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Celibato

estado de abstinência sexual voluntária

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O celibato (do latim cælibatus, estado


daquele que não é casado ou que é
célibe) é, na sua definição literal, o
estado de uma pessoa que se mantém
solteira.[1]

Motivações
do latim cælibatus "sem estar casado",
em oposição a coniugalem, conjugal,
com jugo, espécie de forca por baixo
da qual desfilavam (perante os
Romanos) os inimigos vencidos;
Crenças religiosas — celibato clerical;
Para concentrar-se em outras
questões, como carreira profissional;
Falta de apetite sexual;
Celibato involuntário — uma pessoa
que devido à sua solidão e isolamento
social mantenha involuntariamente um
celibato, contra sua vontade;
Como uma tentativa de obter um
senso de identidade e independência
dos outros;
Por problemas de saúde — celibato
médico;
Evitar os riscos de contaminação por
doenças sexualmente transmissíveis;
Evitar se decepcionar
emocionalmente;
Como um meio de controle de
natalidade.

Cristianismo
O celibato é visto de forma diferente por
diferentes grupos cristãos. O apóstolo
Paulo referente ao sexo fora dos laços
do casamento escreve em 1 Coríntios 7,
"É bom para um homem não ter relações
sexuais com uma mulher. Mas, devido à
tentação de imoralidade sexual, cada
homem deve ter a sua própria mulher e
cada mulher seu próprio marido."
(versículos 1-2); "Eu desejo que todos
sejam como eu sou. Mas cada um tem o
seu próprio dom de Deus, um de uma
espécie e uma de outro. Para os solteiros
e as viúvas digo que é bom para eles
permanecer como eu sou. Mas se eles
não podem exercer autocontrole, devem
casar. Por isso é melhor casar do que
queimar com paixão." (versículos 7-9);
"Quero que você seja livre de medos.
Solteiro o homem está preocupado com
as coisas do Senhor, a forma de agradar
ao Senhor. Porém, o homem casado está
preocupado com as coisas mundanas,
como agradar à sua esposa, e seus
interesses estão divididos. E a mulher
solteira está preocupada com as coisas
do Senhor, como ser santa no corpo e
espírito. Mas a mulher casada está
preocupada com as coisas mundanas,
como para agradar o marido. Digo isto
para seu próprio benefício, para não
estabelecer qualquer restrição sobre
você, mas para promover a boa ordem e
para garantir o seu indiviso devoção ao
Senhor." (versículos 32-35)?[2]

1 Timóteo 4:1-3: "Porém o


Espírito expressamente diz
que nos últimos tempos
alguns apostatarão da fé,
dando ouvidos a espíritos
enganadores, e a doutrinas de
demônios; Que falarão
mentiras em hipocrisia, tendo
cauterizada a sua própria
consciência; Proibindo o
casamento, e mandando que
se abstenham dos alimentos
que Deus criou para os fiéis, e
para os que conheceram a
verdade, para deles usarem
com ações de graças. 1
Timóteo 3:2-5: "É necessário,
pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma
só mulher, sóbrio, prudente,
respeitável, hospitaleiro e
apto para ensinar; não deve
ser apegado ao vinho, nem
violento, mas sim amável,
pacífico e não apegado ao
dinheiro. Ele deve governar
bem sua própria família,
tendo os filhos sujeitos a ele,
com toda a dignidade. Pois,
se alguém não sabe
governar sua própria
família, como poderá
cuidar da igreja de Deus?"

Perspectiva católica
Para a Igreja Católica Apostólica
Romana, a castidade antes do
casamento é uma forma de conhecer o
parceiro. A Igreja aceita que o desejo
pelo prazer sexual faz parte da natureza
humana, mas que a felicidade e o prazer
não são sinônimos. O prazer poderia
transformar o parceiro sexual em um
meio, em um ato egoísta, enquanto o
verdadeiro conhecimento do parceiro
(amor) poderia estar sendo camuflado.

Embora no passado fosse aceite o


matrimônio de padres ordenados (tendo
incluso São Paulo recomendado a
fidelidade matrimonial aos bispos[3]), na
atualidade, exceptuando em casos
referentes aos diáconos e a padres
ordenados pelas Igrejas orientais
católicas e pelos ordinariatos pessoais
para anglicanos, todo o clero católico
latino é obrigado a observar e cumprir o
celibato.[4][5][6] [Ver: S. Mateus 19, 12].
Nas Igrejas orientais, o celibato é apenas
obrigatório para os bispos, que são
escolhidos entre os sacerdotes
celibatários.[7]

O celibato acabou por se impor no


Ocidente: o Código de Direito Canónico
impõe o celibato a todos os sacerdotes
da Igreja Latina (em 277). Porém, há
várias exceções de sacerdotes casados
na Igreja Latina, houve alguns papas
casados (Adriano II, Honório IV), bispos
casados (nas diocese da Islândia até à
Reforma protestante; o bispo Salomão
Barbosa Ferraz no Brasil) e vários padres
casados ordenados nos Estados Unidos,
Canadá, Austrália, Reino Unido e
Escandinávia, sob autorização especial.

A Igreja Católica de rito latino,


sinteticamente, dá as seguintes
principais razões de ordem teológica
para o celibato dos sacerdotes e
religiosos de vida consagrada:[8]

com o celibato os sacerdotes entregar-


se-iam de modo mais excelente a
Cristo, unindo-se a Ele com o coração
indiviso;
o celibato facilita ao sacerdote a
participação no amor de Cristo pela
humanidade uma que vez que Ele não
teve outro vínculo nupcial a não ser o
que contraiu com a sua Igreja;
com o celibato os clérigos dedicar-se-
iam com maior disponibilidade ao
serviço dos outros homens;
a pessoa e a vida do sacerdote são
possessão da Igreja, que faz as vezes
de Cristo, seu esposo;
o celibato dispõe o sacerdote para
receber e exercer com generosidade a
paternidade que pertence a Cristo.

História

A recomendação de celibato clerical na


igreja latina possui sua primeira menção
pelo Concílio de Elvira (295-302), mas,
como este concílio era apenas um
concílio provincial espanhol (Elvira era
uma cidade romana, junto a Granada), as
suas decisões não foram cumpridas por
toda a Igreja cristã.[9][10] O Concílio de
Elvira assim legislou: "Bispos, presbíteros,
diáconos e outros que ocupem uma
posição no ministério devem abster-se
totalmente de relações sexuais com suas
esposas e da procriação de filhos. Se
alguém desobedecer, seja ele privado do
estado clerical" (XXXIII cânon). O
Primeiro Concílio de Niceia (325)
decretou apenas que "todos os membros
do clero estão proibidos de morar com
qualquer mulher, com excepção da mãe,
irmã ou tia" (III cânon).[9] Apesar disso, no
final do século IV, a Igreja Latina
promulgou várias leis a favor do celibato,
que foram geralmente bem aceites no
Ocidente no pontificado de São Leão
Magno (440-461).[10] Aliás, o Concílio de
Calcedónia (451) proibiu o casamento de
monges e virgens consagradas (XVI
cânon), impondo por isso o celibato ao
clero regular.[11]

Porém, apesar disso, houve vários


avanços e recuos na aplicação desta
prática eclesiástica, nomeadamente
entre o clero secular, chegando até
mesmo a haver alguns Papas casados,
como por exemplo o Papa Adriano II
(867-872).[12] No século XI, vários Papas,
especialmente Leão IX (1049-1054) e
Gregório VII (1073-1085), esforçaram-se
novamente por aplicar com maior rigor
as leis do celibato, devido à crescente
degradação moral do clero, causada em
parte pela confusão instaurada pelo
desmembramento do Império Carolíngio.
Naquele período, houve padres e bispos
que chegaram a mostrar publicamente
que tinham esposas ou concubinas.[10]
Segundo fontes históricas, durante o
Concílio de Constança (1414-1418), 700
prostitutas atenderam sexualmente os
participantes.[13][14][15]

Por fim, o Primeiro Concílio de Latrão


(1123) e o Segundo Concílio de Latrão
(1139) condenaram e invalidaram o
concubinato e os casamentos de
clérigos, reforçando assim o celibato
clerical, que já era na altura uma prática
frequente e aceite pela maioria como
necessária.[16][17] O celibato é defendido
porque os celibatários eram mais livres e
disponíveis, daí que, com o tempo, o
clero regular se foi destacando em
relação ao clero secular.

O celibato clerical voltou ainda a ser


defendido em força pelo Quarto Concílio
de Latrão (1215) e pelo Concílio de
Trento (1545-1563), que impôs
definitivamente o celibato obrigatório a
todo o clero da Igreja Latina, incluindo o
clero secular.[10]

Magistério da Igreja Católica

Verifica-se pelos documentos da Igreja


que há de sua parte uma vontade
decidida de manter esta praxis
antiquissima: Pio XII abordou o tema na
encíclica Sacra virginitas. Em 1965 dois
documentos do Concílio Vaticano II
trataram do tema do celibato sacerdotal:
Presbyterorum ordinis, n. 16 e Optatam
totius, n. 10.

Sobre este tema o Papa Paulo VI, em 24


de junho de 1967, editou uma encíclica
denominada Sacerdotalis Caelibatus,
sobre o celibato sacerdotal, neste
documento lembra a apologia que os
Padres Orientais fizeram da virgindade:
Ainda hoje faz eco no nosso coração, por
exemplo, a voz de São Gregório Nisseno,
quando nos recorda que "a vida virginal é
a imagem da felicidade que nos espera no
mundo que virá".

Em 1971, o II Sínodo dos Bispos


preparou um novo documento no mesmo
sentido, depois aprovado pelo Papa
Paulo VI, denominado De sacerdotio
ministeriali, de 30 de novembro.

Também João Paulo II afirma: Fruto de


equívoco — se não mesmo de má-fé — é a
opinião, com frequência difundida, de que
o celibato sacerdotal na Igreja Católica é
apenas uma instituição imposta por lei
àqueles que recebem o sacramento da
Ordem. Ora todos sabemos que não é
assim. Todo o cristão que recebe o
sacramento da Ordem compromete-se ao
celibato com plena consciência e
liberdade, depois de preparação de vários
anos, profunda reflexão e assídua oração.
Toma essa decisão de vida em celibato,
só depois de ter chegado à firme
convicção de que Cristo lhe concede esse
«dom», para bem da Igreja e para serviço
dos outros. Só então se compromete a
observá-lo por toda a vida. (Carta Novo
incipiente a todos os sacerdotes da
Igreja na Quinta-feira Santa, 8 de abril de
1979).

Bento XVI, recentemente, em Mariazell,


disse: Para compreender bem o que
significa a castidade devemos partir do
seu conteúdo positivo, explicando que a
missão de Cristo o levava a um dedicação
pura e total para com os seres humanos.
Nas Sagradas Escrituras não há nenhum
momento de sua existência donde em seu
comportamento com as pessoas se
vislumbre pegadas de interesse pessoal.
(…) Os sacerdotes, religiosos e religiosas,
(…) com o voto de castidade no celibato,
não se consagram ao individualismo ou a
uma vida isolada, mas sim prometem
solenemente pôr totalmente e sem
reservas ao serviço do Reino de Deus as
relações intensas das quais são capazes.
(Da homilia na Basílica de Mariazell,
Áustria, 8 de setembro de 2007).

Perspectiva islâmica
O Islão não promove o celibato, pelo
contrário, promove o casamento. De fato,
de acordo com o Islão o casamento é um
forma que permite à pessoa chegar ao
mais elevado nível de justiça espiritual e
sagrado.

Houve incidentes em que pessoas


indagaram ao Profeta Maomé que eles
preferiam viver em oração, celibato e
jejum para alcançar o amor de Deus. No
entanto, Maomé disse-lhes que, apesar
desta escolha ser boa, é também uma
bênção levantar uma família. Porém o
Islão respeita aqueles que escolhem
conduzir a sua vida dessa maneira.

Ver também
Castidade
Assexualidade
Abstinência sexual
Celibato involuntário
Virgindade
Virgindade religiosa
Sacra virginitas, encíclica de Pio XII,
sobre a sagrada virgindade.
Sacerdotalis caelibatus, encíclica de
Paulo VI, sobre o celibato sacerdotal.

Referências
1. Minidicionário Ruth Rocha. Editora
Scipione. 2001. ISBN 85-262-2768-8

2. «Bible Gateway passage: 1


Corinthians 7 - English Standard
Version» (https://www.biblegateway.
com/passage/?search=1%20Corinthi
ans%207&version=ESV) . Bible
Gateway (em inglês). Consultado em
14 de junho de 2022
3. Primeira Carta a Timóteo:
“ Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma
mulher, vigilante, sóbrio,...; ”
4. IGREJA CATÓLICA (2000).
Catecismo da Igreja Católica.
Coimbra: Gráfica de Coimbra. pp. N.
1579 e 1580. ISBN 972-603-208-3

5. PAPA BENTO XVI (2009).


«Anglicanorum Coetibus» (http://ww
w.vatican.va/holy_father/benedict_xv
i/apost_constitutions/documents/hf_
ben-xvi_apc_20091104_anglicanoru
m-coetibus_po.html) . Santa Sé.
Consultado em 4 de Outubro de 2010
6. «Normas Complementares à
Constituição Apostólica
Anglicanorum coetibus» (http://www.
vatican.va/roman_curia/congregatio
ns/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_20091104_norme-anglicanorum-
coetibus_po.html) . Santa Sé. 2009.
Consultado em 4 de Outubro de 2010

7. «Celibato» (http://www.ecclesia.pt/c
atolicopedia/) . Enciclopédia
Católica Popular. Consultado em 4
de Outubro de 2010

8. SADA, Ricardo e MONROY, Alfonso.


Curso de Teologia dos Sacramentos.
Lisboa: Rei dos Livros, 1991, pgs.
160-161.
9. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).
«The First Council of Nicaea» (http://
www.newadvent.org/cathen/11044a.
htm) (em inglês). Newadvent.org.
Consultado em 26 de Setembro de
2010

10. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).


«Celibacy of the Clergy» (http://www.
newadvent.org/cathen/03481a.htm)
(em inglês). Newadvent.org.
Consultado em 26 de Setembro de
2010
11. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).
«Council of Chalcedon» (http://www.
newadvent.org/cathen/03555a.htm)
(em inglês). Newadvent.org.
Consultado em 26 de Setembro de
2010

12. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).


«Pope Adrian II» (http://www.newadv
ent.org/cathen/01156a.htm) (em
inglês). Newadvent.org. Consultado
em 3 de Outubro de 2010
13. Brotton, Jerry (2003). El bazar del
Renacimiento: sobre la influencia de
Oriente en la cultura occidental (http
s://books.google.es/books?id=NcT5
bNhCdPEC&pg=PA98&dq=Concilio+
Constanza+prostitutas&hl=es&ei=n8
6oTMTYIoKTswboht27DA&sa=X&oi=
book_result&ct=result) (em
espanhol). [S.l.]: Grupo Planeta (GBS)

14. E. Miret Magdalena: «La azarosa


historia del celibato clerical» (http://p
erso.wanadoo.es/laicos/documentar
io/902T-historia-celibato.html) ,
jornal El País, 26 de março de 2002.
15. Daniel-Rops (Henri Petiot), Histoire
de l'Eglise du Christ (Historia de la
Iglesia de Cristo) (1948-1963)

16. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).


«First Lateran Council (1123)» (http://
www.newadvent.org/cathen/09016b.
htm) (em inglês). Newadvent.org.
Consultado em 26 de Setembro de
2010

17. CATHOLIC ENCYCLOPEDIA (1913).


«Second Lateran Council (1139)» (htt
p://www.newadvent.org/cathen/0901
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Consultado em 26 de Setembro de
2010
Bibliografia
PORTILLO, Álvaro del. O sacerdote no
Vaticano II. Lisboa: Ed. Aster, 1972.

TANQUEREY, Adolphe. Compendio de


Teología Ascética y Mística. Madrid: Ed.
Palabra, 1996.

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