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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – CAMPUS DE CAMPO

MOURÃO

Acadêmicos (as): Mislaine Narcizo, Renan Silva, Rodrigo e Vanessa Rocatelli

Disciplina: História Contemporânea II

Professor: José Caetano

ARTIGO - Quadrinhos Maus e a Segunda Guerra

O presente artigo tem como proposito tratar a relação entre o quadrinho Maus, obra
de Art Spiegelman, retratando a vida de seu pai antes e durante a segunda guerra,
como forma de demonstrar o cotidiano dos judeus e as mudanças bruscas que
afetaram suas vidas em meio a esse momento histórico. Assim sendo, o fenômeno
marca uma geração, não somente as vitimas dentro dos campos de concentrações,
como também seus familiares e as relações sociais dos demais envolvidos.

Palavras-chave: quadrinhos, judeus, segunda guerra.

Introdução

Com base nos fatos recorrentes no período a ser abordado, podemos analisar o fator
principal, que ira desencadear os demais conflitos o estopim da 2 guerra, ocorrido na
Polônia, o líder nazista da Alemanha conhecido como Hitler queria as terras tomadas
pelos poloneses durante 1 guerra e exerceu varias medidas para alcançar seus
objetivos, embora outros países já estivessem cansados da forma com o que o mesmo
agia, bem como o aumento no seu domínio sobre outros territórios, estes se
posicionavam então contrários a tal invasão, mas Hitler ignorou os seus opositores e
seguiu com seu plano, afetando milhares de poloneses, principalmente Judeus os
quais aglomerou em campos de concentração para realizarem trabalhos em condições
desumanas e em um segundo momento extermina-los. Partindo destes fatos surgi a
obra em analise o quadrinho Maus, no qual um sobrevivente do holocausto conta ao
seu filho a sua vida e suas experiências no período nazista, sendo escrita sua biografia
e publicada a diversos países.

Judeu no holocausto

O principal personagem do quadrinho é Vladeck um Judeu Polonês, que gostava de


atividades físicas, com certa disposição, a não ser quando referente a dinheiro, ele era
mesquinho qualquer divergência era motivo de brigar com o filho, pois percebe-se que
ele tinha alguns indícios de TOC (transtorno obsessivo compulsivo), visto que todas os
seus pertences deveriam sempre estar arrumados em perfeito estado. Seu filho Art ia
visita-lo em Nova York sempre que podia e pedia para que ele lhe contasse sua vida
para ser escrita e publicada posteriormente, devido ao fato do pai ter sido vitima do
campo de concentração nazista. Em enquanto solteiro, por volta de seus trinta anos,
Vladeck residia em Czestoshowa, ele se relacionava com uma moca chamada Lucia
(nada sério), mas que o fez envolver-se, porém segundo ele, não queria aquele
envolvimento. Até que um dia resolveu ir visitar a sua família e sua prima lhe
apresentou uma moca chamada Anja de uns 24 anos, de família rica, inteligente e
bonita, trocaram alguns assuntos e mesmo quando Vladeck retornou a casa eles
permaneceram conversando, com isso ele rompeu os encontros com Lucia.

Desse modo, Vladeck continuou visitando Anja, até ir à casa da família da moca
(sendo muito bem recebido) para firmar o compromisso, os pais dela eram donos de
uma fabrica de malhas, casaram-se em 1936 e ele foi morar em Sosnowiec, apesar
disso, Lucia havia tentado impedir o casório, já que nutria sentimentos pelo rapaz, mas
ele conseguiu desviar tal a atenção sobre o fato, garantindo a sua futura esposa que
nada mais tinha com aquela moca. Adiante, ocorreram uns desentendimentos entre o
casal, sobre Vladeck não gostar de comunistas e o ex-namorado da esposa fazer parte
do movimento, além de que Anja mantinha contato com o moco, traduzindo mensagens
comunistas que recebia do mesmo para o Alemão. Pois bem, o marido ficou sabendo
disso quando a policia apareceu em sua casa para revista-la (já que o conteúdo era
proibido), mas antes Anja havia deixado o material com uma costureira vizinha, e a
policia não só revistou a casa de Anja como também da moca que acabou sendo
presa. Assim, passou-se o tempo e o sogro de Vladeck queria ajuda-lo
financeiramente, garantindo o bom desenvolvimento da nova família, então montou
uma fabrica de tecidos em Bielsko e depois de um período o casal teve seu primeiro
filho Richieu, após a chegada do filho Anja entrou em depressão sentindo-se exausta e
sem motivações, nisso os pais da moca resolveram manda lá a um sanatório para que
descansa se. Para isso o marido a acompanhou e no caminho de dentro do trem
ambos avistaram uma bandeira nazista, (mas a preocupação não vinha ao caso
naquele momento) e seguiram ao local de repouso, quando no destino Vladeck
conseguiu ajudar a esposa, tentando distrai-la de diversas formas contribuindo para
que a mesma retomasse seu vigor.

Isto posto, passado três messes os dois retornaram, ela já bem animada e ele
recebendo a noticia do sogro de que sua fabrica havia sido roubada. Mas, o sogro
novamente ajudou-os, até que o nazismo se fortaleceu na região, notando-se uma
frequência de Judeus mortos em publico, então em 1939 Vladeck recebe uma carta de
recrutamento, o qual participou de um dos primeiros fronts na guerra contra os
nazistas, derrotado ele e os demais soldados (pois estavam mal equipados), foram
encurralados e levados pelos nazistas, nesse momento a união soviética aproveitou
pra invadir outra parte da Polônia. Enquanto estava sobre domínio nazista, Vladeck
dormia em barracas, tomava banho no rio frio, se cobria com uma roupa fina, rezava e
praticava exercícios, após dias nesse local ele e os demais foram levados a um novo
local com comida, cama e novas vestimentas para trabalharem voluntariamente, numa
de suas conversas com outros soldados, ouviu dizer que anteriormente a sua chegada,
levaram um grupo de judeus para o Lublin que foram executados. Vladeck viu-se
desesperado para sair dali, conseguindo driblar a situação saindo daquele lugar e
encontrando a sua família.

Apesar do retorno vivo, varias coisas haviam acontecido apesar dos alimentos serem
escassos e adquiridos apenas com cupons (moeda de troca), também havia o mercado
negro e esse era um meio arriscado demais para conseguir os materiais, embora fosse
necessário. Isso era consequência das fabricas terem sido dominadas pelos nazistas,
mas ainda assim, os judeus acreditavam que a guerra terminaria rápido, mas a
situação foi piorando, chegando a atingir Richieu que é envenenado por uma parenta,
pois temia que os nazistas fossem piores quando levasse às crianças a execução.
Como proteção o casal viveu em guetos por um bom tempo, até chegar um amigo de
Vladeck lhe mostrando uma carta do sobrinho dizendo que estava tudo bem na Hungria
e que deveriam se mudar para lá, sem muitas alternativas ambos seguiram viagem,
somente no caminho perceberam que tudo era um truque aos judeus sendo então
levados aos campos de concentração de Aushwitz em 1944.

Mulheres e homens eram separados Anja e Vladeck, viveram seus piores dias, a
mulher acabou escrevendo um diário dos seus dias no local, o qual foi queimado pelo
marido no fim da guerra e pouco se sabe sobre a mesma. Já sobre Vladeck, várias
foram suas artimanhas, ele consegue ajudar amigos, ter bons alimentos, fazer troca
sobre aquilo que não lhe seria útil, se aproxima de supervisor dando-lhe aulas de inglês
e claro nada era bom, todos os dias eram difíceis como com o surto de piolho
infestando o pessoal do campo, a falta de comida, trabalho em excesso e afins, mas
em partes ele teve sorte e estratégia. Para além, o casal conseguiu sair do local, Anja
foi pelo lado Russo e Vladeck recebeu uma ordem para viajar e ser trocado por
prisioneiros da Suíça, no deslocamento, os supervisores resolveram parar num local e
alguns judeus conseguiram escapar e se esconder dos alemães até a chegada dos
americanos que já avançavam a Polônia. Nisso o casal consegue se encontrar
mantendo a relação e tendo o segundo filho Art Spielgeman, mas Anja tinha seus
problemas e se matou em 1968. Então Vladeck depois de um período, tem uma
relação com Mala, uma mulher que ele conhecera antes da guerra, após o casamento
ele vai morar em Nova York, conhecendo melhor seu marido Mala reclamava pela falta
de afeto, o homem era doente tinha diabete e já havia sofrido dois infartos, mas não
abandonava seu autoritarismo.

A distinção antropomórfica das nações

Durante o Terceiro Reich houve uma tentativa de desumanização dos judeus por
parte dos nazistas. Vários filmes foram feitos a mando do ministro da propaganda,
Joseph Goebbels e patrocinados pelo Estado Nazista. Um destes filmes foi o “Eterno
Judeu”, de 1940. Nesse filme os judeus são comparados a ratos, um animal esperto e
sujo, responsável por disseminar diversas doenças e pragas. A presença dos judeus
em várias localidades do globo é comparada a amplitude da proliferação desses
roedores. Essa desumanização justificaria, no futuro, para a população alemã, o
extermínio dos judeus, considerados como seres sub-humanos. Essa ideia é expressa
pela frase de Adolf Hitler que abre o livro: “Sem dúvida os judeus são uma raça, mas
certamente não são humanos”.
Spiegelman então toma uma abordagem pós-modernista utilizando-se do
antropomorfismo (que mistura características humanas com animais), ele faz uso
desse método tanto como crítica, quanto como uma forma de expressar em imagens e
de uma maneira simbólica, todo aquele cenário onde o preconceito era regra, e
também uma forma encontrada para demonstrar como era o tratamento entre cada um
dos povos, pois apesar de serem todos humanos, havia essa diferença na relação
entre eles.
Todos os personagens do livro foram representados por animais que eram
diferenciados de acordo com suas nações assim como:

● Judeus são representados por ratos que, por uma escala de poder eles são os

que podem ser vitimados, presos e mortos, mas pode também simbolizar a
expertise de muitos judeus exibidos durante o Holocausto e a incapacidade de
Hitler para eliminá-los completamente.

● Alemães são gatos, pelo simbolismo eterno de perseguidor e exterminador de

ratos.

● Poloneses são porcos, embora com exceções, são retratados como muito

egoístas e que não querem ter nada a ver com os judeus e embora invadidos e
dominados pelos alemães, guardavam forte antissemitismo. Não à toa os mais
infames campos de extermínios foram construídos na Polônia.

● Americanos eram cachorros, contrapondo os alemães.


● Outros povos também foram representados; Os franceses como sapos; os

suecos como renas; britânicos peixes.


Desse modo, ‘’Essas máscaras de animais servem como um dispositivo gráfico
agradável e útil para tornar mais amena uma narrativa densa que é, essencialmente,
sobre os seres humanos e identidades’’ (Baker, 2001).

Relação Art Spielgeman e pai

A relação de Art com seu pai é muito conturbada. Por muito tempo pai e filho
mantiveram-se afastados um do outro e a elaboração do quadrinho Maus com o pai
narrando a sua experiência na segunda Guerra foi uma forma de aproximá-los um
pouco. Essa relação conturbada parte do temperamento difícil e a personalidade forte
de Vladeck e da falta de paciência de Art com as excentricidades do pai. Vladeck é
sovina, metódico e acumulador: ele guarda qualquer tipo de coisa que ele imagina ser
útil no futuro, é perfeccionista e rígido na maneira de organizar as coisas; e procura não
desperdiçar o mínimo recurso. Art questiona para os vizinhos do pai, que também são
sobreviventes do Holocausto, se foram os tempos difíceis da guerra, do gueto e dos
campos de concentração que fez Vladeck ter essas características; mas os vizinhos
respondem que conhecem muitos outros sobreviventes e nenhum deles é como
Vladeck.
A relação de Art e Vladeck, por mais que muitas vezes seja conflituosa, dá uma
espécie de alívio cômico para uma narrativa tão pesada como a de Maus. Relatos
tristes e perturbadores são intercalados com momentos de humor, o que dá uma outra
dimensão a obra, que apesar de extremamente dramática, possui elementos de leveza,
o que dá um maior equilíbrio a Maus.
Contudo, Maus não se trata de apenas um testemunho de um sobrevivente do
holocausto, mas sim, antes de tudo, é um relato de como os pais do autor se
conheceram, sua vida juntos durante a Segunda Guerra Mundial, as perseguições a
eles pelos nazistas, sua separação no Campo de Concentração em Auschwitz e o fim
de sua história com o reencontro do casal na sua cidade natal, Sosnowiec, na Polônia.
Portanto, Maus é mais que um relato sobre a Segunda Guerra ou sobre o holocausto,
mas é uma história de amor e uma narrativa sobre a família Spiegelman.
Para Art Spiegelman a escrita de Maus foi para um processo de autoanálise e de
descobrimento de si e de sua família, trazendo para ele uma série de questionamentos
e reflexões. Apesar de não ter sofrido no Holocausto, Art é traumatizado pelas
narrativas do pai. Por vezes Art imagina que seria justo ele também vivido o Holocausto
como uma forma de identificação com os sofrimentos dos pais. Art tem uma questão
com seu irmão mais velho, Richieu, que morreu na Guerra, sentindo que não pode
competir com uma foto na cabeceira da cama, uma lembrança que o torna perfeito e
idealizado, em comparação com Art vivo, que briga e que muitas vezes é chato ou mal
humorado. Art Speigelman frequentemente se questiona que fosse possível escolher
entre o pai ou a mãe quem fosse sobreviver ao holocausto, ele escolheria sua mãe.
Essa escolha vem de uma necessidade de um pai mais afetuoso em sua vida. Art
também preferiria que a mãe sobrevivesse porque ela daria a narrativa do holocausto
um equilíbrio maior de sentimentalismo, algo que carece nos relatos de Vladeck.
Em um dado momento, em Maus, Art Spiegelman se pergunta se adicionaria ao
quadrinho os trechos do livro em que mostram Art conversando com o pai no presente
porque seu pai seria, segundo ele, o retrato racista do judeu pão-duro e avarento, algo
que poderia alimentar o estereótipo que todos os judeus são mesquinhos e sovinas.
Além disso, ainda em Maus, Art se questiona sua obra não seria dura demais com seu
pai, mas apesar de ficar inquieto com a questão, conclui que tentou ser justo.
Durante muito tempo os historiadores trataram como resistência apenas o confronto
armado, muita gente se perguntava: por que os judeus não lutavam contra os nazistas?
Apesar de revoltas de judeus terem existido, tais como no Gueto de Varsóvia e no
Campo de Auschwitz, a principal forma de resistência ao extermínio era permanecer
vivo. Em um dado momento no quadrinho Art pergunta ao pai o porquê dos judeus não
se rebelarem contra os nazistas, Vladeck responde que era muito difícil lutar estando a
todo o momento faminto, cansado e com medo; que a cada nazista morto em uma
rebelião, cem judeus eram mortos retaliação; e que sempre havia esperança de tudo
aquilo acabar e os russos livrá-los dos campos de concentração.
Portanto, Maus é um trabalho biográfico, autobiográfico e jornalístico ao mesmo
tempo, é autobiográfico porque Art Spiegelman se desenha entrevistando seu pai,
Vladeck Spiegelman; é biográfico porque narra as experiências deste durante a
Segunda Guerra Mundial; e é jornalístico pela forma como esta história é narrada. Com
este trabalho Art Spiegelman ganhou um Prêmio Pulitzer, que é designado a trabalhos
jornalísticos e de literatura, sendo que nunca antes esse prêmio fora dado a uma obra
de graphic novel, formato considerado como destinado ao público infanto-juvenil e ao
humor.

Referências:
BAKER, S. O melhor figuras: animais, identidade e representação. Tradução.
Urbana: [s.n.], 2001.
SPIEGELMAN, Art. Maus: a história de um sobrevivente. Trad. Antonio de Macedo
Soares. São Paulo: Companhia das letras, 2005.

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