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Poder de Polícia

Por Gustavo Mello
INTRODUÇÃO
 
Poder de polícia é aquele através do qual o Poder Público interfere na órbita do interesse privado restringindo direitos individuais
em prol da coletividade. O fundamento dessa prerrogativa é o interesse público, ou a supremacia do interesse público sobre o
interesse privado, princípio geral do direito administrativo. De acordo com José dos Santos Carvalho Filho, o poder de polícia é
a “prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade
e da propriedade em favor do interesse da coletividade”.
 
A definição legal de poder de polícia é dada pelo Código Tributário Nacional – CTN, lei nº 5.172/66, como sendo a“atividade da
Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de
fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranqüilidade
pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. A razão para que essa definição esteja no CTN é
que o exercício do poder de polícia por um ente federado constitui-se em fato gerador de uma espécie de tributo, qual seja, a taxa,
conforme prevê a Constituição Federal no artigo 145 II:
 
“Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.”
 
Isso significa que, quando algum desses entes federativos utiliza de seu poder de polícia, limitando o exercício de uma liberdade
individual em benefício de toda a coletividade, ele está apto a cobrar uma taxa. Assim, por exemplo, o legítimo proprietário de um
terreno não tem a liberdade individual de construir nele um prédio com as características que desejar, devendo requerer ao Poder
Público uma licença para construção, quando então a Administração exercerá seu poder de polícia dispondo sobre a altura
máxima, área construída máxima, distância mínima do prédio lateral, entre outras exigências, todas em benefício não daquele
proprietário, mas sim da coletividade, notadamente de seus vizinhos, e por isso será cobrada do solicitante uma taxa de licença de
construção.
Importante ainda verificar que o poder de polícia administrativa pode ser exercido pelas entidades da Administração Direta
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) de acordo com a divisão de competências entre elas (cabendo à União a regulação
de assuntos de interesse nacional, aos Estados as matérias de interesse regional e aos Municípios os assuntos de interesse local) e
ainda pelas entidades da Administração Indireta de direito público (autarquias e fundações), quando essencial à consecução de
seus fins institucionais, vez que esse poder é outorgado àquela entidade por lei, não sendo admitida a delegação do poder de
polícia às pessoas de direito privado. Admite-se a atribuição apenas de atos de execução aos particulares delegados, como ocorre,
por exemplo, com as empresas privadas que operam equipamentos radares que controlam a velocidade dos veículos em vias
públicas ou aquelas empresas responsáveis pela demolição de imóveis irregulares. Em ambos os casos, a empresa privada não
estará executando atos de polícia, só estará auxiliando a Administração que detém o poder de polícia.
 
POLÍCIA ADMINISTRATIVA E POLÍCIA JUDICIÁRIA
O poder de polícia é dividido pela doutrina, para fins de estudos, em dois segmentos: polícia administrativa e polícia judiciária:
 
POLÍCIA ADMINISTRATIVA
A polícia administrativa é uma atividade da Administração que procura verificar e evitar a ocorrência de ilícitos administrativos,
tal como quando agentes administrativos estão executando serviços de fiscalização de atividades de comércio, condições de
alimentos, requisitos para execução de obra de construção civil, vigilância sanitária, entre outros.
 
A polícia administrativa em regra procura evitar a ocorrência de danos à coletividade, razão pela qual se diz que tem caráter
preventivo. Exemplos disso são as fiscalizações e inspeções quanto às condições de higiene de estabelecimentos que lidem com
alimentos, procurando evitar prejuízos aos clientes. Tal característica não é absoluta, vez que, caso sejam encontradas
irregularidades graves naquele local, os agentes agirão repressivamente na apreensão de mercadorias ou na interdição do
estabelecimento. Defendem alguns autores que, ainda assim, estará a Administração agindo de forma a prevenir futuros danos à
população.
 
Ela é exercida por órgãos administrativos diversos, de caráter predominantemente fiscalizador, e incide sobre bens, direitos ou
atividades. As polícias têm por objeto a prevenção em diversificados setores da vida social, tais como saúde, economia,
transportes e outros, originando assim a polícia sanitária, a polícia econômica, a polícia de trânsito, a polícia do trabalho, etc.
 
POLÍCIA JUDICIÁRIA
O termo polícia judiciária não significa que essa espécie integre o Poder Judiciário, ela é uma atividade administrativa, exercida
pela Administração Pública, mas que tem como objetivo principal coletar dados e fornecer subsídios ao Judiciário, servindo para
preparar a função jurisdicional. A polícia judiciária é exercida sempre por órgãos de segurança, corporações especializadas, tais
como a polícia civil e a polícia federal, sendo regulada pelo Código de Processo Penal, incidindo diretamente sobre pessoas.
 
Ocorre que os agentes da polícia judiciária agem no campo dos ilícitos penais, investigando a prática de crimes, desenvolvendo
atividades como oitiva de testemunhas, convocação de indiciados, inspeções e perícias, e, terminada a apuração, os elementos
serão enviados ao Ministério Público para propositura de ação penal, via judicial, razão pela qual é chamada de polícia judiciária,
apesar de não pertencer à estrutura do Poder Judiciário. Daí então a principal diferença entre as espécies é que a polícia judiciária
atua no campo do ilícito penal, enquanto a polícia administrativa age no campo do ilícito administrativo.
 
Ela terá caráter repressivo, vez que se destina à responsabilização penal do indivíduo. Da mesma forma já vista antes, essa
característica também não é absoluta, vez que as polícias também atuam de forma preventiva, a fim de evitar a prática de delitos.
Corrente minoritária defende, inclusive, que nem mesmo a polícia judiciária desenvolve uma atividade repressiva, vez que a
repressão dos crimes compete sim ao Poder Judiciário, incumbindo à polícia judiciária apenas prevenir a criminalidade. Tais
citações servem aqui para mostrar ao estudante que as definições de caráter preventivo ou repressivo das polícias não são
absolutas, entretanto, para efeito de questões objetivas em concurso público, deve-se seguir a doutrina majoritária, entendendo o
caráter da polícia administrativa como predominantemente preventivo e o da polícia judiciária como predominantemente
repressivo.
 
RESUMO ESQUEMÁTICO
 

 
 
QUESTÃO COMENTADA
 
AFC (AUDITORIA) – CGU 2006 – ESAF
Tratando-se do poder de polícia administrativa, assinale a afirmativa falsa.
a) O ato de polícia administrativa provém privativamente de autoridade pública.
b) Caracteriza-se, fundamentalmente, como uma obrigação de não-fazer.
c) Assim como a polícia judiciária, a polícia administrativa também pode ser repressiva.
 
COMENTÁRIO
As letras A, B e C estão corretas. O ato de polícia só pode vir de uma autoridade de pessoa jurídica de direito público; o poder de
polícia, fundamentalmente, caracteriza uma prestação negativa, de não fazer (mas pode ser uma obrigação de fazer); a polícia
administrativa também pode ser repressiva, embora seja, em regra, preventiva. 
 
CUIDADO!!!
Deve-se tomar cuidado com as expressões utilizadas nas questões. Com relação à questão anterior, se na letra B estivesse escrito
“sempre” ou “em qualquer caso”, ao invés de “fundamentalmente”, a questão estaria errada. Da mesma forma, a letra C estaria
errada se houvesse utilizado “é” ao invés de “pode ser”.
 

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