Você está na página 1de 7

MAITHUNA – A UNIÀO TÂNTRICA RITUAL ou INTERCURSO MEDITATIVO YOGUE

As posturas ou ásanas mencionadas no Rito dos 5 makaras ilustradas.

A postura de Indra (melhor estimulação do ponto G) Uttana Samapada Bandha

Samapada – Rati – Yab Yum Purushavita asana Jrimbhita asana


Lata ásana Rati ásana Bandara ásana

Gajasawa ásana Purushavita Bandha Ekadhari ásana Ananga Ranga


VIDA E MORTE
Porque não devemos temer a morte:
Tememos a morte por medo de sofrer, de sentir a dor e o sofrimento que conduz à
destruição, ao fim da vida.
Sentir é VIDA, não sentir é MORTE, o fim de todas as sensações, dores, angústias,
revoltas e voluptuosidades. Quando a morte sobrevém não sentimos mais nada.
Portanto, quanto mais sentirmos, sofrermos, gozarmos, mais intensa será a VIDA
dentro de nós.
Intensificar o prazer, ultrapassar as esferas do corpo e transcender os sentimentos
mais sublimes é afastar o sofrimento. Aciona o poder intrínseco de todos os seres e
realiza a obra suprema da inteligência universal.
Bardo Todol – vida, morte e renascimento (budismo tântrico tibetano).
Pierre Feuga:
A iluminação amorosa é o tema mais delicado da tradição tântrica e que provoca mais
polêmica tanto do lado dos brâmanes e budistas ortodoxos como do lado dos
missionários e universitários ocidentais, ambos influenciados pelo idealismo romântico
e pela sexofobia cristã (que encontrou eco no moderno puritanismo indiano). (...) as
copulações sagradas contradiziam a imagem asséptica imaculada e emasculada que
desejavam ter por meio de representantes cuidadosamente escolhidos da
“espiritualidade hindu”. Era desconhecer que sempre existiu (...) desde a alta época
védica e talvez além no substrato autóctone uma poderosa contracorrente não
ascética ou antiascética, mas que é preciso procurar nela o que há de mais esotérico
na tradição da Índia sua propensão a experimentar as realidades espirituais e
psíquicas, a vive-las e encarná-las em vez de se contentar com a fé ou com a filosofia.
A Índia é uma terra apaixonada, violenta e intensa, onde as pessoas de paz e sabedoria
– mesmo que sejam veneradas mais que em outro lugar – formam como em toda
parte, aliás, uma minoria. De resto é uma visão bastante limitada das coisas, fazer da
castidade uma condição sine qua non da santidade (...)

Julius Evola:
“A força do sexo está na própria raiz do indivíduo vivo e aquele que crê, realmente,
poder suprimi-la, se ilude. No máximo, podemos reprimi-la em suas manifestações
mais diretas, o que somente serviria para esses fenômenos de uma existência
neurótica e dividida, sobre a qual a psicanálise moderna lançou demasiada luz. A
alternativa que se coloca diante da força do sexo é, ao contrário, afirma-la ou
transforma-la”.
(...) existem três respostas possíveis (...) ao excluir as atitudes de recalque ou de
libertinagem que estão no fundo das “não – respostas” (...) A primeira é reconhecer
essa força natural do Eros e canaliza-la, sacraliza-la ou ritualiza-la (...) A segunda,
reservada a uma elite, equivale a renunciar ao uso concreto do sexo sem deixar de
conservar o seu potencial energético por transmutação do desejo em vista de
realizações de ordem sobrenatural (...) Raja yoga e Kundalini yoga. A terceira via
consiste em considerar o próprio amor como uma via iniciática, o ato carnal como um
opus transformationis podendo conduzir, sob certas condições (...) à transcendência e
à iluminação (...) ainda que seja possível encontrar (na China) em algumas correntes
secretas do Judaísmo, do Islamismo e do Cristianismo. Aqui não estamos mais no
campo da idealização religiosa ou da sublimação mística, mas em uma via ativa,
concreta, exigindo dois parceiros do sexo oposto (*), uma “operação com dois vasos”
para retomar a expressão alquímica (...).
(*) Essa precisão parece evidente, mas é necessária e se explica por razões energéticas e não
morais. O amor homossexual, mesmo do tipo platônico, não pode conduzir à unidade total, pois a
polaridade de base faz falta e nenhum artifício, nenhuma transposição intelectual ou mística pode
substituí-la. O que há de mulher no homem e o que há de homem na mulher, esse traço de yin no
yang e de yang no yin podem e devem ser integrados, plenamente vividos em uma relação
heterossexual. Como reconstruir a androginia original a partir de dois Shivas ou duas Shaktis?
Pierre Feuga:
É preciso arriscar a interpretar os fatos em sua dimensão interior oculta sem nem
sempre saber a que tipo de realidade nos referimos, atual, passada, ideal, simbólica,
imaginária, fisiológica ou sutil? É bem evidente que o essencial nesse campo jamais foi
escrito e que nos livros e na iconografia (pinturas sacras) possuímos apenas lampejos,
fulgurações, emblemas, suportes evocatórios, uma espécie de gigantesca “mandala
amorosa” pela qual o espírito, o coração e os sentidos podem se perder se não forem
cuidadosamente guiados.
Uma única experiência autêntica torna vãs todas essas leituras e toda essa escolástica
erótico-espiritual que é, incontestavelmente, dirigida a pesquisadores e não a mestres.
Mas essa experiência, necessária e suficiente, tem poucas chances de alcançar seu
objetivo (...) geralmente ela surge após uma preparação mais ou menos longa
desembocando em um certo clima vibratório.
Obs.: No Panchatattwa (Rito dos 5 Ms): “Celebrantes (vegetarianos e abstêmias de bebida e sexo)
usam da carne, peixe, vinho e cópula em ato sacrifícial (aos deuses) da reserva imaculada. O karma
(espiritual e sutil) desperta, profundo, o poder (energético acumulado e potencializado) no tempo
guardado sem contato (físico) com a morte (de animais) e com a força vital (de outras pessoas).
Insondável é a profundeza (psíquica e espiritual) e a amplitude (conexão mística e imponderável
com o Universo) quando (os celebrantes) despidos de intenções (sem expectativas, desejos ou
regras), conscientes (da onda que se expande), libertam seus poderes (pessoais) transformadores e
mágicos (atração e repulsão sem controle do pensamento) que os destacam entre nós. (Sic. Magus
secretum ordine – sacrum potere I.VII a3 – trad. Livre).
Essa é a única justificação dos ritos. Apenas poderiam ser dispensados dos mesmos,
dois seres levados por um sopro imenso e divino (...) pois todo amor é
espontaneamente ritual. Assim como todas as injunções sexuais que regulam a posição
dos corpos e a natureza das penetrações, todo esse ensinamento escrupuloso parece
negar o frescor e a liberdade do desejo, desde que hajam homens e mulheres.
A técnica amorosa somente mata o amor daqueles que não amam e ajudam os que
amam a se amar melhor, isso no plano profano. No plano iniciático o que interessa é a
“arte” absolutamente indispensável que não pode remeter à paixão e ao instinto. No
mais somos levados a um nível, no qual, todas essas oposições simuladas (...) entre
“corpo”e “alma”, “técnica”e “sentimento”, “amor carnal” e “amor espiritual” são
abolidas em que a palavra “amar” se torna incômoda e supérflua, pertencendo a um
estado de consciência ultrapassado.

Ainda, Pierre Feuga:


O “Ritual dos cinco Ms”, quando praticado coletivamente, começa pela formação de
um círculo de participantes, conhecido como “chakra-puja”, mas encontramos outro
nome sugestivo como “rosamandala”, o círculo da embriaguez, da emoção amorosa,
do encantamento. Todos esses significados, como aquele mais grosseiro do orgasmo
São contidos no termo rasa. Rati, aquela cuja substância é a embriaguez, é um dos
nomes aplicados à parceira feminina, principalmente no tantrismo búdico. A escola
Sahajiya distingue três tipos de rati: a sadharani, a mulher vulgar que não busca no
sexo senão que seu próprio gozo, a samanjasa (ou samanya rati) que busca uma
participação com o homem; a samartha, enfim capaz de um abandono total. Somente
essa “mulher excepcional” (vishesha-rati) deverá ser escolhida para o Maithuna, as
duas outras são impróprias.
Obs: Quando a mulher se torna vestal (mestra) evoluída através da meditação deve fazer amor
com um sadhu (homem perfeitamente realizado). Ambos, assim devem adorar a Mãe do Universo.
(N.T.)
O homem lascivo e vulgar, preso aos bens materiais e ao prazer momentâneo não
serve à Shakti dotada de poder criador e lapidada nas práticas austeras.

Não basta se esmerar nas artes e técnicas sexuais. É preciso, antes, evoluir. Se fazer
sexo bastasse, depois que o padre bebesse o vinho todos os bêbados se tornariam
santos. (nota do autor).

“Para aquele que adora Chandi, a furiosa (aspecto terrível da Deusa) sem praticar o
ritual dos cinco M, os quatro benefícios (longevidade, conhecimento, beleza e riqueza)
perecerão”. Enfim o Mahanirvana Tantra de Bengali afirma de forma ainda mais
brusca: “A adoração da Shakti, sem as cinco substâncias, não passa de magia negra
(abichara)”.

A mesma obra (VII – 103 – 111) estabelece uma correspondência entre os cinco
Tattwas e os cinco grandes elementos (Panchamahabhutas) sendo que (sob a ótica da
Ayurveda):

Éter, elemento primordial, indiferenciado, onipresente, agente da propagação da luz


corresponde ao ato sexual e à respiração sob a forma de “prana” absorvente,
coagulante, ascendente e iluminadora que tem como sede de ação e radiação o
coração. Subdosha Prana Vata.

Ar, princípio movente, corresponde à bebida inebriante, energia de dissolução e de


volatilização (a embriaguez que desagrega a personalidade, dissocia o corpo sutil do
corpo grosseiro e dá a impressão de flutuar no espaço). Subdosha Apana Vata.

Fogo, carne, alimento quente e vital, respiração da assimilação orgânica do vente


(manipura chakra), centro ígneo da Shakti comedora de carne. Subdosha Samana
Vata.

Água, peixe, respiração fluida das emissões. Subdosha Udana Vata.

Terra, mudra, grão no sentido de todo alimento sólido que prende ao corpo,
capacidade olfativa, respiração circulante no organismo, coesão e equilíbrio. Subdosha
Vyana Vata.

Ao ativar essas cinco energias, uma de cada vez, o yogui obterá a vontade, saturações
e rupturas que favorecem o despertar.

Finalmente o Lama Anagarica Govinda em seu livro “Fundamentos do Misticismo


Tibetano” afirma:
Qual é a natureza deste mundo no qual mergulham as forças auxiliadoras do
Bodhisattva? (...) é o que experimentamos como mundo, o resultado das nossas
atividades sensoriais, pensamentos, sentimentos e ações. Enquanto esse pensamento,
sentimento e ação é motivado pela ilusão da nossa separatividade individual, nós
experimentamos um mundo limitado e unilateral, imperfeito no qual nos esforçamos
para manter a nossa própria identidade, nosso imaginário, ego contra a corrente
irresistível das formas e condições eternamente mutantes. Dessa forma o mundo
aparece como um mundo impermanente, inseguro e amedrontador e é esse temor
que cerca cada ser como um muro, separando-o dos outros e de uma vida mais
elevada.
(...) Avalokitesvara, depois de ter alcançado os poderes transcendentais da suprema
libertação e intrepidez, fez os votos de libertar todos os seres de seus grilhões e
sofrimentos, assim temos que considerar este voto como a expressão de um impulso
espontâneo, nascido das profundezas do coração no conhecimento da unidade
essencial de toda vida.

E Swami Abhedananda:

Conforme o Vedanta, antes do começo a criação, o indeterminado estado causal do


universo continha Prana potencial. O Vedanta não comete o absurdo de afirmar que a
vida veio da não-vida ou do nada. Não admite que a energia vital seja resultado de
forças mecânicas, mas pelo contrário, nos ensina que é uma força que opera
simultaneamente com as forças físico-químicas. Estas são todas, com efeito,
expressões da energia vivente do Prana.

Conclusão:

O corpo vivo é composto de camadas concêntricas do denso para o sutil. A Energia vital flui
do Éter (prana, sutil) para a terra (vyana, denso) ou seja, em sentido contrário,
complementar e potencial do equilíbrio cósmico universal. Não somos seres isolados, mas
partes de um grande “espírito” ou “alma” pulsante cujo motor é o prana, força da vida e
energia da criação. A mesma energia que nos dá a vida. A união dos sexos opostos
impulsiona, de dentro para fora, todos os corpos áuricos do denso para o sutil, de cada
indivíduo e das esferas circundantes, reverbera no universo acionando o fluxo de energia no
sentido inverso potencializando as capacidades individuais de interferência no mundo. Causa
e efeito = efeito kármico inconsciente e inevitável.
A mente limita e vicia sujeitando o que era perfeito ao limite sensorial da imperfeição, logo o
abandono ao contato espontâneo e imponderável dos invólucros sagrados do nosso ser nos
reconecta com a inteligência maior que anima a todos os seres.
Dessa forma o celibato e a abstinência de carne e substancias inebriantes serve como
preparação da grande comunhão com a divindade.

Você também pode gostar