A FARRA DOS BOIS PINTADINHOS NO MUNICÍPIO DE MACAÉ – RJ
Wilson Dos Santos Souza (wilsonreg@terra.com.br)
Giovane Do Nascimento (giovanedonascimento@gmail.com)
O presente trabalho é dedicado à compreensão da farra dos Bois Pintadinhos
em Macaé-RJ, e, nesse sentido, trata-se de uma manifestação da cultura popular amplamente vista em toda a cidade e constitui uma das práticas culturais mais importantes do município, sendo dele um patrimônio imaterial. Embora a tradição do “boi” exista há mais de um século, segundo registro da própria Prefeitura, a bibliografia a nível acadêmico é praticamente inexistente. Em função da imensa importância que apresenta o “Boi Pintadinho”, e levando- se em conta a intensidade com que acontecem as manifestações no período do carnaval, e, considerando o envolvimento das pessoas e comunidades, produzir uma etnografia do folguedo se torna fundamental para a compreensão do mesmo. Situamos a “brincadeira” entre as multiformes apresentações existentes nas mais diversas regiões do Brasil: “Boi-Bumbá” no norte, “Bumba-Meu-Boi” no nordeste, Reis de Boi, Boi Pintadinho, Boi Malhadinho e Boi de Reis no sudeste, Boi de Mamão no sul, Santa Catarina. Mário de Andrade as situava no primeiro plano das “danças dramáticas” em termos de originalidade, complexidade e exemplaridade. Chamamos atenção para o mito dos diversos bois, que não é uniforme, mas importante, pois é elemento de identidade. O mais comum, é aquele que narra a história da morte e ressurreição do boi (norte/nordeste). Existem variantes, ressignificações e, em alguns lugares, a própria inexistência de um auto. Em Macaé, o Boi Pintadinho ocorre no ciclo carnavalesco, e segundo site da prefeitura (MACAÉ, 2010), possui cento e oito anos de existência. Dadas as suas dimensões, esses bois que competem na avenida são grandes, demandando destreza para quem os movimenta. Acompanha-os um grupo de ritmistas, que marcam o ritmo da dança do boi. Os instrumentos principais são o surdo, a caixa e o repique. De acordo com as informações existentes no blog http://boispintadinhosdemacae.blogspot.com.br, há em torno de noventa bois catalogados pela Liecam (Liga Independente das Entidades Carnavalescas de Macaé), que coordena os desfiles de carnaval, sendo o município recordista em número de bois em todo Brasil. Os quesitos avaliados pelos jurados nos concursos de bois são: animação, bateria, adereços e originalidade. O “boi” é uma tradição típica dos bairros de periferia. Bois grandes confeccionados pelos artesãos mais experientes, ou bois menores feitos por crianças e adolescentes, que pedem dinheiro nas esquinas para financiar a construção do “boi” da própria rua. Situamos o Boi Pintadinho em relação ao de Campos, que tem o mesmo nome, e ao Boi Malhadinho de Quissamã. Consideramos relevante isso, pois há características comuns que conferem uma certa identidade regional ao “boi”. Como manifestação cultural das periferias o Boi Pintadinho é uma resposta das comunidades, em nível simbólico à sua invisibilidade social, constitui elemento de representação cultural (HALL, 2016) e, ao mesmo tempo, de resistência (o “Boi Pintadinho” sobrevive às transformações urbano/culturais geradas pela vinda da Petrobras para o município desde 1977). Esta pesquisa tem por objetivo principal compreender que manifestação cultural é essa que se revela em um todo artístico-expressivo, com ênfase nas práticas musicais a ela ligadas. Como objetivos específicos pretende-se situá-lo em relação aos “bois” de Campos e Quissamã, mapear os grupos, analisar as representações sociais por ele engendradas, descrever os processos de construção, discutir as políticas culturais de incentivo, conservação e salvaguarda e, por fim, fazer a transcrição musical das batidas das baterias. A metodologia compreende a análise de informações da imprensa oficial, de blog e da nossa própria observação, pesquisa etnográfica musical, estudo comparativo dos “bois” dentro do município e com os de Quissamã e Campos, observação participante, recorrendo a entrevistas individuais com mestres e lideranças dos grupos, investigando elementos de sua história oral e memória.