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INTRODUÇÃO

Esta disciplina está focada na aplicação das práticas contabilísticas em diferentes sectores de
actividades económicas atendendo as especificidades distintas, a partir do levantamento das
necessidades particulares de informação financeira útil para a gestão.

A génese da contabilidade, segundo Borges e Rodriges (2005), é explicada, na óptica de vários


autores, pela necessidade de registar os factos patrimoniais ocorridos tendo em vista conhecer
a composição e o valor do património a conta de exploração com destaque nos resultados. Dos
vários conceitos, tem sido relevante a definição da contabilidade como ciência de natureza
económica objectivada ao estudo do património e suas variações com vista a produção de
informação financeira de utilidade para tomadores de decisão.

Não obstante ser focada em sectores diferentes, a abordagem da contabilidade sectorial se


baseia nas Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) e nas Normas Internacionais de
Relato Financeiro (IFRS) emitidas pelo IASB (International Accounting Standard Board). Com
excepção dos sectores bancário e de seguros que observam instrumentos próprios, conforme.
Assim, as matérias são leccionadas observado as Normas de Contabilidade e de Relato
Financeiro (NCRF) constantes do manual do Sistema de Contabilidade para o Sector
Empresarial (SCE), elaboradas na base das IAS e IFRS, conforme referenciado no parágrafo 3
do capítulo 1.1 do PGC-NIRF.

Com esta premissa, se invoca a necessidade de abordar a normalização contabilística com vista
à noção do tratamento contabilístico dos factos patrimoniais observando as normas específicas,
por exemplo, como elaborar as demonstrações financeiras, segundo a NCRF 1, como tratar a
matéria sobre os inventários observando a NCRF 9, como tratar os factos do sector de
agricultura nos termos da NCRF 11, os recursos minerais segundo a NCRF 11 e NCRF 15,
entre outros.

Normalização e Harmonização Contabilística

Origem

Msc. Silva Macaringue


A crescente globalização económica e financeira, conduziu a um aumento da actividade
económica entre empresas e países. Uma vez que cada país tinha o seu normativo
contabilístico, surgiu a necessidade de adopção de um conjunto de normas contabilísticas
aceites mundialmente, de forma a atenuar as diferentes práticas contabilísticas entre

países e empresas e os problemas daí adjacentes, como forma de facilitar a relação comercial
e financeira, e tornar-se num instrumento imprescindível para o desenvolvimento dos mercados
e consequentemente das empresas.

Neste âmbito, além das diferenças encontradas entre países, surgem ainda as diferentes
tradições ou modelos contabilísticos, nomeadamente o modelo Anglo-saxónico e o Europeu-
Continental, assim como a diferenciação entre países desenvolvidos e em vias de
desenvolvimento (Saraiva & Carqueja, 2016).

De acordo com Tua (2000), o inicio da harmonização internacional da informação financeira


começa a gerar-se nos Congressos Mundiais de profissionais de contabilidade, tendo o primeiro
sido realizado em 1904 em San Louis, nos EUA, e celebrados regularmente, de cinco em cinco
anos, desde então. É, no entanto, em meados do século XX que se situa a origem do processo
de harmonização.

Definições

Tanto a harmonização como a normalização pressupõem a redução da diversidade


contabilística.

A harmonização contabilística pode definir-se como um processo de aumento da


comparabilidade das práticas contabilísticas estabelecendo-se limites ao seu grau de
variação.

E normalização significa: uma única norma ou regra se aplica a todas as situações.

Das vantagens da harmonização contabilística destacam-se as seguintes:

a) Maior segurança nos negócios internacionais;


b) a cooperação internacional entre as empresas;
c) Facilidade na análise da informação financeira elaborada em diferentes países; e

c) Rompimento/eliminação das barreiras à livre circulação de capitais a nível internacional.

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Desvantagens da harmonização Contabilística

No que toca as desvantagens da harmonização pode-se apontar, dentre várias as seguintes:

a) O processo de harmonização acarreta custos maiores que os benefícios;

b) Alguns autores consideram que o processo de harmonização é apenas um procedimento


político que simplesmente trata de harmonizar os interesses das partes afectadas;

c) Predominância de modelos contabilísticos anglo-saxónicos.

Obstáculos à harmonização contabilística

Apesar das vantagens acima referidas, existiram alguns obstáculos e dificuldades inerentes ao
processo de harmonização. Os maiores obstáculos identificados eram as características que
condicionaram, e continuaram a condicionar, os quadros contabilísticos dos respectivos países
(Nobes, 1992; Lawrence, 1996), tais como:

✓ Coexistência de sistemas legais diferenciados;

✓ As diferenças nas práticas contabilísticas;

✓ A inexistência em alguns países de entidades profissionais e reguladoras no domínio da


contabilidade;

✓ A recusa ou não cumprimento de determinadas normas, em alguns países, relacionada com


o facto de manter a soberania e a não aceitação de valores estrangeiros (Nacionalismo
exacerbado);

✓ Falta de interesse no conhecimento de novos princípios contabilísticos (modernos);

✓ O efeito que a aplicação de novas normas possa vir a ter, a nível económico;

✓ A heterogeneidade das prioridades e dos objectivos contabilísticos e financeiros nos países;


e

✓ O facto de a harmonização originar um custo para as empresas, nomeadamente num


momento inicial.

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CONTABILIDADE SECTORIAL

Na perspectiva da visão da contabilidade aplicável aos diferentes sectores de actividade, surge


a necessidade de abordar alguns aspectos inerentes às peculiaridades de cada sector. Por
exemplo, para uma entidade cuja actividade principal é a compra e venda de mercadorias, o
tratamento contabilístico a ela dedicado cinge-se basicamente no apuramento dos resultados,
em função das quantidades compradas e vendidas, das existências e dos custos associados a
actividade. Este tratamento, porém, já não pode ser aplicado para uma empresa que se dedica
à transformação de matérias em produtos acabados, ou uma empresa de prestação de serviços,
ou ainda a uma empresa do ramo agropecuário, etc. Estas diferenças de actividades e
consequentemente no tratamento contabilístico das transacções constituem a razão de
abordagem das contabilidades sectoriais.

Contabilidade Sectorial é abordagem da contabilidade geral ou


financeira aplicada aos diferentes sectores de actividade
económica, atendendo as peculiaridades de cada sector, com vista
a produzir informação financeira de acordo com as necessidades
e especificidades desse sector, para efeitos de gestão.

PERSPECTIVA

Na perspectiva da visão da contabilidade aplicável aos diferentes sectores de actividade, surge


a necessidade de abordar alguns aspectos inerentes às peculiaridades de cada sector. Por
exemplo, para uma entidade cuja actividade principal é a compra e venda de mercadorias, o
tratamento contabilístico a ela dedicado cinge-se basicamente no apuramento dos resultados,
em função das quantidades vendidas, compradas, das existências e dos custos associados a
actividade. Este tratamento já não pode ser aplicado para uma empresa que se dedica à
transformação de matérias em produtos acabados, ou uma empresa de prestação de serviços,
ou ainda a uma empresa do ramo agropecuária, de seguros etc. Estas diferenças no tratamento
contabilístico das transacções constituem a razão da necessidade de abordagem das
contabilidades sectoriais.

ESCOPO DA DISCIPLINA

O escopo desta disciplina é o de proporcionar as bases para o tratamento diversificado


da contabilidade, de acordo com as necessidades de informação de cada ramo de

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actividade, sem, no entanto, perder de vista as teorias e técnicas contabilísticas
elementares que constituem os alicerces para todo e qualquer tipo de contabilidade.

SECTORES DE ACTIVIDADE ECONÓMICA

Nos estudos económicos são reconhecidos três sectores de actividade:

i. Sector primário – lida com os recursos na sua forma natural, sem sofrer qualquer
transformação. Exemplo: extracção de recursos minerais, florestais, agricultura, etc.
ii. Sector secundário – Indústria transformadora, recebe matéria-prima do sector
primário e processa-a, transformando em outros produtos que podem ser:
a) Para o consumo final. Ex.: sumo de fruta, papel, etc.
b) Para transformação em outros produtos – matéria-prima. Ex.: farinha de trigo, tábuas
de madeira, tecidos, etc.
iii. Sector terciário – comércio e Serviços.

CONTAS E ELEMENTOS DE IDENTIDADE DOS SECTORES

Embora se observe o quadro de contas da contabilidade geral, há que considerar a estrutura de


subcontas diferenciada, atendendo as necessidades específicas dos sectores. As necessidades
de informação financeira detalhada diferem de sector para sector. Por exemplo, enquanto para
a actividade comercial, caso de um retalhista, pode ser necessário distinguir as mercadorias
pelos tipos de produtos vendidos, um prestador de serviços pode ter necessidade de distinguir
os materiais de consumo por obras executadas, os serviços prestados por categorias, um
agricultor tem a necessidade de saber o custo dos insumos, da produção agrícola e pecuária,
entre outros aspectos.

O plano de estudos compreende os seguintes sectores de actividades:

• Agricultura
• Recursos naturais
• Ambiente
• Construção
• Seguros
• Banca

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• Organizações e associações sem fins lucrativos, entre outros
• Serviços
• Indústria transformadora
• Construção
• Desporto.

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DAS CONTAS SECTORIAIS

Tendo em conta as especificidades de cada sector de actividade, há a considerar os aspectos


relevantes na definição do tipo de contabilidade adequado para cada situação, tendo em conta
os seguintes elementos:

Ciclo operacional – os ciclos de maturidade dos negócios são diferentes, em função das
actividades de cada empresa. Assim, existem ciclos continuativos ou de curta duração, cujo
roteiro de actividades é sistemático e contínuo, respeitando o ano fiscal ou económico (ex. de
1 de Janeiro a 31 de Dezembro). Existem, porém, empresas cujas actividades vão para além de
um ciclo normal, ou seja, a maturidade do negócio supera o ano, sendo considerados de ciclo
longo (ex. empreitada de obras de engenharia cujo início dá-se no meio do ano, com a previsão
de terminar passados vinte quatro meses). Assim, compreende-se que o ciclo operacional pode
ser visto como um elemento de diferença na definição dos processos contabilísticos das
entidades.

Os processos contabilísticos e o reporte financeiro – o tratamento contabilístico dos factos


patrimoniais deve ser feito observando a normalização contabilística internacional. Entretanto,
dadas exigências impostas pelo sector da actividade em que se enquadra a entidade, podem ser
adequadas formas contabilísticas e um tipo específico de reporte financeiro. Por exemplo,
empresas de venda de serviços pré-pagos, trabalhos ou obras por encomenda com pagamento
antecipado, etc., podem adoptar um tipo de reporte financeiro diferente do que se observa em
actividades de carácter normal, sem prejuízo da observância do preceituado normativo
contabilístico.

Obrigações fiscais conexas – qualquer actividade está sujeita ao cumprimento de obrigações


fiscais que, dada a sua natureza, podem ser diferentes de um sector para outro. Neste contexto,
ressalta a questão do sistema tributário, fiscalidade e dos códigos dos impostos (liquidação e

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dedução dos impostos, lucro contabilístico versus lucro fiscal, impostos sobre rendimentos,
etc.).

Os Stack holders – os utentes da informação financeira são determinantes para o tipo de


informação financeira a ser elaborada e publicada, no seu interesse. Ao preparar demonstrações
financeiras para uma empresa com poucos interessados nela (pequenas empresas), o nível de
preocupação com detalhes de análises será menor relativamente a informação financeira de
uma empresa de grande porte, cujos utentes são vários e que o mercado impõe um leque de
exigências na apresentação de dados para análises de vária ordem.

Fonte de financiamento – a forma como as empresas são financiadas é relevante na definição


da contabilidade adequada para a empresa. Para as economias onde a fonte tradicional de
financiamento de empresas é crédito bancário, as demonstrações financeiras tenderão a dar
mais relevo às questões de solvabilidade, elementos de garantia para a obtenção de créditos,
etc.. Diferentemente, nas economias onde a base de financiamento de empresas é o mercado
de capitais, a preparação das demonstrações financeiras tenderá a satisfazer as exigências dos
investidores que demandam títulos no mercado cujas decisões dependem das análises feitas no
mercado, em função do desempenho das empresas, o determina a sua reputação e consequente
determinação do preço dos seus títulos.

ACTIVIDADE

1. Defina Contabilidade Sectorial e diga qual é a sua essência.


2. Diga qual é a relevância das normas internacionais em matérias de CS?
3. Tendo em conta os sectores económicos, diga onde se enquadra cada uma das
seguintes empresas: Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique,
Hidroeléctrica de Cahora Bassa, Sociedade do Noticias e Restaurante KFC.
4. Os indicadores macroeconómicos resultam da agregação de dados estatísticos
produzidos a nível nacional, mostrando a evolução da economia como um todo.
Indique como são gerados tais dados.
5. Apresente contas de diferenciação de uma empresa do sector secundário.

Msc. Silva Macaringue

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