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LIVRO: PADRES CASADOS? 30 questões candentes sobre o celibato.

Resumo pag. 17 – 39.

Não é um resíduo, agora superado da pureza ritual, requerida para o sacerdote


do Antigo Testamento?
O celibato do Novo testamento não pode ser visto como um prosseguimento
do Antigo Testamento, mas como algo especifico que encontra o seu ápice em
Cristo. É então um particular carisma de conformidade a Cristo, Virgem e esposo da
Igreja. O celibato compreende uma renúncia de uma fecundidade terrena, afim de
afirmar uma fecundidade radicada na definitiva união entre a Esposa Eclesial e o
seu Esposo divino, purificada pelo sangue do mesmo.
No Antigo testamento, a questão da impureza era levada muito a sério, tanto
na questão dos sacerdotes, reis e até mesmo das mulheres. Tudo que gerava a
perca da vida era visto como algo impuro. Um exemplo disso é o esperma, e em
geral, os fluxos sexuais da puérpera, da menstruada, do homem e da mulher
afetados pela gonorreia. Tudo isso era visto como impurezas, um ofensa contra
Deus, pois eram uma perca dos meios pelo qual depende a transmissão da vida,
afinal, o Deus de Israel é o Deus da vida, que dá a respiração a todos os seres
viventes.

Não é um resíduo, agora superado da pureza ritual, requerida para o sacerdote


do Antigo Testamento.
1- O sentido do celibato de Jesus
O Deus de Israel e seu Pai, enviou Jesus para revelar definitivamente a
própria face incondicionalmente amorosa e para oferecer a vida eterna a todos
àqueles que acreditavam nele. Jesus, assim como os profetas Isaías e Ezequiel,
tornou-se Ele mesmo, um sinal de revelação; e assim também como os profetas
Jeremias e João Batista, viveu célibe, sem gerar filhos, fazendo-se assim, um sinal
de contradição para o Judaísmo, pois, para grande parte, o celibato era uma
condição humilhante. Entretanto, fez conscientemente esta escolha, declarando,
talvez para defender-se de certos boatos que circulavam sobre ele e seus doze, de
ter-se feito “eunuco”, perpetuamente pelo Reino dos Céus, para dedicar todas as
suas energias ao anuncio do Reino de Deus, livre, efetiva e efetivamente, de
qualquer laço familiar.
Jesus Cristo não se deu em matrimonio e não gerou filhos de maneira carnal,
visto que se fizera carne e justamente por isso, para expressar também que a
origem da vida eterna, que ele oferecia a todo o homem, provinha exclusivamente
de Deus Pai.
Para testemunhar, sem possibilidade de equivoco, que a geração para a Vida
eterna, que Ele possuía e dava, era unicamente Deus Pai. Jesus não somente não
deixou chamar-se de pai por ninguém, mas viveu no celibato e na continência
perfeita, sem gerar filhos, para que assim, o Filho, na sua atividade evangelizadora,
consentisse ao Pai gerar filhos para a Vida eterna. Não se uniu em matrimonio, nem
criou filhos para revelar o modo não “carnal” com o qual Deus gera, por meio Dele e
do seu Espírito. O Modo de Jesus comunicar a vida divina não é o da geração
carnal, mas o da regeneração espiritual “do alto”, do Espírito de Deus.
Jesus também permitiu às mulheres segui-lo e ouvir a sua palavra, vivendo
com algumas delas uma amizade autentica e madura, declarando salvífica a fé Nele.
Dessa forma, diferenciou-se dos rabinos da época. Por meio do celibato e da
continência perfeita, Cristo mostrou que é só pelo afeto de fé religiosa por Ele, que
toda a mulher, sem nenhuma discriminação relativamente a todo homem, pode
considerar-se sua “irmã”, como filha do único Pai.
A escolha de Jesus de ser célibe e permanentemente continente, é sinal da
verdade de fé que, Deus Pai é a única fonte de vida eterna, e que Jesus como Filho
unigênito, recebeu em dom, e como mediador salvífico definitivo, comunicou aos
seus discípulos. Portanto, quem crê em Jesus e vive como Ele, torna-se filho de
Deus “Nele”, recebendo o dom da vida divina, através do seu Espírito.

2. O sentido do celibato dos Doze


Foi justamente vivendo fraternalmente com os doze que Jesus lhes participou
a Vida eterna do Pai. No Seguimento de Jesus, os doze viveram como irmãos entre
si, pois o Filho Unigênito do Pai os amou até o fim e desejou que se amassem como
irmãos do mesmo modo que Ele mesmo os amou.
A “boa nova”, o Evangelho, foi manifestado a todos por Jesus também através
do sinal do celibato e da perfeita continência. A escolha dos doze de “deixar tudo”,
até mesmo a família para viver com Jesus de maneira fraterna e celibatária, ou pelo
menos continente foi para testemunhar a “bela notícia” do Deus-Abbá, e anunciar
que Deus é um Pai incondicionalmente bom, que gera espiritualmente para a vida
eterna todos aqueles que creem no Filho, embora dispersos pelos vínculos do
pecado.

3. O sentido do celibato ministerial na Igreja apostólica.


Segundo o que atesta o Novo Testamento, a forma de vida fraterna,
continente ou completamente celibatária dos Doze e dos vários evangelizadores da
Igreja apostólica, é um sinal altamente significativo para testemunhar o mesmo
conteúdo central do “Evangelho”. A forma celibatária continente e fraterna da vida de
Jesus com os Doze, foi acolhida já na época apostólica, como “sinal” particularmente
expressivo do seu próprio “Evangelho”.
No Novo Testamento, foram registradas as fecundas consequências eclesiais
da consciência de fé que a Vida eterna, proveniente de Deus Pai, é universalmente
oferecida pelo Espírito do Ressuscitado. Para isto, recorreram a duas metáforas: a
materna, que exprime a corresponsabilidade dos membros da Igreja e sobretudo de
seus ministros ordenados a agir de modo que todos os homens tenham a
possibilidade de se tornarem filhos de Deus, irmãos de Cristo e irmãos entre si. E
também a metáfora paterna, utilizada especialmente por São Paulo para indicar o
próprio papel educativo ou então para reivindicar, no confronto com outros
missionários, o próprio “primado” na evangelização de determinada comunidade
cristã e também a missão do Apóstolo de gerar para a fé os membros daquela
comunidade realiza-se através da participação na única mediação salvífica definitiva
de Cristo.
Deduziu-se que desde a primeira carta a Timóteo e a carta a Tito, os bispos,
sacerdotes e diáconos se comprometeriam a manter a completa continência. Até
para clérigos casados, que renunciavam a geração “carnal”, podia fundamentar-se
sobre o testemunho dos Evangelhos, na medida em que consentia aos bispos, aos
sacerdotes e aos diáconos fazer “memória”, ou antes, “ser memória” de Cristo, que
através de uma vida celibatária, continente e fraterna com os Doze, testemunhou o
Deus-Abbá, permitindo-lhe gerar “espiritualmente” filhos para a vida eterna.

É verdade que o celibato sacerdotal teve início somente na Idade Média?


Cristo não era casado e não gerou filhos. Isto fora um grande exemplo imitado
pelos apóstolos. Se fossem casados, deixavam imediatamente mulher e filhos para
seguir o Cristo. Os apóstolos seguiam Cristo de modo radical e entendiam que só
era possível sem os laços familiares.
Na metade da Idade Média, os clérigos podiam permanecer casados se o
eram no momento da ordenação. No entanto, depois da ordenação, deviam viver em
continência e não podiam casar-se, tal como os seus companheiros celibatários e os
viúvos. O celibato portanto tinham um significado bem mais amplo que hoje: todos
os diáconos, presbíteros e bispos independente do fato de que já fossem casados,
viúvos ou celibatários, a partir da ordenação deviam abster-se de toda forma de
atividade sexual e não deviam gerar filhos, se tratando de uma abstinência
permanente, para estar inteiramente a serviço da Igreja. Na igreja primitiva também
existiam os sacerdotes casados, chamados a viver seu matrimonio de uma forma
“Josefina”, sem relações conjugais. Portanto, não existem testemunhas de que na
Igreja primitiva, um clérigo casado tenha gerado legitimamente filhos, depois de sua
ordenação.
A continência dos clérigos casados causava um certo problema em motivo da
sacramentalidade do matrimônio, levando dessa forma, durante a Idade Média, à
preferência pela renúncia dos clérigos casados, em vez de pedir a eles e às suas
mulheres, a continência. Daí chega-se assim à praxe hodierna, imposta depois do
Concílio de Trento de ordenar somente homens solteiros para uma decidida
facilitação da disciplina da abstinência. Deste modo, a continência dos diáconos,
sacerdotes e bispos casados reveste-se mais de um caráter obrigatório, também
pelo exemplo do próprio Cristo e dos seus apóstolos.
Assim, a continência dos clérigos, segundo o Papa Siríaco e Inocêncio é
irrenunciável, fazendo desta forma, cair todo o tipo de argumento que batiam de
contra ao celibato sacerdotal, até mesmo daqueles que citavam o monaquismo para
justificar o celibato. O celibato dos ministros de Cristo, transcende o fato de ser uma
mera questão disciplinar, pois funda-se sobre o mesmo agir de Cristo, que nos
obteve a salvação por meio do celibato, oferecendo-nos o dom da vida, doada no
alto da cruz. Doação está que continua atuando como o cálice da Eucaristia, por
meio daqueles que agem in persona Christi.
Por que existem diferenças entre oriente e ocidente em relação ao Celibato
Sacerdotal?
Nos primeiros séculos, a continência dos clérigos era observada pelas Igreja
do Oriente e do Ocidente, porém, no V século, a obrigação da abstinência total
começou a fraquejar, em motivo dos primeiros grandes cismas. Hoje, praticamente
todas as Igrejas orientais recusam tanto uma disciplina exigente de continência,
como a disciplina celibatária seguida no Ocidente.
No Oriente, a separação da Igreja regional siríaca e copta levou, em tempos
diversos ao abandono da continência, facilmente identificado na Igreja da Pérsia,
que depois do concílio de Éfeso, eliminou praxes da abstinência seguida, pois queria
separar-se da Igreja do Império. Já na Igreja copta, até o século V, encontra-se
testemunhos explícitos sobre a abstinência dos clérigos, pois é herdeira de um
cristianismo que provinha do Padre do deserto, Santo Antão. A Igreja Bizantina,
estimou por muito tempo o ideal do clero abstinente durando até o ano de 691,
quando, no sínodo de Trullo, durante a legislação de Justiniano, revelou-se em
contraste com o Ocidente Latino, do qual queria separar-se.
Tudo isso evidencia claramente o desenvolvimento, que, partindo de uma
praxe ecumênica comum, levou as Igreja Orientais ao afastamento da continência
dos clérigos. A pesquisa histórica mostra que tudo se trata de algo falso, acolhido
em um livro de história bizantino.
Porém, a interpretação da Igreja Oriental está desacreditada, porque
historicamente é insustentável. Os melhores Padres gregos dos primeiros séculos
promoveram a abstinência dos clérigos. Epifânio de Salamina, fala inequivocamente
da continência dos clérigos como algo irrenunciável, entendendo com isso
exatamente a mesma disciplina que reinava no Ocidente Latino.

A Igreja permitiu no oriente a ordenação presbiteral de pessoas casadas. Não


poderia a Igreja latina também fazer o mesmo?
Permitir a ordenação de homens casados na Igreja latina seria ir contra a
tradição mais antiga, reconhecida também pelos orientais, que exigia dos sacerdotes
perfeita continência. A continência perfeita reflete a intuição ainda teorizada na
época da total congruência entre sacerdócio e celibato, pois , desde o início se intuía
que o sacerdote devia ser livre de todo outro laço “totalizante” para poder se dar à
Igreja com plenitude esponsal, a exemplo do próprio Cristo.
Diante disto, como primeira medida, é exigida dos candidatos casados a
continência perfeita e se proíbe, absolutamente, a coabitação com a mulher, porém,
contradizia a natureza mesma do sacramento do matrimônio. Desse modo, a
evolução lógica na Igreja latina foi que se procurasse cada vez mais candidatos
solteiros, salvaguardando também o sentido esponsal do sacerdócio. Já no Oriente,
com o sínodo bizantino de Trullo, o matrimonio é permitido aos clérigos casados,
quando não cumpriam o serviço do altar, pondo assim menos em evidência o caráter
totalizante da dimensão esponsal do sacerdócio. Dessa forma, decai no Oriente, a
celebração diária da Eucaristia por parte dos sacerdotes casados pois deveriam
abster-se sempre do uso do matrimônio.
Com isso, a Igreja latina, a partir do século IV, com a progressiva introdução
da exigência do celibato para os jovens aspirantes ao sacerdócio, optando apenas
por candidatos solteiros, é colocada em sintonia com a prática original de um clero
perfeitamente continência, a exemplo de Cristo.

É verdade que, com os ordinariatos pessoais para fiéis anglicanos, aconteceu


uma abertura para os padres casados?
O papa considera importante manter, também para eles, a exigência do
celibato. Com Constituição apostólica Anglicanorum coetibus, o Sumo Pontífice
instituiu os ordinariatos pessoais, para acolher os fiéis anglicanos que desejam
entrar em plena comunhão com a Igreja católica, reafirma na Constituição, a
necessidade de observar as normas referentes ao celibato

Permitir a ordenação de homens casados não favorece um aumento das


vocações?
Diante desta questão, e das especulações da ordenação de homens casados,
os “viri probati”, logo foi dito que não é certo exigir menos dos candidatos ao
sacerdócio para aumentar seu número. A experiência mostra o contrário. As
vocações para o sacerdócio floresceram e multiplicaram-se, de fato, onde a
radicalidade evangélica foi acolhida de modo coerente e sem alteração . Derrubando
dessa forma o argumento que a ordenação de homens casados acabaria com a
carência de sacerdotes em alguns lugares, pois, há também a carência de
sacerdotes nas outras confissões cristãs que não exigem a obrigatoriedade do
celibato, como a anglicana ou a luterana.
Diante da escassez de vocações sacerdotais é necessário resolver o
problema do enfraquecimento da fé que leva à maior dificuldade em perceber a
proximidade de Cristo que nos ama, nos interpela e nos chama para segui-lo.
Sobre este assunto, o Cardeal Mauro Piacenza afirma que, em um mundo
barulhento, se faz necessário criar novos espaços de silêncio e de escuta através da
direção espiritual e da confissão sacramental dos jovens, para que assim, a voz de
Deus, que sempre continua a chamar, possa ser ouvida e prontamente seguida. Em
seguida diz que o segredo é a oração, rogando ao Senhor da messe para que envie
mais operários para a messe.

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