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O DESMATAMENTO NO VALE DO TAQUARI

No século XIX, imigrantes alemães e italianos chegaram ao Rio Grande do Sul,


receberam do Estado terras, denominadas colônias, e incentivos para que nelas
desenvolvessem suas culturas. O desmatamento era algo permitido e estimulado,
visando ao desenvolvimento do país. Atualmente, os descendentes destes
imigrantes e brasileiros em geral, que se tornaram proprietários de áreas rurais,
estão sendo notificados pelo Estado, através do Poder Judiciário, a cumprir uma
legislação que os obriga a reservar 20% de sua propriedade rural com vegetação
nativa e a manter áreas de preservação permanente, sob pena de caracterização de
crime ambiental e aplicação de sanções, dentre as quais multas elevadas. Muitos
proprietários rurais desconhecem a motivação da legislação vigente, seus aspectos
ecológico, cultural, social e econômico, sentindo-se lesados, pois entendem que
serão financeiramente prejudicados com a diminuição das áreas produtivas de suas
propriedades. Baseado neste contexto, o presente estudo investiga conflitos e
aproximações na relação entre o Estado (Ministério Público), Poder Público
Estadual (Defap), Poder Público Municipal (Secretaria do Meio Ambiente), entidades
locais (Emater e Sindicato dos Trabalhadores Rurais) e os proprietários rurais, a
partir da negociação para o cumprimento das exigências de reserva legal e área de
preservação permanente na zona rural, tomando por base o processo de
negociação nos municípios de Bom Retiro do Sul, Estrela e Lajeado, localizados no
Vale do Taquari, região pioneira do Rio Grande do Sul na aplicação do projeto
Corredor Ecológico. O método da presente pesquisa é qualitativo e exploratório.
Realizou-se um estudo comparativo com atores dos três municípios citados. Os
meios utilizados para atingir os objetivos da pesquisa são bibliográficos,
documentais e de campo. A amostra é não probabilística e foi escolhida por
acessibilidade e tipicidade. Concluiu-se referente à categoria aspectos históricos da
relação proprietário rural e rio Taquari que a ocupação das terras no Vale do Taquari
não se deu de forma planejada, mas descomprometida com a preservação dos
recursos ambientais. O governo da época, ao instituir o processo de imigração
oficial, não se comprometeu com a utilização sustentável dos recursos naturais,
estabelecendo critérios de exploração. Com referência às exigências legais
concluiu- se que estas precisam ser revistas e adequadas à realidade regional,
observando-se os vieses social, ecológico e cultural, não apenas o econômico e o
legal. Finalmente, quanto à categoria processo de negociação, concluiu-se que é
necessário incluir medidas educativas e não só legislativas nas negociações, do
contrário todo o trabalho realizado pelo Ministério Público e os demais atores não
alcançará as futuras gerações devido à resistência dos proprietários de imóveis
rurais.

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