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Artigo

Os Dois Construtores e as Duas Casas


Tiago Santos
01 de Fevereiro de 2013 ­ Estudos Bíblicos

Em Mateus 7.24­27 Jesus profere uma parábola. A parábola dos dois construtores.

Esse texto fala de dois construtores, duas casas e de uma forte chuva, que se lança contra as casas
construídas.

Para nós que vivemos no Brasil e estamos agora no início do ano, não é preciso uma imaginação muito fértil
para compreender os efeitos de uma chuva caudalosa em edifícios frágeis. São Paulo sofre todos os anos
com as chuvas, que castigam as casas mal construídas e deixam muita gente desabrigada. Nos últimos
anos, ouvimos falar sobre tragédias muito tristes que aconteceram em Angra dos Reis, em Teresópolis e na
região montanhosa do Rio de Janeiro.

Essa parábola foi o encerramento do famoso sermão da montanha, que está registrado em Mateus, do
capítulo 5 ao 7. Neste famoso sermão, encontramos os principais ensinos éticos de Jesus.

Esse sermão foi proferido por Jesus em um monte ao norte de Israel, durante o período de seu ministério na
região da Galiléia.

Neste ponto de seu sermão, ele conta a história de dois homens que resolveram construir para si uma casa.

O que significa uma casa? O que ela representa?

Algumas ideias imediatas vêm à mente:

Abrigo: É o lugar onde nos protegemos do frio, do calor, da chuva, do vento, de intrusos. Nossa casa é
nosso abrigo.

Segurança: Também é o lugar onde nos sentimos protegidos; onde guardamos nossos bens, onde
colocamos as coisas que gostamos;

Lar: "Não há lugar como o lar" é uma frase famosa e que foi proferida pela jovem atriz Judy Garland no final
do filme de 1939, "O Mágico de Oz", no qual ela interpretava a órfã Dorothy Gale. Essa frase era a chave
para que ela voltasse ao lugar que representava seu reduto; sua segurança. A casa é um lar. É onde nossas
histórias se desenvolvem e onde nossa memória mais remota se estabelece. Ao fim de um dia agitado ou de
uma longa viagem, tudo o que queremos é voltar para casa. Quando sofremos uma enfermidade ou um
acidente, o que queremos é voltar para casa. A casa exerce essa força sobre nós. Ela é o nosso reduto.

Nesse texto temos a história de dois homens que construíram uma casa para si e para suas famílias.
Podemos inferir que ambos os homens tinham o mesmo propósito e que eram, inclusive, semelhantes. Não
há muito, externamente, que possa distinguir esses dois homens.

A Construção:

Jesus também nos diz que ambos trabalharam para construir uma casa.

O processo de construção de uma casa é longo e, muitas vezes, difícil. Envolve planejamento, tempo,
dedicação, diligência, dinheiro e muito, muito trabalho. O texto dá a entender que eles mesmos construíram
a sua. Certamente tinham sonhos, aspirações e propósitos com sua casa.

A Casa:

O texto também nos sugere que as casas eram bem semelhantes e que foram construídas provavelmente
vizinhas uma da outra. Afinal, ambas passaram pelo mesmo evento de enchente, o que indica sua
proximidade. Isso sugere que, olhando de fora, elas eram muito parecidas e não se podia fazer distinção
uma da outra.

Os Alicerces:

Aqui parece que chegamos no âmago do ensino de Jesus sobre as casas e os construtores.

Na Palestina do primeiro século, a região do mar da Galiléia era bem arenosa, mas, no verão, esse chão de
areia era muito firme, muito sólido.

O texto nos diz que um dos construtores construiu sua casa neste solo duro, sem alicerces profundos.

O outro homem, porém, cavou uma profunda vala, até chegar a um terreno rochoso, e então ele construiu
sua casa.

A Tempestade:

Veio uma tempestade de vento e chuva; os rios transbordaram; houve enchente e ela se arremeteu contra
ambas as casas. Uma ficou de pé e a outra foi arruinada.

Tempestades assim não eram um assunto estranho para os ouvintes de Jesus. Era comum que chuvas
fortes transformassem uades e córregos secos em correntes fortíssimas, que arrasavam o que estava pelo
caminho. Esses eventos da criação tinham o poder de causar muita apreensão e medo ­ especialmente no
homem pré­ guerra nuclear. Vale lembrar que foi através da fúria de uma tempestade que Deus trouxe
destruição ao mundo. Essa linguagem era muito vívida e forte no imaginário do ouvinte de Jesus ­ ele
entendia o que isso significava.

Vamos agora entender o que Jesus quer mostrar com sua parábola:

1. Jesus não estava fazendo distinção entre o pagão e o cristão. Sua palavra foi dirigida para pessoas
religiosas ­ para seus discípulos e para os judeus, os filhos da aliança. Jesus falava com o homem que
frequentava a sinagoga, que levava seu sacrifício ao templo, que migrava para Jerusalém durante as
festas, enfim, para o homem religioso. Os construtores do texto são homens que expressam publicamente
sua fé.
Pensando em nossa própria realidade, podemos dizer que Jesus estava falando com o homem que
frequenta a igreja. Que gosta da ética cristã, que gosta do ambiente cristão, de seus valores, de sua
mensagem.

Sua casa é sua vida, é sua trajetória, suas escolhas, seus caminhos, seus desejos e aspirações.

Não dá para distinguir, num primeiro momento, a casa do construtor sábio da casa do construtor imprudente,
insensato. Elas são muito semelhantes, estão perto uma da outra ­ no mesmo lugar e sujeitas aos mesmos
problemas.

2. Jesus ensina, todavia, que um homem é sábio e o outro é insensato.


A Escritura tem muito a dizer sobre a sabedoria.

Diz que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor. O Salmo 111.10 diz que "O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria, revelam prudência todos os que o praticam." Provérbios 1.7 afirma a mesma coisa
quando diz que "o temor do SENHOR é o princípio do saber", e, em 9.10, ele repete a mesma ideia,
dizendo: O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.

O ponto é que, tanto nos inúmeros provérbios que falam da sabedoria, como neste ensino do Senhor Jesus,
a sabedoria está relacionada com a obediência à vontade de Deus, com a prática da ética ensinada pelo
Senhor Jesus, com a conduta de seus ouvintes.

O termo sábio neste texto "phronimos" representa aqueles que praticam as palavras de Jesus; aqueles que
constroem suas casas para que resistam a qualquer coisa ­ qualquer baque, qualquer impacto.
O insensato não é assim.

A Escritura também tem muito a falar sobre o insensato.

Provérbios 12.15 diz que "O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto…", diz também o
sábio que "no juízo, a boca do insensato não terá palavra" (Pv. 24.7).

O insensato é precipitado. É ávido por resultados. Dá valor às aparências. Ele se preocupa mais com a
forma do que com o conteúdo. Seus princípios são rasos e sua vontade é fraca. O insensato sabe, mas não
conhece. Ouve, mas não entende. Quer, mas não se esforça. Vivemos tempos em que há muitos
insensatos. Homens querem frutos, mas não querem arar, semear e plantar, regar, proteger e ceifar.

Os que parecem ter fé em Jesus, mas exibem apenas aqueles sinais externos de religiosidade ­ aquilo os
satisfaz ou satisfaz algum senso de culpa ou de relação de troca com Deus ­ esses não têm estrutura para
suportar as tempestades da vida. A casa sem estrutura não pode enganar a Deus.

3. A tempestade: Jesus fala das tempestades.


Aqui podemos interpretar como dois tipos de tempestades possíveis.

4. Pode ser as tempestades da vida: enfermidades, pobreza, fracassos, frustrações, problemas (no trabalho,
na família, na própria vida), dramas pessoais, crises existenciais, depressões, tristezas, aflições, temores,
tragédias, morte. Esses ventos, essas enchentes, podem chegar na vida do homem ­ e note, ela chega e
se arremete contra as duas casas. A casa do homem insensato e a do homem sábio também. Ambos
estão sujeitos às tempestades da vida; ambos estão sujeitos a problemas sérios.
Devemos estar atentos ao fato de que Jesus dedica boa parte de seu ensino para demonstrar que muitos de
seus discípulos passariam por aflições. Todavia o cristão é afligido, mas resiste ­ como bem disse o apóstolo
Paulo: "Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos". (2 Co 4.8).

5. Há também nas palavras de Jesus, no alerta que ele fez sobre a vinda de tempestades, a ideia
escatológica da tempestade final, daquela que colocará à prova a qualidade de construções dos homens e
o caráter do construtor. Aquela tempestade final, que será trazida pelo SENHOR e que revelará a força de
nossas estruturas. O apóstolo Paulo lembra desse dia terrível, com as seguintes palavras: "O Senhor
mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá
dos céus… estais inteirados de que o Dia do Senhor vem como ladrão na noite. Quando andarem dizendo
Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto para a que
está para dar a luz; e de modo nenhum escaparão. Mas irmãos, não estais em trevas, para que esse dia
como ladrão nos apanhe de surpresa."
Qual casa ficará firme nesse dia final?

6. Os alicerces: Jesus fala finalmente dos alicerces. A diferença da construção está nos alicerces. A
diferença do construtor está em quão fundo ele cavou para fazer a base de sua vida ­ de sua casa. O
apóstolo Paulo lembra à igreja em Corinto que Jesus deve ser o alicerce da vida do cristão. Ele diz:
"Segundo a graça que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor (…), porque ninguém
pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.
Conclusão:

O sermão do monte é um chamado para aplicarmos o espírito da lei de Deus em nossas vidas. O princípio
que dá forma à lei, e sua aplicação, é o que o Senhor Jesus ensina neste sermão, com suas instruções e
alertas. Ele foi dirigido aos discípulos de Jesus e ele demonstra, especialmente na parte final de seu
sermão, que só quem é discípulo, quem é sal e luz, quem pode chamar a Deus de "Pai nosso" é que está
apto para obedecer às exortações do sermão do monte.

É possível admirar a ética e a sabedoria do sermão da montanha, mas é preciso atender ao seu chamado
de submissão e obediência.
Esse texto trata do senhorio de Cristo na vida do cristão. Se Cristo é o nosso Senhor, ouvimos à sua voz.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem". Trata também de obediência. A entrada no reino tem
a ver com obediência ­ não a obediência que conquista méritos e favor diante de Deus,pois isso é
impossível ­ mas aquela obediência que curva­se ao senhorio de Cristo e é resultado da regeneração
promovida pelo Espírito de Deus no coração do homem.

Nesse texto, Jesus chama seus ouvintes a avaliar suas vidas ­ suas construções. A avaliar seus alicerces,
se estão cravados em uma rocha sólida, capaz de fazê­los resistir às tempestades.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e /
ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas,
faça contato com a Editora Fiel.

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