devido as suas variações, o que em alguns momentos podem atingir pontos
preocupantes, independente de a moeda nacional estar apreciada ou depreciada (RAFI, 2001).
As causas da valorização ou desvalorização da moeda podem ser de condição
conjuntural ou estrutural. Quando as causas são conjunturais não é necessário o país adotar
medidas econômicas para depreciar a sua moeda, visto que os acontecimentos são
temporários, isto é, o câmbio se normalizará em um curto período. Em se tratando de
18

condição estrutural, tornam-se necessárias intervenções na política cambial que afetará a


economia do país (MAIA, 2008).
Com a intenção de atrair capitais estrangeiros para reduzir o déficit no balanço de
pagamentos, acentuado pela conta de transações correntes, o governo brasileiro elevou
excessivamente a taxa de juros entre 1993 e 2002, a fim de manter a taxa de câmbio inalterada
(MAIA, 2008). Esta medida adotada pelo governo fora frustrada por outros problemas que
despertaram desconfiança nos investidores. Para tanto, em 15 de janeiro de 1999, a taxa de
câmbio foi liberada pelo governo (BRUM et. al, 2010). Esta nova postura no mercado
ocasionou a desvalorização do real, que alterou os preços tanto da importação quanto da
exportação de produtos (MAIA, 2008).
No caso específico da soja, as depreciações da moeda brasileira (Real) melhoram o
preço em moeda nacional, enquanto apreciações reduzem o preço da oleaginosa. Por outro
lado, as depreciações do real aumentam o preço dos insumos destinados à produção da
oleaginosa, por estes serem majoritariamente importados ou possuírem componentes
importados1.
Diante disso, entre 1999 e 2013 ocorreram fortes oscilações no preço médio da soja
praticado no Estado do Rio Grande do Sul. Grande parte delas motivada por questões
cambiais e oscilações das cotações na Bolsa de Chicago, muito mais do que por outros fatores
(evolução da produtividade das lavouras de soja, por exemplo). Visto desta maneira, o
problema posto para esta investigação é o de verificar a participação das cotações na Bolsa de
Chicago e da taxa de câmbio no Brasil na formação do preço médio da soja praticado no Rio
Grande do Sul.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a influência da Bolsa de Chicago e a evolução cambial no Brasil sobre a


formação do preço da soja no Rio Grande do Sul no período de 1999 a 2013.

1
Cf. entrevista concedida pelo Prof. Argemiro Luís Brum, coordenador da CEEMA/DACEC/UNIJUI e analista
de mercado agropecuário, realizada em 19/08/2013, Ijuí, Rio Grande do Sul.
19

1.3.2 Específicos

a) Analisar a evolução cambial no Brasil no período considerado, visando detectar os


momentos de depreciação e apreciação do Real e seus impactos no preço da soja no
Rio Grande do Sul;
b) Verificar a evolução dos preços da soja na Bolsa de Chicago e relacioná-los com a
evolução do preço médio da saca de soja no Rio Grande do Sul;
c) Analisar a relação existente entre a cotação da soja na Bolsa de Chicago, a variação
cambial no Brasil e a formação do preço da soja no Rio Grande do Sul.

1.4 JUSTIFICATIVA

A soja possui relevância no desenvolvimento econômico do Estado do Rio Grande do


Sul, visto que é um dos principais produtos cultivados no Estado e gerador de renda aos
produtores gaúchos, além de contribuir para o fortalecimento de outros setores econômicos. O
Estado, que já foi o maior produtor brasileiro de soja ocupa a terceira posição nacional na
produção de soja, com valores que se aproximam a 13 milhões de toneladas e injetou cerca de
R$ 38 bilhões na economia do Estado. A soja movimenta várias cadeias de fornecedores antes
do plantio e até pós o plantio, através da extração mineral para a produção do aço das
plantadeiras, a compra de fertilizantes, fretes, armazenagem entre outros. Então, os preços
altos e baixos da oleaginosa produzem efeitos na economia do Rio Grande do Sul.
No campo econômico e social, o presente estudo justifica-se pelo fato que o Brasil
optou pelo modelo de câmbio flutuante em janeiro de 1999 e, a partir desta decisão, a moeda
nacional passou a oscilar em relação ao dólar estadunidense, ao sabor da oferta e demanda
desta última no mercado nacional. Desde então, houve oscilações agudas em determinados
momentos, porém, constata-se que, em boa parte do tempo, o Real esteve apreciado. Esta
realidade influencia a formação do preço médio da soja praticado no Rio Grande do Sul, fator
que impacta nas transações internacionais, já que a oleaginosa tem por mercado principal o
exterior. Além disso, a fixação de seu preço no mercado nacional se dá com base nas cotações
estabelecidas na Bolsa de Chicago, em dólares.
A justificativa desta pesquisa também está ancorada em outras razões, além de
procurar dar resposta a um questionamento do pesquisador no tocante à necessidade de
conhecer, aprofundar e construir um conceito a respeito do tema. É mister destacar a
20

consolidação dos objetivos apresentados pelo curso de Mestrado em Desenvolvimento,


objetivos estes que expõem a necessidade de proporcionar uma visão mais ampla aos
profissionais da área para identificar as influências que a variação cambial exerce sobre a
formação do preço médio da soja, afim de fornecer-lhes condições teóricas que os capacitem,
enquanto profissionais, a gerenciar estas variáveis.
21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A fundamentação teórica versará sobre os aspectos importantes na formação do preço


médio praticado no Rio Grande do Sul. Num primeiro momento do estudo é abordado sobre o
contexto e importância do agronegócio e em seguida, é contextualizado a origem da soja e sua
evolução no Brasil em geral e no Rio Grande do Sul em particular, assim como aspectos
gerais sobre os preços no agronegócio. Após se verificará o papel da Bolsa de Cereais de
Chicago neste contexto, e enfim, se abordará a política cambial no Brasil a partir de 1999.

2.1 O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO E A PRODUÇÃO DE SOJA

As atenções do mundo estão voltadas ao Brasil, pela sua eficiência na produção de


alimentos (DALL’AGNOL et al., 2010). O despertar do potencial do agronegócio brasileiro
está no crescimento impressionante ao longo dos últimos quarenta anos, decorrente da
expansão da área de produção e da produtividade, resultante da utilização de tecnologias
eficientes (SILVA, 2005; DALL’AGNOL et al., 2010).
Algumas décadas atrás o Brasil figurava como um importador de alimentos. Nos
últimos anos este cenário mudou, e o país está entre os principais exportadores de alimentos
do mundo (DALL’AGNOL et al., 2010). Em 2013, a participação do agronegócio brasileiro
no Produto Interno Bruto (PIB) correspondeu a 22,5%, apresentando uma variação positiva de
1,59 % em relação a 2012. O superávit da balança comercial do agronegócio brasileiro foi
elevado quando alcançou a marca dos US$ 93 bilhões em 2013 e contribuiu para o saldo da
balança comercial do Brasil. Em termos de valor exportado, o complexo soja (grão, farelo e
óleo somados) foi o setor que apresentou melhor desempenho com valores que alcançaram a
casa dos U$S 30 bilhões, o que representou aproximadamente 30% das exportações do
agronegócio.
Nesse contexto, a cultura da soja é uma das atividades primárias mais importantes. Ela
gera cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos no Brasil e contribui para o
crescimento econômico das cidades, através de indústrias que viabilizam empregos diretos e
aumentam a demanda por comércio (FÁVARO, 2012). Em Cuiabá/MT, os recursos do Fundo
22

Estadual de Transporte e Habitação2 (FETHAB) contribuíram para diversas obras em


infraestrutura viária da cidade (FÁVARO, 2012).
Nos últimos 60 anos a soja apresentou um desenvolvimento pujante no Brasil,
caracterizado pela forte interação com o mercado externo e a utilização da tecnologia
moderna em seu cultivo. A partir de 1960, com sua produção em escala comercial, a soja
contribuiu para o desenvolvimento regional e a urbanização, constituindo-se, assim, em uma
atividade importante para o agronegócio brasileiro (SILVA FILHO et al., 2005).
Brum (2002) explica que a soja foi uma das principais culturas responsáveis pela
introdução do conceito de agronegócio no país, pelo volume físico e financeiro e também pela
necessidade empresarial de administração da atividade por parte dos produtores, fornecedores
de insumos, processadores da matéria-prima e negociantes.
Ao mesmo tempo, pesquisas realizadas pela Embrapa, em parceria com o setor
privado, possibilitaram o aprimoramento e desenvolvimento de novas tecnologias, garantindo
a expansão da produção de alimentos em geral e da soja em particular, com redução de custos
e dos impactos ambientais, o fortalecimento da produção, da indústria de máquinas, de
insumos agrícolas e do parque industrial de processamento de soja (MAPA, 2010; COSTA,
2012).

2.2 A EXPANSÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL

Com origem no Oriente, mais provavelmente nas regiões Central e Oeste da China, a
soja surgiu como planta domesticada há muitos milênios. O primeiro registro da soja no
Brasil se dá em 1882, através de Gustavo D’Utra, professor da Escola de Agronomia da
Bahia, que realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivares procedentes dos Estados
Unidos e cultivadas no Estado da Bahia (BONETTI, 1987; EMBRAPA SOJA, 2003).
No cenário nacional, a soja passa a ter importância econômica a partir dos anos de
1940, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941, no Anuário Agrícola do
Rio Grande do Sul (EMBRAPA SOJA, 2003). Porém, a soja se estabeleceu como cultura
economicamente importante para o Brasil a partir da década de 1960, quando já impulsionada
pela política de subsídios ao trigo, visando a autossuficiência do cereal. Na esteira desta
política tritícola, e por ser uma alternativa de verão, a soja assiste a um expressivo
crescimento de sua produção nesta década, com média do período ao redor de 500 mil

2
Imposto incidente sobre a comercialização da saca de soja, dentre outros produtos. Só em 2011 a soja
contribuiu com quase R$ 107 milhões com o FETHAB (FÁVARO, 2012).
23

toneladas. Na década de 1970 a produção média do período salta para 7,3 milhões de
toneladas (EMBRAPA SOJA, 2003). Em 2012 a produção brasileira de soja já alcançava 66,3
milhões de toneladas, passando a quase 90 milhões de toneladas no ano seguinte, conforme
mostra o gráfico 1.

Gráfico 1 – Evolução da área e produção de soja no Brasil: (1960/2013).

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Embrapa Soja (2003) e CONAB (2014).

A expansão da produção brasileira de soja se deu em razão do aumento da área


cultivada, pois a média do período na década de 1960, que era de 400 mil hectares, alcançou
em 2013 aproximadamente 27 milhões de hectares. Outro fator que influenciou o aumento da
produção foi o incremento na produtividade, com as médias de 1.089 quilos/hectare na década
de 1960 chegando a 2.938 quilos/hectare no ano de 2013, conforme gráfico 2.
A partir da década de 1970, o que impulsionou a cultura da soja foi a abertura, a
expansão e a consolidação de novas fronteiras agrícolas, principalmente nas regiões Centro-
Oeste e Sul do Brasil. Hirakuri e Lazzarotto (2011) explicam que a expansão se deu por três
24

grandes fatores: políticas agrícolas de incentivo ao complexo agroindustrial nacional,


mercados nacional e internacional e ofertas crescentes de modernas tecnologias de produção.
No que tange à produção, nas últimas quatro décadas se consolidaram no país centros de
pesquisa e desenvolvimento voltados à geração de conhecimentos e tecnologias de produção
de soja como o Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Embrapa, Instituto Agronômico de
Campinas, Universidade Federal de Viçosa e outros. Hirakuri e Lazzarotto (2011, p. 28)
argumentam que “o Brasil tornou-se referência mundial em tecnologias de produção da
oleaginosa. Essas tecnologias estão associadas com diversos aspectos, como melhoramento
vegetal, produção de sementes, manejo e fertilidade do solo e controle de plantas daninhas,
pragas e doenças”.

Gráfico 2: Evolução da produtividade da soja no Brasil, em kg: (1960/2013).

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Embrapa Soja (2003) e CONAB (2014).

O aumento da produtividade e da área plantada da cultura da soja se deu, em grande


parte, em função do melhoramento do padrão dos insumos e tecnologias utilizados na
qualidade das sementes, na inovação e desenvolvimento de máquinas e implementos
agrícolas, fato que elevou a mecanização do processo produtivo, e no aperfeiçoamento das
técnicas agrícolas que contribuíram para o aumento da produtividade e na redução de perdas.
Nesse sentido, destaca Costa (2012, p. 16):
25

“Os avanços tecnológicos também se constituíram como elemento fundamental,


principalmente nas indústrias de insumos, que proporcionaram o aumento da
produtividade e da área plantada através do desenvolvimento de práticas de manejo
que conjugaram o controle de pragas e doenças com a fertilização artificial do solo e
o melhoramento genético das sementes. Esse pacote tecnológico tornou possível a
mecanização do cultivo de novas fronteiras, com destaque para as regiões do bioma
cerrado e bioma Amazônia.”

No contexto nacional, o gráfico 3 aponta para os principais Estados brasileiros


produtores de soja na safra 2013/14, com o Mato Grosso figurando na primeira colocação
com uma produção na casa de 26 milhões de toneladas. No segundo lugar aparece Paraná com
uma produção de 14 milhões de toneladas e em terceiro o Rio Grande do Sul com 12 milhões
e em quarto lugar o estado do Goiás com aproximadamente 9 milhões de toneladas.

Gráfico 3 – Produção de soja por Estado, safra 2013/14, em milhões de toneladas.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Conab (2014).

Através da expansão da produção, produtividade e da área plantada da soja no Brasil, a


agricultura brasileira ganhou destaque no cenário mundial, provocando mudanças estruturais
no campo social e econômico, principalmente na base técnica da produção da agricultura
brasileira.
26

A revolução socioeconômica e tecnológica protagonizada pela soja no Brasil


Moderno pode ser comparada ao fenômeno ocorrido com o ciclo da cana de açúcar,
da borracha e do café, que, em distintos períodos dos séculos XVII a XX,
comandaram o comércio exterior do país. Avançando sobre novas fronteiras
agrícolas na busca de terras abundantes e baratas, milhares de dinâmicos e arrojados
produtores de soja da região sul do Brasil migraram para o despovoado e
desvalorizado Cerrado brasileiro, levando desenvolvimento e promovendo a
implantação de uma nova cultura na região central do país. Centenas de pequenos
povoados nasceram no vazio do Cerrado, transformando-se, ao longo das quatro
últimas décadas, em cidades de pequeno, médio e grande porte e valorizando
enormemente as terras da região, hoje tão valiosas quanto as da região sul.
(DALL’AGNOL, 2007. p.10).

A modernização das lavouras brasileiras provocou essa revolução patrocinada pela


soja no Brasil, assim como do sistema de transporte, influenciando a tecnificação responsável
pela expansão das fronteiras agrícolas. Esta modernização potencializou a produção de outras
atividades agropecuárias, como o milho, o suíno, o leite e as aves. Em contraposição houve a
redução de outras atividades, assim como a descentralização das agroindústrias,
impulsionando a expansão das cooperativas tritícolas.
No campo social, a expansão da cultura da soja modificou e enriqueceu a dieta
alimentar dos brasileiros, impulsionou a urbanização do país e a interiorização da população
brasileira, concentrando-a nas regiões sul, sudeste e litoral nordestino (DALL’AGNOL et al.,
2007).

2.3 A EXPANSÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO RIO GRANDE DO SUL

No Rio Grande do Sul, a oleaginosa teria sido introduzida pelo professor norte-
americano E. C. Craig, no ano de 1914, embora já fosse conhecida por outra denominação
(BONETTI, 1987). O primeiro trabalho publicado no Estado, detalhando aspectos botânicos e
culturais da soja, foi publicado em 1901, por Guilherme Minssen, professor na Escola de
Agronomia de Guignon, na França. Reverbel (1984), citado por Bonetti (1987, p. 23),
ressalta, que em 1901, a possibilidade do cultivo da soja ao afirmar que “máxime por tratar-se
de uma planta cuja cultura tem a probabilidade de prosperar no Estado”. A oleaginosa
encontrou efetivas condições para se desenvolver e expandir, por suas semelhanças climáticas
do ecossistema americano de origem – sul dos EUA – com as condições climáticas existentes
no sul do Brasil e dos materiais genéticos existentes no país (EMBRAPA SOJA, 2003).
27

Em 1940 apareceram os primeiros dados estatísticos da soja, registrando oficialmente


a presença da oleaginosa na safra agrícola do Rio Grande do Sul. Em 1941, eram 650 hectares
de área cultivada e 450 toneladas de grãos produzidos (BONETTI, 1987). A partir de 1950 a
soja, mesmo que timidamente, começou a expandir-se como cultura de expressão econômica,
com três regiões mantendo a expansão nessa década: Missões, Alto Uruguai e Planalto Médio
(CONCEIÇÃO, 1984).
Através da expansão da soja, a agricultura gaúcha passou por grandes transformações
a partir da década de 1960, colocando-se em outro patamar por intermédio do novo modelo
agrícola adotado. Isto é, novos métodos e técnicas foram incorporadas pelos produtores ou até
mesmo os aperfeiçoamentos das práticas já existentes alavancaram a agricultura. Chamou-se
essa fase de “modernização da agricultura gaúcha”.
Ainda nas décadas de 1950 e 1960, a área média cultivada com soja no Rio Grande do
Sul atingia cerca de 67 mil e 379 mil hectares (cf. gráfico 4), respectivamente, alcançando
posição de crescente destaque na economia gaúcha, “[...] tanto em área cultivada, quanto em
volume e, principalmente, em valor de produção”, (BONETTI, 1987, p. 29).

Gráfico 4 – Evolução da área e produção da soja no Rio Grande do Sul (1950-2013).

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bonetti (1987) e Conab (2014).
28

Passado as décadas de 1950 e 1960 a média da produção do período 1970-1979 cresceu


de forma significativa, passando a marca dos três milhões de toneladas, representando assim
um incremento de 886% em relação a produção do período anterior. Na década de 1980 o
volume de produção cresceu cerca de 44%, e na década de 1990 o aumento foi
aproximadamente de 5% em relação ao período anterior. Da mesma forma que o crescimento
da produção nacional, a produção do Rio Grande do Sul se deu pelo aumento da área
cultivada, que atingiu na década de 1990 a média anual dos três milhões de hectares e pelo
incremento da produtividade, que atingiu 1.711 quilos/hectare na década de 1990 (BONETTI,
1987; CONAB, 2014).
Com o advento da biotecnologia a partir de 1990, a agricultura obteve vantagens
econômicas maiores, pois essa nova ferramenta contribuiu para aumentar a produtividade das
sementes, deixando as plantas mais resistentes às pragas e com capacidade de maior absorção
de fertilizantes, mais tolerantes às condições climáticas e de solos adversas, como o frio, a
seca, a salinidade e a acidez. Deste modo, com menor aplicação de agrotóxicos e fertilizantes
químicos, o custo de produção da lavoura se reduziria proporcionalmente. Com os custos
baixos de produção, o Brasil consegue manutenção da competitividade e dos mercados
conquistados.
No período que compreende os anos de 1999 a 2013, a produção de soja no Rio
Grande do Sul teve um acréscimo significativo, atingindo a marca de 12 milhões de toneladas
em 2013. Obviamente, devido a fortes intempéries (seca), houve anos de pouca produção,
caso particularmente de 2005 quando as perdas estaduais totais com a oleaginosa avizinharam
a 80% (AGEITEC, 2013). A área de produção média manteve-se constante em todo o período
entre três e quatro milhões de hectares. Por outro lado, a produtividade das lavouras cresceu
com um incremento produtivo de aproximadamente 1.300 quilos/ha, comparando a década de
1950/1959 com o ano de 2013, conforme mostra o gráfico 5. A queda ocorrida em 2012 se
deve a forte estiagem ocorrida no verão gaúcho daquele ano.
29

Gráfico 5: Evolução da produtividade da soja no Rio Grande do Sul, em kg:


(1950/2013).

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bonetti (1987) e Conab (2014).

Em relação a evolução da produção de soja nas mesorregiões do Rio Grande do Sul,


Trennepohl e Paiva (2011) explicam que a expansão da soja se deu a partir das melhores
terras da região Noroeste do Estado, fato que colocou-a na liderança da produção estadual e
avançando às outras regiões. As grandes áreas de campo com pastagens naturais e áreas de
matas nativas se tornaram em plantações de soja e trigo.
De 1973 a 2007, aproximadamente 80% da produção de soja e da área cultivada no
Estado se concentrou na mesorregião Noroeste. Assim, o desempenho da soja nesta região foi
decisivo para o desempenho da cultura no Estado (cf. gráfico 6).
30

Gráfico 6 – Produção de soja no Rio Grande do Sul, por mesorregião (1973-2007), em


toneladas.

Fonte: Adaptado de Trennepohl; Paiva (2011).

Trennepohl e Paiva (2011) também destacam as fortes oscilações negativas na


produção de soja na região Noroeste bem como no Estado, provocadas por grandes estiagens
que causaram expressivas frustrações nas safras, com destaque para os anos de 1991 e 2005.
Esse fato contribuiu decisivamente para o endividamento de grande parte dos produtores, já
que os preços igualmente passaram a não acompanhar suficientemente a escalada dos custos
de produção.

2.4 OS PREÇOS NO AGRONEGÓCIO

Os preços dos produtos primários possuem certa peculiaridade em relação aos


produtos industrializados, cujos preços são formados a partir dos custos de produção. A
formação do preço dos produtos primários é resultado direto das condições de oferta e
demanda.
Em relação aos produtos agrícolas, considerados produtos pouco elásticos ou
inelásticos (a sua quantidade é dada, não podendo ser facilmente alterada), o comprador, em
última análise, é quem determina o preço pelo qual se vende o produto (SINGER, 1983),
31

sendo, portanto, o vendedor um mero tomador de preços (MENDES; PADILHA JÚNIOR,


2007). A inelasticidade de curto prazo exige um período relativamente longo para alcançar
um aumento da oferta, conforme destaca Kalecki (1983, p. 7):

Mantendo-se a oferta inelástica durante um curto espaço de tempo, uma elevação na


procura motiva uma diminuição dos estoques e, conseqüentemente, um aumento dos
preços. O movimento inicial de preços pode ser intensificado pela inclusão de um
elemento especulativo (...). Um aumento primário na procura, motivando uma
elevação de preços, faz-se acompanhar, freqüentemente, por uma elevação
secundária de caráter especulativo. Isso torna ainda mais difícil, a curto prazo, que a
produção se equilibre com a demanda.

O mercado de commodities possui a característica da não linearidade dos preços, isto


é, os preços praticados oscilam a todo o momento de acordo com a procura e a oferta de
produtos. Portanto, a influência dos custos de produção na formação dos preços no curto
prazo torna-se irrelevante, pois os preços cotados no mercado podem ser inferiores (em
determinados casos) aos praticados no momento do plantio, ou mesmo, aquém dos custos de
produção.
Por conseguinte, a decisão da comercialização do produto (no caso da soja) no
mercado torna-se importante, pois a mesma determinará quanto o produtor receberá pelo seu
produto. Como os produtores são tomadores de preços, eles optam em desenvolver estratégias
para a comercialização dos seus produtos. Constroem estruturas complexas como associação
de produtores, cooperativas, cerealistas, bolsas de mercadorias com o objetivo de influenciar
no processo, garantindo certa segurança no mercado e melhor preço.
Todavia, existem ainda diversos outros fatores que influenciam a oferta e a demanda e
necessitam ser acompanhados pelos produtores, tais como: políticas públicas, clima, as
doenças, a renda do consumidor, os produtos substitutos e complementares, a realidade
econômica e de produção de países concorrentes etc.
Em relação à soja, seu mercado é internacional, sendo influenciado pelos fatores
anteriormente indicados os quais, particularmente, influenciam as cotações da oleaginosa na
Bolsa de Chicago, referência mundial para a formação do preço da soja. Ao mesmo tempo, a
evolução cambial no Brasil e o comportamento do dólar no mercado cambial internacional
alteram constantemente os preços em reais no Brasil (BRUM, 2009). No quadro 1, tem-se um
exemplo da composição de um cálculo de conversão do preço da soja, a partir da cotação em
Chicago, para o valor de mercado interno brasileiro.
32

Quadro 1 – Formação do preço da soja no Brasil a partir da cotação dada em Chicago

Fonte: Safras & Mercado (2014).

Por mercado entende-se uma área geográfica na qual os vendedores e compradores


realizam transferência de propriedade de bens e serviços. Na análise econômica, o mercado
abrange um espaço em que as decisões dos compradores afetam sensivelmente as decisões
dos vendedores, e vice-versa (MENDES; PADILHA JÚNIOR, 2007).
Normalmente, pensa-se em mercados como áreas geográficas, mas na realidade há três
tipos de mercado segundo Mendes e Padilha Júnior (2007), a saber: o geográfico, com
significado de utilidade de lugar (mercado de São Paulo); o de produto, na utilidade de forma
(mercado do arroz); e o temporal, significando a utilidade de tempo (mercado da soja em
maio). A definição da escolha de qual tipo de mercado depende da situação a ser estudada,
podendo, às vezes, ser desejável estudar o preço recebido pelo produtor de soja no Rio Grande
do Sul e, em outras vezes, analisar o preço da soja no mercado internacional.
Os mercados são caracterizados pelos processos de trocas e de formação de preço,
com seus limites definidos pelo grau de interdependência de compradores e vendedores no
33

tempo, forma e espaço, e essa interdependência é medida pela sensibilidade de preço


(MENDES; PADILHA JÚNIOR, 2007).
O mercado onde opera a agricultura possui as seguintes características, conforme
igualmente descrevem Mendes e Padilha Júnior (2007): grande número de compradores e
vendedores, de tal modo que nenhum deles, individualmente, pode influenciar o preço ao
decidir vender ou comprar um produto, pois geralmente há milhares de agricultores; produto
homogêneo; ausência de restrições artificiais à procura, à oferta e aos preços de qualquer
produto que esteja sendo negociado, isto é, não há intervenções governamentais no mercado,
como tabelamento e racionamento; mobilidade dos recursos; perfeito conhecimento de todas
as informações necessárias sobre preços, processos de produção e ação de outros produtos.
Neste caso, o mercado se torna extremamente competitivo e especulativo, onde se
toma em consideração o tamanho da colheita e os estoques de safras anteriores, por exemplo.
Dito de outra forma trava-se um jogo especulativo nas grandes bolsas de mercadorias.
Noutras palavras, a especulação tem grande participação na fixação dos preços, os quais
variam extraordinariamente (SINGER, 1983, p. 15).

2.5 A BOLSA DE CHICAGO E OS PREÇOS INTERNACIONAIS DA SOJA

Em decorrência dos problemas no escoamento da produção agropecuária, no ano de


1833 os comerciantes e agricultores de Chicago passaram a realizar contratos para entrega
futura de seus produtos a fim de assegurar um comprador e um vendedor para suas
mercadorias. Desta forma, em 1848, constitui-se a Chicago Board of Trade, que passou a
realizar operações a termo e a vista (SANTOS, 2003).
Os produtos da CBOT eram focados nos principais cereais daquela época, isto é, o
milho, trigo e aveia. A soja veio mais tarde, com seus contratos lançados em 1936, seguidos
do farelo de soja nos anos de 1950 (CME GROUP, 2009).
Em 1898, a CBOT ganha uma concorrente, a Chicago Butter and Egg Board,
localizada apenas a alguns quarteirões de distância, se tornando uma rival formidável para a
CBOT. Em 1919, a nova bolsa adotou o nome de Chicago Mercantile Exchange. No dia 9 de
julho de 2007 as duas bolsas realizaram uma fusão adotando o nome de CME Group (CME
GROUP, 2009).
Desde então, a CME Group tornou-se a maior e mais diversificada bolsa do mundo,
oferecendo futuros e opções nos mais variados produtos de benchmark disponíveis, em
relação a qualquer outra bolsa do mundo. Em 2007, a CME Group teve um volume de
34

operações na ordem de 2,2 bilhões de contratos, equivalente a US$ 1,1 quatrilhões, sendo que
três quartos desses contratos foram executados eletronicamente. “Lastreada em uma rica
história de inovação, tendo sido o berço das operações no mercado futuro, a CME Group é
responsável por desenvolvimentos chave que formaram a base da presente indústria de
futuros” (CME GROUP, 2009, p. 5).
Devido ao interesse apresentado pelos compradores e vendedores de produtos na
bolsa, os contratos futuros expandiram-se alcançando a consolidação de uma série de opções
de contratos futuros referenciados em diversos ativos subjacentes, que incluem o milho, soja,
óleo de soja, farelo de soja, aveia, trigo, bônus e notas do Tesouro americano.
As principais funções econômicas de uma bolsa de futuros são gestão de riscos e
estabelecimento de preços. Estas funções são viabilizadas por um pregão e plataformas
operacionais que congregam compradores e vendedores. Para tanto, a bolsa estabelece e
impõe regulamentos para garantir a realização das operações em ambiente aberto e
competitivo. Desta forma, as operações de compra e venda são efetuadas por intermédio do
sistema eletrônico de ordens, tal como o CME Globex, ou em uma roda (pit) do pregão, em
leilão aberto (CME GROUP, 2009).
A CBOT é o lugar onde reúnem-se os maiores volumes de operações com soja no
mundo, mobilizando aproximadamente 14 vezes a produção mundial de soja (MARQUES et
al., 2006). Os contratos futuros podem ser negociados em sete vencimentos (Setembro,
Novembro, Janeiro, Março, Maio, Julho e Agosto) e cada contrato é referente a 5.000 bushels,
correspondente a 136,05 toneladas e são negociados em dólar/bushel (US$/Bs). Machado
(2010, p. 49) explica que estes vencimentos, além de serem utilizados nos contratos futuro,
“são referências para formação do preço do grão no mercado físico internacional, assim, os
preços da soja em grão do primeiro vencimento na bolsa mercantil de Chicago (CME) é
referência base para o preço físico da soja no mercado internacional”.
O funcionamento da Bolsa de Chicago está sob a égide de diversas leis impostas pelos
órgãos ligados ao assunto e subordinados ao governo norte-americano. Os contratos
celebrados na CBOT são padronizados, com preços estabelecidos, lugar de entrega, qualidade
da mercadoria a ser entregue e mês para a entrega da mercadoria. Todavia, como são papéis,
os contratos apenas representam quantidades de soja, pois no recinto da Bolsa não se
comercializa nada de produto físico, somente a compra e venda de contratos representando
soja (BRUM, 1983). O quadro 2 apresenta um resumo do contrato de soja negociado na Bolsa
de Chicago.
35

Todos interessados podem atuar na Bolsa de Chicago, isto é, os agricultores,


armazenadores, grandes empresas processadoras, especuladores, desde que sejam membros
diretamente da mesma. Eles o fazem através das corretoras que são ligadas ao mercado de
papéis, ou seja, a compra e venda de contratos de soja, e são especialistas na comercialização
desses papéis na bolsa. Estas empresas possuem clientes que são tanto comerciais quanto
especuladores e sobrevivem das comissões que cobram para realizar os negócios de tais
clientes (BRUM, 1983).

Quadro 2 – Contrato Futuro de Soja na CBOT.

Fonte: MARQUES et al., (2006).


36

Em relação aos especuladores, eles oferecem liquidez ao mercado, por possuírem a


habilidade de entrar e sair do mercado de maneira rápida, fácil e eficiente. Sua atração a esse
mercado se dá pela oportunidade de realizarem lucro, obviamente se conseguirem acertar ou
antecipar a direção do mercado e o momento das mudanças de preços. Mas quem são os
especuladores?

Os especuladores podem ser pessoas do público em geral, ou operadores


profissionais, isto é, membros de determinada bolsa operando através de uma
plataforma eletrônica, ou no próprio pregão da bolsa. Alguns membros da bolsa
demonstram notadamente o desejo de comprar ou vender mesmo na menor oscilação
de preço. Como consequência, vendedores e compradores podem entrar ou sair de
posições no mercado a um preço eficiente (CME GROUP, 2009).

Pela ampla comercialização internacional, a soja precisa de um preço para nortear o


mercado mundial (MACHADO, 2010). Assim, a bolsa de Chicago constitui-se a principal
referência do mercado e sua escolha está ancorada na grande concentração da oferta e
demanda dos principais países produtores e importadores da oleaginosa (MARGARIDO;
SOUSA, 1998; SILVA, 2005; MACHADO, 2010).
Como uma commodity3 agrícola, a produção de soja é destinada quase que
exclusivamente para o mercado externo (MACHADO, 2010). EUA, Brasil e Argentina são os
principais países produtores de soja, dominando aproximadamente 82% da produção mundial
da oleaginosa e 91% de suas exportações em 2012 (DERAL, 2012). Por outro lado, a China
importa aproximadamente 58 milhões de toneladas da oleaginosa e a União Europeia (UE)
com aproximadamente 11 milhões de toneladas de soja, as quais se destacam como os
maiores consumidores de soja do mundo (DERAL, 2012).
Os preços da soja praticados na Bolsa de Chicago possuem estreita relação com a
formação dos preços praticados no mercado interno de um país (BRUM, 2002; MACHADO,
2010). Assim, entende-se que a formação do preço da oleaginosa no mercado interno acontece
de fora para dentro, isto é, “[...] o preço do grão na região produtora depende em grande parte
da cotação internacional, a qual, por sua vez, depende da cotação da soja e seus derivados na
Bolsa de Chicago” (MACHADO, 2010, p. 48). O gráfico 7 apresenta a variação de preço da
soja em um determinado dia na Bolsa de Chicago.

3
Entendem-se como commodities mercadorias primárias não manufaturadas, ou parcialmente manufaturadas de
grande exposição no mercado. No mercado financeiro, uma commodity é utilizada para indicar um tipo de
produto, geralmente agrícola ou mineral, de grande importância econômica internacional porque é amplamente
negociada entre importadores e exportadores. Existem bolsas de mercadorias específicas para negociar
commodities. Neste sentido, pode-se considerar o complexo soja como uma commodity agrícola (MACHADO,
2010, p. 48).
37

Gráfico 7 – Cotações da soja em um dia na Bolsa de Chicago.

Fonte: CME Group (2013).

A formação do preço da soja no mercado interno está estritamente ligada ao primeiro


vencimento da soja na Bolsa de Chicago. Porém, sobre esta referência, os estudos de
Margarido e Sousa (1998) chegaram a conclusões importantes, evidenciando que as variações
das cotações da soja no mercado internacional não são integralmente repassadas aos preços
recebidos internamente pelos produtores de soja. As variações na Bolsa de Chicago são
transmitidas instantaneamente, sem defasagem temporal para os preços recebidos pelos
produtores de grão no Brasil, porém, apenas uma parcela desse total é transferida para os
preços internos recebidos pelos produtores, em torno de 70,57% do preço em Chicago.
Margarido e Sousa (1998, p. 59) explicam que a não transmissão plena das cotações
internacionais é provocada pelas estratégias adotadas pelas empresas esmagadoras de soja e
pelo custo Brasil.

Pode-se inferir que alguns fatores contribuem para a não transmissão plena das
cotações internacionais para os preços praticados no Brasil. Primeiramente, deve-se
considerar que as estratégias desenvolvidas pelas empresas esmagadoras de soja
causam certo impacto sobra a magnitude da transmissão de preços. Quando os
preços externos são vantajosos, as empresas tendem a exportar a soja em grãos e,
consequentemente, espera-se que a transmissão de preços internacional sobre os
preços domésticos seja mais intensa, independentemente do fato de o Brasil estar no
período de safra e/ou entressafra em relação aos Estados Unidos. Especificamente
no caso do período da entressafra brasileira, a transmissão de preços vai depender do
38

nível de utilização de capacidade da indústria esmagadora. Se o nível de utilização


da capacidade é elevada e existem estoques de soja em grão em poder das
cooperativas, então as indústrias vão demandar essa soja armazenada nas
cooperativas e como resultado espera-se que a transmissão de preços seja elevada.
Por outro lado, quando a utilização da capacidade instalada é baixa, espera-se que a
transmissão tenha pequena magnitude no período de entressafra. Outro fator
relacionado com o comportamento estratégico das empresas que pode afetar o nível
de elasticidade de transmissão internacional de preços sobre os preços internos
reside no fato de que, quando os preços internacionais estão em baixa, as empresas
vão deslocar parte da produção de soja para esmagamento objetivando a produção
de farelo e óleo para consumo doméstico e, nesse caso, espera-se que a elasticidade
da transmissão de preços externos sobre os preços domésticos seja atenuada. Há,
ainda, o custo Brasil, como a deficiência da infra-estrutura e atual política tributária,
que gera distorções nos valores praticados internamente.

Além da cotação na Bolsa de Chicago, a formação do preço do mercado interno sofre


influência de outros fatores determinantes, a saber: a taxa de câmbio, o prêmio no porto,
despesas alfandegárias, fretes e outras taxas.
A questão cambial possui forte influência na composição do preço da soja, visto que a
oleaginosa é um produto negociado internacionalmente, com seu preço cotado em dólar
(BRUM, 2002; MACHADO, 2010). Desta forma, o próximo assunto a ser abordado por este
estudo tratará da questão cambial.

2.6 TAXA DE CÂMBIO

Não obstante a descrição no senso comum de que a taxa de câmbio é o resultado da


conversão da moeda nacional em moeda estrangeira, é mister ressaltar a definição formal da
taxa de câmbio, apresentada por Carvalho e Silva (2007), que explica que a taxa de câmbio é
o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira.
A importância da taxa de câmbio para a economia reside na intermediação das
transações entre residentes e não-residentes de um país, isto é, o balanço de pagamentos sofre
influências da taxa de câmbio, afetando as exportações, importações, entradas de capitais
estrangeiros, rentabilidade de aplicações no exterior, volume de reservas, entre outros
(CARVALHO; SILVA, 2007).
Todavia, como são determinadas as taxas de câmbio? Existem inúmeros fatores
determinantes. Carvalho e Silva (2007) argumentam que um desses fatores é o regime
cambial adotado pela autoridade monetária de um país, com a finalidade de produzir efeitos
na economia e destacam dois tipos de regimes: o regime cambial livre ou flutuante e o regime
controlado ou fixo.
39

No tocante ao regime cambial flutuante, Zini Júnior (1996, p. 117) destaca que “a
economia mundial vive, desde 1973, sob um regime legal em que as principais taxas de
câmbio flutuam ao sabor dos determinantes do mercado”. Neste regime, o autor explica que o
Banco Central não intervém no mercado cambial, onde o mercado encontra seu equilíbrio no
dia-a-dia. Em outras palavras, o Banco Central permite que o mercado cambial estabeleça o
preço da moeda estrangeira.
No regime cambial fixo – que vigorou tanto em séculos passados (sistema ouro)
quanto no pós guerra conhecido como Bretton Woods (ZINI JÚNIOR, 1996) –, o Banco
Central determina o preço de uma moeda estrangeira em moeda nacional, onde todas as
transações envolvendo divisas com o exterior estarão sujeitas à taxa de câmbio fixa para a
conversão das moedas (CARVALHO; SILVA, 2007).
Outro regime cambial utilizado é o de bandas cambiais. O regime de bandas cambiais,
em princípio, estabelece uma taxa mínima de compra e outra máxima de venda. No caso do
Brasil, entre setembro de 1994 e janeiro de 1999, inicialmente, foi adotado o regime de
câmbio fixo, substituído pelo regime de bandas cambiais (MAIA, 2008).
Na prática, a maioria dos países não adota nem um regime cambial nem outro de
forma integral, mas adapta-os. A partir de 15 de janeiro de 1999, o mercado cambial brasileiro
sofre uma alteração em seu sistema, devido a ataques especulativos. A taxa de câmbio
administrada pelo Banco Central em regime de câmbio fixo foi substituída pelo regime
cambial flutuante “sujo”, onde a taxa de câmbio é determinada pelo mercado com
interferências do governo (MAIA, 2008; BRUM et al, 2010).
Sobre flutuação suja, Maia (2008, p. 150) explica que a taxa de câmbio livre ou
flutuante é “[...] aquela fixada pela oferta e procura. Ela se forma, portanto, dentro de um
mercado totalmente livre. A única intervenção do governo será comprar ou vender divisas,
quando a taxa atingir pontos preocupantes. Essa intervenção é conhecida por flutuação suja”
(grifos do autor). Mesmo com a adoção desse regime cambial, o Brasil não se isenta da
instabilidade cambial (BRUM, et al, 2010).
O gráfico 8 demonstra a variação do câmbio brasileiro em um determinado período,
sob o regime do câmbio flutuante. Observam-se as oscilações cambiais no período, do real em
relação ao dólar estadunidense, provocadas por esse regime, adotado pelo Brasil a partir de
1999.
40

Gráfico 8 – Cotação dólar entre 29/10 a 11/11/2014

Fonte: elaborado a partir de dados do Bacen (2014).

Maia (2008) destaca que existem forças no mercado que podem alterar a taxa de
câmbio e consequentemente o preço das mercadorias. Para esse autor, essas forças são
traduzidas pela especulação com moedas, pelo governo e pela taxa de juros4. Ou seja, assim
como o preço da soja, o preço do dólar frente ao real também é dado por um processo
especulativo.
As decisões tomadas pelo governo no sentido de alterar a taxa de câmbio visam a
preservação dos seus interesses. Todavia, determinadas decisões podem afetar as relações
comerciais entre os países, pois, dependendo das oscilações cambiais patrocinadas pelo
governo, certos setores da economia serão beneficiados, tanto na depreciação (estimula
exportação) quanto na apreciação da moeda (estimula a importação), como explica Rafi
(2001, p. 139):

A taxa cambial mede o valor externo da moeda. Fornece uma reação direta entre os
preços domésticos das mercadorias e fatores produtivos e dos preços destes nos
demais países. Com os preços nacionais e externos a um dado nível, um conjunto de

4
Especulação – interferência no mercado cambial através da compra e venda de moedas. Governo –
interferência no mercado cambial através de política cambial e compra e venda de moedas. Taxa de juros –
quando o governo altera a taxa de juros, ocorre a migração de capitais, que se movimentam de um país a outro à
procura de maior lucro (MAIA, 2008).
41

baixas taxas de câmbio prejudicará as exportações e estimulará as importações, o


que poderá provocar um déficit no balanço de pagamentos. Se, ao contrário,
tivermos taxas cambiais elevadas, as exportações serão estimuladas e as importações
desencorajadas, o que tenderá a provocar um superávit no balanço de pagamentos.

Em outras palavras, as depreciações da moeda nacional decorrente das interferências


do governo possuem o intuito de estimular as exportações. Neste caso, ocorre um aumento na
produção de produtos exportáveis, gerando empregos e estimulando a economia, além dos
exportadores obterem maiores resultados em moeda local.
Machado (2010, p. 51) explica que o câmbio constitui-se um dos elementos que mais
influenciam a formação do preço da soja no mercado interno, acarretando resultados positivos
ou negativos para o produtor brasileiro mais do que a própria cotação na bolsa de Chicago,
pois “há uma correlação positiva entre os preços da soja, cotado em dólar no mercado
internacional, e os preços no mercado interno. O fator cambial não influencia apenas no preço
FOB da soja, como também o valor do frete e as despesas portuárias”. Conforme este autor, o
frete sofre influências, pois o valor do combustível é influenciado pelo dólar, da mesma forma
as despesas portuárias, que são todas cotadas em dólar.
Outro elemento que Machado (2010) destaca é a taxa de corretagem cambial para o
agente financeiro, pois todo o processo que envolve transformação cambial exige o
pagamento dessa taxa. Para este autor, o caso da soja não é diferente, “[...] já que o seu valor
de nota no porto é em reais e sua exportação é calculada em dólares. Para cálculo de paridade
a taxa de corretagem cambial é de 0,1875% da receita bruta” (2010, p. 51).
Celso Ming (2004) explica em um artigo escrito para o jornal O Estado de São Paulo
que “fica complicado pretender uma desvalorização cambial com o objetivo de expandir as
exportações quando é a expansão das exportações que está derrubando o dólar”.
Aparentemente, há um problema, onde o efeito é a causa. Maia (2010) aponta para o fato de
que o Brasil está exportando muita matéria-prima, como minério de ferro, soja em grão, café
cru em grão, carne congelada, entre outros, que está provocando entrada de divisas em
grandes proporções, o que contribui para a elevação do superávit comercial.
As exportações brasileiras de matéria prima têm provocado a apreciação do real e
colaborado para dificultar as exportações de outros produtos, especialmente os manufaturados
(MAIA, 2010). Esta situação ocorreu na Holanda no final dos anos 1950 onde a exportação de
um produto prejudica a exportação de outro, e ficou conhecido como doença holandesa. O
país descobriu reservas de gás natural no Mar do Norte e anos mais tarde iniciou a exportação
42

do mesmo. Entretanto, a exportação do gás provocou um processo de desindustrialização do


país, acarretando prejuízos econômicos de grandes proporções. A exportação do gás (riqueza
natural) provocou a apreciação da taxa de câmbio devido a entrada de divisas internacionais.
A apreciação do câmbio provocou a desindustrialização, fenômeno que reduz a
competitividade do setor industrial nas exportações no mercado mundial. Assim, a
participação da indústria no PIB do país se reduz, provocando o recuo da participação do
emprego da indústria em relação ao emprego total gerado no país.
Bresser-Pereira (2010 p. 69) explica que a doença holandesa ou a maldição dos
recursos naturais

é uma sobre-apreciação crônica da taxa de câmbio que o mercado não controla


porque essa sobre-apreciação é compatível com o equilíbrio a longo prazo da conta
corrente do país. Ela decorre da produção e exportação de commodities que
utilizam recursos naturais abundantes e mais baratos do que nos outros países.
Como são muito baratos, sua lucratividade é compatível com uma taxa de câmbio
consideravelmente mais apreciada do que aquela necessária para as indústrias de
bens comercializáveis do país. Estas, ainda que utilizem tecnologia no
estado‐da‐arte mundial, ficam inviabilizadas pelo câmbio sobre-apreciado.

Em outras palavras, a doença holandesa consiste na falha de mercado que produz


efeitos negativos em outros setores de bens e serviços comercializáveis da economia ,
mesmo dotados de tecnologia avançada, gerando barreiras a esses setores quanto ao seu
crescimento.
43

3 METODOLOGIA

A pesquisa científica requer um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para


que seus objetivos sejam alcançados. Neste capítulo, serão abordados os aspectos
metodológicos referentes à pesquisa empírica.

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Em relação à pesquisa propriamente dita, a mesma pode ser definida como


exploratória e descritiva. Por intermédio da exploração, o objetivo é a busca de maior
familiaridade do pesquisador com o problema proposto, a fim de explicitá-lo ou conhecê-
lo, isto é, esclarecer algum conhecimento pouco explorado (GIL, 2010). Nesse caso,
analisar a influência da Bolsa de Chicago e do câmbio brasileiro na formação do preço
médio da soja praticado no Rio Grande do Sul.
Já a pesquisa descritiva tem por preocupação central a descrição das “[...]
características de determinada população. Podem ser elaboradas também com a
finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis” (GIL, 2010, p. 27). Nesse
caso, descrever e identificar as relações existentes entre a Bolsa de Chicago, o câmbio e a
formação do preço médio da soja praticado no RS.
Para analisar a evolução dos preços praticados na Bolsa de Chicago e do câmbio
no Brasil, e suas influências na formação do preço da soja no Rio Grande do Sul, se
adotou uma análise regrada pela abordagem qualitativa.
Em relação aos meios e procedimentos técnicos o estudo foi classificado como um
estudo bibliográfico, pois abrange em grande parte o referencial teórico já tornado público em
relação ao tema de estudo, como publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico e meios de comunicação orais
(LAKATOS; MARCONI, 2002).

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo e amostra têm por objetivo a definição da população e a população


amostral. População subentende-se por um “[...] conjunto de elementos (empresas,
44

produtos, pessoas, por exemplo) que possuem as características que serão o objeto de
estudo” (VERGARA, 2009, p. 46). A população amostral ou amostra compreende parte
do universo selecionado por determinado critério de representatividade (VERGARA,
2009). Neste estudo, o universo e a amostra são o banco de dados contendo as cotações
médias da soja em grãos, pagas aos produtores no mercado do Rio Grande do Sul,
anunciadas na Bolsa de Chicago e as cotações médias do dólar.

3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados se deu através do manuseio de banco de dados e de pesquisa


documental, constituindo-se de dados secundários. Os dados estão disponíveis através de
acesso eletrônico, via internet, nos bancos de dados do BACEN, EMATER, CBOT,
CONAB, EMBRAPA e CEEMA/UNIJUI. Os dados necessários à pesquisa foram
acessados e posteriormente compilados em planilhas eletrônicas e gráficos para as
respectivas análise e interpretações. A delimitação, agregação e organização dos dados
coletados permitiram organizar um corpo de análise.

3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

No modo operacional, após a coleta dos dados referentes aos preços praticados na
CBOT, da cotação do câmbio e do preço médio pago aos produtores de soja no Rio
Grande do Sul, foi realizado o cálculo do valor bruto da soja o qual foi confrontado ao
preço pago aos produtores (este, considerado como preço líquido). A diferença percentual
entre os dois designou o desconto existente entre um e outro preço, composto pelos
custos de comercialização e a margem de ganho das empresas compradoras da soja na
região (que definem o preço líquido a pagar ao produtor rural).
A média mensal dos preços oriundos das cotações da CBOT resulta de um cálculo
que transforma o bushel de soja (27,21 quilos) em tonelada métrica (1.000 quilos) e
posteriormente essa tonelada em saco de 60 quilos, unidade de medida utilizada pelo
produtor brasileiro em geral e gaúcho em particular. A transformação de bushel de soja
para tonelada métrica é feita via uma regra de três simples. Após, divide-se o valor da
tonelada por uma constante 16,6666 5 para se encontrar o valor de um saco de 60 quilos.

5
É a divisão de 1.000 kg, correspondente a 1 tonelada, por 60 kg, que corresponde a um saco de soja.
45

Após esse cálculo, se teve o valor de um saco de soja em dólares. O mesmo foi
transformado em reais. Nesse momento foi utilizado o valor médio mensal do real em
relação ao dólar dos EUA. O resultado encontrado foi o preço do saco de soja em reais,
em média mensal.
Os dados encontrados referentes aos preços praticados nas diferentes cotações
foram transformados em gráficos onde foi possível analisar qual a participação de cada
fator na formação do preço médio da soja praticado no Rio Grande do Sul e o motivo que
determinou as variações do preço interno em cada período. A partir da análise da
formação do preço médio da soja buscou-se identificar que elemento, entre a cotação de
Chicago e a variação cambial, teve maior influência na geração de renda e, por extensão,
na contribuição ao crescimento e desenvolvimento econômico do Estado gaúcho .
46

4 CÂMBIO INFLUI MAIS DO QUE OSCILAÇÕES DA BOLSA DE


CHICAGO: ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados levantados sobre o preço médio da soja no Rio Grande do Sul, no
período de 1999 (ano em que o Brasil adota o regime cambial flutuante) e 2013, mostrou que
o mesmo pode ser dividido em cinco momentos distintos, caracterizados por fortes oscilações
no preço da oleaginosa, conforme gráfico 9.

Gráfico 9 – Média semestral da soja no Rio Grande do Sul: em R$/saca de 60kg ao


produtor, do 1º semestre de 1999 ao 2º semestre de 2013.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014), EMATER (2014), Safras & Mercado
(2014).

O primeiro período se estabelece entre o 1º semestre de 1999 e o 1º semestre de 2004.


O segundo vai do 2º semestre de 2004 até o 1º semestre de 2006. O terceiro período se dá
entre o 2º semestre de 2006 e o 1º semestre de 2009. O quarto período vai do 2º semestre de
2009 ao 1º semestre de 2010. E o quinto período se situa entre o 2º semestre de 2010 e o 2º
semestre de 2013.
47

Para melhor visualizar a análise, apresenta-se a seguir um gráfico com as três variáveis
estudadas: preço médio pago ao produtor gaúcho em Reais; o preço médio da soja praticado
na Bolsa de Cereais de Chicago, transformado em Reais por saco de 60 quilos; e a média
semestral do câmbio praticado no Brasil em Reais/Dólar.

Gráfico 10 – Médias semestrais do preço da soja na Bolsa de Chicago, dos preços pagos
aos produtores gaúchos e do câmbio no Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014), EMATER (2014), Safras & Mercado
(2014).

4.1 – Forte influência do câmbio entre 1999 e 2004

Quanto ao primeiro período (cinco anos e meio) nota-se que o preço médio da soja
pago aos produtores gaúchos subiu 203,7%, havendo três momentos de altas mais
significativas: no ano de 2001 (40%); no ano de 2002 (68,5%) e entre o primeiro semestre de
2003 e o primeiro semestre de 2004 (25%). No conjunto do período o preço médio da soja no
balcão gaúcho passa de R$ 14,74 para R$ 44,76/saco.
Esse movimento foi causado particularmente por dois fatores: as cotações da soja em
Chicago e pela variação cambial (Real x Dólar) no Brasil.
Conforme o gráfico 11 verifica-se que o bushel de soja em Chicago dispara,
particularmente entre 2002 e 2004. O mesmo sai de US$ 4,63 no primeiro semestre de 2002
48

para US$ 9,12 no primeiro semestre de 2004, quase dobrando seu valor no período (97%).
Vale destacar ainda que entre 1999 e o primeiro semestre de 2002 a cotação da soja ficou
relativamente estável, cenário semelhante ao apresentado pelos preços médios praticados da
oleaginosa no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, a moeda brasileira sofre importante depreciação (94%) a partir de
janeiro de 1999, momento em que o país entra no sistema de câmbio flutuante. Assim, o Real
sai da média de R$ 1,75 por dólar no primeiro semestre de 1999 para R$ 3,40 no segundo
semestre de 2002. Deve-se levar em conta que houve uma aceleração da depreciação no ano
de 2002 (37,6%) por conta da grande instabilidade nas eleições presidenciais que elegeram,
pela primeira vez, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, na qual houve rumores de uma
mudança brusca na política econômica, fato que acabou não se confirmando posteriormente
(cf. gráfico 12). Esta incerteza no processo eleitoral provocou forte saída de divisas do país,
porém, passado o período eleitoral, o câmbio apresenta uma curva descendente, voltando aos
patamares anteriores.

Gráfico 11 – Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago: em bushel/saca


60kg, do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
49

Acredita-se que esse movimento cambial foi responsável por aproximadamente 160%
do aumento do preço gaúcho da soja no primeiro período analisado, já que entre 1999 e 2002
Chicago apresentou um aumento de apenas 16,5%. Por sua vez, entre o primeiro semestre de
2003 até o final do período analisado (1º semestre de 2004) o Real se aprecia 12,6%, jogando
negativamente na formação do preço da soja aos produtores gaúchos. A moeda nacional passa
de R$ 3,40 para R$ 2,97. Tal movimento é compensado pela forte elevação do bushel da soja
em Chicago. O mesmo passa de US$ 5,64 no segundo semestre de 2002 para US$ 9,12 no
primeiro semestre de 2004, ou seja, uma alta de 61,7%. Nesse mesmo momento o preço da
soja ao produtor gaúcho subiu 16,6%, para se fixar em R$ 44,76/saco na média do primeiro
semestre de 2004. Ou seja, o efeito negativo da apreciação do Real não permitiu que a forte
valorização do bushel em Chicago fosse repassada em boa parte para o produtor de soja do
Rio Grande do Sul.

Gráfico 12 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 1999 ao 1º semestre de 2004.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

A razão pela qual ocorreu forte depreciação do real frente ao dólar, no primeiro
período, foi a adoção do regime cambial pelo governo em janeiro de 1999, onde a cotação do
50

dólar passou a ser formada pelas forças do mercado. A depreciação do Real pós 1999
favoreceu aos produtores de soja no Rio Grande do Sul, mesmo que as cotações na Bolsa de
Chicago mantiveram-se estáveis, com pequena desvalorização no período.
Outra razão que favoreceu a desvalorização do Real foi a crise argentina em 2001, que
afetou o mercado brasileiro, quando o governo argentino decretou moratória de sua dívida que
alcançava US$ 100 bilhões. Esta decisão abalou a confiança dos investidores, afugentou as
empresas estrangeiras e criou dificuldades para o país conseguir empréstimos internacionais.
Neste período a economia argentina estava ligada ao câmbio fixo, quando um peso valia um
dólar.
Somado a estes fatores, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 causaram
instabilidade na economia brasileira e mundial. O PIB americano esfria influenciado pela
queda da produção, do consumo e o aumento do desemprego. Países europeus, asiáticos e
emergentes como o Brasil também têm suas economias enfraquecidas, crescendo menos que o
esperado. Em represália aos ataques terroristas de 11 de setembro, em 2003 os Estados
Unidos iniciam um conflito militar com o Iraque, o que provocou reflexos no mercado
internacional de petróleo que, por sua vez, afetou o mercado de commodities, incluindo a soja.

4.2 – Real forte derruba os preços da soja no Rio Grande do Sul

O segundo período da evolução dos preços da soja no Rio Grande do Sul se dá entre 2º
semestre de 2004 até o 1º semestre de 2006. Nesse período os preços da soja praticados no
Rio Grande do Sul iniciam uma curva descendente que se estende até o 1º semestre de 2006,
chegando R$ 23,05/saco. Ou seja, o recuo é de 48,5% em relação ao auge alcançado no
primeiro semestre de 2004.
Nesse momento, tanto as cotações em Chicago quanto o câmbio no Brasil jogam
desfavoravelmente para a formação do preço ao produtor gaúcho. No caso de Chicago, o
bushel recua de US$ 9,12 na média do primeiro semestre de 2004 para US$ 5,82 no primeiro
semestre de 2006, sendo que o grande recuo se dá no segundo semestre de 2004 (34,9%),
conforme o gráfico 13.
51

Gráfico 13 - Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago: em bushel/saca


60kg, do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).

Além da especulação dos Fundos na Bolsa de Chicago, a queda dos preços da soja a
partir do 1º semestre de 2004 sofre influência da gripe aviária que se alastrou por 10 países
asiáticos, obrigando o abate de aproximadamente 100 milhões de aves, reduzindo o consumo
de farelo de soja e milho, matérias-primas da ração animal.
As cotações da oleaginosa em Chicago continuaram oscilando negativamente no ano
de 2005. Este recuo nos preços foi influenciado, também, pela safra cheia confirmada nos
Estados Unidos, que registrou uma colheita de 85,5 milhões de toneladas em
setembro/outubro de 2004. Igualmente a tendência de uma safra cheia na América do Sul
auxiliou no processo. No Brasil, a produção de soja de 2005 foi atingida por seca que se
abateu especialmente nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, fato que alterou
momentaneamente as cotações internacionais da soja.
Por sua vez, o câmbio no Brasil assiste a uma apreciação do Real de 26,3% em relação
ao dólar, com o mesmo fechando o primeiro semestre de 2006 em R$ 2,19 por dólar,
conforme mostra o gráfico 14.
52

Gráfico 14 – Taxa de câmbio a partir do 1º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2006.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

Assim, no ano de 2004, grande parte do recuo nos preços da soja gaúcha se deu em
função da forte queda em Chicago, já que o Real, na oportunidade, se apreciou em apenas 3%
em termos médios. A partir daí, enquanto as cotações da soja se estabilizaram até o primeiro
semestre de 2006, o Real se apreciou consideráveis 24%, sendo responsável pela queda de
30,5% no preço da soja paga ao produtor gaúcho entre o segundo semestre de 2004 e o
primeiro de 2006.
A forte apreciação do Real frente ao dólar está ligada à recuperação da economia
brasileira que apresentou, em 2004, um PIB de 5,7%, com geração de empregos batendo
recorde e sinais de que a inflação, embora acima da meta, começasse a desacelerar. Somado a
isto, a economia dos países da União Europeia e a China apresentaram desempenhos
satisfatórios.

4.3 – Cotações do preço da soja na Bolsa garantem bom preço aos produtores

O terceiro período analisado compreende o 2º semestre de 2006 e se estende até o 1º


semestre de 2009. Neste ínterim, os preços médios da soja praticados no Rio Grande do Sul
53

avançam de maneira significativa, isto é, apresentam uma curva ascendente a qual revela um
crescimento de 89,6%, com preços que variam entre R$ 23,05/saco no início do período,
alcançando o patamar de R$ 45,70/saco no final do mesmo, retomando o pico alcançado no
primeiro semestre de 2004.
O grande fator que contribuiu para o avanço dos preços médios da oleaginosa no Rio
Grande do Sul foi a elevação das cotações da soja na Bolsa de Chicago, ao mesmo tempo em
que a cotação do Real apresentava forte apreciação. Em Chicago a cotação passa de US$
5,82/bushel para o recorde histórico de US$ 13,56 no primeiro semestre de 2008,
representando uma valorização de 133% (cf. gráfico 15).

Gráfico 15 - Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago: em bushel/saca


60kg, do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).

Todavia, os preços na Bolsa recuam a partir de 2008, isto é, iniciando uma curva
descendente que vai até o final do primeiro semestre de 2009. Nesse momento, a cotação da
oleaginosa cai para US$ 10,35/bushel, ou seja, perde 23,7%.
Por sua vez, o Real inicia o terceiro período em franca apreciação, com a mesma
registrando 21,3% (de R$ 2,19 para R$ 1,70) entre o primeiro semestre de 2006 e o primeiro
54

de 2008. A partir de então, a moeda brasileira retoma sua depreciação, voltando ao patamar de
R$ 2,19 na média do primeiro semestre de 2009 (cf. gráfico 16).

Gráfico 16 - Variação cambial a partir do 1º semestre de 2006 ao 1º semestre de 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

Assim, o saco de soja ao produtor gaúcho tem seu preço em elevação, num primeiro
momento, graças ao comportamento altista de Chicago. Posteriormente, tal preço se mantém
graças a depreciação do Real, a qual compensa o recuo das cotações do bushel naquela Bolsa.
Esta depreciação do Real frente ao dólar apresentada no início de 2008 é reflexo da
crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que levou à falência do banco de
investimentos Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008 e afetou profundamente a
economia mundial, caracterizando a maior crise econômica mundial desde 1929. A partir daí,
ocorre o congelamento do sistema financeiro mundial e os preços dos ativos despencam
levando vários países à recessão nos anos seguintes.
Assim, a elevação dos preços da oleaginosa no Rio Grande do Sul (89,6%) foi
favorecida, em primeira instância, pela curva ascendente dos preços praticados na Bolsa de
Chicago até o primeiro semestre de 2008, quando o bushel ganhou 133%. Posteriormente, o
bushel perde 23,7%, se estabelecendo em US$ 10,35/bushel, porém, tal impacto é
compensado pela depreciação de 28,8% do Real, no mesmo período.
55

Dito de outra maneira, se por um lado, durante esse início de crise mundial, os preços
médios pagos aos produtores gaúchos oscilaram positivamente influenciados pelas cotações
em Chicago, e não pela cotação cambial, a partir de 2008 ocorre o efeito inverso. O que o
gráfico 9 torna visível é que no primeiro semestre daquele ano o preço médio pago aos
produtores chegou ao valor de R$ 43,48/saco, permanecendo estável no semestre seguinte,
inclusive apresentando uma variação positiva (5,1%) no primeiro semestre de 2009 quando
atingiu o valor de R$ 45,70/saco.

4.4 – Apreciação do Real reduz o preço da soja no Rio Grande do Sul

O quarto período, que se situa entre o segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre
de 2010, é marcado pela queda acentuada nos preços médios pagos aos produtores no Rio
Grande do Sul, conforme revela o gráfico 9. Tais preços recuam 23%, passando de R$ 45,70
para R$ 35,17/saco.
Essa queda nos preços médios da soja gaúcha sofre influência das cotações na Bolsa
de Chicago, pois as mesmas mantiveram seu processo de recuo iniciado no primeiro semestre
de 2008. Assim, no quarto período o bushel de soja perde 7,6%, recuando de US$ 10,35 para
US$ 9,56 (cf. gráfico 17).

Gráfico 17 - Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago: em bushel/saca


60kg, do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
56

Ocorre que, nesse espaço de tempo, igualmente, o Real voltou a se apreciar,


eliminando as vantagens cambiais que os produtores gaúchos tiveram no final do terceiro
período. Assim, não pode ser surpresa o recuo do preço da soja no mercado gaúcho. Entre
2009 e 2010 a moeda brasileira se aprecia em 17,8% frente ao dólar (cf. gráfico 18). A
cotação média do Real, que no 1º semestre de 2009 foi de R$ 2,19, passa a R$ 1,80 no 1º
semestre de 2010.

Gráfico 18 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2009 ao 1º semestre de 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

Desta forma, enquanto em 2008, após a eclosão da crise mundial, o câmbio foi fator
decisivo para a manutenção e mesmo elevação dos preços da soja, no quarto período se
observa que o câmbio, com a apreciação do Real em 17,8%, teve bem mais impacto no recuo
de 23% nos preços da soja gaúcha, pois na mesma oportunidade o bushel de soja, em
Chicago, recuou apenas 7,6%.
A variação cambial que ocorre entre o 1º semestre de 2009 e o 1º semestre de 2011,
quando se verifica uma apreciação do Real frente ao dólar, em grande parte se dá em função
de o país tornar-se credor internacional, com a soma dos ativos superando a dívida externa.
Nesse momento o Brasil ganha o grau de investimento pelas agências de risco internacionais.
57

Tais agências melhoram a nota de risco brasileira, o que atrai recursos estrangeiros ao país,
iniciando um processo de apreciação do Real em relação ao dólar.

4.5 – Cotações altistas da soja na Bolsa asseguram bons preços aos produtores gaúchos

O quinto e último período se caracteriza pela elevação praticamente constante dos


preços da soja ao produtor gaúcho. O mesmo se inicia no 2º semestre de 2010 e se estende até
o 2º semestre de 2013.
Os preços da soja gaúcha no período se valorizam 83,9%, atingindo a média de R$
64,68/saco no segundo semestre de 2013, após o recorde nominal de R$ 68,32/saco registrado
no segundo semestre de 2012.
Esse movimento encontrou forte apoio da importante reação das cotações da soja em
Chicago. Em termos gráficos, o movimento do preço da soja no mercado gaúcho é muito
semelhante ao ocorrido em Chicago no período.
Assim, a média do primeiro semestre de 2010, que era de US$ 9,56/bushel, passa para
US$ 13,70 um ano após, atingindo o recorde de US$ 15,79/bushel no segundo semestre de
2012. No total deste movimento a expansão foi de 65% nas cotações em Chicago (cf. gráfico
19). Posteriormente, o bushel volta a recuar, perdendo 14,2% no ano de 2013. Todavia, os
preços da soja no Rio Grande do Sul, que chegaram a recuar para R$ 57,52/saco na média do
primeiro semestre de 2013, voltam a subir, fechando o segundo semestre deste último ano em
R$ 64,68/saco.
Enquanto isso, o câmbio no quinto período, após uma pequena apreciação do Real
(9,4%) entre 2010 e 2011, volta a se depreciar significativamente, passando de R$ 1,63 para
R$ 2,28 por dólar, ou seja, 26,7% (cf. gráfico 20).
Desta forma, os preços da soja gaúcha no quinto período foram favorecidos por um
movimento positivo dos dois fatores aqui analisados. Tais preços subiram 83,9% no período,
com picos ainda mais expressivos em alguns momentos, enquanto o bushel de soja se
valorizou 41,7%, porém, igualmente com picos mais importantes em alguns momentos, e o
Real se depreciou 26,7% ponta a ponta. Aqui, o movimento altista de Chicago foi mais
relevante do que o câmbio para a elevação dos preços da soja no Rio Grande do Sul. Parte
disso se deve à frustração da safra gaúcha de 2012.
58

Gráfico 19 - Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago: em bushel/saca


60kg, do 1º semestre de 2010 ao 2º semestre de 2013.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercados (2014).

De fato, ocorreu nos estados do Sul do Brasil uma forte seca no ano de 2012. Nesse
ano, o Rio Grande do Sul registrou a maior frustração em relação aos outros estados, com
uma quebra de 43,8% em relação ao ano anterior, produzindo apenas 6,53 milhões de
toneladas. Em Santa Catarina, a quebra foi de 27,2% (produção de 1,08 milhão de toneladas)
enquanto o Paraná perdeu 29,1%, produzindo 10,9 milhões de toneladas. No total, o Sul do
Brasil perdeu 35% de sua produção de soja naquele ano, fato que influiu igualmente na
formação do preço interno do produto. Ou seja, os preços dispararam influenciados pelas
cotações em Chicago, pelo Real depreciado, mas também pela forte concorrência patrocinada
pelas empresas cerealistas que tinham que honrar seus contratos acordados junto às grandes
corporações detentoras de insumos agrícolas e passaram a elevar os preços internos da
oleaginosa para além dos efeitos provocados pelos dois outros fatores aqui analisados.
59

Gráfico 20 – Variação cambial a partir do 1º semestre de 2010 ao 2º semestre de 2013.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

A apreciação do Real frente ao dólar, por sua vez, que se estende até o primeiro
semestre de 2011, é interrompida pela guerra cambial travada entre os principais países da
economia mundial. A desvalorização de moedas é alvo de vários debates, quando vários
países, ao buscarem resolver seus problemas internos motivados pela crise de 2007/08,
desvalorizaram suas moedas para alcançar maior competitividade de seus produtos no
mercado internacional. Um dos primeiros países a iniciar tal processo foi a China, acusada de
deixar o iuan mais fraco do que deveria. Os Estados Unidos sofreram a mesma acusação no
final de 2010, quando o Federal Reserve anunciou uma injeção de US$ 600 bilhões na
economia. Neste mesmo ano o Brasil, que após iniciar o ano com a menor taxa de juros
(Selic) desde 1999, eleva em janeiro a Selic de 8,75% para 10,75% ao ano, com o pretexto de
manter a inflação sob controle, conquistando o título de campeão em taxa de juros reais (taxa
nominal descontada a inflação). Esses fatos estimulam a depreciação do Real, a qual segue até
o final de 2013, o que contribuiu para a manutenção em elevação dos preços da soja no
mercado interno.
60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as principais variáveis que definem o preço da soja aos produtores rurais
brasileiros em geral e gaúchos em particular tem-se as cotações da oleaginosa na Bolsa de
Chicago e a variação da taxa de câmbio. Este estudo buscou apresentar e detectar quais destas
duas variáveis mais influenciaram a formação do preço médio da soja praticado no Rio
Grande do Sul entre 1999 e 2013. Os dados coletados e analisados permitiram identificar
cinco períodos distintos na evolução dos preços médios praticados no Rio Grande do Sul sob
influência das cotações em Chicago e do câmbio.
Por ser um produto de ampla comercialização internacional, a soja é orientada por um
preço formado no contexto da oferta e demanda mundial. Assim, a Bolsa de Chicago se
constitui a referência principal no mercado internacional para a formação do preço da soja,
pelo volume de contratos ali celebrados entre os participantes e particularmente pela liquidez
que a mesma oferece. A Bolsa não possui a função de estabelecimento de preços e sim é uma
instituição que proporciona um encontro entre compradores e vendedores, no qual se
estabelece o preço formado por forças do mercado, particularmente entre agentes do mercado,
produtores e compradores da oleaginosa. Seu principal objetivo é proporcionar esse encontro
com regulamentos e procedimentos estabelecidos para garantir a realização das operações em
ambiente aberto e competitivo, consolidando a função econômica de gestão de riscos.
Como observado anteriormente, o produtor de soja é apenas um tomador de preços, isto
é, não consegue alterar o preço do seu produto (exceto por intermédio de determinadas
estratégias de comercialização) já que sua opção de vender ou não seu produto não alcança
volume significativo para a alteração dos preços no mercado mundial. Não conseguindo
alterar o preço da oleaginosa, o produtor passa a estar sob o risco das variações, tanto
positivas quanto negativas, no preço da soja praticado na Bolsa de Chicago, deixando este
estabelecimento de preços nas mãos das grandes empresas multinacionais do setor, dos
especuladores e dos Fundos de Pensões que operam na Bolsa. Além disso, um dos problemas
enfrentados é a existência, no meio especulativo, de muitos manipuladores de preços, via
informações nem sempre confiáveis. Isso provoca oscilações de preços ainda mais agudas,
penalizando os agentes de mercado que trabalham efetivamente com o produto físico, em
particular os produtores rurais. Por ser um sistema que exige muita reserva monetária por
parte dos operadores, assim como um volume razoável de produto para ser compensador, os
produtores gaúchos, por serem em sua maioria pequenos e médios, raramente operam
61

diretamente em Chicago. Na grande maioria dos casos encontram-se operações feitas por suas
cooperativas de produção. Em síntese, o produtor rural gaúcho pouco atua na Bolsa de
Chicago, porém, tem o preço de seu produto sob forte influência das oscilações das cotações
registradas diariamente nessa Bolsa.
Essa realidade ficou evidente nas flutuações dos preços da soja demonstradas nos
gráficos dos preços médios semestrais praticados na Bolsa de Chicago em diversos momentos
do período analisado. Afinal, entre 1999 e 2013 o bushel de soja variou de um mínimo abaixo
de US$ 5,00 até um máximo ao redor de US$ 16,00. Obviamente, como foi visto neste
trabalho, no período em questão houve recuos importantes no preço do bushel.
As oscilações apresentadas pelos preços na Bolsa de Chicago são motivadas por
diversos fatores importantes, a saber: os estoques mundiais da oleaginosa, as expectativas da
área plantada, volume de produção da soja nos principais países produtores do grão, tais como
EUA, Brasil, Argentina, China, Paraguai, as previsões de estiagens ou de períodos de intensas
chuvas que provocariam frustrações da safra, os incentivos econômicos oferecidos pelos
governos desses países produtores, além da expectativa de compra do grão dos principais
países consumidores da oleaginosa, como a China e países da União Europeia. Há que se
levar em conta outros fatores, como a exportação de óleo e farelo, derivados do grão, e os
mercados do milho e do petróleo que afetam profundamente o mercado internacional da soja.
Os mais beneficiados neste mercado volátil são os especuladores, justamente por
oferecerem liquidez ao mercado, e por terem a habilidade de entrar e sair do mercado de
maneira rápida e eficiente. Seu objetivo é apenas a oportunidade de lucro, conseguindo
através de suas habilidades de acertar e se antecipar às direções do mercado e na mudança de
preços.
Outro fator que contribuiu para a formação do preço médio da soja praticado no Rio
Grande do Sul é o câmbio. Visto que o preço da soja é cotado em dólares na Bolsa de
Chicago, os preços da oleaginosa sofrem alterações na sua formação no mercado interno, pois
devem ser convertidos de dólares para reais.
Ao se analisar os gráficos apresentados neste trabalho se pode observar que o câmbio
passa a ser um dos elementos que mais influenciam a formação do preço da soja no mercado
interno. No período estudado, o câmbio teve mais influência nos preços da soja gaúcha do que
as próprias oscilações das cotações em Chicago. Tal constatação corrobora o encontrado em
Machado (2010, p. 51), pois há uma correlação positiva entre os preços da soja, cotado em
dólar no mercado internacional, e os preços no mercado interno. Além disso, o fator cambial
62

influencia igualmente os custos de comercialização, tais como o frete, as despesas portuárias e


as taxas de corretagem, já que as mesmas são cotadas em dólares.
Enfim, fica como sugestão para futuros trabalhos o aprofundamento da análise de
maneira a se quantificar, com mais objetividade, o quanto cada uma destas variáveis (Bolsa de
Chicago e câmbio) modifica os preços da soja no Brasil no período estudado, assim como
incluir na análise o peso do prêmio no porto e dos descontos (custos e margens de ganho) que
as empresas compradoras aplicam sobre a soja adquirida junto ao produtor rural nacional em
geral e gaúcho em particular.
63

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67

APÊNDICES
68

Apêndice A – Tabela dos Preços Médios Semestrais da Soja pago aos Produtores do Rio
Grande do Sul

Preços Médios Semestrais da Soja


Ano Semestre Média Preço
1999 1º Sem R$ 14,74
2º Sem R$ 17,39
2000 1º Sem R$ 17,48
2º Sem R$ 17,33
2001 1º Sem R$ 18,00
2º Sem R$ 25,21
2002 1º Sem R$ 22,77
2º Sem R$ 38,37
2003 1º Sem R$ 35,82
2º Sem R$ 37,94
2004 1º Sem R$ 44,76
2º Sem R$ 33,21
2005 1º Sem R$ 29,62
2º Sem R$ 25,82
2006 1º Sem R$ 23,05
2º Sem R$ 24,10
2007 1º Sem R$ 27,34
2º Sem R$ 33,41
2008 1º Sem R$ 43,48
2º Sem R$ 43,50
2009 1º Sem R$ 45,70
2º Sem R$ 42,26
2010 1º Sem R$ 35,17
2º Sem R$ 39,42
2011 1º Sem R$ 43,19
2º Sem R$ 42,13
2012 1º Sem R$ 49,60
2º Sem R$ 68,32
2013 1º Sem R$ 57,52
2º Sem R$ 64,68
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014), EMATER (2014),
Safras & Mercado (2014).
69

Apêndice B - Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago.

Preços médios semestrais da soja na Bolsa de Chicago (em bushel/saco 60 quilos)


Ano Semestre Média Preço
1999 1º Sem USS 4,84
2º Sem USS 4,67
2000 1º Sem USS 5,18
2º Sem USS 4,78
2001 1º Sem USS 4,53
2º Sem USS 4,65
2002 1º Sem USS 4,63
2º Sem USS 5,64
2003 1º Sem USS 5,95
2º Sem USS 6,74
2004 1º Sem USS 9,12
2º Sem USS 5,94
2005 1º Sem USS 6,09
2º Sem USS 6,05
2006 1º Sem USS 5,82
2º Sem USS 6,01
2007 1º Sem USS 7,56
2º Sem USS 9,71
2008 1º Sem USS 13,56
2º Sem USS 11,07
2009 1º Sem USS 10,35
2º Sem USS 10,26
2010 1º Sem USS 9,56
2º Sem USS 11,39
2011 1º Sem USS 13,70
2º Sem USS 12,65
2012 1º Sem USS 13,48
2º Sem USS 15,79
2013 1º Sem USS 14,60
2º Sem USS 13,55
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da CEEMA (2014) e Safras & Mercado (2014).
70

Apêndice C - Cotações Médias Semestrais do Câmbio (R$/Dólar)

Cotação Média Semestral do Câmbio entre 1999 a 2013


Ano Semestre Média Câmbio
1999 1º Sem R$ 1,75
2º Sem R$ 1,89
2000 1º Sem R$ 1,80
2º Sem R$ 1,87
2001 1º Sem R$ 2,13
2º Sem R$ 2,55
2002 1º Sem R$ 2,47
2º Sem R$ 3,40
2003 1º Sem R$ 3,24
2º Sem R$ 2,92
2004 1º Sem R$ 2,97
2º Sem R$ 2,88
2005 1º Sem R$ 2,57
2º Sem R$ 2,30
2006 1º Sem R$ 2,19
2º Sem R$ 2,16
2007 1º Sem R$ 2,04
2º Sem R$ 1,85
2008 1º Sem R$ 1,70
2º Sem R$ 1,97
2009 1º Sem R$ 2,19
2º Sem R$ 1,80
2010 1º Sem R$ 1,80
2º Sem R$ 1,72
2011 1º Sem R$ 1,63
2º Sem R$ 1,72
2012 1º Sem R$ 1,87
2º Sem R$ 2,04
2013 1º Sem R$ 2,03
2º Sem R$ 2,28
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Bacen (2014).

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