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SUMÁRIO

PREFÁCIO ..................................................................................................................................................................XIII
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................XVII
NOTA PRÉVIA ......................................................................................................................................................XXIII

PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................................1


Capítulo 1 - Necessidade de Embasamento Teórico para a Prática e
para a Pesquisa em Orientação Vocacional ..............................................................................................3
Capítulo 2 - O Surgimento de Teorias em Orientação Vocacional ............................................9
Capítulo 3 - Teorias Psicológicas em Orientação Vocacional ....................................................15
Capítulo 4 - Teorias Não Psicológicas em Orientação Vocacional ........................................ 35
Capítulo 5 - Teorias Gerais em Orientação Vocacional ................................................................ 41
Capítulo 6 - Tipologias em Orientação Vocacional ...................................................................... 45
Capítulo 7 - Teorias Ideológicas em Orientação Vocacional .................................................... 63
Capítulo 8 - Críticas às Teorias Existentes em
Orientação Vocacional ...................................................................................................................................... 67
Capítulo 9 - Contribuições das Diferentes Teorias à
Orientação Vocacional ...................................................................................................................................... 87

PARTE II - PROPOSTA DE UMA NOVA TEORIA PARA O


EMBASAMENTO DA PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL .............................................. 97

Capítulo 10 - Haveria Necessidade de Mais uma Teoria em


Orientação Vocacional? .................................................................................................................................... 99
Capítulo 11 - Pressupostos e Características da Teoria Proposta ........................................ 107
Capítulo 12 - Uma Teoria Holística, Geral, Temporal e Nacional,
Prescritiva, Normativa, Original e com Enfoque na
Escolha Vocacional ............................................................................................................................................ 113
VIII Orientação Vocacional por atividades: uma nova teoria e uma nova prática

Capítulo 13 - Uma Teoria Voltada para uma Orientação Vocacional


Prática, Democrática e Centrada no Orientando ............................................................................ 119
Capítulo 14 - Proposta de Atividades para o Autoconhecimento
e para a Obtenção de Informações Profissionais ............................................................................ 123
Capítulo 15 - Um Novo Paradigma para a Prática da Orientação Vocacional ............ 127

PARTE III - VARIÁVEIS EM ORIENTAÇÃO VOCACIONAL


E SUAS MEDIDAS ..............................................................................................................................................135

Capítulo 16 - Teoria da Medida e Orientação Vocacional ........................................................ 137


Capítulo 17 - Variáveis Relevantes para a Prática da Orientação Vocacional ............ 145
Capítulo 18 - Instrumentos de Medida Empregados em Orientação Vocacional ...... 159

PARTE IV - APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE ATIVIDADES ............................................................ 173

Capítulo 19 - Procedimentos na Aplicação das Atividades para


Orientação Vocacional...................................................................................................................................... 175
Capítulo 20 - A Atuação e a Atitude do Orientador Vocacional
na Avaliação das Atividades e Subsídios para a Avaliação ...................................................... 183
Capítulo 21 - Objetivos das Atividades .............................................................................................. 191

ANEXOS ................................................................................................................................................................ 237


Anexo 1 - Modelo para Ficha do Orientador Vocacional..................................................239
Anexo 2 - “Espelho” da Ficha de OV ..........................................................................................243
Anexo 3 - Sugestão de Roteiro para Facilitar o Trabalho do OV ................................ 247
Anexo 4 - Modelo de Relatório de Orientação Vocacional ............................................ 253
Anexo 5 - Modelo de Ficha de Pós-orientação (Follow-up).......................................... 257
Anexo 6 - Sugestão de Perguntas para Questionário de
Sucesso e de Realização na Profissão................................................................ 259

POST-SCRIPTS ...................................................................................................................................................... 261


Post-Script 1 - O Computador, Novas Tendências e o
Futuro da OV.................................................................................................................................. 263
Post-Script 2 - Sugestões para Pesquisas em OV .............................................................. 265
Post-Script 3 - A Classificação Brasileira das Ocupações .............................................. 271

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................ 273


PREFÁCIO

E stesérieé odesegundo livro sobre Orientação Vocacional (OV), de uma


três que estou lançando por esta Editora.
O primeiro, publicado em 2000, e intitulado Atividades para
Orientação Vocacional, foi escrito com a finalidade de suprir uma ne-
cessidade premente: colocar nas mãos de orientandos e de orienta-
dores um material sistematicamente organizado, elaborado de acordo
com um arcabouço teórico sólido e com preocupações quanto à va-
lidade, à fidedignidade e, sobretudo, quanto à praticidade de seu con-
teúdo, qualidades essas fundamentais a toda e qualquer medida.
Este material resultou de minha formação em Pedagogia e em
Psicologia Educacional, de estudos especializados na área de Medi-
das Educacionais, de pesquisas bibliográficas de natureza teórica
sobre diferentes ramos e “escolas” psicológicas e sobre teorias de OV,
aliadas à minha experiência prática, durante anos, com orientação
de adolescentes, muitas vezes em situações das mais complexas, co-
mo é o caso de alunos de escola pública de curso noturno.
Não sei se ajudei a todos esses orientandos como desejaria, po-
rém, tenho a certeza de que eles contribuíram sobremaneira para
que eu pudesse rever e expandir minha visão da OV, então ainda em
grande parte tacanha, clássica e acadêmica, com características eli-
tistas e origens estrangeiras, como vem sendo, no mais das vezes,
tratado o assunto nos livros e em cursos de OV. Tal visão, bem como
a prática por ela norteada, mostrava-se inadequada não apenas aos
jovens com toda sorte de dificuldades, mas também a outros com
XIV Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

condições bem mais favoráveis para realizar escolhas. Por esse moti-
vo, não poderia deixar de ser grata a esses orientandos, e espero que
a ajuda que deles recebi venha reverter, por meio desta obra, em
benefício de outros adolescentes que já estejam, ou que estejam
chegando, onde aqueles se encontravam na ocasião.
Uma idéia, em particular, bastante simples porém de inestimável
valor prático, devo à sugestão de um daqueles orientandos cujo no-
me, infeliz e inadvertidamente, não anotei na ocasião, mas a quem,
embora de forma anônima, ora dou crédito. Trata-se da idéia de
colorir as respostas: vermelho para as negativas, verde para as positi-
vas e amarelo para aquelas nem positivas nem negativas, usando um
código padronizado, o de trânsito, de fácil assimilação e rápida leitu-
ra e interpretação. Embora nada tenha acrescentado à teoria, essa
sugestão tornará o trabalho do orientador, principalmente daquele
que realiza a OV em escolas, mais rápido e eficiente, ensejando a ele
pronta visualização, além de uma comunicação mais fácil dos resul-
tados das atividades a cada orientando e aos seus responsáveis.
¬ ¬ ¬

O terceiro livro desta série, a ser publicado depois deste, terá


caráter didático e deverá destinar-se mais especificamente a alunos
dos cursos de Pedagogia, principalmente àqueles que optarem pela
habilitação em Orientação Educacional a orientadores, coorde-
nadores pedagógicos, a diretores de escola e aos docentes das várias
séries e disciplinas escolares. Nele procurarei tratar das questões
fundamentais da OV, principalmente do ponto de vista da educação,
dentro do contexto da Orientação Educacional e, portanto, no
ambiente escolar. Este livro terá, portanto, caráter desenvolvimen-
tista, ao contrário dos outros dois, que dizem respeito ao produto
desse desenvolvimento, isto é, à escolha profissional. Constituirá
uma abordagem clássica da matéria, essencial à formação dos orien-
tadores educacionais, de professores e demais educadores.
Prefácio XV

O presente livro resultou de duas ordens de necessidades: uma


teórica, há muito sentida por mim, e que será tratada nos primeiros
capítulos, e outra prática. Esta originou-se de comunicações de orien-
tadores com a Editora, ou diretamente comigo, solicitando que fosse
publicações de material que fornecesse subsídios para o uso e, prin-
cipalmente, procedimentos de avaliação dos conteúdos das ativi-
dades propostas no Atividades para Orientação Vocacional.
Naquele livro, não foram colocadas, propositadamente, quais-
quer explicações de ordem teórica ou que dissessem respeito à ava-
liação do material coletado. Dois motivos levaram-me a tal decisão,
ambos por se tratar de uma obra para uso exclusivo de orientandos.
Discussões teóricas e procedimentos de avaliação das respostas, ain-
da que essenciais para os orientadores, não caberiam no mesmo
livro onde seriam apresentadas as atividades, pois o tornariam in-
viável do ponto de vista econômico e, o que é pior, seria desa-
conselhável do ponto de vista técnico. Para que os orientandos
respondam de forma adequada ao que lhes é solicitado é importante
que, na medida do possível, eles não se deixem influenciar pelos cri-
térios de avaliação. Consciente ou inconscientemente, o conheci-
mento dos processos de avaliação prejudicaria suas respostas.
Mister se fazia, portanto, que os orientadores, bem como os estu-
dantes de orientação, tivessem acesso a informações de ordem teóri-
ca, porém por outro meio que não o Livro de Atividades.
Este livro, ora publicado, constitui um atendimento a essa de-
manda. Embora devesse ser auto-explicativo para quem atua na
área, o material do livro Atividades para Orientação Vocacional foi
elaborado de acordo com uma nova sistemática, baseada em novo
paradigma, portanto desconhecido dos profissionais que vinham
empregando o antigo paradigma. Tornava-se, pois, necessário pro-
ceder a explicações adicionais às constantes daquele livro destinado
aos orientandos, para apoio aos orientadores. A presente publicação,
entretanto, não constituiu um “livro do orientador”, à semelhança
XVI Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

dos “livros do mestre” das disciplinas escolares. Não é, também, um


“manual de teste” como os que devem acompanhar todo o material
de testes psicológicos. Ele constitui uma explicitação dos fundamen-
tos e das bases teóricas que nortearam a elaboração das atividades
para orientação vocacional — objeto do primeiro livro desta série
— e sua aplicação na prática.
Espero, com esta publicação, suprir a necessidade expressada
pelos orientadores que já estão usando aquele livro, bem como con-
tinuar a receber deles opiniões, críticas e sugestões, pelas quais ante-
cipadamente agradeço.
Agradeço, também, a comunicação de resultados de eventuais
pesquisas que venham a ser realizadas com o emprego do material
apresentado.

L.R.A.G.
Capítulo 1
NECESSIDADE DE EMBASAMENTO TEÓRICO
PARA A PRÁTICA E PARA A PESQUISA EM
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

E mquestão
um livro em que é proposta uma teoria para a OV, a primeira
a ser colocada diz respeito à possibilidade, conveniência
e necessidade da existência de teorias nas ciências e nas práticas
profissionais em geral e, em particular, na OV.
A OV pode ser considerada tanto como um campo para reali-
zações de pesquisas — quer de outras disciplinas, quer de teste de
suas próprias hipóteses — como uma prática profissional funda-
mentada nos resultados dessas pesquisas.
Tradicionalmente, a ciência mais ligada à OV e que tem servido
de base na formulação da maior parte de suas teorias é a Psicologia.
Já em relação a essa ciência há controvérsias quanto à conveniência
e até quanto à possibilidade da existência de teorias.
Um dos mais eminentes psicólogos do século XX, o positivista
e behaviorista Skinner (1950), defendeu posição contrária à formu-
lação de teorias em Psicologia, alegando principalmente que: (1) a
existência das teorias tende a fornecer respostas, em lugar de levar o
cientista a buscá-las por meio de pesquisas, e (2) a existência de teo-
rias proporciona um falso sentido de segurança, uma satisfação com
o status quo, o que, segundo aquele autor, seria contraproducente
para uma atividade de busca e um espírito de inquietação que de-
vem caracterizar o pesquisador.
A posição assumida por Skinner é peculiar na Psicologia, pois a
maior parte dos psicólogos aceita a existência de teorias nessa ciên-
cia. Hyman (1964), acredita que tal posição constituiu reação a pes-
4 Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

quisas triviais e à necessidade que algumas teorias têm de lançar


mão de constructos e de hipóteses de natureza fisiológica sobre o
que estaria ocorrendo no interior dos organismos, sem possibilidade
de ser observado e medido diretamente. Outras teorias são critica-
das por se basearem em analogias como modelos. Em ambos os
casos, não há a preocupação ou a possibilidade de estabelecimento
de relação direta entre o que é sugerido teoricamente e a realidade.
Dizer-se que alguém está emocionado, deprimido, sofre de carência
afetiva ou tem complexo de inferioridade, por exemplo, sem definir
ou medir o que se esteja supondo, não é aceitável para Skinner.
Embora esse psicólogo tenha trabalhado com animais “com fome”,
“com instinto maternal” e outras afirmações do tipo, ele sempre
definiu operacionalmente essas variáveis, isto é, explicitou as “ope-
rações” que o levaram a elas. No caso da fome, por exemplo, especi-
ficava o tempo que havia decorrido desde a última alimentação dosa-
da do animal; no de instinto maternal, o tempo que o animal levava
para chegar à cria, em comparação com o que levava para chegar à
comida ou a outros estímulos. Já a maior parte dos conceitos essen-
ciais às demais teorias psicológicas não foi definida operacional-
mente. Embora largamente aceitos, às vezes não passam de meras
conjeturas, tendo por aval apenas o prestígio de quem as enunciou.
É provável que a posição radical de Skinner, no que se refere às
teorias psicológicas, esteja ligada ao fato de a Psicologia ser uma
ciência nova, imatura e, ao mesmo tempo, mais complexa que as
demais, pois o objeto de seu estudo, em última análise, é também o
sujeito do mesmo. Portanto, segundo Skinner, a Psicologia não
estaria pronta para um tratamento lógico-formal ou hipotético-
dedutivo, aceito por boa parte dos demais psicólogos. A maior parte
destes parece estar disposta, no momento, a sacrificar parte do rigor
exigido por Skinner e que seria desejável emprestar às teorias e à
investigação psicológica. Tal disposição possibilitaria a aceitação de
teorias. Estas — como aliás também ocorre nas demais ciências,
Necessidade de Embasamento Teórico para a Prática e para a Pesquisa em Orientação Vocacional 5

mesmo nas mais antigas, como a Física — teriam, portanto, caráter


provisório, vindo a ser, eventual e sucessivamente, substituídas por
outras que melhor se coadunasse com a realidade.
O problema é que, no caso da Psicologia, as novas teorias apre-
sentadas não substituem nem relativizam as anteriores, mas coexistem
com elas, o que acarreta a existência de várias “escolas” psicológicas,
cada qual se pautando por teorias diferentes.
Normalmente, quer partindo-se de teorias ou de observações,
são geradas hipóteses que devem ser testadas por meio de pesquisas.
Dos testes de hipóteses podem vir a se originar leis, princípios e tam-
bém novas teorias.
As teorias seriam ainda úteis não somente para gerar hipóte-
ses, mas também para analisar e ordenar dados obtidos empirica-
mente, dando sentido a eles. De fato, de acordo com Miller (1951),
“alguém se restringir apenas a fatos, desprovido de teoria, deixaria
o psicólogo sem qualquer base para discriminar e selecionar den-
tre o infinito número de fatos observáveis, a fim de extrair algum
sentido deles”.
Fica-se, portanto, diante de um dilema. Por um lado, um emi-
nente psicólogo, teórico e pesquisador, argumentando pela não-neces-
sidade e apontando os inconvenientes de ser ter teorias e, de outro, boa
parte dos demais psicólogos considerando essencial a existência delas.
Kuhn (1970), físico de formação, mas que se dedicou ao estudo
da Filosofia da Ciência, autor de um clássico sobre o assunto, acredi-
ta que deva haver sempre uma “ciência normal”, com suas teorias e
metodologias próprias, que, embora de natureza provisória, norteie
as pesquisas científicas.
Sendo de natureza provisória, a ciência normal sofre, de tempos
em tempos, revoluções científicas que darão lugar a uma ciência
normal subseqüente. Aquele autor acredita, portanto, na importân-
cia das teorias, ainda que se saiba que elas um dia serão substituídas.
Kuhn (p. 10) definiu ciência normal como “pesquisa firme-
mente baseada sobre uma ou mais conquistas científicas que uma
6 Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

dada comunidade reconhece, durante certo período, como fornece-


dora das fundações para práticas subseqüentes”. Segundo esse autor,
tais conquistas aparecem, de forma simplificada, nos livros didáticos.
Para ele, “nenhuma história natural pode ser interpretada na ausên-
cia de pelo menos um corpo implícito de crenças teóricas e metodo-
lógicas interconectadas que permitem a seleção, avaliação e crítica”
(p.16). Ainda segundo ele, “na falta de um paradigma, ou algum can-
didato a paradigma, todos os fatores que poderiam possivelmente
fazer parte do desenvolvimento de uma dada ciência provavelmente
iriam parecer relevantes. Como resultado, as coletas iniciais de dados
se constituiriam em uma atividade muito mais aleatória (...) e a cole-
ta de dados inicialmente se restringiria à riqueza de dados existentes
à mão” (p.15). O resultado seria uma mistura de dados relevantes e
irrelevantes, de forma desordenada. Como se vê, Kuhn, da mesma
forma que Miller, acredita que as teorias são necessárias.
Kuhn (op. cit., p. 176-177) define paradigma, que ele considera
um termo bastante relacionado à ciência normal, de forma tau-
tológica, e, segundo ele próprio afirma, “circular”, como sendo
“aquilo que os membros de uma comunidade científica comparti-
lham e, por sua vez, uma comunidade científica é definida como
pessoas que compartilham um paradigma”. Mais adiante, ele carac-
teriza comunidade científica como “os praticantes de uma especia-
lidade científica que receberam instruções, passaram por iniciação
semelhante e, no processo, absorveram a mesma literatura técnica e
delas tiraram os mesmos ensinamentos”.
Kuhn tratou do papel das teorias nas ciências em geral, mesmo
naquelas tidas como “imaturas”, como é o caso das ciências hu-
manas. Ciências, maduras ou não, são aplicáveis a práticas profis-
sionais, mas estas vão muito além das contribuições científicas. A
Pedagogia, por exemplo, costuma ser definida como ciência e tam-
bém como arte de educar.
Diante do exposto, cabe questionar se haveria necessidade, con-
veniência ou possibilidade de teorias no que se refere às práticas
profissionais e, em particular, à área de Educação e da OV.
Necessidade de Embasamento Teórico para a Prática e para a Pesquisa em Orientação Vocacional 7

Mary Kennedy (1987), procedendo a uma exaustiva e bem


ilustrada resenha sobre o desenvolvimento da proficiência na forma-
ção de profissionais na área de educação, discutiu o papel de teorias
nessa formação. Essa autora afirmou que “as profissões contem-
porâneas aspiram por uma teoria ou um corpo de princípios gerais
que possam tornar viável a quem as pratica o tratamento de casos
particulares como exemplos de categorias sobre as quais se saiba
algo. Se conseguiram, ou não, constitui assunto para debate geral”.
As teorias têm, portanto, para ela, papel preponderante na prá-
tica profissional, servindo como arcabouço, em que os praticantes
das respectivas profissões se apoiariam para o exercício de suas
práticas. Essa autora não se restringe, na discussão do assunto, à área
de Educação; refere-se também a outras práticas profissionais, como
Jornalismo, Direito e Medicina.
Ela acredita que, em parte, o desejo das escolas profissionais de
possuírem teorias e princípios gerais se deve ao contexto em que
elas se acham inseridas, que é o das universidades. Estas estariam
pressionando as escolas profissionais a se pautarem pelos padrões
de rigor das disciplinas acadêmicas para justificar sua inclusão
naquele contexto.
Mary Kennedy (p. 137) argumenta, entretanto, que nem todos
os princípios relevantes na formação de profissionais derivam das
ciências. Segundo ela “práticas profissionais podem ser guiadas por
vários tipos de princípios; as disciplinas fornecem princípios teóri-
cos ou científicos; a experiência provê conselhos (...) e as normas
sociais fornecem guias para comportamentos éticos apropriados”.
Para ela, a razão mais importante para a tentativa de desen-
volver “uma base de teoria e princípios gerais é que os profissionais
têm necessidade de resolver problemas e tomar decisões em situa-
ções ambíguas”.
Como se pode deduzir da discussão acima, Skinner teria razão
para estar preocupado com a colocação prematura de teorias em
Psicologia (e, pelos mesmos motivos, também nas demais ciências
humanas, igualmente imaturas). De fato, as teorias tendem a dar,
8 Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

como afirmam os últimos autores citados, uma sensação de segu-


rança psicológica à comunidade científica, bem como aos pro-
fissionais que colocam as teorias como fundamento de suas práticas.
Entretanto, o que para Skinner seria um argumento contra a tenta-
tiva de se formular teorias, para esses autores o mesmo argumento
seria usado a favor dessa formulação.
Mary Kennedy acha que, além da necessidade psicológica das
teorias, os profissionais têm também necessidade lógica delas, na
medida em que elas estruturam o conhecimento e tornam mais fácil
para o profissional lidar com dados novos.
As teorias, portanto, podem ser úteis se tomadas, não como ver-
dades absolutas, mas como paradigmas sujeitos a pequenos ou
grandes erros, a que Kuhn chama de “anomalias”. As teorias geral-
mente aceitas pela comunidade científica em um dado momento
não são nem certas nem erradas, mas devem constituir o melhor
apoio de que a comunidade dispõe naquele momento.
Capítulo 2
O SURGIMENTO DE TEORIAS EM
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

N oapoio
capítulo anterior afirmou-se que a OV tem por principal
teórico a Psicologia.
Os psicólogos costumam dizer que a Psicologia possui uma
longa vida, porém uma curta história. Isto porque, embora o inte-
resse pelo homem como ser psíquico date de muitos séculos, a Psico-
logia tornou-se oficialmente ciência apenas a partir de 1879, com a
fundação do primeiro laboratório de Psicologia, por Wilhelm Wundt,
na Universidade de Leipzig, na Alemanha.
Se a história daquela ciência é considerada curta a da OV o é,
com certeza, muito mais.
Há muito, pelo menos desde os tempos da Grécia antiga, já ha-
viam sido notadas as diferenças individuais por um lado e, por outro,
as diferenças ocupacionais e de status social entre as profissões. No
entanto, o conservadorismo, a aceitação quase incontestada das tra-
dições e a relativa simplicidade econômica e social, aliados a um
muitíssimo lento e contínuo desenvolvimento tecnológico, não eram
propícios a grandes preocupações com orientação vocacional. As
preocupações, então, se limitavam apenas a eventuais problemas de
desajustamento de alguns indivíduos em relação à profissão que lhes
caberiam exercer, de acordo com o nascimento de cada um e com sua
posição na sociedade. Conseqüentemente, não haveria razão para o
surgimento de teorias de OV, ou sequer da própria OV.
A necessidade de OV originou-se das grandes rupturas sociais,
tecnológicas e econômicas que vieram abalar e desestruturar os sis-
10 Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

temas sociais vigentes. Apesar de essas rupturas terem ocorrido há


muito tempo, a história oficial da OV teve início apenas em 1909,
data da publicação, por Frank Parsons, da obra Choosing a
Vocation, que apresentou a teoria formulada por ele com base na
sua experiência no aconselhamento de jovens. A teoria de Parsons
tornou-se clássica e, durante décadas, e de certa forma até hoje, iria
exercer enorme influência nesse campo, tanto no aspecto teórico
como (principalmente), em relação à prática da OV. Parsons é con-
siderado, portanto, o pai da OV.
Diferentemente do que ocorreu com relação à Psicologia, a OV
teve, portanto, suas origens não em laboratório, mas na prática do
aconselhamento vocacional, exercida por aquele autor, na cidade de
Boston, nos EUA.
De acordo com a teoria de Parsons, caberia ao orientador pro-
curar identificar, para cada um, o seu “lugar certo” no mundo das
profissões, levando-se em consideração suas características pessoais,
por um lado, e as de cada profissão, por outro. As profissões não
seriam mais, portanto, distribuídas por nascimento e posição social,
mas de acordo com capacidades e interesses, medidos por testes psi-
cológicos. Esses constituiriam o instrumental a ser usado para colo-
car, objetivamente conforme se acreditava então, “o homem certo
no lugar certo”, servindo assim perfeitamente, de acordo com a teo-
ria de Parsons, como instrumentos ideais para a prática da OV.
Os testes psicológicos haviam sido criados recentemente na
França, no início do século XX, por Alfred Binet e Theodore Simon.
Sua finalidade precípua era a de discriminar, dentre as crianças fran-
cesas, aquelas que teriam capacidade de aprendizagem dos conteúdos
altamente abstratos ensinados nas escolas das demais, em um sistema
escolar altamente elitista. Embora surgidos na França e bastante estu-
dados na Inglaterra, foi nos Estados Unidos que os testes tiveram seu
maior desenvolvimento e aplicação. Naquele país, foram criadas for-
mas coletivas de testes aplicadas, em grande escala, aos recrutas da
O Surgimento de Teorias em Orientação Vocacional 11

Primeira Guerra Mundial, começando com testes de inteligência e


passando-se depois também aos de muitos outros constructos.
A partir daí, por meio de testes e por muito tempo, em grande
parte até hoje, na guerra e na paz, procurou-se descobrir o homem
certo para o lugar certo, com base na Psicologia Diferencial, um
ramo da Psicologia que trata das diferenças individuais.
De acordo com a necessidade criada pela teoria de Parsons (o
lugar certo), as ocupações também passaram a ser objeto de análise
para descrição de tarefas e de atividades necessárias a seus exercícios,
com a finalidade de se determinar, na prática, qual o perfil do “ho-
mem certo” para exercer cada uma delas.
Embora no período que se seguiu à teoria de Parsons, até mea-
dos do século XX, não tivessem aparecido grandes teorias em OV,
ocorreram fatos e desenvolvimentos importantíssimos que iriam
não apenas fornecer subsídios teóricos, como também mostrar a
necessidade de providências nesse campo.
O advento das duas Grandes Guerras, a necessidade de aumen-
tar a produtividade nas indústrias (principalmente nas bélicas) a
crise que causou o desemprego dos anos 30, o progresso tecnológi-
co e econômico por um lado, e pelo outro, a Psicanálise, os testes de
inteligência, a técnica estatística da análise fatorial, o teste de inte-
resses de Strong e o empenho no estudo das profissões desembo-
caram em uma profusão de teorias publicadas a partir dos anos 50.
Os teóricos, então menos preocupados em tentar o “casamen-
to” de características individuais com as das profissões, passaram a
dar maior atenção às razões das escolhas profissionais, ao preparo
das pessoas para a escolha e ao desenvolvimento vocacional, impor-
tante para essa escolha.
A partir dos anos 50 surgem, então, várias teorias, que Crites
afirmou, já em 1969, serem mais de 15 apresentadas, além de muitas
outras a caminho. O número de teorias aumentara de tal forma que,
em 1968, Osipow achou conveniente publicar um livro sobre elas.
12 Orientação Vocacional por Atividades: uma nova teoria e uma nova prática

No ano seguinte, Crites apresentou em seu livro não apenas as teo-


rias existentes, mas também uma classificação para elas.
Crites (1969, p. 608) classificou as teorias de escolha vocacional
primeiramente em três grandes grupos: as não psicológicas, as psi-
cológicas e as gerais, subdividindo cada um deles.
Entre as não psicológicas ele as arrolou da seguinte maneira:
devidas ao acaso; as econômicas, estas subdivididas em clássicas e
neoclássicas; as culturais e as sociológicas. As teorias psicológicas ele
subdividiu em: de traço-fator, desenvolvimentais, de decisão, e psi-
codinâmicas. Estas, por sua vez, subdivididas em psicanalíticas, de
necessidades (Need) e do “Eu” (Self). As teorias que aquele autor
chama de “gerais” compreendem as interdisciplinares, as de desen-
volvimento geral e as que fazem uso de tipologias.
O que diferencia as teorias ditas psicológicas das não psicológi-
cas é o fato de que, enquanto os autores das psicológicas colocam o
foco da escolha no indivíduo, nas suas características psicológicas, as
não psicológicas vêem a escolha, se não em sua totalidade, principal-
mente como devidas ao ambiente. Seria, segundo elas, o ambiente
que levaria o indivíduo a escolher uma profissão, ou ele somente
poderia escolher dentro das condições oferecidas pelo ambiente.
O número de teorias do tipo psicológico é bastante grande, pois
cada uma delas parte de pressupostos psicológicos próprios. Como
há também que se considerar as teorias não psicológicas, isto é, as
sociais, culturais, econômicas e do acaso, além das “gerais” ou mul-
tidisciplinares, ficaria muito difícil tratar das contribuições delas à
OV sem uma certa ordenação. O emprego da classificação proposta
por Crites (1969, p. 608), tornou essa tarefa bem mais factível. Além
disso, foi importante esse autor ter chamado a atenção para a exis-
tência das teorias não psicológicas, geralmente não reconhecidas em
livros de comportamento vocacional de autoria de psicólogos, moti-
vo pelo qual essa classificação foi empregada neste livro.

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