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ivessem. Dietrich saiu e desprendeu uma das quatro sirgas que o afastavam de
atrás, semana passada Dietrich achou que estava ficando mais acostumado com a seu próprio panzer. Tomou a sirga solta e se puxou pela neve enquanto passava o
violência a cada minuto. Nem mesmo os pedaços de carne ou sangue que cobriam cabo excedente sobre seu ombro.
sua roupa o aborreciam mais. O que quer que o estivesse seguindo iria atrás dos outros veículos ainda
O amargo frio da noite caiu sobre a região forçando Dietrich a voltar para o amarrados ao Tiger, deixando Dietrich seguro e só em seu tanque isolado. Ele
interior de seu tanque para se abrigar. Embora todas as aberturas estivessem sabia que suas ações iriam lhe custar as vidas de seus aliados, mas esse era um
fechadas, o calor ainda continuava escapando como água por uma peneira. sacrifício que ele faria em interesse próprio. Além disso, nenhum deles era mais leal
Dietrich se maravilhou de como esta lâmina de Wehrmacht conseguia resistir às à Alemanha agora. Desde Stalingrado, seus soldados ridicularizaram o relatório
balas e cartuchos russos mas não conseguia manter longe o maior soldado do semanal do Ministério do Esclarecimento Público. Se a guerra hesitou, foi porque
Império Soviético, o “General Geada”. Dietrich não queria congelar, mas em Hitler permitiu que espécies inferiores lutassem ao lado do volk alemão e porque
pouco tempo ficou sem o calor preso e não tinha nada para queimar com seu enfraqueceu os homens com o sangue fraco lutado nas linhas de frente. Indignado
isqueiro. Se quisesse sobreviver, teria que deixar o santuário de seu panzer e e furioso, Dietrich lutou contra a neve, amaldiçoando o Reich por trair seus
procurar os veículos próximos. Holden havia mencionado algo sobre cinco outros próprios sonhos.
tanques; um deles provavelmente teria algo de útil, mas devia tomar cuidado para ***
não se aproximar do Tiger de Habsmann. O panzer III era seis toneladas mais leve que o Kampfwagen de Dietrich,
Dietrich checou o pente da pistola Sturmgewehr .44 e estava a ponto de mas havia sido remodelado com uma arma de calibre 50mm. O vento gelado
abrir a escotilha quando algo escureceu as janelas de vidro da torre. lavava a saia do tanque, a deixando enlameada até a próxima primavera. Pintado
Instintivamente, Dietrich esgueirou-se para uma parte lateral do compartimento de branco, ele quase se perdeu na nevasca. A única característica que permaneceu
dianteiro onde alcançou o assento do motorista. Não pode ser Holden ou qualquer contra sua superfície foram 10 romenos que cobriam o tanque como vermes num
outro soldado da divisão, pensou Dietrich. Eles conheciam todo procedimento, cadáver. Estavam todos com os rostos virados para baixo, mortos e presos ao metal
bater com o cabo da arma ou forçar a escotilha antes de entrar caso não quisessem exposto bloqueando as quatro escotilhas maiores. Dietrich os percebeu, junto à
ter suas cabeças arrancadas pelos tripulantes irritados do panzer. Havia alguém entrada de ar e às portas de escape. Alguém os posicionou deliberadamente, e por
ali, mas estava muito escuro para ver qualquer coisa. um momento, Dietrich se encontrou apreciando a lógica fria e estéril que tal ação
Um assobio de ar frio passou despercebido no tanque, junto com uma fraca exigia.
camada de neve branca o intruso abriu a escotilha. Dietrich sentia um vazio no “Eu caminhei até a cova do leão”, Dietrich murmurou. O que quer que
estômago e seu sangue descia como uma cachoeira. Algum instinto primordial em estivesse seguindo sua divisão havia feito lar ali, mas como a tempestade já havia
sua nuca gritava para que Dietrich corresse. Não era um inimigo; era um caçador. coberto sua trilha, Dietrich não tinha esperança de conseguir voltar. Este panzer
Cuidadosamente, Dietrich chegou por trás dele e correu seus dedos junto a era a sua única salvação. “Além do mais”, continuou para si, “o que quer que tenha
alcova no teto. A escotilha da cúpula estava completamente aberta. Pequenos barrado as escotilhas o fez por algum motivo”. Se estivesse protegendo algo, então
remoinhos de gelo fino caíam pela abertura e se deitavam sobre o interior merecia a atenção de Dietrich.
marrom-avermelhado. Os dedos de Dietrich alcançaram um trinco. Ele o Dietrich soltou o cabo e subiu até o soldado que jazia sobre a escotilha do
empurrou suavemente, dolorosamente atento ao baixo gemido que fez, mas a comandante. Com um movimento firme de ombros, Dietrich tentou espreitar o
escotilha de fuga do piloto se abriu com um barulho satisfatório. Mais ar frio interior do tanque. O rosto do cadáver se desfez em tiras duras, deixando para trás
entrou e preencheu o compartimento dianteiro. Quieto, Dietrich se posicionou sob pedaços de carne no metal, mas o corpo permaneceu preso em algo que havia
sua saída. Ele conseguia ver um par de... mãos...que mais pareciam garras sobre a maltratado seu rosto além do reconhecimento, rasgando sua jaqueta e roupas
escotilha da cúpula. Um urso? Um lobo selvagem? O que quer que seja que também. O estômago e tórax expostos do soldado estavam da mesma forma
estivesse entrando, fazia com a cabeça primeiro. Dietrich não esperou para ver a congelados no metal, mas não da forma que Dietrich esperava. O soldado parecia
cara da criatura, empurrou a cadeira do piloto, passou pela escotilha e pelo ancorado ao metal, com sua carne exposta presa ou soldada na escotilha de uma
arrepiante ar frio. forma que Dietrich não se preocupava. Eram apenas romenos
Com quase nenhuma visibilidade, o vento uivante varreu todo o barulho e Dietrich pegou sua faca e cortou a carne, separando o cadáver da escotilha.
clamou como seu. Dietrich olhou para trás na torre coberta de neve apenas a tempo Da mesma forma que esfolar um coelho. Depois de um tempo cortando e serrando
de ver parte de um coturno preto passar pela escotilha. Dietrich saltou fora do ele usou a ponta da faca para cavar a carne que revestia as fendas da escotilha,
tanque e se agarrou à sirga que o ligava ao Tiger. Se segurando, ele fez seu caminho finalmente a abrindo. Uma onda de ar quente e o cheiro de vísceras de açougue o
através da neve que chegava até os joelhos, na tempestade que piorava. inundaram. O interior estava úmido. Meio congelado e minutos sem ulceração.
*** Dietrich caiu no tanque, batendo a trava da escotilha com um tinir barulhento. O
Os ventos ficaram mais fortes, atrapalhando Dietrich, mas ele abria calor o envolveu.
caminho entre a nevasca. Depois de uma eternidade, Dietrich chegou ao Tiger. Uma mistura nociva de cheiro de vísceras e sangue ocupava o interior negro
Era um beberrão de petróleo desengonçado. Ele não era chamado “Van de como o azeviche, mas isso não chagava a aborrecer Dietrich. Ele tinha passado
Móveis” por sua elegância. Mesmo agora, meio oculto na neve que se acumulava, seus verões em uma fazenda de ovelhas em Kümmritz ao sul de Berlim e estava
parecia pesado e feio. Pedaços de zimmerit, uma pasta de mina anti-magnética, acostumado com o cheiro de morte. Era o choro e o soluço baixos em torno dele que
haviam derramado revelando um cinza mosqueado. A escotilha lateral da torre rangiam em seus nervos. Dietrich apalpou seu isqueiro e o acendeu. As sombras
estava bem aberta. Dietrich pegou impulso para sair da neve e se apoiou sobre o dançaram em volta da luz bruxuleante, escurecendo as fissuras e cantos do interior
Tiger. Perscrutou o interior do tanque vazio. A tripulação deve estar morta, era o do panzer. Foi quando ele encontrou os outros sobreviventes.
pensamento Dietrich, mas ele tinha pouco interesse neles agora, onde quer que O interior do tanque era o matadouro do Diabo. Holden, Habsmann e ao
Introdução
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