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Julius Evola:
“A força do sexo está na própria raiz do indivíduo vivo e aquele que crê, realmente,
poder suprimi-la, se ilude. No máximo, podemos reprimi-la em suas manifestações
mais diretas, o que somente serviria para esses fenômenos de uma existência
neurótica e dividida, sobre a qual a psicanálise moderna lançou demasiada luz. A
alternativa que se coloca diante da força do sexo é, ao contrário, afirma-la ou
transforma-la”.
(...) existem três respostas possíveis (...) ao excluir as atitudes de recalque ou de
libertinagem que estão no fundo das “não – respostas” (...) A primeira é reconhecer
essa força natural do Eros e canaliza-la, sacraliza-la ou ritualiza-la (...) A segunda,
reservada a uma elite, equivale a renunciar ao uso concreto do sexo sem deixar de
conservar o seu potencial energético por transmutação do desejo em vista de
realizações de ordem sobrenatural (...) Raja yoga e Kundalini yoga. A terceira via
consiste em considerar o próprio amor como uma via iniciática, o ato carnal como um
opus transformationis podendo conduzir, sob certas condições (...) à transcendência e
à iluminação (...) ainda que seja possível encontrar (na China) em algumas correntes
secretas do Judaísmo, do Islamismo e do Cristianismo. Aqui não estamos mais no
campo da idealização religiosa ou da sublimação mística, mas em uma via ativa,
concreta, exigindo dois parceiros do sexo oposto (*), uma “operação com dois vasos”
para retomar a expressão alquímica (...).
(*) Essa precisão parece evidente, mas é necessária e se explica por razões energéticas e não
morais. O amor homossexual, mesmo do tipo platônico, não pode conduzir à unidade total, pois a
polaridade de base faz falta e nenhum artifício, nenhuma transposição intelectual ou mística pode
substituí-la. O que há de mulher no homem e o que há de homem na mulher, esse traço de yin no
yang e de yang no yin podem e devem ser integrados, plenamente vividos em uma relação
heterossexual. Como reconstruir a androginia original a partir de dois Shivas ou duas Shaktis?
Pierre Feuga:
É preciso arriscar a interpretar os fatos em sua dimensão interior oculta sem nem
sempre saber a que tipo de realidade nos referimos, atual, passada, ideal, simbólica,
imaginária, fisiológica ou sutil? É bem evidente que o essencial nesse campo jamais foi
escrito e que nos livros e na iconografia (pinturas sacras) possuímos apenas lampejos,
fulgurações, emblemas, suportes evocatórios, uma espécie de gigantesca “mandala
amorosa” pela qual o espírito, o coração e os sentidos podem se perder se não forem
cuidadosamente guiados.
Uma única experiência autêntica torna vãs todas essas leituras e toda essa escolástica
erótico-espiritual que é, incontestavelmente, dirigida a pesquisadores e não a mestres.
Mas essa experiência, necessária e suficiente, tem poucas chances de alcançar seu
objetivo (...) geralmente ela surge após uma preparação mais ou menos longa
desembocando em um certo clima vibratório.
Obs.: No Panchatattwa (Rito dos 5 Ms): “Celebrantes (vegetarianos e abstêmias de bebida e sexo)
usam da carne, peixe, vinho e cópula em ato sacrifícial (aos deuses) da reserva imaculada. O karma
(espiritual e sutil) desperta, profundo, o poder (energético acumulado e potencializado) no tempo
guardado sem contato (físico) com a morte (de animais) e com a força vital (de outras pessoas).
Insondável é a profundeza (psíquica e espiritual) e a amplitude (conexão mística e imponderável
com o Universo) quando (os celebrantes) despidos de intenções (sem expectativas, desejos ou
regras), conscientes (da onda que se expande), libertam seus poderes (pessoais) transformadores e
mágicos (atração e repulsão sem controle do pensamento) que os destacam entre nós. (Sic. Magus
secretum ordine – sacrum potere I.VII a3 – trad. Livre).
Essa é a única justificação dos ritos. Apenas poderiam ser dispensados dos mesmos,
dois seres levados por um sopro imenso e divino (...) pois todo amor é
espontaneamente ritual. Assim como todas as injunções sexuais que regulam a posição
dos corpos e a natureza das penetrações, todo esse ensinamento escrupuloso parece
negar o frescor e a liberdade do desejo, desde que hajam homens e mulheres.
A técnica amorosa somente mata o amor daqueles que não amam e ajudam os que
amam a se amar melhor, isso no plano profano. No plano iniciático o que interessa é a
“arte” absolutamente indispensável que não pode remeter à paixão e ao instinto. No
mais somos levados a um nível, no qual, todas essas oposições simuladas (...) entre
“corpo”e “alma”, “técnica”e “sentimento”, “amor carnal” e “amor espiritual” são
abolidas em que a palavra “amar” se torna incômoda e supérflua, pertencendo a um
estado de consciência ultrapassado.
Não basta se esmerar nas artes e técnicas sexuais. É preciso, antes, evoluir. Se fazer
sexo bastasse, depois que o padre bebesse o vinho todos os bêbados se tornariam
santos. (nota do autor).
“Para aquele que adora Chandi, a furiosa (aspecto terrível da Deusa) sem praticar o
ritual dos cinco M, os quatro benefícios (longevidade, conhecimento, beleza e riqueza)
perecerão”. Enfim o Mahanirvana Tantra de Bengali afirma de forma ainda mais
brusca: “A adoração da Shakti, sem as cinco substâncias, não passa de magia negra
(abichara)”.
A mesma obra (VII – 103 – 111) estabelece uma correspondência entre os cinco
Tattwas e os cinco grandes elementos (Panchamahabhutas) sendo que (sob a ótica da
Ayurveda):
Terra, mudra, grão no sentido de todo alimento sólido que prende ao corpo,
capacidade olfativa, respiração circulante no organismo, coesão e equilíbrio. Subdosha
Vyana Vata.
Ao ativar essas cinco energias, uma de cada vez, o yogui obterá a vontade, saturações
e rupturas que favorecem o despertar.
E Swami Abhedananda:
Conclusão:
O corpo vivo é composto de camadas concêntricas do denso para o sutil. A Energia vital flui
do Éter (prana, sutil) para a terra (vyana, denso) ou seja, em sentido contrário,
complementar e potencial do equilíbrio cósmico universal. Não somos seres isolados, mas
partes de um grande “espírito” ou “alma” pulsante cujo motor é o prana, força da vida e
energia da criação. A mesma energia que nos dá a vida. A união dos sexos opostos
impulsiona, de dentro para fora, todos os corpos áuricos do denso para o sutil, de cada
indivíduo e das esferas circundantes, reverbera no universo acionando o fluxo de energia no
sentido inverso potencializando as capacidades individuais de interferência no mundo. Causa
e efeito = efeito kármico inconsciente e inevitável.
A mente limita e vicia sujeitando o que era perfeito ao limite sensorial da imperfeição, logo o
abandono ao contato espontâneo e imponderável dos invólucros sagrados do nosso ser nos
reconecta com a inteligência maior que anima a todos os seres.
Dessa forma o celibato e a abstinência de carne e substancias inebriantes serve como
preparação da grande comunhão com a divindade.