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VAI, E FAZE DA MESMA MANEIRA

A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO E O GRAU DE


COMPANHEIRO MAÇOM
Domingos Léo Monteiro
VAI, E FAZE DA MESMA MANEIRA: A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO E O
GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM

Domingos Léo Monteiro


Mestre Maçom

RESUMO

O Grau de Companheiro Maçom é tido por alguns estudiosos da Maçonaria como o


grau mais importante para a compreensão da filosofia da Ordem Maçônica Universal, já que
na fase inicial da instituição – aquela em que os trabalhos maçônicos eram realizados de
forma prática e operativa – era o ápice da trajetória profissional a que poderia chegar um
aprendiz, cabendo a um dos companheiros mais experimentados e experientes a direção dos
trabalhos no canteiro de obras, como Mestre Construtor ou ainda, proprietário da Guilda.

O presente estudo pretende aplicar os ensinamentos contidos na “parábola do bom


samaritano” (Lc 10:25-37) fazendo uma analogia com alguns aspectos doutrinários e
filosóficos contidos no Grau de Companheiro Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito.

A inspiração para a abordagem, veio do estandarte da Loja Maçônica Colston, fundada


em 28 de fevereiro de 1853, na cidade de Bristol, localizada no sudoeste da Inglaterra, que
contém a frase que está no versículo 37: “Vai, e faze da mesma maneira”.

Palavras-chave: Companheiro Maçom. Amor fraternal. Beneficência. Sensibilidade. Serviço.

A parábola do bom samaritano


25. Levantou-se certo mestre da Lei e, querendo provar Jesus,
perguntou-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26. Jesus lhe respondeu: O que está escrito na lei? Como lês?
27. Respondeu-lhe o homem: Amarás ao Senhor, o teu Deus, de todo
o teu coração, de toda a tua alma, de todas as suas forças e de todo o
teu entendimento, e ao seu próximo como a ti mesmo.
28. Então Jesus lhe disse: Respondeste bem. Faze isto e viverás.
29. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E
quem é o meu próximo?
30. Respondeu-lhe Jesus: Descia um homem de Jerusalém para Jericó
e caiu nas mãos dos assaltantes, os quais o roubaram e, espancando-
o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31. Casualmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote que,
vendo-o, passou distante.
32. De igual modo, também um levita chegou àquele lugar e, vendo-o,
passou distante.
33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele, viu-o
e moveu-se de compaixão.
34. Aproximando-se, enfaixou-lhe as feridas, colocando-lhes azeites e
vinho. Então colocando-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma
hospedaria e cuidou dele.
35. Partindo no outro dia, tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro,
e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares com ele eu te
pagarei quando voltar.
36. Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas
mãos dos assaltantes?
37. Ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse Jesus:
Vai, e faze da mesma maneira.
O Grau de Companheiro Maçom é considerado por alguns estudiosos da
Maçonaria, como o grau mais importante da Ordem, em virtude dos estudos que
podem ser desenvolvidos tomando-se como base os instrumentos de trabalho
utilizados
Na por
Maçonaria
um Companheiro.
Operativa, assim chamado o período histórico em que a Ordem
Maçônica incumbia-se de realizar os trabalhos de construção de templos, catedrais,
palácios e outros edifícios, é consenso que havia somente dois níveis de trabalhadores,
ou antes, dois graus de conhecimento do ofício: aprendizes e companheiros, cabendo a
um dos companheiros mais experimentado e experiente, a direção dos trabalhos da
Guilda, na qualidade de Mestre das obras, ou ainda, como proprietário e/ou contratante
dos demais trabalhadores maçons.
Portanto, os fundamentos contidos nos ensinamentos do segundo grau, são uma
síntese histórica e doutrinária do período original da Maçonaria. Neste grau, somos
instruídos para conhecer profundamente as virtudes cardinais, as artes liberais e as
ciências e, o Maçom que deseja conhecer o mundo – tanto profano, quanto maçônico –
deve em primeiro lugar, buscar conhecer a si mesmo, deve estudar e buscar o
aperfeiçoamento moral e intelectual de que tratamos em Loja.
O ritual do grau, em determinado momento, questiona o Maçom que se
encontra em nível de companheirismo, sobre os ensinamentos obtidos e o irmão
questionado informa que foi instruído a servir-se dos instrumentos precisos para
transformar a P B em P C, “talhada de acordo com as exigências da Arte”,
ou seja, trabalhando da forma como fizeram antes dele, ou ainda, da mesma maneira
que seusÉ predecessores
esse o chamado fizeram,
ao qual
da deve
mesmaresponder
maneira.afirmativamente o Maçom elevado
ao Grau de Companheiro, pois, passando da P ao N, a Ordem Maçônica também
lhe diz: “vai, e faze da mesma maneira”, assim como o Cristo ensinou na parábola do
“bom samaritano”, ou seja: trabalhe como os que lhe antecederam para que possa
chegar aoPara
mestrado
se desincumbir
maçônico.de tarefa tão nobre, o Maçom Companheiro dispõe a
princípio, do Maç, do Cinz, da Rég, do Comp, da Alav e do Esq. Com
esses instrumentos, poderá buscar através do seu trabalho, não somente aspirar tornar-
se Mestre Maçom, mas também auxiliar na instrução dos aprendizes e na sua própria,
esta realizada através de árduo trabalho moral, intelectual e material.
O Companheiro poderá traçar linhas retas, buscar traçados diferenciados,
transitar eventualmente pelo espaço “abstrato” e não somente pelos caminhos
limitados da “realidade concreta”. Deve estar consciente de que quando há uma
vontade inflexível, seus poderes para materializar suas próprias aspirações são
irresistíveis, entretanto, consciente também de que “a vontade só é invencível quando
posta aNeste
serviçoponto,
do direito
busquemos
absoluto”.
os ensinamentos contidos na parábola bíblica do “bom
samaritano” e tracemos as linhas de ligação entre ela e a nossa Ordem.
A parábola nos mostra “certo mestre da Lei”, que, “querendo provar Jesus”,
ou seja, questionar seus conhecimentos, seus ensinamentos e inquirindo-o de maneira
provocativa, “perguntou-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”.
Ao questionamento formulado, Jesus dá interessante resposta, já que devolve o
questionamento com outro: “O que está escrito na lei? Como lês?”; ou seja: como
você lê (entende) o que está escrito na lei, nas regras e nos ensinamentos? Como você
interpreta por livre investigação e busca da verdade?
Cristo diante do questionamento formulado age de forma a provocar no interlocutor
uma reflexão para que dela possa surgir uma ação efetiva a responder a dúvida apresentada.
No âmbito maçônico, podemos dizer que, especificamente quanto ao trabalho do
Companheiro Maçom, a transformação da P B em P C ocorrerá como resultado dos
esforços do trabalho de aplicação do Maç sobre o Cinz de forma constante,
perseverante, persistente.
O próprio ritual do grau já nos ensina que “nossa vida consiste na ação, na luta contra
todos os obstáculos, no trabalho penoso, mas perseverante, empreendido por um ideal a
realizar. O esforço, sofrimento provado, é o prêmio da vida, cujas alegrias são exatamente
proporcionais às ações empregadas para possuí-las”.
Na sequência do diálogo filosófico travado entre Jesus Cristo e o “mestre da lei”, este
responde ao Mestre dos Mestres sobre a interpretação que faz da Sagrada Lei: “Amarás ao
Senhor, o teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de
todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo”.
Essa passagem nos mostra que, tão importante quanto o “sentir” (coração e alma) e o
“viver” (força), é também a compreensão e o estudo (entendimento) que nos levam a exercitar
a busca pela verdade, a liberdade para investigar e especular – apanágios centrais da
Maçonaria – chamada atualmente como especulativa, porém, melhor definida como
investigativa ou moderna.
Além disso, devemos proceder com o próximo como procedemos conosco, ou seja, o
Companheiro Maçom deve não só auxiliar os Mestres Maçons na instrução dos Aprendizes,
mas também instruir-se, para que possa, como resultado desse trabalho, aspirar um Mestre
Maçom tornar-se.
“O C é chamado a tornar-se foco ardente, fonte de luz e de calor. A generosidade
de seus ensinamentos deve incitá-lo ao devotamento sem reservas, mas com discernimento,
porque está aberta a todas as compreensões”, nos ensina o ritual do Companheiro.

“O iniciado, porém, tem o estrito dever de correr em auxílio dos que julgais
INICIÁVEIS, dos que, revoltam-se contra a tirania e a arbitrariedade dos sistemas em uso.
Estes merecem que se lhes ensine a procurar o VERDADEIRO, sem preocupação nem
esperança de triunfo, só alcançado pelo repouso da inteligência satisfeita”, nos instrui
novamente o Grau de Companheiro.
Mas para o desempenho de todas essas tarefas, que já estão aqui definidas como
árduas, pois árduo é o trabalho maçônico de esculpir-se continuadamente, aparando arestas e
asperezas inerentes ao material humano, é necessário o conhecimento, a “gnose”.

É a essência da vida humana sobre esta Terra. Persistir.


E Jesus diz a seu interlocutor: “Fazei isto e viverás”.
Mas para isso, a consciência de que além da realidade concreta encontra-se o abstrato,
é importante para sabermos como Maçons e, especialmente, através dos estudos
desenvolvidos neste belíssimo Grau de Companheiro, que não se pode alcançar solitariamente
o objetivo, já que a obra necessita da corporação para ser erguida, assim como a Loja
necessita de sete irmãos para ser composta. Por isso fica a pergunta: “E quem é o meu
próximo?”.
Daí, em decorrência dessa pergunta essencial e cuja compreensão é buscada há
séculos, o Cristo narra a história do “bom samaritano”, contida no início dessa P de Arq.

Importante contextualizar aqui, a diferença fundamental contida na parábola, entre as


figuras do “sacerdote”, do “levita” e do “samaritano”.
A figura do sacerdote é quase desnecessária de se definir neste estudo, já que
historicamente, compõem uma classe “especial”, quase uma casta de pessoas que, dada sua
posição, encontram-se colocadas ou desejando-se colocar, em patamar diferente dos demais,
“leigos” e/ou “profanos” (aqui no sentido religioso do termo, não maçônico). O que dirá dos
sacerdotes à época de Cristo?
Já os “levitas”, eram descendentes de Levi, escolhidos por Deus para servir no
Tabernáculo. A história bíblica registra que quanto Josué conduziu os israelitas na
terra de Canaã, os levitas foram a única tribo israelita que recebeu cidades, mas não
foram autorizados a ser proprietários de terra porque “eles não terão herança entre
seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhes tem dito” (Deuteronômio 18:2) já
que “os sacerdotes levitas e toda tribo de Levi não terão parte nem herança em
Israel; viverão das ofertas queimadas ao Senhor e daquilo que lhes é devido”
(Deuteronômio
A tribo 18:1).
de Levi servia deveres religiosos particulares para os israelitas e
tiveram responsabilidades políticas também e, em troca, as tribos das terras eram
esperadas a dar o dízimo aos levitas, ou seja, “viverão das ofertas queimadas ao
Senhor e daquilo que lhes é devido”, especialmente o dízimo conhecido como o
MaaserPortanto,
Rishon ouosDízimo
levitas dos
igualmente
Levitas. compunham à época, junto aos sacerdotes, uma
classe especial, utilizada de forma figurativa por Cristo nessa parábola, para ilustrar a
grande diferença entre eles e os “samaritanos”.
Os samaritanos por sua vez, eram colonos enviados pelo Rei da Assíria a fim de
habitarem na terra de Israel depois do exílio, e, portanto, desprezados pelos judeus, conforme
ilustra, por exemplo, o seguinte trecho bíblico contido em João 4:9: “disse-lhe a mulher
samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?
(Pois os judeus não se dão bem com os samaritanos)”.
A história dos Samaritanos encontra-se narrada na Bíblia em 2 Reis 17:24-41.
No tempo de Zorobabel, tentaram em vão fazer uma aliança com os que retornaram do
exílio e unir-se a eles na edificação do Templo (Ed 4:2,3). Tinham um templo no monte
Gerizim (Jo 4:20) e foram carinhosamente tratados por Cristo (Lc 10:30).
Compreendendo agora um pouco mais o contexto histórico utilizado pelo Mestre dos
Mestres para, através dessa parábola, entender também o profundo e significativo chamado
que dá título a essa P de Arq, ou seja: “Vai, e faze da mesma maneira”, podemos nos
aprofundar para extrair da narrativa, algumas posturas significativas não somente para o
Companheiro Maçom em particular, mas para o Maçom em geral e ainda mais, posturas que
devem ser buscadas e vividas pelo corpo uno de nossa sociedade e, dada a ausência de prática
cotidiana, nos cabe como agentes de transformação progressiva, positiva e pacífica buscar
semear: a prática do amor fraternal, da beneficência, a sensibilidade humana, o trabalho e o
serviço colocados a favor daquele próximo a quem o Cristo nos exorta a definir.
Conforme nos ensina em sua obra “Dicionário Maçônico” o irmão Rizzardo da
Camino, “nas Lojas Maçônicas, o Amor é o sentimento para com o Grande Arquiteto do
Universo, abrangendo todos os sentimentos. (...) em Maçonaria, o “Amor ao próximo”
confunde-se com o “Amor a si mesmo””. Aplicando-se subsidiariamente com a definição de
fraternidade, dada pelo mesmo autor e obra, onde “fraternidade é uma associação fraterna,
cujo objetivo é demonstrar que todos os homens podem conviver como se fossem irmãos na
mesma carne”, temos que o “amor fraternal” é aquele sentimento de carinho extremo, de
dedicação e de interesse pela figura do outro, que gera sentimentos positivos e construtivos e
pode até, em certos momentos, levar o indivíduo a fazer grandes sacrifícios que somente seria
capaz de fazer por si mesmo, ou seja: “Amarás ao Senhor, o teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo
como a ti mesmo”, conforme ensina o Cristo em sua parábola e em outras passagens de Sua
Vida narradas na Bíblia: “O meu mandamento é este: Amai-vos uns aos outros como eu vos
amei” (Jo 15:12) ou “amai o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito” (Dt
10:19).
Em decorrência da prática do amor fraternal, desenvolve-se também a prática
da beneficência, que é materialmente um ato ou de forma abstrata, uma virtude de
fazer o bem, de beneficiar o próximo (novamente a figura do outro). Repete-se a
questão fundamental: “E quem é o meu próximo?”.
A finalidade da Maçonaria não é produzir benefícios no sentido material, pois não é a
nossa Sublime Instituição uma associação de serviços voluntários à comunidade, como o são
muitas existentes. Entretanto, a Maçonaria dedica alguma atividade à prática da beneficência
e, a existência do Tr de Benef demonstra isso claramente.

No âmbito do Maçom, de forma direta, particular e sistemática, podemos entender que


a beneficência é imaterial, esotérica, mística, filosófica, espiritual. É o crescimento constante
e gradual advindo justamente do uso das ferramentas simbólicas utilizadas nos trabalhos em
Loja e, as quais, a partir da elevação ao Grau de Companheiro Maçom, poderá o irmão utilizar
com ainda mais condições, aspirando a maestria em seu uso, que lhe proporcionará a
possibilidade de Mestre tornar-se a ainda, de auxiliar o seu semelhante, o seu próximo; seja
ele iniciado ou não em nossos augustos mistérios.

É por isso, que o “bom samaritano”, tal qual um verdadeiro iniciado, agiu como agiu
diante de um desconhecido ignorado pelos que se pretendiam iniciados de fato:
“Aproximando-se, enfaixou-lhe as feridas, colocando-lhes azeites e vinho. Então colocando-o
sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele” (Lc 10:34).

Com esse gesto de amor fraternal e de beneficência, nos é dada mais uma lição: a da
necessidade da aplicação da sensibilidade humana, que nos leva a ser benevolente, a auxiliar o
outro, a auxiliar nas “cargas” carregadas ao longo da vida, a interessar-se pelo infortúnio
alheio e a visitar o necessitado. Os irmãos reconhecem alguma semelhança com as funções a
serem desempenhadas pelo irmão Hospitaleiro?
Diz o Ven Mestre ao investir o irmão escolhido para o honroso cargo de
Hospitaleiro:
Ir Hosp, revisto-vos com a Jóia de vosso cargo – uma Bolsa, que
representa a Bolsa de Beneficência, assim entrego à vossa guarda uma
das mais sublimes atividades maçônicas: a solidariedade humana.
Deveis estar sempre atento para que as necessidades de nossos IIr
sejam sanadas pela mão de nossa beneficência, a tempo e a hora.
O resultado de vosso trabalho estará na razão direta da atividade que
desenvolverdes no desempenho de vosso cargo.
Quanto mais diligenciardes, maiores serão os benefícios que nossa
Loj poderá prestar.
Confio em vós e sei que sabereis mediar essa grande responsabilidade
que vos foi imposta.

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário socorrer os


enfermos, recordando as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurada coisa é
dar do que receber” (At 20:35).
Se, a parábola do “bom samaritano” pretende nos ensinar que até aquele considerado
“indigno” de realizar um ato de bondade, pode fazê-lo, diferentemente daqueles considerados
“dignos”, como sacerdotes ou levitas; o que dizer de um Maçom? Tal comparação formulada
na parábola é semelhante àquela que compara um profano a um Maçom, pois o que é no
profano uma qualidade rara, para o Maçom não passa do cumprimento do seu dever.
E o Companheiro Maçom, agora apto a transitar pelo espaço abstrato da investigação
que lhe levará ao entendimento do significado da letra “G”, pode buscar através da sua
prática, a verdadeira “gnose”.
“Gnose” em grego “conhecimento”, traduz o “conjunto de noções comuns a todos os
iniciados que, à força de pesquisar, se encontram na mesma compreensão da causa das
cousas”, nos ensina uma das instruções do grau.
Nos primórdios de nossa Ordem, esse trabalho se deu através da interação entre os
“pedreiros livres” e os recém-chegados “especulativos”, ou seja, cavaleiros, pensadores,
cultores de tradições herméticas e filosóficas que começaram a surgir junto às Lojas ainda
“operativas” e que começaram a criar a prática do estabelecimento de grupos de estudo que se
ocupavam não somente dos segredos da profissão de construtor, mas também discutiam
questões do cotidiano da época, tal qual fazemos na atualidade. Esses grupos formaram os
núcleos iniciais que fizeram a transição dos “operativos” para os “modernos” e, sua função
era especular, investigar; extraindo-se daí as noções e ações que passaram a repercutir de
maneira local e geral no mundo profano exterior aos Templos Maçônicos.
Durante os primeiros séculos do Cristianismo, certos “gnósticos” proclamaram a
sabedoria sobrenatural e a capacidade de restituir à humanidade o conhecimento perdido do
verdadeiro e supremo Deus.
À época, a principal função do Gnosticismo era a salvação moral, mas ele também
afirmava chegar ao que está por trás da letra da palavra escrita, e descobrir o valor ideal de
todas as histórias religiosas, mitos, mistérios e rituais. O gnóstico afirmava que ele não era
apenas o cristão filósofo que desenvolveu a verdade a partir do pensamento, mas também o
depositário de uma tradição secreta, sobre a qual o seu sistema originalmente foi construído.
Houve época, conforme já foi dito, que o gnosticismo pretendeu infiltra-se na nossa
Sublime Instituição, mas, dada a natureza dos trabalhos maçônicos, naturalmente foi repelido
e hoje, diante do progresso da ciência e da evolução da filosofia, o gnosticismo deu lugar à
verdadeira gnose, ou seja, ao conhecimento e à liberdade para investigação da verdade.
É este um dos mais importantes trabalhos do Companheiro Maçom: encontrar a
resposta para a pergunta fundamental: “E quem é o meu próximo?”, através da investigação
sobre os significados da letra “G”.
A letra “G”, em sua grafia atual, é de origem recente. Primitivamente, tinha o mesmo
valor fonético que o “C”. Por isso, no latim, conforme nos ensina Jules Boucher na obra “A
Simbólica Maçônica”, “encontramos indiferentemente as formas Caius ou Gaius, Cnoeus ou
Gnoeus, etc. Quando o C se tornou quase absolutamente um homófono do K, fez-se sentir a
necessidade de representar o som G por uma nova letra. Foi na segunda metade do século V
de Roma que se inventou essa letra que, visivelmente, é uma simples modificação do C”.
Alguns pesquisadores alertam para a semelhança da letra “G”, com a figura de um nó
e daí, podemos traçar uma linha de ligação para, através da investigação do significado do nó
para a Maçonaria, demonstrar a união de todos os Maçons espalhados pela superfície da Terra
e, trilhar novamente o caminho da beneficência e do amor fraternal, cuja união pode ser
representada pelos elos da cadeia de união e também, pela corda de oitenta e um nós, que nos
mantém a todos unidos como irmãos.
Por tudo isso, ao Companheiro Maçom, através dos estudos e dos trabalhos que irá
realizar ao longo deste importantíssimo grau de aperfeiçoamento, cumpre colocar-se a
serviço, trabalhar em prol do crescimento de toda Humanidade em geral, de sua Loja em
particular e de si próprio.
Utilizar a força precisa para aplicar o Maç sobre o Cinz, aparando arestas da
imperfeição da P B até que a molde em P P, sendo perseverante e persistente durante
todo caminho.
A descoberta da resposta para as questões colocadas nessa Peç de Arq, deve ser a
diretriz a ser aplicada pelo Maçom agora elevado ao segundo grau e, ampliada ao longo de
todo trajeto de subida da Esc de J.
“Mostrou-me também assim: O Senhor estava sobre um muro levantado conforme o
prumo, e tinha um prumo na sua mão. E o Senhor me perguntou: Que vês tu, Amós? Eu
respondi: Um prumo. Então disse o Senhor: Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo
Israel; nunca mais passarei por ele” (Am 7:7-8).
REFERÊNCIAS

BÍBLIA THOMPSOM: Letra Grande. Compilado e redigido por Frank Charles Thompsom;
(tradução João Ferreira de Almeida). São Paulo: Editora Vida, 2014.

RITUAL DO GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM do Rito Escocês Antigo e Aceito. São


Paulo: Grande Oriente Paulista, 2010.

RITUAL DE INSTALAÇÃO E POSSE de Veneráveis e Oficiais de Lojas Simbólicas do Rito


Escocês Antigo e Aceito. São Paulo: Grande Oriente Paulista, 2005.

BAPTISTA, Antônio Augusto Queiróz. O assentamento da pedra cúbica. 1ª Ed. Londrina:


Editora Maçônica A trolha, 2019.

BAYLEY, Harold. A linguagem perdida do simbolismo: um estudo sobre a origem de certas


letras, palavras, nomes, contos de fadas, folclores e mitologias. São Paulo: Cultrix, 2005.

BOUCHER, Jules. A simbólica maçônica ou a arte real reeditada e corrigida de acordo com
as regras da simbólica esotérica e tradicional. 2ª Ed. São Paulo: Pensamento, 2015.

CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico. 5ª Ed. São Paulo: Madras, 2018.

CARVALHO, Assis. Companheiro Maçom: Coleção “Cadernos de Estudos Maçônicos”. 2ª


Ed. Londrina: Editora Maçônica A Trolha, 1996.

RODRIGUES, João Anatalino. O tesouro arcano: a maçonaria e seu simbolismo. 1ª Ed. São
Paulo: Madras, 2013.

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