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Número 791 Brasília, 18 de outubro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

TERCEIRA SEÇÃO

PROCESSO HC 830.530-SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz,


Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 27/9/2023,
DJe 4/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PROCESSUAL


PENAL

TEMA Guardas municipais. Exercício de atividade de segurança


pública que não se equipara por completo às polícias. Art.
301 do CPP. Flagrante delito. Tráfico de drogas. Não
ocorrência. Art. 244 do CPP. Busca pessoal. Ausência de
relação com as finalidades da guarda municipal.
Impossibilidade. Prova ilícita.

R 27/0/73 20/10
:
·

DESTAQUE 09/11
O fato de as guardas municipais não haverem sido incluídas nos incisos do art. 144, caput,
da CF não afasta a constatação de que elas exercem atividade de segurança pública e integram o
Sistema Único de Segurança Pública. Isso, todavia, não significa que possam ter a mesma amplitude
-
de atuação das polícias.

-
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O fato de as guardas municipais não haverem sido incluídas nos incisos do art. 144, caput,
da Constituição Federal não afasta a constatação de que elas exercem atividade de segurança
pública e integram o Sistema Único de Segurança Pública. Isso, todavia, não significa que possam ter
a mesma amplitude de atuação das polícias.

Bombeiros militares, por exemplo, integram o rol de órgãos de segurança pública previsto
nos incisos do art. 144, caput, da Constituição, mas nem por isso se cogita que possam realizar
atividades alheias às suas atribuições, como fazer patrulhamento ostensivo e revistar pessoas em
via pública à procura de drogas.

O Supremo Tribunal Federal, apesar de reconhecer em diversos julgados que as guardas


municipais integram o Sistema Único de Segurança Pública e exercem atividade dessa natureza,
nunca as equiparou por completo aos órgãos policiais para todos os fins.

Não se pode confundir "poder de polícia" com "poder das polícias" ou "poder policial".
"Poder de polícia" é conceito de direito administrativo previsto no art. 78 do Código Tributário
Nacional e explicado pela doutrina como "atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos
direitos individuais em benefício do interesse público". Já o "poder das polícias" ou "poder policial",
típico dos órgãos policiais, é marcado pela possibilidade de uso direto da força física para fazer valer
a autoridade estatal, o que não se verifica nas demais formas de manifestação do poder de polícia,
que somente são legitimadas a se valer de mecanismos indiretos de coerção, tais como multas e
restrições administrativas de direitos. Um agente de vigilância sanitária, por exemplo, quando aplica
multa e autua um restaurante por descumprimento a normas de higiene, o faz em exercício de seu
poder de polícia, mas nem de longe se pode compará-lo com um agente policial que usa a força física
para submeter alguém a uma revista pessoal.

Dessa forma, o "poder das polícias" ou "poder policial" diz respeito a um específico
aspecto do poder de polícia relacionado à repressão de crimes em geral pelos entes policiais, de
modo que todo órgão policial exerce poder de polícia, mas nem todo poder de polícia é
necessariamente exercido por um órgão policial.

Conquanto não sejam órgãos policiais propriamente ditos, as guardas municipais exercem
poder de polícia e também algum poder policial residual e excepcional dentro dos limites de suas
atribuições. A busca pessoal - medida coercitiva invasiva e direta - é exemplo desse poder, razão
pela qual só pode ser realizada dentro do escopo de atuação da guarda municipal.
Ao dispor, no art. 301 do CPP, que "qualquer do povo poderá [...] prender quem quer que
seja encontrado em flagrante delito", o legislador, tendo em conta o princípio da autodefesa da
sociedade e a impossibilidade de que o Estado seja onipresente, contemplou apenas os flagrantes
visíveis de plano, como, por exemplo, a situação de alguém que, no transporte público, flagra um
indivíduo subtraindo sorrateiramente a carteira do bolso da calça de outrem e o detém. Distinta, no
entanto, é a hipótese em que a situação de flagrante só é evidenciada depois de realizar atividades
invasivas de polícia ostensiva ou investigativa, como a busca pessoal ou domiciliar, uma vez que não
é qualquer do povo que pode investigar, interrogar, abordar ou revistar seus semelhantes.

A adequada interpretação do art. 244 do Código de Processo Penal é a de que a fundada


suspeita de posse de corpo de delito é um requisito necessário, mas não suficiente, por si só, para
autorizar a realização de busca pessoal, porque não é a qualquer cidadão que é dada a possibilidade
de avaliar a presença dele. Em outras palavras, mesmo se houver elementos concretos indicativos
de fundada suspeita da posse de corpo de delito, a busca pessoal só será válida se realizada pelos
agentes públicos com atribuição para tanto, a quem compete avaliar a presença de tais indícios e
proceder à abordagem e à revista do suspeito.

Da mesma forma que os guardas


-
municipais não são equiparáveis a policiais, também não
são cidadãos comuns, de modo que, se, por um lado, não podem realizar tudo o que é autorizado às
polícias, por outro, também não estão plenamente reduzidos à mera condição de "qualquer do
povo". Trata-se de agentes públicos que desempenham atividade de segurança pública e são
dotados do importante poder-dever de proteger os bens, serviços e instalações municipais, assim
como os seus respectivos usuários.

Dessa forma, é possível e recomendável que exerçam a vigilância, por exemplo, de creches,
escolas e postos de saúde municipais, para garantir que não tenham sua estrutura danificada por
vândalos, ou que seus frequentadores não sejam vítimas de furto, roubo ou algum tipo de violência,
a fim de permitir a continuidade da prestação do serviço público municipal correlato a tais
instalações. Nessa linha, guardas municipais podem realizar patrulhamento preventivo na cidade,
mas sempre vinculados à finalidade da corporação, sem que lhes seja autorizado atuar como
verdadeira polícia para reprimir e investigar a criminalidade urbana ordinária.

Não é das guardas municipais, mas sim das polícias, como regra, a competência para
investigar, abordar e revistar indivíduos suspeitos da prática de tráfico de drogas ou de outros
delitos cuja prática não atente de maneira clara, direta e imediata contra os bens, serviços e
instalações municipais ou as pessoas que os estejam usando naquele momento.

Poderão, todavia, realizar busca pessoal em situações excepcionais - e por isso


interpretadas restritivamente - nas quais se demonstre concretamente haver clara, direta e imediata
relação com a finalidade da corporação, como instrumento imprescindível para a realização de suas
atribuições. Vale dizer, salvo na hipótese de flagrante delito, só é possível que as guardas municipais
realizem excepcionalmente busca pessoal se, além de justa causa para a medida (fundada suspeita),
houver pertinência com a necessidade de tutelar a integridade de bens e instalações ou assegurar a
adequada execução dos serviços municipais, assim como proteger os seus respectivos usuários, o
que não se confunde com permissão para desempenharem atividades ostensivas ou investigativas
típicas das polícias militar e civil para combate da criminalidade urbana ordinária em qualquer
contexto.

No caso, guardas municipais estavam em patrulhamento quando depararam com o


acusado em "atitude suspeita". Por isso, decidiram abordá-lo e, depois de revista pessoal,
encontraram certa quantidade de drogas no bolso traseiro e nas vestes íntimas dele, o que ensejou a
sua prisão em flagrante delito.

Ainda que, eventualmente, se considerasse provável que o réu ocultasse objetos ilícitos,
isto é, que havia fundada suspeita de que ele escondia drogas, não existia certeza sobre tal situação a
ponto de autorizar a imediata prisão em flagrante por parte de qualquer do povo, com amparo no
art. 301 do CPP. Tanto que só depois de constatado que havia drogas dentro do bolso e das vestes
íntimas do abordado é que se deu voz de prisão em flagrante para ele, e não antes.

Portanto, por não haver sido demonstrada concretamente a existência de relação clara,
direta e imediata com a proteção dos bens, serviços ou instalações municipais, ou de algum cidadão
que os estivesse usando, não estavam os guardas municipais autorizados, naquela situação, a avaliar
As guardas municipais não podem ser
a presença da fundada suspeita e efetuar a busca pessoal no acusado.equiparadas a órgãos policiais, muito embora
sejam órgãos de segurança pública

Poder de policia nao se confunde com poder


policial. A guarda municipal apenas exerce o
INFORMAÇÕES ADICIONAIS poder policial residual (dentro do escopo) -
ex busca pessoal.

STJ entende que no caso de flagrante delito


LEGISLAÇÃO e se relacionado com as atribuições da
guarda municipal poderia.
Código de Processo Penal (CPP), art. 244 e art. 301

Constitui ção Federal (CF), art. 129, VII, e art. 144, caput
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO AgInt no AREsp 2.174.427-RJ, Rel. Ministro Gurgel de


Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
18/9/2023, DJe 20/9/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Execução fiscal. Bem de família. Alienação após


constituição do crédito tributário. Impenhorabilidade.
Manutenção. Fraude. Inexistência.

DESTAQUE

Mesmo quando o devedor aliena o imóvel que lhe sirva de residência, deve ser mantida a
cláusula de impenhorabilidade. Porque imune aos efeitos da execucao.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

As Turmas integrantes da Primeira Seção firmaram a tese segundo a qual, mesmo que o
devedor aliene imóvel que sirva de residência sua e de sua família, deve ser mantida a cláusula de
impenhorabilidade, porque o imóvel em questão seria imune aos efeitos da execução, não havendo
falar em fraude à execução na espécie.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.FRAUDE


À EXECUÇÃO FISCAL. BEM DE FAMÍLIA. ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL. MANUTENÇÃO DA
CLÁUSULA DE IMPENHORABILIDADE. 1. Mesmo quando o devedor aliena o imóvel que lhe sirva de
residência, deve ser mantida a cláusula de impenhorabilidade porque imune aos efeitos da
execução; caso reconhecida a invalidade do negócio, o imóvel voltaria à esfera patrimonial do
devedor ainda como bem de família. 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp
1.719.551/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 21/5/2019, DJe 30/5/2019).
SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 1.787.614-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
2/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Preço de transferência. IRPJ. CSLL. Art. 18 da Lei n.


9.430/1996. Método PRL. Interpretação. IN SRF n.
243/2002. Legalidade.

DESTAQUE

A interpretação adotada pela Receita Federal do Brasil por meio da Instrução Normativa
SRF n. 243/2002 não viola o art. 18 da Lei n. 9.430/1996.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Trata-se, na origem, de mandado de segurança impetrado com a finalidade de ver


assegurado o direito à apuração dos preços de transferência pelo método PRL segundo os critérios
estabelecidos pelo art. 18 da Lei n. 9.430/1996, afastando-se aqueles constantes na Instrução
Normativa SRF n. 243/2002.

O objetivo principal da metodologia dos preços de transferência é assegurar ao Estado que


os fatos geradores de obrigações tributárias não escapem do seu poder tributante por força da
alocação de lucros promovida por contribuintes dotados de projeções empresariais internacionais.
Trata-se de um instrumento de combate à erosão das bases tributáveis decorrente da transferência
de valores para outras jurisdições, sobre a qual a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico - OCDE vem se dedicando por meio do Plano de Ação sobre BEPS (Base Erosion and
Profit Shifting). Em termos práticos, a sistemática está baseada na comparação entre uma operação
em condições normais de mercado e a operação entre partes vinculadas, determinando-se o valor
envolvido na operação a partir do que usualmente acontece em situações desprovidas de vinculação
(preço parâmetro). É dizer, os Estados adotam tal sistemática para que se descubra ou se confirme o
real preço do bem importado, evitando assim a indevida exportação de lucros.
No Brasil, a metodologia dos preços de transferência foi instituída pela Lei n. 9.430/1996,
norma que compreende o conceito de partes relacionadas e elenca os métodos estabelecidos, dentre
eles o PRL, objeto de discussão no presente caso. Sob a redação da Lei n. 9.430/1996 vigente à época
da propositura do mandado de segurança, o PRL foi um método de margens predeterminadas
mediante a imposição de um coeficiente presumido de lucro, com o qual o contribuinte concordava
ao optar pela aplicação em suas operações com partes relacionadas.

A interpretação adotada pela Receita Federal do Brasil por meio da Instrução Normativa
SRF n. 243/2002, referendada pelo Tribunal de origem, não viola o art. 18 da Lei n. 9.430/1996,
tampouco os demais dispositivos legais indicados. Trata-se de interpretação lógica, com base na
ratio legis, ou seja, na finalidade da norma instituída. A função de uma instrução normativa não é a
mera repetição do texto da lei, mas a sua regulamentação, esclarecendo a sua função prática.

A Instrução Normativa SRF n. 243/2002 teve por finalidade apenas consubstanciar a


correta interpretação que se deve fazer no que diz respeito à metodologia prevista pelo art. 18 da
Lei n. 9.430/1996, em observância ao art. 100, I, do CTN, sem que houvesse indevida majoração do
tributo. A forma de cálculo prevista em lei e pormenorizada pelo art. 12 da Instrução Normativa SRF
n. 243/2002 atende à finalidade consagrada pela sistemática do preço de transferência, sendo a
interpretação defendida pela recorrente verdadeira causa de desrespeito aos arts. 43 e 97 do CTN,
ao pretender a redução de sua carga tributária mediante a dedução indevida de valores.

O advento da Lei n. 12.715/2012 com o intuito de incluir as previsões da Instrução


Normativa SRF n. 243/2002 ao texto da Lei n. 9.430/1996 não deveria ser encarado como
reconhecimento pelo Fisco de que a norma infralegal extrapolou a previsão legal. Não obstante o
correto posicionamento da Receita Federal do Brasil, tal como exposto no presente voto, é no
mínimo adequada a alteração da norma para estancar as inúmeras batalhas na seara administrativa
e judicial, como medida de redução de danos fiscais e de custos com o contencioso tributário.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Tributário Nacional, arts. 43, 97 e 100.

Art. 18 da Lei n. 9.430/1996


Lei n. 12.715/2012

IN SRF n. 243/2002
TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.001.108-MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
3/10/2023, DJe 9/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DA SAÚDE

TEMA Protocolo Pediasuit. Procedimento não listado no rol da


ANS. Cobertura pela operadora. Incidência da cláusula de
coparticipação para atendimento ambulatorial. Previsão
contratual. Não abusividade. Parâmetro para cobrança.
Valor pago a título de contraprestação.

DESTAQUE

O tratamento conforme o protocolo Pediasuit configura-se como uma forma de assistência


ambulatorial, não se caracterizando como prática abusiva a cobrança de coparticipação pelo plano
de saúde, desde que tal cobrança esteja prevista no contrato.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A coparticipação, segundo o art. 16, VIII, da Lei n. 9.656/1998, deve estar prevista no
contrato. No caso, o Tribunal de origem registrou que as partes possuem contrato empresarial na
modalidade coparticipação e que o contrato prevê a cobrança de coparticipação somente para os
procedimentos de consulta, exames de rotina, exames especializados, atendimento ambulatorial e
internação.

Diante disso, passou-se a discutir se o tratamento com o protocolo Pediasuit se enquadra


na hipótese de atendimento ambulatorial, a autorizar a cobrança da coparticipação prevista no
contrato.

O protocolo Pediasuit, é, em geral, aplicado em sessões conduzidas por fisioterapeutas,


terapeutas ocupacionais e/ou fonoaudiólogos, dentro das respectivas áreas de atuação, sem a
necessidade de internação ou mesmo da utilização de estrutura hospitalar, enquadrando-se, a
despeito de sua complexidade, no conceito de atendimento ambulatorial, para os fins de direito.

Assim, o tratamento com o protocolo Pediasuit pode ser objeto de cláusula contratual de
coparticipação.

O fato de o procedimento específico não estar incluído no rol da ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar) não impede a cobrança da coparticipação correspondente estabelecida em
contrato. A uma, porque essa contraprestação está vinculada à prévia cobertura pela operadora; a
duas, porque o rol não é estático, mas está em constante e permanente atualização.

É dizer, se a operadora atende à necessidade do beneficiário ao custear o procedimento ou


evento, ainda que não listado no rol da ANS, opera-se o fato gerador da obrigação de pagar a
coparticipação, desde que, evidentemente, haja clara previsão contratual sobre a existência do fator
moderador e sobre as condições para sua utilização, e que, concretamente, sua incidência não revele
uma prática abusiva.

E para que a coparticipação não caracterize o financiamento integral do procedimento por


parte do usuário ou se torne fator restritor severo de acesso aos serviços, é possível aplicar, por
analogia, o disposto no art. 19, II, "b", da RN-ANS 465/2022, para limitar a cobrança "ao máximo de
cinquenta por cento do valor contratado entre a operadora de planos privados de assistência à
saúde e o respectivo prestador de serviços de saúde". (AgInt no REsp 1.870.789/SP, Terceira Turma,
julgado em 18/5/2021, DJe 24/5/2021).

No que tange à exposição financeira do titular, mês a mês, é razoável fixar como
parâmetro, para a cobrança da coparticipação, o valor equivalente à mensalidade paga, de modo que
o desembolso mensal realizado por força do mecanismo financeiro de regulação não seja maior que
o da contraprestação paga pelo beneficiário. Assim, quando a coparticipação devida for superior ao
valor de uma mensalidade, o excedente deverá ser dividido em parcelas mensais, cujo valor máximo
se limita ao daquela contraprestação, até que se atinja o valor total.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.656/1998, art. 16, VIII Quando a coparticipação for superior a uma mensalidade, deve dividir
em parcelas mensais.
RN-ANS 465/2022, art. 19, II, "b"

PROCESSO REsp 2.077.278-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
3/10/2023, DJe 9/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Vazamento de dados bancários. Golpe do boleto.


Tratamento de dados pessoais sigilosos de maneira
inadequada. Art. 43 da LGPD. Facilitação da atividade
criminosa. Fato do serviço. Dever de indenizar. Súmula
479/STJ.

DESTAQUE

A instituição financeira responde pelo defeito na prestação de serviço consistente no


tratamento indevido de dados pessoais bancários, quando tais informações são utilizadas por
estelionatário para facilitar a aplicação de golpe em desfavor do consumidor.

O serviço e defeituoso quando nao oferece a segurança que dele se poderia esperar.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do art. 14, § 1°, do CDC (Código de Defesa do Consumidor), o serviço é
considerado defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração circunstâncias relevantes, como o modo de seu fornecimento, o
resultado e os riscos que razoavelmente dele se conjecturam, e a época em que foi fornecido.

A prestação do serviço de qualidade pelos fornecedores abrange o dever de segurança,


que, por sua vez, engloba tanto a integridade psicofísica do consumidor, quanto sua integridade
patrimonial. Consabidamente, o CDC é aplicável às instituições financeiras (Súmula 297/STJ), as
quais devem prestar serviços de qualidade no mercado de consumo.

No entendimento do Tema Repetitivo n. 466/STJ, que contribuiu para a edição da Súmula


n. 479/STJ, as instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou
delitos praticados por terceiros, como, por exemplo, abertura de conta corrente ou recebimento de
empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos, porquanto tal responsabilidade
decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como fortuito interno (REsp n.
1.197.929/PR, Segunda Seção, julgado em 24/8/2011, DJe 12/9/2011).

Especificamente nos casos de golpes de engenharia social, não se pode olvidar que os
criminosos são conhecedores de dados pessoais das vítimas, valendo-se dessas informações para
convencê-las, por meio de técnicas psicológicas de persuasão - como a semelhança com o
atendimento bancário verdadeiro -, a fim de atingir seu objetivo ilícito.

Todavia, para sustentar o nexo causal entre a atuação dos estelionatários e o vazamento
de dados pessoais pelo responsável por seu tratamento é imprescindível perquirir, com exatidão,
quais dados estavam em poder dos criminosos, a fim de examinar a origem de eventual vazamento
e, consequentemente, a responsabilidade dos agentes respectivos.

Assim, para se imputar a responsabilidade às instituições financeiras, no que tange ao


vazamento de dados pessoais que culminaram na facilitação de estelionato, deve-se garantir que a
origem do indevido tratamento seja o sistema bancário. Os nexos de causalidade e imputação,
portanto, dependem da hipótese concretamente analisada. Isso porque os dados sobre operações
financeiras são, em regra, presumivelmente de tratamento exclusivo pelas instituições financeiras.

Portanto, dados pessoais vinculados a operações e serviços bancários são sigilosos e cujo
tratamento com segurança é dever das instituições financeiras. Desse modo, seu armazenamento de
maneira inadequada, a possibilitar que terceiros tenham conhecimento dessas informações e
causem prejuízos ao consumidor, configura falha na prestação do serviço (art. 14 do CDC e 43 da
É necessário comprovar o nexo causal - que a
LGPD). informação pertencia ao sistema bancário.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Defesa do Consumidor (CDC), art. 14, § 1°


Lei n. 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), art. 43

SÚMULAS

Súmula 479/STJ

PRECEDENTES QUALIFICADOS

Tema 466/STJ
QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt no REsp 1.641.241-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos


Ferreira, Rel. para acórdão Ministra Maria Isabel Gallotti,
Quarta Turma, por maioria, julgado em 7/2/2023, DJe
3/7/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Comodato por prazo indeterminado. Extinção.


Transcurso de tempo suficiente para utilização do bem.
Notificação extrajudicial do comodatário sobre o
desinteresse do comodante em manter o ajuste.
Suficiente.

DESTAQUE

No contrato de comodato por prazo indeterminado, após o transcurso do intervalo


suficiente à utilização do bem, é devida a sua restituição, pelo comodatário, bastando para tanto a
sua notificação. Em contrato de comodato sem prazo, após o transcurso de prazo razoável a notificação para
devolução do bem é suficiente para obrigar a restituição . Trata-se de direito potestativo do
autor.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Trata-se de pedido de extinção de comodato por prazo indeterminado de imóvel cedido


pelos autores à pessoa jurídica para aumento de seu parque industrial de exploração de jazida
aquífera.

O art. 581 do Código Civil estabelece o comodato sem prazo definido, hipótese na qual
"presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido". Com efeito, o comodato é uma liberalidade.
A interpretação do dispositivo legal tem de partir dessa premissa, de que se trata de uma
liberalidade e um contrato temporário, sob pena de virar doação.

No caso, a empresa está utilizando o bem objeto do comodato. Pode-se discutir se bastaria
usar para depósito de material ou se seria para extração de água, mas, mesmo que fosse para
exploração aquífera, qualquer que seja a finalidade, como se trata de comodato por prazo
indeterminado, transcorrido prazo suficiente, o comodante possui o direito de pedir de volta o
imóvel.

Não é necessário que o bem não se preste mais a uso algum para o comodatário para que
seja extinto o comodato.

A discussão não deve ser se ainda é possível ou não a utilização do bem pela comandatária.

A questão é que houve uma notificação extrajudicial para extinção do comodato, na linha
da jurisprudência citada pelo eminente relator: não tendo prazo determinado, após o transcurso do
intervalo suficiente à utilização do bem, pelo comodatário, conforme sua destinação, basta a
notificação, concedendo um prazo razoável para a restituição da coisa (REsp 1.327.627/RS, relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 25/10/2016, DJe 1/12/2016).

Dessa forma, o direito potestativo de rescindir o contrato é do proprietário do bem, que,


por ato de liberalidade, faz o comodato e pode, sem declinar nenhuma razão, realizar a denúncia
vazia do comodato, requerendo a coisa de volta, desde que esta tenha ficado por um prazo razoável
à disposição do comodatário.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil (CC), art. 581


PROCESSO REsp 2.069.181-SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta
Turma, por unanimidade, julgado em 10/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Inventário. Cláusula de nomeação de curadora especial


para administração da parcela disponível do patrimônio
deixado à herdeira incapaz. Herdeira legítima e
testamentária. Exercício do poder familiar pelo genitor.
Irrelevante. Cumprimento de disposições testamentárias.
Legalidade. Soberania da vontade da testadora.

DESTAQUE

É válida a disposição testamentária que institui filha co-herdeira como curadora especial
dos bens deixados à irmã incapaz, relativamente aos bens integrantes da parcela disponível da
herança, ainda que esta se encontre sob o poder familiar ou tutela.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia reside na validade de cláusula testamentária, em que prevista a instituição


de filha maior como curadora especial de sua irmã co-herdeira incapaz relativamente aos bens
integrantes da parcela disponível da herança instituída pela genitora comum conforme o parágrafo
2º do artigo 1.733 do Código Civil, o qual permite que quem institui um menor herdeiro ou legatário
nomeie um curador especial para os bens deixados, mesmo que o beneficiário esteja sob poder
familiar ou tutela.

Na origem, as instâncias ordinárias declararam ineficaz a disposição testamentária em que


a autora da herança nomeara a sua filha maior como curadora especial, sob o fundamento principal
de que a faculdade prevista no artigo 1.733, parágrafo 2º, do Código Civil não se aplica aos casos em
que os herdeiros necessários também são os únicos beneficiários da parte disponível, pois, assim,
não haveria justa causa e operabilidade na restrição imposta.

Assim delimitado o contexto, o testamento consubstancia expressão da autonomia


privada, inclusive em termos de planejamento sucessório - ainda que limitada pelas regras afetas à

Testamento e o princípio da autonomia privada.


A instituição do curador nao prejudica o poder familiar, aquele diz respeito apenas aos
bens
sucessão legítima -, e tem por escopo justamente a preservação da vontade daquele que, em vida,
concebeu o modo de disposição de seu patrimônio para momento posterior à sua morte, o que inclui
a própria administração/gestão dos bens deixados.

A instituição de curador para o patrimônio não exclui ou obsta o exercício do poder


familiar pelo genitor sobrevivente ou a tutela, porquanto compete àquele tão-somente gerir os bens
deixados sob a referida condição, em estrita observância à vontade do autor da herança, sem
descurar dos interesses da criança ou adolescente beneficiário.

A circunstância de a descendente, ainda criança, manter a posição de herdeira legítima e


testamentária, simultaneamente, não conduz ao afastamento da disposição relacionada à instituição
de curadora especial para administrar os bens integrantes da parcela disponível da testadora,
expressamente prevista em lei, sem que haja qualquer necessidade de aferir a inidoneidade do
detentor do poder familiar ou tutor.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil (CC), art. 1.733, § 2º

§ 2 o Quem institui um menor herdeiro, ou legatário seu, poderá nomear-lhe curador especial para os bens deixados, ainda que o beneficiário se encontre sob o poder
familiar, ou tutela.
QUINTA TURMA

PROCESSO AgRg no REsp 2.053.887-MG, Rel. Ministro Joel Ilan


Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
15/5/2023, DJe 18/5/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, EXECUÇÃO PENAL

TEMA Execução penal. Unificação de penas de reclusão e


detenção. Art. 111 da Lei de Execução Penal - LEP.
Possibilidade.

DESTAQUE

É possível a unificação das penas de reclusão e de detenção, na fase de execução penal,


para fim de fixação do regime prisional inicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia cinge-se em analisar a possibilidade de soma das penas de reclusão e de


detenção, na fase de execução penal, para fim de fixação do regime prisional.

A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de ser cabível a soma de tais penas,
pois são reprimendas da mesma espécie (privativas de liberdade), nos termos do art. 111 da Lei de
Execução Penal - LEP: "A teor do art. 111 da Lei n. 7.210/1984, na unificação das penas, devem ser
consideradas cumulativamente tanto as reprimendas de reclusão quanto as de detenção para efeito
de fixação do regime prisional, porquanto constituem penas de mesma espécie, ou seja, ambas são
penas privativas de liberdade" (AgRg no HC n. 473.459/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, DJe de 01/03/2019). Precedentes do STF e desta Corte Superior de Justiça; (AgRg no
REsp n. 2.007.173/MG, relator Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, julgado em 14/2/2023,
DJe de 22/2/2023).

Portanto, mostra-se equivocado o raciocínio de que, caso sejam estabelecidos regimes


diversos para o cumprimento das reprimendas, a execução da pena de detenção deve ser suspensa
até que o apenado esteja em regime prisional compatível com essa espécie de sanção penal.

Equivocado o raciocínio de que a execução deve ser suspensa se houver disparidade de regimes.
Deve haver a unificação - o juiz da execução pode fazer

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei de Execução Penal (LEP), art. 111


Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de
cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para
determinação do regime. '

PROCESSO AgRg no HC 798.225-RS, Rel. Ministro Ribeiro Dantas,


Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 12/6/2023,
DJe 16/6/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Alegada nulidade no depoimento inquisitorial de corréu.


Ausência de cientificação do investigado quanto ao
direito de permanecer em silêncio. Art. 563 do Código de
Processo Penal (pas de nullité sans grief). Ausência de
prejuízo demonstrado.
DESTAQUE

Só há nulidade pela falta de cientificação do acusado sobre o seu direito de permanecer em


silêncio, em fase de inquérito policial, caso demonstrado o efetivo prejuízo.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia cinge-se em verificar a ocorrência de nulidade, consistente na ausência de


cientificação do investigado do seu direito de permanecer em silêncio, em fase de inquérito policial.

É cediço que o reconhecimento de nulidades no curso do processo penal, seja absoluta ou


relativa, reclama uma efetiva demonstração do prejuízo à parte, sem a qual prevalecerá o princípio
da instrumentalidade das formas positivado pelo art. 563 do CPP (pas de nullité sans grief).

Dessarte, a declaração de nulidade fica subordinada não apenas à alegação de existência


de prejuízo, mas à efetiva demonstração de sua ocorrência, o que não ocorre nas hipóteses em que
corréu nega veementemente a autoria do crime.

Segundo jurisprudência deste Tribunal: "Convém lembrar, ainda, que o reconhecimento de


nulidade, relativa ou absoluta, no curso do processo penal, segundo entendimento pacífico desta
Corte Superior, reclama uma efetiva demonstração do prejuízo à parte, sem a qual prevalecerá o
princípio da instrumentalidade das formas positivado pelo art. 563 do CPP (pas de nullité sans
grief). Precedentes. (AgRg no HC 738.493/AL, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,
julgado em 18/10/2022, DJe de 24/10/2022).

Demais disso, convém registrar que a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça
consolidou-se no sentido de que eventuais máculas na fase extrajudicial não tem o condão de
contaminar a ação penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial (RHC
119.097/MG, Rel. Ministro Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE),
Quinta Turma, julgado em 11/2/2020, DJe 19/2/2020 e AgRg no AREsp 1.392.381/SP, Rel. Ministro
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 12/11/2019, DJe 22/11/2019).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO
Código de Processo Penal (CPP), art. 563

563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a
defesa.
SEXTA TURMA

PROCESSO REsp 2.091.647-DF, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz,


Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 26/9/2023,
DJe 3/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Decisão de pronúncia. In dubio pro societate. Não


aplicação. Standard probatório. Elevada probabilidade.

DESTAQUE

Para a decisão de pronúncia, exige-se elevada probabilidade de que o réu seja autor ou
partícipe do delito a ele imputado, não se aplicando o princípio in dubio pro societate.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A pronúncia consubstancia um juízo de admissibilidade da acusação, razão pela qual o Juiz


precisa estar "convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação" (art. 413, caput, do Código de Processo Penal). O juízo da acusação (judicium
accusationis) funciona como um importante filtro pelo qual devem passar somente as acusações
fundadas, viáveis, plausíveis e idôneas a serem objeto de decisão pelo juízo da causa (judicium
causae).

A desnecessidade de prova cabal da autoria para a pronúncia levou parte da doutrina,


acolhida durante tempo considerável pela jurisprudência, a defender a existência do in dubio pro
societate, princípio que alegadamente se aplicaria a essa fase processual.

Todavia, o fato de não se exigir um juízo de certeza quanto à autoria nessa fase não
significa legitimar a aplicação da máxima in dubio pro societate, que não tem amparo no
ordenamento jurídico brasileiro, e admitir que toda e qualquer dúvida autorize uma pronúncia.

Trata-se, apenas, de analisar os requisitos para a submissão do acusado ao tribunal


popular sob o prisma dos standards probatórios, os quais devem seguir uma tendência geral
ascendente/progressiva e representam, segundo a doutrina, "regras que determinam o grau de
confirmação que uma hipótese deve ter, a partir das provas, para poder ser considerada provada
para os fins de se adotar uma determinada decisão".

Essa tendência geral ascendente e progressiva decorre, também, de uma importante


função política dos standards probatórios, qual seja, a de distribuir os riscos de erro entre as partes
(acusação e defesa), erros estes que podem ser tanto falsos positivos quanto falsos negativos.

Quanto mais embrionária a etapa da persecução penal e menos invasiva, restritiva e


severa a medida ou decisão a ser adotada, mais tolerável é o risco de um eventual falso positivo
(atingir um inocente) e, portanto, é mais atribuível à defesa suportar o risco desse erro; por outro
lado, quanto mais se avança na persecução penal e mais invasiva, restritiva e severa se torna a
medida ou decisão a ser adotada, menos tolerável é o risco de atingir um inocente e, portanto, é mais
atribuível à acusação suportar o risco desse erro.

Como a pronúncia se situa na penúltima etapa (antes apenas da condenação) e se trata de


medida consideravelmente danosa para o acusado, que será submetido a julgamento imotivado por
jurados leigos, o standard deve ser razoavelmente elevado e o risco de erro deve ser suportado mais
pela acusação do que pela defesa, ainda que não se exija um juízo de total certeza para submeter o
réu ao Tribunal do Júri.
DÚVIDA DE SEGUNDO GRAU

Deve-se distinguir a dúvida que recai sobre a autoria, a qual, se existentes indícios
suficientes contra o acusado, só será dirimida ao final pelos jurados, porque é deles a competência
para o derradeiro juízo de fato da causa, da dúvida quanto à própria presença dos indícios
suficientes de autoria (metadúvida, dúvida de segundo grau ou de segunda ordem), que deve ser
resolvida em favor do réu pelo magistrado na fase de pronúncia.

Também na pronúncia, ainda que com contornos em certa medida distintos, tem aplicação
o in dubio pro reo, pois, segundo a doutrina, "submeter a julgamento popular um acusado, mesmo
quando há dúvidas da existência do crime ou de indícios suficientes de crimes, constitui uma
temeridade. Isso porque não apenas se viola flagrantemente os direitos e as garantias
constitucionais, como também porque aumenta a possibilidade de erros judiciais, tendo em vista
que a condenação do acusado poderá ocorrer mesmo se os parâmetros probatórios necessários para
a condenação não sejam atingidos".

À luz da efetividade e da utilidade do processo, é preciso, como regra, que toda decisão
que implique o prosseguimento do feito em desfavor do imputado, com início de nova etapa
processual, realize dois juízos: um diagnóstico (retrospectivo) sobre a suficiência do que se
produziu até aquele momento; outro prognóstico sobre o que se projeta para a próxima etapa, a fim
de verificar se será viável superá-la.

Na pronúncia, esse juízo prognóstico sobre a etapa vindoura (julgamento em plenário e


condenação) seria ainda mais importante em virtude da ausência de fundamentação da decisão dos
jurados; ou seja, considerando que, na etapa final do procedimento dos crimes dolosos contra a vida,
o veredito é imotivado, adquire especial relevo o juízo prognóstico sobre a viabilidade da
condenação. Isso esbarra, porém, em dois obstáculos impostos ao juiz togado: a) a impossibilidade
de usurpar a competência constitucional dos jurados para o judicium causae e b) a necessidade de
fundamentar de forma sucinta a decisão, sob pena de incorrer em excesso de linguagem, a teor do
art. 413, § 1º, do CPP e influenciar negativamente os jurados contra o réu.

Assim, o standard probatório para a decisão de pronúncia, quanto à autoria e à


participação, situa-se entre o da simples preponderância de provas incriminatórias sobre as
absolutórias (mera probabilidade ou hipótese acusatória mais provável que a defensiva), típico do
recebimento da denúncia, e o da certeza além de qualquer dúvida razoável (BARD ou outro standard
que se tenha por equivalente), necessário somente para a condenação. Exige-se para a pronúncia,
portanto, elevada probabilidade de que o réu seja autor ou partícipe do delito a ele imputado.

A adoção desse standard desponta como solução possível para conciliar os interesses em
disputa dentro das balizas do ordenamento. Resguarda-se, assim, a função primordial de controle
prévio da pronúncia sem invadir a competência dos jurados e sem permitir que o réu seja
condenado pelo simples fato de a hipótese acusatória ser mais provável do que a sua negativa.

Exige-se elevada
INFORMAÇÕES ADICIONAIS probabilidade de que seja o
autor do delito.
LEGISLAÇÃO
os standards
Recebimento da denúncia mera probabilidade
Código de Processo Penal (CPP), art. 413, "caput", e § 1º Pronuncia entre os dois
Sentença certeza além de qualquer dúvida
razoável

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes
de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as
circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de
liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou
imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
PROCESSO HC 839.602-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma,
por unanimidade, julgado em 3/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Direito processual penal. Recursos especial ou


extraordinário não interpostos. Princípio da
voluntariedade recursal. Art. 574 do CPP. Conflito de
vontades entre réu e defensor. Prevalência da
ponderação da defesa técnica.

DESTAQUE

Cabe à Defesa Técnica a análise de conveniência e oportunidade a respeito de eventual


recurso, no caso de conflito de vontades entre o acusado e o defensor.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se o prazo para interposição de agravo em recurso


especial, que já transcorreu in albis, deve ser reaberto mesmo que o assistido tenha solicitado
requerimento para defensoria pública apresentar agravo em recurso especial.

De início, destaca-se que a não interposição de recursos extraordinários (ou os respectivos


agravos) pela defesa técnica sequer evidencia desídia, pois, com lastro no princípio da
voluntariedade dos recursos, previsto no art. 574, caput, do Código de Processo Penal, a ela cabe a
análise da conveniência e oportunidade a respeito de eventual interposição dos recursos
extraordinários.

Segundo o STF: "Não há ilegalidade evidente ou teratologia a justificar a excepcionalíssima


concessão de habeas corpus de ofício na hipótese de mera ausência de interposição de recursos
excepcionais, ante o princípio da voluntariedade dos recursos". Precedentes: HC 105.308, Rel. Min.
Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 16/10/2014; HC 110.592, Rel. Ministro Dias Toffoli, Primeira
Turma, DJe 22/6/2012.
No âmbito desta Corte Superior, o entendimento é no sentido de que "ante o princípio da
voluntariedade recursal, cabe à defesa analisar a conveniência e oportunidade na interposição dos
recursos, não havendo falar em deficiência de defesa técnica pela ausência de interposição de
insurgência contra a decisão que inadmitiu os recursos extraordinários anteriormente interpostos"
(HC 174.724/AC, Rel. Ministra Marilza Maynard - Desembargadora Convocada do TJ/SE -, Sexta
Turma, julgado em 13/5/2014, DJe 23/5/2014).

Ademais, "o conflito de vontades entre o acusado e o defensor, quanto à interposição de


recurso, resolve-se, de modo geral, em favor da defesa técnica, seja porque tem melhores condições
de decidir da conveniência ou não de sua apresentação, seja como forma mais apropriada de
garantir o exercício da ampla defesa" (RE 188.703/SC, Rel. Ministro Francisco Rezek, Segunda
Turma, julgado em 4/8/1995, DJ 13/10/1995).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Penal (CPP), art. 574

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do
art. 411
PROCESSO RMS 70.679-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma,
por maioria, julgado em 26/9/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL, DIREITO DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE

TEMA Crimes contra crianças e adolescentes. Intimação da


Defensoria Pública para prestar assistência às vítimas, de
ofício. Presença em audiências de depoimentos especiais.
Ausência de ilegalidade. Atuação em conformidade com
as funções constitucionais e legais da Defensoria Pública.
Direito da vítima à assistência jurídica integral.
Inexistência de confusão com as atribuições do
Ministério Público. Defesa dos direitos individuais e
coletivos das crianças e adolescentes.

DESTAQUE

A Defensoria Pública pode ser intimada, de ofício, pelo Juízo para prestar assistência às
crianças e aos adolescentes vítimas de violência, nos procedimentos de escuta especializada, sem
que isso represente sobreposição inconstitucional às funções do Ministério Público.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se a atuação da Defensoria Pública na assistência às


crianças vítimas de violência representa sobreposição inconstitucional às funções desempenhadas
pelo Ministério Público.

A atuação do Parquet como substituto processual da vítima na ação penal pública não se
confunde com a atuação da Defensoria Pública no acompanhamento e na orientação jurídica de
crianças e adolescentes em situação de violência nem pode suplantá-la. Tal atividade não constitui,
por si só, desempenho do múnus de curadoria especial ou de assistência à acusação, mas atividade
jurídica própria, na condição de "custos vulnerabilis", que é o núcleo da atual identidade
constitucional da Defensoria Pública.
A Lei Complementar n. 80/94 expressamente atribui às defensoras e aos defensores
públicos a função de defender os interesses individuais e coletivos das crianças e adolescentes.
Especificamente quando estas crianças e adolescentes são vítimas de abusos, discriminação ou
qualquer outra forma de opressão ou violência, o inciso XVIII do art. 4.º da Lei Complementar n.
80/94 determina que a Defensoria Pública deve atuar na preservação e reparação dos seus direitos,
propiciando acompanhamento e atendimento interdisciplinar.

A necessidade de atuação da Defensoria Pública no atendimento integral às crianças e aos


adolescentes vítimas de violência tornou-se ainda mais evidente com o advento da Lei n.
13.431/2017, que determinou uma série de medidas que devem ser adotadas pelo Estado nessas
situações, como o acesso da criança e do adolescente à assistência jurídica qualificada, a qual está no
âmbito de atuação da Defensoria Pública.

A conduta de intimar defensores públicos para comparecer aos atos de escuta


especializada em favor das vítimas de violência, bem como a postura colaborativa dos defensores,
que comparecem aos atos processuais e reúnem informações para propiciar a integral assistência
jurídica a este grupo vulnerável concretizam a integração operacional entre os órgãos do sistema
justiça e asseguram o acesso aos serviços da Defensoria Pública, nos termos dos arts. 88, incisos V e
VI, e 141, do ECA.

A integração operacional entre os órgãos do sistema de justiça tem como um de seus


objetivos evitar que a ineficiência de qualquer um desses órgãos comprometa o atendimento célere
e diligente que deve ser dispensado às crianças e adolescentes vítimas de violência. Através da
colaboração mútua, eventuais falhas de uma instituição podem ser supridas pela atuação de outra,
guiando-se sempre pela premissa de que deve ser resguardado, com absoluta prioridade, o melhor
interesse da criança.

Não é eficiente impor ao Juízo de origem que somente intime defensores públicos para
comparecer aos atos quando houver pedido prévio e expresso da vítima. A intimação de ofício
proporciona melhores condições de acesso à assistência jurídica integral ofertada pelos defensores
públicos, que terão a oportunidade de esclarecer de forma mais efetiva à vítima as atribuições da
Defensoria Pública e os serviços colocados à sua disposição. De outra parte, a presença da
Defensoria Pública proporciona maior celeridade na adoção de medidas de proteção, o que está em
linha com o dever de se conferir absoluta prioridade à defesa das crianças e adolescentes (art. 227,
caput, da CF).

Aplica-se, por analogia, o disposto nos arts. 27 e 28 da Lei n. 11.340/2003, que asseguram
à mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública,
em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado.
Uma vez que as crianças e adolescentes vítimas de violência integram um grupo
socialmente vulnerável e se submetem ao microssistema de proteção de vulneráveis, deve ser
assegurado também a elas o acesso aos serviços de Defensoria Pública, mediante atendimento
específico e humanizado, em sede policial e judicial, aplicando-se a máxima de que onde há o mesmo
fundamento deve haver a mesma solução jurídica (ubi eadem ratio ibi idem jus).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (CF), art. 134, art. 227, "caput"

ECA, art. 88, V e VI e art. 141

Lei Complementar n. 80/1994, art. 4º, XVIII

Lei n. 13.431/2017

Lei n. 11.340, arts. 27 e 28

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:


I - municipalização do atendimento;
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por
meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa;
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos
direitos da criança e do adolescente;
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e
Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a
adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;
VI - mobilização da opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da
sociedade.
(Revogado)
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e
encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do
atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional,
com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente
inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
hipótese de litigância de má-fé.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.038.833-MG, Rel. Ministro Joel Ilan


Paciornik, Terceira Seção, julgado em 12/09/2023, DJe
22/09/2023. (Tema 1215).
ProAfR no REsp 2.049.969-DF, Rel. Ministro Joel Ilan
Paciornik, Terceira Seção, julgado em 12/09/2023, DJe
22/09/2023 (Tema 1215).
ProAfR no REsp 2.048.768-DF, Rel. Ministro Joel Ilan
Paciornik, Terceira Seção, julgado em 12/09/2023, DJe
22/09/2023 (Tema 1215).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.038.833/MG, 2.048.768/DF e 2.049.969/DF ao
rito dos recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia:
"definir se nos crimes praticados contra a dignidade
sexual configura bis in idem a aplicação simultânea da
agravante genérica do art. 61, II, f, do Código Penal e a
majorante específica do art. 226, II, do Código Penal.
PROCESSO ProAfR no REsp 2.050.957-SP, Rel. Ministro Joel Ilan
Paciornik, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
12/09/2023, DJe 22/09/2023. (Tema 1216).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação do REsp


2.050.957/SP ao rito dos recursos repetitivos, a fim de
uniformizar o entendimento a respeito da seguinte
controvérsia: "possibilidade de aplicação do instituto da
consunção com o fim de reconhecer a absorção do crime
de conduzir veículo automotor sem a devida permissão
para dirigir ou sem habilitação (art. 309 do CTB) pelo
crime de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB).
PROCESSO ProAfR no REsp 2.045.491-DF, Rel. Ministro Paulo Sérgio
Domingues, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 19/9/2023, DJe 22/9/2023. (Tema 1217).
ProAfR no REsp 2.045.193-DF, Rel. Ministro Paulo Sérgio
Domingues, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 19/9/2023, DJe 22/9/2023 (Tema 1217).
ProAfR no REsp 2.045.191-DF, Rel. Ministro Paulo Sérgio
Domingues, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 19/9/2023, DJe 22/9/2023 (Tema 1217).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA A Primeira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.045.491/DF, 2.045.191/DF e 2.045.193/DF ao
rito dos recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia:
"possibilidade de cancelamento de precatórios ou
Requisições de Pequeno Valor (RPV) federais, no período
em que produziu efeitos jurídicos o art. 2º da Lei
13.463/2017, apenas em razão do decurso do prazo legal
de dois anos do depósito dos valores devidos,
independentemente de qualquer consideração acerca da
existência ou inexistência de verdadeira inércia a cargo
do titular do crédito.
Número 792 Brasília, 24 de outubro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

M : 2 10/25 ; 9/1173
=/

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 2.029.482-RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira


Seção, por unanimidade, julgado em 17/10/2023. (Tema
1202).
REsp 2.050.195-RJ, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 17/10/2023 (Tema
1202).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Estupro de vulnerável. Continuidade delitiva. Número


indeterminado de atos sexuais. Crimes praticados por
longo período de tempo. Recorrência das condutas
delitivas. Pratica inequívoca de mais de 7 repetições.
Fração máxima de majoração da pena. Possibilidade.
Tema 1202.

DESTAQUE

No crime de estupro de vulnerável, é possível a aplicação da fração máxima de majoração


prevista no art. 71, caput, do Código Penal, ainda que não haja a delimitação precisa do número de
atos sexuais praticados, desde que o longo período de tempo e a recorrência das condutas permita
concluir que houve 7 (sete) ou mais repetições.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A continuidade delitiva, prevista no art. 71 do Código Penal, é instituto da dosimetria da


pena concebido com a função de racionalizar a punição de condutas que, embora praticadas de
forma independente, estejam inseridas dentro de um mesmo desenvolvimento delitivo. Assim, por
opção legislativa e critérios de política criminal, a lei penal afasta excepcionalmente a aplicação do
concurso material e impõe uma única punição àqueles casos nos quais os crimes subsequentes
possam ser tidos como continuação de um primeiro delito, de acordo com a análise das condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes.

Com efeito, a compreensão jurisprudencial uníssona desta Corte Superior firmou-se no


sentido de que, diante da prática de apenas 2 (duas) condutas em continuidade, deve-se aplicar o
aumento mínimo previsto no art. 71, caput, do Código Penal, qual seja, 1/6 (um sexto). A partir
desse piso, a fração de aumento deve ser aumentada gradativamente, conforme o número de
condutas em continuidade, até se alcançar o teto legal de 2/3 (dois terços), o que ocorre a partir da
sétima conduta delituosa.

A adoção do critério referente ao número de condutas praticadas suscita questões


específicas nos crimes de natureza sexual, especialmente no delito de estupro de vulnerável, em
razão do triste contexto fático que frequentemente se constata nestes crimes. A proximidade que o
autor do delito de estupro de vulnerável normalmente possui com a vítima, a facilidade de acesso à
sua residência e a menor capacidade que os vulneráveis possuem de se insurgir contra o agressor
são condições que favorecem a repetição silenciosa, cruel e indeterminada de abusos sexuais.

Não raras vezes, cria-se um ambiente de submissão perene da vítima ao agressor,


naturalizando-se a repetição da violência sexual como parte da rotina cotidiana de crianças e
adolescentes. Nessas hipóteses, a vítima, completamente subjugada e objetificada, não possui sequer
condições de quantificar quantas vezes foi violentada. A violência contra ela deixou ser um fato
extraordinário, convertendo-se no modo cotidiano de vida que lhe foi imposto.

A torpeza do agressor, que submeteu a vítima a abusos sexuais tão recorrentes e


constantes ao ponto de tornar impossível determinar o número exato de suas condutas,
evidentemente não pode ser invocada para se pleitear uma majoração menor na aplicação da
continuidade delitiva. Nos crimes de natureza sexual, o critério jurisprudencial objetivo para a
fixação da fração de majoração na continuidade delitiva deve ser contextualizado com as
circunstâncias concretas do delito, em especial o tempo de duração da situação de violência sexual e
a recorrência das condutas no cotidiano da vítima, devendo-se aplicar o aumento no patamar que,
de acordo com as provas dos autos, melhor se aproxime do número real de atos sexuais
efetivamente praticados.
De fato, ambas as turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça já
se manifestaram, de forma unânime, no sentido de que, para aplicação do aumento decorrente da
continuidade delitiva, é prescindível a indicação exata do número de condutas praticadas, sendo
preponderante o exame do tempo de duração dos abusos e da sua recorrência

Na situação em análise, a Corte estadual esclareceu que a vítima, com apenas 11 anos de
idade no início das condutas delitivas, foi submetida pelo Acusado aos mais diversos tipos de atos
libidinosos, de modo frequente e ininterrupto, ao longo de cerca de 4 (quatro) anos. Estas
circunstâncias fáticas tornam plenamente justificada a majoração da pena, em decorrência da
continuidade delitiva, na fração máxima de 2/3 (dois terços).

Por fim, não é possível a aplicação da continuidade delitiva entre os delitos de estupro
qualificado (art. 213, § 1.º, do Código Penal) e estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal),
pois se tratam de tipos penais que tutelam bens jurídicos diversos e que possuem circunstâncias
elementares bastante distintivas. Enquanto o estupro de vulnerável tutela a dignidade sexual e o
direito ao desenvolvimento da personalidade livre de abusos, o estupro qualificado tutela a
liberdade sexual e o direito ao exercício da sexualidade sem coações.

No caso, verifica-se que ambos os bens jurídicos foram violados, pois o sentenciado violou
a dignidade sexual da criança, convertendo-a em instrumento sexual quando ela sequer era capaz de
consentir com os atos praticados, bem como, posteriormente, violou a liberdade sexual da
adolescente, privando-a da liberdade de consentir ao constrangê-la mediante o emprego de grave
ameaça.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Penal (CP), art. 71, art. 213, § 1º e art. 217-A

Continuidade delitiva - racionalização


na punição de condutas dentro de um
mesmo contexto fático.

Proximidade com o autor.

Realidade: Facilidade de contato com


a vitima

Torpeza do agressor.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1 o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2 o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
PROCESSO REsp 1.982.304-SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 17/10/2023, DJe
20/10/2023 (Tema 1166).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Apropriação indébita previdenciária. Art. 168-A, § 1º, I,


do Código Penal. Crime material. Consumação com a
constituição definitiva do crédito tributário. Incidência
da Súmula Vinculante n. 24 do STF. Reafirmação do
entendimento sedimentado no STJ. (Tema 1166).

DESTAQUE

O crime de apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A, § 1º, I, do Código


Penal, possui natureza de delito material, que só se consuma com a constituição definitiva, na via
administrativa, do crédito tributário, consoante o disposto na Súmula Vinculante n. 24 do Supremo
Tribunal Federal.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir a natureza jurídica (formal ou material) do crime de


apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A do Código Penal.

A importância prática da distinção entre crime formal e crime material diz respeito à
necessidade de constituição definitiva do crédito tributário para a tipificação do crime do art. 168-A,
§ 1º, I, do Código Penal, o que repercute na definição acerca da data da consumação do delito e no
termo inicial da prescrição, pois, nos termos do art. 111, I, do Código Penal, a "prescrição, antes de
transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou".

Com efeito, a Súmula Vinculante n. 24 do STF estabelece que "Não se tipifica crime
material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei n. 8.137/1990, antes do
lançamento definitivo do tributo". Como se vê, os crimes insculpidos no art. 1º, I a IV, da Lei n.
8.137/1990 são considerados crimes materiais, sendo necessária a redução ou supressão do tributo
e, consequentemente, a constituição do crédito tributário definitivo como condição para a
persecução penal.

É certo que o enunciado da Súmula Vinculante n. 24/STF trata expressamente dos delitos
previstos no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/1990. No entanto, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal, nos autos do Inq. 3.102/MG, reconheceu que a "sistemática de imputação penal por crimes
de sonegação contra a Previdência Social deve se sujeitar à mesma lógica aplicada àqueles contra a
ordem tributária em sentido estrito".

Ademais, vale ressaltar que a questão deduzida no recurso se encontra, atualmente,


pacificada no âmbito desta Corte, no sentido de que o crime de apropriação indébita previdenciária
é de natureza material, que só se consuma com a constituição definitiva, na via administrativa, do
débito tributário.

Por todo o exposto, para os fins do art. 927, inciso III, c/c o art. 1.039 e seguintes, do
Código de Processo Civil, há a reafirmação do entendimento consolidado desta Corte Superior e a
resolução da controvérsia repetitiva com a tese: "O crime de apropriação indébita previdenciária,
previsto no art. 168-A, § 1º, inciso I, do Código Penal, possui natureza de delito material, que só se
consuma com a constituição definitiva, na via administrativa, do crédito tributário, consoante o
disposto na Súmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal".

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.137/1990, art. 1º, incisos I a IV

Código Penal (CP), art. 168-A, § 1º, I

Código Penal (CP), art. 111, I

Código de Processo Civil (CPC), art. 927 e 1.039


PROCESSO REsp 2.049.870-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira
Seção, por maioria, julgado em 17/10/2023, DJe
20/10/2023. (Tema 1208).
REsp 2.055.920-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira
Seção, por maioria, julgado em 17/10/2023, DJe
20/10/2023. (Tema 1208)

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Reincidência. Ausência de reconhecimento pelo juízo


sentenciante. Reconhecimento pelo juízo da execução.
Possibilidade. Reafirmação do entendimento
sedimentado pela Terceira Seção do STJ no EREsp
1.738.968-MG. Tema 1208.

DESTAQUE

A reincidência pode ser admitida pelo juízo das execuções penais para análise da
concessão de benefícios, ainda que não reconhecida pelo juízo que prolatou a sentença
condenatória.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O reconhecimento da reincidência nas fases de conhecimento e de execução penal produz


efeitos diversos.

Incumbe ao Juízo de conhecimento a aplicação da agravante do art. 61, inciso I, do Código


Penal, para fins de agravamento da reprimenda e fixação do regime inicial de cumprimento de pena.
Em um segundo momento, o reconhecimento dessa condição pessoal para fins de concessão de
benefícios da execução penal compete ao Juízo das Execuções, nos termos do art. 66, inciso III, da Lei
de Execução Penal.

Desse modo, ainda que não reconhecida na condenação, a reincidência deve ser observada
pelo Juízo das Execuções para concessão de benefícios, sendo descabida a alegação de reformatio in
pejus ou de violação da coisa julgada, pois se trata de atribuições distintas. Há, na verdade, a
individualização da pena relativa à apreciação de institutos próprios da execução penal.

A matéria foi definida pela Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça no julgamento
do EREsp 1.738.968/MG, oportunidade em que ficou estabelecido que a intangibilidade da sentença
penal condenatória transitada em julgado não retira do Juízo das Execuções Penais o dever de
adequar o cumprimento da sanção penal às condições pessoais do réu.

Efetivamente, "a reincidência é um fato, relativo à condição pessoal do condenado, que não
pode ser desconsiderado pelo juízo da execução, independente da sua menção na sentença
condenatória, pois afetaria exponencialmente o bom desenvolvimento da execução da pena traçado
nas normas correspondentes" (AgRg no REsp 1.642.746/ES, relatora Ministra Maria Thereza de
Assis Moura, Sexta Turma, DJe de 14/8/2017).

Nesse sentido, frisa-se que "não cabe ao Juiz da Execução rever a pena e o regime
aplicados no título judicial a cumprir. Contudo, é de sua competência realizar o somatório das
condenações (unificação das penas), analisar a natureza dos crimes (hediondo ou a ele equiparados)
e a circunstância pessoal do reeducando (primariedade ou reincidência) para fins de fruição de
benefícios da LEP." (AgRg no AREsp 1.237.581/MS, Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma,
DJe 1/8/2018).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Penal (CP), art. 61, inciso I

Lei de Execução Penal (LEP), art. 66, inciso III

Mesmo que nao reconhecida pelo juiz da condenação o juiz da execução pode fazê-lo
A reincidência pode ser reconhecida pelo juiz da execução para concessão de benefícios.
Além de reconhecer na fase de conhecimento, pode na fase de execução.
A intangibilidade da sentença penal condenatória não impede a adequação pelo juiz da
execução
O juiz da execução nao revê a pena, mas pode analisar a natureza dos crimes e as
circunstâncias pessoais.

Art. 66. Compete ao Juiz da execução:


III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO RMS 68.504-SC, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
10/10/2023, DJe 16/10/2023

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Licitação na modalidade de leilão. Discricionariedade


administrativa na forma de contratação de leiloeiro
oficial pelo poder público. Art. 31, caput e § 1º da Lei n.
14.133/2021. Divulgação pública e permanente de edital
de credenciamento em sítio eletrônico. Obrigação
decorrente do art. 79, parágrafo único, I, da Lei n.
14.133/2021. Inaplicabilidade aos chamamentos
públicos realizados sob a égide da Lei n. 8.666/1993.

DESTAQUE
-

A Administração Pública é obrigada a divulgar, permanentemente, edital de


credenciamento em sítio eletrônico somente após a vigência da Nova Lei de Licitações e
Contratações Administrativas.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

De acordo com o art. 31 da Lei n. 14.133/2021, os procedimentos licitatórios na


modalidade leilão podem ser conduzidos por servidor público ou, alternativamente, ser cometidos a
leiloeiro oficial, facultando-se à autoridade competente juízo discricionário entre o certame levado a
efeito por agente integrante dos quadros da Administração ou por terceiro que atenda às
prescrições do Decreto n. 21.981/1932, o qual regulamenta a profissão de leiloeiro.

Outrossim, caso a escolha do responsável pela realização do leilão recaia sobre auxiliar do
comércio, a norma contida no § 1º do art. 31 da Nova Lei de Licitações e Contratações
Administrativas autoriza a seleção do profissional mediante pregão ou, ainda, por meio de
credenciamento sem, no entanto, a fixação de critérios de precedência condicionada entre quaisquer
dos instrumentos, razão pela qual inviável extrair de citada disposição normativa o dever legal de
selecionar leiloeiros oficiais mediante divulgação de edital de chamamento público.

Nesse contexto, embora o art. 79, parágrafo único, I, da Lei n. 14.133/2021 imponha a
manutenção pública de edital de credenciamento em sítio eletrônico, de modo a permitir ao
cadastramento permanente de novos interessados obstando, por conseguinte, a fixação prévia de
balizas temporais limitando o acesso de novos postulantes, especificamente quanto à contratação de
leiloeiros oficiais, tal normatividade somente incide quando presente prova cabal da opção
administrativa por essa modalidade de seleção pública na vigência da Nova Lei de Licitações e
Contratações Administrativas, porquanto ausente igual obrigação nas disposições constantes da Lei
n. 8.666/1993.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 14.133/2021, arts. 31, caput e § 1º e 79, parágrafo único, I

Lei n. 8.666/1993

Decreto n. 21.981/1932
TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.088.100-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Débito prescrito. Cobrança judicial e extrajudicial.


Instituto de direito material. Plano da eficácia. Princípio
da indiferença das vias. Prescrição que não atinge o
direito subjetivo. Cobrança de dívida prescrita.
Impossibilidade.

DESTAQUE

O reconhecimento da prescrição da pretensão impede tanto a cobrança judicial quanto a


cobrança extrajudicial do débito.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Para o deslinde da controvérsia, é necessário que se examine a atuação da prescrição no


plano da eficácia, o que perpassa, inicialmente, pela distinção entre os conceitos de direito subjetivo
e de pretensão, pois, somente esta é, propriamente, atingida pela prescrição.

Segundo a doutrina, a pretensão é o poder de exigir um comportamento positivo ou


negativo da outra parte da relação jurídica. Observa-se, desse modo, que, antes do advento da
pretensão, já existe direito e dever, mas em situação estática. Isso porque a dinamicidade do direito
subjetivo surge, tão somente, com o nascimento da pretensão, que pode ser ou não concomitante ao
surgimento do próprio direito subjetivo. Somente a partir desse momento, o titular do direito
poderá exigir do devedor que cumpra aquilo a que está obrigado.

No que diz respeito ao seu modo de atuação, restou demonstrado que a prescrição não
atingiria a ação, mas sim a pretensão, o que representou fundamental virada dogmática com
reflexos não só na nomenclatura, mas, sobretudo, na essência do instituto. Na doutrina brasileira,
era relativamente comum, antes do advento do Código Civil de 2002, e em alguns casos, até mesmo,
depois de sua entrada em vigor -, se apontar como alvo da eficácia da prescrição a própria ação.

No entanto, o art. 189 do Código Civil de 2002, que representou importante inovação
legislativa em face do direito anterior, acolheu a novel construção doutrinária ao estabelecer,
expressamente, que o alvo da prescrição é mesmo a pretensão, instituto de direito material. Dessa
forma, a doutrina defende que "eventuais projeções ao direito de ação (em sentido processual) só se
justificam de modo reflexo." Isso porque, sendo a pretensão e a ação em sentido material encobertas
pela prescrição, o seu titular não pode se servir dos remédios processuais da ação em sentido
processual.

A doutrina adverte que "a consequência processual de não poder se servir da 'ação', no
entanto, não tem o condão de explicar o instituto. Trata-se de um resultado decorrente de uma
prévia eficácia que se sucedeu no direito material". Nessa esteira de intelecção, não se pode olvidar,
ainda, que a "pretensão se submete ao princípio da indiferença das vias, isto é, pode ser exercida
tanto judicial, quanto extrajudicialmente".

Nesse sentido, ao cobrar extrajudicialmente o devedor, o credor está, efetivamente,


exercendo sua pretensão, ainda que fora do processo. Se a pretensão é o poder de exigir o
cumprimento da prestação, uma vez paralisada em razão da prescrição, não será mais possível
exigir o referido comportamento do devedor, ou seja, não será mais possível cobrar a dívida. Logo, o
reconhecimento da prescrição da pretensão impede tanto a cobrança judicial quanto a cobrança
extrajudicial do débito.

Não há, portanto, duas pretensões, uma veiculada por meio do processo e outra veiculada
extrajudicialmente. Independentemente do instrumento utilizado, trata-se da mesma pretensão,
haurida do direito material. É a pretensão e não o direito subjetivo que permite a exigência da
dívida. Uma vez prescrita, resta impossibilitada a cobrança da prestação. Nessas situações, não há
que se falar em pagamento indevido, nem sequer em enriquecimento sem causa, nos termos do art.
882 do Código Civil, uma vez que o direito subjetivo (crédito) continua a existir. O que não há, de
fato, é a possibilidade de exigí-lo.
A prescrição não atinge o direito de ação,
mas a pretensão, conforme inteligência do
Novo Código Civiil.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS Pretensão - princípio da indiferença das
vias.

LEGISLAÇÃO Aquela veiculado processualmente e


extrajudicialmente decorre da mesma
pretensão haurida no direito material.
Código Civil (CC), arts. 189 e 882

Art. 882. Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.
QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 1.370.677-SP, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta


Turma, por unanimidade, julgado em 17/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Condicionador de ar. Propaganda enganosa. Publicidade


enaltecendo a característica de ser silencioso. Danos
morais coletivos. Ausência de prejuízo ao consumidor.

DESTAQUE

A publicidade do tipo puffing, cuja mensagem enaltece o fato de um aparelho de ar


condicionado ser "silencioso", não tem aptidão para ser fonte de dano difuso, pois não ostenta
qualquer gravidade intolerável em prejuízo dos consumidores em geral.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No caso, a propaganda foi tida por enganosa, pelas instâncias ordinárias, em virtude de
perícia, na qual constatado que os aparelhos condicionadores de ar não eram realmente silenciosos,
como afirmado na publicidade veiculada em 1989. Em razão disso, concluíram ter ocorrido danos
morais coletivos.

Contudo, é bastante questionável que, na época e nas condições do caso concreto, tenha
ocorrido, efetivamente, propaganda que possa ser qualificada como enganosa, já que os fatos se
passaram antes do advento do Código de Defesa do Consumidor e, mesmo na vigência do CDC,
quando passou a existir mais expressa regulação sobre o assunto (art. 37), a doutrina consumerista
classifica publicidade do tipo considerado no caso de puffing.

Segundo a doutrina, "a utilização de adjetivações exageradas pode causar enganosidade ou


não. O chamado puffing é a técnica publicitária da utilização do exagero. A doutrina entende que o
puffing não está proibido enquanto apresentado 'como publicidade espalhafatosa, cujo caráter
subjetivo ou jocoso não permite que seja objetivamente encarada como vinculante. É o anúncio em
que se diz ser 'o melhor produto do mercado', por exemplo'."

Nesse sentindo, não se deve considerar tratar-se o termo "silencioso", enfatizado na


propaganda, como uma afirmação literal. Dizer ser o aparelho silencioso, nas condições tecnológicas
da época, em que os condicionadores de ar de gerações anteriores produziam mais ruído, era mero
exagero publicitário comparativo, destinado a enaltecer essa característica específica do produto,
decorrente de inovação tecnológica e, portanto, o mote da publicidade, em tal contexto, não seria
apto, por si, a enganar ou induzir o consumidor a um efetivo engano. Até porque este, movido por
natural curiosidade, certamente testava o nível de ruído do produto antes da compra.

Em relação à ocorrência de dano, consigna-se que o dano moral coletivo se configura in re


ipsa, embora não esteja ligado a atributos da pessoa humana, considerada de per si, não exigindo a
demonstração de prejuízos concretos ou de abalo moral efetivo. Por isso, a doutrina e a
jurisprudência consolidada por esta Corte orientam-se pelo norte de que a condenação por danos
morais coletivos ao consumidor tem de decorrer de fatos impregnados de gravidade tal que sejam
intoleráveis, porque lesam valores fundamentais da sociedade.

Não se constata, porém, a gravidade dos fatos, tampouco a sua intolerabilidade social e
muito menos que atingiram valores fundamentais da sociedade. Uma publicidade cuja mensagem
enaltece o fato de ser o aparelho de ar condicionado "silencioso", não tem aptidão para ser fonte de
dano difuso, pois não ostenta qualquer gravidade intolerável em prejuízo dos consumidores em
geral.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Defesa do Consumidor (CDC/1990), art. 37

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§ 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.
QUINTA TURMA

PROCESSO AREsp 2.309.888-MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da


Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Agente infiltrado no plano cibernético. Espelhamento de


mensagens via Whatsapp web. Possibilidade. Desde que
observada a cláusula de reserva de jurisdição. Critérios
de proporcionalidade (utilidade, necessidade).

DESTAQUE

É possível a utilização, no ordenamento jurídico pátrio, de ações encobertas, controladas


virtuais ou de agentes infiltrados no plano cibernético, inclusive via espelhamento do Whatsapp
Web, desde que o uso da ação controlada na investigação criminal esteja amparada por autorização
judicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a aferição da possibilidade de utilização, no ordenamento jurídico


pátrio, de ações encobertas, controladas virtuais ou de agentes infiltrados no plano cibernético,
inclusive via espelhamento do Whatsapp Web.

No ordenamento pátrio, as ações encobertas recebem a denominação de infiltração de


agentes. A Lei que trata acerca de Organizações Criminosas, Lei n. 12.850/2013, prevê que, em
qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros procedimentos já
previstos em lei, infiltração, por policiais, em atividade de investigação, mediante motivada e
sigilosa autorização judicial. Objetiva-se a outorga, ao agente estatal, da possibilidade de penetrar na
organização criminosa, participando de atividades diárias, para, assim, compreendê-la e melhor
combatê-la pelo repasse de informações às autoridades.
De se mencionar, ainda, que a lei que regulamenta o Marco Civil da Internet (Lei n.
12.965/2014), estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para uso da Internet no Brasil,
garante o acesso e a interferência no "fluxo das comunicações pela Internet, por ordem judicial". De
idêntica forma, a referida Lei n. 12.850/2013 (Lei da ORCRIM), com redação trazida pela Lei
13.694/2019, passou a prever, de forma expressa, a figura do agente infiltrado virtual, em seu art.
10-A.

Por sua vez, a Lei n. 9.296/1996 (Interceptação Telefônica), permite em seu art. 1º,
parágrafo único, a quebra do sigilo no que concerne à comunicação de dados, mediante ordem
judicial fundamentada. Nesse ponto reside a permissão normativa para quebra de sigilo de dados
informáticos e de forma subsequente, para permitir a interação, a interceptação e a infiltração do
agente, inclusive pelo meio cibernético, consistente no espelhamento do Whatsapp Web. A lei de
interceptação, em combinação com a Lei das Organizações Criminosas outorga legitimidade
(legalidade) e dita o rito (regra procedimental), a mencionado espelhamento, em interpretação
progressiva, em conformidade com a realidade atual, para adequar a norma à evolução tecnológica.

A potencialidade danosa dos delitos praticados por organizações criminosas, pelo meio
virtual, aliada a complexidade e dificuldade da persecução penal no âmbito cibernético devem levar
a jurisprudência a admitir as ações controladas e infiltradas no mesmo plano virtual. De fato, nos
últimos anos, as redes sociais e respectivos aplicativos se tornaram uma ferramenta indispensável
para a comunicação, interação e compartilhamento de informações em todo o mundo. Entretanto,
essa rápida expansão e influência também trouxeram consigo uma série de desafios e problemas no
âmbito da investigação, no meio virtual, tornando-se a evolução da jurisprudência acerca do tema
questão cada vez mais relevante e urgente.

Impositivo se mostra o estabelecimento de regras processuais compatíveis com a


modernidade do crime organizado, porém, sempre respeitando, dentro de tal quadro, os direitos e
garantias fundamentais do investigado. Tal desiderato restou alcançado na medida em que, no
ordenamento pátrio, a infiltração, igualmente a outros institutos que restringem garantias e direitos
fundamentais, está submetida ao controle e amparada por ordem de um juiz competente.

Não há empecilho, portanto, na utilização de ações encobertas ou agentes infiltrados na


persecução de delitos, pela via dos meios virtuais, desde que, conjugados critérios de
proporcionalidade (utilidade, necessidade), reste observada a subsidiariedade, não podendo a prova
ser produzida por outros meios disponíveis.

É o que se dá na hipótese em análise, com o autorizado espelhamento via Whatsapp Web,


como meio de infiltração investigativa, na medida em que a interceptação de dados direta, feita no
próprio aplicativo original do Whatsapp, se denota, por vezes, despicienda, em face da conhecida
criptografia ponta a ponta que vigora no aplicativo original, impossibilitando o acesso ao teor das
conversas ali entabuladas. Concebe-se plausível, portanto, que o espelhamento autorizado via
Whatsapp Web, pelos órgãos de persecução, se denote equivalente à modalidade de infiltração do
agente, que consiste em meio extraordinário, mas válido, de obtenção de prova.

Pode, desta forma, o agente policial valer-se da utilização do espelhamento pela via do
Whatsapp Web, desde que respeitados os parâmetros de proporcionalidade, subsidiariedade,
controle judicial e legalidade, calcado pelo competente mandado judicial. De fato, a Lei n.
9.296/1996, que regulamenta as interceptações, conjugada com a Lei n. 12.850/2013 (Lei das
Organizações Criminosas), outorgam substrato de validade processual às ações infiltradas no plano
cibernético, desde que observada a cláusula de reserva de jurisdição.
É possível a utilização de ações
encobertas.
Proporcionalidade
INFORMAÇÕES ADICIONAIS Subsidiariedade
Autorização judicial
Legalidade

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.850/2013, art. 10-A

Lei n. 12.965/2014 Lembrar da danosidade social


causada pelas organizações
criminosas
Lei n. 9.296/1996, art. 1º, parágrafo único

Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fim de
investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e
indicados o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais
que permitam a identificação dessas pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará
o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.

Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.

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PROCESSO AREsp 2.267.828-MG, Rel. Ministro Messod Azulay Neto,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 23/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Condenação por danos morais. Ausência de indicação do


quantum debeatur e de instrução específica. Divergência
entre as turmas criminais do STJ. Particularidade do caso.
Vítima pessoa jurídica. Necessidade de instrução
específica independentemente da posição
jurisprudencial adotada. Teoria geral da
responsabilidade civil. Dano moral à pessoa jurídica.
Efetiva comprovação de abalo à honra objetiva.
Necessidade.

DESTAQUE

É inviável fixar, na esfera penal, indenização mínima a título de danos morais, sem que
tenha havido a efetiva comprovação do abalo à honra objetiva da pessoa jurídica.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A possibilidade de condenação do réu por danos morais, sem a indicação prévia do


quantum debeatur e sem instrução específica, é matéria que suscita posições divergentes no âmbito
do Superior Tribunal de Justiça. Sobre o tema, recentemente a Quinta Turma sinalizou mudança de
orientação para passar a admitir a fixação de dano moral mediante simples requerimento na
exordial acusatória, alinhando-se ao entendimento da Sexta Turma. Nada obstante, posteriormente,
a questão foi afetada à Terceira Seção.

De todo modo, qualquer que seja a orientação jurisprudencial adotada, é inviável fixar, na
esfera penal, indenização mínima a título de danos morais, sem que tenha havido a efetiva
comprovação do abalo à honra objetiva da pessoa jurídica. Diferentemente do que ocorre com as
pessoas naturais, as pessoas jurídicas não são tuteladas a partir da concepção estrita do dano moral,
isto é, ofensa à dignidade humana, o que impede, via de regra, a presunção de dano ipso facto.
No caso, o Tribunal de origem justificou a fixação de valor mínimo indenizatório por danos
morais, pois não haveria "...qualquer elemento que afaste a ofensa à esfera intima do ofendido, que é
própria da prática da infração penal...".

Contudo, o conceito de "esfera íntima" é inapropriado nas hipóteses em que o ofendido é


pessoa jurídica. É temerário presumir que o roubo a um caminhão de entregas possa ter causado
danos morais à pessoa jurídica.

Por outro lado, é possível que determinados crimes afetem a imagem e a honra de
empresas. Seria, por exemplo, o caso de consumidores que param de frequentar determinado
estabelecimento por razões de segurança. Daí porque se conclui pela imprescindibilidade da
instrução específica para comprovar, caso a caso, a ocorrência de efetivo abalo à honra objetiva da
pessoa jurídica para os fins do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Penal (CPP), art. 387, IV

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Ribeiro


Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023.

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Recusa do detento em aceitar alimento que julgou


impróprio. Falta grave. Art. 50, I, da LEP. Não ocorrência.
Exercício dos direitos fundamentais. Previsão do art. 41, I
e VII, da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal).
DESTAQUE

A recusa do detento em aceitar alimento que julga impróprio para consumo, quando
realizada de forma pacífica e sem ameaçar a segurança do ambiente carcerário, não configura falta
grave.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O art. 50, I, da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) estabelece que comete falta grave
o detento condenado à pena privativa de liberdade que incitar ou participar de movimento para
subverter a ordem ou a disciplina.

No contexto desse dispositivo legal, o termo "participar" significa envolver-se ativamente,


cooperar ou contribuir para a realização de um movimento que tenha o propósito de desestabilizar
a ordem ou a disciplina, seja por meio de ações concretas, como o uso de violência ou ameaças, ou
por meio de ações intelectuais, como o planejamento ou a organização das atividades. Aquele que
incita, ou seja, que estimula, motiva ou encoraja outros indivíduos a praticar atos de subversão ou
indisciplina de forma coletiva, também será responsabilizado por essa infração.

A "greve de fome" realizada pelos detentos pode, em determinadas circunstâncias,


caracterizar a falta grave prevista no art. 50, I, da LEP, especialmente se o movimento resultar na
configuração do crime de motim de presos, previsto no art. 354 do Código Penal, ou no crime de
dano ao patrimônio público, conforme estabelecido no art. 163 do Código Penal. Em tais situações, a
recusa deliberada em se alimentar pode ser considerada parte de um movimento que busca
subverter a ordem ou a disciplina no estabelecimento prisional, sujeitando os envolvidos às sanções
correspondentes.

No entanto, a recusa do detento em aceitar alimento que julga impróprio para consumo
não se configura como falta grave, uma vez que no ordenamento jurídico vigente não existe
qualquer imposição que obrigue o indivíduo privado de liberdade a ingerir alimentos em
circunstâncias que considere inadequadas.

Essa atitude, quando realizada de forma pacífica e sem ameaçar a segurança do ambiente
carcerário, representa um exercício do direito à liberdade de expressão por parte do detento, direito
esse amparado pelo próprio ordenamento jurídico no art. 5º, IV, da Constituição da República.
Além disso, é fundamental observar o art. 41 da Lei de Execução Penal, que elenca os
direitos do preso, notadamente o direito à "alimentação suficiente" e à "assistência material e à
saúde". A recusa em ingerir alimentos inadequados está intrinsecamente ligada à obrigação legal de
proporcionar alimentação suficiente e está relacionada diretamente à assistência material e à saúde
do detento. A ingestão de alimentos inadequados poderia prejudicar seriamente seu bem-estar
físico e, consequentemente, sua saúde.

Portanto, a recusa do detento em se negar a aceitar alimento que julga impróprio para
consumo não se caracteriza como falta grave. Ao contrário, essa atitude representa o exercício de
seu direito à liberdade de expressão e à preservação de sua dignidade, respeitando os direitos
fundamentais do ser humano no sistema penitenciário, conforme preconizam as leis nacionais e os
tratados internacionais ratificados pelo Brasil. Isso, desde que seja feita de forma ordeira e sem
colocar em risco a ordem e a disciplina do estabelecimento prisional.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 7.210/1984 (LEP), art. 41, I e VII e art. 50, I

Código Penal (CP), art. 163 e art. 354

Constituição Federal, art. 5º, IV A greve de fome pode caracterizar subversão da ordem
A greve de fome pode caracterizar falta grave
Mas recusar alimento aparentemente vencido nao.
CORTE ESPECIAL - JULGAMENTO NÃO CONCLUÍDO

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Raul


Araújo, Corte Especial, sessão de julgamento do dia
18/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PENAL

TEMA Foro por prerrogativa de função dos Conselheiros dos


Tribunais de Contas. Identidade de garantias e
prerrogativas com os membros da magistratura.
Afastamento do exercício do cargo. Insuficiência para
afastar o foro por prerrogativa de função. Pedido de
vista.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que a presença de autoridade


detentora de foro por prerrogativa de função dentre os delatados nos anexos de acordo de
colaboração premiada fixa a competência do Tribunal, pelo critério ratione personae, para apreciar
a homologação do negócio jurídico.

O Superior Tribunal de Justiça, no AgRg na Rcl 42.804/DF, estendeu aos Conselheiros de


Tribunais de Contas estaduais, distrital e municipais o entendimento firmado na QO na APn 878/DF,
em pontual exceção à tese segundo a qual "o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas" (STF, QO
na APn 937/DF).

Nos termos dos artigos 73, 3º, e 75 da Constituição, aos Conselheiros dos Tribunais de
Contas dos Estados, Distrito Federal e Municípios são conferidas as mesmas garantias e
prerrogativas da magistratura, havendo identidade do regime jurídico. Ao estabelecer a expressa
equiparação de garantias e prerrogativas, o constituinte estava ciente das distinções entre as Cortes
de Contas, como órgão auxiliar do Poder Legislativo, e o Poder Judiciário.

Desnecessidade, para fins do reconhecimento da competência ratione personae, de que o


crime supostamente praticado pelo Conselheiro da Corte de Contas estadual tenha sido praticado
em razão e durante o exercício do cargo, exigindo-se, porém, o exercício atual da função pública.

Após o voto do Ministro Relator negando provimento ao agravo, pediu vista antecipada o
Ministro Mauro Campbell Marques.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (CF), arts. 73, 3º


RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.083.701-SP, Rel. Ministro Sebastião


Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 20/10/2023. (Tema 1218).
ProAfR no REsp 2.091.652-MS, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 20/10/2023 (Tema 1218).
ProAfR no REsp 2.091.651-SP, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 20/10/2023 (Tema 1218).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


2.083.701/SP, 2.091.651/SP e 2.091.652/MS ao rito dos
recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia:
"definir se a reiteração delitiva obsta a incidência do
princípio da insignificância ao delito de descaminho,
independentemente do valor do tributo não recolhido.
PROCESSO ProAfR no REsp 2.082.481-MG, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 20/10/2023 (tema 1219).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação do REsp


2.082.481/MG ao rito dos recursos repetitivos, a fim de
uniformizar o entendimento a respeito da seguinte
controvérsia: "definir se é possível aplicar o princípio da
fungibilidade recursal aos casos em que, embora cabível
recurso em sentido estrito, a parte impugna a decisão
mediante recurso de apelação e, em caso positivo, quais
os requisitos necessários para a incidência do princípio
em comento.
Número 793 Brasília, 31 de outubro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 1.961.642-CE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1141).
REsp 1.944.707-PE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1141).
REsp 1.944.899-PE, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1141).

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL

TEMA Lei n. 13.463/2017. Cancelamento de precatórios ou


requisições de pequeno valor depositados há mais de
dois anos. Pedido de expedição de novo ofício
requisitório. Aplicação do regime prescricional previsto
no Decreto n. 20.910/1932. Termo inicial. Ciência do
cancelamento. Tema 1141.
DESTAQUE

A pretensão de expedição de novo precatório ou requisição de pequeno valor, fundada nos


arts. 2º e 3º da Lei n. 13.463/2017, sujeita-se à prescrição quinquenal prevista no art. 1º do Decreto
n. 20.910/1932 e tem, como termo inicial, a notificação do credor, na forma do § 4º do art. 2º da Lei
n. 13.463/2017.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se é prescritível a pretensão de expedição de novo


precatório ou RPV, após o cancelamento da requisição anterior, de que tratam os arts. 2º e 3º da Lei
n. 13.463, de 06/07/2017.

O art. 1º do Decreto n. 20.910/1932, em termos gerais, sujeita à prescrição quinquenal as


dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, "bem assim todo e qualquer direito ou ação
contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza".

Os termos amplos da previsão legal são reiterados pela jurisprudência do STJ, segundo a
qual "a prescrição quinquenal prevista no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 deve ser aplicada a
todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Pública, seja ela federal, estadual ou municipal,
independentemente da natureza da relação jurídica estabelecida entre a Administração Pública e o
particular" (AgRg no AREsp 16.494/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
de 3/8/2012).

Por outro lado, a jurisprudência do STJ não exige que cada norma, ao consagrar um direito,
estabeleça a específica previsão do prazo prescricional a que ele se sujeita, pois, "como regra geral, a
prescrição é quinquenal, estabelecida pelo art. 1° do Decreto n. 20.910/1932 (...)" (AgRg no REsp
862.721/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 7/6/2010).

Quanto à compreensão de que se estaria, no caso, diante de um direito potestativo, não é o


que se infere da norma ora examinada. Verifica-se que a Lei n. 13.463/2017, ao mesmo tempo em
que prevê a retirada do numerário depositado em favor do credor da sua esfera de disponibilidade,
permite-lhe resguardar o seu direito mediante pedido de expedição de nova ordem de cumprimento
da obrigação de pagar. Nesse momento, o credor volta a ter tão somente um crédito, cuja satisfação,
evidentemente, depende de prestação do devedor, isto é, volta a ter uma pretensão. Essa alteração
de posição jurídica, segundo se decidiu na ADI 5.755/DF, decorre de um ato ilícito, ofensivo ao
devido processo legal em sua acepção material.
A atribuição de efeitos ex nunc à declaração de inconstitucionalidade não infirma essa
conclusão, uma vez que, nela, o STF não afirma que as disposições da Lei n. 13.463/2017 são lícitas
até o ano de 2022. Em vez disso, limita-se a manter, por razões de segurança orçamentária e de
interesse social, os cancelamentos já operados antes de 06/07/2022.

Nesse sentido, fica claro no seguinte excerto do voto da Ministra Rosa Weber: "As
disposições legais declaradas inconstitucionais ao julgamento do presente feito, não obstante
viciadas na sua origem, ampararam a concretização de inúmeros atos jurídicos que levaram ao
cancelamento de diversos precatórios e RPVs, praticados ao abrigo legal por longo período". Tem-se,
assim, configurado um direito que, violado, ensejou pretensão, por sua vez, sujeita à prescrição, na
forma do art. 189 do Código Civil.

Por fim, cabe acrescentar que, se é o cancelamento do precatório ou RPV que faz surgir a
pretensão, figura jurídica que atrai o regime prescricional do art. 1º do Decreto n. 20.910/1932,
deve-se concluir que o termo inicial do prazo é precisamente a ciência desse ato de cancelamento,
como indica a teoria da actio nata.

O STJ aplica essa orientação da teoria da actio nata em seu viés subjetivo, de modo que "a
jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que, em conformidade com o princípio da actio
nata, o termo inicial da prescrição ocorre a partir da ciência inequívoca da lesão ao direito subjetivo"
(STJ, AgInt no REsp 1.909.827/SC, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe de
19/4/2022).

No caso da Lei 13.463/2017, os §§ 3º e 4º do seu art. 2º estabelecem que a instituição


financeira, após proceder ao cancelamento previsto na norma, dará ciência ao Presidente do
Tribunal respectivo, que comunicará o fato ao juízo da execução, que, por sua vez, notificará o
credor: "Art. 2º. (...). (...) § 3º. Será dada ciência do cancelamento de que trata o caput deste artigo ao
Presidente do Tribunal respectivo. § 4º. O Presidente do Tribunal, após a ciência de que trata o § 3º
deste artigo, comunicará o fato ao juízo da execução, que notificará o credor".

Essa cautela do legislador deve orientar, também, a fixação do termo inicial da contagem
do prazo quinquenal de que dispõe o titular para requerer a expedição do novo ofício requisitório,
que deve coincidir com a notificação do credor, prevista no § 4º do art. 2º da Lei 13.463/2017.

Assim, para fins do recurso repetitivo, firma-se a tese no sentido de que "a pretensão de
expedição de novo precatório ou requisição de pequeno valor, fundada nos arts. 2º e 3º da Lei
13.463/2017, sujeita-se à prescrição quinquenal prevista no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 e
tem, como termo inicial, a notificação do credor, na forma do § 4º do art. 2º da referida Lei n.
13.463/2017".
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Decreto n. 20.910/1932, art. 1º

Lei n. 13.463/2017, arts. 2º e 3º

PROCESSO REsp 2.015.612-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023. (Tema 1179/STJ).
REsp 2.014.023-SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023. (Tema 1179/STJ).

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO, DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Ordem dos Advogados do Brasil. Cobrança de anuidade.


Sociedade de advogados. Impossibilidade. Tema
1179/STJ.

DESTAQUE

Os Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil não podem instituir e cobrar
anuidade das sociedades de advogados.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Entre as competências da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB está a imposição da


contribuição anual, que está prevista na Lei n. 8.906/1994, em especial nos arts. 46 e 58, IX. O
Estatuto da Advocacia e da OAB dispõe, ainda, em seu art. 57, que o Conselho Seccional "exerce e
observa, no respectivo território, as competências, vedações e funções atribuídas ao Conselho
Federal, no que couber e no âmbito de sua competência material e territorial, e as normas gerais
estabelecidas nesta lei, no regulamento geral, no Código de Ética e Disciplina, e nos Provimentos".

Ou seja, cabe ao Conselho Seccional da OAB fixar, alterar e receber as anuidades devidas
pelos inscritos na entidade, porém, no exercício dessa competência, mostra-se indispensável o
respeito às disposições legais, em especial à Lei n. 8.906/1994.

O Capítulo III do Título I do Estatuto da Advocacia dispõe expressamente acerca da


inscrição como advogado e estagiário nos quadros da Ordem. Da leitura do art. 8º do referido
estatuto, a inscrição na OAB como advogado ou como estagiário limita-se às pessoas físicas, não
havendo nenhuma referência à possibilidade de que pessoas jurídicas possam ser inscritas em seu
quadro.

Na verdade, em relação às pessoas jurídicas, a Lei n. 8.906/1994 traz capítulo específico


(Título I, Capítulo IV), que trata das sociedades de advogados, as quais adquirem personalidade
jurídica por meio do registro aprovado de seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB.

Extrai-se dos arts. 15 e 16 do estatuto que a personalidade jurídica da sociedade de


advogados surge com o registro do ato constitutivo no Conselho Seccional e as suas atividades estão
restritas à prestação de serviço de advocacia, além de ser vedada a inclusão, como sócio, de
advogado não inscrito na OAB ou totalmente proibido de exercer o ofício.

Aqui, é importante destacar dois aspectos: (i) a sociedade somente pode ser composta por
advogados aptos a exercer essa atividade, ou seja, devidamente inscritos na OAB e que, em razão da
inscrição, devem arcar com a contribuição anual obrigatória; (ii) a sociedade não é inscrita no
Conselho Seccional, mas ali registrada para aquisição de personalidade jurídica, sendo vedado o
registro em cartório civil de pessoas jurídicas e nas juntas comerciais que possibilite a inclusão de
qualquer outra finalidade que não seja a de prestar serviços de advocacia.

Apesar de as sociedades de advogados estarem aptas a praticar atos indispensáveis às


suas finalidades, com o uso da razão social, não possuem qualificação para a prática de atos
privativos de advogado (art. 42 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB), o que
demonstra a clara diferença entre o registro, que confere personalidade jurídica à sociedade de
advogados, e a inscrição, que habilita o advogado e o estagiário à prática de atos privativos dos
advogados.
Assim, uma vez demonstrada a distinção entre o registro da sociedade de advogados e a
inscrição da pessoa física para o exercício da advocacia, a única interpretação possível a ser extraída
do art. 46 ("Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de serviços e
multas") e do art. 58, IX, da Lei n. 8.906/1994 é a de que os Conselhos Seccionais, órgãos da Ordem
dos Advogados do Brasil, no uso de sua competência privativa, não podem instituir e cobrar
anuidade dos escritórios de advocacia.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.906/1994, arts. 8º, 15, 16, 46, 57 e 58, IX

Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, art. 42

PRECEDENTES QUALIFICADOS

Tema 1179/STJ
PROCESSO REsp 2.006.663-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1187).
REsp 2.019.320-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1187).
REsp 2.021.313-RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1187).

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Parcelamento. Lei n. 11.941/2009. Momento de aplicação


da redução dos juros de mora. Apenas após a
consolidação da dívida.

DESTAQUE

Nos casos de quitação antecipada, parcial ou total, dos débitos fiscais objeto de
parcelamento, conforme previsão do art. 1º da Lei n. 11.941/2009, o momento de aplicação da
redução dos juros moratórios deve ocorrer após a consolidação da dívida, sobre o próprio montante
devido originalmente a esse título, não existindo amparo legal para que a exclusão de 100% da
multa de mora e de ofício implique exclusão proporcional dos juros de mora, sem que a lei assim o
tenha definido de modo expresso.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão consiste em definir o momento da aplicação da redução dos juros moratórios,


nos casos de quitação antecipada, parcial ou total, dos débitos fiscais objeto de parcelamento,
conforme previsão do art. 1º da Lei n. 11.941/2009.

Nesta Corte, a matéria foi pacificada no julgamento dos EREsp 1.404.931/RS, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 4/8/2021, ocasião em que se firmou o entendimento de que
a Lei n. 11.941/2009 apenas concedeu remissão nos casos nela especificados, e que, em se tratando
de remissão, não há qualquer indicativo na Lei n. 11.941/2009 que permita concluir que a redução
de 100% (cem por cento) das multas de mora e de ofício estabelecida no art. 1º, § 3º, I, da referida
lei implique redução superior à de 45% (quarenta e cinco por cento) dos juros de mora estabelecida
no mesmo inciso, para atingir uma remissão completa da rubrica de juros (remissão de 100% de
juros de mora).

Isso porque os Programas de Parcelamento em que veiculadas remissões e/ou anistias de


débitos fiscais são normas às quais o contribuinte adere ou não, segundo seus exclusivos critérios.
Todavia, uma vez ocorrendo a adesão, deve o contribuinte se submeter ao regramento proposto em
lei e previamente conhecido. A própria lei tratou das rubricas componentes do crédito tributário de
forma separada, instituindo para cada uma um percentual específico de remissão, de forma que não
é possível recalcular os juros de mora sobre uma rubrica já remitida de multa de mora ou de ofício,
sob pena de se tornar inócua a redução específica para os juros de mora.

Ademais, a questão a respeito da identificação da base de cálculo sobre a qual incide o


desconto de 45% (que é a própria rubrica concernente aos "juros de mora", em seu montante
histórico, e não a soma das rubricas "principal + multa de mora") - exegese do art. 1º, § 3º, inciso I,
da Lei n. 11.941/2009 - já foi analisada pela Seção de Direito Público do STJ no REsp 1.251.513/PR
(Tema 485 do STJ), oportunidade em que se esclareceu que a totalidade do crédito tributário é
composta pela soma das seguintes rubricas: crédito original, multa de mora, juros de mora e, após a
inscrição em dívida ativa da União, encargos do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Dessa forma, conclui-se que a diminuição dos juros de mora em 45% (para o caso do
inciso I do § 3º do art. 1º da Lei n. 11.941/09) deve ser aplicada após a consolidação da dívida, sobre
o próprio montante devido originalmente a esse título; não existe amparo legal para que a exclusão
de 100% da multa de mora e de ofício implique exclusão proporcional dos juros de mora, sem que a
lei assim o tenha definido de modo expresso. Exegese em sentido contrário, além de ampliar o
sentido da norma restritiva, esbarra na tese fixada no Recurso Repetitivo, instaurando, em
consequência, indesejável insegurança jurídica no meio social.

Assim, para fins de recurso representativo da controvérsia, fixa-se a seguinte tese: "Nos
casos de quitação antecipada, parcial ou total, dos débitos fiscais objeto de parcelamento, conforme
previsão do art. 1º da Lei n. 11.941/2009, o momento de aplicação da redução dos juros moratórios
deve ocorrer após a consolidação da dívida, sobre o próprio montante devido originalmente a esse
título, não existindo amparo legal para que a exclusão de 100% da multa de mora e de ofício
implique exclusão proporcional dos juros de mora, sem que a lei assim o tenha definido de modo
expresso."

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
LEGISLAÇÃO

Lei n. 11.941/2009, art. 1º, § 3º, I

PROCESSO REsp 2.003.716-RS, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik,


Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1172).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Agravante da reincidência. Art. 61, I, do Código Penal.


Reincidente específico. Único fundamento. Fração de
aumento de 1/6 (um sexto). Tratamento igualitário ao
reincidente genérico. Ressalva de justificativa concreta.
Tema 1172.

DESTAQUE

A reincidência específica como único fundamento só justifica o agravamento da pena em


fração mais gravosa que 1/6 em casos excepcionais e mediante detalhada fundamentação baseada
em dados concretos do caso.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se é possível a elevação da pena por circunstância


agravante, na fração maior que 1/6, utilizando como fundamento unicamente a reincidência
específica do réu.

Uma análise evolutiva do ordenamento jurídico nacional mostra que antes do Código
Penal de 1940 a configuração da agravante da reincidência tinha como pressuposto o cometimento
de crimes de mesma natureza.

O Código Penal de 1940, em sua redação original, ampliou o conceito da agravante da


reincidência ao permitir que o crime anteriormente cometido fosse de natureza diversa do atual,
inaugurando a classificação da reincidência em específica e genérica, com ressalva expressa de que
pena mais gravosa incidiria ao reincidente específico. Durante esse período histórico, a diferença de
tratamento entre reincidência específica e genérica para fins de cominação de pena já era discutível,
com posições jurídicas antagônicas.

Nesse contexto, sobreveio a vigência da Lei n. 6.416/1977 que, alterando o Código Penal,
aboliu a diferenciação entre reincidência específica e genérica e, por consequência, suprimiu o
tratamento diferenciado no tocante à dosimetria da pena.

Assim, considerando que a redação vigente do Código Penal estatuída pela Lei n.
7.209/1984 teve origem na Lei n. 6.416/1977, a interpretação da norma deve ser realizada de forma
restritiva, evitando, com isso, restabelecer parcialmente a vigência da lei expressamente revogada.
Inclusive, tal interpretação evita incongruência decorrente da afirmativa de que a reincidência
específica, por si só, é mais reprovável do que a reincidência genérica.

Ainda, para fins de inadmitir distinção de agravamento de pena entre o reincidente


genérico e o específico, é importante pesar que o tratamento diferenciado entre os reincidentes
pode ser feito em razão da quantidade de crimes anteriores cometidos, ou seja, da
multirreincidência.

Sendo assim, a controvérsia deve ser solucionada no sentido de não ser possível a
elevação da pena pela presença da agravante da reincidência em fração mais prejudicial ao apendo
do que a de 1/6 utilizando-se como fundamento unicamente a reincidência específica do réu. Fica
ressalvada a excepcionalidade da aplicação de fração mais gravosa do que 1/6 mediante
fundamentação concreta a respeito da reincidência específica.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Nao ha mais diferenciação entre
reincidência genérica e
LEGISLAÇÃO
específica após a lei 6416/77
Código Penal (CP), art. 61, I
Interpretação restritiva

Lei n. 6.416/1977 Só poderá aumentar acima de


1/6 na reincidência especifica se
tiver fundamento concreto
Lei n. 7.209/1984

PROCESSO REsp 2.062.095-AL, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,


Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023. (Tema 1205).
REsp 2.062.375-AL, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
25/10/2023 (Tema 1205).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Furto. Restituição imediata e integral dos bens


subtraídos. Aplicação do princípio da insignificância.
Descabimento. Necessidade de observância dos vetores
fixados pelo STF e consolidado pela jurisprudência do
STJ. Tema 1205.

DESTAQUE

A restituição imediata e integral do bem furtado não constitui, por si só, motivo suficiente
para a incidência do princípio da insignificância.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão cinge-se em definir se nos casos de imediata e integral restituição do bem


furtado deve-se aplicar o princípio da insignificância.

O Direito Penal, diante do desvalor do resultado produzido, não deve se ocupar de


condutas que não representem prejuízo relevante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à
integridade da própria ordem social, podendo, com isso, afastar a tipicidade penal, porque, em
verdade, o bem jurídico não chegou a ser lesado.
A insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas em relação à
importância do bem jurídico atingido, mas deve envolver um juízo amplo, que vai além da simples
aferição do resultado material da conduta, de modo a abranger elementos outros, os quais, embora
não determinantes, merecem ser considerados.

Sob tal perspectiva, muito embora não exista previsão legal disciplinando a aplicação do
princípio da insignificância, o Supremo Tribunal Federal, há mais de uma década, consolidou o
entendimento no sentido de exigir o preenchimento simultâneo de quatro condições para que se
afaste a tipicidade material da conduta. São elas: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b)
a ausência de periculosidade social na ação; c) o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

À luz das referidas premissas, mormente em se tratando de crimes contra o patrimônio,


passou-se a compreender que a insignificância envolve juízo muito mais abrangente que a simples
expressão do resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido
amplo, que se traduz pela ausência de periculosidade social, pela mínima ofensividade e pela falta de
reprovabilidade, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do resultado material,
acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal.

Assim, para afastar liminarmente a tipicidade material nos delitos de furto, não basta a
imediata e integral restituição do bem. Deve-se perquirir, diante das circunstâncias concretas, além
da extensão da lesão produzida, a gravidade da ação, o reduzido valor do bem tutelado e a
favorabilidade das circunstâncias em que foi cometido o fato criminoso, além de suas consequências
jurídicas e sociais.

Nesse sentido, prevalece o entendimento que vem orientando a jurisprudência do


Superior Tribunal de Justiça, no sentido de admitir a aplicação do princípio da insignificância
mediante apreciação casuística, ou seja, quando houver circunstâncias excepcionais, e não apenas a
restituição imediata do bem subtraído.

Nao basta a imediata e integral restituição

Extensão da lesão
Gravidade da acao
Reduzido valor do bem
Favorabilidade das circunstancias
Consequências jurídicas e sociais
SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 2.031.548-CE, Rel. Ministro Francisco Falcão,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
24/10/2023, DJe 26/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Programa Mais Médicos para o Brasil. Edital de


chamamento para reingresso. Médicos cubanos
repatriados. Histórico de breve ausência. Fixação de
residência no Brasil. Requisito de permanência no Brasil
atendido. Interpretação restritiva e finalística da norma.
Art. 23-A, III, Lei n. 12.871/2013.

DESTAQUE

A repatriação de médica cubana após a ruptura entre o Brasil e a República de Cuba não
impede, por si só, sua participação no chamamento para reintegração ao Programa Mais Médicos
para o Brasil, desde que haja outros elementos que comprovem seu retorno breve com intenção de
permanecer no território brasileiro.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia cinge-se na possibilidade de ser desconsiderado período que médica


cubana passou na República de Cuba quando repatriada, para fins de preenchimento do requisito de
permanência no território brasileiro até a data da publicação da MP n. 890/2019 e, assim, se
enquadrar como candidata apta a participar do chamamento à reincorporação ao Programa Mais
Médicos para o Brasil, regido pelo Edital n. 09/2020 do Ministério da Saúde.

A interpretação dada ao art. 23-A, III, da Lei n. 12.781/2013 não deve ser restritiva,
ensejando a exclusão dos profissionais que se ausentaram do país por curtos períodos, mas, sim,
uma interpretação finalística, alcançando aquilo que justifica sua existência.
Quer a norma alcançar aqueles que, mesmo após a ruptura da cooperação entre Brasil e
Cuba, e o consequente desligamento do Programa Mais Médicos para o Brasil, continuaram com o
ânimo de permanência em território brasileiro. Em casos similares, esta Corte Superior já se
pronunciou de forma monocrática no sentido de que "a finalidade da Lei requer uma interpretação
tão somente para se inteirar se o médico intercambista estava no Brasil com [ânimo] definitivo até a
data de publicação da referida MP" (REsp n. 2043389 Min. Regina Helena Costa, DJe 21/03/2023).

No caso, a ora recorrida se enquadra na hipótese de residente no país com o histórico de


breve ausência, em razão do embarque para Cuba ocorrido logo após a ruptura da cooperação entre
os países. Independente de haver ou não como a recorrida presumir que surgiria nova oportunidade
de ingresso no programa, retornou ao país em brevíssimo tempo, estabelecendo vínculos de
permanência até a publicação da MP n. 890/2019 e, assim, preenchendo o requisito previsto no
inciso III do artigo 23-A da Lei n. 12.781/2013.

Como ressaltado pelo Tribunal de origem, "o real sentido do requisito encartado no art.
23-A, inciso III, da Lei n. 12.871/2013, qual seja, o de permanecer no território nacional como
refugiado, naturalizado ou residente até a publicação da MP n. 890/2019, consiste, na verdade, em
optar pela fixação de residência/moradia no Brasil em momento anterior e independentemente da
possibilidade de reincorporação objeto de discussão, sendo este o caso da demandante".

Assim, dessume-se que o fato da recorrida ter sido repatriada logo após a ruptura ocorrida
entre o Brasil e a República de Cuba não inviabiliza, por si só, sua participação no chamamento para
reintegração ao Programa Mais Médicos para o Brasil; havendo outros elementos a comprovar seu
retorno breve, com o ânimo de permanência, deve ser-lhe assegurada a participação no
chamamento do Edital n. 09/2020 do Ministério da Saúde.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.781/2013, art. 23-A, III

MP n. 890/2019

Edital n. 09/2020 Ministério da Saúde


TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.831.080-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas


Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 25/10/2023

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO AUTORAL

TEMA Divulgação de fotografias. Ausência de consentimento do


autor. Prejuízo injustificado. Indenização. Danos
materiais e morais. Contrafação. Reconhecimento.

A fotografia esta amparada pelos direitos


autorais

DESTAQUE

A obra artística representada pela fotografia é protegida pela Lei de Direitos Autorais,
sendo que eventual exposição em rede social sem consentimento, remuneração e identificação por
meio dos devidos créditos, lesionam os direitos patrimoniais e morais do autor.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Trata-se, na origem, de pedido indenizatório movido por fotógrafo profissional contra


empresa de turismo por ter postado em rede social (Facebook) fotografias de sua autoria,
registradas previamente em cartório de registro público de títulos e documentos e depositadas
junto à Biblioteca Nacional.

O art. 28 da LDA (Lei de Direitos Autorais) dispõe que incumbe ao "autor o direito
exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica". Assim, sua utilização, por
quaisquer meios ou modalidades, depende da prévia e expressa autorização do autor (art. 29, X, da
LDA). Consectariamente, "pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que
criou" (art. 22 da LDA).

A fotografia é uma modalidade de direito intelectual própria do direito autoral que é


reconhecida tanto pela legislação brasileira como pela estrangeira.
Os arts. 46, VIII, e 48 da LDA harmonizam-se com o contexto integral da legislação autoral,
que constitui um verdadeiro microssistema legislativo de tutela do Direito de Autor. Sua matriz é o
art. 5º, inc. XXVII da Constituição Federal, que expressamente prevê que "aos autores pertence o
direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros
pelo tempo que a lei fixar", valendo ainda citar os artigos 22, 29, I, e 79, inciso VII, da Lei n.
9.610/1998.

Portanto, a Lei n. 9.610/1998 não afasta a responsabilidade pela reprodução indevida


(para fins lucrativos ou comerciais) de obra do autor, no caso de fotografia, realizada em praia.

A finalidade comercial da aludida reprodução é irrefutável, pois versa a publicação a


respeito de venda de pacotes turísticos, sem menção ou indicação da autoria ou, pelo menos, de
requerimento de autorização do autor da obra.

Ressalta-se que o ordenamento jurídico brasileiro, de forma ampla e genérica, confere à


fotografia proteção própria de direito autoral. (arts. 7º, VII, e 79, da Lei n. 9.610/1998 e 2º da
Convenção de Berna).

O Direito Autoral brasileiro está inserido no sistema de droit d'auteur, aproximando-se da


linha dualística ao considerar nos direitos de autor duas diferentes ordens, quais sejam, a
patrimonial e a moral.

O art. 27 da LDA é expresso: "os direitos morais do autor são inalienáveis e


irrenunciáveis". Por sua vez, o art. 108 da LDA estabelece que aquele, o qual na utilização, por
qualquer modalidade, de obra intelectual, deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome,
pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de responder por danos morais,
está obrigado a divulgar a identidade.

Portanto, a divulgação das fotografias, na forma descrita, corresponde à contrafação, nos


termos do arts. 29, I, e 108, da Lei n. 9.610/98, pois foi utilizada com clara intenção de lucro, e não
de forma altruística de fomento ao turismo, da cultura ou de patrimônio histórico, porquanto
incluída entre as paisagens que decoram o site de agência de viagens para promoção de sua
atividade empresarial.
A fotografia tem a proteção do
direito autoral
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Droit dàuteur

LEGISLAÇÃO Proteção patrimonial e moral

Nao tirou as fotos com fim


altruistico
Lei n. 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais)

Constituição Federal (CF), art. 5º, inc. XXVII

Convenção de Berna, art. 2º

PROCESSO REsp 2.090.733-TO, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ausência de pagamento voluntário no prazo legal. Art.


523, § 1º do CPC/2015. Existência de hipoteca judiciária
que não ocasiona a imediata satisfação do direito do
credor. Inaptidão para afastar a incidência de multa de
10% e de honorários advocatícios de 10%.

DESTAQUE

A existência de hipoteca judiciária não isenta o devedor do pagamento da multa e dos


honorários de advogado previstos no art. 523, § 1º, do CPC/2015.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No cumprimento de sentença que reconhece a obrigação de pagar quantia certa, se o


devedor não realizar o pagamento voluntário no prazo de 15 (quinze) dias o débito será acrescido
de multa de 10% e de honorários de advogado de 10% (art. 523, caput e § 1º, do CPC/2015).

São dois os critérios para a incidência da multa e dos honorários previstos no mencionado
dispositivo: a intempestividade do pagamento ou a resistência manifestada na fase de cumprimento
de sentença.

A multa e os honorários a que se refere o art. 523, § 1º, do CPC/2015 serão excluídos
apenas se o executado depositar voluntariamente a quantia devida em juízo, sem condicionar seu
levantamento a qualquer discussão do débito.

A hipoteca judiciária prevista no art. 495 do CPC/2015 visa a assegurar futura execução,
não ocasionando a imediata satisfação do direito do credor. Essa modalidade de garantia não
equivale ao pagamento voluntário do débito, de modo que não isenta o devedor da multa de 10% e
de honorários de advogado 10%.
Multa e honorários tem 2
fundamentos
1. Intempestividade
INFORMAÇÕES ADICIONAIS 2. Resistencia

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC/2015), arts. 495 e 523, caput e § 1º

PROCESSO REsp 2.069.003-MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 23/10/2023

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Duplicata. Manutenção indevida em cadastro de


inadimplentes. Endossatário. Ausência boa-fé.
Responsabilidade solidária. Dever de indenizar.
Litisconsórcio passivo necessário. Não configuração.
DESTAQUE

A manutenção do nome de devedor no cadastro de inadimplentes, após a quitação do


débito perante o credor originário em favor do endossante, pode ser oposta ao endossatário se for
comprovado que este tinha conhecimento sobre tais fatos, devendo ser afastada sua presunção de
boa-fé.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O STJ entende que é lícito eventual protesto realizado pelo endossatário em razão do
inadimplemento do devedor, pois, uma vez endossada, a validade da duplicata condiciona-se à
observância dos requisitos de forma e não à regularidade do saque. Por conseguinte, o endossatário
também pode providenciar os atos necessários para eventual inscrição do nome do devedor no
cadastro de inadimplentes.

Todavia, após a quitação da dívida, a demora excessiva em retirar o nome de devedor do


cadastro de órgão de proteção ao crédito como ato ilícito que gera o dever de indenizar. A
jurisprudência do STJ é assente no sentido de que a manutenção indevida do nome do devedor no
cadastro de inadimplentes enseja dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria existência
do fato ilícito, cujos resultados são presumidos.

Quanto ao tema, a Segunda Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial n.


1.424.792/BA, assentou o entendimento de que "diante das regras previstas no Código de Defesa do
Consumidor, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de órgão de
proteção ao crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe ao credor requerer a exclusão do
registro desabonador, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à
completa disponibilização do numerário necessário à quitação do débito vencido".

Este dever do credor ganha complexidade quando se trata de títulos de crédito, pois o
credor cambial é aquele que detém o título de crédito, mas o credor original é o que figura como
credor do negócio jurídico que gerou o título, mas que pode não mais deter a cártula por ter
realizado endosso translativo a terceiro.

A quitação pode ser realizada perante o credor original sem que essa questão seja
oponível ao terceiro de boa-fé que detém o título. Contudo, há exceção quando o endossatário
conhecer o problema que o devedor alega ter ocorrido na relação jurídica originária. Nessa situação,
a matéria de defesa torna-se oponível, pois constatada a má-fé.
Conforme a doutrina, a desconstituição da presunção de boa-fé não depende de prova da
ação combinada e má intencionada (conluio) entre o exequente e o titular originário do mesmo
crédito. O simples conhecimento, pelo atual portador do título, da existência de fato oponível ao
anterior é suficiente para afastar a boa-fé e, por conseguinte, o princípio da inoponibilidade das
exceções pessoais a terceiros.

Portanto, a depender da peculiaridade dos fatos da situação concreta, a manutenção do


nome do devedor no cadastro de inadimplentes após a quitação do débito perante o credor
originário, pode ser oposta ao endossatário se for comprovado que ele tinha conhecimento sobre
tais fatos, porquanto será afastada a sua presunção de boa-fé. Ademais, se o endossatário tinha
ciência que o devedor já havia quitado o débito perante o credor originário e mesmo assim manteve
a inscrição do seu nome no cadastro de inadimplentes, é seu dever responder pelos danos a que deu
causa.

Nos termos do art. 114 do CPC/2015, "o litisconsórcio será necessário por (I) disposição
de lei ou quando, (II) pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença
depender da citação de todos que devam ser litisconsortes". Ausente a determinação legal, o
interesse de titulares de direitos e obrigações relacionadas a questões debatidas no processo não
configura, por si só, a formação de litisconsórcio necessário.

É exatamente essa a situação verificada nas ações indenizatórias consumeristas, nas quais,
conforme preconiza o art. 7º do CDC, havendo responsabilidade solidária por ter a ofensa mais de
um autor, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo. Nessa situação, o fato de um dos responsáveis solidários não ter figurado no polo passivo
da ação originária não macula de ineficácia a sentença proferida contra apenas um dos devedores
solidários.

Portanto, não há litisconsórcio obrigatório quando a eficácia da sentença que condenou o


endossatário a pagar a indenização pela manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de
inadimplentes não depende da citação credor originário.
Título de credito
Ha o negocio original e ha a posse
da cartula
INFORMAÇÕES ADICIONAIS Pode ocorrer o pagamento do
negocio original, mas a cartula já
tiver sido transmitida
LEGISLAÇÃO O endossatário pode ser
responsabilizado se ficar
Código de Defesa do Consumidor (CDC), art. 7º demonstrado que sabia (a boa fé e
debelada)
Nao ha litisconsórcio passivo
Código de Processo Civil (CPC), art. 114
necessário
QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt no AgInt no AREsp 2.064.554-BA, Rel. Ministra


Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade,
julgado em 18/9/2023, DJe 22/9/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Imóvel. Atraso na entrega. Ofensa a direitos da


personalidade. Danos morais. Cabimento.

DESTAQUE

É devida indenização por danos morais na hipótese de atraso na entrega de obra quando
isso implicar ofensa a direitos de personalidade.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Tribunal de origem consignou que o prazo final para a entrega do imóvel encerrou em
maio de 2010 e, em razão disso, a adquirente agendou o casamento para julho de 2010, justamente
em razão da expectativa de que, cumprida a obrigação contratual pela construtora, já estaria
residindo no imóvel. No entanto, as chaves apenas foram entregues em abril de 2011, o que a
privou, logo após o casamento, de habitar o imóvel por aproximadamente 11 meses.

Ainda que se considere a cláusula de tolerância que posterga a data de entrega do imóvel
para outubro de 2010, sucede, entre a data final e aquela em que as chaves foram entregues, atraso
de mais de 6 meses após o casamento, o que fez suportar prejuízos morais e materiais que
ultrapassam o mero dissabor.

Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça adota o entendimento de que é devida


indenização por danos morais na hipótese de atraso na entrega de obra quando isso implicar ofensa
a direitos de personalidade, sendo certo que a circunstância em análise, em que o casamento da
adquirente estava marcado para data próxima àquela prevista para a entrega do imóvel, afetou sua
esfera moral, frustrando-lhe a justa expectativa de habitar o novo lar após o matrimônio.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.024.901-SP, Rel. Ministro Rogerio


Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).
ProAfR no REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado
em 17/10/2023, DJe 30/10/2023 (Revisão do Tema
931).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.024.901/SP e 2.090.454/SP ao rito dos recursos
repetitivos, propondo a revisão da tese firmada no Tema
Repetitivo 931/STJ, quanto à alegada necessidade de
demonstração da hipossuficiência do apenado para que,
a despeito do inadimplemento da pena de multa, possa-
se proceder ao reconhecimento da extinção de sua
punibilidade.
Número 794 Brasília, 14 de novembro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

PRIMEIRA SEÇÃO

PROCESSO CC 199.938-SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
11/10/2023, DJe 17/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL

TEMA Cumprimento de sentença coletiva contra a União.


Ajuizamento no Distrito Federal. Possibilidade. Art. 109,
§ 2º, da CF/88. Distinguishing em relação ao REsp
1.243.887/PR. Superação do entendimento firmado no
REsp 1.991.739/GO.

DESTAQUE

O exequente pode optar por ajuizar no Distrito Federal o cumprimento de sentença


coletiva contra a União.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do REsp n.


1.243.887/PR, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 12/12/2011, processado sob o regime do art.
543-C do CPC/1973, adotou entendimento sobre a competência para julgar a execução individual do
título judicial em Ação Civil Pública, cabendo ao exequente escolher entre (i) o foro em que a Ação
Coletiva foi processada e julgada e (ii) o foro do seu domicílio, nos termos dos arts. 98, § 2º, I, e 101,
I, do CDC.

O caso dos autos, contudo, possui peculiaridade que o distingue do precedente obrigatório
da Corte Especial no recurso repetitivo REsp 1.243.887/PR, visto que o cumprimento de sentença
aqui tratado foi manejado contra a União, havendo autorizativo no § 2º do art. 109 da Constituição
Federal no sentido de que as causas intentadas contra a União poderão ser aforadas no Distrito
Federal, além das hipóteses de aforamento no domicílio do autor, onde houver ocorrido o ato ou
fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa.

Dessa forma, pode o exequente optar por ajuizar no Distrito Federal o cumprimento de
sentença coletiva contra a União, nos termos do § 2º do art. 109 da Constituição Federal,
entendimento que milita a favor da máxima efetividade do dispositivo constitucional, além de
ampliar/facilitar o acesso à justiça pelo credor da União.

Superado o entendimento firmado no REsp n. 1.991.739/GO, Segunda Turma desta Corte,


DJe 19/12/2022, ocasião em que, em caso similar, aferiu-se a competência para o processamento da
execução individual de sentença coletiva contra a União apenas sob a perspectiva do REsp repetitivo
1.243.887/PR e dos dispositivos legais alegados pelo recorrente, além da limitação própria do
recurso especial que não realizou, como se está a fazer no presente feito, o distinguishing entre o
referido precedente obrigatório e o autorizativo do § 2º do art. 109 da Constituição Federal que
elenca o Distrito Federal como opção conferida a quem litiga contra a União.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal, art. 109, § 2º

Código de Defesa do Consumidor, arts. 98, § 2º, I, e 101, I.

Código de Processo Civil de 1973, art. 543-C

PRECEDENTES QUALIFICADOS
Tema n. 480/STJ - REsp n. 1.243.887/PR
SEGUNDA SEÇÃO

PROCESSO CC 186.137-PR, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 8/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Conflito positivo de competência. Ação de busca e


apreensão. Liminar concedida por juízo vinculado ao
Tribunal de Justiça do estado do Paraná. Pedido do
credor para efetivação da liminar perante juízo vinculado
ao tribunal de Justiça do estado do Maranhão. Local do
bem. Art. 3º, § 12, do Decreto-Lei n. 911/1969. Agravo de
instrumento interposto contra a decisão concessiva da
liminar perante o TJ/MA. Competência do juiz natural da
causa.

DESTAQUE

A efetivação de liminar concedida em ação de busca e apreensão de bem móvel, por Juízo
onde se localize o bem, não atrai a sua competência para eventual impugnação ao conteúdo dessa
liminar, que deverá ser postulada perante o Juízo da causa que a concedeu.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em verificar quem é competente para analisar a impugnação ao


conteúdo de liminar concedida em ação de busca e apreensão de bem móvel.

Da análise do art. 3º, § 12, do Decreto-Lei n. 911/1969, depreende-se que o seu propósito
é facilitar ao credor a apreensão dos bens alienados fiduciariamente e que se encontrem situados
em comarca de Juízo de competência territorial diversa do Juiz da causa onde se processa a ação de
busca e apreensão, a evidenciar a sua similitude com a carta precatória, que é um meio de
cooperação judiciária para a prática de atos judiciais, nos termos do que se depreende do art. 237,
III, do CPC/2015, que não tem o condão de modificar a competência.
Nesse contexto, a efetivação de medida liminar concedida em ação de busca e apreensão
de bem móvel, por Juízo onde se localize o bem, a pedido da parte interessada, com fundamento no
art. 3º, § 12, do Decreto-Lei n. 911/1969, não atrai a competência desse Juízo para eventual
impugnação ao conteúdo de tal liminar, que deverá ser postulada perante o Juízo da causa que
concedeu a liminar, afigurando-se igualmente competente para o julgamento de eventual recurso
interposto contra essa decisão o Tribunal ao qual se encontra vinculado esse Juízo natural.

Na hipótese, foi deferida liminar em ação de busca e apreensão pelo Juízo de Direito da
Vara Cível do Foro Regional de Pinhais/PR, e cumprida, a requerimento do banco suscitante/credor
fiduciário, amparado no art. 3º, § 12, do Decreto-Lei n. 911/1969, pelo Juízo de Direito da 2ª Vara
Cível da Comarca de São Luís/MA. Após a efetivação da medida, a ré/devedora fiduciante interpôs
agravo de instrumento contra a decisão liminar perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Maranhão, que concedeu efeito suspensivo àquele agravo em manifesta violação ao juiz natural da
causa, sendo competente para o julgamento desse recurso o Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná, ao qual está vinculado o Juiz da causa.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), art. 237, III


12. A parte interessada poderá requerer diretamente ao juízo da comarca onde foi
localizado o veículo com vistas à sua apreensão, sempre que o bem estiver em comarca distinta
Decreto-Lei n. 911/1969, art. 3º, § 12 daquela da tramitação da ação, bastando que em tal requerimento conste a cópia da petição
inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do despacho que concedeu a busca e apreensão do
veículo. (Incluído pela Lei nº 13.043, de 2014)

A competência para agravar eventual liminar e do tribunal do juiz que deu a liminar. E nao
do local do bem.
TERCEIRA SEÇÃO

PROCESSO AgRg no HC 783.717-PR, Rel. Ministro Messod Azulay


Neto, Rel. para acórdão Ministro Jesuíno Rissato
(Desembargador convocado do TJDFT), Terceira Seção,
por maioria, julgado em 13/9/2023, DJe 3/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Cultivo doméstico da planta Cannabis sativa para fins


medicinais. Uniformização do entendimento das Turmas
Criminais do STJ. Direito a saúde pública e a melhor
qualidade de vida. Regulamentação. Omissão da ANVISA
e do Ministério da Saúde. Atipicidade penal da conduta.

DESTAQUE

O plantio e a aquisição das sementes da Cannabis sativa, para fins medicinais, não
configuram conduta criminosa, independente da regulamentação da ANVISA.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Sobre o tema, o entendimento da Quinta Turma passou a corroborar o da Sexta Turma


desta Corte proferido no Recurso Especial 1.972.092-SP. Então, ambas as turmas passaram a
entender que o plantio e a aquisição das sementes da Cannabis sativa, para fins medicinais, não se
trata de conduta criminosa, independente da regulamentação da ANVISA.

Após o precedente paradigma da Sexta Turma, formou-se a jurisprudência, segundo a


qual, "uma vez que o uso pleiteado do óleo da Cannabis sativa, mediante fabrico artesanal, se dará
para fins exclusivamente terapêuticos, com base em receituário e laudo subscrito por profissional
médico especializado, chancelado pela ANVISA na oportunidade em que autorizou os pacientes a
importarem o medicamento feito à base de canabidiol - a revelar que reconheceu a necessidade que
têm no seu uso -, não há dúvidas de que deve ser obstada a iminente repressão criminal sobre a
conduta praticada pelos pacientes/recorridos" (REsp 1.972.092/SP, relator Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 30/6/2022).
A Quinta Turma passou a entender que "a ausência de regulamentação administrativa
persiste e não tem previsão para solução breve, uma vez que a ANVISA considera que a competência
para regular o cultivo de plantas sujeitas a controle especial seria do Ministério da Saúde e este
considera que a competência seria da ANVISA", e é inevitável evoluir na análise do tema na seara
penal, com o objetivo de superar eventuais óbices administrativos e cíveis, privilegiando-se, dessa
forma, o acesso à saúde, por todos os meios possíveis, ainda que pela concessão de salvo-conduto.

Então, o referido órgão colegiado entendeu que a matéria diz respeito ao direito
fundamental à saúde, constante do art. 196 da Constituição da República, sendo que o direito penal
deve objetivar a repressão ao tráfico.

No caso, o conjunto probatório em análise aponta que o uso medicinal do óleo extraído da
planta Cannabis sativa encontra-se suficientemente demonstrado pela documentação médica, pois
foram anexados Laudo Médico e receituários médicos, os quais indicam o uso do óleo medicinal
(CBD Usa Hemp 6000mg full spectrum e Óleo CBD/THC 10%).

Dessa forma, a questão, aqui tratada, não pode ser objeto da sanção penal, porque se trata
do exercício de um Direito Fundamental, constitucionalmente, garantido, isto é, o Direito à Saúde, e
a atuação proativa da Quinta e da Sexta Turma do STJ justifica-se juridicamente, pois "vislumbra-se
que 'ativismo judicial' é um exercício pró-ativo dos órgãos da função judicial do Poder Público, não
apenas de fazer cumprir a lei em seu significado exclusivamente formal, mas é uma atividade
perspicaz na interpretação de princípios constitucionais abstratos tais como a dignidade da pessoa
humana, igualdade, liberdade, dentre outros.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (CF/1988), art. 196.

Direito fundamental a saude - dignidade humana, liberdade, igualdade etc


Omissão da Anvisa e do MS
Nao precisa de regulamentação da anvisa
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.015.278-PB, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira


Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Servidor público federal. Remoção por motivo de saúde


de pessoa da família. Genitores. Art. 36 da Lei n.
8.112/1990. Ideia de custo, despesa. Dependência física
ou afetiva. Desnecessidade.
'

DESTAQUE

Para fins de concessão de remoção ao servidor público, ainda que provisoriamente, à luz
do art. 36, parágrafo único, III, b, da Lei 8.112/1990, há a necessidade de preenchimento do
requisito da dependência econômica, não abrangendo eventual dependência física ou afetiva.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão controvertida cinge-se à seguinte indagação: para fins de concessão de remoção


ao servidor público, ainda que provisoriamente, à luz do art. 36, parágrafo único, III, ##i/i##, da Lei
8.112/1990, há, ou não, necessidade de preenchimento do requisito da dependência econômica?

O vocábulo "expensas", como gizado no artigo acima, remete à ideia de "despesas, custos",
evidenciando que, a partir da alteração implementada pela Lei n. 9.527/1997, a dependência em tela
assumiu nítida feição econômica.

Tal compreensão vem sendo reiteradamente adotada por esta Corte, ao consignar que "o
pedido de remoção de servidor para outra localidade, independentemente de vaga e de interesse da
Administração, será deferido quando fundado em motivo de saúde do servidor, de cônjuge,
companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional,
condicionada à comprovação por junta médica oficial" (REsp n. 1.937.055/PB, relator Ministro
Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe de 3/11/2021).
Desse modo, não há como admitir que o vocábulo "expensas" possa ser interpretado de
forma extensiva, a fim de abranger também eventual "dependência física" ou "afetiva" dos genitores
em relação ao filho servidor público.

Logo, conquanto no caso inexista controvérsia a respeito do estado de saúde dos genitores
do autor, ora recorrido, tal fato, isoladamente considerado, não é capaz de legitimar a manutenção
do entendimento adotado pela ilustrada Corte regional, no que esta desconsiderou a também
necessidade de comprovação do requisito legal concernente à dependência econômica, sob pena de
se incorrer em visível afronta à Súmula Vinculante n. 10/STF: "Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua
incidência, no todo ou em parte".

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. Lei n. 8.112/1990, art. 36, parágrafo único, III, ##i/i##

SÚMULAS

Súmula Vinculante n. 10/STF


PROCESSO REsp 1.182.060-SC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

TEMA Valores vertidos pelas empresas recorrentes a planos de


previdência privada complementar aberta e fechada.
Administradores não empregados. Contribuição
previdenciária. Não incidência. Art. 69, § 1º, da LC n.
109/2001. Revogação parcial tácita do art. 28, § 9º, p, da
Lei n. 8.212/1991. Aplicação da diretriz hermenêutica
prevista no art. 2º, § 1º, da LINDB.

DESTAQUE

Não incide a contribuição previdenciária da Lei n. 8.212/1991 sobre os valores vertidos a


planos de previdência privada complementar de administradores não empregados, mesmo quando
não disponibilizados à totalidade de empregados e dirigentes da empresa.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No tocante aos valores recolhidos pelas empresas em benefício de seus administradores


não empregados, para o custeio de plano de previdência complementar privada, o art. 28, § 9º, p, da
Lei n. 8.212/1991, dispunha: § 9º- Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,
exclusivamente: [...] p) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica, relativo a
programa de previdência complementar, aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade de
seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da CLT.

Quanto ao referido artigo, ressalta-se que com a superveniência do § 1º, do art. 69, da LC n.
109/2001, as contribuições direcionadas ao custeio de planos de previdência complementar
privada, de entidades aberta e fechada, deixaram, em qualquer circunstância, de se submeter à
incidência da contribuição previdenciária exigida pelo fisco e, portanto, não mais integram o salário-
de-contribuição, independentemente de beneficiarem, ou não, à totalidade dos empregados e
dirigentes da empresa.
Logo, deve prevalecer, no caso, o parâmetro hermenêutico disposto no art. 2º, § 1º, da
LINDB (Decreto-Lei n. 4.657/1942), segundo o qual "A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível [caso sob exame] ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior".

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.212/1991, art. 28, § 9º, p

LC n. 109/2001, art. 69, § 1º

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657/1942), art. 2º, § 1º

PROCESSO REsp 1.182.060-SC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira


Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO, DIREITO EMPRESARIAL

TEMA Empresas regidas pela Lei n. 6.404/1976. Contribuição


previdenciária. Administradores não empregados.
Participação nos lucros da empresa. Verba
remuneratória que integra o salário de contribuição.
DESTAQUE

A distribuição de lucros e resultados destinada aos administradores sem vínculo


empregatício, na condição de segurados obrigatórios (contribuintes individuais), constitui verba
remuneratória, devendo integrar o salário de contribuição.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No que tange à participação nos lucros da empresa, deve-se pontuar a circunstância,


incontroversa, de que os administradores não empregados das companhias recorrentes estão, no
âmbito do custeio do regime geral de previdência social, enquadrados na categoria de contribuintes
individuais, conforme o teor do art. 12, V, f, da Lei n. 8.212/1991, daí que, de acordo com o art. 28,
III, desse mesmo diploma, seu salário-de-contribuição é considerado como sendo a "remuneração
auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o
mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5º".

Já a verba denominada participação nos lucros da empresa constitui-se em pagamento aos


empregados e administradores, nas hipóteses em que haja resultado empresarial positivo. Nesse
passo, dispõe o § 9º, j, do art. 28 da mesma Lei n. 8.212/1991: § 9º Não integram o salário-de-
contribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: [...] j) a participação nos lucros ou resultados da
empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica;

Nesse contexto, coube à Lei n. 10.101/2000 regulamentar a participação dos


trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, como instrumento de integração entre o capital
e o trabalho, bem assim como incentivo à produtividade, nos termos aventados pelo art. 7º, inciso
XI, da Constituição.

Já os arts. 152 e 190 da Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas) versam sobre a
remuneração dos administradores e sua participação nos lucros da companhia, não servindo,
entretanto, só por si, como suporte legal capaz de legitimar a tese da não incidência de contribuições
previdenciárias sobre a participação dos administradores não empregados nos lucros da empresa.

Assim, considerando-se que a distribuição de lucros, na espécie examinada, é destinada


aos administradores sem vínculo empregatício com as empresas e, portanto, na condição de
contribuintes individuais, deve o referido montante, sim, integrar o salário-de-contribuição como
efetiva verba remuneratória, na forma do art. 28, III, da Lei n. 8.212/1991.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (CF/1988), art. 7º, inciso XI

Lei n. 8.212/1991, arts. 12, V, f, e 28, III e § 9º, j

Lei n. 10.101/2000

Lei n. 6.404/1976, arts. 152 e 190


SEGUNDA TURMA

PROCESSO AREsp 2.381.899-SC, Rel. Ministro Mauro Campbell


Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 19/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Taxa de serviço (gorjeta). Natureza salarial. Base de


cálculo. Simples Nacional. Exclusão.

DESTAQUE

As gorjetas não se incluem na base de cálculo do regime fiscal denominado "Simples


Nacional".

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em saber se as gorjetas ou taxa de serviço cobradas pelos


restaurantes, as quais integram a remuneração dos empregados, deve ou não compor a receita bruta
da empresa para fins de incidência da alíquota de tributação pelo Simples Nacional.

Deveras, impende registrar que as gorjetas encontram disciplina legal na Consolidação das
Leis do Trabalho - CLT, mais especificamente em seu artigo 457, § 3º.

A exegese do diploma normativo permite inferir que a gorjeta, compulsória ou inserida na


nota de serviço, tem natureza salarial, compondo a remuneração do empregado, não constituindo
renda, lucro ou receita bruta/faturamento da empresa. Logo, as gorjetas representam apenas
ingresso de caixa ou trânsito contábil a ser repassado ao empregado, não implicando incremento no
patrimônio da empresa, razão pela qual deve sofrer a aplicação apenas de tributos e contribuições
que incidem sobre o salário. (AgRg no AgRg nos Edcl no REsp 1.339.476/PE, Min. Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 16/9/2013). Consequentemente, afigura-se ilegítima a exigência do
recolhimento do PIS, COFINS, IRPJ e CSLL sobre a referida taxa de serviço.
Do mesmo modo e pelas mesmas razões, não há que se falar em inclusão das gorjetas na
base de cálculo do regime fiscal denominado "Simples Nacional", que incide sobre a receita bruta na
forma do art. 18, § 3º, da LC n. 123/2006. (AREsp n. 1.704.335/ES, Ministro Mauro Campbell
Marques, DJe 18/9/2020).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Consolidação das Leis do Trabalho, art. 457, § 3º

LC nº 123/2006, art. 18, § 3º


TERCEIRA TURMA

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Marco


Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 24/10/2023, DJe 26/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Prestação alimentícia. Cumprimento de sentença.


Unificação de dois processos. Delimitação dos débitos
correspondentes e o rito a ser observado em cada
processo. Intimação do paciente na pessoa de seu
advogado. Executado que fora intimado e preso
anteriormente. Ausência de ilegalidade.

DESTAQUE

Havendo inequívoca ciência do devedor acerca de débito alimentar objeto de execução,


não é ilegal a intimação de instauração de um segundo cumprimento de sentença na pessoa do seu
advogado referente ao mesmo título judicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Na origem, tramitavam dois cumprimentos de sentença de prestação alimentícia,


envolvendo as mesmas partes - o paciente (executado) e sua filha (exequente) - e ambos sob o rito
do art. 528 do CPC/2015 (prisão civil).

O Juízo a quo, então, dividiu a execução do débito alimentar da seguinte forma: No


primeiro processo, como houve a prisão civil do executado, referente ao primeiro período, o
Magistrado registrou que o cumprimento de sentença deveria tramitar pelo rito da penhora
(CPC/2015, art. 523). Já no segundo processo, o cumprimento de sentença deveria prosseguir em
relação às prestações vencidas no período posterior à prisão civil do executado e não incluído no
primeiro processo. Neste, o rito seria o do art. 528 do CPC/2015, possibilitando a prisão civil do
paciente.
O Superior Tribunal de Justiça entende que a prisão civil somente pode ser decretada após
a intimação pessoal do devedor para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo, não suprindo a mera intimação do procurador constituído, em
obediência ao que determina o art. 528 do CPC/2015.

O fundamento para que não seja admitida a intimação do devedor na pessoa de seu
advogado, sem poderes específicos para tanto, consiste na necessidade de se ter a certeza da efetiva
ciência do devedor de alimentos a respeito do cumprimento de sentença instaurado, a fim de lhe
oportunizar o pagamento do débito, provar que o pagou ou demonstrar a impossibilidade de fazê-lo,
notadamente em razão da grave consequência ocasionada pelo não cumprimento dessa obrigação,
qual seja, a prisão civil.

Na hipótese, contudo, o paciente teve ciência inequívoca da execução da dívida alimentar


subjacente, tanto que chegou a ser preso no bojo do primeiro cumprimento de sentença instaurado.

Assim, o fato de ter sido instaurado um segundo cumprimento de sentença não exige que o
paciente seja novamente intimado pessoalmente, pois se trata do mesmo título judicial executado
em relação ao primeiro cumprimento de sentença instaurado, mudando-se apenas o período
correspondente ao débito executado.

Somente se fosse instaurado um novo cumprimento de sentença referente a outro título


judicial, é que seria necessária nova intimação pessoal do devedor.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), arts. 523 e 528

O STJ entendeu que se já foi intimado pessoalmente em um processo nao ha necessidade de


uma segunda intimação pessoal se o título já foi executado no processo anterior
PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Marco
Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, por maioria, julgado em
7/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO PROCESSUAL


CIVIL

TEMA Defensoria Pública. Prerrogativa de intimação pessoal.


Extensão aos escritórios de prática jurídica de faculdades
privadas de direito. Possibilidade.

DESTAQUE

A prerrogativa de intimação pessoal conferida à Defensoria Pública se aplica aos núcleos


de prática jurídica das faculdades de Direito, públicas ou privadas.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A lei assegura ao Ministério Público, à Advocacia Pública e à Defensoria Pública a


prerrogativa da intimação pessoal (arts. 180, 183 e 186, § 1º, do Código de Processo Civil). Assim, a
intimação dessas entidades deve ocorrer por carga, remessa ou meio eletrônico (art. 183, § 1º, do
CPC).

A Defensoria Pública, essa importante instituição, enfrenta algumas dificuldades que


decorrem, notadamente, do elevado número de demandas para as quais é chamada a atuar, de
impasses para contatar os assistidos, que, no mais das vezes, não dispõem de telefone, e-mail ou
outros meios de fácil comunicação, da precariedade da estrutura material e do número insuficiente
de defensores públicos e de profissionais para prestar-lhes assistência.

Nesse cenário, o benefício da intimação pessoal se assenta no princípio da isonomia


material (art. 5º, caput, da CF) e constitui mecanismo voltado à concretização do acesso à justiça e
do contraditório pelos hipossuficientes.

De acordo com Pesquisa Nacional da Defensoria Pública, das 2.307 Comarcas instaladas no
território brasileiro, apenas 1.286 Comarcas contam com atendimento regular por parte da
Defensoria Pública Estadual, dado que representa 49,8% do total e contraria o disposto na EC n.
80/2014 que, ao inserir o art. 98, §1°, no ADCT, previu que até o término do ano de 2022, a União, os
Estados e o Distrito Federal deveriam contar com defensores públicos em todas as unidades
jurisdicionais.

Feitas essas considerações, verifica-se que a materialização do acesso à justiça ainda


depende da atuação de outros personagens, dentre os quais se incluem os escritórios de prática
jurídica das faculdades de Direito.

A lei processual estende, expressamente, o benefício do prazo em dobro a tais instituições,


bem como às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados
com a Defensoria Pública (art. 186, § 3º, do CPC).

A interpretação literal das referidas normas realmente autoriza a conclusão de que apenas
a prerrogativa de cômputo em dobro dos prazos seria extensível aos escritórios de prática jurídica
das instituições de ensino superior, mas não a prerrogativa da intimação pessoal.

Todavia, deve-se interpretar as regras de modo sistemático e à luz de sua finalidade, do


que se conclui, respeitosamente, que não há razão jurídica plausível para tratamento anti-isonômico
nesse particular.

A prerrogativa de intimação pessoal da Defensoria Pública também está prevista no art.


5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950. Esse dispositivo prescreve que "nos Estados onde a Assistência
Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente,
será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes
em dobro todos os prazos".

O Superior Tribunal de Justiça interpretava a expressão "cargo equivalente" como serviço


de assistência judiciária organizado e mantido pelo Estado, afastando, assim, os núcleos de prática
jurídica de entidades privadas de ensino superior (REsp 1106213/SP, Terceira Turma, DJe
7/11/2011; AgInt no AREsp n. 1.836.142/DF, Quarta Turma, DJe de 27/9/2021).

Ocorre que, ao editar o CPC, o legislador não fez qualquer diferenciação entre escritórios
de prática jurídica de entidades de caráter público ou privado (art. 186, § 3º, do CPC). Por
conseguinte, a interpretação sistemática das normas - art. 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950 e art. 186, §
3º, do CPC - conduz à conclusão de que, tal qual a Defensoria Pública, os escritórios de prática
jurídica das faculdades de Direito, públicas ou privadas, devem ser intimados pessoalmente dos atos
processuais.

Dado que tais departamentos jurídicos prestam assistência judiciária aos hipossuficientes,
é absolutamente razoável crer que eles experimentam as mesmas dificuldades de comunicação e de
obtenção de informações dos assistidos, as quais são conhecidamente vivenciadas no âmbito da
Defensoria Pública.

Nesse contexto, a intimação pessoal constitui uma ferramenta imprescindível para o


desempenho das atividades desenvolvidas pelos núcleos de prática jurídica das faculdades de
Direito.

Ressalte-se que, recentemente, a Corte Especial do STJ decidiu pela aplicação da


prerrogativa do prazo em dobro não só aos núcleos de prática jurídica das universidades públicas,
mas também das universidades privadas de ensino superior. Tal conclusão fundou-se não apenas na
literalidade do art. 183, § 3º, do CPC/2015, mas também na semelhança das dificuldades
enfrentadas por tais entidades e pela Defensoria Pública (REsp 1.986.064/RS, Corte Especial, DJe
8/6/2022).

Por sua vez, a Terceira Turma, no julgamento do RMS 64894/SP (DJe de 9/8/2021), por
unanimidade, decidiu que a prerrogativa conferida à Defensoria Pública de requerer a intimação
pessoal da parte na hipótese do art. 186, § 2º, do CPC se estende ao defensor dativo. Ainda que não
sejam idênticas, é notória a semelhança entre essa questão e a hipótese examinada.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), arts. 180, 183 e 186, § 1º, § 3º

Constituição Federal (CF), art. 5º, caput

ADCT, art. 98, §1°

Lei n. 1.060/1950, art. 5º, § 5º


QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 1.733.777-SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
17/10/2023, DJe 23/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Contrato de financiamento com garantia de alienação


fiduciária de imóvel. Lei n. 9.514/1997. Intimação
pessoal do devedor fiduciante para purgar a mora
frustrada. Recusa injustificada de receber intimação.
Intimação por edital que se justifica.

DESTAQUE

Se o devedor fiduciante se escusa, por diversas vezes, de receber as intimações para


purgar a mora em seu endereço comercial, conforme expressamente indicado no contrato de
alienação fiduciária de imóvel, induzindo os Correios a erro ao indicar possível mudança de
domicílio que nunca existiu, não há óbice à sua intimação por edital.
,

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Da leitura do § 4º do art. 26 da Lei n. 9.514/1997, verifica-se que, após tentativa frustrada


de intimação pessoal do devedor fiduciante, o dispositivo autoriza, expressamente, a sua intimação
por edital, caso o devedor se encontre em local ignorado, incerto ou inacessível.

No caso, conforme esclarecido na sentença, intimações das pessoas jurídicas foram


enviadas para o endereço da sua sede, constante do contrato de alienação fiduciária. Após expedição
de cinco cartas com aviso de recebimento para fins de intimação no endereço indicado no contrato,
todas devolvidas com a indicação de que "mudou-se", houve tentativa de intimação dos sócios no
próprio imóvel que era objeto da alienação fiduciária, mas também sem sucesso.

Sendo assim, constatado que as recorrentes se esquivaram, por diversas vezes, a receber
as intimações para purgar a mora em seu endereço comercial, conforme expressamente indicado no
contrato de alienação fiduciária, induzindo os Correios a erro ao indicar possível mudança de
domicílio que nunca existiu, não há óbice à intimação por edital.

Ademais, apenas a partir da Lei n. 13.465/2017, tornou-se necessária a intimação do


devedor fiduciante da data do leilão, devido à expressa determinação legal. No caso, como o
procedimento de execução extrajudicial é anterior à entrada em vigor da Lei n. 13.645/2017, não há
que se falar em nulidade devido à falta de intimação dos devedores da data de realização do leilão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.514/1997, art. 26, § 4º

Se ha uma esquiva reiterada do devedor em receber intimações induzindo em erro o


correios a indicar outro endereço cabe intimação por edital

Apenas depois da lei 13465 se tornou obrigatória a intimacao pessoal do leilao


QUINTA TURMA

PROCESSO REsp 2.026.837-SC, Rel. Ministro Messod Azulay Neto,


Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023.

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Progressão de regime. Crime comum e crime hediondo.


Mesma execução penal. Aplicação da redação anterior do
art. 112 da LEP ao crime comum e da tese fixada no Tema
1084, com base no pacote anticrime (Lei n.
13.964/2019), ao crime hediondo. Matérias distintas
reunidas em um só dispositivo. Mens legis. Tratamento
distinto aos crimes comuns e hediondos. Princípios da
individualização da pena, da isonomia e da
irretroatividade da lei penal. Inexistência de combinação
de leis.

DESTAQUE

Não configura combinação de leis a aplicação do requisito objetivo para a progressão de


regime previsto na antiga redação do art. 112 da Lei de Execução Penal, em relação ao crime
comum, e a aplicação retroativa do Pacote Anticrime para reger apenas a progressão do crime
hediondo, quando ambos os delitos compõem uma mesma execução penal e foram praticados em
momento anterior à edição da Lei n. 13.964/2019.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em determinar se é possível aplicar a redação anterior do art. 112


da Lei de Execução Penal para que a progressão de regime atinente ao crime comum se dê com 1/6
do cumprimento da pena e, ao mesmo tempo, aplicar a tese do Tema 1084 desta Corte, decorrente
do Pacote Anticrime, para que o requisito objetivo a ser aferido para o crime hediondo seja de 40%.

Com efeito, é mais adequado que os cálculos para a progressão de regime sejam feitos de
modo independente, quando houver, em uma mesma execução, crimes comuns e hediondos. Isso
porque a aplicação de uma só lei, nesse caso, contraria o princípio da não retroatividade da lei penal
maléfica, pois o crime comum será regido por norma mais rigorosa, que leva em consideração
parâmetros não contemplados na lei anterior, como a reincidência e o cometimento de violência à
pessoa ou grave ameaça.

Soma-se a isso o argumento ventilado no HC 617.922/SP, oportunidade em que a Quinta


Turma sinalizava a possibilidade de aderir ao entendimento da Sexta Turma no sentido de que
"(n)ão há que se falar em indevida combinação de leis quando se está diante de duas leis que tratam
de temas distintos e que, circunstancialmente, vieram a ser alteradas pela mesma norma
infraconstitucional superveniente". De fato, a mens legis é de que os crimes hediondos recebam
tratamento distinto dos comuns, ainda que, por questões práticas, o legislador tenha optado por
reunir os temas em um mesmo dispositivo de lei.

Os princípios da individualização da pena e da isonomia recomendam que os delitos


comuns e hediondos recebam tratamentos distintos. Em sendo o requisito temporal para a
progressão de regime de ordem objetiva, causa perplexidade a adoção de um critério que permite
que coautores sejam tratados de modo diferente no curso da execução penal, a despeito de terem
cometido o mesmo fato, apenas em razão de uma eventualidade envolvendo a sucessão de leis no
tempo.

Por fim, registre-se que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal autorizou a
aplicação de leis distintas para reger a progressão de regime de crimes comuns e hediondos, por
entender que essa solução é a que melhor se alinha às diretrizes estabelecidas pela Constituição da
República.

"Por esta razão, não incide, no caso, o óbice jurisprudencial que veda a combinação de
normas ou de leis, consistente na criação de uma lex tertia. Trata-se de regimes de progressão de
pena que receberam, do legislador, tratamento legal independente, cada qual (crimes comuns e
crimes hediondos) com seu conjunto específico de normas de regência. (RHC 221.271 AgR, Rel. Min.
Luiz Fux, STF, Primeira Turma, DJe de 15/5/2023).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Princípio da individualização da pena


Lei de Execução Penal (LEP), art. 112
Princípio da isonomia
Princípio da legalidade
Lei n. 13.964/2019 Nao ha lex teria
Possível aplicação de leis distintas para regulamentar
crime comum e crime hediondo de um mesmo
sentenciado
PRECEDENTES QUALIFICADOS

Tema 1084
SEXTA TURMA

PROCESSO AREsp 2.104.638-RJ, Rel. Ministro Jesuíno Rissato


(Desembargador convocado do TJDFT), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 7/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Ingresso de aparelhos celulares no estabelecimento


prisional. Crime do art. 349-A do Código Penal. Réu
flagrado durante a revista pessoal. Tentativa configurada.

DESTAQUE

Flagrado o agente antes do efetivo ingresso no interior do estabelecimento prisional, ainda


durante a revista, não há falar em consumação do crime do art. 349-A do Código Penal, mas apenas
em tentativa.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Tribunal estadual entendeu ser incabível o reconhecimento da tentativa em relação ao


crime do art. 349-A do Código Penal, pois o delito foi cometido no interior da unidade prisional, no
setor de revista da unidade, razão pela qual o crime estaria consumado.

Contudo, a realização de revistas pessoais efetuadas antes do ingresso no estabelecimento


prisional não tem o condão de tornar absolutamente ineficaz o meio de escolha para a execução do
crime, pois, como é sabido, as revistas não são infalíveis, o que permite a entrada de substâncias
entorpecentes, bem como de outros objetos, como celulares, dentro dos presídios.

Dessa forma, tendo sido o agente flagrado antes do efetivo ingresso no interior do
estabelecimento prisional, ainda durante a revista, não há falar em consumação do delito, mas
apenas em tentativa.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Penal (CP), art. 349-A

Se o agente foi flagrado com celular na abordagem comete o crime do art 349-a na forma
tentada.
Nao e crime impossível porque a busca pode falhar
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 1.826.796-SC, Rel. Ministra Assusete


Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
31/10/2023, DJe 8/11/2023. (Tema 1220).

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

TEMA A Primeira Seção acolheu a proposta de afetação do REsp


n. 1.826.796/SC ao rito dos recursos repetitivos, a fim de
uniformizar o entendimento a respeito da seguinte
controvérsia: "definir se o Memorando-Circular Conjunto
21/DIRBEN/PFEINSS configura marco interruptivo do
prazo prescricional das demandas de revisão de
benefício previdenciário, nos termos do art. 202, VI, do
Código Civil".
Número 795 Brasília, 21 de novembro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 1.864.633-RS, Rel. Ministro Paulo Sérgio


Domingues, Corte Especial, por maioria, julgado em
9/11/2023. (Tema 1059).
REsp 1.865.223-SC, Rel. Ministro Paulo Sérgio
Domingues, Corte Especial, por maioria, julgado em
9/11/2023 (Tema 1059).
REsp 1.865.553-PR, Rel. Ministro Paulo Sérgio
Domingues, Corte Especial, por maioria, julgado em
9/11/2023 (Tema 1059).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Honorários advocatícios sucumbenciais. Art. 85, § 11, do


CPC. Provimento parcial ou total do recurso, ainda que
mínima a alteração do resultado do julgamento.
Majoração da verba honorária em grau recursal.
Impossibilidade. (Tema 1059).
DESTAQUE

A majoração dos honorários de sucumbência prevista no art. 85, § 11, do CPC pressupõe
que o recurso tenha sido integralmente desprovido ou não conhecido pelo tribunal,
monocraticamente ou pelo órgão colegiado competente. Não se aplica o art. 85, § 11, do CPC em caso
de provimento total ou parcial do recurso, ainda que mínima a alteração do resultado do julgamento
e limitada a consectários da condenação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia que se apresenta a julgamento diz respeito à possibilidade de se proceder,


em grau recursal, à majoração da verba honorária estabelecida na instância recorrida, notadamente
quando o recurso interposto venha a ser provido total ou parcialmente, ainda que o provimento
esteja limitado a capítulo secundário da decisão recorrida.

Nesse sentido, é pressuposto da majoração da verba honorária sucumbencial em grau


recursal, tal como estabelecida no art. 85, § 11, do CPC, a infrutuosidade do recurso interposto,
assim considerado aquele que em nada altera o resultado do julgamento tal como provindo da
instância de origem.

Daí que, se a regra legal do art. 85, § 11, do CPC existe para penalizar o recorrente que se
vale de impugnação infrutuosa, que amplia sem razão jurídica o tempo de duração do processo,
pode-se concluir que foge ao escopo da norma aplicar a penalidade em situação concreta na qual o
recurso tenha sido, em alguma medida, proveitoso à parte que dele se valeu. Configuraria evidente
contrassenso, enfim, aplicar o dispositivo legal em exame para punir o recorrente pelo êxito obtido
com o recurso, ainda que mínimo ou limitado a capítulo secundário da decisão recorrida, a exemplo
dos que estabelecem os consectários de uma condenação.

Respeitada essa premissa, surge sem maiores dificuldades uma primeira conclusão
inafastável: para os fins do art. 85, § 11, do CPC, não faz diferença alguma se o recurso foi declarado
incognoscível por lhe faltar qualquer requisito de admissibilidade; ou se o recurso foi examinado
pelo mérito e integralmente desprovido. Ambas as hipóteses equivalem-se juridicamente para efeito
de majoração da verba honorária prefixada, já que nenhuma dessas hipóteses possui aptidão para
alterar o resultado do julgamento, e o recurso interposto, ao fim e ao cabo, foi infrutuoso e em nada
beneficiou o recorrente.

Outra conclusão que se põe, desta vez diretamente relacionada à controvérsia em desate,
está em reconhecer que o êxito recursal, ainda quando mínimo, deslocará a causa para além do
campo de incidência do art. 85, § 11, do CPC, não se podendo cogitar, nessa hipótese, de majoração
pelo tribunal dos honorários previamente fixados. Não cabe, com efeito, penalizar o recorrente se a
alteração no resultado do julgamento - ainda que mínima - constitui decorrência direta da
interposição do recurso, e se dá em favor da posição jurídica do recorrente.

Pensar diferente, ademais, conduziria inevitavelmente os tribunais a um caminho de


perturbadora insegurança jurídica, fomentando-se infindáveis discussões acerca do ponto a partir
do qual a modificação do resultado do julgamento decorrente do provimento parcial do recurso
dispensaria o tribunal de majorar os honorários sucumbenciais previamente fixados.

Percebe-se, enfim, que não há razão jurídica para se sustentar a aplicação do art. 85, § 11,
do CPC nos casos de provimento parcial do recurso, ainda que mínima a alteração do resultado do
julgamento e diminuto o proveito obtido pelo recorrente com a impugnação aviada, mesmo quando
circunscrita à alteração do resultado ou o proveito obtido a mero consectário de um decreto
condenatório.

Esse entendimento, ademais, é o que se mostra assentado no âmbito do Superior Tribunal


de Justiça, que estabelece como um dos requisitos para a aplicação do art. 85, § 11, do CPC, que se
esteja a cuidar de recurso integralmente não conhecido ou desprovido, monocraticamente ou pelo
órgão colegiado competente.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC/2015), art. 85, § 11

PRECEDENTES QUALIFICADOS

Tema n. 1059/STJ
CORTE ESPECIAL

PROCESSO EAREsp 1.854.589-PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte


Especial, por unanimidade, julgado em 9/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ônus da sucumbência na execução extinta por prescrição


intercorrente. Custas. Honorários advocatícios.
Reconhecimento da prescrição intercorrente, precedido
de resistência do exequente. Prevalência do princípio da
causalidade.

DESTAQUE

A resistência do exequente ao reconhecimento de prescrição intercorrente não é capaz de


afastar o princípio da causalidade na fixação dos ônus sucumbenciais, mesmo após a extinção da
execução pela prescrição.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Segundo farta jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em caso de extinção da


execução, em razão do reconhecimento da prescrição intercorrente, mormente quando este se der
por ausência de localização do devedor ou de seus bens, é o princípio da causalidade que deve
nortear o julgador para fins de verificação da responsabilidade pelo pagamento das verbas
sucumbenciais.

Mesmo na hipótese de resistência do exequente - por meio de impugnação à exceção de


pré-executividade ou aos embargos do executado ou de interposição de recurso contra a decisão
que decreta a referida prescrição -, é indevido atribuir-se ao credor, além da frustração na pretensão
de resgate dos créditos executados, também os ônus sucumbenciais com fundamento no princípio
da sucumbência, sob pena de indevidamente beneficiar-se duplamente a parte devedora, que não
cumpriu oportunamente com a sua obrigação, nem cumprirá.

A causa determinante para a fixação dos ônus sucumbenciais, em caso de extinção da


execução pela prescrição intercorrente, não é a existência, ou não, de compreensível resistência do
exequente à aplicação da referida prescrição. É, sobretudo, o inadimplemento do devedor,
responsável pela instauração do feito executório e, na sequência, pela extinção do feito, diante da
não localização do executado ou de seus bens.

A resistência do exequente ao reconhecimento de prescrição intercorrente não infirma,


nem supera a causalidade decorrente da existência das premissas que autorizaram o ajuizamento da
execução, apoiadas na presunção de certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo e no
inadimplemento do devedor.

Assim, em homenagem aos princípios da boa-fé processual e da cooperação, quando a


prescrição intercorrente ensejar a extinção da pretensão executiva, em razão das tentativas
infrutíferas de localização do devedor ou de bens penhoráveis, será incabível a fixação de
honorários advocatícios em favor do executado, sob pena de se beneficiar duplamente o devedor
pela sua recalcitrância. Deverá, mesmo na hipótese de resistência do credor, ser aplicado o princípio
da causalidade, no arbitramento dos ônus sucumbenciais.

O que o STJ esta dizendo que e que se o credor ajuizou a ação corretamente, mas
veio a prescrever, prescrição intercorrente, nao muda o fato do devedor ter que
arcar com os honorários, sob pena do devedor se beneficiar 2 vezes
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.952.610-RS, Rel. Ministra Regina Helena Costa,


Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
7/11/2023, DJe 13/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Lei Complementar n. 123/2006, art. 55. Procedimento de


dupla visita para autuação de microempresas e empresas
de pequeno porte. Compatibilidade com a fiscalização
realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e dos Biocombustíveis - ANP. Não caracterização de risco
imanente.

DESTAQUE

A Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis adota, como regra
de suas atividades fiscalizatórias, a dupla visita, não elencando a conduta de armazenamento, no
mesmo ambiente, de recipientes de gás liquefeito de petróleo (GLP) cheios e vazios como situação
de risco.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O art. 179 da Constituição da República prevê como princípio geral da atividade


econômica o tratamento jurídico diferenciado às microempresas e empresas de pequeno porte,
visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.

Dentre essas prerrogativas, consoante estabelecido no art. 55 da Lei Complementar n.


123/2006, está o caráter prioritariamente orientador da ação fiscalizatória de suas atividades,
impondo-se o critério da dupla visita para lavratura dos autos de infração, ressalvadas situações de
risco incompatível com o procedimento, reincidência, fraude, resistência ou embaraço à fiscalização,
cabendo aos órgãos administrativos, mediante ato infralegal, arrolar as atividades não sujeitas ao
procedimento geral.
A Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis - ANP adota, como
regra de suas atividades fiscalizatórias, a dupla visita, não elencando a conduta de armazenamento,
no mesmo ambiente, de recipientes de gás liquefeito de petróleo (GLP) cheios e vazios como
situação de risco.

Nesse contexto, a ANP regulamentou seus procedimentos de fiscalização das


microempresas e empresas de pequeno porte pela Resolução n. 759, arrolando as atividades
consideradas de risco, fraude, resistência ou embaraço à fiscalização. A referida resolução não
alterou o grau de risco da atividade, mas apenas regulamentou o art. 55 da Lei Complementar n.
123/2006, de forma a positivar a compatibilidade do procedimento de dupla visita com a atuação de
fiscalização da ANP.

Assim, pode-se concluir, em regra, pela compatibilidade das atividades supervisionadas


pela ANP com o tratamento prioritário conferido às microempresas e empresas de pequeno porte
na sobredita Lei Complementar.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal (CF/1988), art. 179

Lei Complementar n. 123/2006, art. 55

Resolução n. 759 da Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis - ANP
SEGUNDA TURMA

PROCESSO Processo sob segredo de justiça, Rel. Ministra Assusete


Magalhães, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 7/11/2023, DJe 13/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Agravo interno no agravo em recurso especial. Recurso


especial inadmitido. Falta de impunação específica dos
fundamentos da decisão agravada. Art. 932, III, do
CPC/2015 e Súmula n. 182/STJ. Agravo em recurso
especial. Não conhecimento. Insistência da parte
recorrente em não atacar os fundamentos da decisão
agravada. Reaplicação da Súmula n. 182/STJ. Art. 1.021, §
1º, do CPC/2015. Agravo interno não conhecido, com
aplicação de multa de 1% sobre o valor atualizado da
causa.

DESTAQUE

O recurso que insiste em não atacar especificamente os fundamentos da decisão recorrida


seguidamente é manifestamente inadmissível (dupla aplicação do art. 932, III, do CPC/2015),
devendo ser penalizado com a multa de 1%, sobre o valor atualizado da causa, prevista no art. 1.021,
§4º, do CPC/2015.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Inicialmente, ressalta-se que a parte agravante tem o ônus da impugnação específica dos
fundamentos da decisão agravada. Não basta repetir as razões já expendidas, no recurso anterior, ou
limitar-se a infirmar, genericamente, o decisum. É preciso que o Agravo interno impugne, dialogue,
combata, enfim, demonstre o desacerto do que restou decidido. Encampando tal compreensão, esta
Corte editou a Súmula 182, in verbis: "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada".
A nova sistemática processual, introduzida pelo CPC de 2015, ratificou tal compreensão, in
verbis: "Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
[...] § 1º. Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos
da decisão agravada".

Assim, constata-se que o princípio da dialeticidade permanece vivo, nesse novo diploma
processual, uma vez que se revela indispensável que a parte recorrente faça a impugnação específica
dos fundamentos da decisão agravada, expondo os motivos pelos quais não teriam sido
devidamente apreciados os fatos e/ou as razões pelas quais não se teria aplicado corretamente o
direito, no caso concreto, enfrentando os fundamentos da decisão agravada, o que não ocorreu, na
hipótese dos autos.

Desse modo, interposto Agravo interno com razões deficientes, que não impugnam,
especificamente, os fundamentos da decisão agravada, devem ser aplicados, no particular, a Súmula
182 desta Corte e o art. 1.021, § 1º, do CPC/2015.

Por fim, deve ser imposta, no caso, a multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, no
patamar de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa. Segundo entendimento firmado pela
Segunda Turma desta Corte, "o recurso que insiste em não atacar especificamente os fundamentos
da decisão recorrida seguidamente é manifestamente inadmissível (dupla aplicação do art. 932, III,
do CPC/2015), devendo ser penalizado com a multa de 1%, sobre o valor atualizado da causa,
prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015" (STJ, AgInt no AREsp n. 974.848/SP, Rel. Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 13/3/2017).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil, art. 932, III e 1.021, §4º

SÚMULAS

Súmula n. 182/STJ
PROCESSO REsp 2.086.417-RN, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
7/11/2023, DJe 10/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO TRIBUTÁRIO

TEMA Imposto de Renda. Programa de Alimentação do


Trabalhador - PAT. Inclusão dos incisos I e II, no §1º, do
art. 645, do Decreto n. 9.580/2018 (RIR/2018). Dedução
dos valores pagos referente ao PAT. Alteração feita pelo
art. 186, do Decreto n. 10.854/2021. Ilegalidade.

DESTAQUE

O art. 186, do Decreto n. 10.854, de 2021, ao restringir a dedução do PAT a valores pagos a
título de alimentação para os trabalhadores que recebam até cinco salários-mínimos, limitada a
dedução ao valor de, no máximo, um salário-mínimo, incorreu em ilegalidade.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Decreto n. 9.580/2018 (RIR/2018) foi alterado pelo art. 186, do Decreto n. 10.854/2021
para nele fazer incluir os incisos I e II, do §1º, do art. 645, onde foi estabelecido que a dedução
referente ao Programa de Alimentação ao Trabalhador - PAT "será aplicável em relação aos valores
despendidos para os trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos" e "deverá abranger
apenas a parcela do benefício que corresponder ao valor de, no máximo, um salário-mínimo".

À toda evidência, tais limitações para a dedução não constam expressamente nas leis
criadoras do Programa de Alimentação ao Trabalhador - PAT, não podendo ser estabelecidas via
decreto regulamentar, ainda que as leis regulamentadas tragam cláusula geral de regulamentação,
pois carecedor de autorização legal específica.
O estabelecimento de prioridade para o atendimento aos trabalhadores de baixa renda, na
forma do regulamento, não significa a autorização para a exclusão dos demais trabalhadores pelo
regulamento, tal a correta interpretação dos arts. 1º e 2º, da Lei n. 6.321/1976.

Em situação análoga, o tema já foi enfrentado por este Superior Tribunal de Justiça quando
da fixação de custos máximos para as refeições individuais oferecidas pelo mesmo Programa de
Alimentação ao Trabalhador - PAT pela Portaria Interministerial n. 326/1977 e pela a Instrução
Normativa da Secretaria da Receita Federal n. 267/2002, que estabeleceram limitações ilegais não
previstas na Lei n. 6.321/1976, no Decreto n. 78.676/1976 ou no Decreto n. 5/1991.

Mutatis mutandis, as mesmas razões aqui se aplicam. Com efeito, ato infralegal não pode
restringir, ampliar ou alterar direitos decorrentes de lei. A lei é que estabelece as diretrizes para a
atuação administrativa-normativa regulamentar. Se o poder público identificou a necessidade de
realizar correções no programa há que fazê-lo pelo caminho jurídico adequado e não improvisar via
comandos normativos de hierarquia inferior, conduta já rechaçada em abundância pela
jurisprudência.

Em conclusão, o art. 186, do Decreto n. 10.854/2021, ao restringir a dedução do PAT a


valores pagos a título de alimentação para os trabalhadores que recebam até cinco salários-
mínimos, limitada a dedução ao valor de, no máximo, um salário-mínimo, incorreu em ilegalidade.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Decreto n. 5/1991

Decreto n.º 78.676/1976

Decreto n. 9.580/2018, incisos I e II, do §1º, do art. 645

Decreto nº 10.854/2021, art. 186

Lei n. 6.321/1976, arts. 1º e 2º


TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.098.063-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
7/11/2023, DJe 13/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO AUTORAL

TEMA Execução de obras musicais protegidas em eventos


públicos. Cobrança de direitos autorais. Intuito de lucro.
Proveito econômico. Desnecessidade.

DESTAQUE

A cobrança de direitos autorais pela execução de obras musicais protegidas em eventos


públicos não está condicionada ao objetivo ou obtenção de lucro.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em determinar se pode haver a cobrança de direitos autorais pela


execução de músicas em eventos públicos promovido por Prefeitura sem o objetivo de lucro.

O sistema erigido para a tutela dos direitos autorais no Brasil, filiado ao chamado sistema
francês, tem por escopo incentivar a produção intelectual, transformando a proteção do autor em
instrumento para a promoção de uma sociedade culturalmente diversificada e rica. Nesse contexto,
se por um lado é fundamental incentivar a atividade criativa, por outro, é igualmente importante
garantir o acesso da sociedade às fontes de cultura.

Anteriormente, sob a égide da redação do art. 73 da Lei n. 5.988/1973, o STJ entendia que,
tratando-se de festejo de cunho social e cultural, sem a cobrança de ingresso e sem a contratação de
artistas, inexistente o proveito econômico, seria indevida a cobrança por direitos autorais.

Note-se que a gratuidade das apresentações públicas de obras musicais protegidas era
elemento relevante para determinar o que estaria sujeito ao pagamento de direitos autorais.
Posteriormente, o sistema passou a ser regulado Lei n. 9.610/1998, que atualizou e
consolidou a legislação sobre direitos autorais, alterando, significativamente, a disciplina relativa à
cobrança por direitos autorais. Com efeito, observa-se que o art. 68 da nova lei, correspondente ao
art. 73 da legislação revogada, suprimiu, no novo texto, a expressão "que visem lucro direto ou
indireto".

Dessa forma, à luz da Lei n. 9.610/1998, a cobrança de direitos autorais em virtude da


execução de obras musicais protegidas em eventos públicos não está condicionada ao objetivo ou
obtenção de lucro.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.610/1998, art. 68

Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais,
composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas.
QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 1.497.574-SC, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta


Turma, por unanimidade, julgado em 24/10/2023, DJe
3/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Empréstimo tomado por sociedade empresária.


Implementação ou incremento de atividades negociais.
Ausência de relação de consumo. Teoria Finalista.
Hipossuficiência técnica, jurídica ou econômica da pessoa
jurídica não configurada. Não incidência do Código de
Defesa do Consumidor.

DESTAQUE

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de empréstimo tomados


por sociedade empresária para implementar ou incrementar suas atividades negociais.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos da jurisprudência do STJ, em regra, com base na Teoria Finalista, não se aplica
o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de empréstimo tomados por sociedade empresária
para implementar ou incrementar suas atividades negociais, uma vez que a contratante não é
considerada destinatária final do serviço e não pode ser considerada consumidora, somente sendo
possível a mitigação dessa regra na hipótese em que demonstrada a específica condição de
hipossuficiência técnica, jurídica ou econômica da pessoa jurídica.

Nesse sentido: "é inaplicável o diploma consumerista na contratação de negócios jurídicos


e empréstimos para fomento da atividade empresarial, uma vez que a contratante não é considerada
destinatária final do serviço. Precedentes. Não há que se falar, portanto, em aplicação do CDC ao
contrato bancário celebrado por pessoa jurídica para fins de obtenção de capital de giro" "Dessa
maneira, inexistindo relação de consumo entre as partes, mas sim, relação de insumo, afasta-se a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor e seus regramentos protetivos decorrentes, como a
inversão do ônus da prova ope judicis (art. 6º, inc. VIII, do CDC)." (REsp 2.001.086/MT, Relatora
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 27/9/2022, DJe de 30/9/2022).

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministra Maria


Isabel Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade, julgado
em 24/10/2023, DJe 3/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

TEMA Desistência de adoção de criança na fase do estágio de


convivência. Inexistência de prazo de estágio de
convivência à época dos fatos. Genitora biológica que
contestou a adoção e insistiu no direito de visitação do
menor. Doença neurológica constatada na criança. Pais
adotivos lavradores sem condições financeiras.
Desistência justificada. Abuso de direito não configurado.

DESTAQUE

A desistência de adoção de criança na fase do estágio de convivência, após significativo


lapso temporal, não configura abuso de direito, quando os candidatos a pais não possuam condições
financeiras, somado ao fato de a genitora biológica ter contestado o processo de adoção e ter
requerido, por sucessivas vezes, que a criança lhe fosse devolvida ou que lhe fosse deferido o direito
de visitação.

Adotantes nao possuem condição financeira


Genitora biológica contestou a acao
Requereu diversas vezes a criança
Os adotantes cuidaram bem da criança
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia cinge-se em verificar se a desistência de adoção de criança na fase do


estágio de convivência, após significativo lapso temporal, acarretaria a responsabilidade civil dos
candidatos a pais adotivos e, por consequência, dever de indenizar o infante.

A desistência da adoção durante o estágio de convivência não configura ato ilícito, não
impondo o Estatuto da Criança e do Adolescente nenhuma sanção aos pretendentes habilitados em
virtude disso.

O "estágio de convivência", está previsto no art. 46 da Lei n. 8.069/1990, que assim


dispunha, à época dos fatos: "A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou
adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso".

Atualmente, a Lei n. 13.509/2017 fixou o prazo máximo de 90 dias para o estágio de


convivência, mas, em 2008, quando se deram os fatos em análise, esse prazo não existia. À época, o
Estatuto da Criança e do Adolescente também não impunha nenhuma sanção aos pretendentes à
adoção, por eventual desistência no curso do processo.

Embora o fato de a criança ter recebido diagnóstico de doença grave e incurável possa ter
contribuído para a desistência da adoção, haja vista que os candidatos a pais eram pessoas
extremamente simples, sem condições financeiras, e moravam longe de centros urbanos, o fato de a
genitora biológica ter contestado o processo de adoção e ter requerido, sucessivamente, que a
criança lhe fosse devolvida ou que lhe fosse deferido o direito de visitação, não pode ser desprezado
nesse processo decisório.

A desistência da adoção, nesse contexto, está devidamente justificada, não havendo que se
falar em abuso de direito, especialmente, quando, durante todo o estágio de convivência, a criança
foi bem tratada, não existindo nada desabone a conduta daqueles que se candidataram no processo.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.069/1990 (ECA), art. 46


QUINTA TURMA

PROCESSO AREsp 2.346.755-SP, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta


Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023, DJe
13/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Ingresso irregular de estrangeiro. Crimes de uso de


documento falso de falsificação de documento público.
Pedido de refúgio indeferido. Estrangeiro com visto
permanente. Rejeição da denúncia. Falta de justa causa.
Princípio da intervenção mínima e caráter fragmentário
do Direito Penal. Anistia legal. Interpretação do art. 10, §
1º, da Lei n. 9.474/1997. Analogia in bonam partem.

DESTAQUE

Ainda que indeferido o pedido de refúgio, a concessão de residência permanente ao


estrangeiro equivale a uma anistia legal para os crimes de uso de documento falso e falsificação de
documento público, conforme estabelecido no art. 10, parágrafo 1º, da Lei n. 9.474/1997 em relação
aos refugiados.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Conforme estabelecido no art. 8º da Lei n. 9.474/1997, a entrada irregular de estrangeiros


no território nacional não impede que eles solicitem refúgio às autoridades competentes. Em outras
palavras, salvo raras exceções previstas nos arts. 7º, §§ 2º, e 3º, III, da mesma lei, o fato de ter
ingressado de maneira irregular, seja de forma ilegal ou ilícita, não impede que alcancem a
qualidade jurídica de refugiado.

Quando uma pessoa qualificada como "refugiado" comete alguma conduta ilícita com o
propósito de ingressar no território nacional e essa conduta está diretamente relacionada a esse
intento, o procedimento, seja ele de natureza cível, administrativa ou criminal, deve ser arquivado,
com base no § 1º do artigo 10 da referida lei.
No caso, embora o pedido de reconhecimento da condição de refugiado tenha sido
indeferido pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) devido à falta de demonstração de
um fundado temor de perseguição compatível com os critérios de elegibilidade previstos no art. 10
da Lei n. 9.474/1997, é importante destacar que o estrangeiro encontra-se classificado como
residente no território nacional e recebeu um visto ou a permissão permanente, o que denota a
condição de residência legal no Brasil.

O art. 395, inciso III, do Código de Processo Penal prescreve a rejeição da denúncia quando
inexistir justa causa para o início do processo penal, isto é, quando não houver fundamentos sólidos
para a persecução penal. Essa medida, na situação em análise, é necessária, pois configura uma
aplicação pertinente do princípio da intervenção mínima e reforça a relevância do caráter
fragmentário do direito penal, já que a própria administração pública reconheceu o direito de
residência permanente no território nacional.

Nesse contexto, também, é apropriado evocar a analogia in bonam partem, uma vez que a
interpretação nos conduz à conclusão de que a concessão de residência permanente ao estrangeiro
equivale a uma anistia legal para os crimes de uso de documento falso e falsificação de documento
público, conforme estabelecido no art. 10, parágrafo 1º, da Lei n. 9.474/1997 em relação aos
refugiados. Logo, tal situação resulta na inexistência de justa causa para a ação penal, considerando
a correlação entre o uso de passaporte falso e sua entrada irregular no Brasil.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.474/1997, art. 10, parágrafo 1º

Lei n. 9.474/1997, arts. 7º, parágrafo 2º, e 3º, III

Lei n. 9.474/1997, art. 8º

Código de Processo Penal (CPP), art. 395, inciso III


SEXTA TURMA

PROCESSO AgRg no HC 809.639-GO, Rel. Ministro Jesuíno Rissato


(Desembargador convocado do TJDFT), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 17/10/2023, DJe 20/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Acordo de não persecução penal. Descumprimento das


condições impostas. Intimação do investigado para
justificar o descumprimento das condições que ele
aceitou em audiência. Inexistência de previsão legal.
Revogação do benefício.

DESTAQUE

A revogação do acordo de não persecução penal não exige que o investigado seja intimado
para justificar o descumprimento das condições impostas na avença.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O investigado foi devidamente cientificado dos termos e condições do acordo de não


persecução penal e posteriormente foi feita tentativa de intimação no endereço fornecido, a fim de
que fosse dado início ao cumprimento da avença firmada, que restou infrutífera. Intimada a defesa
para apresentar o endereço, sob pena de rescisão do acordo, manifestou-se pela intimação editalícia.

Conforme consignado pelo Tribunal de origem, o investigado foi devidamente cientificado


a respeito não só da obrigação assumida e das consequências do seu descumprimento, mas também,
de que era seu dever informar ao juízo qualquer alteração no seu endereço/telefone.

Assim, configurou-se o descumprimento das condições impostas no acordo de não


persecução penal (ANPP), notadamente a obrigação de comunicar mudança de endereço ou
telefone.
Prevê o §10 do art. 28-A do Código de Processo Penal que o descumprimento das
condições impostas no acordo de não persecução penal implica a revogação do benefício, devendo o
Ministério Público comunicar o fato ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de
denúncia.

Ademais, não há previsão legal para que o investigado seja intimado, mesmo que por
edital, para justificar o descumprimento das condições pactuadas, tampouco sendo o caso de
aplicação analógica do art. 118, §2º, da Lei de Execuções Penais, visto que não se encontra em
situação de execução de pena privativa de liberdade.

Note-se que §9º do art. 28-A do Código de Processo Penal prevê apenas que a vítima será
intimada da homologação do acordo, bem como de seu descumprimento, sem a determinação de
que o investigado seja intimado para justificar o descumprimento das condições impostas pelo
Ministério Público.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade
ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência
LEGISLAÇÃO para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o
condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta
grave;
Código de Processo Penal, art. 28-A, § 9º e § 10 II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena,
somada ao restante da pena em execução, torne
incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se,
Lei de Execuções Penais, art. 118, § 2º além das hipóteses referidas nos incisos anteriores,
frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a
multa cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior,
deverá ser ouvido previamente o condenado. -

Se o investigado descumpre o ANPP, nao ha necessidade de que seja intimado


para justificar o descumpri
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.090.538-PR, Rel. Ministro Sérgio


Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
14/11/2023, DJe 17/11/2023. (Tema 1221).
ProAfR no REsp 2.094.611-PR, Rel. Ministro Sérgio
Kukina, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
14/11/2023, DJe 17/11/2023 (Tema 1221).

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA A Primeira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps n. 2.090.538/PR e 2.094.611/PR ao rito dos
recursos repetitivos, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia: "
definição do termo inicial dos juros moratórios no caso
de demanda em que se pleiteia reparação moral
decorrente de mau cheiro oriundo da atividade de
prestadora de serviço público no tratamento de esgoto".
PROCESSO ProAfR no REsp 2.072.978-MS, Rel. Ministro Jesuíno
Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 14/11/2023, DJe
20/11/2023. (Tema 1222).

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA A Terceira Seção acolheu a proposta de afetação do REsp


n. 2.072.978/MS ao rito dos recursos repetitivos, a fim de
uniformizar o entendimento a respeito da seguinte
controvérsia: "verificar a possibilidade de agentes da
Polícia Federal criarem sites/fóruns de internet para
apuração de crimes, de identificação e de localização de
pessoas que compartilhem arquivos pedopornográficos".
Número 796 Brasília, 28 de novembro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

RECURSOS REPETITIVOS

PROCESSO REsp 2.048.422-MG, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,


Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
22/11/2023 (Tema 1206).
REsp 2.048.645-MG, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
22/11/2023 (Tema 1206).
REsp 2.048.440-MG, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
22/11/2023 (Tema 1206).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Tráfico de drogas. Comprovação da materialidade. Laudo


toxicológico definitivo. Ausência de assinatura. Mera
irregularidade. Possibilidade excepcional de
comprovação da materialidade do delito pela presença
de outros elementos. Tema 1206.
DESTAQUE

A simples falta de assinatura do perito encarregado pela lavratura do laudo toxicológico


definitivo constitui mera irregularidade e não tem o condão de anular a prova pericial na hipótese
de existirem outros elementos que comprovem a sua autenticidade, notadamente quando o expert
estiver devidamente identificado e for constatada a existência de substância ilícita.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em definir se a assinatura do laudo toxicológico definitivo por


perito criminal é imprescindível para a comprovação da materialidade do delito de tráfico de
drogas.

Havendo a apreensão de entorpecente, devem ser elaborados dois laudos: o primeiro,


denominado de laudo de constatação, deve indicar se o material apreendido é, efetivamente,
substância ou produto capaz de causar dependência, assim especificado em lei ou relacionado em
listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União, devendo apontar, ainda, a
quantidade apreendida. Trata-se, portanto, de um exame provisório, apto a comprovar a
materialidade do delito e, como tal, autorizar a prisão do agente ou a instauração do respectivo
inquérito policial, caso não verificado o estado de flagrância. É firmado por um perito oficial ou, em
sua falta, por pessoa idônea.

A lei também indica a existência do laudo definitivo, que é realizado de forma científica e
minuciosa e, como o próprio nome indica, deve trazer a certeza quanto à materialidade do delito,
definindo se o material analisado efetivamente se cuida de substância ilícita, a fim de embasar um
juízo definitivo acerca do delito.

Diante disso, a Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento do ERESp


1.544.057/RJ, pacificou o entendimento de que o laudo toxicológico definitivo, em regra, é
imprescindível à comprovação da materialidade dos delitos envolvendo entorpecentes. Ausente o
referido exame, é forçosa a absolvição do acusado, ressalvada, no entanto, em situações
excepcionais, a possibilidade de aferição da materialidade do delito por laudo de constatação
provisório, desde que este tenha sido elaborado por perito oficial e permita grau de certeza idêntico
ao do laudo definitivo.

Conclui-se que, havendo apreensão de material considerado como "droga", a prova de sua
materialidade depende, efetivamente, de algum tipo de exame de corpo de delito efetuado por
perito que possa identificar, com certo grau de certeza, a existência dos elementos físicos e químicos
que qualifiquem a substância como entorpecente.

Em situações excepcionais, admite a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que a


materialidade do crime de tráfico de drogas seja comprovada pelo próprio laudo de constatação
provisório. Trata-se de situação singular, em que a constatação permite grau de certeza
correspondente ao laudo definitivo, pois elaborado por perito oficial, em procedimento e com
conclusões equivalentes e seguras atestando a presença de substância ilícita no material analisado.

Desse modo, se a materialidade delitiva do crime de tráfico pode, excepcionalmente, ser


comprovada por laudo de constatação provisório, não há de ser diferente a compreensão nos casos
em que o exame toxicológico definitivo não possui assinatura válida do perito. Ou seja, reputa-se
que esses casos − em que não consta a assinatura do perito oficial que elaborou o laudo
toxicológico definitivo − também se enquadram nas excepcionalidades mencionadas pelo
EREsp 1.544.057/RJ.

Esta Corte, em diversos julgados, firmou o entendimento de que a simples falta de


assinatura do perito criminal no laudo toxicológico definitivo constitui mera irregularidade e não
tem o condão de anular o exame, sobretudo nos casos em que o perito oficial está devidamente
identificado com seu nome e número de registro no documento e houve o resultado positivo para as
substâncias ilícitas analisadas.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Penal (CPP), art. 159


Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso
superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

STJ aceita excepcionalmente que o laudo definitivo seja substituído pelo laudo provisório
desde que lavrado por perito oficial e ofereça o mesmo grau de certeza do outro

Da mesma forma e por esta razão também o STJ entende que a falta de assinatura do perito
caracteriza-se como sendo mera irregularidade. Sobretudo quando o perito oficial estiver
devidamente identificado e houver resultado positivo.
PRIMEIRA SEÇÃO

PROCESSO REsp 1.803.530-PE, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Primeira Seção, por maioria, julgado em 22/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PREVIDENCIÁRIO, DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Benefício assistencial ao portador de deficiência.


Ajuizamento da ação após cinco anos do indeferimento
administrativo. Prescrição.

DESTAQUE

A pretensão à concessão inicial ou ao direito de revisão de ato de indeferimento,


cancelamento ou cessação do BPC-LOAS não é fulminada pela prescrição do fundo de direito, mas
tão somente das prestações sucessivas anteriores ao lustro prescricional previsto no art. 1º do
Decreto n. 20.910/1932.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Superior Tribunal de Justiça tem-se manifestado a favor de afastar a prescrição do fundo


de direito quando em discussão direito fundamental ao Benefício de Prestação Continuada da Lei
Orgânica da Assistência Social (BPC-LOAS), previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/1993, como
instrumento de garantia à cobertura pela Seguridade Social da manutenção da vida digna e do
atendimento às necessidades básicas sociais.

Em precedente do STF (RE 626.489/SE, Relator Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno,
julgado em 16/10/2013, DJe de 23/9/2014), julgado sob o rito da repercussão geral, o direito
fundamental à concessão inicial ao benefício previdenciário pode ser exercido a qualquer tempo,
sem que se atribua consequência prejudicial ao direito pela inércia do beneficiário, entendimento
esse aplicável, com muito mais força ao BPC-LOAS, por seu caráter assistencial.

No caso do BPC-LOAS, o direito de revisão do ato que indefere ou cessa a prestação


assistencial não é completamente fulminado pela demora em exercitar-se o mencionado direito, ao
contrário do que ocorre aos benefícios previdenciários, sobre os quais incide o prazo decadencial de
dez anos, e a prescrição fulmina apenas as prestações sucessivas anteriores aos cinco anos da ação
de concessão inicial ou de revisão, conforme art. 103 da Lei n. 8.213/1991.

Nesse sentido, admitir que sobre o direito de revisão do ato de indeferimento do BPC-
LOAS incida a prescrição quinquenal do fundo de direito é estabelecer regime jurídico mais rigoroso
que o aplicado aos benefícios previdenciários, sendo estes menos essenciais à dignidade humana
que o benefício assistencial.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.742/1993, art. 20

Lei n. 8.213/1991, art. 103


SEGUNDA SEÇÃO

PROCESSO AgInt nos EREsp 1.393.699-PR, Rel. Ministro Raul Araújo,


Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 27/9/2023,
DJe 4/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Ação civil ex delicto. Padre. Igreja católica.


Responsabilidade civil.

DESTAQUE

O vínculo permanente e vitalício entre a Igreja Católica e seu sacerdote é apto a ensejar a
responsabilidade objetiva da instituição religiosa por desvio moral de conduta de seu representante,
desde que comprovada a responsabilidade subjetiva do padre por fato criminoso vinculado ao
prestígio social angariado em razão do desempenho da função.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Verifica-se pela experiência de senso comum que, no específico caso de sacerdote, este
tem vínculo vitalício e permanente com a Igreja Católica. Não se desliga do considerável prestígio
social e da autoridade próprias da instituição religiosa, ostentando permanentemente a liturgia, a
autoridade moral e inspirando a confiança decorrentes e inerentes ao ofício sacerdotal. Não importa
onde ou quando esteja o padre, ele é sempre o pastor, o sacerdote em quem se pode confiar e a
quem se pode recorrer.

Nesse sentido, somente em situação excepcional, difícil de conceber, de absoluto


anonimato, fato não ocorrente nos autos, poderia estar o padre momentaneamente desvinculado da
Igreja. Não se pode, assim, ter a situação de desvio de comportamento moral de um padre, com
atuação criminosa, comparada à conduta delitiva de profissionais comuns, como um simples
motorista de transportadora ou de um médico empregado de hospital. Nessas situações, o vínculo
de preposição realmente é singelo, tênue; não é permanente, mas momentâneo e circunstancial.
Já o padre, onde quer que vá e em qualquer horário, representa a Igreja Católica, fazendo
permanente uso da autoridade eclesial, inspirando confiança e influenciando pessoas, especialmente
os fiéis.

O vínculo de preposição entre Igreja e sacerdote é, portanto, pressuposto e permanente,


sendo, por isso, a instituição religiosa responsabilizada objetivamente pelo desvio de conduta, desde
que comprovada a responsabilidade subjetiva do padre por fato criminoso vinculado ao prestígio
social angariado em razão do desempenho da função. Trata-se de uma espécie de risco relacionado
com a atividade eclesiástica.
SEGUNDA TURMA

PROCESSO AREsp 2.397.514-SP, Rel. Ministro Mauro Campbell


Marques, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
21/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Concorrência especial de candidatos com deficiência.


Arredondamento da fração para o imediato inteiro
superior.

DESTAQUE

A aplicação do percentual de reserva de vagas para candidatos com deficiência que resulta
em número fracionário enseja o seu arredondamento para o inteiro imediatamente superior.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão é singela: o recorrente participou de concurso público para a formação de


cadastro de reserva e optou pela concorrência especial de pessoas com deficiência, nela sagrando-se
exitoso ao obter a primeira colocação.

A demanda tem foco na omissão da Administração Pública em provê-lo no cargo, isso


considerando que foram nomeados doze candidatos da concorrência ampla e, portanto, havia
concluir pela existência de doze vagas e daí a incidência do percentual da reserva para pessoas com
deficiência que resultaria em seis décimos de uma vaga para a concorrência de candidatos com
deficiência, impondo-se aí o arredondamento para o inteiro imediatamente superior, o que lhe
alcançaria a classificação em primeiro lugar.

O aspecto jurídico-legal da controvérsia reside na obrigatoriedade de que em concursos


públicos se reserve um determinado percentual das vagas para candidatos com deficiência, sendo
que no caso concreto esse percentual era de 5%, havendo considerar ainda o fato de que foram
providos 12 candidatos da ampla concorrência, e nenhum da concorrência especial.
Na hipótese, tratar-se de concurso para a formação de cadastro de reserva não
descaracteriza essa compreensão na medida em que a regulação legal adotada no acórdão estende
essa reserva à situação e, sendo assim, o fato de ter ocorrido o provimento de 12 vagas e de
nenhuma delas ter sido pela concorrência especial impunha o provimento do recorrente.
TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.019.136-RS, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Rel.


para acórdão Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma,
por maioria, julgado em 7/11/2023, DJe 23/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Plano de saúde. Recusa da operadora de contratar plano


de assistência à saúde. Beneficiária com restrição em
órgão de proteção ao crédito. Abusividade configurada.

DESTAQUE

O simples fato de o consumidor registrar negativação nos cadastros de consumidores não


pode bastar, por si só, para vedar a contratação do plano de saúde pretendido.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se a operadora de plano de saúde está autorizada a


negar a contratação de serviço com quem está com o nome negativado em órgão de restrição de
crédito.

Nos contratos de consumo de bens essenciais como água, energia elétrica, saúde, educação
etc, não pode o fornecedor agir pensando apenas no que melhor lhe convém. A negativa de
contratação de serviços essenciais constitui evidente afronta à dignidade da pessoa, sendo
incompatível ainda com os princípios do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

O fato de o consumidor registrar negativação nos cadastros de consumidores não pode


bastar, por si só, para vedar a contratação do plano de saúde pretendido. A prestação dos serviços
sempre pode ser obstada se não tiver havido o pagamento correspondente. Assim, exigir que a
contratação seja efetuada apenas mediante "pronto pagamento", nos termos do que dispõe o art. 39,
IX, do CDC, equivale a impor ao consumidor uma desvantagem manifestamente excessiva, o que é
vedado pelo art. 39, V, do mesmo diploma. E ainda, em se considerando que o fornecimento (ou o
atendimento pelo plano de saúde) só persistirá se houver o efetivo adimplemento das prestações
contratadas.

No caso, ademais, não se está diante de um produto ou serviço de entrega imediata, mas
de um serviço eventual e futuro que, embora posto à disposição, poderá, ou não, vir a ser exigido.
Assim, a recusa da contratação ou a exigência de que só seja feita mediante "pronto pagamento",
excede aos limites impostos pelo fim econômico do direito e pela boa-fé (art. 187 do CC/2002).

A contratação de serviços essenciais não mais pode ser vista pelo prisma individualista ou
de utilidade do contratante, mas pelo sentido ou função social que tem na comunidade, até porque o
consumidor tem trato constitucional, não é vassalo, nem sequer um pária.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Defesa do Consumidor (CDC), art. 39, IX

Código Civil (CC), art. 187

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados
os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
QUARTA TURMA

PROCESSO REsp 1.942.097-MT, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 7/11/2023,
DJe 10/11/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Ação de prestação de contas. Usufruto constituído por


ato inter vivos em favor de duas pessoas. Morte de uma
delas. Extinção do usufruto. Inexistência de cláusula
prevendo o direito de se acrescer o quinhão do
usufrutuário falecido ao do usufrutuário sobrevivente.
Quinhão que retorna ao nu-proprietário. Inexistência de
dever de prestação de contas pelo usufrutuário
sobrevivente.

DESTAQUE

Em se tratando de usufruto estabelecido por ato inter vivos, o usufrutuário sobrevivente


não tem o dever de prestar contas dos frutos referentes ao quinhão de usufrutuário falecido no
processo de inventário, haja vista que o referido quinhão não foi acrescido ao seu e nem transmitido
aos herdeiros, apenas retornando ao nu-proprietário.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia em verificar se, em caso de usufruto constituído em favor de duas


ou mais pessoas, com a morte de uma delas, o usufrutuário sobrevivente teria o dever de prestar
contas dos frutos referentes ao quinhão do usufrutuário falecido, a partir da data de abertura da
sucessão.

Em se tratando de usufruto estabelecido por ato inter vivos, os dispositivos que regem o
instituto são aqueles previstos nos artigos 1.390 a 1.411 do Código Civil, não se aplicando ao caso o
art. 1.946 do mesmo Código, uma vez que diz respeito a usufruto legado por testamento.
Não tendo sido estipulada cláusula prevendo o direito de se acrescer o quinhão do
usufrutuário falecido ao quinhão do usufrutuário sobrevivente, a partir da sua morte, aquele
quinhão volta ao nu-proprietário.

Não há como entender que o usufrutuário sobrevivente deveria prestar contas dos frutos
referentes ao quinhão de usufrutuário falecido no processo de inventário, haja vista que o referido
quinhão não foi acrescido ao seu e nem transmitido aos herdeiros.

Embora, a partir do falecimento do usufrutuário, seja necessário o cancelamento do


usufruto no Registro de Imóveis, eventual falha nessa comunicação do óbito não faz nascer o direito
de transmissão do quinhão aos herdeiros, pois o ato registral apenas visa a resguardar direito de
terceiros.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Civil (CC), arts 1.390 a 1.411, e 1.946.

Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em
parte, os frutos e utilidades.

Art. 1.411. Constituído o usufruto em favor de duas ou mais pessoas, extinguir-se-á a parte em relação a cada uma das que falecerem, salvo se, por
estipulação expressa, o quinhão desses couber ao sobrevivente.

Art. 1.946. Legado um só usufruto conjuntamente a duas ou mais pessoas, a parte da que faltar acresce aos co-legatários.
Parágrafo único. Se não houver conjunção entre os co-legatários, ou se, apesar de conjuntos, só lhes foi legada certa parte do usufruto, consolidar-se-
ão na propriedade as quotas dos que faltarem, à medida que eles forem faltando.
QUINTA TURMA

PROCESSO AgRg no REsp 2.076.164-PR, Rel. Ministro Ribeiro


Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
9/10/2023, DJe 16/10/2023.

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Cumprimento de pena no regime aberto. Pandemia da


covid-19. Fechamento dos fóruns. Juízo da execução que
extinguiu a punibilidade do réu pelo cumprimento
integral da pena, desprezando o período de pena
remanescente. Cumprimento ficto da pena.
Impossibilidade. Violação das disposições contidas no
título judicial. Coisa julgada que deve ser preservada.

DESTAQUE

O período em que o sentenciado deixou de comparecer em juízo por causa da pandemia da


covid-19 não pode ser considerado como tempo de pena efetivamente cumprido.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A questão controvertida cinge-se à possibilidade de cumprimento ficto da pena, em


decorrência da pandemia da covid-19, bem como à possibilidade do juízo da execução desprezar
período de pena a cumprir e, desde logo, extinguir a punibilidade do apenado pelo cumprimento da
pena.

Sobre o tema, a jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que "[n]ão é
admissível, por ausência de previsão legal, que se considere como cumprida a pena daquele que já
obtivera - por motivo de força maior e para não se expor a maior risco em virtude da pandemia - o
benefício da suspensão da pena restritiva de direitos, sendo absolutamente necessário o efetivo
cumprimento da pena como instrumento tanto de ressocialização do apenado como de
contraprestação em virtude da prática delitiva, a fim de que o reeducando alcance o requisito
necessário para a extinção de sua punibilidade" (AgRg no HC 644.942/GO, Rel. Ministro Antonio
Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe 17/6/2021).

Com efeito, o período em que o sentenciado deixou de comparecer em juízo por causa da
pandemia da covid-19 não pode ser considerado como tempo efetivamente cumprido. Apesar de o
reeducando não ter dado causa àquela situação, não se pode concluir que a finalidade da pena
(retribuição e de ressocialização do indivíduo) tenha sido atingida apenas pelo decurso do tempo.

É dever do juízo da execução dar fiel cumprimento ao título judicial, executando a pena do
réu nos limites impostos na sentença. A alteração das disposições contidas no título judicial, com o
desprezo do período de pena remanescente, sem nenhuma justificativa legal, viola a coisa julgada.

Desse modo, o réu não pode se beneficiar daquilo que efetivamente não cumpriu, sob pena
de se vulnerar a função ressocializadora, bem como retributiva da reprimenda, ensejando, com isso,
grave insegurança jurídica no tocante à execução da pena.

O tempo que o agente deixou de comparecer no fórum em razão da pandemia nao pode
ser considerado como pena efetivamente cumprida
O STJ nao aceita o cumprimento ficto da pena
Função ressocializadora
Função retribuída da pena
Coisa julgada
Descumprimento das condições do titulo
Insegurança jurídica
SEXTA TURMA

PROCESSO HC 625.274-SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma,


por unanimidade, julgado em 17/10/2023, DJe
20/10/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Tráfico de drogas. Entorpecentes encontrados nas


bagagens de passageiros do ônibus vistoriadas pela
Polícia Rodoviária Federal, em fiscalização de rotina.
Inspeção de segurança que não se confunde com busca
pessoal (natureza processual penal). Fiscalização de
natureza administrativa. Legítimo exercício do poder de
polícia. Licitude das provas obtidas.

DESTAQUE

A inspeção de segurança nas bagagens dos passageiros de ônibus, em fiscalização de


rotina realizada pela Polícia Rodoviária Federal, tem natureza administrativa e prescinde de
fundada suspeita.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A Sexta Turma do STJ, partir do julgamento do RHC 158.580/BA, aprofundou a


compreensão acerca do instituto da busca pessoal, analisando de forma exaustiva os requisitos do
art. 244 do Código de Processo Penal. O caso em análise revela a necessidade de se atentar para a
distinção existente entre a busca pessoal prevista na lei processual penal e outros procedimentos
que não possuem a mesma natureza, os quais, a rigor, não exigem a presença de "fundada suspeita".

A denominada "busca pessoal por razões de segurança" ou "inspeção de segurança",


ocorre rotineiramente em aeroportos, rodoviárias, prédios públicos, eventos festivos, ou seja, locais
em que há grande circulação de pessoas e, em consequência, necessidade de zelar pela integridade
física dos usuários, bem como pela segurança dos serviços e instalações.
Embora a inspeção de segurança também envolva restrição a direito fundamental e possa
ser alvo de controle judicial a posteriori, a fim de averiguar a proporcionalidade da medida e a sua
realização sem exposição vexatória, o principal ponto de distinção em relação à busca de natureza
penal é a faculdade que o indivíduo tem de se sujeitar a ela ou não. Em outras palavras, há um
aspecto de contratualidade, pois a recusa a se submeter à inspeção apenas irá obstar o acesso ao
serviço ou transporte coletivo, funcionando como uma medida de segurança dissuasória da prática
de ilícitos.

A título exemplificativo, destaca-se que a inspeção de segurança em aeroportos decorre de


cumprimento de diretriz internacional, prevista no Anexo 17 da Convenção da Organização
Internacional de Aviação Civil (OACI), da qual o Brasil é signatário. O Decreto n. 11.195/2022
regulamenta a questão e prevê expressamente que a inspeção de passageiros e bagagens é de
responsabilidade do operador de aeródromo, sob supervisão da Polícia Federal (art. 81). Ou seja,
delega-se essa possibilidade ao agente privado, sendo a atuação policial também prevista, de forma
subsidiária e complementar.

Nesse contexto, se a busca ou inspeção de segurança - em espaços e transporte coletivos -


pode ser realizada por agentes privados incumbidos da segurança, com mais razão pode - e deve -
ser realizada por agentes públicos que estejam atuando no mesmo contexto, sem prejuízo do
controle judicial a posteriori acerca da proporcionalidade da medida, em ambos os casos.

O contexto que legitima a inspeção de segurança em espaços e meios de transporte de uso


coletivo é absolutamente distinto daquele que ampara a realização da busca pessoal para fins
penais, na qual há que se observar a necessária referibilidade da medida (fundada suspeita de posse
de objetos ilícitos), conforme já muito bem tratado no referido RHC 158.580/BA, da relatoria do
Ministro Rogerio Schietti Cruz.

No caso, policiais rodoviários federais, em fiscalização na Rodovia Castelo Branco,


abordaram ônibus que fazia o trajeto de Dourados-MS para São Paulo-SP. Os agentes públicos
narraram que a seleção se deu a partir de análise comportamental (nervosimo visível e troca de
olhares entre um adolescente viajando sozinho e outra passageira que afirmou não conhecer).
Afirmaram ainda que informaram à acusada quanto ao direito de permanecer em silêncio e, em
seguida, iniciaram a vistoria das bagagens, localizando cerca de 30kg de maconha, divididos em
tabletes, tanto nos pertences da acusada, como nos do adolescente que viajava ao seu lado,
embalados da mesma forma.

Assim, forçoso concluir que a inspeção de segurança nas bagagens dos passageiros do
ônibus, em fiscalização de rotina realizada pela Polícia Rodoviária Federal, teve natureza
administrativa, ou seja, não se deu como busca pessoal de natureza processual penal e, portanto,
prescindiria de fundada suspeita.

Ademais, se a bagagem dos passageiros poderia ser submetida à inspeção aleatória na


rodoviária ou em um aeroporto, passando por um raio-X ou inspeção manual detalhada, sem
qualquer prévia indicação de suspeita, por exemplo, não há razão para questionar a legalidade da
vistoria feita pelos policiais rodoviários federais, que atuaram no contexto fático de típica inspeção
de segurança em transporte coletivo.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Penal (CPP), art. 244

Decreto n. 11.195/2022, art. 81


Lido 11/10/23
2010
09/11
Revisões
12/10; 27/10

Edição 1110/2023

6 DE OUTUBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


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Coordenadoria de Difusão da Informação


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Equipe Técnica
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Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
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Ricardo Henriques Pontes
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Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Cínthia Aryssa Okada
Leonardo Ramsés Cunha Oliveira
INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1110/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 6 de outubro de 2023.
INFORMATIVO STF 6 DE OUTUBRO DE 2023 | 1110/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 6 DE OUTUBRO DE 2023 | 1110/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Servidor Público; Reajustes de Remuneração, Proventos ou Pensão


• Reajuste de proventos e pensões de servidores públicos federais e seus
dependentes pelo mesmo índice do RGPS - RE 1.372.723/RS (Tema 1.224 RG)

DIREITO AMBIENTAL

» Atividade Minerária; Federalismo Cooperativo Ecológico; Degradação


Ambiental; Obrigação de Reparar os Danos
• Cobrança de indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente
para a exploração mineral no âmbito estadual - ADI 4.031/PA

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Medida Provisória; Conversão em Lei; Instituição ou Majoração de Imposto;


Princípio da Anterioridade
• ICMS: vigência e eficácia da majoração de alíquotas e observância do princípio
constitucional tributário da anterioridade anual - ADI 7.375/TO

» Ordem Social; Índios; Demarcação de Terras; Posse Tradicional; Direito


Originário Territorial
• Demarcação de terras tradicionalmente indígenas: desnecessidade de um
marco temporal como parâmetro à declaração do direito originário territorial
- RE 1.017.365/SC (Tema 1.031 RG)

» Precatórios; Débitos da Fazenda Pública; Depósitos Judiciais; Pagamento


em Atraso
• Utilização de depósitos judiciais para pagamentos de precatórios em atraso
- ADI 5.679/DF
INFORMATIVO STF 6 DE OUTUBRO DE 2023 | 1110/2023

DIREITO PROCESSUAL PENAL

» Jurisdição e Competência; Competência por Prerrogativa de Função;


Investigação Penal; Supervisão Judicial
• Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo Tribunal
de Justiça: necessidade de prévia autorização judicial para a instauração -
ADI 7.447 MC-Ref/PA

DIREITO TRIBUTÁRIO

» Impostos; ISS; Hipóteses de Incidência; Hospedagem


• ISS: incidência sobre atividades relativas à hospedagem - ADI 5.764/DF

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Auxílio emergencial pecuniário para pescadores profissionais artesanais


(Tema 1.159 RG) - RE 1.321.219/CE

• Execução trabalhista: possibilidade de inclusão de empresa do mesmo grupo


econômico que não participou do processo de conhecimento (Tema 1.232
RG) - RE 1.387.795/MG

• Recurso especial eleitoral: cabimento contra decisão administrativa sobre


prestação de contas de campanhas eleitorais (Tema 124 RG) - RE 825.274/SP

• Bloqueio judicial das contas de sociedade de economia mista estadual


prestadora de serviço público de natureza não concorrencial -
ADPF 1.088 MC-Ref/PE

• Processos trabalhistas: participação na fase de execução e cumprimento


de sentença de pessoas físicas e jurídicas que não atuaram da fase de
conhecimento - ADPF 488/DF

• Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em âmbito estadual -


ADI 5.635/DF

• Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito estadual -


ADI 7.400/MT

• Instalação e o funcionamento de antenas de telefonia: criação de taxa de


fiscalização em âmbito estadual - ADPF 1.063/SP

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO; REAJUSTES DE


REMUNERAÇÃO, PROVENTOS OU PENSÃO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO – REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL;


SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL; PROVENTOS E PENSÕES SEM GARANTIA DE
PARIDADE; PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DE BENEFÍCIOS; REAJUSTE;
ÍNDICE DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Reajuste de proventos e pensões de servidores públicos


federais e seus dependentes pelo mesmo índice do
RGPS - RE 1.372.723/RS (Tema 1.224 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

TESE FIXADA:

“É constitucional o reajuste de proventos e pensões concedidos a servidores públi-


cos federais e seus dependentes não beneficiados pela garantia de paridade
de revisão, pelo mesmo índice de reajuste do regime geral de previdência social
(RGPS), previsto em normativo do Ministério da Previdência Social, no período
anterior à Lei 11.784/2008”

RESUMO:

Como medida de efetivar o princípio da irredutibilidade dos benefícios no período


que precedeu a regulamentação conferida pela Lei 11.784/2008, é aplicável aos
servidores públicos federais inativos e seus pensionistas não beneficiados pela
garantia de paridade de revisão o mesmo índice do RGPS, nos termos previstos
na Orientação Normativa 3/2004 do Ministério da Previdência Social (MPS), cuja
edição decorreu de autorização expressa da Lei 9.717/1998 (art. 9º, I).

Conforme entendimento firmado por esta Corte (1), os servidores públicos federais inativos,
no período em questionamento, fazem jus ao reajuste anual de seus proventos segundo

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

o índice do RGPS, nos termos do art. 40, § 8º, da Constituição Federal de 1988 (2), do
art. 15 da Lei 10.887/2004 (3) e do art. 65 da Orientação Normativa 3/2004 do MPS (4).

Na espécie, durante o intervalo compreendido entre o fim do instituto da paridade


(EC 41/2003) e a publicação da Lei 11.784/2008, o MPS editou a Orientação Normativa
3/2004 justamente com a finalidade de preencher a lacuna normativa sobre o índice
aplicável aos reajustes dos benefícios de aposentadoria e pensões do serviço público
federal (5). Referido ato normativo decorreu de delegação expressamente autorizada
pela Lei 9.717/1998 e sem qualquer contradição com a Lei 10.887/2004.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.224
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

(1) Precedente citado: MS 25.871.

(2) CF/1988: “Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (...) §
8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real,
conforme critérios estabelecidos em lei.”

(3) Lei 10.887/2004: “Art. 15. Os proventos de aposentadoria e as pensões de que tratam os arts. 1º e 2º desta
Lei serão reajustados, a partir de janeiro de 2008, na mesma data e índice em que se der o reajuste dos
benefícios do regime geral de previdência social, ressalvados os beneficiados pela garantia de paridade
de revisão de proventos de aposentadoria e pensões de acordo com a legislação vigente. (Redação dada
pela Lei 11.784/2008) (Vide ADI 4.582)”

(4) Orientação Normativa 3/2004 do Ministério da Previdência Social: “Art. 65. Os benefícios de aposentadoria
e pensão, de que tratam os art. 47,48, 49, 50, 51, 54 e 55 serão reajustados para preservar-lhes, em caráter
permanente, o valor real, na mesma data em que se der o reajuste dos benefícios do RGPS, de acordo com a
variação do índice definido em lei pelo ente federativo. Parágrafo único. Na ausência de definição do índice
de reajustamento pelo ente, os benefícios serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios
do RGPS.”

(5) Precedentes citados: ARE 716.269 AgR; RE 1.130.297 AgR e RE 630.469 AgR.

RE 1.372.723/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

DIREITO AMBIENTAL – ATIVIDADE MINERÁRIA; FEDERALISMO COOPERATIVO


ECOLÓGICO; DEGRADAÇÃO AMBIENTAL; OBRIGAÇÃO DE REPARAR OS
DANOS

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; PROTEÇÃO


DO MEIO AMBIENTE; DANO AMBIENTAL; REPARAÇÃO PROPORCIONAL;
COMPENSAÇÃO FINANCEIRA; INDENIZAÇÃO MONETÁRIA

Cobrança de indenização monetária pelos danos


causados ao meio ambiente para a exploração mineral
no âmbito estadual - ADI 4.031/PA

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É constitucional norma estadual que, independentemente da obrigação de reparar o


dano, condicione a exploração de recursos minerais ao pagamento de indenização
monetária pelos danos causados ao meio ambiente. Contudo, viola o texto cons-
titucional o estabelecimento de fato gerador dessa indenização que se confunda
com o da compensação financeira (CF/1988, art. 20, § 1º), o de taxas relativas ao
poder de polícia (1) ou com o de qualquer outra espécie tributária.

As diferentes formas de tutela para alcançar a proteção e a reparação integrais do


meio ambiente podem ser cumuladas, de modo que o explorador de recursos mine-
rais não se sujeita exclusivamente à recuperação in natura da degradação ambiental,
mas também à indenização monetária.

Os princípios da prevenção, da precaução e do poluidor-pagador impõem que os


recursos direcionados à reparação do dano (CF/1988, art. 225, §§ 2º e 3º) sejam veri-
ficados em cada caso e estipulados de maneira proporcional aos impactos ambientais
causados pelo empreendimento, em regular processo administrativo e com direito ao
contraditório e à ampla defesa (2) (3).

Nesse contexto, diante da necessidade de uma correlação entre as atividades profilá-


ticas adotadas pelo estado e a cobrança instituída, deve ser afastada, como propõe
a norma estadual impugnada, a possibilidade de instituir fato gerador ou percentual
pré-estabelecidos e universais.

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu


em parte da ação e, nessa extensão, a julgou parcialmente procedente para declarar
a inconstitucionalidade dos §§ 1º, 2º, 3º e 4º do art. 38 da Lei 5.887/1995, acrescidos
pelo art. 2º da Lei 6.986/2007, ambas do Estado do Pará (4).

(1) Precedentes citados: ADI 4.785; ADI 4.786 e ADI 4.787.

(2) CF/1988: “Art. 20. São bens da União: (...) § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural,
de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo
território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira
por essa exploração. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de 2019) (Produção de efeito)
(...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.”

(3) Precedente citado: ADI 3.378.

(4) Lei 5.887/1995 do Estado do Pará (na redação dada pela Lei paraense 6.986/2007): “Art. 38. A lavra de
recursos minerais, sob qualquer regime de exploração e aproveitamento, sempre respeitada a legislação
federal pertinente e os demais atos e normas específicos de atribuição da União, dependerá de: I - prévio
licenciamento do órgão ambiental competente; II - indenização monetária pelos danos causados ao meio
ambiente, independentemente da obrigação de reparo do dano. § 1º Constitui fato gerador da indenização
monetária pelos danos causados ao meio ambiente, a saída de produto mineral das áreas da jazida, mina,
salina ou de outros depósitos minerais de onde provém e se equipara à saída, o consumo ou a utilização da
substância mineral, em processo de industrialização realizado dentro das áreas da jazida, mina, salina ou de
outros depósitos minerais, suas áreas limítrofes ou ainda em qualquer estabelecimento. § 2º A indenização
monetária pelos danos causados ao meio ambiente prevista no inciso II deste artigo, será calculada sobre
o total das receitas resultantes da venda do produto mineral, obtido após a última etapa do processo de
beneficiamento adotado e antes de sua transformação industrial, excluídos os tributos incidentes. § 3º O
percentual da indenização prevista no inciso II deste artigo, de acordo com as classes de substâncias minerais
será de: I - bauxita, manganês, ouro e ferro: 3% (três por cento); II - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis,
carbonatos e metais nobres: 0,2% (dois décimos por cento); III - areia, pedra, barro, seixo e demais materiais
básicos de construção civil, incluindo aterros: 0,5 (cinco décimos por cento); IV - demais substâncias minerais:
2% (dois por cento). § 4º A indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente prevista no inciso
II deste artigo, será lançada mensalmente pelo devedor em documento próprio, que conterá a descrição da
operação que lhe deu origem, o produto a que se referir o respectivo cálculo, em parcelas destacadas, e
discriminação dos tributos incidentes, se houver, de forma a tornar possível sua correta identificação. (...)”

ADI 4.031/PA, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – MEDIDA PROVISÓRIA; CONVERSÃO


EM LEI; INSTITUIÇÃO OU MAJORAÇÃO DE IMPOSTO; PRINCÍPIO DA
ANTERIORIDADE

DIREITO TRIBUTÁRIO – LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR; IMPOSTOS;


ICMS; MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA; ANTERIORIDADE ANUAL

ICMS: vigência e eficácia da majoração de alíquotas


e observância do princípio constitucional tributário
da anterioridade anual - ADI 7.375/TO

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

Em decorrência do princípio constitucional tributário da anterioridade anual


(CF/1988, art. 62, § 2º c/c o art. 150, III, “b”), a cobrança de aumento da alíquota
geral de ICMS de operações internas estadual, quando decorrer da edição de uma
medida provisória, somente produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte ao
que ocorrer a conversão em lei.

Os estados-membros podem editar medidas provisórias desde que essa espécie legis-
lativa esteja prevista na Constituição estadual e seja observado o conjunto básico das
regras do processo legislativo da Constituição Federal de 1988 (1).

Conforme jurisprudência desta Corte, a estabilização do ato normativo somente ocorre


com a conversão da medida provisória em lei, de modo que cumulativas as garantias
da anterioridade de exercício e nonagesimal (2).

Nesse contexto, no caso de um tributo sujeito duplamente à noventena e à anteriori-


dade de exercício, a lei que institui ou majora a imposição somente será eficaz após
decorridos noventa dias da data de sua divulgação em meio oficial e no exercício
financeiro seguinte à sua publicação.

Na espécie, a lei de conversão da medida provisória foi promulgada apenas em 2023,


de modo que a majoração da alíquota de ICMS só poderia produzir efeitos a partir
do exercício financeiro seguinte (3).

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação


cautelar em julgamento definitivo de mérito e julgou procedente a ação para confe-
rir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º da Lei 4.141/2023 do Estado do
Tocantins (4) e impedir a incidência da alíquota geral do ICMS sobre operações inter-
nas no patamar majorado de 20% antes de 1º/1/2024.

(1) Precedente citado: ADI 425.

(2) Precedente citado: ADI 5.282.

(3) CF/1988: “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração
de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001) (...) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no mesmo
exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional
nº 3, de 1993) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)”

(4) Lei 4.141/2003 do Estado do Tocantins: “Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo
efeitos a partir de 1º de abril de 2023”.

ADI 7.375/TO, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – ORDEM SOCIAL; ÍNDIOS; DEMARCAÇÃO


DE TERRAS; POSSE TRADICIONAL; DIREITO ORIGINÁRIO TERRITORIAL

DIREITO ADMINISTRATIVO – DOMÍNIO PÚBLICO; TERRAS INDÍGENAS;


PROCEDIMENTO DECLARATÓRIO DE DIREITO ORIGINÁRIO

Demarcação de terras tradicionalmente


indígenas: desnecessidade de um marco
temporal como parâmetro à declaração do
direito originário territorial - RE 1.017.365/SC
(Tema 1.031 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4

VÍDEO DO VÍDEO DO
JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 5 Parte 6

TESE FIXADA:

“I - A demarcação consiste em procedimento declaratório do direito originário ter-


ritorial à posse das terras ocupadas tradicionalmente por comunidade indígena;
II - A posse tradicional indígena é distinta da posse civil, consistindo na ocupa-
ção das terras habitadas em caráter permanente pelos indígenas, nas utilizadas
para suas atividades produtivas, nas imprescindíveis à preservação dos recur-
sos ambientais necessários a seu bem-estar e nas necessárias a sua reprodução
física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições, nos termos do § 1º do
artigo 231 do texto constitucional; III - A proteção constitucional aos direitos origi-
nários sobre as terras que tradicionalmente ocupam independe da existência de
um marco temporal em 05 de outubro de 1988 ou da configuração do renitente
esbulho, como conflito físico ou controvérsia judicial persistente à data da pro-
mulgação da Constituição; IV – Existindo ocupação tradicional indígena ou reni-
tente esbulho contemporâneo à promulgação da Constituição Federal, aplica-se o
regime indenizatório relativo às benfeitorias úteis e necessárias, previsto no § 6º
do art. 231 da CF/88; V – Ausente ocupação tradicional indígena ao tempo da pro-

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

mulgação da Constituição Federal ou renitente esbulho na data da promulgação


da Constituição, são válidos e eficazes, produzindo todos os seus efeitos, os atos
e negócios jurídicos perfeitos e a coisa julgada relativos a justo título ou posse
de boa-fé das terras de ocupação tradicional indígena, assistindo ao particular
direito à justa e prévia indenização das benfeitorias necessárias e úteis, pela União;
e, quando inviável o reassentamento dos particulares, caberá a eles indenização
pela União (com direito de regresso em face do ente federativo que titulou a área)
correspondente ao valor da terra nua, paga em dinheiro ou em títulos da dívida
agrária, se for do interesse do beneficiário, e processada em autos apartados do
procedimento de demarcação, com pagamento imediato da parte incontroversa,
garantido o direito de retenção até o pagamento do valor incontroverso, permi-
tidos a autocomposição e o regime do § 6º do art. 37 da CF; VI – Descabe indeni-
zação em casos já pacificados, decorrentes de terras indígenas já reconhecidas
e declaradas em procedimento demarcatório, ressalvados os casos judicializados
e em andamento; VII – É dever da União efetivar o procedimento demarcatório
das terras indígenas, sendo admitida a formação de áreas reservadas somente
diante da absoluta impossibilidade de concretização da ordem constitucional de
demarcação, devendo ser ouvida, em todo caso, a comunidade indígena, buscan-
do-se, se necessário, a autocomposição entre os respectivos entes federativos
para a identificação das terras necessárias à formação das áreas reservadas,
tendo sempre em vista a busca do interesse público e a paz social, bem como a
proporcional compensação às comunidades indígenas (art. 16.4 da Convenção 169
OIT); VIII – A instauração de procedimento de redimensionamento de terra indí-
gena não é vedada em caso de descumprimento dos elementos contidos no artigo
231 da Constituição da República, por meio de pedido de revisão do procedimento
demarcatório apresentado até o prazo de cinco anos da demarcação anterior,
sendo necessário comprovar grave e insanável erro na condução do procedimento
administrativo ou na definição dos limites da terra indígena, ressalvadas as ações
judiciais em curso e os pedidos de revisão já instaurados até a data de conclusão
deste julgamento; IX - O laudo antropológico realizado nos termos do Decreto nº
1.775/1996 é um dos elementos fundamentais para a demonstração da tradicio-
nalidade da ocupação de comunidade indígena determinada, de acordo com seus
usos, costumes e tradições, na forma do instrumento normativo citado; X - As ter-
ras de ocupação tradicional indígena são de posse permanente da comunidade,
cabendo aos indígenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e lagos
nelas existentes; XI - As terras de ocupação tradicional indígena, na qualidade de
terras públicas, são inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas imprescri-
tíveis; XII – A ocupação tradicional das terras indígenas é compatível com a tutela
constitucional do meio ambiente, sendo assegurado o exercício das atividades
tradicionais dos povos indígenas; XIII – Os povos indígenas possuem capacidade
civil e postulatória, sendo partes legítimas nos processos em que discutidos seus
interesses, sem prejuízo, nos termos da lei, da legitimidade concorrente da FUNAI
e da intervenção do Ministério Público como fiscal da lei.”

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

RESUMO:

O reconhecimento do direito às terras tradicionalmente ocupadas pelos indíge-


nas não se sujeita ao marco temporal da promulgação da Constituição Federal
(5/10/1988) nem à presença de conflito físico ou controvérsia judicial existentes
nessa mesma data.

Em mudança de posicionamento jurisprudencial, esta Corte concluiu pela inaplicabili-


dade da teoria do fato indígena e pela prevalência da teoria do indigenato, segundo
a qual a posse dos indígenas sobre as terras configura um direito próprio dos povos
originários e cuja tradicionalidade da ocupação deve ser considerada conforme os
parâmetros expressamente previstos no texto constitucional (CF/1988, art. 231, §§ 1º e 2º).

Se houver ocupação tradicional indígena ou renitente esbulho contemporâneo à data


de promulgação da Constituição Federal de 1988, são assegurados aos não índios
o direito à indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias (CF/1988, art. 231, § 6º).
Porém, na hipótese de inexistir quaisquer dessas situações, consideram-se válidos e
eficazes os atos e negócios jurídicos perfeitos e a coisa julgada relativos a justo título
ou posse de boa-fé das terras de ocupação tradicional indígena. Neste caso, o parti-
cular tem direito a ser previamente indenizado pela União ao valor correspondente às
benfeitorias necessárias e úteis, ou, quando inviável o seu reassentamento, ao valor
da terra nua (1).

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o


Tema 1.031 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para anu-
lar o acórdão recorrido e reformar a sentença de primeiro grau, julgando, por conse-
guinte, improcedentes os pedidos deduzidos na petição inicial.

(1) CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições,
e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens. § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por
eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e
dos lagos nelas existentes. § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos,
a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização
do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei. § 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis,
e os direitos sobre elas, imprescritíveis. § 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras,
salvo, ‘ad referendum’ do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em
qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. § 6º São nulos e extintos, não produzindo
efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere
este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado
relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e
a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias
derivadas da ocupação de boa fé. § 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.”

RE 1.017.365/SC, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 27.9.2023

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRECATÓRIOS; DÉBITOS DA FAZENDA


PÚBLICA; DEPÓSITOS JUDICIAIS; PAGAMENTO EM ATRASO
As emendas constitucionais são dotadas de uma presunção relevante de constitiucionalidade, haja vista o quorum
especial para aprovação.

Utilização de depósitos judiciais para pagamentos de


precatórios em atraso - ADI 5.679/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

TESE FIXADA:

“Observadas rigorosamente as exigências normativas, não ofende a Constituição


a possibilidade de uso de depósitos judiciais para o pagamento de precatórios
em atraso, tal como previsto pela EC nº 94/2016.”

RESUMO:

É constitucional — pois inexistente violação ao princípio da separação dos Poderes


(CF/1988, art. 2º) e aos direitos de propriedade (CF/1988, arts. 5º, “caput”, e 170,
II), de acesso à justiça (CF/1988, art. 5º, XXXV), do devido processo legal (CF/1988,
art. 5º, LIV) e da duração razoável do processo (CF/1988, art. 5º, LXXVII) — disposi-
tivo de emenda constitucional que possibilita o uso eventual de depósitos judiciais
com o fim específico de quitar precatórios atrasados.

A presunção de constitucionalidade, no caso das emendas constitucionais, é qualifi-


cada em virtude do quórum exigido para a sua aprovação, circunstância que reforça
a sua legitimidade democrática.

Nesse contexto, não há comprovação de eventual vulneração de direitos e garantias


fundamentais, bem como inexiste demonstração da insolvabilidade do sistema quanto
a um possível risco de que os particulares — nos moldes em que idealizado o fundo
garantidor — não levantem os seus depósitos no momento oportuno.

Ademais, a gestão das contas vinculadas ao pagamento de precatórios é uma atividade


administrativa de competência exclusiva dos respectivos Tribunais, de modo que ao Poder
Judiciário cabe a palavra final sobre a titularidade definitiva dos valores depositados (1).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a


ação e revogou a decisão que deferiu em parte a medida cautelar pleiteada, para
assentar a constitucionalidade do art. 2º da EC 94/2016, na parte em que insere o art.
101, § 2º, I e II, no ADCT (2).

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

(1) Precedente citado: ADI 2.855.

(2) EC 94/2016: “Art. 2º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido dos
seguintes arts. 101 a 105: ‘Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25 de março de
2015, estiverem em mora com o pagamento de seus precatórios quitarão até 31 de dezembro de 2020 seus
débitos vencidos e os que vencerão dentro desse período, depositando, mensalmente, em conta especial do
Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva administração desse, 1/12 (um doze avos) do valor calculado
percentualmente sobre as respectivas receitas correntes líquidas, apuradas no segundo mês anterior ao mês
de pagamento, em percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que variável, nunca inferior,
em cada exercício, à média do comprometimento percentual da receita corrente líquida no período de 2012 a
2014, em conformidade com plano de pagamento a ser anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local.
(...) § 2º O débito de precatórios poderá ser pago mediante a utilização de recursos orçamentários próprios
e dos seguintes instrumentos: I - até 75% (setenta e cinco por cento) do montante dos depósitos judiciais
e dos depósitos administrativos em dinheiro referentes a processos judiciais ou administrativos, tributários
ou não tributários, nos quais o Estado, o Distrito Federal ou os Municípios, ou suas autarquias, fundações
e empresas estatais dependentes, sejam parte; II - até 20% (vinte por cento) dos demais depósitos judiciais
da localidade, sob jurisdição do respectivo Tribunal de Justiça, excetuados os destinados à quitação de
créditos de natureza alimentícia, mediante instituição de fundo garantidor composto pela parcela restante
dos depósitos judiciais, destinando-se: a) no caso do Distrito Federal, 100% (cem por cento) desses recursos
ao próprio Distrito Federal; b) no caso dos Estados, 50% (cinquenta por cento) desses recursos ao próprio
Estado e 50% (cinquenta por cento) a seus Municípios;”

ADI 5.679/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023
(sexta-feira), às 23:59

DIREITO PROCESSUAL PENAL – JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA;


COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO; INVESTIGAÇÃO PENAL;
SUPERVISÃO JUDICIAL

DIREITO CONSTITUCIONAL – PODER JUDICIÁRIO; TRIBUNAL DE JUSTIÇA


ESTADUAL; COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Investigação de agentes com foro privilegiado


perante o respectivo Tribunal de Justiça:
necessidade de prévia autorização judicial para
a instauração - ADI 7.447 MC-Ref/PA

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

Encontram-se presentes os requisitos para a concessão de medida cautelar, pois


(i) há plausibilidade jurídica no direito alegado pelo requerente, que decorre da
jurisprudência desta Corte quanto a necessidade de autorização judicial prévia
para a investigação de agentes públicos detentores de prerrogativa de foro; e (ii)
há perigo da demora na prestação jurisdicional, que se justifica pelo não acaute-

SUMÁRIO
16
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

lamento das situações fáticas relacionadas à controvérsia constitucional objeto


de apreciação.

Conforme jurisprudência desta Corte, as investigações contra autoridades com prer-


rogativa de foro perante o STF submetem-se ao prévio controle judicial, circunstância
que inclui a autorização judicial para as investigações (1) (2). Essa atividade de super-
visão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação
das investigações, desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual
oferecimento da denúncia.

Nesse contexto, e diante do caráter excepcional das hipóteses constitucionais de foro


por prerrogativa de função, que possuem diferenciações em nível federal, estadual e
municipal, o mesmo entendimento também é aplicável às investigações que envolvem
autoridades com foro privilegiado nos tribunais de segundo grau, motivo pelo qual é
necessária a supervisão das investigações pelo órgão judicial competente (3).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a decisão que
deferiu em parte a medida cautelar pleiteada para: (a) atribuir interpretação conforme
a Constituição ao art. 161, I, a e b, da Constituição do Estado do Pará, e aos arts. 24,
XII, 116, 118, 232, 233 e 234, todos do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Estado do Pará, de modo a estabelecer a necessidade de autorização judicial para
a instauração de investigações penais originárias perante o Tribunal de Justiça do
Estado do Pará, seja pela Polícia Judiciária, seja pelo Ministério Público; e (b) determi-
nar o imediato envio dos inquéritos policiais e procedimentos de investigação da Polícia
Judiciária e do Ministério Público instaurados ao Tribunal de Justiça, para imediata dis-
tribuição e análise do desembargador relator sobre a existência de justa causa para
a continuidade da investigação.

(1) Regimento Interno do STF/1980: “Art 21. São atribuições do Relator: (...) XV – determinar a instauração de
inquérito a pedido do Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu
arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: (Redação dada pela
Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude
do fato; (Incluída pela Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) b) a existência manifesta de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluída pela Emenda Regimental n. 44, de 2
de junho de 2011) c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; (Incluída pela Emenda Regimental
n. 44, de 2 de junho de 2011) d) extinta a punibilidade do agente; ou (Incluída pela Emenda Regimental n. 44,
de 2 de junho de 2011) e) ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade. (Incluída pela Emenda
Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011).”

(2) Precedentes citados: Pet 3.825 QO e Inq 2.411 QO.

(3) Precedentes citados: AP 933 QO; AP 912; RE 1.322.854 AgR e ADI 7.083.

ADI 7.447 MC-Ref/PA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em
29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

SUMÁRIO
17
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; ISS; HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA;


HOSPEDAGEM

DIREITO CONSTITUCIONAL – SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL; IMPOSTOS


DOS MUNICÍPIOS; ISS

ISS: incidência sobre atividades relativas à hospedagem


- ADI 5.764/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É constitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)


sobre as atividades relativas à hospedagem de qualquer natureza, prevista no
subitem 9.01 da lista de serviços anexa à Lei Complementar 2003/116.

Os contratos que veiculam hospedagem de qualquer natureza, nos meios dispostos


na referida lista, são preponderantemente de serviços. Ademais, o ISS incide sobre
as atividades que representam obrigações de fazer e obrigações mistas, que incluem
obrigação de dar (1).

Não se pode fazer confusão entre a relação negocial de hospedagem e o contrato de


locação de bem imóvel, de modo que é indevido excluir da base de cálculo desse tri-
buto municipal a parcela da locação da unidade habitacional, visto que a circulação
de serviço prevista contratualmente tem caráter singular e ganha sentido econômico
com sua visualização unitária.

Assim, dada a prevalência da uniformização da legislação federal, reforça-se o enten-


dimento do STJ de que todas as parcelas que integram o preço do serviço de hotelaria
compõem a base de cálculo do ISS.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou


improcedente a ação, para assentar a constitucionalidade do subitem 9.01 da lista de
serviços anexa à Lei Complementar 116/2003 (2).

(1) Precedentes citados: RE 651.703 (Tema 581 RG); RE 603.136 (Tema 300 RG) e RE 784.439 (Tema 296 RG).

(2) Lista de serviços anexa à Lei Complementar 116/2003: “9 – Serviços relativos a hospedagem, turismo,
viagens e congêneres. 9.01 – Hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service condominiais,
flat, apart-hotéis, hotéis residência, residence-service, suite service, hotelaria marítima, motéis, pensões
e congêneres; ocupação por temporada com fornecimento de serviço (o valor da alimentação e gorjeta,
quando incluído no preço da diária, fica sujeito ao Imposto Sobre Serviços).”

ADI 5.764/DF, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 06/10/2023 a 16/10/2023

RE 1.321.219/CE
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Auxílio emergencial pecuniário para pescadores profissionais artesanais


(Tema 1.159 RG)

Discussão constitucional sobre a possibilidade de concessão do auxílio emergencial


pecuniário para pescadores profissionais artesanais mesmo após a perda de eficácia
da Medida Provisória 908/2019 e diante da inexistência de decreto legislativo
regulamentador de suas relações jurídicas, quando, embora não concedido na via
administrativa, houver o devido preenchimento dos requisitos à época em que vigente
o referido ato normativo.

RE 1.387.795/MG
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Execução trabalhista: possibilidade de inclusão de empresa do mesmo


grupo econômico que não participou do processo de conhecimento
(Tema 1.232 RG)

Debate constitucional a respeito da possibilidade da inclusão, no polo passivo de


execução trabalhista, de pessoa jurídica reconhecida como do grupo econômico
que não participou da fase de conhecimento e independentemente da instauração
de incidente de desconsideração da personalidade jurídica (CPC/2015, arts. 133 a
137; e 795, § 4º).

SUMÁRIO
19
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

RE 825.274/SP
REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Recurso especial eleitoral: cabimento contra decisão administrativa


sobre prestação de contas de campanhas eleitorais (Tema 124 RG)

Controvérsia constitucional em que se discute — à luz dos princípios da inafastabilidade


da jurisdição, do devido processo legal e da ampla defesa e do contraditório, bem como
da regras previstas no art. 121, § 4º, da Constituição Federal de 1988 — o cabimento
de recurso especial eleitoral contra decisão de Tribunal Regional Eleitoral, de caráter
administrativo, em que se analisa prestação de contas de campanhas eleitorais.

ADPF 1.088 MC-Ref/PE


Relator: Ministro LUIZ FUX

Bloqueio judicial das contas de sociedade de economia mista estadual


prestadora de serviço público de natureza não concorrencial

Referendo de decisão na qual o ministro relator determinou a suspensão de todas


as ordens judiciais de constrição de valores de titularidade de empresa estatal
pernambucana (PERPART) e a submissão das execuções contra ela em curso ao
regime de precatórios até ulterior decisão.

ADPF 488/DF
Relatora: Ministra ROSA WEBER

Processos trabalhistas: participação na fase de execução e cumprimento


de sentença de pessoas físicas e jurídicas que não atuaram da fase
de conhecimento

Averiguação constitucional, à luz do devido processo legal, de atos praticados pelos


tribunais e juízes do trabalho que incluíram, no cumprimento de sentença ou na fase
de execução, pessoas físicas e jurídicas que, embora integrassem o mesmo grupo
econômico, não participaram da fase de conhecimento dos processos trabalhistas
e, por essa razão, não constaram dos títulos executivos judiciais.

SUMÁRIO
20
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

ADI 5.635/DF
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em âmbito estadual

Debate a respeito da constitucionalidade de dispositivos da Lei 7.428/2016 e da


Lei 8.645/2019, ambas do Estado do Rio de Janeiro, as quais instituíram o “Fundo
Estadual de Equilíbrio Fiscal” e o “Fundo Orçamentário Temporário”, cujas receitas
não estão vinculadas a um programa governamental específico e detalhado.

ADI 7.400/MT LEITURAS


EM PAUTA
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito


estadual

Verificação constitucional — à luz do sistema de repartição de competências — acerca


da Lei 11.991/2022 do Estado do Mato Grosso que, além de outras providências,
instituiu a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de
Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM) e o
Cadastro Estadual de Controle e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (CERM).

ADPF 1.063/SP
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Instalação e o funcionamento de antenas de telefonia: criação de taxa


de fiscalização em âmbito estadual

Análise da constitucionalidade — à luz do sistema de repartição de competências —


da Lei 7.972/2021 e do Decreto 39.370/2022, ambos do município de Guarulhos/
SP, que dispõem acerca da instalação e o funcionamento de antenas, postes,
torres, contêineres e demais equipamentos que compõem as Estações Transmissoras
de Radiocomunicação (ETR) locais, bem como a criação de taxas de instalação,
licença de funcionamento e de compartilhamento de estações de telecomunicação.
Jurisprudência: ADI 5.575, ADI 3.110 e ADPF 731.

SUMÁRIO
21
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1110/2023 |

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Resolução 807, de 28.9.2023 - Torna públicas as tabelas de cargos em comissão e de
funções comissionadas do Quadro de Pessoal do Supremo Tribunal Federal.

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
22
Edição 1111/2023

13 DE OUTUBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Cínthia Aryssa Okada
Leonardo Ramsés Cunha Oliveira
INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1111/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 13 de outubro de 2023.
INFORMATIVO STF 13 DE OUTUBRO DE 2023 | 1111/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 13 DE OUTUBRO DE 2023 | 1111/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Direitos e Garantias Fundamentais; Estado de Coisas Inconstitucional no


Sistema Carcerário; Proteção ao Mínimo Existencial

• Sistema prisional brasileiro: estado de coisas inconstitucional decorrente da


violação grave e massiva de direitos fundamentais - ADPF 347/DF

» Direitos e Garantias Fundamentais; Proteção à Maternidade; Proteção do


Nascituro e do Infante; Administração Pública

• Direito da gestante contratada por prazo determinado ou ocupante de


cargo em comissão à licença-maternidade e à estabilidade provisória - RE
842.844/SC (Tema 542 RG)

» Organização Político-Administrativa; Criação, Incorporação, Fusão e


Desmembramento de Municípios; Processo Legislativo

• Municípios: criação, incorporação, fusão ou desmembramento - ADPF 819/MT

» Repartição de Competências; Telecomunicações

• Serviço de telefonia: garantia de sinal de celular em passagem subterrânea


de trânsito no âmbito estadual - ADI 7.404/RJ

» Suspensão dos Direitos Políticos; Condenação Criminal Definitiva

• Condenação criminal transitada em julgado: possibilidade de nomeação e


posse de aprovados em concurso público - RE 1.282.553/RR (Tema 1.190 RG)

DIREITO TRIBUTÁRIO

» Impostos; IOF; Operações de Crédito

• IOF: incidência em contratos de mútuo sem participação de instituições


financeiras - RE 590.186/RS (Tema 104 RG)
INFORMATIVO STF 13 DE OUTUBRO DE 2023 | 1111/2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Disputa entre Apple e Gradiente sobre o uso da marca “iphone” no Brasil


(Tema 1.205 RG) - ARE 1.266.095/RJ

• Incidência do crime de prevaricação no caso de atividade de livre convencimento


motivado dos membros do Ministério Público e do Poder Judiciário - ADPF 881
MC-Ref/DF

• Instalação de torres de telecomunicações e estações de telefonia móvel:


obrigatoriedade de licenciamento ambiental - ADI 7.412/TO e ADI 7.413/CE

• Provimento derivado: transformação de cargo de nível médio em cargo de nível


superior e (in)existência de uniformidade de atribuições - ADI 5.128/SE

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL NO SISTEMA CARCERÁRIO;
PROTEÇÃO AO MÍNIMO EXISTENCIAL

DIREITO PENAL – EXECUÇÃO DA PENA; RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

Sistema prisional brasileiro: estado de coisas


inconstitucional decorrente da violação grave e
massiva de direitos fundamentais - ADPF 347/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3

TESE FIXADA:

“1. Há um estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário brasileiro, res-


ponsável pela violação massiva de direitos fundamentais dos presos. Tal estado
de coisas demanda a atuação cooperativa das diversas autoridades, instituições e
comunidade para a construção de uma solução satisfatória. 2. Diante disso, União,
Estados e Distrito Federal, em conjunto com o Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), deverão elaborar planos
a serem submetidos à homologação do Supremo Tribunal Federal, nos prazos e
observadas as diretrizes e finalidades expostas no presente voto, especialmente
voltados para o controle da superlotação carcerária, da má qualidade das vagas
existentes e da entrada e saída dos presos. 3. O CNJ realizará estudo e regulará a
criação de número de varas de execução penal proporcional ao número de varas
criminais e ao quantitativo de presos.”

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

RESUMO:

A situação de grave violação em massa de direitos fundamentais dos presos enseja


o reconhecimento de um estado de coisas inconstitucional do sistema prisional bra-
sileiro. A superação desse problema de natureza estrutural exige do Poder Público
a elaboração de um plano nacional e de planos locais que prevejam um conjunto
de medidas e a participação de diversas autoridades e entidades da sociedade.

A proteção dos direitos fundamentais é inerente à condição humana. Nesse contexto,


as normas constitucionais e os tratados internacionais de direitos humanos de que o
Brasil é parte proíbem a existência de penas cruéis, garantem ao preso o respeito à sua
integridade física e moral, bem como preveem que a pena será cumprida em estabele-
cimentos distintos de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.

No âmbito infraconstitucional, a Lei de Execução Penal assegura a assistência mate-


rial, jurídica, educacional, social, religiosa, além do acesso à saúde, aos alojamentos
com ocupação e dimensões adequadas, ao trabalho e ao estudo (Lei 7.210/1984, arts.
40, 41 e 126).

Esse cenário normativo, em conjunto com as sistemáticas violações desses direitos,


afasta eventuais contornos políticos ou de discricionariedade administrativa, tornando
o problema do sistema carcerário brasileiro essencialmente jurídico, motivo pelo qual
o estrito cumprimento das normas acima citadas deve ser assegurado por esta Corte.

A superlotação dos presídios, o descontrole na entrada e as condições da saída do


sistema prisional, e a má qualidade das vagas disponibilizadas impedem a prestação
de serviços e bens essenciais que integram o mínimo existencial. Essas circunstâncias
comprometem a capacidade do sistema em cumprir seus fins de ressocialização e de
funcionar a favor da segurança pública.

Com base nesses e outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente
procedente a ADPF para:
a. reconhecer o estado de coisas inconstitucional do sistema carce-
rário brasileiro;
b. determinar que juízes e tribunais:
(b.1) realizem audiências de custódia, preferencialmente de forma pre-
sencial, de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante a
autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da prisão;
(b.2) fundamentem a não aplicação de medidas cautelares e penas
alternativas à prisão, sempre que possíveis, tendo em conta o quadro
dramático do sistema carcerário;
c. ordenar a liberação e o não contingenciamento dos recursos do
FUNPEN;

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

d. determinar a elaboração de plano nacional e de planos estaduais


e distrital para a superação do estado de coisas inconstitucional, com
indicadores que permitam acompanhar sua implementação;
e. estabelecer que o prazo para apresentação do plano nacional será
de até 6 (seis) meses, a contar da publicação desta decisão, e de
até 3 anos, contados da homologação, para a sua implementação,
conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano;
f. estabelecer que o prazo para apresentação dos planos estaduais
e distrital será de 6 meses, a contar da publicação da decisão de
homologação do plano nacional pelo STF, e implementado em até 3
anos, conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio
plano local;
g. prever que a elaboração do plano nacional deverá ser efetuada,
conjuntamente, pelo DMF/CNJ e pela União, em diálogo com institui-
ções e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos ter-
mos explicitados acima e observada a importância de não alongar
excessivamente o feito;
h. explicitar que a elaboração dos planos estaduais e distrital se dará
pelas respectivas unidades da federação, em respeito à sua autono-
mia, observado, todavia, o diálogo com o DMF, a União, instituições
e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos moldes e
em simetria ao diálogo estabelecido no plano nacional;
i. prever que, em caso de impasse ou divergência na elaboração dos
planos, a matéria será submetida ao STF para decisão complementar;
j. estabelecer que todos os planos deverão ser levados à homologa-
ção do Supremo Tribunal Federal, de forma a que se possa assegurar
o respeito à sua decisão de mérito;
k. determinar que o monitoramento da execução dos planos seja efe-
tuado pelo DMF/CNJ, com a supervisão necessária do STF, cabendo
ao órgão provocar o tribunal, em caso de descumprimento ou de
obstáculos institucionais insuperáveis que demandem decisões espe-
cíficas de sua parte; e
l. estipular que os planos devem prever, entre outras, as medidas exa-
minadas neste voto, observadas as diretrizes gerais dele constantes,
sendo exequíveis aquelas que vierem a ser objeto de homologação
final pelo STF em segunda etapa.

ADPF 347/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Luís Roberto Barroso,
julgamento finalizado em 4.10.2023

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


PROTEÇÃO À MATERNIDADE; PROTEÇÃO DO NASCITURO E DO INFANTE;
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO; LICENÇA-MATERNIDADE;


ESTABILIDADE PROVISÓRIA

Direito da gestante contratada por prazo


determinado ou ocupante de cargo em
comissão à licença-maternidade e à
estabilidade provisória - RE 842.844/SC
(Tema 542 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO
JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2

TESE FIXADA:

“A trabalhadora gestante tem direito ao gozo de licença-maternidade e à estabi-


lidade provisória, independentemente do regime jurídico aplicável, se contratual
ou administrativo, ainda que ocupe cargo em comissão ou seja contratada por
tempo determinado.”

RESUMO:

Dada a prevalência da proteção constitucional à maternidade e à infância, a ges-


tante contratada pela Administração Pública por prazo determinado ou ocupante
de cargo em comissão também possui direito à licença-maternidade de 120 dias
e à estabilidade provisória, desde a confirmação da gravidez até 5 meses após
o parto.

A proteção ao trabalho da mulher gestante é medida justa e necessária que inde-


pende da natureza do vínculo empregatício (celetista, temporário ou estatutário), da
modalidade do prazo do contrato ou da forma de provimento (em caráter efetivo ou
em comissão).

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

A garantia constitucional é genérica e incondicional, circunstância que atende ao princípio


da máxima efetividade dos direitos fundamentais e assegura à trabalhadora gestante
não apenas o emprego, mas uma gravidez protegida e digna ao nascituro, inclusive no
que diz respeito às necessidades do período pós-parto, em especial a amamentação.

Ademais, como medida de fortalecimento da igualdade material, o referido direito


deve ser estendido à universalidade das servidoras, pouco importando a modalidade
do trabalho, notadamente porque o texto constitucional não excluiu as trabalhadoras
com vínculo não efetivo (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 542
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

(1) CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social: (...) XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração
de cento e vinte dias; (...) Art. 39. (...) § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto
no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”

RE 842.844/SC, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 5.10.2023

DIREITO CONSTITUCIONAL – ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA;


CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS;
PROCESSO LEGISLATIVO

Municípios: criação, incorporação, fusão ou


desmembramento - ADPF 819/MT

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

Pendente a edição da lei complementar federal que assinale o prazo permitido


para a criação e alteração de municípios (CF/1988, art. 18, § 4º, na redação dada
pela EC 15/1996), os estados estão impedidos de editar normas que disciplinem a
matéria e permitam surgimento
- de novos entes locais, ressalvada a hipótese de
-
convalidação do art. 96 do ADCT.
-
Mesmo após a EC 15/1996, o regramento referente à criação, incorporação, fusão e
ao desmembramento de municípios continuou a ser realizado por lei estadual, porém

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

sujeito à observância de prazo determinado por lei complementar federal, além de


prévia consulta, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos, e da
realização e divulgação de estudos de viabilidade municipal (1).

Entretanto, o Congresso Nacional, ao invés de editar a mencionada lei complementar,


optou por acrescentar o art. 96 ao ADCT (2), o que ocorreu mediante a promulgação
da EC 57/2008. Assim, foram convalidados os atos de criação de municípios editados
no período compreendido entre a promulgação da EC 15/1996 e 31 de dezembro de
2006, desde que atendidos os demais requisitos estabelecidos na legislação estadual
vigente à época.

Na espécie, o Município de Boa Esperança do Norte/MT foi criado em pleno atendi-


mento aos requisitos exigidos pela legislação estadual que vigorava na ocasião (3),
razão pela qual a lei que o criou foi convalidada com a promulgação da EC 57/2008 (4).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ADPF
para: (i) declarar a não recepção do art. 178, caput, da Constituição do Estado de
Mato Grosso; do art. 1º da Lei Complementar 43/1996 do Estado de Mato Grosso;
e do art. 3º, caput, da Lei Complementar 23/1992 do Estado de Mato Grosso; (ii)
declarar a inconstitucionalidade do art. 1º, caput, da Emenda Constitucional estadual
16/2000; e (iii) reconhecer a convalidação da Lei mato-grossense 7.264/2000 pelo
art. 96 do ADCT.

(1) CF/1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (...)
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,
dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996)
Vide art. 96 - ADCT”

(2) ADCT: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios,
cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação
do respectivo Estado à época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008)”

(3) Lei 7.264/2000 do Estado de Mato Grosso: “Art. 1º Fica criado o Município de Boa Esperança do Norte,
com sede na localidade do mesmo nome, com área territorial desmembrada dos Municípios de Sorriso e
Nova Ubiratã.”

(4) Precedente citado: ADI 3.799.

ADPF 819/MT, relator Ministro Luís Roberto Barroso, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento virtual finalizado em 6.10.2023 (sexta-feira), às 23:59

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS;


TELECOMUNICAÇÕES

Serviço de telefonia: garantia de sinal de celular em


passagem subterrânea de trânsito no âmbito estadual
- ADI 7.404/RJ

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por invadir a competência da União privativa para legislar


sobre telecomunicações (CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para definir a forma e
o modo da exploração desses serviços (CF/1988, art. 21, XI c/c o art. 175) — lei
estadual que assegura ao consumidor de serviço móvel de telefonia o direito de
funcionalidade e acesso de dados em passagens subterrâneas de trânsito em
qualquer modalidade de transporte utilizada.

Os estados-membros não podem, a pretexto de se valerem da competência concor-


rente para legislar sobre proteção ao consumidor (CF/1988, art. 24, V), criar regras
que interfiram no equilíbrio contratual entre o poder federal e as concessionárias a
ele vinculadas (1).

Na espécie, a lei estadual impugnada extrapolou o equilíbrio da relação de consumo


e ingressou em definições específicas da legislação que rege os serviços de teleco-
municações (Lei 9.472/1997 - Lei Geral de Telecomunicações e Resoluções da ANATEL),
como, por exemplo, a regulação de acesso à rede e a imposição de ajustes técnicos e
operacionais, os quais impactam diretamente no contrato de concessão firmado entre
empresa prestadora do serviço e Poder Público concedente, no caso, a União (2).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação,
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 9.925/2022 do Estado do Rio de Janeiro (3).

(1) Precedente citado: ADI 4.478.

(2) Precedentes citados: ADI 5.723; ADI 5.575; ADI 6.199; ADI 5.521; ADI 4.861 e ADI 6.482.

(3) Lei 9.925/2022 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º Fica assegurado, ao consumidor de serviço móvel
de telefonia, o direito a funcionalidade e acesso de dados para fins de ligação telefônica e utilização da
internet em todas as passagens subterrâneas de trânsito no Estado do Rio de Janeiro, cuja extensão seja
superior a 1.000 (um mil) metros, independente da modalidade de transporte que a utilize, em especial
no transporte rodoviário, ferroviário e metroviário. Art. 2º As concessionárias de telefonia móvel poderão
viabilizar esse direito do consumidor por meio de repetidores de sinais nas passagens subterrâneas ou por

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

meio de instalação de equipamentos equivalentes nas composições de trem e metrô, para manter o sinal de
telefonia aos usuários destes serviços de transporte, respeitadas as regras para tal instalação previstas na
Legislação Municipal e/ou Estadual. § 1º A instalação destes equipamentos dar-se-á de forma gratuita, sem
ônus para o consumidor, ficando as concessionárias de telefonia responsáveis por qualquer custo relativo
à alocação e manutenção destes equipamentos nos locais abrangidos por esta lei. § 2º As concessionárias
de telefonia deverão observar as regras locais específicas da Legislação de cada município no tocante à
engenharia, à construção e à localização de torres de transmissão de sinal de telefonia móvel e repetidores
de sinal, caso existentes, cumprindo todas as exigências para a instalação dos equipamentos previstos nesta
Lei. Art. 3º As concessionárias de telefonia terão o prazo de 12 (doze) meses para se adaptarem às previsões
da presente lei. Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente lei. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na
data da sua publicação.”

ADI 7.404/RJ, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 6.10.2023
(sexta-feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS;


CONDENAÇÃO CRIMINAL DEFINITIVA

DIREITO ADMINISTRATIVO – CONCURSO PÚBLICO; REQUISITOS PARA


INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO

Condenação criminal transitada em julgado:


possibilidade de nomeação e posse de
aprovados em concurso público - RE 1.282.553/RR
(Tema 1.190 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“A suspensão dos direitos políticos prevista no artigo 15, III, da Constituição Federal
(‘condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos’) não
impede a nomeação e posse de candidato aprovado em concurso público, desde
que não incompatível com a infração penal praticada, em respeito aos princípios
da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho (CF, art. 1º, III e IV) e
do dever do Estado em proporcionar as condições necessárias para a harmônica
integração social do condenado, objetivo principal da execução penal, nos termos
do artigo 1º da LEP (Lei nº 7.210/84). O início do efetivo exercício do cargo ficará

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

condicionado ao regime da pena ou à decisão judicial do juízo de execuções, que


analisará a compatibilidade de horários.”

RESUMO:

É possível a nomeação e a posse de condenado criminalmente, de forma definitiva,


devidamente aprovado em concurso público, desde que haja compatibilidade entre
o cargo a ser exercido e a infração penal cometida, sendo que o efetivo exercício
dependerá do regime de cumprimento da pena e da inexistência de conflito de
horários com a jornada de trabalho.

Não se pode interpretar a norma constitucional (CF/1988, art. 15, III) como restritiva de
outros direitos senão daqueles em relação aos quais se cumpre a finalidade da sus-
pensão dos direitos políticos.

Essa suspensão funciona como efeito automático da condenação criminal definitiva e


visa a impedir que o condenado participe da vida política do Estado, com a consequente
restrição da capacidade eleitoral ativa e passiva (1). Assim, a exigência de quitação
das obrigações eleitorais para fins de investidura em cargo público (Lei 8.112/1990, art.
5º, III) não deve ser aplicável àquele cujo exercício do voto encontra-se obstaculizado
pelos efeitos da condenação criminal.

Ademais, ainda que o pleno gozo dos direitos políticos também seja um requisito legal
para a investidura em cargo público (Lei 8.112/1990, art. 5º, II), a condenação crimi-
nal transitada em julgado não impede, por si só, a nomeação e posse do condenado
regularmente aprovado em concurso, visto que os seus direitos civis e sociais perma-
necem devidamente assegurados e, portanto, o direito de trabalhar e de ter acesso
aos cargos públicos (2).

A ressocialização dos presos no País é um desafio que deve ser enfrentado dando-lhes
a possibilidade de estudo e de trabalho, motivo pelo qual o princípio da dignidade da
pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III) impõe ao Estado o dever de proporcionar condições
favoráveis à integração social do condenado por meio da valorização do trabalho no
âmbito da iniciativa privada e, fundamentalmente, na esfera pública (CF/1988, art. 1º, IV).

Na espécie, o condenado foi aprovado em concurso público para o cargo de auxiliar


de indigenismo, o qual não se mostra incompatível com a condenação por tráfico de
drogas. Além disso, é beneficiário do livramento condicional, de modo que inexiste
conflito de horários para o exercício das atribuições do cargo.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.190 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

(1) CF/1988: “Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos
de: (...) III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;”

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

(2) Lei 7.210/1984 (Lei de Execuções Penais): “Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições
de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado
e do internado.”

RE 1.282.553/RR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 4.10.2023

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; IOF; OPERAÇÕES DE CRÉDITO

DIREITO CIVIL – OBRIGAÇÕES; CONTRATO DE MÚTUO

IOF: incidência em contratos de mútuo sem participação


de instituições financeiras - RE 590.186/RS (Tema 104 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

TESE FIXADA:

“É constitucional a incidência do IOF sobre operações de crédito corresponden-


tes a mútuo de recursos financeiros entre pessoas jurídicas ou entre pessoa jurí-
dica e pessoa física, não se restringindo às operações realizadas por instituições
financeiras.”

RESUMO:

O âmbito de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos contra-


tos de empréstimo de recursos financeiros não se limita às operações de crédito
praticadas por instituições financeiras.

Conforme jurisprudência desta Corte (1), inexiste qualquer disposição constitucional ou


do Código Tributário Nacional que preveja a mencionada limitação.

O referido contrato, cuja previsão se encontra na Lei 9.779/1999 (2), insere-se na espé-
cie “operações de crédito”, ainda que firmado entre particulares. Nesse contexto, a
Constituição Federal autoriza a instituição do IOF (3), por se tratar de negócio jurídico
realizado com o objetivo de se obter, junto a terceiro e sob vínculo de confiança, a
disponibilidade de recursos que serão restituídos após período de tempo específico e
com sujeição dos riscos inerentes à operação.

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

Ademais, apesar de o IOF ter sido criado como instrumento de regulação do mercado
financeiro e da política monetária, sua função regulatória não é exclusiva, de modo que
a incidência do imposto também não fica restrita a operações do mercado financeiro (4).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 104
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

(1) Precedente citado: ADI 1.763.

(2) Lei 9.779/1999: “Art. 13. As operações de crédito correspondentes a mútuo de recursos financeiros entre
pessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física sujeitam-se à incidência do IOF segundo as mesmas
normas aplicáveis às operações de financiamento e empréstimos praticadas pelas instituições financeiras.”

(3) CF/1988: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) V - operações de crédito, câmbio e seguro,
ou relativas a títulos ou valores mobiliários;”

(4) Precedente citado: RE 583.712 (Tema 102 RG).

RE 590.186/RS, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 6.10.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 13/10/2023 a 23/10/2023

ARE 1.266.095/RJ
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Disputa entre Apple e Gradiente sobre o uso da marca “iphone” no


Brasil (Tema 1.205 RG)

Discussão constitucional — à luz dos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência —


sobre a exclusividade da propriedade industrial em virtude da demora na concessão do
registro de marca pelo INPI e surgimento, concomitante, de uso mundialmente consagrado
da mesma marca por concorrente no que diz respeito ao uso do termo “Iphone”.

ADPF 881 MC-Ref/DF


Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Incidência do crime de prevaricação no caso de atividade de livre


convencimento motivado dos membros do Ministério Público e do
Poder Judiciário

Referendo de decisão na qual o relator deferiu parcialmente a medida cautelar para


determinar “a suspensão da eficácia do art. 319 do Código Penal, especificamente na
acepção que possibilita o enquadramento da liberdade de convencimento motivado
dos membros do Ministério Público e do Poder Judiciário como satisfação de ‘interesse
ou sentimento pessoal’ ou como incidente no tipo objetivo, na modalidade ‘contra
disposição expressa de lei’, para fins de tipificação como crime de prevaricação
da conduta daqueles agentes que, no exercício lícito e regular da atividade fim
dessas instituições, e com amparo em interpretação da lei e do direito, defendam
ponto de vista em discordância com outros membros ou atores sociais e políticos”.

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

ADI 7.412/TO
ADI 7.413/CE
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Instalação de torres de telecomunicações e estações de telefonia


móvel: obrigatoriedade de licenciamento ambiental

Verificação constitucional — à luz do sistema de repartição de competências — da


Resolução 7/2005 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (COEMA) de Tocantins e
das Resoluções 2/2019 e 7/2019, ambas do COEMA do Ceará, as quais submetem a
instalação de infraestrutura de telecomunicações a procedimentos de licenciamento
ambiental, a cargo das autoridades locais.

ADI 5.128/SE
Relator: Ministro ANDRÉ MENDONÇA

Provimento derivado: transformação de cargo de nível médio em cargo


de nível superior e (in)existência de uniformidade de atribuições

Debate constitucional a respeito de dispositivo da Lei Complementar 232/2013 do


Estado de Sergipe, que prevê, no âmbito do quadro de pessoal do Tribunal de Contas
local, a transformação do cargo de nível médio “Técnico de Controle Externo” no cargo
de nível superior “Analista de Controle Externo I”, além de alterar substancialmente
o rol de atribuições do cargo extinto. Jurisprudência: ADI 266 e ADI 5.406.

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1111/2023 |

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Portaria 248, de 4.10.2023 - Delega competência ao Secretário de Orçamento, Finanças e
Contratações e dá outras providências.

Resolução 808, de 6.10.2023 - Declara luto oficial no Supremo Tribunal Federal, por três dias,
em razão do falecimento do Ministro José Carlos Moreira Alves.

Norma de Prazo e Feriado PRT STF 257, de 10.10.2023 - Altera o art. 1º inciso IX-A da Portaria
GDG nº 5, de 6 de janeiro de 2023, considerando ponto facultativo o dia 13 de outubro de 2023
(Ementa elaborada pela Biblioteca).

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
19
L 27/10
:

R : 27/10
09/11

Edição 1112/2023

20 DE OUTUBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Ana Carolina Caetano

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1112/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 20 de outubro de 2023.
INFORMATIVO STF 20 DE OUTUBRO DE 2023 | 1112/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 20 DE OUTUBRO DE 2023 | 1112/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Processo Legislativo; Reserva de Iniciativa; Normas Gerais de Direito


Financeiro; Lei Orçamentária Anual; Participação Popular

• Proposta de lei orçamentária estadual: deliberação popular mediante consulta


direta - ADI 2.037/RS

» Repartição de Competências; Serviços de Telecomunicações

• Instalação e o funcionamento de equipamentos de telefonia: criação de taxa


de fiscalização em âmbito municipal - ADPF 1.063/SP

DIREITO FINANCEIRO

» Fundo de Equilíbrio Fiscal; Orçamento Público; Responsabilidade Fiscal

• Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em âmbito estadual -


ADI 5.635/DF

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Incentivos fiscais aos agrotóxicos - ADI 5.553/DF

• Criação de cargos em comissão no Ministério Público estadual -


ADI 5.934/ES

• Tribunal de Contas estadual: possibilidade de reeleições ilimitadas de


conselheiros para a direção superior - ADI 7.180/AP

• EC 30/2000 e parcelamento de pagamento de precatórios - ADI 2.356/


DF e ADI 2.362/DF
INFORMATIVO STF 20 DE OUTUBRO DE 2023 | 1112/2023

• Mudança do horário de expediente de Tribunal de Justiça estadual -


ADI 4.450/MS

• Proibição de transporte de passageiros, clandestino ou irregular, no


âmbito estadual - ADI 3.117/MS

• Procurador estadual: regime remuneratório de subsídios e acumulação


com honorários sucumbenciais - ADI 6.164/RJ

• Cargo em comissão: gratificação com objetivo de indenizar o servidor


público efetivo do estado pela representação - ADI 7.440 MC-Ref/PA
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – PROCESSO LEGISLATIVO; RESERVA DE


INICIATIVA; NORMAS GERAIS DE DIREITO FINANCEIRO; LEI ORÇAMENTÁRIA
ANUAL; PARTICIPAÇÃO POPULAR

Proposta de lei orçamentária estadual: deliberação


popular mediante consulta direta - ADI 2.037/RS

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por limitar o poder de iniciativa do chefe do Poder Executivo


(CF/1988, art. 61, § 1º, II, “b” c/c o art. 165, III) — lei estadual que obriga a inclusão,
na lei orçamentária anual, das escolhas manifestadas pela população, em con-
sulta direta, no que diz respeito à destinação de parcela voltada a investimentos
de interesses regional e municipal.

Conforme jurisprudência desta Corte, a vinculação da vontade popular na elaboração


de leis orçamentárias contraria a competência exclusiva do chefe do Poder Executivo (1).

Na espécie, a lei estadual impugnada, ao considerar as consultas populares como


etapa obrigatória e preliminar do processo legislativo da peça orçamentária, restringe
indevidamente prerrogativa reservada ao governador para apresentar sua proposta
(2), além de contrariar o poder de emenda atribuído ao Poder Legislativo (3).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação, para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.179/1998 do Estado do Rio Grande do Sul.
Além disso, por unanimidade, atribuiu efeito ex nunc à decisão, para que produza
efeitos somente a partir de seu trânsito em julgado.

(1) Precedente citado: ADI 2.680.

(2) CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao
Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na
forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; (...) Art. 165. Leis de iniciativa do
Poder Executivo estabelecerão: (...) III - os orçamentos anuais. (...) § 8º A lei orçamentária anual não conterá
dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização
para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação
de receita, nos termos da lei.”

(3) CF/1988: “Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento
anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do
regimento comum.”

ADI 2.037/RS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; SERVIÇOS


DE TELECOMUNICAÇÕES

Instalação e o funcionamento de equipamentos de


telefonia: criação de taxa de fiscalização em âmbito
municipal - ADPF 1.063/SP

briedade de condicionantes
to brig
- S
↓ e ÁUDIO

inconstitucional
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por invadir a competência da União privativa para legislar


sobre telecomunicações (CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para definir a forma e o
-

modo da exploração desses serviços (CF/1988, art. 21, XI c/c o art. 175) — legislação
municipal que estabelece a obrigatoriedade de condicionantes para a instalação
-

- -
e o funcionamento de antenas, postes, torres, contêineres e demais equipamentos
-
-

- - -

relacionados às Estações Transmissoras de Radiocomunicação (ETR).


-
-

-
~ -

Conforme a jurisprudência desta Corte, legislação local que repercute sobre o núcleo
regulatório das atividades de telecomunicação invade a competência privativa da
União (1).

Na espécie, o município, a pretexto de exercer sua competência para proteção do


meio ambiente, defesa da saúde e regulamentação do uso e ocupação do solo e do
zoneamento urbano, regulamentou, de modo indevido, o modo de prestação dos ser-
viços de telecomunicações.

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

Ademais, os dispositivos das normas impugnadas, ao instituírem e regulamentarem taxa


para instalação, licença de funcionamento e licença de compartilhamento e eventual
renovação, infringem a competência tributária da União (2).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação,
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 7.972/2021 e do Decreto 39.370/2022,
ambos do Município de Guarulhos/SP.

(1) Precedentes citados: ADI 3.110; ADI 5.723; ADI 5.575 e ADI 5.521.

(2) Precedente citado: RE 776.594 (Tema 919 da RG).

ADPF 1.063/SP, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 17.10.2023
(terça-feira), às 23:59

DIREITO FINANCEIRO – FUNDO DE EQUILÍBRIO FISCAL; ORÇAMENTO


PÚBLICO; RESPONSABILIDADE FISCAL

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; ICMS; BENEFÍCIO OU INCENTIVO FISCAL

Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em


âmbito estadual - ADI 5.635/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

TESE FIXADA:

“São constitucionais as Leis 7.428/2016 e 8.645/2019, ambas do Estado do Rio de


Janeiro, que instituíram o Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal – FEEF e, posterior-
mente, o Fundo Orçamentário Temporário – FOT, fundos atípicos cujas receitas não
estão vinculadas a um programa governamental específico e detalhado.”

RESUMO:

É constitucional lei estadual que institui fundo atípico com a finalidade de promo-
ver o equilíbrio fiscal da respectiva unidade federada, desde que suas receitas
possuam destinação genérica, podendo atender a quaisquer demandas.

Na espécie, trata-se de regramento que faz a redução parcial e transitória de bene-


fícios fiscais de ICMS em prol da formação de fundo local voltado ao equilíbrio fiscal

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

do ente instituidor. Assim, a natureza jurídica dos depósitos destinados ao fundo é de


ICMS, cuja matéria se insere na competência tributária dos estados federados e do
Distrito Federal. Nesse contexto, para que inexista ofensa ao princípio da não afetação
da receita de impostos (1), as receitas que compõem o fundo não podem ser vincula-
das a programas governamentais específicos.

Ademais, não se evidencia a criação de empréstimo compulsório ou de nova espé-


cie tributária. A medida adotada pela legislação estadual impugnada é adequada,
necessária e proporcional, eis que as vantagens advindas do maior equilíbrio fiscal
do estado superam o custo individual de cada contribuinte.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcial-
mente procedente a ação, para conferir interpretação conforme a Constituição ao art.
2º da Lei 7.428/2016 (2) e ao art. 2º da Lei 8.645/2019 (3), ambas do Estado do Rio
de Janeiro, de modo a: (i) afastar qualquer exegese que vincule as receitas vertidas
ao FEEF/FOT a um programa governamental específico; e (ii) garantir a não cumulati-
vidade do ICMS relativo ao depósito instituído, sem prejuízo da vedação ao aprovei-
tamento indevido dos créditos. Além disso, o Tribunal salientou serem aplicáveis aos
depósitos em questão as regras próprias do ICMS.

(1) CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a
destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento
do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente,
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de
receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;”

(2) Lei 7.428/2016 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 2º – A fruição do benefício fiscal ou incentivo fiscal, já
concedido ou que vier a ser concedido, fica condicionada ao depósito ao FEEF do montante equivalente
ao percentual de 10% (dez por cento) aplicado sobre a diferença entre o valor do imposto calculado com e
sem a utilização de benefício ou incentivo fiscal concedido à empresa contribuinte do ICMS, nos termos do
Convênio ICMS 42, de 3 de maio de 2016, já considerado no aludido percentual a base de cálculo para o
repasse constitucional para os Municípios (25%).”

(3) Lei 8.645/2019 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 2º A fruição de incentivos fiscais e de incentivos financeiro-
fiscais fica condicionada ao depósito no fundo disciplinado no artigo 1º, de percentual de 10% (dez por
cento), aplicado sobre a diferença entre o valor do imposto calculado com e sem a utilização de benefícios
ou incentivos fiscais concedidos à empresa contribuinte do ICMS, já considerada, no aludido percentual, a
base de cálculo para o repasse constitucional para os municípios.”

ADI 5.635/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.10.2023
(terça-feira), às 23:59

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 20/10/2023 a 27/10/2023

ADI 5.553/DF
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Incentivos fiscais aos agrotóxicos

Discussão, à luz do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado (CF/1988, art.


225), sobre a constitucionalidade de cláusulas do Convênio 100/1997 do CONFAZ,
que reduziram a base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços (ICMS) referente a defensivos agrícolas, bem como da tabela
do Decreto 7.660/2011, que concede para esses produtos isenção total do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI).

ADI 5.934/ES
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Criação de cargos em comissão no Ministério Público estadual

Averiguação da constitucionalidade de dispositivo da Lei 9.496/2010 do Estado do


Espírito Santo, com a redação conferida pelas Leis capixabas 9.703/2011 e 9.990/2013,
que trata do quadro de cargos em comissão e funções gratificadas que integram
a estrutura organizacional do Ministério Público estadual, em especial no que tange
a criação dos cargos em comissão de assessor jurídico. Jurisprudência: ADI 4.125.

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

ADI 7.180/AP
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Tribunal de Contas estadual: possibilidade de reeleições ilimitadas de


conselheiros para a direção superior

Análise, à luz dos princípios republicano e democrático e da necessidade de alternância


no exercício do poder, da constitucionalidade de dispositivo da Constituição do Estado
do Amapá, bem como da Lei Complementar amapaense 10/1995 (Lei Orgânica do
Tribunal de Contas do Estado do Amapá) e do Regimento Interno do Tribunal de
Contas do Estado do Amapá, que permitem, sem restrição de mandatos, a reeleição
de conselheiros da respectiva Corte de Contas para a direção superior (presidência
e 1ª e 2ª vice-presidências). Jurisprudência: ADI 5.692.

ADI 2.356/DF
ADI 2.362/DF
Relator: Ministro NUNES MARQUES

EC 30/2000 e parcelamento de pagamento de precatórios

Debate sobre a constitucionalidade de dispositivo do ADCT, que permitiu o pagamento,


em até 10 anos, em prestações iguais e sucessivas, de precatórios pendentes até a
data da promulgação da EC 30/2000 ou daqueles expedidos nas ações ajuizadas
até o dia 31 de dezembro de 1999.

ADI 4.450/MS
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Mudança do horário de expediente de Tribunal de Justiça estadual

Averiguação, à luz do princípio da separação dos Poderes, da constitucionalidade


da Resolução 568/2010 do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul
que versa, dentre outras providências, sobre a alteração do expediente forense e
da jornada de trabalho dos servidores.

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

ADI 3.117/MS
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Proibição de transporte de passageiros, clandestino ou irregular, no


âmbito estadual

Questionamento constitucional, à luz do princípio federativo e do sistema de repartição


de competências, acerca da Lei 2.391/2001 do Estado de Mato Grosso do Sul, que
proíbe o transporte alternativo de passageiros, individual ou coletivo, em automóveis
tipo kombi, vans, topic, ônibus e motocicletas.

ADI 6.164/RJ
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Procurador estadual: regime remuneratório de subsídios e acumulação


com honorários sucumbenciais

Análise, à luz da compatibilidade com o regime remuneratório de subsídios, da


constitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar 137/2010 do Estado do
Rio de Janeiro que permitem aos procuradores estaduais acumular parcela de
honorários advocatícios sucumbenciais com as demais verbas remuneratórias.
Jurisprudência: ADI 4.941.

ADI 7.440 MC-Ref/PA


Relator: Ministro CRISTIANO ZANIN

Cargo em comissão: gratificação com objetivo de indenizar o servidor


público efetivo do estado pela representação

Referendo de decisão na qual o relator suspendeu a eficácia da expressão


“indenização de”, contida no art. 2º da Lei 9.853/2023 do Estado do Pará, bem
como a interpretação das expressões normativas dele remanescentes, no sentido
de que os valores pagos em decorrência do dispositivo não se submetem ao teto
remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal de 1988.

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1112/2023 |

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
13
Edição 1113/2023

27 DE OUTUBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Ana Carolina Caetano

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1113/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 27 de outubro de 2023.
INFORMATIVO STF 27 DE OUTUBRO DE 2023 | 1113/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 27 DE OUTUBRO DE 2023 | 1113/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Desapropriação por Necessidade ou Utilidade Pública; Imissão Provisória


na Posse; Perda da Propriedade; Prévia e Justa Indenização

• Desapropriação para atender a interesse público: forma de pagamento da


complementação da prévia indenização - RE 922.144/MG (Tema 865 RG)

» Servidor Público Civil; Sistema Remuneratório e Benefícios; Piso Salarial

• Agentes comunitários de saúde e de combate às endemias: aplicação do


piso salarial nacional aos servidores estatutários dos entes subnacionais
- RE 1.279.765/BA (Tema 1.132 RG)

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Organização dos Poderes; Poder Judiciário; Movimentação na Carreira;


Remoção e Promoção

• Movimentação na carreira da magistratura estadual: precedência da remoção


sobre a promoção por antiguidade - ADI 6.609/MG

» Organização Político-Administrativa; Direito à Educação; Ensino Superior;


Sistema de Cotas

• Sistema de cotas em universidade pública estadual: reserva de vagas para


candidatos egressos de escolas de ensino médio localizadas no estado
- RE 614.873/AM

» Serviço Notarial e de Registro; Substituição do Titular do Cartório

• Serviço notarial e de registro: prazo para a troca de substitutos por profissionais


aprovados em concurso público - ADI 1.183 ED/DF
INFORMATIVO STF 27 DE OUTUBRO DE 2023 | 1113/2023

DIREITO ELEITORAL

» Transporte de Eleitores; Zonas Urbanas

• Obrigatoriedade do Estado em ofertar transporte público coletivo gratuito


nos dias de eleições - ADPF 1.013/DF

DIREITO PENAL

» Crimes Previstos na Legislação Extravagante; Tráfico de Entorpecentes;


Modalidade Privilegiada; Aplicação da Pena; Regime Inicial de Cumprimento

• Tráfico de entorpecentes privilegiado: regime inicial aberto; substituição


da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e reincidência
- PSV 139/DF

1.2 SEGUNDA TURMA

DIREITO PENAL

» Crimes contra o Patrimônio; Apropriação Indébita; Atipicidade da Conduta

• Crime de apropriação indébita e depositário judicial: atipicidade da conduta


de não pagamento de parcela de dívida submetida à execução fiscal
- HC 215.102/PR

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• ICMS: aproveitamento e direito de crédito em operações de exportação


(Tema 619 RG e Tema 633 RG) - RE 662.976/RS e RE 704.815/SC

• Lei de Repatriação: exclusão de detentores de cargos públicos e eletivos


do regime legal - ADI 5.586/DF

• Destinação de valores de condenações pecuniárias em ações civis públicas


- ADPF 944/DF

• Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro: critérios etários para a


transferência de diplomatas - ADI 7.399/DF
INFORMATIVO STF 27 DE OUTUBRO DE 2023 | 1113/2023

• Obrigatoriedade de fornecimento do certificado de composição química


de combustíveis em âmbito estadual - ADI 3.752/SP

• Porte de arma de fogo para ocupantes de cargos específicos em âmbito


distrital - ADI 4.987/DF

• Tribunal de Contas estadual: remuneração dos auditores em substituição


provisória de conselheiros - ADI 6.948/MG

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE


OU UTILIDADE PÚBLICA; IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE; PERDA DA
PROPRIEDADE; PRÉVIA E JUSTA INDENIZAÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRECATÓRIOS; DÉBITOS DA FAZENDA


PÚBLICA; DEPÓSITOS JUDICIAIS

Desapropriação para atender a interesse público:


forma de pagamento da complementação da prévia
indenização - RE 922.144/MG (Tema 865 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“No caso de necessidade de complementação da indenização, ao final do processo


expropriatório, deverá o pagamento ser feito mediante depósito judicial direto se
o Poder Público não estiver em dia com os precatórios.”

RESUMO:

Na hipótese em que o ente federativo expropriante estiver em mora com a qui-


tação de seus precatórios (CF/1988, art. 100), o pagamento da diferença entre o
valor das avaliações final e inicial do imóvel desapropriado pelo Poder Público
deve ser feito por meio de depósito judicial direto ao então proprietário, em res-
peito à natureza prévia da indenização (CF/1988, art. 5º, XXIV).

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

A submissão da desapropriação ao regime de precatórios não viola o comando cons-


titucional de indenização prévia e justa, pois se revela medida razoável para organizar
as finanças públicas do ente público (1).

Contudo, a realidade da maioria dos entes expropriantes é caracterizada pelo cons-


tante atraso no pagamento das referidas dívidas, circunstância que deslegitima o
Poder Público, desnatura a natureza prévia da indenização e esvazia o conteúdo do
direito de propriedade.

Nesse contexto, a medida excepcional, na qual a complementação é paga mediante


depósito judicial, objetiva não prejudicar injustamente o antigo proprietário do imóvel
pela demora exagerada no recebimento do montante que lhe é devido, em especial
porque, além da longa tramitação usual das ações de desapropriação, ele perdeu a
posse do bem ainda no início do processo, mediante depósito dissociado do correto
valor de mercado.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 865 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário e limitou a eficácia tem-
poral da decisão para que as teses ora fixadas sejam aplicadas somente às desa-
propriações propostas a partir da publicação da ata deste julgamento, ressalvadas
as ações judiciais em curso em que se discuta expressamente a constitucionalidade
do pagamento da complementação da indenização por meio de precatório judicial.

(1) Precedente citado: RE 176.108.

RE 922.144/MG, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 19.10.2023

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO CIVIL; SISTEMA


REMUNERATÓRIO E BENEFÍCIOS; PISO SALARIAL

DIREITO CONSTITUCIONAL – SEPARAÇÃO DE PODERES; ENTES FEDERADOS;


AUTONOMIA ADMINISTRATIVA

Agentes comunitários de saúde e de combate às


endemias: aplicação do piso salarial nacional aos
servidores estatutários dos entes subnacionais - RE
1.279.765/BA (Tema 1.132 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4

TESE FIXADA:

“I - É constitucional a aplicação do piso salarial nacional dos Agentes Comunitários


de Saúde e Agentes de Combate às Endemias, instituído pela Lei 12.994/2014, aos
servidores estatutários dos entes subnacionais, em consonância com o art. 198, §
5º, da Constituição Federal, com a redação dada pelas Emendas Constitucionais
63/2010 e 120/2022, cabendo à União arcar com os ônus da diferença entre o piso
nacional e a legislação do ente municipal; II - Até o advento da Lei 9.646/2022, a
expressão ‘piso salarial’ para os Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de
Combate às Endemias corresponde à remuneração mínima, considerada, nos ter-
mos do art. 3º, inciso XIX, da Lei 8.629/2014, somente a soma do vencimento do
cargo e da gratificação por avanço de competências.”

RESUMO:

Os agentes comunitários de saúde e os de combate às endemias dos municípios,


estados e do Distrito Federal fazem jus ao piso salarial fixado em lei federal,
devendo a União arcar com os ônus da diferença entre o piso nacional e o previsto
pela legislação dos entes subnacionais.

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

O texto constitucional estabelece expressamente que o piso salarial desses servidores


será disposto em lei federal, e que a União, nos termos da lei, deverá prestar assistên-
cia financeira complementar aos demais entes federativos (1).

Nesse contexto, não há invasão da competência dos entes menores para definir o
regime dos seus servidores, porque se trata apenas do estabelecimento de uma con-
traprestação mínima, o que não impede que os entes federativos prevejam outras par-
celas para compor a remuneração final.

De todo modo, a expressão “piso salarial” há de ser interpretada como a contrapres-


tação pecuniária mínima paga ao profissional da categoria, acrescida tão somente
das verbas fixas, genéricas e permanentes, conferidas indistintamente a toda a cate-
goria e desvinculadas de condições de trabalho específicas de cada servidor ou cri-
térios meritórios individuais.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.132 da
repercussão geral, deu parcial provimento ao recurso extraordinário para reformar
em parte o acórdão recorrido e, por conseguinte, determinar que, na implementação
do pagamento do piso nacional da categoria aos servidores estatutários municipais,
previsto na Lei 12.994/2014, seja considerada a interpretação ora conferida à expres-
são “piso salarial”.

(1) CF/1988: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (...) § 5º Lei federal disporá
sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a
regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo
à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional
63/2010) § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal,
o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate
às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei,
para o seu exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) § 7º O vencimento dos agentes
comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias fica sob responsabilidade da União, e cabe
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer, além de outros consectários e vantagens,
incentivos, auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho desses profissionais. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento dos
agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias serão consignados no orçamento
geral da União com dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 9º
O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias não será inferior a
2 (dois) salários mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes de
combate às endemias terão também, em razão dos riscos inerentes às funções desempenhadas, aposentadoria
especial e, somado aos seus vencimentos, adicional de insalubridade. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 120, de 2022) § 11. Os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios para pagamento do vencimento ou de qualquer outra vantagem dos agentes comunitários de
saúde e dos agentes de combate às endemias não serão objeto de inclusão no cálculo para fins do limite
de despesa com pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)”

RE 1.279.765/BA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 19.10.2023

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES; PODER


JUDICIÁRIO; MOVIMENTAÇÃO NA CARREIRA; REMOÇÃO E PROMOÇÃO

Movimentação na carreira da magistratura estadual:


precedência da remoção sobre a promoção por
antiguidade - ADI 6.609/MG

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

RESUMO:

É constitucional lei estadual que garante a precedência da remoção sobre a pro-


moção por antiguidade na carreira da magistratura local.

Com o advento da EC 45/2004, que acrescentou o inciso VIII-A ao art. 93 da Constituição


Federal de 1988 (1), a remoção sempre precederá à promoção por antiguidade ou
merecimento, seja na carreira da magistratura federal, seja na da estadual. Isso porque
essa alteração constitucional impactou nas normas da Lei Complementar 35/1979 (Lei
Orgânica da Magistratura - LOMAN) que tratam de promoção e remoção (arts. 80 e 81).

A fim de evitar a preterição de magistrado mais antigo, os juízes que se encontram


em uma determinada entrância têm prioridade de escolha no preenchimento de vaga
existente nessa mesma entrância (por meio de remoção) sobre a promoção dos juízes
de entrância inferior.

Nesse contexto, o critério para aferição de antiguidade é o efetivo exercício no cargo


correspondente da magistratura na entrância e não entre todas as entrâncias.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação
para declarar a constitucionalidade do art. 178 da Lei Complementar 59/2001 do
Estado de Minas Gerais (2).

(1) CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) II - promoção de entrância para entrância, alternadamente,
por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: a) é obrigatória a promoção do juiz que figure
por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; b) a promoção por merecimento
pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista
de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago; c) aferição do

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da


jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; (...)
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não
podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão; (...) VIII-A - a remoção a pedido ou a
permuta de magistrados de comarca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas
a, b, c e e do inciso II. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

(2) Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 178 – A remoção do Juiz, voluntária ou
compulsória, só poderá efetivar-se para comarca ou vara a ser provida por merecimento. Parágrafo único –
A remoção de uma para outra vara da mesma comarca poderá efetivar-se, mesmo em se tratando de vaga
a ser provida por antiguidade.”

ADI 6.609/MG, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento finalizado em 19.10.2023

DIREITO CONSTITUCIONAL – ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA;


DIREITO À EDUCAÇÃO; ENSINO SUPERIOR; SISTEMA DE COTAS

Sistema de cotas em universidade pública


estadual: reserva de vagas para candidatos
egressos de escolas de ensino médio
localizadas no estado - RE 614.873/AM

ÁUDIO VÍDEO DO
DO TEXTO JULGAMENTO

Parte Única

RESUMO:

É inconstitucional — por violar a garantia de tratamento igualitário a todos os cida-


dãos brasileiros, que veda a criação de distinções ou preferências entre si (CF/1988,
art. 19, III) — lei estadual que assegura, de forma infundada e/ou desproporcional,
percentual das vagas oferecidas para a universidade pública local a candidatos
que cursaram integralmente o ensino médio em instituições públicas ou privadas
da mesma unidade federativa.

Na espécie, a lei estadual impugnada destinou 80% das vagas aos candidatos que
se enquadrassem na situação acima, de modo que a reserva de apenas 20% para
aqueles que concluíram o ensino médio ou equivalente em ente federativo diverso
restringe excessivamente o acesso de outras pessoas e, consequentemente, reduz a
diversidade entre os alunos.

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

Nesse contexto, em que pese a nobre possibilidade de se corrigirem distorções socioe-


conômicas, como ocorre com a implementação da política de reserva de vagas (cotas)
para alunos egressos de escolas localizadas no próprio estado, não pode o ente fede-
rativo criar discriminações regionais infundadas e desproporcionais (1) com a finalidade
de favorecer apenas os residentes em determinada região (2).

Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em prelimi-


nar suscitada por questão de ordem, cancelou o Tema 474 da repercussão geral, e,
no mérito, por maioria, negou provimento ao recuso extraordinário para julgar incons-
titucional a Lei 2.894/2004 do Estado do Amazonas (3).

(1) CF/1988: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - criar distinções
entre brasileiros ou preferências entre si.”

(2) Precedentes citados: ADI 4.868 e ADI 4.382.

(3) Lei 2.841/2004 do Estado do Amazonas: “Art. 1º - As vagas em cursos e turnos oferecidas anualmente
pela Universidade do Estado do Amazonas em concursos vestibulares terão a distribuição seguinte: I - 80%
(oitenta por cento) para candidatos que: a) comprovem haver cursado as três séries do ensino médio em
instituições públicas ou privadas no Estado do Amazonas; e, b) não possuam curso superior completo ou não o
estejam cursando em instituição pública de ensino. II - 20% (vinte por cento), para candidatos que comprovem
haver concluído o ensino médio ou equivalente em qualquer Estado da Federação ou no Distrito Federal.
§ 1º - Sessenta por cento (60%) das vagas a que se refere o inciso I, dos cursos ministrados em Manaus,
serão destinadas a alunos que tenham cursado as três séries do ensino médio em escola pública no Estado
do Amazonas. § 2º - Tratando-se de candidato aprovado em exame supletivo, a Universidade exigirá, do
candidato que disputar as vagas do inciso I, a comprovação, na forma do edital respectivo, de residência
no Estado do Amazonas por pelo menos 3 (três) anos. § 3º - O candidato indicará, no ato da inscrição, o
conjunto a que pertence a vaga que deseja disputar, responsabilizando-se pelas declarações que prestar.
§ 4º - Na hipótese de não ser suficiente a quantidade de candidatos classificados em um dos conjuntos de
vagas, a Universidade convocará os do outro conjunto, respeitada a ordem de classificação (...)”

RE 614.873/AM, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento finalizado em 19.10.2023

Todas as vezes que houver uma lei que restrinja direitos fundamentais de
alguém e sempre plausível o argumento do principio da proporcionalidade

SUMÁRIO
13
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DIREITO CONSTITUCIONAL – SERVIÇO NOTARIAL E DE REGISTRO;


SUBSTITUIÇÃO DO TITULAR DO CARTÓRIO

Serviço notarial e de registro: prazo para a troca de


substitutos por profissionais aprovados em concurso
público - ADI 1.183 ED/DF

ÁUDIO VÍDEO DO
DO TEXTO JULGAMENTO

Parte Única

RESUMO:

É incompatível com a Constituição Federal de 1988 interpretação que extraia do


art. 20 da Lei 8.935/1994 a possibilidade de que prepostos, indicados pelo titu-
lar de cartório ou mesmo pelos tribunais de justiça, possam exercer substituições
ininterruptas por períodos superiores a seis meses, em caso de vacância da ser-
ventia. Nessa hipótese, o substituto não concursado se encontra na interinidade
do cartório, de modo que age em nome próprio e por conta própria.

Quando as substituições ultrapassem os seis meses decorrentes de vacância da ser-


ventia, a solução constitucionalmente válida é a indicação, como substituto, de outro
notário ou registrador, observadas as leis locais de organização do serviço notarial e
registral, ressalvada a possibilidade de os tribunais de justiça indicarem substitutos ad
hoc quando não houver, entre os titulares concursados, interessado que aceite a subs-
tituição, sem prejuízo
I da imediata abertura de concurso público para preenchimento
das vagas, e respeitado, em qualquer caso, o teto constitucional na remuneração do
interino (CF/1988, art. 37, XI).

Nesse contexto, diante do longo período no qual o dispositivo citado vem sendo apli-
cado com interpretação diversa (1), a progressiva troca dos substitutos não concursa-
dos então em exercício por titulares de serventia extrajudicial devidamente aprovados
em concurso público (CF/1988, arts. 37, II, e 236, § 3º) deve ser efetivada em até seis
meses, contados da conclusão deste julgamento. Ademais, por questão de segurança
jurídica, e de modo a preservar os direitos dos cidadãos que utilizaram os serviços
cartorários de boa-fé, deve ser ressalvada, em qualquer caso, a validade dos atos
praticados por aqueles nomeados pelo tribunal de justiça, conforme as regras e inter-
pretações vigentes na ocasião.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu dos embargos
de declaração e os proveu parcialmente, para retificar trecho da parte dispositiva do

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

acórdão embargado, bem como para esclarecer e integrar os pontos supracitados


(vide Informativo 1020).

(1) Lei 8.935/1994: “Art. 20. Os notários e os oficiais de registro poderão, para o desempenho de suas
funções, contratar escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com
remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho. § 1º Em cada serviço notarial ou
de registro haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares quantos forem necessários, a critério de cada
notário ou oficial de registro. § 2º Os notários e os oficiais de registro encaminharão ao juízo competente os
nomes dos substitutos. § 3º Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o oficial de
registro autorizar. § 4º Os substitutos poderão, simultaneamente com o notário ou o oficial de registro, praticar
todos os atos que lhe sejam próprios exceto, nos tabelionatos de notas, lavrar testamentos. § 5º Dentre os
substitutos, um deles será designado pelo notário ou oficial de registro para responder pelo respectivo serviço
nas ausências e nos impedimentos do titular.”

ADI 1.183 ED/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 19.10.2023

DIREITO ELEITORAL – TRANSPORTE DE ELEITORES; ZONAS URBANAS

DIREITO CONSTITUCIONAL – OMISSÃO INCONSTITUCIONAL; DIREITOS


E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; DIREITOS POLÍTICOS

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIÇOS; TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO

Obrigatoriedade do Estado em ofertar


transporte público coletivo gratuito nos
dias de eleições - ADPF 1.013/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

VÍDEO DO VÍDEO DO
JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2

TESE FIXADA:

“É inconstitucional a omissão do poder público em ofertar, nas zonas urbanas em


dias de eleições, transporte público coletivo de forma gratuita e em frequência
compatível com aquela praticada em dias úteis.”

atenção que o julgado fala zona urbana e a lei 6091 fala zona
rural

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

RESUMO:

Configura omissão inconstitucional do Poder Público a falta de oferta, com a mesma


frequência e regularidade dos dias úteis, de transporte público coletivo gratuito
nas zonas urbanas em dia de eleições.

O fornecimento desse serviço já é previsto para os eleitores residentes em zonas rurais


(Lei 6.091/1974 e Resolução TSE 23.669/2021). Assim, a falha em assegurar o exercí-
cio do direito ao voto a todos os cidadãos representa violação ao texto constitucional
(CF/1988, art. 14), na medida em que é dever do Estado adotar medidas capazes de
concretizar os direitos previstos na Constituição Federal, no caso, que todos tenham
plenas condições de participar do processo eleitoral.

A ausência de política pública com essa finalidade tem o potencial de criar, na prática,
um novo tipo de voto censitário, que retira dos mais pobres a possibilidade de parti-
cipação no processo eleitoral, tendo em vista a extrema desigualdade social existente
no Brasil. Ademais, a medida promove o combate à ilegalidade, evitando que o trans-
porte seja utilizado estrategicamente em localidades específicas e sirva como instru-
mento de interferência no resultado eleitoral.

Nesse contexto, a ausência de normatização da matéria compromete a plena efetivi-


dade dos direitos políticos, de modo que é legítima a atuação do STF para garantir o
cumprimento do texto constitucional e, ao mesmo tempo, reconhecer a preferência do
Congresso Nacional em instituir a providência.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou par-
cialmente procedente a ação para: (i) confirmar, no mérito, a medida cautelar conce-
dida; (ii) fazer apelo ao Congresso Nacional para que edite lei regulamentadora da
política de gratuidade de transporte público nas zonas urbanas em dias de eleições,
com frequência compatível com aquela praticada em dias úteis; e, (iii) caso não edi-
tada a lei referida no item anterior, determinar ao Poder Público que, a partir das elei-
ções municipais de 2024, oferte, nas zonas urbanas em dias de eleições, transporte
coletivo municipal e intermunicipal, inclusive o metropolitano.

ADPF 1.013/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 18.10.2023

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

DIREITO PENAL – CRIMES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE;


TRÁFICO DE ENTORPECENTES; MODALIDADE PRIVILEGIADA; APLICAÇÃO
DA PENA; REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO

Tráfico de entorpecentes privilegiado: regime inicial


aberto; substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos e reincidência - PSV 139/DF

ÁUDIO VÍDEO DO
DO TEXTO JULGAMENTO

Parte Única

ENUNCIADO FIXADO:

“É impositiva a fixação do regime aberto e a substituição da pena privativa de


liberdade por restritiva de direitos quando reconhecida a figura do tráfico privile-
giado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006) e ausentes vetores negativos na primeira
fase da dosimetria (art. 59 do CP), observados os requisitos do art. 33, § 2º, ‘c’, e
do art. 44, ambos do Código Penal.”

RESUMO:

No caso de condenação pelo crime de tráfico privilegiado (Lei 11.343/2006, art.


33, § 4º), o magistrado deve fixar o regime aberto para o cumprimento inicial da
pena quando inexistirem circunstâncias judiciais desfavoráveis na primeira fase
da dosimetria (CP/1940, art. 59), o réu não for reincidente (CP/1940, art. 33, § 2º,
“c”) e a pena imposta não superar quatro anos. De igual modo, é obrigatória a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos quando obser-
vados os requisitos legais (CP/1940, art. 44).

O referido delito (1) não se harmoniza com a hediondez do tráfico de entorpecentes (Lei
11.343/2006, art. 33, caput e § 1º), o que reforça ainda mais o constrangimento ilegal
da estipulação de regime inicial de cumprimento de pena mais gravoso, em especial
o fechado (2), se ausentes vetores negativos na primeira fase da dosimetria da pena.

Ademais, a reincidência do réu desobriga a fixação do regime aberto. Por outro lado,
para a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, o impedi-
mento para a concessão do benefício é mais restrito, ou seja, apenas se verificada a
reincidência específica (3).

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

É de extrema importância a edição do verbete vinculante com a finalidade de otimi-


zar os efeitos da jurisprudência do STF, pois vinculará os demais órgãos do Poder
Judiciário e promoverá a segurança jurídica, evitando a multiplicação de processos
sobre o mesmo tema.

Nesse contexto, as reiteradas decisões desta Corte (4) trazem em sua essência a enver-
gadura constitucional necessária à edição do verbete, relacionada à fundamenta-
ção das decisões (CF/1988, art. 93, IX) e aos postulados da individualização da pena
(CF/1988, art. 5º, XLVI), da legalidade (CF/1988, art. 5º, XXXIX), da humanização da pena
(CF/1988, art. 5º, III e XLII) e da proporcionalidade (CF/1988, art. 5º, LIV).

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, acolheu a


proposta de edição da Súmula Vinculante 59.

(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor
à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar: § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – importa, exporta, remete, produz, fabrica,
adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-
prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II – semeia, cultiva ou faz a colheita,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam
em matéria-prima para a preparação de drogas; III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem
a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico
ilícito de drogas. IV – vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente
policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (...) §
4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.”

(2) Precedente citado: HC 118.533.

(3) CP/1940: “Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A
de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (...)
§ 2º – As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito
do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso: (...) c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde
o início, cumpri-la em regime aberto (...) Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem
as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e
o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada,
se o crime for culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso; III – a culpabilidade, os antecedentes,
a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente. § 1o (VETADO) § 2º Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição
pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime. § 4º A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar
será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de
detenção ou reclusão. § 5º Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado
cumprir a pena substitutiva anterior.”

(4) Precedentes citados: HC 138.334; HC 134.140; HC 130.074; RHC 125.435; HC 120.876; HC 118.533; HC
117.813; HC 109.344; HC 100.590; HC 99.996; HC 97.256; HC 85.108 e HC 83.509.

PSV 139/DF, relator Ministro Presidente, julgamento finalizado em 19.10.2023

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

1.2 SEGUNDA TURMA

DIREITO PENAL – CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO; APROPRIAÇÃO


INDÉBITA; ATIPICIDADE DA CONDUTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL; DEPOSITÁRIO JUDICIAL;


PENHORA DE FATURAMENTO; DESCUMPRIMENTO DE ACORDO

Crime de apropriação indébita e depositário judicial:


atipicidade da conduta de não pagamento de parcela
de dívida submetida à execução fiscal - HC 215.102/PR

ÁUDIO VÍDEO DO
DO TEXTO JULGAMENTO

Parte Única

RESUMO:

Não comete o crime de apropriação indébita (CP/1940, art. 168, § 1º, II), pois ausente
a elementar “coisa alheia”, o sócio-administrador, nomeado depositário judicial,
que deixa de transferir o montante penhorado do faturamento da empresa para
a conta judicial determinada pelo juízo da execução.

Na espécie, a sociedade empresária foi submetida a processo de execução fiscal e


firmou, em audiência, acordo para o pagamento parcelado de valores relativos à
penhora sobre seu faturamento bruto, sendo o paciente nomeado depositário fiel.
Posteriormente, por descumprir o ajuste, ao não efetuar todos os depósitos, ele foi
condenado pelo crime de apropriação indébita.

Contudo, a conduta do paciente é atípica, visto tratar-se de apoderamento de coisa


própria. Isso porque, ainda que a empresa seja de responsabilidade limitada, a deter-
minação judicial, na penhora de faturamento, é dirigida ao depositário para que reserve
valores de que já tem a propriedade e disponibilidade e, em momento seguinte, trans-
fira o montante penhorado para a conta judicial específica (1).

Ademais, ainda que atue como auxiliar da justiça para assegurar a efetivação da exe-
cução, o fiel depositário, em respeito ao princípio da legalidade, só pode ser conde-
nado na esfera penal se praticar um fato previamente definido como crime (2).

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, rejeitou a preliminar
formulada no sentido de afetar o julgamento do feito ao Plenário e, no mérito, tam-

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

bém por maioria, concedeu a ordem de habeas corpus para absolver o paciente, por
ausência de conduta típica.

(1) Precedente citado: HC 203.217.

(2) CP/1940: “Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão,
de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente
recebeu a coisa: (...) II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial;”

HC 215.102/PR, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acordão Ministro Nunes Marques, julgamento
finalizado em 17.10.2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 27/10/2023 a 07/11/2023

RE 662.976/RS
RE 704.815/SC REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

ICMS: aproveitamento e direito de crédito em operações de exportação


(Tema 619 RG e Tema 633 RG)

(i) Discussão constitucional acerca da possibilidade de aproveitamento, nas operações


de exportação, de créditos de ICMS decorrentes de aquisições de bens destinados
ao ativo fixo da empresa; e (ii) Questionamento constitucional a versar sobre a
possibilidade de creditamento, após a EC 42/2003, do ICMS decorrente da aquisição
de bens de uso e de consumo empregados na elaboração de produtos destinados à
exportação, independentemente de regulamentação infraconstitucional. Questiona-se
a autoaplicabilidade da referida EC e seus efeitos sobre a Lei Complementar 87/1996
como norma de imunidade tributária. Jurisprudência: RE 354.935 AgR.

SUMÁRIO
20
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

ADI 5.586/DF
Relatora: Ministra ROSA WEBER

Lei de Repatriação: exclusão de detentores de cargos públicos e


eletivos do regime legal

Análise da constitucionalidade de dispositivo da Lei 13.254/2016 (Lei de Repatriação),


que exclui os detentores de cargos e funções públicas de direção ou eletivas, bem
como seus parentes até o segundo grau, do Regime Especial de Regularização
Cambial e Tributária (RERCT).

ADPF 944/DF
Relatora: Ministra ROSA WEBER

Destinação de valores de condenações pecuniárias em ações civis


públicas

Verificação da higidez constitucional de decisões da Justiça do Trabalho que, nas


condenações por danos morais coletivos em ações civis públicas, deram aos valores
recolhidos destinação diversa da prevista na Lei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública).

ADI 7.399/DF
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro: critérios etários para


a transferência de diplomatas

Análise — à luz do princípio da isonomia (CF/1988, art. 5º, caput) — da constitucionalidade


de dispositivos da Lei 11.440/2006 que garante a transferência dos Ministros de Primeira
e Segunda Classes e dos Conselheiros para o Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro,
com base em critério etário, independentemente do tempo de serviço na respectiva classe.

SUMÁRIO
21
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

ADI 3.752/SP
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Obrigatoriedade de fornecimento do certificado de composição química


de combustíveis em âmbito estadual

Debate sobre a constitucionalidade da Lei 10.994/2001 do Estado de São Paulo que,


dentre outras providências, obriga todas as refinarias e distribuidoras de combustível
que operem no estado a fornecerem certificado de composição química de cada
produto, quando das entregas dos seguintes combustíveis comercializados: álcool,
gasolina “C” comum, gasolina aditivada, gasolina premium e diesel.

ADI 4.987/DF
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Porte de arma de fogo para ocupantes de cargos específicos em


âmbito distrital

Exame da higidez constitucional — à luz do sistema de repartição de competências — de


dispositivo da Lei distrital 3.881/2006 que concede porte de arma a servidores das
carreiras de auditor fiscal, de assistente jurídico e de Procurador do Distrito Federal.
Jurisprudência: ADI 3.112, ADI 4.962, ADI 4.991, ADI 6.974, ADI 6.982 e ADI 6.985.

ADI 6.948/MG
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Tribunal de Contas estadual: remuneração dos auditores em substituição


provisória de conselheiros

Averiguação da constitucionalidade de dispositivo da Lei Complementar 102/2008


do Estado de Minas Gerais que garante a mesma remuneração prevista para os
conselheiros do Tribunal de Contas local aos auditores que atuem em sua substituição,
desde que esta não ocorra apenas para completar o quórum necessário à realização
das sessões.

SUMÁRIO
22
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1113/2023 |

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Portaria GDG 262, de 20.10.2023 - Comunica que fica alterada a especialidade de
um cargo vago de Técnico Judiciário, área Administrativa, especialidade Carpintaria
e Marcenaria, para Técnico Judiciário, área administrativa (Ementa elaborada pela
Biblioteca).

Portaria GDG 268, de 24.10.2023 - Informa os valores de venda das publicações edita-
das pelo Supremo Tribunal Federal e dos suvenires (Ementa elaborada pela Biblioteca).

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
23
Edição 1114/2023

7 DE NOVEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Cínthia Aryssa Okada

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1114/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 7 de novembro de 2023.
INFORMATIVO STF 7 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1114/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 7 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1114/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Agentes Públicos; Sistema Remuneratório e Benefícios; Cargos em


Comissão; Teto Remuneratório

• Pagamento de “indenização de representação” ao servidor público que


exerce cargo em comissão no âmbito do Poder Executivo estadual - ADI
7.440 MC-Ref/PA

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Direitos e Garantias Fundamentais; Direito à Moradia

• Contratos de mútuo com alienação fiduciária de imóvel: possibilidade de


execução extrajudicial em caso de não pagamento da parcela - RE 860.631/
SP (Tema 982 RG)

» Processo Legislativo; Regime Jurídico do Servidor Público; Iniciativa


Privativa do Chefe do Poder Executivo

• Tribunal de Justiça estadual: mudança do horário de expediente e da jornada


de trabalho de seus servidores por meio de resolução - ADI 4.450/MS

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Licitude, na seara eleitoral, da prova obtida por meio de gravação


ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do
outro (Tema 979 RG) - RE 1.040.515/SE

• Execução trabalhista: possibilidade de inclusão de empresa do mesmo


grupo econômico que não participou do processo de conhecimento (Tema
1.232 RG) - RE 1.387.795/MG
INFORMATIVO STF 7 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1114/2023

• Vedação à tributação confiscatória: multa por descumprimento de


obrigação acessória decorrente de dever instrumental (Tema 487 RG) -
RE 640.452/RO

• Proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território


nacional - ADPF 935 MC-Ref/DF

• Polícia penal em âmbito estadual: preenchimento de cargos mediante


transformação e aproveitamento - ADI 7.229/AC

• Regras sobre licenciamento ambiental em âmbito estadual - ADI 5.014 /BA

• Processos trabalhistas: participação na fase de execução e cumprimento


de sentença de pessoas físicas e jurídicas que não atuaram da fase de
conhecimento - ADPF 488/DF

• Produção e importação de biodiesel: regulamentação da atividade por


medida provisória - ADI 3.465/DF

• Reajuste remuneratório para servidores do Poder Legislativo: exigência


de lei específica - ADPF 362/BA

• Criação de cadastros de pedófilos e de pessoas condenadas por violência


contra a mulher no âmbito estadual - ADI 6.620/MT

• Ministério Público estadual: organização e regulamentação por lei ordinária


- ADI 3.194/RS

• Escolha do chefe de Defensoria Pública estadual: (im)possibilidade de


não ser integrante da carreira - ADI 4.982/RN

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – AGENTES PÚBLICOS; SISTEMA REMUNERATÓRIO


E BENEFÍCIOS; CARGOS EM COMISSÃO; TETO REMUNERATÓRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO; ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

Pagamento de “indenização de representação” ao


servidor público que exerce cargo em comissão no âmbito
do Poder Executivo estadual - ADI 7.440 MC-Ref/PA

Esses valores de "indenização" de representação entram no


teto ÁUDIO
DO TEXTO
Na verdade nao e verba indenizatória
RESUMO:

Encontram-se presentes os requisitos para a concessão de medida cautelar, pois


(i) há plausibilidade jurídica no direito alegado pelo requerente, visto que a lei
estadual impugnada dispõe contrariamente à jurisprudência desta Corte sobre o
tema; e (ii) há perigo da demora na prestação jurisdicional, dada a evidência de
dano econômico de incerta ou de difícil reparação a ser suportado pelo estado
mediante pagamento de verbas de caráter alimentar.

Os valores recebidos a título de retribuição pelo desempenho de cargo comissionado


no âmbito do Poder Executivo ostentam natureza eminentemente remuneratória e, por-
tanto, são computados para efeito dos limites do teto remuneratório constitucional dos
agentes públicos (CF/1988, art. 37, XI).

Conforme jurisprudência deste Tribunal (1), para que um pagamento assuma natureza
indenizatória, não basta que a lei assim o defina, formalmente, sendo também neces-
sário que a forma guarde mínima relação de correspondência com o conteúdo.

Ademais, é inaplicável o Tema 377 da repercussão geral (2), pois a gratificação pre-
vista na norma estadual impugnada configura retribuição por uma função de maior
relevância, ou mais específica, mas que não configura propriamente uma acumulação
de cargos ou funções.

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

Na espécie, não há evidência que permita conferir caráter indenizatório à chamada


“indenização de representação”.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a liminar con-
cedida para suspender a eficácia da expressão “indenização de”, contida no art. 2º
da Lei 9.853/2023 do Estado do Pará (3), bem como da interpretação das expressões
normativas remanescentes do mencionado artigo segundo a qual os valores pagos
em decorrência dele não se submetem ao teto remuneratório previsto no art. 37, XI,
da CF/1988 (4). A Corte ainda atribuiu efeito ex nunc à decisão de modo a alcançar
quaisquer pagamentos realizados a partir de sua publicação.

(1) Precedentes citados: ADI 7.402 MC-Ref; RE 650.898 (Tema 484 RG) e MS 32.492 AgR.

(2) Precedente citado: RE 612.975 (Tema 377 RG).

(3) Lei 9.853/2023 do Estado do Pará: “Art. 2º O servidor público estatutário que mantém vínculo permanente
com o Estado do Pará, quando no exercício de cargo comissionado no âmbito do Poder Executivo Estadual,
faz jus à indenização de representação correspondente a 80% (oitenta por cento) da retribuição do cargo
comissionado, observado o disposto no § 3º do art. 94 da Lei Complementar Estadual 039, de 9 de janeiro
de 2002. § 1º O sistema de remuneração previsto no caput deste artigo poderá ser aplicado ao servidor
público civil ou empregado público da Administração Pública Direta ou Indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, de quaisquer Poderes ou órgãos autônomos, cedido para o Estado do
Pará, salvo quando o cedente previr expressamente sobre a matéria. § 2º O disposto neste artigo aplica-se
ao exercício dos cargos de agente político e de dirigente de Autarquia e Fundação Pública. § 3º Sobre a
vantagem prevista neste artigo, não haverá incidência de contribuição previdenciária.”

(4) CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,
funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos
demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios,
o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento
do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;”

ADI 7.440 MC-Ref/PA, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 27.10.2023
(sexta-feira), às 23:59

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


DIREITO À MORADIA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL; CONTRATOS DE


MÚTUO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL; SISTEMA FINANCEIRO
IMOBILIÁRIO

Contratos de mútuo com alienação fiduciária de


imóvel: possibilidade de execução extrajudicial em
caso de não pagamento da parcela - RE 860.631/SP
(Tema 982 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3

TESE FIXADA:

“É constitucional o procedimento da Lei nº 9.514/1997 para a execução extrajudicial


da cláusula de alienação fiduciária em garantia, haja vista sua compatibilidade
com as garantias processuais previstas na Constituição Federal.”

RESUMO:

O procedimento que possibilita a execução extrajudicial da cláusula de alienação


fiduciária em garantia constante nos contratos de mútuo de imóvel realizados pelo
Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) não viola os princípios da inafastabilidade da
jurisdição e do acesso à justiça (CF/1988, art. 5º, XXXV), da garantia do juiz natural
(CF/1988, art. 5º, LIII), e do devido processo legal, da ampla defesa e do contradi-
tório (CF/1988, art. 5º, LIV e LV). Ele também não infringe o direito à propriedade
(CF/1988, art. 5º, XII), visto que a sua concretização, quanto ao bem financiado pelo
devedor fiduciante, ocorre somente com o total adimplemento da dívida, existindo,
até o cumprimento dessa condição, mera expectativa.

A qualidade da garantia fornecida pelo tomador de crédito contribuiu para o cresci-


mento do setor imobiliário e para a redução de riscos e custos associados à atividade

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

creditícia, potencializando a disponibilização de taxas de juros mais atrativas e, con-


sequentemente, ampliando o acesso da população à moradia.

Nesse contexto, exigir a judicialização da execução do procedimento de retomada


do imóvel cujo devedor deixa de pagar o financiamento representaria um retrocesso
legal no mercado de crédito imobiliário, na medida em que, além de gerar graves
consequências sistêmicas na dinâmica dos financiamentos, poderia penalizar as par-
tes contratantes que, mesmo com demandas legítimas, teriam que enfrentar tribunais
excessivamente congestionados.

Ademais, a lei federal impugnada dispõe de medidas indutivas ao cumprimento das


obrigações contratuais, sob a orientação de redução da complexidade procedimental,
cuja aplicação pressupõe o consentimento válido expresso das partes contratantes e
a possibilidade de acesso ao Poder Judiciário para dirimir controvérsias ou reprimir
eventuais ilegalidades (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 982 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário para manter o acór-
dão recorrido e, por conseguinte, reafirmar a constitucionalidade do procedimento
da Lei 9.514/1997 que diz respeito à execução extrajudicial da cláusula de alienação
fiduciária em contratos de mútuo.

(1) Precedentes citados: RE 627.106 (Tema 249 RG) e RE 223.075.

RE 860.631/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 26.10.2023

Nao ha ofensa aos princípios constitucionais de acesso à justiça, do devido


processo, do contraditório
Nao ha ofensa ao direito de propriedade, uma vez que ha apenas mera
expectativa de direito
A legislação permite o desenvolvimento do mercado imobiliário, taxas mais
atrativas
Graves consequências sistêmicas

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – PROCESSO LEGISLATIVO; REGIME


JURÍDICO DO SERVIDOR PÚBLICO; INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE
DO PODER EXECUTIVO

Tribunal de Justiça estadual: mudança do horário


de expediente e da jornada de trabalho de seus
servidores por meio de resolução - ADI 4.450/MS

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É constitucional resolução de Tribunal de Justiça estadual que altera o horário


de expediente forense, pois se trata de matéria abrangida pelo autogoverno dos
tribunais. Contudo, esse ato normativo não pode modificar a jornada de trabalho
dos servidores do Poder Judiciário local, porque o assunto diz respeito ao regime
jurídico destes, cuja iniciativa é privativa do chefe do Poder Executivo.

O texto constitucional prevê a iniciativa legislativa privativa do Presidente da República


para dispor sobre servidores públicos da União e dos territórios, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (CF/1988, art. 61, § 1º, II). Por se
tratar de norma atinente ao processo legislativo, essa norma configura princípio cons-
titucional extensível ou de reprodução obrigatória pelos estados-membros (CF/1988,
art. 25, caput).

Na espécie, a resolução impugnada, ao mudar a jornada de trabalho dos servido-


res do respectivo tribunal de justiça, atuou em ofensa ao princípio da separação dos
Poderes, eis que infringiu iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (CF/1988, arts.
2º e 61, § 1º, II, c) (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente proce-
dente a ação para declarar a inconstitucionalidade do art. 3º, II e § 2º da Resolução
568/2010 do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul, na redação ori-
ginal e na conferida por sua Resolução 164/2017.

(1) Precedente citado: ADI 2.400 MC.

ADI 4.450/MS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 27.10.2023, sexta-
feira, às 23:59

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 03/11/2023 a 10/11/2023

RE 1.040.515/SE
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Licitude, na seara eleitoral, da prova obtida por meio de gravação


ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento
do outro (Tema 979 RG)

Debate constitucional — à luz do princípio da estrita legalidade e do direito fundamental


à proteção da privacidade — sobre a necessidade de autorização judicial para legitimar
gravação ambiental realizada por um dos interlocutores ou por terceiro presente
durante a conversa, apta a instruir ação de impugnação de mandato eletivo (AIME).

RE 1.387.795/MG
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Execução trabalhista: possibilidade de inclusão de empresa do mesmo


grupo econômico que não participou do processo de conhecimento
(Tema 1.232 RG)

Exame constitucional a respeito da possibilidade da inclusão, no polo passivo de


execução trabalhista, de pessoa jurídica reconhecida como pertencente a grupo
econômico que não participou da fase de conhecimento, independentemente da
instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica (CPC/2015,
arts. 133 a 137; e 795, § 4º).

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

RE 640.452/RO REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Vedação à tributação confiscatória: multa por descumprimento de


obrigação acessória decorrente de dever instrumental (Tema 487 RG)

Verificação constitucional acerca do caráter confiscatório da multa por descumprimento


de obrigação acessória decorrente de dever instrumental, aplicada em valor variável
entre 5% a 40%, relacionado à operação que não gerou crédito tributário (“multa
isolada”).

ADPF 935 MC-Ref/DF


Relator: Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

Proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no


território nacional

Referendo de decisão na qual o relator deferiu parcialmente a cautelar no sentido


de suspender, até o julgamento final, dispositivos do Decreto 10.935/2022 que
ensejam a possibilidade da exploração de cavidades naturais subterrâneas, sem
maiores limitações, inclusive daquelas classificadas com o grau máximo de proteção,
aumentando substancialmente a vulnerabilidade dessas áreas de interesse ambiental,
até o momento áreas intocadas.

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

ADI 7.229/AC
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Polícia penal em âmbito estadual: preenchimento de cargos mediante


transformação e aproveitamento

Debate sobre a constitucionalidade de dispositivos da Constituição do Estado do


Acre que tratam da transformação dos cargos de motorista penitenciário oficial e
agente socioeducativo em cargo de policial penal, bem como do aproveitamento de
agentes penitenciários, socioeducativos e dos cargos públicos equivalentes contratados
em caráter temporário com mais de 5 (cinco) anos de serviço contínuo e ininterrupto,
através do benefício da estabilidade que durará até sua aposentadoria.

ADI 5.014 /BA


Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Regras sobre licenciamento ambiental em âmbito estadual

Controvérsia constitucional — à luz do sistema de repartição de competências —


sobre duas modalidades de licenciamento ambiental criadas pela Lei 10.431/2006
do Estado da Bahia, bem como análise de possível retrocesso social quanto à
participação popular por meio de audiências públicas decorrentes de alterações
promovidas pela norma estadual.

ADPF 488/DF
Relatora: Ministra ROSA WEBER

Processos trabalhistas: participação na fase de execução e cumprimento


de sentença de pessoas físicas e jurídicas que não atuaram da fase
de conhecimento

Averiguação constitucional — à luz do devido processo legal — de atos praticados pelos


Tribunais e Juízes do Trabalho que incluíram, no cumprimento de sentença ou na fase
de execução, pessoas físicas e jurídicas que, embora integrassem o mesmo grupo
econômico, não participaram da fase de conhecimento dos processos trabalhistas
e, por essa razão, não constaram dos títulos executivos judiciais.

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

ADI 3.465/DF
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Produção e importação de biodiesel: regulamentação da atividade


por medida provisória

Discussão constitucional acerca da regulamentação, promovida mediante a Medida


Provisória 227/2004, da atividade de produção e importação de biodiesel, do
respectivo registro (“registro especial”) junto à Receita Federal e da incidência de
contribuição para o PIS/PASEP e COFINS sobre as receitas decorrentes da venda
desse produto.

ADPF 362/BA
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Reajuste remuneratório para servidores do Poder Legislativo: exigência


de lei específica

Verificação — à luz do princípio da legalidade e da competência legislativa — sobre


a constitucionalidade de ato atribuído ao Presidente da Assembleia Legislativa
baiana, o qual, mediante o Ofício 265/1991, teria elevado, de maneira assimétrica,
os vencimentos de servidores daquela Casa legislativa estadual — sem observar a
exigência de lei (formal) específica e sem deliberação prévia e autorização da Mesa
Diretora, via Resolução — proporcionando a extensão de reajuste de servidores de
outros órgãos com base nesse mesmo ato.

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

ADI 6.620/MT
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Criação de cadastros de pedófilos e de pessoas condenadas por


violência contra a mulher no âmbito estadual

Exame constitucional em face da Lei 10.315/2015 e da Lei 10.915/2019, ambas do


Estado de Mato Grosso, que instituem um cadastro estadual de pessoas suspeitas,
indiciadas ou já condenadas por crimes contra a dignidade sexual praticados contra
criança e/ou adolescente, e a veiculação, na internet, de lista de pessoas condenadas
por crimes de violência contra a mulher praticados no respectivo estado.

ADI 3.194/RS
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Ministério Público estadual: organização e regulamentação por


lei ordinária

Debate — à luz da reserva de lei complementar — sobre a constitucionalidade da


Lei 11.722/2002 e da Lei 11.723/2002, ambas do Estado do Rio Grande do Sul, que
tratam de assunto atinente à organização e regulamentação do estatuto do Ministério
Público estadual, notadamente com relação às atribuições do Procurador-Geral
de Justiça, dos Procuradores de Justiça e dos Promotores de Justiça, às garantias,
vedações e impedimentos dos membros, e aos procedimentos, condições e critérios
para promoções e remoções.

ADI 4.982/RN
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Escolha do chefe de Defensoria Pública estadual: (im)possibilidade de


não ser integrante da carreira

Averiguação da higidez constitucional de dispositivos da Lei Complementar 251/2003


do Estado do Rio Grande do Norte que permitem a investidura de pessoa não
integrante da carreira (advogados com reconhecido saber jurídico e idoneidade) no
cargo de Defensor Público-Geral do estado e de seu substituto, mediante livre nomeação
e exoneração pelo governador do estado, isto é, mediante critérios distintos do que
estabelece a Lei Complementar 80/1994. Jurisprudência: ADI 2.903 e ADI 5.286.

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1114/2023 |

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Portaria 284, de 24.10.2023 - Altera o inciso I do art. 1º da Portaria 48, de 10 de feve-
reiro de 2023.

Resolução 809, de 25.10.2023 - Acresce dispositivo ao artigo 7º da Resolução 787, de


8 de setembro de 2022.

Portaria 283, de 25.10.2023 - Comunica a abertura de crédito suplementar ao Orçamento


Fiscal do Supremo Tribunal Federal.

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estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
16
Edição 1115/2023

14 DE NOVEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Cínthia Aryssa Okada

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1115/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 14 de novembro de 2023.
INFORMATIVO STF 14 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1115/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 14 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1115/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Serviço Exterior Brasileiro; Servidores Públicos; Diplomatas; Transferência;


Critérios Etários

• Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro: critérios etários para a


transferência de diplomatas - ADI 7.399/DF

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Princípios da Administração Pública; Cargo Público; Princípio da Isonomia


Tributária

• Lei de Repatriação: exclusão de detentores de cargos públicos e eletivos do


regime legal - ADI 5.586/DF

» Repartição de Competências; Defesa do Consumidor; Proteção do Meio


Ambiente; Direitos e Garantias Fundamentais

• Obrigatoriedade de fornecimento do certificado de composição química de


combustíveis em âmbito estadual - ADI 3.752/SP

DIREITO TRIBUTÁRIO

» Limitações ao Poder de Tributar; Imunidade Tributária; Impostos; ICMS;


Crédito Tributário

• ICMS: creditamento decorrente de aquisição de bens de uso e consumo


empregados na elaboração de produtos destinados à exportação - RE
704.815/SC (Tema 633 RG)

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA


• Serviço militar: desligamento voluntário antecipado de oficial militar
(Tema 574 RG) - RE 680.871/RS
INFORMATIVO STF 14 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1115/2023

• Serventias mistas das comarcas do interior: opção de escolha para os


atuais ocupantes efetivos ou estáveis - ADI 3.245/MA

• Vinculação das remunerações de procuradores de Justiça e


desembargadores de Tribunal de Justiça estadual aos subsídios do PGR
e dos ministros do STF - ADI 6.606/MG

• Programa Estadual de Regularização de Terras - ADI 7.326/SP

• Sub-representação de estado no Senado por vacância de cargo de


senador - ADPF 643/DF e ADPF 644/DF

• Incorporação de vantagens pessoais aos subsídios dos membros do


Ministério Público - ADI 3.834/DF

• Zona Franca de Manaus: fim da isenção fiscal de petróleo e derivados


- ADI 7.239/DF

• Extinção de cargos efetivos no Ministério Público estadual - ADI 6.219/BA

• Organização da Polícia Civil: criação do cargo de gestor de Delegacias


Interativas de Polícia (DIPs) do Interior - ADI 6.847/AM

• Combate às organizações criminosas a partir de instrumentos processuais


penais modernos - ADI 5.567/DF

• Devolução de valores de tributos recolhidos pelas distribuidoras de


energia elétrica - ADI 7.324/DF

• Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo


Tribunal de Justiça: necessidade de prévia autorização judicial para a
instauração - ADI 7.447/PA

• Depósitos judiciais e administrativos - ADI 5.361/DF e ADI 5.463/DF

• Destinação dos recursos provenientes das penas de multa ao Fundo


Penitenciário Estadual (Funpen) - ADI 2.935/ES

• Polícia Militar do Rio de Janeiro: regras do concurso público e limite de


vagas para candidatas do sexo feminino - ADI 7.483 MC-Ref/RJ

• Polícia Militar do Distrito Federal: percentual limite para a participação


de mulheres nos quadros da carreira - ADI 7.433/DF

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIÇO EXTERIOR BRASILEIRO; SERVIDORES


PÚBLICOS; DIPLOMATAS; TRANSFERÊNCIA; CRITÉRIOS ETÁRIOS

Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro:


critérios etários para a transferência de diplomatas
- ADI 7.399/DF

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É constitucional — pois inserida na margem de conformação do legislador e justificada


sem que exista violação ao princípio da isonomia (CF/1988, art. 5º, “caput”) — norma
da Lei 11.440/2006 (Regime Jurídico dos Servidores do Serviço Exterior Brasileiro)
que estabelece critérios etários para a transferência de Ministro de Primeira Classe,
Ministro de Segunda Classe e Conselheiro para o Quadro Especial da Carreira de
Diplomata, na hipótese em que observada a existência de vaga, independente-
mente do tempo de serviço na respectiva classe.

O tratamento normativo diferenciado é compatível com a CF/1988, tendo em vista as


peculiaridades do modelo adotado para a carreira diplomática e os efeitos jurídicos
decorrentes, cuja abordagem exige o delineamento constitucional sobre critérios etá-
rios com maior extensão.

Na espécie, o atual modelo de transferência para o Quadro Especial não impede a


progressão funcional nem o exercício das funções, e tem como único efeito prático a
abertura de vagas no Quadro Ordinário da Carreira de Diplomata.

Nesse contexto, não constituem elementos essenciais para o deslinde da controvérsia


constitucional a elevação da idade prevista para a aposentadoria compulsória (75 anos),
estabelecida pela EC 88/2015, nem o potencial entrave pelo preenchimento maciço das
vagas no Quadro Especial em razão de transferências motivadas em critérios etários.
Isso porque o ambiente apropriado para a reformulação da carreira, tendo em conta
recentes modificações normativas e fáticas, é o Poder Legislativo.

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou


improcedente a ação para assentar a constitucionalidade do art. 55, caput, I, II, III e §
1º, da Lei 11.440/2006 (1), nos trechos em que estabelece critérios etários para a trans-
ferência dos Diplomatas ao Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro.

(1) Lei 11.440/2006: “Art. 54. Serão transferidos para o Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro,
condicionado ao atendimento do disposto nos arts. 16 e 17 da Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000, e
observada a existência de vaga, em ato do Presidente da República, na forma estabelecida por esta Lei: I – o
Ministro de Primeira Classe, o Ministro de Segunda Classe e o Conselheiro para cargo da mesma natureza,
classe e denominação; II – o Primeiro-Secretário para o cargo de Conselheiro; e III – o Segundo-Secretário
para o cargo de Primeiro-Secretário. Parágrafo único. O Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro é
composto pelo quantitativo de cargos em cada classe, na forma do Anexo II desta Lei. Art. 55. Observado o
disposto no art. 54 desta Lei, serão transferidos para o Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro: I – o
Ministro de Primeira Classe, ao completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou 15 (quinze) anos de classe;
II – o Ministro de Segunda Classe, ao completar 60 (sessenta) anos de idade ou 15 (quinze) anos de classe;
III – o Conselheiro, ao completar 58 (cinquenta e oito) anos de idade ou 15 (quinze) anos de classe; (...) § 1º A
transferência para o Quadro Especial do Serviço Exterior Brasileiro ocorrerá na data em que se verificar a
primeira das 2 (duas) condições previstas em cada um dos incisos I, II e III do caput deste artigo.”

ADI 7.399/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 7.11.2023 (terça-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA;


CARGO PÚBLICO; PRINCÍPIO DA ISONOMIA TRIBUTÁRIA

DIREITO TRIBUTÁRIO – REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA

Lei de Repatriação: exclusão de detentores de cargos


públicos e eletivos do regime legal - ADI 5.586/DF

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É constitucional — pois inserida na margem de conformação do legislador e


justificada pela necessidade de obediência aos princípios da probidade, da
impessoalidade e da moralidade administrativa — norma que excluiu do Regime
Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) os detentores de cargos,
empregos e funções públicas de direção ou eletivas, bem como seus cônjuges e
parentes até o segundo grau.

A Lei 13.254/2016, chamada de “Lei de Repatriação”, instituiu o RERCT, o qual abrange


recursos, bens e direitos de natureza lícita, não declarados ou declarados incorretamente,

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

remetidos ou mantidos no exterior, ou repatriados por residentes ou domiciliados no País,


de modo que concedeu anistia tributária e penal aos que dele desejassem participar.

Na espécie, o legislador, considerando que a conduta ilibada, pautada na ética, na


boa-fé e no estrito cumprimento aos ditames legais, deve ser mantida tanto na vida
profissional quanto em âmbito pessoal, expressamente afastou os efeitos da lei em
relação aos detentores de cargos, empregos e funções públicas de direção ou eletivas,
isto é, aqueles que integram efetivamente o aparelho estatal, e também aos respec-
tivos cônjuges e parentes até segundo grau, a fim de alcançar crimes financeiros, tri-
butários e econômicos consumados inclusive por pessoas interpostas, que são, muitas
vezes, justamente esses parentes ou indivíduos próximos.

Nesse contexto, inexiste a alegada violação ao princípio constitucional da isonomia


tributária, porque a imposição do mencionado regime mais gravoso configura medida
razoável e que visa atender aos princípios que regem a Administração Pública (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação
para declarar a constitucionalidade do art. 11 da Lei 13.254/2016 (2).

(1) Precedentes citados: RE 640.905 e ADI 2.661 MC.

(2) Lei 13.254/2016: “Art. 11 Os efeitos desta Lei não serão aplicados aos detentores de cargos, empregos e
funções públicas de direção ou eletivas, nem ao respectivo cônjuge e aos parentes consanguíneos ou afins,
até o segundo grau ou por adoção, na data de publicação desta Lei.”

ADI 5.586/DF, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
virtual finalizado em 7.11.2023 (terça-feira), às 23:59

Afastamento da lei de repatriação em relação a servidores públicos


Princípio da moralidade
Princípio da probidade
Princípio da impessoalidade

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; DEFESA DO


CONSUMIDOR; PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE; DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS

Obrigatoriedade de fornecimento do certificado de


composição química de combustíveis em âmbito
estadual - ADI 3.752/SP

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É constitucional — por não violar o princípio do pacto federativo nem as regras


do sistema de repartição de competências — lei estadual que obriga todas as
refinarias e distribuidoras de combustíveis operantes em seu território a fornecerem
certificado de composição química de cada produto, quando houver entrega de
álcool, gasolina “C” comum, gasolina aditivada, gasolina premium e diesel.

Na espécie, a lei estadual impugnada dispõe sobre temática inserida na competência


concorrente da União, estados e do Distrito Federal para legislar sobre produção e
consumo, bem como sobre proteção do meio ambiente e controle da poluição (CF/1988,
art. 24, VI e VIII). Ela não trata de qualquer aspecto diretamente relacionado à energia
(CF/1988, arts. 21, XII, b; e 22, IV).

Ademais, a norma atende ao comando constitucional da promoção da defesa do


consumidor (CF/1988, art. 5º, XXXII), com fins de concretizar o direito fundamental de
acesso à informação (CF/1988, art. 5º, XIV). Inclusive, as defesas do consumidor e do
meio ambiente constituem princípios gerais da ordem econômica, de observância obri-
gatória por todos os atores, atividades e relações econômicas (CF/1988, art. 170, V e VI).

Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte reconhece a constitucionalidade de atos


normativos estaduais voltados a garantir a proteção do consumidor, particularmente
quanto ao direito de obter informações corretas, claras, precisas e ostensivas sobre
a natureza, a procedência e a qualidade dos produtos, no caso, dos combustíveis
comercializados (1).

Além disso, o texto constitucional prevê como de competência material comum a todos
os entes federativos a implementação de medidas direcionadas a cuidar da saúde
pública, proteger o meio ambiente e combater a poluição (CF/1988, art. 23, II e VI),

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

motivo pelo qual é pertinente a atuação de órgão do estado para fiscalizar e contro-
lar o cumprimento de lei com esse objeto.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou impro-
cedente a ação para declarar a constitucionalidade da Lei 10.994/2001 do Estado
de São Paulo (2).

(1) Precedentes citados: ADI 2.832 e ADI 1.980.

(2) Lei 10.994/2001 do Estado de São Paulo: “Artigo 1.º - Ficam obrigadas as refinarias e distribuidoras, em
todo o Estado de São Paulo, a fornecer Certificado de Composição Química de cada produto, quando da
entrega dos combustíveis: álcool, gasolina ‘C’ comum, gasolina aditivada, gasolina ‘premium’ e diesel. Artigo
2.º - O Certificado de Composição Química de cada produto deverá ficar em cada posto revendedor de
combustível para ser apresentado à fiscalização, quando solicitado. Artigo 3.º - Do Certificado de Composição
Química deverão constar, de forma clara e precisa, todos os componentes químicos (ainda que traços), as
diversas cadeias químicas, as misturas, bem como as porcentagens de todos os componentes químicos.
Artigo 4.º - O certificado mencionado nos artigos anteriores deverá ser assinado por químico habilitado
pelo Conselho Regional de Química. Artigo 5.º - Cada base distribuidora terá, no mínimo, um químico
habilitado, laboratório e equipamentos que possibilitem a análise e a emissão dos certificados. Artigo 6.º - A
elaboração do Certificado de Composição Química a que se refere o Artigo 1.º dar-se-á segundo métodos
de análise determinados pelo Conselho Regional de Química, obedecendo aos padrões internacionais de
análise de combustíveis e atendendo aos padrões e normas do órgão regulamentador: Agência Nacional
do Petróleo. Artigo 7.º - Compete à Secretaria do Meio Ambiente a fiscalização e o controle da presente lei.
Artigo 8.º - O descumprimento do disposto na presente lei, por qualquer das partes, implicará a aplicação
de multa de 1.000 (um mil) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo – UFESPs ao infrator. Parágrafo único
- A reincidência implicará a aplicação em dobro da pena. Artigo 9.º - O Poder Executivo expedirá normas
regulamentadoras para o cumprimento da presente lei, no prazo máximo de 90 (noventa) dias a partir da
sua publicação. Artigo 10 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Artigo 11 - Ficam revogadas
as disposições em contrário.”

ADI 3.752/SP, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 7.11.2023 (terça-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

DIREITO TRIBUTÁRIO – LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR; IMUNIDADE


TRIBUTÁRIA; IMPOSTOS; ICMS; CRÉDITO TRIBUTÁRIO

ICMS: creditamento decorrente de aquisição de bens


de uso e consumo empregados na elaboração de
produtos destinados à exportação - RE 704.815/SC
(Tema 633 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

TESE FIXADA:

“A imunidade a que se refere o art. 155, § 2º, X, ‘a’, CF/88 não alcança, nas opera-
ções de exportação, o aproveitamento de créditos de ICMS decorrentes de aqui-
sições de bens destinados ao uso e consumo da empresa, que depende de lei
complementar para sua efetivação.”

RESUMO:

É necessário lei complementar para efetivar o direito ao aproveitamento de cré-


ditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens de uso e consumo empregados
na elaboração de produtos destinados à exportação.

A EC 42/2003, que alterou a redação dada ao art. 155, § 2º, X, a, da Constituição


Federal de 1988 (1), teve como finalidades (i) garantir estatura constitucional à desone-
ração das exportações; (ii) vedar a concessão ou prorrogação de benefícios e incen-
tivos fiscais ou financeiros; e (iii) realçar que a transição para o novo modelo de ICMS
ocorreria por meio de lei complementar.

Nesse contexto, ela não alterou a sistemática de creditamento nas mercadorias destina-
das à exportação adotada originalmente pela CF/1988, qual seja, o critério de crédito
físico, mediante o qual apenas os bens que se integrem fisicamente à mercadoria dão
ensejo ao creditamento, pois já submetidos à dupla incidência tributária, na entrada e
na saída da mercadoria. Isso porque não se pode inferir uma ruptura desse modelo
para o do crédito financeiro, que prescreve que todo e qualquer bem ou insumo uti-
lizado na elaboração da mercadoria, ainda que consumido durante o processo pro-
dutivo, daria direito a crédito de ICMS.

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

O que ocorreu foi uma ampliação da imunidade que até então incidia somente em
relação aos produtos industrializados e passou a abranger todas as mercadorias des-
tinadas ao exterior, inclusive os produtos primários e os semielaborados.

Uma ruptura dos parâmetros atuais pode ocorrer apenas se constar expressamente
do texto constitucional ou de algum fato novo que, por si só, seja suficiente para aba-
lar o contexto consolidado pelo texto constitucional, pela lei e pela jurisprudência do
STF. Ademais, o princípio da não exportação de tributos não possui força normativa
para alterar o texto constitucional ou a interpretação adotada por esta Corte quanto
à sistemática do creditamento do ICMS (2), sendo certo que os “créditos financeiros”
não podem ser subentendidos.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o


Tema 633 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário.

(1) CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - relativamente
a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver
domicílio o doador, ou ao Distrito Federal; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...)
X - não incidirá: a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados
a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado
nas operações e prestações anteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)”

(2) Precedentes citados: RE 754.917 (Tema 475 RG); RE 447.470 AgR; AI 685.740 AgR-ED; RE 200.168; AI
250.852 ED; AI 487.396 AgR; AI 807.119 AgR; RE 644.541 AgR; AI 488.345 ED e RE 601.967 (Tema 346 RG).

RE 704.815/SC, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 7.11.2023 (terça-feira), às 23:59

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 10/11/2023 a 20/11/2023

RE 680.871/RS REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Serviço militar: desligamento voluntário antecipado de oficial militar


(Tema 574 RG)

Exame constitucional — à luz do art. 5º, XV, da CF/1988, e de eventual ocorrência


de efetivo prejuízo à Administração Pública por preterir interesse público em prol do
individual — a respeito da possibilidade de oficial militar, que ingressa na carreira
por meio de concurso público, solicitar o desligamento antes do lapso temporal
previsto em lei.

ADI 3.245/MA
Relator: Ministro MARCO AURÉLIO

Serventias mistas das comarcas do interior: opção de escolha para


os atuais ocupantes efetivos ou estáveis

Análise da constitucionalidade — à luz do princípio da segurança jurídica — de


dispositivo da Lei Complementar 68/2003 do Estado do Maranhão que oportuniza
aos atuais ocupantes, efetivos ou estáveis, das serventias mistas das comarcas do
interior do estado, o direito de optar entre a serventia extrajudicial ou o cargo no
Poder Judiciário estadual com seus vencimentos atuais.

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

ADI 6.606/MG
Relator: Ministro GILMAR MENDES

Vinculação das remunerações de procuradores de Justiça e


desembargadores de Tribunal de Justiça estadual aos subsídios do
PGR e dos ministros do STF

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Lei 21.941/2015; e art. 1º da Lei


21.942/2015, ambas do Estado de Minas Gerais que vinculam a remuneração de
determinados cargos estaduais aos subsídios de ministro do STF e do Procurador-
Geral da República. Jurisprudência: ADI 117 MC, ADI 193 MC e ADI 196.

ADI 7.326/SP
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Programa Estadual de Regularização de Terras

Debate acerca da constitucionalidade da Lei 17.557/2022 e Decreto 67.151/2022,


ambos do Estado de São Paulo que, respectivamente, cria e regulamenta o Programa
Estadual de Regularização de Terras, o qual autoriza a Fazenda estadual a transigir
e a celebrar acordos, judicial ou administrativamente, para fins de alienação, com
vistas a prevenir demandas ou extinguir as que estiverem pendentes, em todas as
fases dos processos discriminatórios, reivindicatórios e de regularização de posses
em terras devolutas.

ADPF 643/DF
ADPF 644/DF
Relatora: Ministra ROSA WEBER

Sub-representação de estado no Senado por vacância de cargo de senador

Análise constitucional acerca da violação a preceitos fundamentais na hipótese em


que os estados ou o Distrito Federal ficam sub-representados no Senado Federal pelo
período necessário à realização de novas eleições, em decorrência da cassação do
diploma do senador eleito e de seu suplente pela Justiça Eleitoral.

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

ADI 3.834/DF
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Incorporação de vantagens pessoais aos subsídios dos membros do


Ministério Público

Controvérsia a respeito da constitucionalidade de dispositivo da Resolução 9/2006


do CNMP que prevê a incorporação de vantagens pessoais decorrentes de exercício
de função de direção, chefia ou assessoramento aos subsídios dos membros do
Ministério Público.

ADI 7.239/DF
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Zona Franca de Manaus: fim da isenção fiscal de petróleo e derivados

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Lei 14.183/2021 que excetuou a


Zona Franca de Manaus do regime de isenção fiscal de lubrificantes e combustíveis
líquidos e gasosos derivados de petróleo, com relação ao imposto de importação
(II) e ao imposto sobre produtos industrializados (IPI).

ADI 6.219/BA
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Extinção de cargos efetivos no Ministério Público estadual

Questionamento acerca da higidez constitucional da Lei 14.044/2018 do Estado da


Bahia que, ao reestruturar o Plano de Carreiras e Vencimentos dos Servidores do
Ministério Público estadual, transformou 100 cargos efetivos em comissionados, ou
seja, em montante desproporcional ao número de cargos públicos de provimento
efetivo, providos ou não.

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

ADI 6.847/AM
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Organização da Polícia Civil: criação do cargo de gestor de Delegacias


Interativas de Polícia (DIPs) do Interior

Averiguação da higidez constitucional de dispositivos da Lei 4.535/2017 e da Lei


3.848/2012, ambas do Estado do Amazonas que criam o cargo de gestor de
Delegacias Interativas de Polícia (DIPs) do Interior, a ser escolhido entre os integrantes
da carreira policial, que possuam formação acadêmica de bacharel em Direito.

ADI 5.567/DF
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Combate às organizações criminosas a partir de instrumentos


processuais penais modernos

Discussão constitucional em face de dispositivos da Lei 12.850/2013 (Lei das Organizações


Criminosas) que define organização criminosa e disciplina a investigação criminal,
os meios de obtenção de prova, as infrações penais correlatas e o procedimento
criminal aplicável.

SUMÁRIO
16
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

ADI 7.324/DF
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Devolução de valores de tributos recolhidos pelas distribuidoras de


energia elétrica

Controvérsia constitucional a respeito de dispositivo da Lei 14.385/2022, que atribui


à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a competência para disciplinar a
devolução de valores de tributos recolhidos a maior pelas prestadoras do serviço
público de distribuição de energia elétrica, por ocasião de alterações normativas
ou de decisões administrativas ou judiciais que impliquem redução de quaisquer
tributos, ressalvados os incidentes sobre a renda e o lucro.

ADI 7.447/PA
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo


Tribunal de Justiça: necessidade de prévia autorização judicial para
a instauração

Análise da necessidade de autorização judicial prévia para a instauração de


investigações penais de agentes públicos detentores de foro por prerrogativa de
função.

ADI 5.361/DF
ADI 5.463/DF
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Depósitos judiciais e administrativos

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar 151/2015 que


tratam da utilização de depósitos judiciais e extrajudiciais por estados, Distrito Federal
e municípios, nos processos em que sejam parte.

SUMÁRIO
17
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

ADI 2.935/ES
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Destinação dos recursos provenientes das penas de multa ao Fundo


Penitenciário Estadual (Funpen)

Discussão acerca da constitucionalidade de dispositivo da Lei Complementar 68/1995


do Estado do Espírito Santo — à luz do regime de repartição de competências e
do pacto federativo — que estabelece os valores decorrentes de multas pecuniárias
fixadas nas sentenças judiciais como uma das fontes de recursos do Fundo Penitenciário
Estadual (Funpen).

ADI 7.483 MC-Ref/RJ


Relator: Ministro CRISTIANO ZANIN

Polícia Militar do Rio de Janeiro: regras do concurso público e limite


de vagas para candidatas do sexo feminino

Referendo de decisão na qual o relator suspendeu, até o efetivo julgamento de


mérito da ação, o concurso para provimento de vagas no curso de formação de
soldados do quadro da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, decorrente do
Edital de Abertura 001/2-23 - SEPM, de 25 de maio de 2023, inclusive a aplicação
de nova prova objetiva ou divulgação de quaisquer resultados. Jurisprudência: ARE
1.424.503 AgR.

ADI 7.433/DF
Relator: Ministro CRISTIANO ZANIN

Polícia Militar do Distrito Federal: percentual limite para a participação


de mulheres nos quadros da carreira

Discussão sobre a constitucionalidade de dispositivos da Lei 9.713/1998 que estabelecem


o limite de 10% para a participação de mulheres nos quadros da Polícia Militar do
Distrito Federal. Jurisprudência: ARE 1.424.503 AgR.

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1115/2023 |

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Portaria GDG 274, de 6.11.2023 - Altera o inciso XIII do Anexo da Portaria GDG 242,
de 8 de setembro de 2020.

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
19
Edição 1116/2023

20 DE NOVEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Ana Carolina Caetano
Cínthia Aryssa Okada
INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1116/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 20 de novembro de 2023.
INFORMATIVO STF 20 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1116/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 20 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1116/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO
» Cargo Público; Provimento Derivado; Concurso Público

• Provimento derivado em âmbito estadual: polícia penal e preenchimento de


cargos mediante transformação e aproveitamento de outros - ADI 7.229/AC

DIREITO AMBIENTAL
» Licenciamento Ambiental; Procedimentos Simplificados; Proibição ao
Retrocesso Socioambiental

• Regras sobre licenciamento ambiental em âmbito estadual - ADI 5.014/BA

DIREITO CIVIL
» Família; Casamento; Dissolução; Divórcio

• EC 66/2010: desnecessidade de separação judicial prévia para se divorciar


- RE 1.167.478/RJ (Tema 1.053)

DIREITO CONSTITUCIONAL
» Processo Legislativo; Leis; Ministério Público; Estatuto do Ministério Público

• Ministério Público estadual: organização e regulamentação por lei ordinária


- ADI 3.194/RS

» Repartição de Competências; Normas Gerais; Defensoria Pública; Escolha


da Chefia

• Escolha do chefe de Defensoria Pública estadual e seu substituto: impossibilidade


de não ser integrante da carreira - ADI 4.982/RN

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


» Juizados Especiais; Liquidação, Cumprimento e Execução; Título Judicial

• Juizados Especiais: inexigibilidade da execução do título executivo judicial


e efeitos da decisão com trânsito em julgado em face de declaração de
inconstitucionalidade proferida pelo STF - RE 586.068/PR (Tema 100 RG)
INFORMATIVO STF 20 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1116/2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Auxílio emergencial pecuniário para pescadores profissionais artesanais


(Tema 1.159 RG) - RE 1.321.219/CE

• Transposição de cargo: servidor público federal aposentado no cargo de


assistente jurídico da Administração Direta (Tema 553 RG) - RE 682.934/DF

• Transformação de cargos públicos: similaridade de atribuições e nível


de escolaridade - ADI 4.151/DF, ADI 6.966/DF e ADI 4.616/DF

• Pagamento eletrônico de ICMS: possibilidade de acesso sistêmico a dados


bancários pelas administrações tributárias estaduais - ADI 7.276/DF

• Registros de candidatura: data limite para aferir alterações supervenientes


que possam afastar a inelegibilidade do candidato - ADI 7.197/DF

• Intervenção estadual nos municípios - ADI 7.369/MT

• Concessionárias estaduais de serviços público de fornecimento de água e


energia elétrica: obrigatoriedade do oferecimento da opção de pagamento
por meio de cartão de débito e de crédito - ADI 7.405/MT

• Acesso à educação aos dependentes de diplomatas em idade escolar -


ADPF 1.073/DF

• Prescrição de multas ambientais - ADPF 1.009/DF

• Banco Central: aquisição de papel-moeda e moeda metálica fabricados


fora do País por fornecedor estrangeiro - ADI 6.936/DF

• Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito estadual


- ADI 7.400/MT

• Cancelamento de matrícula e de registro de imóveis rurais pelo corregedor-


geral de justiça - ADPF 1.056/DF

• Poder Legislativo: autoridades sujeitas à sua fiscalização e definição de


crimes de responsabilidade - ADI 6.653/PB

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – CARGO PÚBLICO; PROVIMENTO DERIVADO;


CONCURSO PÚBLICO

Provimento derivado em âmbito estadual: polícia penal


e preenchimento de cargos mediante transformação
e aproveitamento de outros - ADI 7.229/AC

ÁUDIO
DO TEXTO

TESE FIXADA:

“A transformação de carreira de nível médio em outra de nível superior, com atribuições


distintas, constitui forma de provimento derivado vedada pelo art. 37, II, da CF/88.”

RESUMO:

É inconstitucional — por violar a exigência de provimento de cargos públicos por


meio de concurso (CF/1988, art. 37, II) — norma de Constituição estadual que, a
pretexto de promover uma reestruturação administrativa, aproveita e transforma
cargos com exigências de escolaridade e atribuições distintas.

O texto constitucional impõe que a investidura em cargos ou empregos públicos ocorra


por meio de prévia aprovação em concurso público de provas e títulos, de acordo
com suas respectivas natureza e complexidade, na forma prevista na lei, ressalvadas
as nomeações para cargo em comissão declarado em lei, o qual é de livre nomeação
e exoneração.

Na espécie, os cargos de motorista penitenciário (nível médio) e policial penal (nível


superior) não possuem requisitos semelhantes para o provimento nem atividades equi-
valentes, sendo inviável que sejam transformados uns nos outros de forma coerente
com a regra do certame público. De igual modo, o cargo de agente socioeducativo
(nível médio) desenvolve atividade de prevenção e educação, nos termos do ECA, ao
passo que o de polícia penal, atividade repressiva de natureza policial. Assim, também
não há semelhança das atribuições desses dois cargos, em especial porque, embora

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

os agentes atuem na condução e acompanhamento de menores em unidades opera-


cionais de execução de medidas socioeducativas, não fazem parte do Sistema Único
de Segurança Pública (Susp) (1), sendo certo que as referidas unidades operacionais
não integram a lista de órgãos repressivos de segurança pública (CF/1988, art. 144).

Conforme jurisprudência desta Corte, são inconstitucionais as normas que permitem


a investidura em cargos ou empregos públicos diversos daqueles para os quais se
prestou concurso (2).

Ademais, ao servidor temporário — cuja exceção à regra do concurso público só é


justificável se configurada a transitoriedade da contratação e a excepcionalidade do
interesse público — é vedado ascender a cargo de provimento efetivo e sua estabili-
dade sem a realização de prévio concurso público (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação
para declarar a inconstitucionalidade (i) da expressão “os cargos de Motorista
Penitenciário Oficial”, prevista no art. 7º, II, da EC 53/2019 à Constituição do Estado
do Acre (4); e (ii) da expressão “socioeducativo”, contida no caput do art. 134-A e no
§ 1º do art. 134, ambos da Constituição do Estado do Acre, na redação dada pela
EC acreana 63/2022 (5).

(1) Precedentes citados: ADI 5.359 e ADI 6.999.

(2) Precedentes citados: ADI 3.190; ADI 1.350 e ADI 4.303.

(3) Precedentes citados: RE 658.026 (Tema 612 RG); ADI 3.247; ADI 3.663 e ADI 5.664.

(4) EC 53/2019 à Constituição do Estado do Acre: “Art. 7º Em decorrência do disposto no art. 4º da Emenda à
Constituição Federal nº 104, de 4 de dezembro de 2019, ficam transformados no cargo de Policial Penal: (...)
II – os cargos de Motorista Penitenciário Oficial, previsto na Lei nº 3.259, de 20 de junho de 2017.”

(5) Constituição do Estado do Acre: “Art. 134–A. A Polícia Penal é estruturada em carreira, cujo o ingresso dar-
se-á mediante aprovação em concurso público de provas e títulos, e por meio de transformação dos atuais
agentes penitenciários, socioeducativo e dos cargos equivalentes (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 63, de 22/06/2022) § 1º Nos Quadros da Polícia Penal serão aproveitados os Agentes penitenciários,
socioeducativos e dos cargos públicos equivalentes contratados em caráter temporário com mais de 05 (cinco)
anos de serviço contínuo e ininterrupto, através do benefício da estabilidade que durará até a aposentadoria
destes. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 63, de 22/06/2022)”

ADI 7.229/AC, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acórdão Ministro Luís Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 10.11.2023 (sexta-feira), às 23:59

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

DIREITO AMBIENTAL – LICENCIAMENTO AMBIENTAL; PROCEDIMENTOS


SIMPLIFICADOS; PROIBIÇÃO AO RETROCESSO SOCIOAMBIENTAL

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; PROTEÇÃO


DO MEIO AMBIENTE; RESPONSABILIDADE POR DANO AMBIENTAL

Regras sobre licenciamento ambiental em âmbito


estadual - ADI 5.014/BA

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É constitucional — pois não viola o princípio do pacto federativo e as regras do


sistema de repartição de competências — norma estadual que cria modelo sim-
plificado de licenciamento ambiental para regularização de atividades ou empre-
endimentos em instalação ou funcionamento, e para atividades de baixo e médio
potencial poluidor.

Cabe à União elaborar as normas gerais sobre proteção do meio ambiente e respon-
sabilidade por dano ambiental, de modo a fixar, no interesse nacional, as diretrizes
que devem ser observadas pelas demais unidades federativas (CF/1988, art. 24, VI e
VIII). Assim, em matéria de licenciamento ambiental, os estados possuem competência
suplementar, a fim de atender às peculiaridades locais e preencherem lacunas nor-
mativas que atendam às características e necessidades regionais.

Conforme jurisprudência desta Corte, os estados podem criar procedimentos ambien-


tais simplificados em complementação à legislação federal (1).

Na espécie, a lei estadual impugnada criou a Licença de Regularização (LR) e a Licença


Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC), as quais se situam no âmbito normativo
concorrente e concretizam o dever constitucional de suplementar a legislação sobre
licenciamento ambiental (Lei federal 6.938/1981), à luz da predominância do interesse
em estabelecer procedimentos específicos para atividades e empreendimentos locais.

É constitucional — pois não ofende o princípio da proibição ao retrocesso socio-


ambiental — lei estadual que dispensa a faculdade de ocorrência de prévias con-
sultas públicas para subsidiar a elaboração do Termo de Referência do Estudo de
Impacto Ambiental, anteriormente prevista em sua redação original.

SUMÁRIO
8
STF entendeu em caso oriundo da Bahia que procedimento simplificado em
licenciamento ambiental seria possível. O principio da vedação ao retrocesso nao e
absoluto. Somente impede que o núcleo essencial do direito seja violado. Nada impede
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |
a aplicação da resolução do conama. Nao eliminou a participação da sociedade civil.
Nao houve dispensa da fiscalização ambiental.

O referido princípio não é absoluto e somente é tido por inobservado quando o núcleo
essencial do direito fundamental já concretizado pela norma é desrespeitado, de modo
a esvaziar ou até mesmo inviabilizar a eficácia do direito social garantido por norma
anterior (2). Nesse contexto, caso se verifique a subsistência de um sistema eficaz de
controle ou de proteção, o mencionado núcleo continuará a ser tutelado.

Na espécie, as alterações legislativas não eliminaram, no âmbito estadual, a partici-


pação da sociedade civil no procedimento de concessão de licenciamento ambien-
tal, motivo pelo qual inexiste infringência ao princípio da participação social (princípio
democrático), em especial porque a proteção ambiental não foi eliminada nem houve
dispensa da fiscalização ambiental.

Ademais, em se tratando de matéria de competência concorrente, nada impede a apli-


cabilidade de normas federais em âmbito estadual, como, por exemplo, a realização
de audiências públicas nos moldes de resolução do CONAMA (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação
para declarar a constitucionalidade dos arts. 40, 45, VII e VIII, e 147, todos da Lei
10.431/2006, com a redação que lhes foi conferida pela Lei 12.377/2011, ambas do
Estado da Bahia (4).

(1) Precedentes citados: ADI 4.615 e ADI 6.288.

(2) Precedentes citados: ADI 4.717; ADI 4.350; ADI 5.224 e ADC 42.

(3) Resolução CONAMA 9/1987: “Art. 1º. A Audiência Pública referida na RESOLUÇÃO CONAMA nº 1/86, tem
por finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo
dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito. Art. 2º. Sempre que julgar necessário,
ou quando for solicitado pôr entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos,
o Órgão do Meio Ambiente promoverá a realização de Audiência Pública. § 1º. O Órgão de Meio Ambiente, a
partir da data do recebimento do RIMA, fixará em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo
que será no mínimo de 45 dias para solicitação de audiência pública. § 2º. No caso de haver solicitação de
audiência pública e na hipótese do Órgão Estadual não realizá-la, a licença não terá validade. § 3º. Após
este prazo, a convocação será feita pelo Órgão licenciador, através de correspondência registrada aos
solicitantes e da divulgação em órgãos da imprensa local. § 4º. A audiência pública deverá ocorrer em local
acessível aos interessados. § 5º. Em função da localização geográfica dos solicitantes se da complexidade
do tema, poderá haver mais de uma audiência pública sobre o mesmo projeto e respectivo Relatório de
Impacto Ambiental - RIMA.”

(4) Lei 10.431/2006, com a redação dada pela Lei 12.377/201, ambas do Estado da Bahia: “Art. 40. Serão
realizadas audiências públicas para apresentação e discussão do Estudo de Impacto Ambiental e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA. (...) Art. 45. O órgão ambiental competente expedirá as seguintes
licenças, sem prejuízo de outras modalidades previstas em normas complementares a esta Lei: (...) VII - Licença
de Regularização (LR): concedida para regularização de atividades ou empreendimentos em instalação ou
funcionamento, existentes até a data da regulamentação desta Lei, mediante a apresentação de estudos
de viabilidade e comprovação da recuperação e/ou compensação ambiental de seu passivo, caso não
haja risco à saúde da população e dos trabalhadores; VIII - Licença Ambiental por Adesão e Compromisso
(LAC): concedida eletronicamente para atividades ou empreendimentos em que o licenciamento ambiental
seja realizado por declaração de adesão e compromisso do empreendedor aos critérios e pré-condições
estabelecidos pelo órgão licenciador, para empreendimentos ou atividades de baixo e médio potencial
poluidor, nas seguintes situações: a) em que se conheçam previamente seus impactos ambientais, ou; b)
em que se conheçam com detalhamento suficiente as características de uma dada região e seja possível
estabelecer os requisitos de instalação e funcionamento de atividades ou empreendimentos, sem necessidade
de novos estudos; c) as atividades ou empreendimentos a serem licenciados pelo LAC serão definidos por
resolução do CEPRAM. (...) Art. 147. O Conselho Estadual de Meio Ambiente - CEPRAM, órgão superior do
SISEMA, com funções de natureza consultiva, normativa, deliberativa e recursal, tem por finalidade apoiar o
planejamento e acompanhamento da Política Estadual de Meio Ambiente e de Proteção da Biodiversidade e

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

das diretrizes governamentais voltadas para o meio ambiente, a biodiversidade e a definição de normas e
padrões relacionados à preservação e conservação dos recursos naturais, competindo-lhe:”

ADI 5.014/BA, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 10.11.2023 (sexta-feira),
às 23:59

DIREITO CIVIL – FAMÍLIA; CASAMENTO; DISSOLUÇÃO; DIVÓRCIO

EC 66/2010: desnecessidade de separação judicial


prévia para se divorciar - RE 1.167.478/RJ (Tema 1.053 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3

TESE FIXADA:

“Após a promulgação da EC nº 66/2010, a separação judicial não é mais requi-


sito para o divórcio nem subsiste como figura autônoma no ordenamento jurídico.
Sem prejuízo, preserva-se o estado civil das pessoas que já estão separadas, por
decisão judicial ou escritura pública, por se tratar de ato jurídico perfeito (art. 5º,
XXXVI, da CF).”

RESUMO:

Com o advento da EC 66/2010, a separação judicial deixou de ser um requisito


para o divórcio, bem como uma figura autônoma no ordenamento jurídico brasi-
leiro. Por essa razão, as normas do Código Civil que tratam da separação judicial
perderam sua validade, a partir dessa alteração constitucional, o que permite que
as pessoas se divorciem, desde então, a qualquer momento.

Em sua redação original, a CF/1988 previu que o casamento civil poderia ser dissolvido
pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos
em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos (1).

A alteração promovida pela EC 66/2010 objetivou simplificar o rompimento do vínculo


matrimonial, eliminando as referidas condicionantes (2). Nesse contexto, a moldura

SUMÁRIO
10
Não existe mais a separação judicial no Brasil.
A eliminação dos requisitos previstos na EC 66 afastou por completo a
INFORMATIVO STF
possibilidade de conformação legislativa nesse sentido EDIÇÃO 1116/2023 |

atual prescreve que o divórcio é incondicionado ou não causal, de modo que a prévia
separação judicial ou fática não é mais necessária para alcançá-lo.

Ademais, a separação judicial não permanece como instituto autônomo, pois a supres-
são da segunda parte do art. 226, § 6º, da CF/1988 significa uma redução na margem
de conformação legislativa, no sentido de inviabilizar a criação de outras condicionantes
para se efetivar o divórcio. Assim, na enunciação “o casamento civil pode ser dissolvido
pelo divórcio”, o verbo “pode” não se dirige ao legislador como uma faculdade, mas
às pessoas casadas, enquanto direito a ser exercido, quando e se assim desejarem.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.053
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e, por maioria,
fixou a tese supracitada.

(1) CF/1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 6º O casamento
civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos
em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.”

(2) CF/1988: “Art. 226. (...) § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela
Emenda Constitucional no 66, de 2010)”

RE 1.167.478/RJ, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 8.11.2023

DIREITO CONSTITUCIONAL – PROCESSO LEGISLATIVO; LEIS; MINISTÉRIO


PÚBLICO; ESTATUTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Ministério Público estadual: organização e


regulamentação por lei ordinária - ADI 3.194/RS

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É formalmente inconstitucional — por não observar a exigência de reserva de lei


complementar (CF/1988, art. 128, § 5º) — lei ordinária estadual, aprovada na vigên-
cia da atual ordem constitucional, que organiza e disciplina as atribuições e regu-
lamenta o Estatuto dos respectivos membros do Ministério Público.

A Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (Lei 6.536/1973),
aprovada como lei ordinária, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

status de lei complementar, pois inexistia, no texto constitucional anterior, previsão de


tramitação específica. No entanto, essa mesma condição não pode ser atribuída às
leis estaduais que a modificaram quando já vigorava a CF/1988 e que, mesmo com
quórum de maioria absoluta, foram aprovadas sob o rito ordinário (1).

É materialmente inconstitucional — por configurar condição incompatível com o dis-


posto no art. 128, § 5º, II, “d”, da CF/1988 c/c o art. 29, § 3º do ADCT — norma estadual
que permite a integração de membro do Ministério Público em comissão de sindicân-
cia ou processo administrativo estranho ao órgão ministerial mediante autorização
do Procurador-Geral de Justiça, ouvido o Conselho Superior do órgão ministerial.

Conforme jurisprudência desta Corte (2), o exercício de cargos e funções estranhos


à carreira do Ministério Público é permitido somente aos membros que ingressaram
no órgão antes da vigência da atual Constituição e fizeram a opção de que trata o
art. 29, § 3º, do ADCT (3) (4). Aos demais, ou seja, aos que não optaram pelo regime
anterior ou que passaram a integrar o Parquet após 5 de outubro de 1988, é vedado
ocupar função pública que não no âmbito da própria instituição, ressalvado um cargo
de magistério.

Na espécie, os diplomas legais estaduais impugnados possibilitaram que membros


do Ministério Público local integrassem comissão de sindicância ou processo adminis-
trativo estranho ao órgão quando o Procurador-Geral de Justiça autorizar, ouvido o
Conselho Superior da instituição. Nesse contexto, essas normas franquearam o exercício
de função de assessoramento do Poder Executivo por membros do órgão ministerial,
mediante requisito não contido no texto constitucional.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcial-


mente da ação e, nessa extensão, a julgou procedente em parte, para declarar (i)
a inconstitucionalidade formal das Leis gaúchas 11.722/2002 e 11.723/2002; e (ii) a
inconstitucionalidade material da expressão “sem autorização do Procurador-Geral
de Justiça, ouvido o Conselho Superior do Ministério Público”, constante do art. 4º-A,
VII, da Lei 6.536/1973, no texto conferido pela Lei 11.722/2002, ambas do Estado do
Rio Grande do Sul (5).

(1) Precedentes citados: ADI 2.831; ADI 4.142. e ADI 5.003.

(2) Precedentes citados: ADI 3.298; ADI 3.574; ADPF 388; ADI 2.612 e RE 218.514.

(3) CF/1988: “Art. 128. O Ministério Público abrange: (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: (...) II - as seguintes vedações:
(...) d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;”

(4) ADCT: “Art. 29. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao Ministério Público e à
Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, as
Consultorias Jurídicas dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias federais com
representação própria e os membros das Procuradorias das Universidades fundacionais públicas continuarão
a exercer suas atividades na área das respectivas atribuições. (...) § 3º Poderá optar pelo regime anterior,
no que respeita às garantias e vantagens, o membro do Ministério Público admitido antes da promulgação
da Constituição, observando-se, quanto às vedações, a situação jurídica na data desta.”

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

(5) Lei 6.536/1973 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 4º-A - Aos membros do Ministério Público é vedado:
(Incluído pela Lei n.º 11.722/02) (...) VII - integrar, sem autorização do Procurador-Geral de Justiça, ouvido o
Conselho Superior do Ministério Público, comissões de sindicância ou de processo administrativo estranhos
ao Ministério Público. (Incluído pela Lei n.º 11.722/02)”

ADI 3.194/RS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 10.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; NORMAS


GERAIS; DEFENSORIA PÚBLICA; ESCOLHA DA CHEFIA

Escolha do chefe de Defensoria Pública estadual e seu


substituto: impossibilidade de não ser integrante da
carreira - ADI 4.982/RN

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É inconstitucional — por conflitar com o modelo estabelecido pela União no exer-


cício de sua competência para legislar sobre normas gerais referentes à assis-
tência jurídica e à Defensoria Pública (CF/1988, art. 24, XIII) — norma estadual que
prevê a livre nomeação e exoneração, pelo governador, dos cargos de Defensor
Público-Geral e do Subdefensor Público-Geral locais, escolhidos dentre advoga-
dos com reconhecido saber jurídico e idoneidade.

A Lei Complementar 80/1994 organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal


e dos territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos estados, e dá
outras providências.

Ao estabelecer critérios para a nomeação do Defensor Público-Geral e do Subdefensor


Público-Geral em descompasso com a referida norma geral preceituada pela União
(art. 99, caput e § 1º), o legislador estadual excedeu os limites de sua competência
legislativa suplementar.

De igual modo, a tentativa de equiparar o Defensor Público-Geral aos Secretários de


Estado, para efeito de prerrogativas, tratamento e remuneração, configura manifesta
infringência aos critérios de nomeação estabelecidos na norma geral federal, em
especial porque aquele é um cargo privativo de membro da carreira e, estes, agentes
políticos sujeitos à livre escolha do governador (1).

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente


procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade, com eficácia ex nunc, a
contar da publicação da ata deste julgamento, (i) da expressão “de livre nomeação e
exoneração pelo Governador do Estado, dentre advogados, com reconhecido saber
jurídico e idoneidade”, contida no caput e no parágrafo único do art. 7º; e (ii) do tre-
cho “de livre nomeação e exoneração pelo Governador do Estado”, constante do art.
8º, ambos da Lei Complementar 251/2003 do Estado do Rio Grande do Norte (2).

(1) Precedente citado: ADI 2.903.

(2) Lei Complementar 251/2003 do Estado do Rio Grande do Norte: “Art. 7º A Defensoria Pública do Estado tem
por chefe o Defensor Público-Geral do Estado, de livre nomeação e exoneração pelo Governador do Estado,
dentre advogados, com reconhecido saber jurídico e idoneidade. Parágrafo único. O Defensor Público-Geral
do Estado, para todos os efeitos, e, especialmente os protocolares e os de correspondência, tem as mesmas
prerrogativas, tratamento e a mesma remuneração devida aos Secretários de Estado. Art. 8º O Defensor
Público-Geral do Estado será substituído, em suas faltas, impedimentos, licenças e férias pelo Subdefensor
Público-Geral, de livre nomeação e exoneração pelo Governador do Estado.”

ADI 4.982/RN, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 10.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – JUIZADOS ESPECIAIS; LIQUIDAÇÃO,


CUMPRIMENTO E EXECUÇÃO; TÍTULO JUDICIAL

DIREITO CONSTITUCIONAL – EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE


INCONSTITUCIONALIDADE; COISA JULGADA

Juizados Especiais: inexigibilidade da execução


do título executivo judicial e efeitos da decisão
com trânsito em julgado em face de declaração
de inconstitucionalidade proferida pelo STF -
RE 586.068/PR (Tema 100 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO VÍDEO DO
JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

TESES FIXADAS:

“1) É possível aplicar o artigo 741, parágrafo único, do CPC/1973, atual art. 535, §
5º, do CPC/2015, aos feitos submetidos ao procedimento sumaríssimo, desde que
o trânsito em julgado da fase de conhecimento seja posterior a 27.8.2001; 2) É
admissível a invocação como fundamento da inexigibilidade de ser o título judicial
fundado em ‘aplicação ou interpretação tida como incompatível com a Constituição’
quando houver pronunciamento jurisdicional, contrário ao decidido pelo Plenário
do Supremo Tribunal Federal, seja no controle difuso, seja no controle concentrado
de constitucionalidade; 3) O art. 59 da Lei 9.099/1995 não impede a desconstitui-
ção da coisa julgada quando o título executivo judicial se amparar em contrarie-
dade à interpretação ou sentido da norma conferida pela Suprema Corte, anterior
ou posterior ao trânsito em julgado, admitindo, respectivamente, o manejo (i) de
impugnação ao cumprimento de sentença ou (ii) de simples petição, a ser apre-
sentada em prazo equivalente ao da ação rescisória.”

RESUMO:

As decisões definitivas de Juizados Especiais podem ser invalidadas quando se


fundamentarem em norma, aplicação ou interpretação jurídicas declaradas incons-
titucionais pelo Plenário do STF — em controle difuso ou concentrado de constitu-
cionalidade — antes ou depois do trânsito em julgado.

O princípio fundamental da coisa julgada (CF/1988, art. 5º, XXXVI) não é absoluto. Em
se tratando de processos submetidos ao rito sumaríssimo, o seu âmbito de incidência
deve ser atenuado para ceder à força normativa da Constituição, quando o título judi-
cial conflitar com inconstitucionalidade declarada por este Tribunal. Ademais, a aplica-
ção ou interpretação constitucional proferida pelo STF, ainda que em sede de controle
incidental, serve de orientação aos tribunais inferiores.

Nesse contexto, o art. 59 da Lei 9.099/1995 — que inadmite ação rescisória nas causas
processadas nos Juizados Especiais — não impede a desconstituição da coisa julgada
firmada sob esse procedimento especial.

Assim, se o pronunciamento do STF for anterior à formação do trânsito em julgado,


deve ser admitida a impugnação ao cumprimento de sentença, pois descumprido cla-
ramente precedente que deveria ter sido observado para a hermenêutica da questão
constitucional, o qual repercutiria na conclusão do caso concreto. Já na hipótese em
que for posterior à coisa julgada, a insurgência deve ser arguida mediante simples
petição, a ser apresentada em prazo equivalente ao da ação rescisória (2 anos), dada
a necessidade de adotar procedimentos judiciais mais céleres e informais na resolução
de conflitos de menor complexidade. Evidentemente, para possuir tamanha eficácia
expansiva, é necessário que a manifestação do STF ocorra em sua composição plenária.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria e em conclusão


de julgamento (Informativo 968), ao apreciar o Tema 100 da repercussão geral, deu

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

provimento ao recurso extraordinário para, aplicando o parágrafo único do art. 741


do CPC/1973 (1) (norma idêntica ao § 5º do art. 535 do CPC/2015), reformar o acór-
dão recorrido da 2ª Turma Recursal do do Estado do Paraná e restabelecer a decisão
lavrada pelo Juízo de 1º grau do Juizado Especial Federal de origem quanto ao mérito
da impugnação ao cumprimento de sentença formulada pelo INSS.

(1) CPC/1973: “Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre: (...)
Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível
o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal,
ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como
incompatíveis com a Constituição Federal.”

RE 586.068/PR, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
finalizado em 9.11.2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 17/11/2023 a 24/11/2023

RE 1.321.219/CE
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI REPERCUSSÃO
GERAL

Auxílio emergencial pecuniário para pescadores profissionais artesanais


(Tema 1.159 RG)

Discussão constitucional sobre a possibilidade de concessão do auxílio emergencial


pecuniário a pescadores profissionais artesanais, após a perda de eficácia da Medida
Provisória 908/2019 e diante da inexistência de decreto legislativo regulamentador
de suas relações jurídicas, quando, embora não concedido na via administrativa, já
estavam devidamente preenchidos os requisitos à época em que vigente o referido
ato normativo.

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

RE 682.934/DF REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Transposição de cargo: servidor público federal aposentado no cargo


de assistente jurídico da Administração Direta (Tema 553 RG)

Debate constitucional a respeito da possibilidade de transposição e apostilamento


dos servidores aposentados no cargo de Assistente Jurídico da Administração Direta
antes do advento da Lei 9.028/1995 aos cargos de Assistente Jurídico do quadro
da Advocacia-Geral da União, sob o prisma do direito à paridade entre ativos e
inativos e seu respectivo alcance.

ADI 4.151/DF
ADI 6.966/DF
ADI 4.616/DF
Relator: Ministro GILMAR MENDES

Transformação de cargos públicos: similaridade de atribuições e nível


de escolaridade

Averiguação da constitucionalidade — à luz dos princípios do concurso público e da


segurança jurídica, bem como das regras constitucionais referentes à iniciativa das leis
— acerca da transformação, implementada pela Lei 11.457/2007, dos cargos públicos
integrantes de carreiras oriundas da extinta Secretaria da Receita Previdenciária em
cargos de analista tributário da Receita Federal do Brasil.

ADI 7.276/DF
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Pagamento eletrônico de ICMS: possibilidade de acesso sistêmico a


dados bancários pelas administrações tributárias estaduais

Verificação da constitucionalidade de dispositivos do Convênio ICMS 134/2016


do CONFAZ que dispõem sobre o fornecimento de informações prestadas pelos
agentes financeiros aos fiscos estaduais nas operações de recolhimento do ICMS
por meios eletrônicos.

SUMÁRIO
17
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

ADI 7.197/DF
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Registros de candidatura: data limite para aferir alterações supervenientes


que possam afastar a inelegibilidade do candidato

Análise acerca da interpretação mais adequada de dispositivo da Lei 9.504/1997


e, por arrastamento, a Súmula TSE 70, em face da Constituição Federal de 1988, ou
seja, a que estabelece o dia anterior ao da eleição como data limite para aferir se as
alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro afastam a inelegibilidade
do candidato; ou a que dispõe ser possível considerar o dia da diplomação como
termo ad quem para essa verificação.

ADI 7.369/MT
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Intervenção estadual nos municípios

Exame sobre a possibilidade de se conferir interpretação conforme a Constituição


a dispositivo da Constituição do Estado de Mato Grosso no sentido de se fixar o
entendimento de que a intervenção estadual nos municípios, tal como determinada
pelo art. 35, IV, da CF/1988, somente pode ser decretada após o constituinte estadual
indicar expressamente os princípios constitucionais sensíveis.

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

ADI 7.405/MT
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Concessionárias estaduais de serviços público de fornecimento de


água e energia elétrica: obrigatoriedade do oferecimento da opção
de pagamento por meio de cartão de débito e de crédito

Observância — à luz das regras do sistema de repartição de competências e do


pacto federativo — acerca da constitucionalidade da Lei 12.035/2023 do Estado de
Mato Grosso que estabelece a obrigatoriedade das concessionárias de serviços
públicos relacionados ao fornecimento de água e energia elétrica de oferecerem ao
consumidor a possibilidade de quitar débitos pendentes por cartão de débito e/ou
crédito antes da suspensão dos serviços fornecidos.

ADPF 1.073/DF
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Acesso à educação aos dependentes de diplomatas em idade escolar

Exame de suposta omissão estatal em prover acesso à educação aos dependentes,


em idade escolar, dos servidores da carreira de Diplomatas.

ADPF 1.009/DF JURISPRUDÊNCIA


INTERNACIONAL
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Prescrição de multas ambientais

Averiguação da constitucionalidade de dispositivos do Decreto 6.514/2008 e da Lei


9.873/1999, além da íntegra do Decreto 20.910/1932, os quais tratam da apuração
e julgamento de processos administrativos sancionatórios ambientais, em especial
das regras atinentes aos prazos prescricionais aplicáveis — mais especificamente a
prescrição intercorrente —, à luz da efetividade da proteção constitucional ao meio
ambiente.

SUMÁRIO
19
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

ADI 6.936/DF
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Banco Central: aquisição de papel-moeda e moeda metálica fabricados


fora do País por fornecedor estrangeiro

Debate sobre a constitucionalidade de dispositivos da Lei 13.416/2017 que (i) autorizam


o Banco Central do Brasil a adquirir papel-moeda e moeda metálica fabricados fora
do País por fornecedor estrangeiro, com o objetivo de abastecer o meio circulante
nacional; bem como (ii) dispõem que a inviabilidade ou fundada incerteza quanto ao
atendimento, pela Casa da Moeda do Brasil, da moeda circulante ou do cronograma
para seu abastecimento, em cada exercício financeiro, caracteriza situação de
emergência, para efeito de aquisição de papel-moeda e de moeda metálica de
fabricantes estrangeiros por dispensa de licitação.

ADI 7.400/MT LEITURAS


EM PAUTA
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito


estadual

Verificação constitucional — à luz do sistema de repartição de competências — acerca


da Lei 11.991/2022 do Estado de Mato Grosso que, além de outras providências,
instituiu a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de
Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM) e o
Cadastro Estadual de Controle e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (CERM).

SUMÁRIO
20
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1116/2023 |

ADPF 1.056/DF
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Cancelamento de matrícula e de registro de imóveis rurais pelo


corregedor-geral de justiça

Análise — à luz dos princípios da reserva de jurisdição, da ampla defesa, do contraditório,


do devido processo legal e do direito de propriedade — da constitucionalidade de
dispositivos da Lei 6.739/1979, na redação dada pela Lei 10.267/2001, que conferem
poder ao corregedor-geral de justiça para cancelar a matrícula e o registro de
imóveis rurais ou declarar sua inexistência.

ADI 6.653/PB
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Poder Legislativo: autoridades sujeitas à sua fiscalização e definição


de crimes de responsabilidade

Exame da constitucionalidade — à luz do princípio da simetria — de dispositivos da


Constituição do Estado da Paraíba que tipificam condutas de crime de responsabilidade
e reconhecem a competência do Poder Legislativo local para processar e julgar, por
esses crimes, o Secretário de Estado e outras autoridades públicas estaduais de
qualquer nível.

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Resolução 810, de 9.11.2023 - Suspende a Resolução nº 806, de 22 de setembro de
2023, que dispõe sobre a sustentação oral nos casos em que houver proposta de
reconhecimento da repercussão geral com reafirmação de jurisprudência no Plenário
Virtual do Supremo Tribunal Federal.

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
21
Edição 1117/2023

27 DE NOVEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Cínthia Aryssa Okada

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1117/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 27 de novembro de 2023.
INFORMATIVO STF 27 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1117/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 27 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1117/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Ministério Público; Subsídios; Incorporação de Vantagens Pessoais;


Aposentadoria

• Subsídio de membros do Ministério Público: incorporação de vantagens


pessoais decorrentes do exercício pretérito de função e direção, chefia ou
assessoramento e acréscimo de 20% ao cálculo dos proventos de aposentadoria
- ADI 3.834/DF

» Precatórios; Débitos da Fazenda Pública; Depósitos Judiciais e


Administrativos; Direitos e Garantias Fundamentais

• Utilização de depósitos judiciais e extrajudiciais por estados, Distrito Federal e


municípios, nos processos em que sejam parte - ADI 5.361/DF e ADI 5.463/DF

» Princípios Constitucionais; Isonomia; Igualdade de Gênero; Concurso


Público; Critérios de Admissão; Polícia Militar; Participação Feminina

• Polícia Militar: regras de concurso público e percentual de vagas para


candidatas do sexo feminino - ADI 7.483 MC-Ref/RJ

» Repartição de Competências; Direito Penal; Pena de Multa; Fundo


Penitenciário

• Destinação dos recursos provenientes das penas de multa ao Fundo


Penitenciário Estadual - ADI 2.935/ES

» Repartição de Competências; Polícia Civil Estrutura Organizacional;


Criação de Função Gratificada

• Organização da Polícia Civil: criação do cargo de gestor de Delegacias


Interativas de Polícia do Interior - ADI 6.847/AM

» Serventuários da Justiça; Serventias Mistas Judiciais e Extrajudiciais;


Estatização dos Serviços Judiciais; Delegação

• Serventias mistas das comarcas do interior: opção de escolha para os atuais


ocupantes efetivos ou estáveis - ADI 3.245/MA
INFORMATIVO STF 27 DE NOVEMBRO DE 2023 | 1117/2023

DIREITO ELEITORAL

» Senador; Cassação De Mandato; Chapa Eleitoral; Suplente; Novas Eleições;


Representação Federativa

• Sub-representação de estado no Senado por vacância de cargo de senador


- ADPF 643/DF e ADPF 644/DF

DIREITO PENAL

» Crimes Previstos na Legislação Extravagante; Organizações Criminosas

• Constitucionalidade de dispositivos da Lei 12.850/2013: necessidade de


implementação de instrumentos processuais penais modernos no combate
às organizações criminosas - ADI 5.567/DF

DIREITO PROCESSUAL PENAL

» Jurisdição e Competência; Competência por Prerrogativa de Função;


Investigação Penal; Supervisão Judicial

• Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo Tribunal


de Justiça: necessidade de prévia autorização judicial para a instauração
- ADI 7.447/PA

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Obrigatoriedade de implantação de ambulatório médico ou de serviço


de pronto-socorro em shopping centers no âmbito municipal (Tema 1.051
RG) - RE 833.291/SP

• Equiparação dos subsídios de membros de carreiras distintas no âmbito


estadual - ADI 6.548/SC

• Criação e organização de Justiça Militar estadual - ADI 4.360/RS

• Criação de cadastros de pedófilos e de pessoas condenadas por violência


contra a mulher no âmbito estadual - ADI 6.620/MT

• Fator previdenciário: alteração do cálculo da contribuição previdenciária


do contribuinte individual, do salário-de-benefício, do salário-maternidade
e do salário-família - ADI 2.110/DF e ADI 2.111/DF
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – MINISTÉRIO PÚBLICO; SUBSÍDIOS;


INCORPORAÇÃO DE VANTAGENS PESSOAIS; APOSENTADORIA

Subsídio de membros do Ministério Público:


incorporação de vantagens pessoais decorrentes
do exercício pretérito de função de direção, chefia ou
assessoramento e acréscimo de 20% ao cálculo dos
proventos de aposentadoria - ADI 3.834/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

TESE FIXADA:

“A incorporação de vantagens pessoais decorrentes do exercício pretérito de


função de direção, chefia ou assessoramento, bem como o acréscimo de 20% ao
cálculo dos proventos de aposentaria para aqueles que se aposentam no último
nível da carreira, afrontam o regime constitucional de subsídio.”

RESUMO:

É inconstitucional — por violar o regime constitucional de subsídio (CF/1988, art.


39, § 4º) e os princípios republicano e da moralidade — norma de Resolução do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que autoriza o pagamento de
subsídio aos membros do “Parquet” acumulado com: (i) a incorporação de vanta-
gens pessoais decorrentes do exercício anterior de função de direção, chefia ou
assessoramento; e (ii) o acréscimo de 20% da remuneração do cargo efetivo aos
proventos de aposentadoria que se dê no último nível da carreira.

O regime de subsídios (1) preconiza a unicidade remuneratória como regra expressa,


excetuadas as hipóteses específicas de legítimo acréscimo pecuniário à parcela única,
como acontece com as verbas de caráter indenizatório previstas em lei (CF/1988, art.
37, § 11).

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

Por sua vez, o princípio republicano impõe a vedação aos privilégios, ao passo que o
da moralidade determina aos agentes públicos o dever geral de boa administração,
pautada na honestidade, boa-fé e vinculação ao interesse público.

Na espécie, as parcelas previstas pela norma impugnada não se incluem no conceito


de exceções legítimas à regra constitucional do subsídio, pois, em última análise, remu-
neram o membro da carreira do Ministério Público pelo específico exercício das fun-
ções do cargo (2).

Ademais, o texto constitucional estabelece que os proventos de aposentadoria, por


ocasião de sua concessão, não podem exceder a remuneração do respectivo servi-
dor no cargo efetivo em que se deu (CF/1988, art. 40, § 2º, com a redação dada pela
EC 20/1998).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação
para declarar a inconstitucionalidade do inciso V do art. 4º da Resolução 9/2006
do CNMP (3), bem como determinou a remessa de cópia da decisão ao Tribunal de
Contas da União.

(1) CF/1988: “Art. 39. (...) § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os
Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra
espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.”

(2) Precedentes citados: ADI 4.587; SS 3.108 AgR e RE 597.396 (Tema 690 RG).

(3) Resolução CNMP 9/2006: “Art. 3º O subsídio mensal dos membros do Ministério Público da União e dos
Estados constitui-se exclusivamente de parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória. Art. 4º Estão compreendidas no subsídio
de que trata o artigo anterior e são por esse extintas todas as parcelas do regime remuneratório anterior,
exceto as decorrentes de: (...) V – incorporação de vantagens pessoais decorrentes de exercício de função de
direção, chefia ou assessoramento e da aplicação do parágrafo único do art. 232 da Lei Complementar 75
de 1993, ou equivalente nos Estados, aos que preencheram os seus requisitos até a publicação da Emenda
Constitucional 20, em 16 de dezembro de 1998;”

ADI 3.834/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023
(segunda-feira), às 23:59

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRECATÓRIOS; DÉBITOS DA FAZENDA


PÚBLICA; DEPÓSITOS JUDICIAIS E ADMINISTRATIVOS; DIREITOS E
GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Utilização de depósitos judiciais e extrajudiciais por


estados, Distrito Federal e municípios, nos processos
em que sejam parte - ADI 5.361/DF e ADI 5.463/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É constitucional — pois ausente violação ao direito de propriedade (CF/1988, arts. 5º,


“caput”, e 170, II) e aos princípios do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV), da
separação dos Poderes (CF/1988, art. 2º) e do não confisco — a Lei Complementar
151/2015, que dispõe sobre a destinação prioritária do montante de depósitos judi-
ciais e administrativos, tributários e não tributários, para o pagamento de preca-
tórios de qualquer natureza dos entes federados.

Compete à União legislar privativamente sobre direito civil e direito processual (CF/1988,
art. 22, I), bem com versar normas gerais em matéria de direito financeiro e de orça-
mento (CF/1988, art. 24, I e II, §§ 1º ao 4º). A superveniência de emendas constitucionais
que também autorizam os entes federativos a usarem valores depositados em âmbito
judicial ou administrativo não ensejou a revogação da lei complementar federal impug-
nada, motivo pelo qual, sob o aspecto formal, inexiste qualquer inconstitucionalidade.

Na espécie, o ente federado apenas pode utilizar valores dos depósitos realizados
em processos judiciais ou administrativos nos quais seja parte, ficando autorizado a
fazê-lo em até 70% do montante, pois o restante será destinado à integralização do
fundo de reserva. A previsão para o restabelecimento do saldo disponível no fundo de
reserva, caso seja inferior a 30% do total dos depósitos realizados, acrescido da corre-
ção monetária, afasta o argumento de mero receio pela sua malversação, no sentido
de que poderia resultar na frustração de devoluções autorizadas aos depositantes.

Nesse contexto, o depositante continua com a indisponibilidade temporária do valor


depositado durante a tramitação do processo e, somente receberá de volta a posse
do valor sob cautela, devidamente corrigido, se vencer o litígio contra o Estado.

Por fim, inexiste semelhança com a figura do empréstimo compulsório (CF/1988, art.
148), eis que o depósito é realizado de modo espontâneo, por opção da própria parte

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

em obter os resultados práticos da norma processual. Também não há ofensa à inde-


pendência do Poder Judiciário, porque a quantia dos depósitos judiciais, além de não
integrar o seu orçamento, possui natureza administrativa, ou seja, não lhe pertence
nem está disponível para sua livre utilização (1).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por unanimi-


dade, julgou improcedentes as ações para declarar a constitucionalidade da Lei
Complementar 151/2015.

(1) Precedente citado: ADI 2.855.

ADI 5.361/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-
feira), às 23:59

ADI 5.463/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS; ISONOMIA;


IGUALDADE DE GÊNERO; CONCURSO PÚBLICO; CRITÉRIOS DE ADMISSÃO;
POLÍCIA MILITAR; PARTICIPAÇÃO FEMININA

Polícia Militar: regras de concurso público e percentual


de vagas para candidatas do sexo feminino -
ADI 7.483 MC-Ref/RJ

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar, pois: (i)


há plausibilidade jurídica no direito alegado pelo requerente, visto que o percentual
de 10% reservado às candidatas do sexo feminino é reduzido e parece afrontar os
ditames constitucionais que garantem a igualdade de gênero (CF/1988, art. 3º, IV;
art. 5º, I; art. 7º, XXX c/c o art. 39, § 3º); e (ii) há perigo da demora na prestação
jurisdicional, dada a informação de que está em andamento o concurso público
para provimento de vagas no curso de formação de soldados e que é iminente a
reaplicação da prova objetiva, anteriormente anulada por evidência de fraude.

Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil consiste na promo-


ção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

outras formas de discriminação, vedação que se estende ao exercício e preenchimento


de cargos públicos. Por sua vez, o princípio da igualdade garante os mesmos direitos
e obrigações aos homens e mulheres e proíbe a diferenciação de salários, de exercício
de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (1).

Ademais, em recente julgado que incentiva a participação feminina na formação do


efetivo das polícias militares e rechaça a adoção de restrições em razão do sexo, esta
Corte decidiu que não violam o princípio da isonomia tanto ações afirmativas, com o
objetivo de assegurar igualdade material entre as pessoas, quanto o tratamento sin-
gularmente favorecido para a mulher (2).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a medida cau-
telar anteriormente deferida para suspender o concurso para provimento de vagas
no curso de formação de soldados do quadro da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, decorrente do Edital de Abertura 001/2-23 - SEPM, de 25 de maio de 2023,
inclusive a aplicação de nova prova objetiva ou divulgação de quaisquer resultados,
até o efetivo julgamento de mérito da ação.

(1) CF/1988: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) IV - promover o
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
(...) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição; (...) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções
e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; (...) Art. 39. (...) § 3º Aplica-se aos
servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX,
XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o
exigir. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”

(2) Precedente citado: ARE 1.424.503 AgR.

ADI 7.483 MC-Ref/RJ, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023
(segunda-feira), às 23:59

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; DIREITO


PENAL; PENA DE MULTA; FUNDO PENITENCIÁRIO

Destinação dos recursos provenientes das penas de


multa ao Fundo Penitenciário Estadual - ADI 2.935/ES

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre


direito penal (CF/1988, art. 22, I) — lei estadual que destina ao Fundo Penitenciário
Estadual (Funpen) os valores recolhidos de multas pecuniárias fixadas nas sen-
tenças judiciais.

A pena de multa, que possui natureza de sanção, e a destinação dos recursos finan-
ceiros provenientes de seu pagamento (1), inserem-se no âmbito do direito penal (2),
cuja competência para legislar compete privativamente à União. Além disso, o Fundo
Penitenciário Nacional (FPN), que é custeado principalmente pela União, repassa às
unidades federativas recursos que extrapolam, em muito, aqueles decorrentes das
multas penais.

Nesse contexto, o estado-membro não pode se apropriar diretamente dos valores


oriundos das penas de multa, sem o intermédio da União, e continuar a receber os
repasses do FPN, o qual é dotado por diversas fontes, inclusive pelos valores das penas
de multa dos demais estados.

Ademais, as disposições instrumentalizadas pela Lei Complementar 79/1994 possuem


natureza de normas gerais. Essa lei, que é de caráter nacional, disciplina o FPN e prevê
as dotações aos respectivos fundos penitenciários dos estados, do Distrito Federal e
dos municípios. Desse modo, os efeitos jurídicos da lei encontram-se expressamente
definidos no texto constitucional (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação,
a fim de declarar a inconstitucionalidade do inciso I do art. 2º da Lei Complementar
68/1995 do Estado do Espírito Santo (4). Além disso, o Tribunal conferiu efeitos pros-
pectivos à decisão (ex nunc), a partir da publicação da ata de julgamento, ressalvando
os valores que eventualmente tenham ingressado de forma direta no Fundo Penitenciário
do Estado do Espírito Santo.

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

(1) CP/1940: “Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na
sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta)
dias-multa. § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior
salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. § 2º - O valor
da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. Art. 50 - A multa deve
ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado
e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais. § 1º - A
cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado quando: a)
aplicada isoladamente; b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; c) concedida a suspensão
condicional da pena. § 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do
condenado e de sua família. Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada
perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida
ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. Art.
52 - É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença mental.”

(2) Precedente citado: ADI 3.150.

(3) CF/1988: “Art. 24. (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal
sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

(4) Lei Complementar 68/1995 do Estado do Espírito Santo: “Art. 2º O Fundo Penitenciário Estadual – FUNPEN
será constituído das seguintes fontes de recurso: I – multas penitenciárias fixadas nas sentenças judiciais,
nos termos do Código Penal Brasileiro e demais leis penais.”

ADI 2.935/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; POLÍCIA


CIVIL ESTRUTURA ORGANIZACIONAL; CRIAÇÃO DE FUNÇÃO GRATIFICADA

Organização da Polícia Civil: criação do cargo de


gestor de Delegacias Interativas de Polícia do Interior
- ADI 6.847/AM

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

É constitucional — pois configura legítimo exercício da competência concorrente


em legislar sobre organização das polícias civis (CF/1988, art. 24, XVI e § 1º) —
norma estadual que cria função gratificada de gestor de Delegacias Interativas
de Polícia do Interior (DIPs) no quadro de funções gratificadas da polícia civil local.

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

Na espécie, a criação das referidas funções gratificadas decorreu da dificuldade mate-


rial e organizacional em manter os distritos policiais no interior do Estado do Amazonas,
especialmente em função de sua extensão territorial e dificuldade de acesso a algu-
mas regiões.

Nessa perspectiva, o ato de criação de funções gratificadas no âmbito do Poder


Executivo traduz exercício legítimo da auto-organização do estado-membro, corolário
de sua autonomia institucional e da competência legislativa concorrente (1).

É inconstitucional — pois caracteriza desvio de funções (CF/1988, arts. 24, § 1º, e 144,
§ 4º) — norma estadual que permite que o gestor de DIPs seja servidor estranho ao
quadro de delegados, a partir de designação pelo delegado-geral de polícia civil.

Conforme jurisprudência desta Corte, as atribuições de direção e chefia de delegacias


de polícia, bem como a condução de investigações criminais pela polícia civil, são ati-
vidades típicas reservadas a delegados de polícia integrantes da carreira. Por essa
razão, não podem ser exercidas por servidores que não fazem parte do quadro espe-
cífico, em respeito ao princípio do concurso público, ao sistema acusatório, aos direitos
de defesa e à hierarquia institucional (2).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 4.535/2017 do
Estado do Amazonas (3).

(1) CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...)
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.”

(2) Precedentes citados: ADI 3.441; ADI 2.427; HC 115.015 e ADI 3.614.

(3) Lei 4.535/2017 do Estado do Amazonas: “Art. 1.º O Gestor de Delegacias Interativas de Polícia (DIPs) do Interior,
que compõe o quadro de funções gratificadas da Polícia Civil do Estado do Amazonas, conforme o Anexo II
da Lei Delegada n. 87, de 18 de maio de 2007, será designado pelo Delegado-Geral de Polícia Civil, entre os
integrantes da carreira policial, que possuam formação acadêmica de Bacharel em Direito, resguardadas as
atribuições legais de cada cargo, cuja atuação será na circunscrição das Unidades Policiais do Interior do
Amazonas, com as seguintes atribuições: I - gerenciar a unidade policial para a qual for designado, incluindo
as áreas operacionais sob sua responsabilidade; II - assegurar padrões satisfatórios de desempenho em
suas áreas de atuação; III - zelar pelas viaturas, bens e materiais sob sua guarda, garantindo adequada
manutenção, conservação e funcionamento; IV - gerir e promover permanente avaliação dos servidores que
lhes são subordinados, com vistas à constante melhoria dos serviços; V - proceder a investigações policiais
para apuração de fatos considerados infrações penais, providenciando o registro do Boletim de Ocorrência
e instauração dos procedimentos necessários; VI - expedir notificações, realização de oitivas, determinar a
realização de diligências, ordens de serviço e outras tarefas afins; VII - prestar às autoridades judiciárias as
informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; VIII - realizar diligências requisitadas pela
Autoridade Judiciária e Ministério Público.”

ADI 6.847/AM, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – SERVENTUÁRIOS DA JUSTIÇA; SERVENTIAS


MISTAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS; ESTATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS
JUDICIAIS; DELEGAÇÃO

Serventias mistas das comarcas do interior: opção de


escolha para os atuais ocupantes efetivos ou estáveis
- ADI 3.245/MA

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

A Constituição Federal de 1988 estatizou os serviços judiciais e, de forma excep-


cional e transitória, facultou aos serventuários já titulares de serventias mistas
(judiciais e extrajudiciais) a escolha entre atuar diretamente — como servidor
público — ou indiretamente, por delegação a particular em colaboração com o
Poder Público (ADCT, art. 31).

A serventia judicial, exercida em caráter privado, sob o regime da Constituição Federal


de 1967/1969, apenas pode ser mantida, após a vigência da CF/1988, enquanto o titu-
lar estiver nesta condição com a opção entre a titularidade — e, consequentemente,
permanecer naquela situação até o fim de seu vínculo com o Tribunal de Justiça — ou
migrar para os quadros públicos, de modo anômalo, excepcionando-se a regra de
prévia aprovação em concurso público (CF/1988, art. 37, II), com a estatização da ser-
ventia judicial.

A norma do ADCT estabeleceu que seriam respeitados os direitos de seu eventual titu-
lar àquela época (1), mas não pode ser utilizada para convalidar situações inconstitu-
cionais após o advento da CF/1988 (2).

Por outro lado, não se admite que o direito de opção seja realizado coercitivamente, ou
seja, o serventuário é livre para decidir se permanece na situação atual (mantém-se na
titularidade até o fim da delegação da serventia extrajudicial, que foi desmembrada
da cumulação com a serventia judicial) ou migra para o novo regime.

Na espécie, a lei complementar estadual impugnada oportunizou aos atuais ocupantes


das serventias mistas das comarcas de seu interior, efetivos ou estáveis, o direito de
escolher entre a serventia extrajudicial ou o cargo no Poder Judiciário estadual com
seus vencimentos atuais.

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente proce-
dente a ação para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 8º da Lei
Complementar 68/2003 do Estado do Maranhão (3), no sentido de que configura
faculdade conferida ao serventuário e aplica-se tão somente àqueles que eram “titu-
lares” das serventias judiciais, exercidas em caráter privado, em 5 de outubro de 1988,
não servindo para convalidar situações inconstitucionais após o advento da Constituição
Federal de 1988.

(1) ADCT: “Art. 31. Serão estatizadas as serventias do foro judicial, assim definidas em lei, respeitados os
direitos dos atuais titulares.”

(2) Precedentes citados: MS 28.419; ADI 1.498; ADI 3.023; MS 30.123 e ADI 2.916.

(3) Lei Complementar 68/2003 do Estado do Maranhão: “Art. 8º. Os atuais ocupantes, efetivos ou estáveis,
das serventias mistas das comarcas do interior poderão optar entre a serventia extrajudicial e o cargo de
funcionário do Poder Judiciário com seus vencimentos atuais.”

ADI 3.245/MA, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-feira), às 23:59

DIREITO ELEITORAL – SENADOR; CASSAÇÃO DE MANDATO; CHAPA


ELEITORAL; SUPLENTE; NOVAS ELEIÇÕES; REPRESENTAÇÃO FEDERATIVA

Sub-representação de estado no Senado por vacância


de cargo de senador - ADPF 643/DF e ADPF 644/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

A decisão da Justiça Eleitoral que determina a cassação do mandato invalida a


própria votação obtida pelo candidato e a respectiva eleição, circunstância que
atrai a obrigatoriedade de renovação do pleito, tendo em vista que o ilícito pra-
ticado durante o processo eleitoral, além de afetar a legitimidade do vencedor,
compromete a lisura das eleições.

A previsão do art. 224 do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965) concretiza o quanto prescrito
no art. 222 do mesmo diploma legal, segundo o qual é a anulável a votação quando
viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o art. 237, ou emprego
de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei (1).

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

Conforme jurisprudência desta Corte, na hipótese de cassação do mandato do titular


pela prática de ilícito eleitoral, a legislação não autoriza a assunção do cargo pelo
suplente, ficando toda a chapa comprometida (2).

Na espécie, a escolha pela realização de pleito suplementar foi uma opção legítima do
legislador, nos limites estabelecidos na Constituição, e encontra respaldo na proteção
ao princípio democrático e ao sufrágio universal, evitando tanto que assuma o cargo
candidato que obteve quantidade inferior de votos em um pleito majoritário quanto
que seja subtraída da soberania popular a escolha direta dos candidatos.

Nesse contexto, a alegada representatividade deficitária do Estado não revela viola-


ção do princípio federativo nem da separação de Poderes, uma vez autorizada pela
Constituição a vacância por até 15 meses do cargo de senador (CF/1988, art. 56, § 2º),
tempo significativamente superior àquele necessário para a realização do pleito suple-
mentar (20 a 40 dias, conforme o caput do art. 224 do Código Eleitoral).

Ademais, não se extrai do art. 45 do Regimento Interno do Senado Federal (3) interpre-
tação que permita a assunção interina do candidato imediatamente mais bem votado
da vaga decorrente da cassação até a posse do candidato eleito nas novas eleições,
por ausência de previsão expressa nesse sentido (4). Assim, não se pode concluir que
essa lacuna normativa representaria flagrante inconstitucionalidade, de modo que deve
ser prestigiada a opção do legislador, no exercício da sua liberdade de conformação,
de não determinar a mencionada medida.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, jul-
gou improcedentes as ações, tornando insubsistente a liminar anteriormente deferida
e prejudicado o agravo interposto pelo Ministério Público Federal.

(1) Código Eleitoral/1965: “Art. 222. É também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraude,
coação, uso de meios de que trata o Art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de
sufrágios vedado por lei. (...) Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições
presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão
prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte)
a 40 (quarenta) dias. § 1º Se o Tribunal Regional na área de sua competência, deixar de cumprir o disposto
neste artigo, o Procurador Regional levará o fato ao conhecimento do Procurador Geral, que providenciará
junto ao Tribunal Superior para que seja marcada imediatamente nova eleição. § 2º Ocorrendo qualquer
dos casos previstos neste capítulo o Ministério Público promoverá, imediatamente a punição dos culpados. §
3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda
do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de
novas eleições, independentemente do número de votos anulados. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide
ADIN Nº 5.525) § 4o A eleição a que se refere o § 3o correrá a expensas da Justiça Eleitoral e será: (Incluído
pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) I - indireta, se a vacância do cargo ocorrer a menos de
seis meses do final do mandato; (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525) II - direta, nos
demais casos. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) (Vide ADIN Nº 5.525)”

(2) Precedentes citados: ADI 5.619 e ADI 5.525.

(3) Regimento Interno do Senado Federal/1970: “Art. 45. Dar-se-á a convocação de Suplente nos casos de
vaga, de afastamento do exercício do mandato para investidura nos cargos referidos no art. 39, II, ou de
licença por prazo superior a cento e vinte dias.”

SUMÁRIO
16
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

(4) Precedentes citados: ADI 3.970; ADI 6.662 e ADI 6.855.

ADPF 643/DF, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-feira), às 23:59

ADPF 644/DF, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
virtual finalizado em 20.11.2023 (segunda-feira), às 23:59

DIREITO PENAL – CRIMES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE;


ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

DIREITO PROCESSUAL PENAL – INVESTIGAÇÃO; MINISTÉRIO PÚBLICO;


COLABORAÇÃO PREMIADA

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS; DIREITOS E


GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Constitucionalidade de dispositivos da Lei 12.850/2013:


necessidade de implementação de instrumentos
processuais penais modernos no combate às
organizações criminosas - ADI 5.567/DF

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

Não viola o princípio constitucional da legalidade (CF/1988, art. 5º, II e XXXIX) a


norma penal incriminadora do § 1º do art. 2º da Lei 12.850/2013, na qual apresen-
tadas as condutas delituosas de “impedir” e de “embaraçar” a investigação de
infração penal a envolver organização criminosa.

Diante da inviabilidade da previsão, de forma exauriente, de todas as possíveis con-


dutas praticáveis por indivíduos pertencentes às organizações criminosas, o legis-
lador — nos limites da sua liberdade de conformação — optou, acertadamente, por
descrever, em termos mais abertos, apenas as duas acima registradas, cuja escolha
foi adequada para punir o agente que pretende obstruir investigações a abranger
organizações criminosas. Ademais, a normatização do preceito primário traz definição
clara do bem jurídico tutelado, dos sujeitos ativo e passivo da conduta, bem como dos
verbos núcleos do tipo penal.

SUMÁRIO
17
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

É compatível com o princípio da proporcionalidade, em sua acepção substancial,


a previsão normativa de perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e
da interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 anos
subsequente ao cumprimento da pena, no caso em que funcionário público esteja
envolvido com organizações criminosas (Lei 12.850/2013, art. 2º, § 6º).

O Congresso Nacional, dentro do seu espectro de funções constitucionais e por ques-


tões de política criminal, delimitou o alcance do efeito automático da sentença penal
condenatória aos funcionários públicos que pratiquem os crimes preceituados na lei
impugnada, o qual se mostra plenamente justificável em razão da notável reprovabi-
lidade da conduta desses agentes.

É possível a designação de membro do Ministério Público para acompanhar as


investigações que envolvam policiais em crime de organização criminosa (Lei
12.850/2013, art. 2º, § 7º).

Essa possibilidade, que objetiva apurar os fatos de forma mais detalhada e criteriosa,
não viola a competência da própria Corregedoria de Polícia, especialmente à luz do
poder investigatório do órgão ministerial (1). A comunicação da Corregedoria de Polícia
ao Ministério Público representa desdobramento natural do controle externo da ativi-
dade policial que este exerce (CF/1988, art. 129, VII).

O § 14 do art. 4º da Lei 12.850/2013 deve ser interpretado no sentido de que o


colaborador opta por deixar de exercer o direito fundamental ao silêncio, e não
que renuncia à titularidade do direito fundamental.

A indisponibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos fundamentais (sob a óptica do


direito ao silêncio) devem ser entendidas como inerentes a seu titular, o que não signi-
fica a impossibilidade de o agente, por sua vontade, não exercer ou mesmo suspen-
der alguns desses direitos.

Nesse contexto, a colaboração premiada é plenamente compatível com o princípio


do nemo tenetur se detegere (direito de não produzir prova contra si mesmo). Os
benefícios legais oriundos desse instituto são estímulos para o acusado fazer uso do
exercício de não mais permanecer em silêncio, cabendo-lhe decidir, livremente e na
presença de sua defesa técnica, se colabora, ou não, com os órgãos responsáveis
pela persecução penal.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improce-
dente a ação, para reconhecer a constitucionalidade do art. 2º, §§ 1º, 6º e 7º, e do art.
4º, § 14, ambos da Lei 12.850/2013 (2). Além disso, conferiu interpretação conforme a
Constituição ao § 14 do art. 4º da referida lei, a fim de declarar que o termo “renún-
cia” deve ser interpretado não como forma de esgotamento da garantia do direito ao
silêncio, que é irrenunciável e inalienável, mas sim como forma de “livre exercício do
direito ao silêncio e da não autoincriminação pelos colaboradores, em relação aos
fatos ilícitos que constituem o objeto dos negócios jurídicos”, haja vista que o acordo

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

de colaboração premiada é ato voluntário, firmado na presença da defesa técnica


(que deverá orientar o investigado acerca das consequências do negócio jurídico) e
que possibilita grandes vantagens ao acusado.

(1) Precedente citado: RE 593.727 (Tema 184 RG).

(2) Lei 12.850/2013: “Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa: (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça
a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. (...) § 6º A condenação com trânsito
em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e
a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao
cumprimento da pena. § 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei,
a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará
membro para acompanhar o feito até a sua conclusão. (...) Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes,
conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o
processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: (...) § 14.
Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio
e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.”

ADI 5.567/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023
(segunda-feira), às 23:59

DIREITO PROCESSUAL PENAL – JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA;


COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO; INVESTIGAÇÃO PENAL;
SUPERVISÃO JUDICIAL

DIREITO CONSTITUCIONAL – PODER JUDICIÁRIO; TRIBUNAL DE JUSTIÇA


ESTADUAL; COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Investigação de agentes com foro privilegiado perante


o respectivo Tribunal de Justiça: necessidade de prévia
autorização judicial para a instauração - ADI 7.447/PA

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

A instauração de inquérito e demais atos investigativos em desfavor de agentes


públicos detentores de foro por prerrogativa de função depende da prévia auto-
rização do órgão judicial competente pela supervisão das investigações penais
originárias.

SUMÁRIO
19
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

As hipóteses de foro por prerrogativa de função, por constituírem exceções aos prin-
cípios do juiz natural (CF/1988, art. 5º, XXXVI e LIII) e da igualdade (CF/1988, art. 5º,
caput), devem ser interpretadas restritivamente (1).

Conforme jurisprudência desta Corte (2), as investigações contra autoridades com prer-
rogativa de foro perante o STF submetem-se ao prévio controle judicial, circunstância
que inclui a autorização judicial para as investigações (3).

Nesse contexto, e diante do caráter excepcional das hipóteses constitucionais de foro


privilegiado, que possuem diferenciações em nível federal, estadual e municipal, a razão
jurídica que justifica a necessidade de supervisão judicial de atos investigatórios de
autoridades com prerrogativa de foro no STF é igualmente aplicável às autoridades
que a possuem nos tribunais de segundo grau de jurisdição (4).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, confirmou a medida cau-
telar anteriormente deferida (Informativo 1110) e julgou parcialmente procedente
a ação para: (i) atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 161, I, a e b,
da Constituição do Estado do Pará, e aos arts. 24, XII, 116, 118, 232, 233 e 234, todos
do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, de modo a esta-
belecer a necessidade de autorização judicial para a instauração de investigações
penais originárias perante o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, seja pela Polícia
Judiciária, seja pelo Ministério Público; e (ii) determinar o imediato envio dos inquéritos
policiais e procedimentos de investigação da Polícia Judiciária e do Ministério Público
instaurados ao Tribunal de Justiça, para imediata distribuição e análise do desembar-
gador relator sobre a existência de justa causa para a continuidade da investigação.

(1) Precedente citado: ADI 2.553.

(2) Precedentes citados: Pet 3.825 QO e Inq 2.411 QO.

(3) Regimento Interno do STF/1980: “Art. 21. São atribuições do Relator: (...) XV – determinar a instauração de
inquérito a pedido do Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu
arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: (Redação dada pela
Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude
do fato; (Incluída pela Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) b) a existência manifesta de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluída pela Emenda Regimental n. 44, de 2
de junho de 2011) c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; (Incluída pela Emenda Regimental
n. 44, de 2 de junho de 2011) d) extinta a punibilidade do agente; ou (Incluída pela Emenda Regimental n. 44,
de 2 de junho de 2011) e) ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade. (Incluída pela Emenda
Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011).”

(4) Precedentes citados: AP 933 QO; AP 912; RE 1.322.854 AgR; ADI 7.083 e ADI 6.732.

ADI 7.447/PA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 20.11.2023
(segunda-feira), às 23:59

SUMÁRIO
20
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 24/11/2023 a 1º/12/2023

RE 833.291/SP REPERCUSSÃO
GERAL
Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Obrigatoriedade de implantação de ambulatório médico ou de serviço


de pronto-socorro em “shopping centers” no âmbito municipal (Tema
1.051 RG)

Controvérsia constitucional a respeito das Leis 10.947/1991 e 11.649/1994, bem


como do Decreto 29.728/1991, todos do Município de São Paulo/SP, que preveem a
exigibilidade de implantação de ambulatório médico ou serviço de pronto-socorro
nos shopping centers existentes na municipalidade.

ADI 6.548/SC
Relator: Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

Equiparação dos subsídios de membros de carreiras distintas no


âmbito estadual

Discussão constitucional em face de dispositivos da Lei Complementar 738/2019,


da Lei 15.215/2010 e da Lei 13.574/2005, todas do Estado de Santa Catarina, as
quais tratam dos subsídios mensais dos membros das carreiras de procurador do
estado e do Ministério Público local, em especial no que diz respeito às regras de
equiparação e vinculação de subsídios. Jurisprudência: ADI 4.898; ADI 5.856; ADI
6.436; ADI 6.545; ADI 6.610 e ADI 7.264.

SUMÁRIO
21
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1117/2023 |

ADI 4.360/RS
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Criação e organização de Justiça Militar estadual

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Constituição do Estado do Rio


Grande do Sul que tratam dos respectivos Tribunal Militar e Conselhos de Justiça
Militar, notadamente aqueles atinentes a criação, organização e competências.

ADI 6.620/MT LEITURAS


EM PAUTA
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Criação de cadastros de pedófilos e de pessoas condenadas por


violência contra a mulher no âmbito estadual

Exame constitucional em face das Lei 10.315/2015 e Lei 10.915/2019, ambas do Estado
de Mato Grosso, que instituem um cadastro estadual de pessoas suspeitas, indiciadas
ou já condenadas por crimes contra a dignidade sexual praticados contra criança
e/ou adolescente, e a veiculação, na internet, de lista de pessoas condenadas por
crimes de violência contra a mulher cometidos no respectivo estado.

ADI 2.110/DF
ADI 2.111/DF
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Fator previdenciário: alteração do cálculo da contribuição previdenciária


do contribuinte individual, do salário-de-benefício, do salário-maternidade
e do salário-família

Averiguação da constitucionalidade da Lei 9.876/1999, notadamente na parte em


que alterou dispositivos da Lei dos Planos de Benefícios da Previdência Social (Lei
8.213/1991), no que se refere ao cálculo da contribuição previdenciária do contribuinte
individual, salário-de-benefício, salário-maternidade e salário-família.

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
22
Edição 1118/2023

1o DE DEZEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Ana Carolina Caetano

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1118/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 1º de dezembro de 2023.
INFORMATIVO STF 1O DE DEZEMBRO DE 2023 | 1118/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 1O DE DEZEMBRO DE 2023 | 1118/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Organização Político-Administrativa; Criação, Extinção, Reestruturação


de Órgãos ou Cargos Públicos

• Reestruturação da Administração Tributária Federal - ADI 4.151/DF, ADI 4.616/DF


e ADI 6.966/DF

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Repartição de Competências; Municípios; Interesse Local

• Obrigações impostas a concessionárias de serviços de abastecimento de


água - ADI 7.405/MT

DIREITO ELEITORAL

» Processo Eleitoral; Registro de Candidatura; Condições de Elegibilidade;


Causas de Inelegibilidade

• Registros de candidatura: data limite para aferir alterações supervenientes


que possam afastar a inelegibilidade do candidato - ADI 7.197/DF

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

» Procedimentos Administrativos; Retificação e Cancelamento; Matrícula e


Registro de Imóveis; Averbação; Imóveis Rurais; Terras Públicas

• Procedimento administrativo para a retificação ou o cancelamento de registros


imobiliários: contraditório diferido e atribuições do corregedor-geral de Justiça
e de juízes federais - ADPF 1.056/DF

DIREITO TRIBUTÁRIO

» Impostos; ICMS; Regimes Especiais de Tributação; Simples

• Cobrança de diferencial de alíquota do ICMS de empresas optantes do Simples


Nacional: necessidade de lei estadual em sentido estrito - ARE 1.460.254/GO
(Tema 1.284 RG)
INFORMATIVO STF 1O DE DEZEMBRO DE 2023 | 1118/2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Competência legislativa para editar norma sobre a ordem de fases de


processo licitatório (Tema 1.036 RG) - RE 1.188.352/DF

• Validade dos juros moratórios aplicáveis nas condenações da Fazenda


Pública, em face de percentual estabelecido em sentença transitada em
julgado (Tema 1.170 RG) - RE 1.317.982/ES

• Concurso Público: regras que beneficiam natural residente no estado -


ADI 7.458/PB

• Delegação de serviços notariais e de registro em âmbito estadual:


possibilidade de titularização sem realizar concurso público de provas
e títulos - ADI 4.851/BA

• Polícia Militar do Estado do Pará: regras do concurso público e limite de


vagas para candidatas do sexo feminino - ADI 7.486 MC-Ref/PA

• Zona Franca de Manaus: incentivos fiscais relacionados ao ICMS -


ADPF 1.004/SP

• Zona Franca de Manaus: concessão de benefício fiscal de ICMS sem


amparo em convênio celebrado no âmbito do Conselho Nacional de
Política Fazendária (CONFAZ) - ADI 4.832/AM

• Extensão da Gratificação de Atividade de Ensino Especial (GAEE) a


professores da rede pública de ensino do Distrito Federal - ADPF 615/DF

• Criação de cargos em comissão no Ministério Público estadual -


ADI 5.934/ES

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA;


CRIAÇÃO, EXTINÇÃO, REESTRUTURAÇÃO DE ÓRGÃOS OU CARGOS
PÚBLICOS

Reestruturação da Administração Tributária


Federal - ADI 4.151/DF, ADI 4.616/DF e ADI 6.966/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

São constitucionais tanto a transformação do cargo de técnico do Tesouro Nacional


no de técnico da Receita Federal quanto a posterior transformação do cargo de
técnico da Receita Federal no de analista tributário da Receita Federal do Brasil.

Na transposição do cargo de técnico do Tesouro Nacional para o de técnico da Receita


Federal, não houve alteração substancial das atribuições dos cargos, tendo sido manti-
dos a natureza das funções desempenhadas e o padrão remuneratório. O que ocorreu,
portanto, foi simplesmente uma reestruturação administrativa (1), sendo que a alteração
tão somente do nível de escolaridade exigido para ingresso na carreira não implica,
por si só, em provimento derivado de cargo público.

Quanto à superveniente transformação do cargo de técnico da Receita Federal no de


analista tributário da Receita Federal do Brasil, também não se verifica qualquer pro-
vimento inconstitucional de cargos públicos. Isso, porque se trata de cargos com os
mesmos requisitos de escolaridade para ingresso (nível superior) e atribuições seme-
lhantes, de natureza auxiliar ao auditor-fiscal da Receita Federal.

É inconstitucional — por violar os princípios da isonomia e da eficiência adminis-


trativa — a não inclusão do cargo de analista previdenciário dentre aqueles trans-
formados no cargo de analista tributário.

A exclusão dos cargos provenientes da Secretaria de Receita Previdenciária da trans-


formação de cargos implementada em razão da criação da Receita Federal do Brasil

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

importa em discriminação inconstitucional, tendo em vista que analistas previdenciários


e técnicos da Receita Federal, ambos de nível superior, desempenham funções seme-
lhantes nos respectivos órgãos, o que denota a proximidade de atribuições.

Ademais, a apontada discrepância salarial entre esses cargos não inviabiliza a trans-
formação, pois, da análise da composição remuneratória dos cargos, percebe-se que
a diferença em gratificação está intimamente relacionada ao poderio corporativo das
carreiras, o que é indício antes de uma assimetria no poder de pressão entre as car-
reiras do que propriamente fator a revelar possíveis dessemelhanças entre as atribui-
ções dos cargos, no caso, inexistentes.

Com base nesses e outros entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por una-
nimidade, julgou (i) improcedente o pedido formulado na ADI 4.616, (ii) parcialmente
procedente o pedido formulado na ADI 4.151, apenas para conferir interpretação con-
forme à Constituição ao art. 10, II da Lei 11.457/2007, de maneira a incluir em seus
preceitos e efeitos o cargo de analista previdenciário, e (iii) procedente o pedido formu-
lado na ADI 6.966, com a confirmação da medida cautelar anteriormente concedida.

(1) Precedentes citados: ADI 2.335 e ADI 5.406.

ADI 4.151/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

ADI 4.616//DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

ADI 6.966/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; MUNICÍPIOS;


INTERESSE LOCAL

DIREITO ADMINISTRATIVO – CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS


PÚBLICOS; FORNECIMENTO DE ÁGUA E ENERGIA ELÉTRICA; CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS; IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÕES

Obrigações impostas a concessionárias de serviços


de abastecimento de água - ADI 7.405/MT

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por violar a competência dos municípios para legislar sobre


assuntos de interesse local, e para organizar e prestar, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local (CF/1988, art.
30, I e V) (1) — lei estadual que obriga as concessionárias dos serviços públicos
de fornecimento de água a oferecer aos consumidores a opção de pagamento
de dívidas por meio de cartão de crédito ou débito antes da suspensão dos ser-
viços, bem como impõe aos agentes concessionários que efetuam as suspensões
de fornecimento do serviço o porte da máquina do cartão.

Em hipóteses semelhantes, esta Corte reconheceu a invalidade de normas estaduais


por invasão da esfera de competência dos municípios para legislar sobre fornecimento
de água, suas condições e formas de prestação, destacando ser vedado aos esta-
dos-membros interferir nas relações jurídico-contratuais estabelecidas entre o poder
concedente municipal e as empresas concessionárias (2).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação


da medida cautelar em julgamento de mérito, conheceu parcialmente da ação direta
apenas no que se refere à prestação dos serviços públicos de abastecimento de água,
e, nessa extensão, declarou a inconstitucionalidade da expressão “concessionárias dos
serviços públicos de fornecimento de água”, contida no art. 1º da Lei 12.035/2023
do Estado de Mato Grosso.
(1) CF/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; (...) V - organizar
e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local,
incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;”

(2) Precedentes citados: ADI 3.661; ADI 4.454; ADI 2.337; ADI 2.790; ADI 2.340; ADI 2.077 e ADI 1.842.

ADI 7.405/MT, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

DIREITO ELEITORAL – PROCESSO ELEITORAL; REGISTRO DE CANDIDATURA;


CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE; CAUSAS DE INELEGIBILIDADE

Registros de candidatura: data limite para aferir


alterações supervenientes que possam afastar a
inelegibilidade do candidato - ADI 7.197/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

Devem ser aferidas até a data da eleição as alterações, fáticas ou jurídicas, super-
venientes ao registro de candidatura que afastem a inelegibilidade de candidato.

Os partidos políticos devem registrar a candidatura de seus postulantes até o dia 15


de agosto do mês em que será realizada a eleição, momento em que deverão ser ava-
liadas as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade (1). Nas hipóteses
de situações fáticas ou jurídicas supervenientes ao registro de candidatura que alte-
rem a condição de elegibilidade, não é possível considerar a diplomação como marco
temporal para essa verificação. Isso, porque a análise sistêmica do processo eleitoral
demonstra que a data do pleito é o marco em torno do qual orbitam os demais insti-
tutos eleitorais (2).

Ademais, a adoção da data da diplomação para efeito de aferição cria contradição


interpretativa na forma de contagem do prazo de inelegibilidade e representa ofensa
à segurança jurídica, com interferência indevida no processo eleitoral e no exercício
dos direitos políticos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação


da medida cautelar em julgamento de mérito e julgou improcedente o pedido formu-
lado na ação direta de inconstitucionalidade.

(1) Lei 9.504/1997: “Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos
até às dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que se realizarem as eleições. (...) § 10. As condições
de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido
de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que
afastem a inelegibilidade.”

(2) Precedente citado: Resp Eleitoral 28.341.

ADI 7.197/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL – PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS;


RETIFICAÇÃO E CANCELAMENTO; MATRÍCULA E REGISTRO DE IMÓVEIS;
AVERBAÇÃO; IMÓVEIS RURAIS; TERRAS PÚBLICAS

Procedimento administrativo para a


retificação ou o cancelamento de
registros imobiliários: contraditório
diferido e atribuições do corregedor-
-geral de Justiça e de juízes
federais - ADPF 1.056/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

São compatíveis com a CF/1988 os arts. 1º, §§ 1º e 2º; 3º, parágrafo único; 8º-A, § 1º;
e 8º-B, §§ 1º, 2º, 3º, I e II, da Lei 6.739/1979, que, em linhas gerais, preveem contra-
ditório diferido e — diante de determinadas circunstâncias e com provocação pré-
via do poder público — conferem ao corregedor-geral de Justiça e a juiz federal,
no exercício de atividade extrajudicial, a atribuição de realizar o cancelamento de
matrícula e de registro de imóvel.

Essas providências estão a cargo de autoridades públicas legalmente responsáveis


pela higidez e pela segurança dos registros públicos, com vistas a impedir transações
que não sejam fidedignas. No caso, está-se diante de um dever-poder exercido por
órgão pertencente ao Poder Judiciário, mas no exercício de função administrativa. A
própria Lei 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos), como norma geral, prevê a possibi-
lidade de autotutela quando há nulidade.

Ademais, os preceitos adversados observam o devido processo legal, o contraditó-


rio e a ampla defesa, na medida em que são preservados os mecanismos de defesa
daqueles afetados pelo ato estatal. Isso, porque o legislador não afastou o contradi-
tório, e sim deliberou no sentido de seu diferimento, o que é plenamente justificado e
encontra amparo na jurisprudência desta Corte (1).

Nesse contexto, é conferida proteção à sociedade, desfazendo meras aparências de


propriedade. Preserva-se o direito de propriedade imobiliária, pois a proteção a tal
direito pressupõe a sua existência e validade, documentada no registro imobiliário.
O reconhecimento da nulidade do registro não desconstitui a propriedade, apenas

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

declara que ela não teve a aptidão de sequer surgir. Cumpre aos agentes estatais
legalmente designados o dever de fazer com que o registro imprima a real e a válida
titularidade. Na presença de situação que inverta a presunção relativa do registro,
eles têm de zelar pela realização dos devidos acertos, sem retirar do interessado seus
mecanismos de insurgência.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu


parcialmente a arguição de descumprimento de preceito fundamental como ação direta,
e julgou improcedente o pedido formulado, reconhecendo a recepção pela CF/1988 do
art. 1º, §§ 1º e 2º, e do art. 3º, parágrafo único, bem assim declarando a constituciona-
lidade do art. 8º-A, § 1º, e do art. 8º-B, §§ 1º, 2º, 3º, I e II, todos da Lei 6.739/1979 (2).

(1) Precedentes citados: MS 31.681 e RMS 27.255 AgR.

(2) Lei 6.739/1979: “Art. 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público ao Corregedor-Geral da Justiça,
são declarados inexistentes e cancelados a matrícula e o registro de imóvel rural vinculado a título nulo de
pleno direito, ou feitos em desacordo com o art. 221 e seguintes da Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973,
alterada pela Lei 6.216, de 30 de junho de 1975. § 1º Editado e cumprido o ato, que deve ser fundamentado
em provas irrefutáveis, proceder-se-á, no quinquídio subsequente, à notificação pessoal: a) da pessoa cujo
nome constava na matrícula ou no registro cancelados; b) do titular do direito real, inscrito ou registrado, do
imóvel vinculado ao registro cancelado. § 2º Havendo outros registros, em cadeia com o registro cancelado,
os titulares de domínio do imóvel e quem tenha sobre o bem direitos reais inscritos ou registrados serão
também notificados, na forma prevista neste artigo. (...) Art. 3º A parte interessada, se inconformada com o
Provimento, poderá ingressar com ação anulatória, perante o Juiz competente, contra a pessoa jurídica de
direito público que requereu o cancelamento, ação que não sustará os efeitos deste, admitido o registro da
citação, nos termos do art. 167, I, 21, da Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, alterado pela Lei 6.216, de 30
de junho de 1975. Parágrafo único. Da decisão proferida, caberá apelação e, quando contrária ao requerente
do cancelamento, ficará sujeita ao duplo grau de jurisdição. (...) Art. 8º-A A União, o Estado, o Distrito Federal
ou o Município prejudicado poderá promover, via administrativa, a retificação da matrícula, do registro ou da
averbação feita em desacordo com o art. 225 da Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, quando a alteração
da área ou dos limites do imóvel importar em transferência de terras públicas. § 1º O Oficial do Registro
de Imóveis, no prazo de cinco dias úteis, contado da prenotação do requerimento, procederá à retificação
requerida e dela dará ciência ao proprietário, nos cinco dias seguintes à retificação. (...) Art. 8º-B Verificado
que terras públicas foram objeto de apropriação indevida por quaisquer meios, inclusive decisões judiciais,
a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município prejudicado, bem como seus respectivos órgãos ou
entidades competentes, poderão, à vista de prova da nulidade identificada, requerer o cancelamento da
matrícula e do registro na forma prevista nesta Lei, caso não aplicável o procedimento estabelecido no art.
8º-A. § 1º Nos casos de interesse da União e de suas autarquias e fundações, o requerimento será dirigido
ao Juiz Federal da Seção Judiciária competente, ao qual incumbirão os atos e procedimentos cometidos
ao Corregedor Geral de Justiça. § 2º Caso o Corregedor Geral de Justiça ou o Juiz Federal não considere
suficientes os elementos apresentados com o requerimento, poderá, antes de exarar a decisão, promover as
notificações previstas nos parágrafos do art. 1º desta Lei, observados os procedimentos neles estabelecidos,
dos quais dará ciência ao requerente e ao Ministério Público competente. § 3º Caberá apelação da decisão
proferida: I – pelo Corregedor Geral, ao Tribunal de Justiça; II – pelo Juiz Federal, ao respectivo Tribunal
Regional Federal.”

ADPF 1.056/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023
(sexta-feira), às 23:59

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; ICMS; REGIMES ESPECIAIS DE


TRIBUTAÇÃO; SIMPLES

Cobrança de diferencial de alíquota do ICMS de


empresas optantes do Simples Nacional: necessidade
de lei estadual em sentido estrito - ARE 1.460.254/GO
(Tema 1.284 RG)

ÁUDIO REPERCUSSÃO
DO TEXTO GERAL

TESE FIXADA:

“A cobrança do ICMS-DIFAL de empresas optantes do Simples Nacional deve ter


fundamento em lei estadual em sentido estrito.”

RESUMO:

É constitucional a cobrança de diferencial de alíquota do ICMS de empresas optan-


tes do Simples Nacional, desde que prevista em lei estadual em sentido estrito.

No caso, é necessário que o ente federativo que detém a competência tributária edite
lei específica para a cobrança do imposto. Não basta a previsão em lei complementar
federal que autorize a cobrança do diferencial de alíquota nem previsões legislativas
gerais que não estabeleçam todos os critérios capazes de instituir a obrigação tributária.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência


de repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1.284 da repercus-
são geral) e reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria (1) para conhecer
do agravo e negar provimento ao recurso.

(1) Precedentes citados: RE 598.677 (Tema 456 RG); Rcl 57.237 AgR; RE 970.821 (Tema 517 RG); Rcl 57.003
AgR; Rcl 60.342 AgR; Rcl 57.744 AgR e Rcl 57.994 (decisão monocrática).

ARE 1.460.254/GO, relator Ministro Presidente, julgamento virtual finalizado em 21.11.2023

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA


JULGAMENTO VIRTUAL: 1º/12/2023 a 11/12/2023

RE 1.188.352/DF
Relator: Ministro LUIZ FUX REPERCUSSÃO
GERAL

Competência legislativa para editar norma sobre a ordem de fases


de processo licitatório (Tema 1.036 RG)

Discussão constitucional — à luz do pacto federativo e da repartição de competências


— sobre a higidez da Lei Distrital 5.345/2014 que inverteu as fases de habilitação e
de classificação no procedimento licitatório previstas na Lei 8.666/1993.

RE 1.317.982/ES
Relator: Ministro NUNES MARQUES REPERCUSSÃO
GERAL

Validade dos juros moratórios aplicáveis nas condenações da Fazenda


Pública, em face de percentual estabelecido em sentença transitada
em julgado (Tema 1.170 RG)

Debate a respeito da validade dos juros moratórios aplicáveis nas condenações


da Fazenda Pública, em virtude da tese firmada no RE 870.947 (Tema 810 RG), na
execução de título judicial que tenha fixado expressamente índice diverso.

ADI 7.458/PB
Relator: Ministro GILMAR MENDES

Concurso Público: regras que beneficiam natural residente no estado

Discussão a respeito da constitucionalidade da Lei 12.753/2023 do Estado da Paraíba,


que concede aos candidatos paraibanos residentes naquela unidade federativa bônus
de 10% na nota final obtida em concurso público da área de segurança pública.

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

ADI 4.851/BA
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Delegação de serviços notariais e de registro em âmbito estadual:


possibilidade de titularização sem realizar concurso público de provas
e títulos

Exame da constitucionalidade de dispositivos da Lei 12.352/2011 do Estado da Bahia


que asseguram aos servidores do respectivo Poder Judiciário a opção de titularizar
a delegação de serviços notariais e de registro sem o necessário concurso público
de provas e títulos.

ADI 7.486 MC-Ref/PA


Relator: Ministro DIAS TOFFOLI

Polícia Militar do Estado do Pará: regras do concurso público e limite


de vagas para candidatas do sexo feminino

Referendo de decisão na qual o relator suspendeu a eficácia do art. 37-A, § 1º, da


Lei 6.626/2004, inserido pela Lei 8.342/2016, bem como a aplicação das provas
objetivas dos concursos públicos para ingresso nos cursos de formação de oficiais
e de praças da Polícia Militar do Estado do Pará, até o efetivo julgamento de mérito
da ação ou até que sejam divulgados novos editais dos mesmos certames em que
se assegure às candidatas do sexo feminino o direito de concorrer à totalidade das
vagas ofertadas, livremente e em igualdade de condições com candidatos homens.
Jurisprudência: ARE 1.424.503 AgR e RE 528.684.

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

ADPF 1.004/SP
Relator: Ministro LUIZ FUX

Zona Franca de Manaus: incentivos fiscais relacionados ao ICMS

Verificação da validade — à luz do princípio federativo, da defesa do meio ambiente


e da redução das desigualdades regionais — do conjunto de autuações do Fisco
paulista e de decisões prolatadas pelo Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de
São Paulo (TIT/SP), que firmaram entendimento no sentido de glosar créditos de ICMS
relativos a mercadorias oriundas da Zona Franca de Manaus contempladas com
incentivos fiscais concedidos unilateralmente às indústrias ali instaladas.

ADI 4.832/AM
Relator: Ministro LUIZ FUX

Zona Franca de Manaus: concessão de benefício fiscal de ICMS sem


amparo em convênio celebrado no âmbito do Conselho Nacional de
Política Fazendária (CONFAZ)

Exame da constitucionalidade dispositivos da Lei 2.826/2003 e do Decreto 23.994/2003,


ambos do Estado do Amazonas que concederam, sem a realização de convênio no
âmbito do CONFAZ, benefícios de ICMS, denominados “crédito estímulo” e “corredor
de importação”, às indústrias instaladas ou que vierem a serem instaladas na Zona
Franca de Manaus.

ADPF 615/DF
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Extensão da Gratificação de Atividade de Ensino Especial (GAEE) a


professores da rede pública de ensino do Distrito Federal

Debate constitucional — à luz do princípio da coisa julgada e da supremacia da


Constituição — sobre a possibilidade do reconhecimento da inexigibilidade de obrigação
ou da desconstituição da coisa julgada inconstitucional, quando há contrariedade entre
decisão de Juizado Especial transitada em julgado e pronunciamento superveniente
do Tribunal local em controle concentrado de constitucionalidade.

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1118/2023 |

ADI 5.934/ES
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Criação de cargos em comissão no Ministério Público estadual

Averiguação da constitucionalidade de dispositivo da Lei 9.496/2010 do Estado do


Espírito Santo que trata do quadro de cargos em comissão e funções gratificadas
que integram a estrutura organizacional do respectivo Ministério Público, em
especial no que se refere à criação dos cargos em comissão de assessor jurídico.
Jurisprudência: ADI 4.125.

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Instrução Normativa 286, de 24.11.2023 - Altera os artigos 2º, 3º, 4º, 5º e 7º da
Instrução Normativa nº 275, de 9 de setembro de 2022.

Resolução 811, de 23.11.2023 - Torna públicas as tabelas de cargos em comissão e de


funções comissionadas do Quadro de Pessoal do Supremo Tribunal Federal.

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estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
16
Edição 1119/2023

11 DE DEZEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Ana Carolina Caetano

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1119/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 11 de dezembro de 2023.
INFORMATIVO STF 11 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1119/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 11 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1119/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Concurso Público; Posse; Exame de Saúde

• Inconstitucionalidade da vedação à posse em cargo público de candidatos


que tenham se recuperado de doença grave - RE 886.131/MG (Tema 1.015 RG)

» Servidor Público Federal; Assistente Jurídico da Administração Direta;


Transposição de Cargos; Apostilamento; Benefícios e Vantagens; Extensão
aos Inativos

• Direito à transposição de assistente jurídico aposentado anteriormente à Lei


9.028/1995 ao cargo de Advogado da União - RE 682.934/DF (Tema 553 RG)

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Poder Judiciário; Justiça Militar; Criação e Organização; Norma Pré-


Constitucional; Recepção

• Criação e organização de Justiça Militar estadual - ADI 4.360/RS

» Repartição de Competências; Normas Municipais; Fixação de


Obrigatoriedade; Instalação de Ambulatório Médico ou Unidade de
Pronto-Socorro em Shopping Centers; Princípio da Livre Iniciativa

• Obrigatoriedade, instituída por lei municipal, de implantação de ambulatório


médico ou unidade de pronto-socorro em shopping centers - RE 833.291/SP
(Tema 1.051 RG)

DIREITO DO CONSUMIDOR

» Contratos de Consumo; Transporte Aéreo; Responsabilidade do


Fornecedor; Indenização

• Contrato de transporte aéreo internacional de passageiros: danos morais -


ARE 766.618 ED/SP (Tema 210 RG)
INFORMATIVO STF 11 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1119/2023

DIREITO PROCESSUAL PENAL

» Ação Penal; Provas; Prova Lícita

• Abertura de encomendas, sem autorização de juiz, diante de fortes suspeitas


da prática de crime - RE 1.116.949 ED/PR (Tema 1.041 RG)

DIREITO TRIBUTÁRIO

» ICMS; Difal; Anterioridade Geral; Anterioridade Nonagesimal

• LC 190/2022: regulamentação da cobrança do Difal alusivo ao ICMS, princípio


da anterioridade tributária e produção de efeitos - ADI 7.066/DF; ADI 7.070/
DF e ADI 7.078/CE

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Competência para julgamento de crime de violação de direito autoral


(Tema 580 RG) - RE 702.362/RS

• Possibilidade de integração do crédito presumido do IPI na base de


cálculo do PIS e da COFINS (Tema 504 RG) - RE 593.544/RS

• Exigência de quitação de anuidades devidas a conselho profissional como


condição para a regularização de carteira profissional - ADI 7.423/DF

• Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito estadual


- ADI 7.400/MT

• Reestruturação do Plano de Carreira dos Servidores do Tribunal de Contas


do Estado do Amazonas - ADI 6.532/AM

• Reforma da Previdência Social e suas regras de transição - ADI 6.731/DF

• Reforma da Previdência Social e suas regras de transição para


aposentadorias (EC 103/2019) - ADI 6.255/DF, ADI 6.361/DF, ADI 6.271/DF,
ADI 6.258/DF

• Obrigatoriedade de contratação de pessoas com mais de 40 anos no


âmbito da Administração Pública distrital - ADI 4.082/DF

• Poder do TSE para o enfrentamento à desinformação no âmbito do


processo eleitoral - ADI 7.261/DF
INFORMATIVO STF 11 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1119/2023

• Recondução dos membros da Mesa Diretora de Assembleia Legislativa


- ADI 6.674/MT, ADI 6.717/MT

• Reforma agrária e o Programa de Arrendamento Rural - ADI 2.213/DF,


ADI 2.411/DF

• Utilização de depósitos judiciais no âmbito estadual - ADI 5.457/AM

• Ministério Público e Defensoria Pública estadual: critério de desempate


para efeito de promoção por antiguidade na carreira; extensão do
porte de armas a servidores administrativos do sistema penitenciário
- ADI 7.000/PA, ADI 7.281/PB, ADI 7.300/PI, ADI 7.307/PB, ADI 7.450/MT

• Majoração de subsídios de governador, vice-governador, secretário de


Estado e secretário adjunto - ADI 7.475/MG

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS DO STF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – CONCURSO PÚBLICO; POSSE; EXAME DE


SAÚDE

Inconstitucionalidade da vedação à posse em cargo


público de candidatos que tenham se recuperado de
doença grave - RE 886.131/MG (Tema 1.015 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“É inconstitucional a vedação à posse em cargo público de candidato(a) apro-


vado(a) que, embora tenha sido acometido(a) por doença grave, não apresenta
sintoma incapacitante nem possui restrição relevante que impeça o exercício da
função pretendida (CF, arts. 1º, III, 3º, IV, 5º, caput, 37, caput, I e II).”

RESUMO:

É inconstitucional — por violação dos arts. 1º, III, 3º, IV, 5º, “caput”, 37, “caput”, I e
II, da CF/1988 — a vedação à posse em cargo público de candidato(a) que esteve
acometido(a) de doença grave, mas que não apresenta sintomas atuais de res-
trição para o trabalho.

Eventuais restrições de acesso a cargos públicos devem ser excepcionais e baseadas


em justificação idônea calcada no princípio da legalidade e nas especificidades da
função a ser exercida. A exclusão de candidatos que não apresentam qualquer res-
trição para o trabalho viola os princípios do concurso público e da impessoalidade,
diante da determinação constitucional de ampla acessibilidade aos cargos públicos e
de avaliação com base em critérios objetivos, e o princípio da eficiência, porque reduz
o espectro da seleção e faz a Administração perder talentos.

SUMÁRIO
7
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

Ressalte-se que o risco futuro e incerto de recidiva, licenças de saúde e aposentadoria


não pode impedir a fruição do direito ao trabalho, que é indispensável para propiciar
a subsistência, a emancipação e o reconhecimento social. Nesse contexto, a vedação
à posse desrespeita também a dignidade humana, pois representa um atestado de
incapacidade apto a minar a autoestima de qualquer um.

Ademais, no caso concreto, há discriminação não só em razão de saúde, mas também


de gênero. Isso, porque o ato administrativo restringiu o acesso de mulheres a cargos
públicos ao estabelecer período de carência especificamente para carcinomas gine-
cológicos sem que houvesse previsão semelhante para doenças urológicas ou outras
que acometam igualmente homens e mulheres.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.015
da repercussão geral, deu parcial provimento ao recurso extraordinário para conde-
nar o Estado de Minas Gerais a nomear e dar posse à recorrente.

RE 886.131/MG, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 30.11.2023

DIREITO ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL; ASSISTENTE


JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA; TRANSPOSIÇÃO DE CARGOS;
APOSTILAMENTO; BENEFÍCIOS E VANTAGENS; EXTENSÃO AOS INATIVOS

Direito à transposição de assistente jurídico aposentado


anteriormente à Lei 9.028/1995 ao cargo de Advogado
da União - RE 682.934/DF (Tema 553 RG)

ÁUDIO REPERCUSSÃO
DO TEXTO GERAL

TESE FIXADA:

“Desde que preenchidos os requisitos legais, os servidores aposentados em cargo


de Assistente Jurídico da Administração Direta antes do advento da Lei nº 9.028/95
possuem o direito à transposição ao cargo de Assistente Jurídico do quadro da
Advocacia-Geral da União, transformado no cargo de Advogado da União pela Lei
nº 10.549/02, com o apostilamento dessa denominação ao título de inatividade.”

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

RESUMO:

A cláusula de paridade entre ativos e inativos, prevista inicialmente no art. 40, §


4º, da CF/1988, incide em favor dos servidores aposentados no cargo de assis-
tente jurídico da Administração Pública Federal Direta antes da Lei 9.028/1995 (1),
para fins do direito à transposição ao cargo de assistente jurídico do quadro da
Advocacia-Geral da União, caso preenchidos os requisitos legais.

A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido da desnecessidade de lei para esten-


der aos inativos os benefícios e vantagens concedidas aos servidores em atividade,
quando se está diante da regra da paridade, cuja aplicabilidade é imediata (2).

Ademais, no presente caso, ao se entrelaçar com a dignidade da pessoa humana, a


paridade não só protege o aspecto econômico relacionado com a aposentadoria, mas
possibilita o direito, entre outros, ao apostilamento da denominação de Advogado da
União no título de inatividade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 553
da repercussão geral, negou seguimento ao recurso extraordinário, com a fixação
da tese acima referida.

(1) Lei 9.028/1995: “Art. 19. São transpostos para as carreiras da Advocacia-Geral da União os atuais cargos
efetivos de Subprocurador-Geral da Fazenda Nacional e Procurador da Fazenda Nacional, como os de
Assistente Jurídico da Administração Federal direta, os quais (...) Art. 19-A. São transpostos, para a Carreira
de Assistente Jurídico da Advocacia-Geral da União, os atuais cargos efetivos da Administração Federal
direta, privativos de bacharel em Direito, cujas atribuições, fixadas em ato normativo hábil, tenham conteúdo
eminentemente jurídico e correspondam àquelas de assistência fixadas aos cargos da referida Carreira, ou
as abranjam, e os quais: (...)”

(2) Precedentes citados: RE 395.186 AgR; ADI 1.835; RE 261.997 AgR; AI 141.189 AgR; RE 677.730 (Tema 602 RG)

RE 682.934/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.11.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – PODER JUDICIÁRIO; JUSTIÇA MILITAR;


CRIAÇÃO E ORGANIZAÇÃO; NORMA PRÉ-CONSTITUCIONAL; RECEPÇÃO

Criação e organização de Justiça Militar estadual


- ADI 4.360/RS

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

Não conflita com a Constituição Federal previsão de Constituição estadual, de


natureza declaratória, que reconhece a existência de Tribunal Militar estadual
anteriormente instituído por lei.

A Constituição Federal não previu, expressamente, regra de transição nem a extinção


da Justiça Militar estadual preexistente. Portanto, presume-se que ela recepcionou a
norma que instituiu a Justiça Militar estadual, não havendo óbice para que o consti-
tuinte estadual originário mantenha abstratamente essa organização judiciária devi-
damente criada por lei.

Essa constitucionalização, no entanto, limita-se a uma declaração do arranjo institu-


cional à época da edição da Constituição estadual, não afastando a prescrição da
Constituição Federal quanto à espécie normativa e à reserva de iniciativa das dispo-
sições posteriores.

O art. 125, § 3º, da CF/1988 (1) é norma de reprodução obrigatória, cabendo à lei
estadual, mediante proposta do Tribunal de Justiça, criar e, consequentemente,
organizar a Justiça Militar estadual e o Tribunal de Justiça Militar.

É do Poder Judiciário, portanto, o juízo político de conveniência e oportunidade para


a criação de tribunais militares (2).

Ademais, deve-se considerar a norma contida no art. 122, II, da CF/1988 (3), igualmente
de reprodução obrigatória, de modo que a existência ou não dos tribunais militares,
ainda que previstos na Constituição estadual, depende também da instituição por lei
de iniciativa do Tribunal de Justiça local, assim como, pelo paralelismo das formas, sua
eventual extinção depende apenas da lei.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente pro-
cedentes os pedidos da ação direta, para declarar a constitucionalidade do art. 95,

SUMÁRIO
10
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

V, a, do art. 105 e do art. 112, da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (4); a
constitucionalidade do art. 91, II e V, e do art. 104, caput, da Constituição do Estado do
Rio Grande do Sul (5), desde que haja a sua interpretação conforme à Constituição da
República, aditando-lhes a expressão “instituído(s) por lei”; e a inconstitucionalidade
do art. 95, VII, do art. 104, §§ 2º, 4º e 5º, e do art. 106 da Constituição do Estado do
Rio Grande do Sul (6).

(1) CF/1988: “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição. (...) § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar
estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar
seja superior a vinte mil integrantes.”

(2) Precedente citado: ADI 471.

(3) CF/1988: “Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: (...) II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.”

(4) Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 95 – Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for atribuído
nesta Constituição e na lei, compete: (…) V- propor à Assembleia Legislativa, observados os parâmetros
constitucionais e legais, bem como as diretrizes orçamentárias: a) a alteração do número de seus membros e
do Tribunal Militar; (...) Art. 105 – Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os servidores militares
estaduais nos crimes militares definidos em lei. (...) Art. 112 – As funções do Ministério Público junto ao Tribunal
Militar serão exercidas pelos membros do Ministério Público Estadual, nos termos de sua lei complementar.”

(5) Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 91 – São órgãos do Poder Judiciário do Estado: (…) II – o
Tribunal Militar do Estado; (…) V – os Conselhos de Justiça Militar; (…) Art. 104 – A Justiça Militar, organizada
com observância dos preceitos da Constituição Federal, terá como órgãos de primeiro grau os Conselhos de
Justiça e como órgão de segundo grau o Tribunal Militar do Estado.”

(6) Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 95 – Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for
atribuído nesta Constituição e na lei, compete: (…) VII- elaborar e encaminhar, depois de ouvir o Tribunal Militar
do Estado, as propostas orçamentárias do Poder Judiciário, dentro dos limites estipulados conjuntamente
com os demais Poderes, na lei de diretrizes orçamentárias. (…) Art. 104 – A Justiça Militar, organizada com
observância dos preceitos da Constituição Federal, terá como órgãos de primeiro grau os Conselhos de Justiça
e como órgão de segundo grau o Tribunal Militar do Estado. (…) § 2º – A escolha dos Juízes militares será
feita dentre coronéis da ativa, pertencentes ao Quadro de Oficiais da Polícia Militar, da Brigada Militar. (…) §
4º – A estrutura dos órgãos da Justiça Militar, as atribuições de seus membros e a carreira de Juiz- Auditor
serão estabelecidas na Lei de Organização Judiciária, de iniciativa do Tribunal de Justiça. § 5º – Os Juízes
do Tribunal Militar do Estado terão vencimento, vantagens, direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos
iguais aos Desembargadores do Tribunal de Justiça. Art. 106 – Compete ao Tribunal Militar do Estado, além
das matérias definidas nesta Constituição, julgar os recursos dos Conselhos de Justiça Militar e ainda: I –
prover, na forma da lei, por ato do Presidente, os cargos de Juiz- Auditor e os dois servidores vinculados à
Justiça Militar; II – decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, na
forma da lei; III – exercer outras atribuições definidas em lei.”

ADI 4.630/RS, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.12.2023 (sexta-
feira), às 23:59

SUMÁRIO
11
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

DIREITO CONSTITUCIONAL – REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS;


NORMAS MUNICIPAIS; FIXAÇÃO DE OBRIGATORIEDADE; INSTALAÇÃO
DE AMBULATÓRIO MÉDICO OU UNIDADE DE PRONTO-SOCORRO EM
SHOPPING CENTERS; PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA

Obrigatoriedade, instituída por lei municipal, de


implantação de ambulatório médico ou unidade de
pronto-socorro em shopping centers - RE 833.291/SP
(Tema 1.051 RG)

ÁUDIO REPERCUSSÃO
DO TEXTO GERAL

TESE FIXADA:

“É inconstitucional lei municipal que estabelece a obrigação da implantação, nos


shopping centers, de ambulatório médico ou serviço de pronto-socorro equipado
para o atendimento de emergência.”

RESUMO:

É formal e materialmente inconstitucional — por violar a competência privativa da


União para legislar sobre direito do trabalho e direito comercial (CF/1988, art. 22,
I) (1) e os princípios da livre iniciativa (CF/1988, arts. 1º, IV, e 170, “caput”) (2), da
razoabilidade e da proporcionalidade — lei municipal que impõe a instalação de
ambulatório médico ou serviço de pronto-socorro, para prestação de atendimento
de emergência, bem como a contratação de profissional médico, nos shopping
centers existentes na área do município.

Esta Corte já reconheceu, em caso análogo, a invalidade de norma municipal por usur-
pação da competência legislativa privativa da União para tratar da matéria (3).

No presente caso, as exigências contidas nas normas impugnadas afrontam, de forma


desproporcional, a liberdade econômica, com demasiado ônus aos empresários do
ramo, o que consiste em inadequada e impertinente intervenção estatal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.051
da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para declarar a
inconstitucionalidade das Leis 10.947/1991 e 11.649/1994, ambas do Município de São
Paulo, bem como, por arrastamento, do Decreto Municipal 29.728/1991.

SUMÁRIO
12
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

(1) CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) I - direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

(2) CF/1988: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) IV - os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (...) Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, observados os seguintes princípios: (...)”

(3) Precedente citado: RE 839.950 (Tema 525 RG).

RE 833.291/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.12.2023 (sexta-feira),
às 23:59

DIREITO DO CONSUMIDOR – CONTRATOS DE CONSUMO; TRANSPORTE


AÉREO; RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR; INDENIZAÇÃO

Contrato de transporte aéreo internacional


de passageiros: danos morais -
ARE 766.618 ED/SP (Tema 210 RG)

ÁUDIO REPERCUSSÃO
DO TEXTO GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados


internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de
passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm preva-
lência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. O presente entendimento
não se aplica às hipóteses de danos extrapatrimoniais.”

RESUMO:

Nas hipóteses de danos morais decorrentes de contrato de transporte aéreo inter-


nacional de passageiros, o Código de Defesa do Consumidor prevalece sobre as
normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das trans-
portadoras aéreas (Convenções de Varsóvia e Montreal).

SUMÁRIO
13
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

Posteriormente à decisão de mérito do STF no presente caso, esta Corte consolidou


orientação no sentido de que não se aplicam as convenções de Varsóvia e Montreal
às hipóteses de danos extrapatrimoniais decorrentes de contrato de transporte aéreo
internacional (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu parcial provimento aos
embargos de declaração, com efeitos infringentes, e negou provimento ao recurso
extraordinário, reconhecendo a inaplicabilidade do prazo prescricional das Convenções
de Varsóvia e Montreal ao caso em julgamento, em que só houve condenação por
danos morais. Em seguida, a tese do Tema 210 da repercussão geral foi reajustada
para abranger o novo entendimento do Tribunal.

(1) Precedente citado: RE 1.394.401 RG (Tema 1.240 RG)

ARE 766.618 ED/SP, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 30.11.2023

DIREITO PROCESSUAL PENAL – AÇÃO PENAL; PROVAS; PROVA LÍCITA

Abertura de encomendas, sem autorização de juiz,


diante de fortes suspeitas da prática de crime -
RE 1.116.949 ED/PR (Tema 1.041 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“(1) Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida
mediante abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo, salvo se ocorrida
em estabelecimento penitenciário, quando houver fundados indícios da prática de
atividades ilícitas; (2) Em relação a abertura de encomenda postada nos Correios,
a prova obtida somente será lícita quando houver fundados indícios da prática de
atividade ilícita, formalizando-se as providências adotadas para fins de controle
administrativo ou judicial.”

SUMÁRIO
14
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

RESUMO:

É válida a abertura de encomenda postada nos Correios por funcionários da


empresa, desde que haja indícios fundamentados da prática de atividade ilícita.
Nesse caso, é necessário formalizar as providências adotadas para permitir o
posterior controle administrativo ou judicial. Nos presídios, também é válida a
abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo quando houver indícios
fundamentados da prática de atividades ilícitas.

O tratamento legal (Lei 6.538/1978) e jurisprudencial (1) não é idêntico em relação a


cartas e encomendas. Exatamente por isso, há todo um sistema de fiscalização nos
Correios.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu dos embargos
de declaração e deu-lhes parcial provimento para, acolhendo a sugestão de reda-
ção formulada pelo Ministro Alexandre de Moraes, explicitar a tese do Tema 1.041 da
repercussão geral.

(1) Precedente citado: ADPF 46.

RE 1.116.949 ED/PR, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 30.11.2023

DIREITO TRIBUTÁRIO – ICMS; DIFAL; ANTERIORIDADE GERAL;


ANTERIORIDADE NONAGESIMAL

DIREITO FINANCEIRO – REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS

LC 190/2022: regulamentação da cobrança


do Difal alusivo ao ICMS, princípio da
anterioridade tributária e produção de
efeitos - ADI 7.066/DF; ADI 7.070/DF e ADI 7.078/CE

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3

SUMÁRIO
15
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

RESUMO:

A aplicação da LC 190/2022, que regulamentou a cobrança do Diferencial de


Alíquotas do ICMS (Difal), não precisa observar os prazos constitucionais de ante-
rioridade anual e nonagesimal, porque não houve instituição ou majoração de tri-
buto. No entanto, o legislador complementar pode determinar prazo de 90 dias
para a cobrança do Difal/ICMS de forma a garantir maior previsibilidade para os
contribuintes.

A LC 190/2022 não modificou a hipótese de incidência, tampouco da base de cálculo,


mas apenas a destinação do produto da arrecadação, por meio de técnica fiscal que
atribuiu a capacidade tributária ativa a outro ente político e cuja eficácia pode ocorrer
no mesmo exercício, pois não corresponde a instituição nem majoração de tributo. Em
verdade, a LC 190/2022, visou sanar vício formal apontado pelo STF (1).

Nesse contexto, ao contribuinte não é imposta repercussão econômica relacionada à


obrigação principal da relação tributária; são determinadas somente obrigações aces-
sórias, as quais, na linha do que decidido neste Tribunal, não se sujeitam ao princípio
da anterioridade (2).

A instituição do Difal se deu mediante leis estaduais ou do DF, que foram editadas após
a EC 87/2015, na expectativa da sanção da lei complementar em debate.

Contudo, embora as anterioridades tributárias sejam inexigíveis em face da LC 190/2022,


o legislador complementar pode assegurar, dentro da razoabilidade e em seu nível
de competência, outras salvaguardas, a balizar o poder de tributar. Nesse sentido, é
constitucional o art. 3º da LC 190/2022 no que determinou lapso temporal mínimo de
noventa dias da data da publicação da lei complementar para que ela passasse a
produzir efeitos.

Portanto, a cobrança do Difal pelas unidades federativas sujeita-se, cumulativamente,


à observância das anterioridades geral e nonagesimal (3) — tendo em conta a publi-
cação das leis estaduais e do DF —, bem assim à produção de efeitos estipulada na
LC 190/2022.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade e em jul-


gamento conjunto, considerou improcedentes os pedidos formulados na ADI 7.070 e
na ADI 7.078 e, por maioria, reputou improcedente o pleito deduzido na ADI 7.066,
reconhecendo a constitucionalidade do art. 3º da LC 190/2022 (4) no que estabele-
cida a produção dos efeitos da lei complementar após decorridos noventa dias de
sua publicação.

(1) Precedentes citados: ADI 5.469 e RE 1.287.019 (Tema 1.093 RG).

(2) Enunciado sumular citado: Súmula Vinculante 50.

SUMÁRIO
16
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

(3) CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em
que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em
que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;”

(4) LC 190/2022: “Art. 3º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação, observado, quanto
à produção de efeitos, o disposto na alínea “c” do inciso III do caput do art. 150 da Constituição Federal.”

ADI 7.066/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 29.11.2023

ADI 7.070/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 29.11.2023

ADI 7.078/CE, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 29.11.2023

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 08/12/2023 a 18/12/2023

RE 702.362/RS
Relator: Ministro LUIZ FUX REPERCUSSÃO
GERAL

Competência para julgamento de crime de violação de direito autoral


(Tema 580 RG)

Discussão constitucional, à luz do inciso V do art. 109 da Constituição Federal, a


respeito do juízo competente — Justiça Federal ou Estadual — para processar e
julgar o crime de violação de direito autoral (art. 184, § 2º, do CP), tendo em conta
a existência de tratados internacionais por meio dos quais o Brasil se compromete
a combater o mencionado delito.

SUMÁRIO
17
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

RE 593.544/RS REPERCUSSÃO
Relator: Ministro ROBERTO BARROSO GERAL

Possibilidade de integração do crédito presumido do IPI na base de


cálculo do PIS e da COFINS (Tema 504 RG)

Controvérsia constitucional, à luz dos arts. 149, § 2º, I; 150, § 6º; e 195, I, da Constituição
Federal, em que se discute a possibilidade de o crédito presumido do IPI decorrente
de exportações, instituído pela Lei 9.363/1996, integrar a base de cálculo do PIS e
da COFINS.

ADI 7.423/DF
Relatora: Ministra CÁRMEN LÚCIA

Exigência de quitação de anuidades devidas a conselho profissional


como condição para a regularização de carteira profissional

Discussão constitucional a respeito de normas do Anexo da Resolução 560/2017


do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN que exigem que os profissionais
de enfermagem quitem as anuidades devidas junto aos seus conselhos regionais
para poder obter, renovar, manter ativas e suspender suas inscrições e carteiras
profissionais de identidade.

ADI 7.400/MT LEITURAS


EM PAUTA
Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Atividade mineradora: criação de taxa de fiscalização em âmbito


estadual

Verificação constitucional — à luz do sistema de repartição de competências — acerca


da Lei 11.991/2022 do Estado de Mato Grosso que, além de outras providências,
instituiu a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de
Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM) e o
Cadastro Estadual de Controle e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (CERM).

SUMÁRIO
18
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

ADI 6.532/AM
Relator: Ministro ROBERTO BARROSO

Reestruturação do Plano de Carreira dos Servidores do Tribunal de


Contas do Estado do Amazonas

Questionamento constitucional sobre dispositivos da Lei 5.053/2019 que reestruturou


o Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações do Tribunal de Contas do Estado do
Amazonas.

ADI 6.731/DF
Relator: Ministro ROBERTO BARROSO

Reforma da Previdência Social e suas regras de transição

Análise da constitucionalidade de dispositivos incluídos pela EC 103/2019, que alterou


o sistema de previdência social e estabeleceu regras de transição e disposições
transitórias, especialmente no que se refere: (i) à progressividade das alíquotas da
contribuição previdenciária dos servidores públicos titulares de cargo efetivo; (ii) à
possibilidade de instituição de contribuição extraordinária; e (iii) à possibilidade de
ampliação da base de cálculo da contribuição de inativos e pensionistas.

ADI 6.255/DF
ADI 6.361/DF
ADI 6.271/DF
ADI 6.258/DF
Relator: Ministro ROBERTO BARROSO

Reforma da Previdência Social e suas regras de transição para


aposentadorias (EC 103/2019)

Análise da constitucionalidade de dispositivos incluídos pela EC 103/2019, a qual


estabelece regras de transição para aposentadorias e anula aposentadoria concedida
pelo regime próprio de previdência social com contagem recíproca de tempo do
regime geral sem o recolhimento da respectiva contribuição.

SUMÁRIO
19
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

ADI 4.082/DF
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Obrigatoriedade de contratação de pessoas com mais de 40 anos no


âmbito da Administração Pública distrital

Debate sobre a constitucionalidade da Lei Distrital 4.118/2008 que determina


a contratação de, no mínimo, 5% de empregados com mais quarenta anos de
idade pela Administração Pública Direta e Indireta do Distrito Federal, bem como o
estabelecimento de cláusula que assegure o mínimo de 10% das vagas a pessoas
com mais de quarenta anos nas licitações para contratação de serviços que incluam
o fornecimento de mão-de-obra.

ADI 7.261/DF
Relator: Ministro EDSON FACHIN LEITURAS
EM PAUTA

Poder do TSE para o enfrentamento à desinformação no âmbito do


processo eleitoral

Controvérsia constitucional a respeito da Resolução 23.714/2022 do Tribunal Superior


Eleitoral (TSE) que amplia o poder de polícia do tribunal para o enfrentamento à
desinformação que atinja a integridade do processo eleitoral.

ADI 6.674/MT
ADI 6.717/MT
Relator: Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Recondução dos membros da Mesa Diretora de Assembleia Legislativa

Controvérsia constitucional em face de dispositivo da Constituição do Estado de


Mato Grosso que trata da eleição para os cargos da Mesa Diretora da Assembleia
Legislativa estadual e permite a recondução de seus membros sem qualquer limitação
temporal.

SUMÁRIO
20
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

ADI 2.213/DF
ADI 2.411/DF
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Reforma agrária e o Programa de Arrendamento Rural

Análise da constitucionalidade da Lei 4.504/1964 e da Lei 8.629/1993 que


excepcionam do procedimento de desapropriação para fins de reforma agrária
os imóveis participantes do Programa de Arrendamento Rural ou as propriedades
rurais invadidas.

ADI 5.457/AM
Relator: Ministro NUNES MARQUES

Utilização de depósitos judiciais no âmbito estadual

Averiguação da constitucionalidade da Lei 4.218/2015 do Estado do Amazonas


que dispõe sobre o repasse ao Poder Executivo do Estado do Amazonas da parcela
dos depósitos judiciais e administrativos em dinheiro, bem como a instituição de um
fundo de reserva para garantia de devolução desses valores.

ADI 7.000/PA
ADI 7.281/PB
ADI 7.300/PI
ADI 7.307/PB
ADI 7.450/MT
Relator: Ministro CRISTIANO ZANIN

Ministério Público e Defensoria Pública estadual: critério de desempate


para efeito de promoção por antiguidade na carreira; extensão do
porte de armas a servidores administrativos do sistema penitenciário

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar 54/2006 do


Estado do Pará; da Lei Complementar 97/2010 do Estado da Paraíba; da Lei
Complementar 59/2005 do Estado do Piauí; e da Lei Complementar 104/2012
do Estado da Paraíba; que estabelecem como critério de desempate para efeito

SUMÁRIO
21
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1119/2023 |

de promoção por antiguidade na carreira da Defensoria Pública o maior tempo de


serviço público. Jurisprudência: ADI 7.306, ADI 7.303 e ADI 7.317.

Discussão a respeito da constitucionalidade de dispositivos de lei paraibana que fixam


como critério de desempate para efeito de promoção por antiguidade na carreira
do Ministério Público estadual o maior tempo de serviço público. Jurisprudência:
ADI 7.290, ADI 7.282 e ADI 7.287.

Exame constitucional de dispositivo da Lei Complementar 389/2010, incluído pela Lei


Complementar 748/2022, ambas do Estado de Mato Grosso, que estende o porte
de arma de fogo conferido aos agentes penitenciários do sistema prisional aos
servidores públicos integrantes de carreiras administrativas que, embora pertencentes
à estrutura organizacional da polícia penal do Estado de Mato Grosso, não executam
atividades de custódia e de segurança de estabelecimentos integrantes do sistema
penitenciário estadual.

ADI 7.475/MG
Relator: Ministro CRISTIANO ZANIN

Majoração de subsídios de governador, vice-governador, secretário


de Estado e secretário adjunto

Verificação da validade constitucional da Lei 24.314/2023 do Estado de Minas Gerais


que fixa novo patamar de subsídios para governador, vice-governador, secretários
de Estado e secretários adjuntos.

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF


Portaria 309, de 30.11.2023 - Comunica a abertura de crédito suplementar ao Orçamento
Fiscal do Supremo Tribunal Federal.

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
22
Edição 1120/2023

18 DE DEZEMBRO DE 2023
Secretaria-Geral da Presidência
Aline Rezende Peres Osorio

Gabinete da Presidência
Fernanda Silva de Paula

Diretoria-Geral
Eduardo Silva Toledo

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação


Patrícia Perrone Campos Mello

Coordenadoria de Difusão da Informação


Renata Helena Souza Batista de Azevedo Rudolf

Equipe Técnica
Renan Arakawa Pamplona
Anna Daniela de Araújo M. dos Santos
Daniela Damasceno Neves Pinheiro
João de Souza Nascimento Neto
Luiz Carlos Gomes de Freitas Júnior
Mariana Bontempo Bastos
Priscila Py Teixeira
Ricardo Henriques Pontes
Tays Renata Lemos Nogueira

Capa e projeto gráfico


Flávia Carvalho Coelho Arlant

Diagramação
Leonardo Ramsés Cunha Oliveira

INFORMAÇÕES
ADICIONAIS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Informativo STF [recurso eletrônico] / Supremo Tribunal Federal. N. 1, (1995) – . Brasília : STF, 1995 – .
Semanal.
O Informativo STF, periódico semanal do Supremo Tribunal Federal, apresenta, de forma objetiva e concisa, resumos das teses e
conclusões dos principais julgamentos realizados pelos órgãos colegiados – Plenário e Turmas –, em ambiente presencial e virtual.
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF
ISSN: 2675-8210.
1. Tribunal supremo, jurisprudência, Brasil. 2. Tribunal supremo, periódico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Secretaria de
Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação.
CDDir 340.6

Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte.

ISSN: 2675-8210

INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação, n. 1120/2023.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=informativoSTF. Data de divulgação: 18 de dezembro de 2023.
INFORMATIVO STF 18 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1120/2023

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MINISTRO
LUÍS ROBERTO BARROSO
Presidente [26.6.2013]

MINISTRO
LUIZ EDSON FACHIN
Vice-presidente [16.6.2015]

MINISTRO
GILMAR FERREIRA MENDES
Decano [20.6.2002]

MINISTRA
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA
[21.6.2006]

MINISTRO
JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
[23.10.2009]

MINISTRO
LUIZ FUX
[3.3.2011]

MINISTRO
ALEXANDRE DE MORAES
[22.3.2017]

MINISTRO
KASSIO NUNES MARQUES
[5.11.2020]

MINISTRO
ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA
[16.12.2021]

MINISTRO
CRISTIANO ZANIN MARTINS
[04.08.2023]
INFORMATIVO STF 18 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1120/2023

SUMÁRIO

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

» Concurso Público; Tratamento Diferenciado; Critério de Origem; Bônus na


Nota

• Concurso público: regras que beneficiam natural residente no estado - ADI


7.458/PB

DIREITO CONSTITUCIONAL

» Direitos e Garantias Fundamentais; Liberdade de Imprensa; Interesse


Público; Censura

• Publicação de matéria jornalística e direito à indenização por danos morais


- RE 1.075.412/PE (Tema 995 RG)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

» Fazenda Pública; Execução; Correção Monetária; Juros de Mora

• Condenações da Fazenda Pública transitadas em julgado: relações jurídicas


não tributárias e índice de juros de mora aplicável - RE 1.317.982/ES (Tema
1.170 RG)

DIREITO TRIBUTÁRIO

» Impostos; ICMS; Zona Franca de Manaus; Benefício Fiscal; Ausência de


Prévia Celebração de Convênio

• Zona Franca de Manaus: concessão de incentivos fiscais referentes ao ICMS


sem prévia autorização de convênio do CONFAZ - ADI 4.832/AM

» Impostos; ICMS; Zona Franca de Manaus; Benefício Fiscal; Creditamento

• Zona Franca de Manaus: supressão de créditos de ICMS relativos à aquisição


de mercadorias oriundas da localidade - ADPF 1.004/SP
INFORMATIVO STF 18 DE DEZEMBRO DE 2023 | 1120/2023

Registro Especial; Fabricação e Comercialização de Cigarros; Obrigações


Tributárias; Descumprimento; Sanção Política

• Indústria de cigarro e possibilidade de cancelamento sumário de seu registro


especial - ADI 3.952/DF

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

• Porte de armas a agentes socioeducativos no âmbito estadual - ADI


7.424/ES

• Incentivos fiscais aos agrotóxicos - ADI 5.553/DF


INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

1 INFORMATIVO

1.1 PLENÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO – CONCURSO PÚBLICO; TRATAMENTO


DIFERENCIADO; CRITÉRIO DE ORIGEM; BÔNUS NA NOTA

DIREITO CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS; DIREITOS E


GARANTIAS FUNDAMENTAIS; ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Concurso público: regras que beneficiam natural


residente no estado - ADI 7.458/PB

ÁUDIO
DO TEXTO

RESUMO:

É inconstitucional — por configurar tratamento diferenciado desproporcional, sem


amparo em justificativa razoável — lei estadual que concede, em favor de candi-
datos naturais residentes em seu âmbito territorial, bônus de 10% na nota obtida
nos concursos públicos da área de segurança pública.

As disposições sobre acessibilidade aos cargos e empregos públicos (CF/1988, art. 37,
II) conferem efetividade aos princípios constitucionais da isonomia e da impessoali-
dade, de modo a assegurar igualdade de oportunidades e ampliação da concorrên-
cia. Dessa maneira, a imposição legal de critérios de distinção entre os candidatos só
é admitida quando acompanhada de justificação plausível e que decorra de interesse
público e/ou da natureza e das atribuições do cargo ou emprego a ser preenchido (1).

Na espécie, o tratamento desigual conferido pela lei estadual impugnada infringe a


proibição do estabelecimento de distinções entre brasileiros ou de preferências entre
si (CF/1988, art. 19, III), além de configurar ofensa ao princípio da isonomia (CF/1988,
art. 5º, caput).

Nesse contexto, o fator discriminatório é irrazoável e não se qualifica como critério idô-
neo apto a embasar tratamento mais favorável aos candidatos especificados na legis-
lação. Ademais, há expressa vedação no texto constitucional de preconceito decorrente
de critério de origem (CF/1988, art. 3º, IV), ao passo que inexiste qualquer disposição

SUMÁRIO
6
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

que preveja o estabelecimento de peculiaridade distintiva calcada em localismo geo-


gráfico do cidadão.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação
para declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.753/2023 do Estado da Paraíba (2).

(1) Precedentes citados: ADI 4.868; ADI 3.070; ADI 3.583; ADI 3.918 e RE 614.873 (acórdão pendente de
publicação).

(2) Lei 12.753/2023 do Estado da Paraíba: “Art. 1º Fica assegurada aos candidatos paraibanos residentes no
Estado da Paraíba a bonificação de 10% (dez por cento) na nota obtida nos concursos públicos, na área de
segurança pública. § 1º Para efeitos desta Lei, a área de segurança pública compreende os seguintes órgãos:
I – Polícia Civil; II – Polícia Militar; III – Polícia Penal; IV – Corpo de Bombeiros Militar. § 2º A bonificação constará
expressamente dos editais dos concursos públicos. Art. 2º A responsabilidade de apresentar a documentação
exigida para gozar do benefício assegurado por esta Lei é de responsabilidade do candidato, no ato da
inscrição no concurso público. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

ADI 7.458/PB, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 11.12.2023 (segunda-
feira), às 23:59

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


LIBERDADE DE IMPRENSA; INTERESSE PÚBLICO; CENSURA

DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL; DANO MORAL; ABUSO DE


DIREITO; NOTÍCIA FALSA

Publicação de matéria jornalística e direito à indenização


por danos morais - RE 1.075.412/PE (Tema 995 RG)

ÁUDIO REPERCUSSÃO
DO TEXTO GERAL

VÍDEO DO
JULGAMENTO

Parte Única

TESE FIXADA:

“1. A plena proteção constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo binô-


mio liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura prévia.
Admite-se a possibilidade posterior de análise e responsabilização, inclusive com
remoção de conteúdo, por informações comprovadamente injuriosas, difamantes,
caluniosas, mentirosas, e em relação a eventuais danos materiais e morais. Isso

SUMÁRIO
7
,i
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |
Se houver intenção deliberadas do canal de imprensa ou ma fé ou negligência, mesmo quando houver indícios de que a
informação seja falsa nesse caso Nao ha que se falar em liberdade de imprensa. O dever de cuidado deve estar presente.
O STJ acrescenta dever de respeito e dever de pertinência.
porque os direitos à honra, intimidade, vida privada e à própria imagem formam
a proteção constitucional à dignidade da pessoa humana, salvaguardando um
espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas externas. 2. Na hipótese de
publicação de entrevista em que o entrevistado imputa falsamente prática de crime
a terceiro, a empresa jornalística somente poderá ser responsabilizada civilmente
se: (i) à época da divulgação, havia indícios concretos da falsidade da imputação;
e (ii) o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade
dos fatos e na divulgação da existência de tais indícios”.

RESUMO:

Não viola o direito à liberdade de imprensa (CF/1988, art. 220) a condenação de


veículo de comunicação ao pagamento de indenização por dano moral que decorra
da publicação de entrevista em que veiculada informação falsa. Essa medida
excepcional é aplicável quando existir intenção deliberada, má-fé ou grave negli-
gência por parte do canal de imprensa, isto é, quando, mesmo presentes indícios
concretos acerca da inveracidade da acusação, ele se abstém do estrito cumpri-
mento de seu dever de cuidado, consistente em oportunizar a manifestação da
pessoa atingida e em adotar providências e cautelas que objetivem uma análise
mais apurada da genuinidade das informações.

O regime jurídico de proteção da liberdade de expressão garante, por um lado, a


impossibilidade de censura prévia, e, por outro, a possibilidade de que os direitos da
personalidade se façam respeitar, a posteriori, por meio de responsabilização civil e
penal (1).

A liberdade de imprensa goza de um regime de prevalência, sendo exigidas condições


excepcionais para seu afastamento quando em conflito com outros princípios constitu-
cionais. Para além da configuração de culpa ou dolo do agente, é necessário também
que as circunstâncias fáticas indiquem uma incomum necessidade de salvaguarda dos
direitos da personalidade.

Não se pode tolerar a extrapolação no exercício da atividade jornalística que menos-


preze direitos de personalidade de outrem, motivo pelo qual, nas circunstâncias acima
citadas, é admissível a responsabilização dos culpados.

Na espécie, estão presentes requisitos dessa natureza, pois, além de a empresa jorna-
lística recorrente não ter feito as ressalvas devidas quanto à honra do recorrido e dado
a ele a oportunidade de apresentar sua versão dos fatos, a entrevista publicada não
examinou o potencial lesivo da informação divulgada nem empregou os mecanismos
razoáveis de aferição de sua veracidade. Ademais, sequer foi provado nos autos que
o entrevistado, responsável pelas alegações que atribuíam ao recorrido a prática de
fato tipificado como crime, havia promovido, de fato, essa imputação.

SUMÁRIO
8
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o


Tema 995 da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e, em
continuidade de julgamento, fixou a tese supracitada.

(1) Precedente citado: ADPF 130.

RE 1.075.412/PE, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
finalizado em 29.11.2023

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – FAZENDA PÚBLICA; EXECUÇÃO; CORREÇÃO


MONETÁRIA; JUROS DE MORA

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


COISA JULGADA

Condenações da Fazenda Pública transitadas em


julgado: relações jurídicas não tributárias e índice
de juros de mora aplicável - RE 1.317.982/ES (Tema
1.170 RG)

ÁUDIO AMICUS REPERCUSSÃO


DO TEXTO CURIAE GERAL

TESE FIXADA:

“É aplicável às condenações da Fazenda Pública envolvendo relações jurídicas


não tributárias o índice de juros moratórios estabelecido no art. 1º-F da Lei n.
9.494/1997, na redação dada pela Lei n. 11.690/2009, a partir da vigência da
referida legislação, mesmo havendo previsão diversa em título executivo judicial
transitado em julgado.”

RESUMO:

A partir da vigência da Lei 9.494/1997, na redação dada pela Lei 11.960/2009, o


índice de juros moratórios previsto em seu art. 1º-F é o que deve incidir para as
condenações da Fazenda Pública que envolvam relações jurídicas não tributárias.

Esta Corte, ao julgar o RE 870.947/SE (Tema 810 RG), declarou a constitucionalidade


do referido dispositivo, especificamente quanto à fixação de juros moratórios em con-
denações oriundas de relação jurídica não tributária, cuja incidência deve se dar de

SUMÁRIO
9
INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

forma imediata relativamente aos processos em andamento, inclusive aqueles em fase


de execução.

Em virtude de os juros moratórios constituírem efeitos continuados do ato, a pretensão


de recebimento se renova todo mês, de modo que inexiste ofensa à coisa julgada, pois
não há desconstituição do título judicial exequendo, mas apenas aplicação de normas
supervenientes cujos efeitos imediatos alcançam situações jurídicas pendentes, por
força do princípio tempus regit actum (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, deu provimento ao recurso
extraordinário para reformar o acórdão recorrido, a fim de que seja aplicado o índice
de juros moratórios estabelecido pelo art. 1º-F da Lei 9.494/1997, na redação dada
pela Lei 11.960/2009 (2), e fixou a tese supracitada.

(1) Precedentes citados: AI 842.063 (Tema 435 RG); ACO 683 AgR-ED; MS 32.435 AgR; RE 1.331.940
(monocrática); ARE 1.317.431 (monocrática); RE 1.314.414 (monocrática); ARE 1.318.458 (monocrática); RE
1.219.741 (monocrática); ARE 1.315.257 (monocrática); e ARE 1.311.556 AgR (monocrática).

(2) Lei 9.494/1997, na redação dada pela Lei 11.960/2009: “Art. 1º-F Nas condenações impostas à Fazenda
Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital
e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais
de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.”

RE 1.317.982/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 11.12.2023


(segunda-feira), às 23:59

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; ICMS; ZONA FRANCA DE MANAUS;


BENEFÍCIO FISCAL; AUSÊNCIA DE PRÉVIA CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO

Zona Franca de Manaus: concessão de incentivos


fiscais referentes ao ICMS sem prévia autorização de
convênio do CONFAZ - ADI 4.832/AM

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

São inconstitucionais — por violarem o disposto no art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF/1988,
eis que não abarcadas pelo quadro normativo especial encampado pelo artigo
40 do ADCT — os incentivos fiscais relativos ao ICMS sem amparo em convênio
interestadual cuja aplicação se estenda a todo o Estado do Amazonas (“crédito

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

estímulo”), bem como o que se dirige exclusivamente a empresas comerciais (“cor-


redor de importação”).

O regime jurídico excepcional previsto no ADCT abrange apenas a Zona Franca de


Manaus, motivo pelo qual não se aplica às demais localidades do Estado do Amazonas.
Por sua vez, o artigo 15 da Lei Complementar 24/1975 excepciona da deliberação do
Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) somente os incentivos fiscais rela-
tivos ao ICMS concedidos às “indústrias” instaladas ou que venham a se instalar na
Zona Franca de Manaus, não alcançando os benefícios concedidos a contribuintes
que, ainda que instalados na referida região, não realizem atividade industrial, isto é,
empresas de natureza estritamente comercial (1).

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou


parcialmente procedente a ação para declarar (i) a inconstitucionalidade dos artigos
1º e 3º, ambos da Lei 3.830/2012 do Estado do Amazonas (redação original e alte-
rações posteriores); (ii) a inconstitucionalidade, por arrastamento, dos artigos 4º-A,
5º e 7º, todos da Lei 3.830/2012 do Estado do Amazonas, do Decreto 33.082/2013
do Estado do Amazonas, e dos artigos 27, 28, 29, 30, 31-A, 32, 33 e 34-A, todos do
Decreto 23.994/2003 do Estado do Amazonas; e (iii) a inconstitucionalidade parcial,
sem redução de texto, do artigo 13 da Lei 2.826/2003 do Estado do Amazonas e
do artigo 16 do Decreto 23.994/2003 do Estado do Amazonas, para restringir seu
âmbito de incidência às indústrias instaladas ou que venham a se instalar na Zona
Franca de Manaus.

(1) Precedentes citados: ADI 5.882; ADI 2.549; ADI 3.664; ADI 3.803; ADI 4.512; ADI 1.247; ADI 2.345; ADI
3.794 e ADI 2.458.

ADI 4.832/AM, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 11.12.2023 (segunda-feira),
às 23:59

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

DIREITO TRIBUTÁRIO – IMPOSTOS; ICMS; ZONA FRANCA DE MANAUS;


BENEFÍCIO FISCAL; CREDITAMENTO

Zona Franca de Manaus: supressão de créditos de


ICMS relativos à aquisição de mercadorias oriundas
da localidade - ADPF 1.004/SP

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

RESUMO:

São inconstitucionais os atos administrativos do Estado de São Paulo que determi-


nem a supressão de créditos de ICMS relativos à aquisição de mercadorias oriun-
das da Zona Franca de Manaus, contempladas com incentivos fiscais concedidos
unilateralmente às indústrias ali instaladas com fundamento na Lei Complementar
24/1975 (art. 15).

Esses incentivos são válidos porque se inserem no regime tributário diferenciado da Zona
Franca de Manaus, exceção prevista originalmente no ADCT (art. 40) com o objetivo de
promover o desenvolvimento daquela região (CF/1988, art. 170, VII) (1). Nesse contexto,
a Lei Complementar 24/1975, além de dispensar a anuência dos demais estados e do
Distrito Federal para a concessão de incentivos fiscais concernentes ao ICMS às indús-
trias instaladas ou que vierem a se instalar na Zona Franca de Manaus, também veda
a exclusão desses incentivos pelas demais unidades da Federação.

Assim, os estados-membros, a pretexto de cotejarem o mencionado dispositivo legal


com outras normas e de interpretá-lo, não podem glosar créditos de ICMS relativos
à aquisição de mercadorias da Zona Franca de Manaus agraciadas com incentivos
fiscais, sob o argumento de que inexiste prévia autorização em Convênio do Conselho
Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) para a concessão do benefício.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade de quaisquer atos administrativos do Fisco paulista
e do Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São Paulo (TIT/SP) que determinem a
supressão de créditos de ICMS relativos a mercadorias oriundas da Zona Franca de
Manaus contempladas com incentivos fiscais concedidos às indústrias ali instaladas
com fundamento no art. 15 da Lei Complementar 24/1975 (2).

(1) Precedente citado: RE 592.891 (Tema 322 RG).

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

(2) Lei Complementar 24/1975: “Art. 15 - O disposto nesta Lei não se aplica às indústrias instaladas ou que
vierem a instalar-se na Zona Franca de Manaus, sendo vedado às demais Unidades da Federação determinar
a exclusão de incentivo fiscal, prêmio ou estímulo concedido pelo Estado do Amazonas.”

ADPF 1.004/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 11.12.2023 (segunda-feira),
às 23:59

DIREITO TRIBUTÁRIO – REGISTRO ESPECIAL; FABRICAÇÃO E


COMERCIALIZAÇÃO DE CIGARROS; OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS;
DESCUMPRIMENTO; SANÇÃO POLÍTICA

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS;


ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Indústria de cigarro: possibilidade de


cancelamento sumário de seu registro
especial - ADI 3.952/DF

ÁUDIO AMICUS
DO TEXTO CURIAE

VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO VÍDEO DO


JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO JULGAMENTO

Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4

RESUMO:

O cancelamento, pela autoridade fiscal, do registro especial de funcionamento de


empresa dedicada à fabricação de cigarros — decorrente do “não cumprimento
de obrigação tributária principal ou acessória, relativa a tributo ou contribuição
administrado pela Secretaria da Receita Federal” (Lei 9.822/1999, art. 1º, na parte
que deu nova redação ao Decreto-Lei 1.593/1977, art. 2º, II) — é medida excepcional
e deve atender aos critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, precedido:
(i) da análise da relevância (montante) dos débitos tributários não quitados; (ii)
da observância do devido processo legal na aferição da exigibilidade das obriga-
ções tributárias; e (iii) do exame do cumprimento do devido processo legal para
a aplicação da sanção.

A orientação desta Corte que, historicamente, tem confirmado e garantido a proibi-


ção constitucional às sanções políticas não serve de escusa ao deliberado e temerário

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

desrespeito à legislação tributária. Não há que se falar em sanção política se as res-


trições à prática de atividade econômica objetivam combater estruturas empresariais
que têm na inadimplência tributária sistemática e consciente sua maior vantagem con-
correncial. Assim, a restrição ao exercício de atividade econômica apenas se afigura
inconstitucional se for desproporcional e desarrazoada.

Na espécie, a norma deve ser concebida para regular situações extremas e de grave
desequilíbrio concorrencial, e não pode ser mero instrumento de combate ao inadim-
plemento, na medida em que a inadimplência contumaz, marcada ou não pela sone-
gação, desequilibra artificial e ilicitamente as condições de livre concorrência.

Nesse contexto, para se caracterizar como sanção política, a norma extraída da inter-
pretação do art. 2º, II, do Decreto-Lei 1.593/1977 deve atentar contra uma das balizas
que foram acima registradas (1). Os três estágios para a identificação de dada restri-
ção à atividade empresarial como sanção política tributária são baseados na tensão
que se coloca entre o direito fundamental ao exercício de atividade profissional ou
econômica lícita, reforçado pela garantia de acesso aos mecanismos de controle da
validade do débito tributário, que se deve dar ao administrado e ao jurisdicionado, e
o dever fundamental de pagar tributos, aplicado tanto como salvaguarda da garantia
à livre concorrência e iniciativa como instrumento de arrecadação de recursos essen-
ciais à atividade estatal.

Por fim, é necessário que o recurso administrativo cabível do ato de cancelamento do


registro especial seja dotado de efeito suspensivo (Decreto-Lei 1.593/1977, art. 2º, §
5º), permitindo o funcionamento da empresa até o julgamento do recurso, haja vista
a gravidade da sanção.

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria e em conclusão


de julgamento (Informativos 605 e 914), julgou parcialmente procedente a ação para
dar interpretação conforme a Constituição ao art. 1º da Lei 9.822/1999 — na parte que
deu nova redação ao inciso II do art. 2º do Decreto-Lei 1.593/1977 (2), bem como con-
cluiu pela existência do efeito suspensivo ao recurso administrativo mencionado no §
5º do art. 2º do Decreto 1.593/1977 (3), incluído pela Medida Provisória 2.158-35/2001.

(1) Precedente citado: RE 550.769.

(2) Decreto-Lei 1.593/1977: “Art. 2º O registro especial poderá ser cancelado, a qualquer tempo, pela
autoridade concedente, se, após a sua concessão, ocorrer um dos seguintes fatos: (...) II – não-cumprimento
de obrigação tributária principal ou acessória, relativa a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria
da Receita Federal;”

(3) Decreto-Lei 1.593/1977: “Art. 2º (...) § 5º Do ato que cancelar o registro especial caberá recurso ao Secretário
da Receita Federal, sem efeito suspensivo, dentro de trinta dias, contados da data de sua publicação, sendo
definitiva a decisão na esfera administrativa.”

ADI 3.952/DF, relator Ministro Joaquim Barbosa, redatora do acórdão Ministra Cármen Lúcia,
julgamento finalizado em 29.11.2023

SUMÁRIO
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INFORMATIVO STF EDIÇÃO 1120/2023 |

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

JULGAMENTO VIRTUAL: 15/12/2023 a 05/02/2024

ADI 7.424/ES
Relator: Ministro GILMAR MENDES

Porte de armas a agentes socioeducativos no âmbito estadual

Análise da constitucionalidade de dispositivos da Lei Complementar 1.017/2022


do Estado do Espírito Santo que tratam da concessão de porte de arma de
fogo a titulares do cargo de agente socioeducativo, embora vede porte e uso nas
dependências internas das unidades socioeducativas.

ADI 5.553/DF
Relator: Ministro EDSON FACHIN

Incentivos fiscais aos agrotóxicos

Discussão, à luz do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado (CF/1988, art.


225), sobre a constitucionalidade de cláusulas do Convênio 100/1997 do CONFAZ,
que reduziram a base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços (ICMS) referente a defensivos agrícolas, bem como da tabela
do Decreto 7.660/2011, que concede para esses produtos isenção total do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI).

Clique aqui para acessar também a planilha contendo dados


estruturados de todas as edições do Informativo já publicadas no portal do STF.

SUMÁRIO
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