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CURSO MEGE

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Turma: Clube da Magistratura
Material: Prova Discursiva (Espelho de correção)

PROVA DISCURSIVA
(Espelho de correção)
PROVA DISCURSIVA
(Espelho de correção)

DISSERTAÇÃO
Disserte sobre o tema “Sistema Constitucional de Controle de Crises”. No
desenvolvimento da dissertação, o candidato deverá discorrer sobre os
itens abaixo, de acordo com a ordem proposta.
a) Estado de Defesa:
a.1) Pressupostos Formais e Pressupostos Materiais. Restrições.
a.2) Controle Político e Controle Jurisdicional.
b) Estado de Sítio:
b.1) Pressupostos Formais e Pressupostos Materiais. Restrições.
b.2) Controle Político e Controle Jurisdicional.
c) Intervenção Federal:
c.1) Definição, Hipóteses e Espécies.
c.2) Intervenção em Âmbito Estadual: Hipóteses e Espécies;
Cabimento de recurso extraordinário da decisão do Tribunal de Justiça que
defere o pedido de intervenção; e Legitimidade dos Tribunais de Contas.
c.3) Intervenção da União em Municípios.

DISSERTAÇÃO

NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

O Estado de Defesa encontra previsão no art. 136 da CF/88 e compreende uma


série de medidas temporárias, destinadas a preservar ou restabelecer, em local
certo e determinado, a ordem pública ou a paz social que estejam ameaçados
por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidos por calamidades
de grandes proporções da natureza. 0,50

Art. 136 da CF - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para
preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

Pressupostos Formais:
- Prévia manifestação do Conselho da República e do Conselho da Defesa
Nacional;
- Decretação pelo Presidente da República;
- Previsão de prazo de duração da medida não superior a 30 dias, podendo ser
prorrogado por uma única vez;
- Especificação de áreas abrangidas;
- Indicação das medidas coercitivas.

Pressupostos Materiais:
- Grave e iminente instabilidade institucional; ou
- Calamidade de grandes proporções na natureza.

Restrições - art. 136, § 1º da CF - O decreto que instituir o estado de defesa


determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas
e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem,
dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das
associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica
e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

Embora a decretação da medida esteja sujeita a juízo de conveniência do


Presidente da República, estará sujeita a controle político e jurisdicional.

CONTROLE POLÍTICO - Este pode ser concomitante ou posterior:


0,50

Concomitante - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o


Presidente da República, dentro de 24 horas, submeterá o ato, com a
respectiva justificação, ao Congresso Nacional. Se o Congresso Nacional estiver
em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. O
Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias, contados de seu
recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de
defesa. A decisão acerca da decretação do estado de defesa ou de sua
prorrogação se dá por maioria absoluta (CF, art. 136, § 4º). Se rejeitado o
decreto, cessa imediatamente o estado de defesa. Se aprovado, a Mesa do
Congresso Nacional deve designar uma comissão parlamentar composta por 5
membros para acompanhar e fiscalizar as medidas (CF, art. 140), podendo o
Congresso Nacional vir a suspender a medida, a qualquer tempo, mesmo após
ter sido aprovado o decreto (CF, art. 49, IV).

Posterior - Cessado o estado de defesa, o Presidente da República enviará


mensagem ao Congresso Nacional, especificando e justificando as providências
adotadas, com relação nominal dos atingidos (CF, art. 141, parágrafo único) e,
em caso de excesso na execução das medidas, os responsáveis poderão ser
responsabilizados (CF, art. 141).

CONTROLE JURISDICIONAL - Este pode ser concomitante ou posterior:

Concomitante - Ao Poder Judiciário caberá o controle da execução das


medidas, de modo a repelir quaisquer excessos. Havendo prisão por crime
contra o Estado, o executor da medida deverá comunicá-la, imediatamente, ao
juiz competente, mencionando o estado físico e mental do detido no momento
de sua autuação, sendo vedada a sua incomunicabilidade. O juiz relaxará a
prisão que não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito
à autoridade policial. Ainda, a prisão ou detenção de qualquer pessoa não
poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário
(CF, art. 136, § 3º, I a III).

Posterior - Cessado o estado de defesa, e em caso de excesso na execução das


medidas, os responsáveis poderão ser responsabilizados pelos ilícitos
cometidos (CF, art. 141).

O Estado de Sítio encontra previsão no art. 137 da CF e consiste na adoção de


medidas temporárias durante situações de extrema gravidade ocasionadas por
comoção grave de repercussão nacional, conflito armado com Estado
estrangeiro ou, ainda, quando as medidas tomadas durante o estado de defesa 0,50
não se mostrarem adequadas ou suficientes.
Art. 137 da CF - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da
República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional
autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de
repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de
medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra
ou resposta a agressão armada estrangeira.

Pressupostos Formais:
- Oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional
- Solicitação do Presidente da República ao Congresso Nacional. Caso a
solicitação se dê durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado
deverá convocar, extraordinariamente, o Congresso Nacional para se reunir
dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato (CF, art. 138, § 2º);
- Autorização do Congresso Nacional por maioria absoluta (art. 137, parágrafo
único);
- Decretação pelo Presidente da República.

Pressupostos Materiais:
- Comoção grave de repercussão nacional;
- Ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante
o estado de defesa; ou
- Declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira.

Assim como no estado de defesa, o estado de sítio estará sujeito a controle


político e jurisdicional.

CONTROLE POLÍTICO - Este pode ser prévio, concomitante ou posterior:

0,50
Prévio - Cabe ao órgão legislativo autorizar a decretação da medida (CF, art.
137, parágrafo único), por maioria absoluta.

Concomitante - Assim como no estado de defesa, a Mesa do Congresso


Nacional deve designar uma comissão parlamentar, composta por 5 membros,
para acompanhar e fiscalizar as medidas (CF, art. 140), podendo o Congresso
Nacional vir a suspender a medida, a qualquer tempo, mesmo após ter sido
aprovado o decreto (CF, art. 49, IV).

Posterior - Cessado o estado de sítio, o Presidente da República enviará


mensagem ao Congresso Nacional, especificando e justificando as providências
adotadas (CF, art. 141, parágrafo único) e, em caso de excesso na execução das
medidas, os responsáveis poderão ser responsabilizados (CF, art. 141).

CONTROLE JURISDICIONAL - Este pode ser concomitante ou posterior:

Concomitante - Ao Poder Judiciário caberá o controle da execução das


medidas, de modo a repelir quaisquer excessos.

Posterior - Cessado o estado de defesa, em caso de excesso na execução das


medidas, os responsáveis poderão ser responsabilizados (CF, art. 141).

É a suspensão temporária da autonomia do ente federativo em virtude de atos


considerados lesivos à federação. Trata-se de medida excepcional, de forte
conteúdo político, com hipóteses previstas taxativamente pela Constituição
Federal, que restringe temporariamente a autonomia de um ente federativo
com o objetivo de preservar o pacto federativo e outros princípios
constitucionais.

Hipóteses - Art. 34 da CF - A União não intervirá nos Estados nem no Distrito


Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
0,50
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o
pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo
de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas
nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma
republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da
pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da
administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da
receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde.

Espécies:

Espontânea - Este será decretada de ofício pelo Presidente da República, após


prévia oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional,
sendo tais manifestações não vinculantes.

Provocada - Nesta hipótese o Presidente da República decreta a intervenção


após solicitação ou requisição.

Art. 36 da CF - A decretação da intervenção dependerá:


I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal,
se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Superior Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do
Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa
à execução de lei federal.

As hipóteses de intervenção estadual estão previstas no art. 35 da Constituição


Federal, havendo entendimento do STF no sentido de que a Constituição
Estadual não pode trazer outras hipóteses de intervenção estadual além das
previstas na Constituição Federal.
0,70

Art. 35 da CF - O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos


Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos,
a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de
saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a
execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

Hipóteses de intervenção estadual nos municípios:

Espontânea - Esta ocorrerá quando:


- Deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a
dívida fundada;
- Não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
- Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Provocada (art. 36. §3º da CF) - Esta ocorrerá quando:


- O Tribunal de Justiça der provimento à representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual. Nessa hipótese,
é dispensado o controle político pela Assembleia Legislativa.
- Para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Também é
dispensado o controle político pela Assembleia Legislativa.

Súmula 637 do STF - Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de


tribunal de justiça que defere pedido de intervenção estadual em município. A
jurisprudência sedimentada do Supremo é pacífica em torno do não cabimento
de recurso extraordinário contra acórdão que implica o deferimento de pedido
de intervenção estadual em Município, por ter a intervenção natureza político-
administrativa e não jurisdicional.

Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual


atribuindo aos Tribunais de Contas a competência para requerer ou decretar
intervenção em Município. Segundo o STF, a Constituição Estadual não pode
disciplinar sobre intervenção estadual de forma diferente das regras previstas
na Constituição Federal. (ADI 3029, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal
Pleno, julgado em 27/03/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-089 DIVULG 14-
04-2020 PUBLIC 15-04-2020)

De fato, a intervenção da União em município situado em território federal é


uma exceção, haja vista ser pacífico na doutrina e no texto constitucional que
a União intervém somente nos estados-membros, e estes nos seus municípios.
Consoante a tradição do federalismo, a União não intervém nos municípios,
pois estes "organismos não contactam diretamente com a União. O poder de
intervenção sobre os municípios pertence aos estados".

Naturalmente, a intervenção se dá numa relação direta entre dois entes que se


conectam de forma imediata, isto é, sem ultrapassar a esfera de outra unidade
que intermedeia os entes federados. No caso dos municípios, estes se ligam
diretamente aos estados-membros, pois aqueles integram o território destes.
Assim, a União somente pode intervir nos estados-membros ou no DF,
ressalvada a hipótese de município localizado em território federal, vez que
esse município integra unidade territorial da União, jungindo-lhe.

0,40
Com efeito, a intervenção federal em município localizado em território federal
constitui uma intervenção anômala, porquanto afasta a regra geral de um ente
federado intervir diretamente em outra unidade em decorrência do grau de
divisão política e localização geográfica, isto é, do maior para o menor nível de
integração geopolítico: da União para os estados-membros e destes para os
municípios. Essa hipótese incomum se justifica pelo fato de que ocorre tão só
nos municípios localizados em território federal, ou seja, em municípios
integrantes de área sob o domínio geográfico e político da União. A medida
afigura-se adequada, até porque o aludido município não se vincula a estado-
membro, mas somente conecta-se à União, cabendo a esta promover o ato
interventivo.

(SANTOS, Carlos Eduardo Ferreira. Sobre a Intervenção nos Municípios


Localizados em Território Federal)

Utilização correta do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento


0,40
do vernáculo.

TOTAL 4,00
QUESTÃO N° 01
Discorra a respeito da “tutela provisória”, considerando os itens abaixo na
ordem em que propostos.
a) Definição. Tutela de Urgência e Tutela de Evidência.
b) Efetivação da Tutela Provisória e Provisoriedade. Revogação ou
modificação de ofício.
c) Responsabilidade por danos à parte adversa na tutela de urgência.
d) Concessão de ofício da tutela de urgência.

QUESTÃO 01

NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

A tutela provisória, salvo a concedida na sentença (art. 1.012, §1º, V do CPC), é


aquela proferida mediante cognição sumária, isto é, o juiz, ao concedê-la, ainda
não tem acesso a todos os elementos de convicção a respeito da controvérsia
jurídica.

A concessão da tutela provisória é fundada em juízo de probabilidade, pois é


concedida sem o juiz ter a certeza da existência do direito da parte, mas em
uma aparência de que este direito exista. É provisória por ter sua validade e
eficácia determinada e subordinada ao provimento jurisdicional final. A tutela
provisória será substituída por uma tutela definitiva, que a confirmará,
revogará ou modificará. 0,40

O legislador criou um sistema de tutela provisória que contém duas espécies.


Segundo o art. 294 do CPC, a tutela provisória pode fundamentar-se em
urgência ou evidência.

- Tutela da Evidência: Esta antecipa a satisfação do direito, independentemente


de eventual perigo ocasionado pelo decurso do tempo, em razão da evidência
do direito alegado pela parte.
- Tutela de Urgência: Esta é aquela que resolve uma crise de perigo. Portanto,
só será concedida nos casos em que a espera da tutela jurisdicional definitiva
puder tornar ineficaz o direito pretendido. Desse modo, é imprescindível para
a sua concessão a comprovação do periculum in mora. Esta divide-se em duas
subespécies (art. 294, parágrafo único do CPC): Tutela cautelar e Tutela
antecipada.

A tutela de urgência antecipada, como o nome diz, antecipa a satisfação fática


do direito tutelado no processo. Já a tutela de urgência cautelar assegura o
resultado útil e eficaz do processo por mecanismos de acautelamento do
direito.

Importante destacar que, o CPC aproximou as duas espécies de tutela de


urgência (antecipada e cautelar). Por outro lado, observa-se que o parágrafo
único do art. 294 excluiu a possibilidade de a tutela de evidência ser concedida
de forma antecedente.

Ocorre que, por se tratar de uma tutela provisória satisfativa, a tutela de


evidência se aproxima da tutela antecipada, sendo a única diferença entre elas
os requisitos para sua concessão, razão pela qual esta exclusão vem sendo
objeto de crítica por parte de alguns doutrinadores.

Dispõe o artigo 297 do CPC que o juiz poderá determinar as medidas que
considerar adequadas para efetivação da tutela provisória. Ademais, a
efetivação da tutela provisória observará as normas referentes ao
cumprimento provisório da sentença, no que couber.

A doutrina entende que o termo “efetivação”, utilizado no “caput” do artigo


297, tem o significado de que a tutela provisória não dependerá de processo
autônomo para sua efetivação, desenvolvendo-se por mera fase
0,35
procedimental. Ademais, cabe salientar que tal disposto estabelece a
atipicidade dos meios executivos da tutela provisória, cabendo ao juiz
determinar a medida necessária para que a tutela seja efetivada.

O art. 296 do CPC dispõe que a tutela provisória conserva sua eficácia na
pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou
modificada. Adicionalmente, salvo decisão judicial em contrário, a tutela
provisória conservará a eficácia durante o período de suspensão do processo.
Dessa forma, a tutela provisória pode ser, a qualquer tempo, modificada ou
revogada. A tutela provisória pode ser revogada ou modificada pelo próprio
juízo que a concedeu. A grande controvérsia sobre o tema diz respeito à
possibilidade ou não de revogação ou modificação de ofício pelo juízo, ou seja,
sem que haja provocação das partes.

Há entendimento doutrinário de que o juízo, mesmo sem ser provocado, possa


revogar ou modificar a tutela provisória antes da sentença, caso entenda que
os requisitos que motivaram sua concessão não estão mais presentes. O
argumento utilizado é de que acima do interesse privado da parte estaria o
interesse do Judiciário em decidir de forma correta, justa e eficaz.

Dispõe o art. 302 do CPC que, independentemente da reparação por dano


processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de
urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for desfavorável; II -
obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios
necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer
a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher
a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor.
Adicionalmente, a indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver
sido concedida, sempre que possível.

Dessa forma, aplica-se a teoria do risco-proveito às tutelas provisórias


cautelares e satisfativas. Segundo essa teoria, considerando-se que de um lado
a obtenção e a efetivação de uma tutela de urgência são benéficas para a parte,
por outro lado, os riscos pela concessão dessa tutela devem ser exclusivamente 0,35
daquele que foi beneficiado por ela.

Destaca-se que o dispositivo legal não condiciona a responsabilidade da parte


a seu pedido de concessão de tutela de urgência, de forma que, mesmo quando
ela é excepcionalmente concedida de ofício, a parte beneficiada deve
responder, salvo se expressamente se manifestar contra a efetivação da tutela.

Apesar de o artigo 302 do CPC encontrar-se nas disposições gerais da tutela de


urgência, e não nas disposições gerais da tutela provisória, a doutrina entende
que ele também é aplicável aos casos de tutela provisória de evidência.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência são pacíficas em afirmar que a
responsabilidade da teoria do risco-proveito possui natureza objetiva, de forma
que não se discute culpa.

No CPC não há previsão expressa condicionando a concessão de tutela


provisória de urgência a pedido da parte, como havia no art. 273, do CPC/1973.
Da mesma forma, não há artigo expresso que permita sua concessão de ofício,
de forma que a doutrina se pergunta se é possível que o juízo conceda de ofício
tutela de urgência. Tem prevalecido que, diante da não repetição da
necessidade de pedido da parte, seja possível, ainda que de forma excepcional,
0,25
a concessão de ofício de tutela de urgência, cautelar ou satisfativa. Nesse
ponto, o tradicional poder geral de cautela do juízo deve ser entendido agora
como um poder geral de tutela de urgência. Faz-se necessária, contudo, uma
ressalva. É preciso que exista um processo já instaurado, não sendo possível ao
juízo dar início de ofício a qualquer processo, mesmo que para conceder uma
tutela de urgência.

Utilização correta do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento


0,15
do vernáculo.

TOTAL 1,50

QUESTÃO N° 02
Analise, na ordem proposta, o instituto da desapropriação, em especial:
a) Conceito e características de tal intervenção do Estado na propriedade.
b) Pressupostos: Utilidade ou Necessidade Pública; e Interesse Social.
c) Desapropriação-sanção e desapropriação-confiscatória.
d) Desapropriação de bens públicos.
e) Direito de extensão.

QUESTÃO 02

NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

A desapropriação é o procedimento de direito público pelo qual o Poder


Público transfere para si a propriedade de terceiro, por razões de utilidade
0,30
pública ou necessidade pública, ou de interesse social, normalmente mediante
o pagamento de justa e prévia indenização.
Trata-se de modalidade supressiva de intervenção estatal na propriedade, em
que o Poder Público não condiciona o uso da propriedade privada, mas, sim
transfere bem de terceiro a si.

A doutrina classifica a desapropriação como forma originária de aquisição de


propriedade, porque não provém de nenhum título anterior, razão pela qual o
bem expropriado se torna insuscetível de reivindicação e se libera de qualquer
ônus que sobre ele incidisse precedentemente, ficando eventuais credores
sub-rogados no preço.

São pressupostos da desapropriação, em regra: a) A utilidade pública ou


necessidade pública; b) O interesse social.

A utilidade pública ocorre quando a transferência do bem para o poder público


é conveniente, embora não seja imprescindível. Já a necessidade pública
decorre de situações de emergência, cuja solução exija a desapropriação do
0,25
bem. Ambas são disciplinadas pelo Decreto-Lei nº 3.365/1941.

Por sua vez, a desapropriação por interesse social destina-se, nos termos da Lei
nº 4.132/1962, à justa distribuição da propriedade ou ao bem estar social,
tendo lugar quando o bem expropriado se destinar a terceiros como medida
de concretização dos direitos fundamentais sociais.

A regra matriz do instituto da desapropriação está no art. 5º, XXIV, da CF/88:


Art. 5º (....) XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição.

Além da previsão genérica acima, a CF/88 trata de três espécies de


desapropriação por interesse social, duas da chamada “desapropriação- 0,35
sanção” (art. 182, § 4º, III, e art. 184) e uma da assim intitulada
“desapropriação-confiscatória” (art. 243).

A primeira hipótese (art. 182, § 4º, III, da CF/88) trata da chamada


“desapropriação (por interesse social) urbanística”, que possui caráter
sancionatório e pode ser aplicada ao proprietário do solo urbano que não
atenda às exigências de promover o adequado aproveitamento de sua
propriedade, nos termos do plano diretor do município. O expropriante é o
município (competência exclusiva). A indenização será paga mediante títulos
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com
prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

A segunda hipótese (art. 184 da CF/88) refere-se à “desapropriação (por


interesse social) para fins de reforma agrária. Esta compete à União quando o
imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e
justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do
valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de
sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

A terceira hipótese (art. 243 da CF/88) de previsão constitucional específica é


denominada doutrinariamente de “desapropriação-confiscatória”, porquanto
não enseja ao proprietário nenhuma indenização. Essa espécie de
desapropriação tem como pressuposto a localização de cultivo ilícito de plantas
psicotrópicas ou de exploração de trabalho escravo.

Sobre essa desapropriação confiscatória, o STF já decidiu que deve ser


desapropriado todo o imóvel, ainda que apenas uma parcela da propriedade
esteja coberta pela plantação ilegal (RE 543.974/MG). Ainda, o STF entendeu
que a expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o
proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que “in vigilando” ou
“in eligendo” (RE 635336/PE, informativo 851).

Os bens públicos PODEM ser desapropriados, respeitada, contudo, a regra do


art. 2º, § 2º do Decreto-Lei nº 3.365/41, de acordo com a qual existe uma
espécie de “hierarquia federativa”, porquanto ela deve ocorrer dos entes
federados mais abrangentes para os de nível territorial menos abrangente:
Art. 2º Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser
desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios. (...) § 2º Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito
0,25
Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos
Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder
autorização legislativa.

Em outras palavras, a União pode desapropriar bens de quaisquer entes


federados, e não pode ter seus bens desapropriados; os Estados somente
podem desapropriar bens de seus respectivos Municípios; os Municípios e o
Distrito Federal não podem desapropriar bens das demais entidades
federativas.

O direito de extensão é o direito do expropriado de exigir que a desapropriação


e a respectiva indenização alcancem a totalidade do bem, quando o
remanescente resultar esvaziado de seu conteúdo econômico.

O direito de extensão surge no caso de desapropriação parcial, quando a parte


não expropriada do bem fica praticamente inútil, inservível ou de difícil 0,20
utilização. Para que não fique apenas com a propriedade de parte inservível,
requer o proprietário que a desapropriação e a consequente indenização seja
estendida a todo o bem, convertendo-se a desapropriação parcial, em
desapropriação total. Este direito deve ser pleiteado pelo proprietário durante
as fases administrativa ou judicial do procedimento de desapropriação,
porquanto tal pedido não é admitido com término da desapropriação.

Utilização correta do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento


0,15
do vernáculo.

TOTAL 1,50

QUESTÃO N° 03
A adoção é o instituto que permite alguém atribuir a um terceiro a condição
de filho. Sobre tal instituto:
a) Quais são seus requisitos etários?
b) Quais são os impedimentos para adoção?
c) Quais os requisitos da adoção póstuma e seus efeitos? É possível tal
adoção quando a morte ocorre antes do processo formal de adoção?
d) É possível a adoção conjunta por irmãos?

QUESTÃO 03

NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

O adotante deve ter idade mínima de 18 anos para poder adotar. Entretanto,
para a adoção, o adotante há de ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que o
adotando (art. 42, § 3º, do ECA). 0,30
Por um bom período, a jurisprudência dos Tribunais Superiores, em especial do
STJ, tinha posicionamento no sentido de que não era possível a flexibilização
do requisito etário. Todavia, recentemente, a 3ª e a 4ª Turma do STJ passaram
a entender que o requisito etário pode ser relevado, concluindo que o limite
mínimo de idade entre as partes envolvidas no processo de adoção é uma
referência a ser observada, mas não impede interpretações à luz do princípio
da socioafetividade, cabendo ao juiz analisar as particularidades de cada
processo.

São três os impedimentos para adoção:

i) Impedimento Formal - art. 39, § 2º, do ECA - É vedada a adoção por


procuração.

ii) Impedimento Material Superável - art. 44 do ECA - Enquanto não der conta
de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador
adotar o pupilo ou o curatelado. Entretanto, prestadas as contas o curador ou
tutor poderá adotar o pupilo ou curatelado.
0,35

iii) Impedimento Material “Insuperável” - art. 42, § 1º, do ECA - Não podem
adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. Ressalta-se que o STJ tem
relativizado tal impedimento em determinados casos com base no princípio do
melhor interesse da criança e do adolescente quando comprovada a filiação
socioafetiva. O STJ, excepcionalmente, admitiu a adoção de netos por avós com
base no princípio do melhor interesse da criança, considerando que no caso
concreto estava comprovada a filiação socioafetiva. STJ. 3ª Turma. REsp.
1.448.969-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/10/2014 (Informativo
551 do STJ).

A adoção póstuma, prevista no art. 42, § 6o, do ECA, é aquela que se constitui
apesar da morte do adotante durante o procedimento de adoção e antes da
sentença. Tem a finalidade de permitir ao adotando a participação na sucessão
do adotante falecido. Nela há a constituição de um vínculo em que um dos
sujeitos já é falecido. Nessa hipótese, conforme o art. 47, § 7º, do ECA, a
sentença de adoção terá força retroativa à data do óbito.
0,35

São Requisitos da Adoção Póstuma: i) Declaração de vontade por parte do


adotante de modo inquestionável; e ii) A existência de um procedimento
formal tendente à adoção.
Ressalta-se que o STJ já decidiu que é possível a adoção póstuma, quando
houver prova efetiva da forte e pública relação socioafetiva do falecido, mesmo
que ainda não haja procedimento formal de adoção. A Ministra Nancy Andrighi
entendeu que a ausência de pedido judicial de adoção, anterior à morte do
adotante, “não impede o reconhecimento, no plano substancial, do desejo de
adotar, mas apenas remete para uma perquirição quanto à efetiva intenção do
possível adotante em relação ao adotado”.

O STJ entendeu que as hipóteses de adoção conjunta, previstas no Estatuto da


Criança e do Adolescente, não são as únicas que atendem ao objetivo essencial
da lei, que é a inserção do adotado em família estável. Dessa forma, o STJ,
concedendo interpretação a partir da proteção a incapazes e da ideia de
solidariedade e socioafetividade, simplesmente afasta a vedação legal de
adoção conjunta por irmãos (pelo ECA só podem adotar conjuntamente quem
seja casado ou viva em união estável), entendendo tal adoção ser possível
quando verificados laços de afinidade entre os adotantes e o adotado.

0,35
Pelo texto do ECA, a adoção conjunta somente pode ocorrer caso os adotantes
sejam casados ou vivam em união estável. No entanto, a 3ª Turma do STJ
relativizou essa regra do ECA e permitiu a adoção por parte de duas pessoas
que não eram casadas nem viviam em união estável. Na verdade, eram dois
irmãos (um homem e uma mulher) que criavam um menor há alguns anos e,
com ele desenvolveram relações de afeto. STJ. 3ª Turma. REsp. 1.217.415-RS,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/6/2012.

Utilização correta do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento


0,15
do vernáculo.

TOTAL 1,50

QUESTÃO N° 04
Tércio Sampaio é um dos princípios filósofos nacionais, destacando-se pelo
estudo da ciência do direito. Considerando a obra do autor, responda os
itens abaixo na ordem apresentada.
a) Quais são os modelos de ciência do direito para o autor?
b) Discorra sobre o método de integração do direito.
QUESTÃO 04

NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

A Ciência do Direito é feita pelo homem, para o homem. Nesse sentido, o


estudo tem por objeto principal o próprio ser humano que, através de seu
comportamento se envolve em conflitos e cria formas de solucioná-los. Para
estudar o ser humano, existem diferentes modelos que representam
diferentes concepções do que é o ser humano na qualidade de protagonista do
pensamento jurídico.

O modelo analítico encara a decidibilidade como uma relação hipotética entre


o conflito e decisões. Isto é, a Ciência do Direito sistematiza regras formais e
cabe ao ser humano adequá-las a determinado conflito, levando em
consideração suas necessidades.
0,85

O modelo hermenêutico, traduz a decidibilidade com base na sua relevância


significativa. Neste caso, a Ciência do Direito assume caráter interpretativo e
compreensivo do comportamento humano, por entender que todo o agir do
ser humano possui um significado e, até os menores gestos, tem um sentido
que lhe dá unidade.

O modelo empírico vê a Ciência do Direito sob a ótica explicativa do


comportamento do ser humano enquanto ser controlado por normas. O ser
humano, aqui, é visto como um ser dotado de funções e que se adapta às
exigências do seu ambiente.

O problema da integração do direito coloca-se, basicamente, como uma


concepção do Direito que distingue a atividade legislativa da executiva e
judiciária. Aqui, discute-se a possibilidade do intérprete da norma ir além do
campo normativo na compreensão da norma, quando esta for insuficiente ou
inexistente.
0,50

Apesar de muito almejado, o ordenamento jurídico não é perfeito. Quando


existe um caso concreto que não é abarcado pelo Direito, denomina-o de
lacunas da lei. Com a constante evolução social, o Direito a todo tempo precisa
se moldar e se adequar às novas demandas da sociedade. O juiz precisa julgar.
Logo, não está isento de fazê-lo mesmo se a lei não prever solução para tal
caso. Para tanto, deve fazer uso dos chamados instrumentos integradores:
analogia, interpretação extensiva, invocação de princípios gerais, como a
equidade. Ressaltando que a necessidade de fundamentação e argumentação
jurídica está sempre presente na atividade do magistrado, principalmente nos
casos em que houve a necessidade de buscar a solução em outras fontes de
direito que não a lei.

A integração do direito, pouco a pouco, leva a Ciência do Direito a um novo


campo de entendimento. A possibilidade de preenchimento de lacunas por
parte do intérprete do Direito implica numa espécie de criação contínua do
direito. O sentido da norma se adequa e se molda à medida que o
comportamento humano evolui e se transforma.

Utilização correta do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento


0,15
do vernáculo.

TOTAL 1,50

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