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SISTEMAS TÉRMICOS SISTEMAS TÉRMICOS

Sistemas Térmicos e Fluidomecânicos


E FLUIDOMECÂNICOS E FLUIDOMECÂNICOS
Eric Fabiano dos Santos e Leovir Cardoso Eric Fabiano dos Santos e Leovir Cardoso

Com base nas leis da termodinâmica, trazemos a você um material que versa sobre os
princípios básicos dos sistemas térmicos e fluidomecânicos, compreendendo o fun-
cionamento e a operação dos principais dispositivos das máquinas térmicas para a
geração de energia, como ciclos motores a gás e vapor, sistemas de aquecimento e
refrigeração, e ciclos motores de combustão.
Embora os conceitos sejam bastante amplos, trataremos diretamente dos principais
dispositivos térmicos geradores de energia, utilizando uma linguagem simples e uma
modelagem matemática bastante clara, proporcionando um aprendizado motivador
e de incentivo a projetos futuros.
Com este material, esperamos contribuir para uma formação sólida, que articule teo-
ria e prática, para uma atuação ainda mais eficiente na área.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Eric Fabiano dos Santos

Leovir Cardoso A. Junior

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Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Ciclos motores a vapor


Objetivos da unidade............................................................................................................ 13

Ciclos motores a vapor......................................................................................................... 14


Introdução ao ciclo de potência.................................................................................... 20

Ciclo de Rankine................................................................................................................... 25
Efeitos da variação de pressão e temperatura........................................................... 26

Ciclo de Rankine com reaquecimento.............................................................................. 29

Ciclo de Rankine regenerativo........................................................................................... 33


Ciclo de Rankine combinado: regeneração e reaquecimento................................. 37

Afastamento dos ciclos reais em relação aos ideais.................................................... 37

Sintetizando............................................................................................................................ 40
Referências bibliográficas.................................................................................................. 42

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Sumário

Unidade 2 - Funcionamento dos ciclos de refrigeração


Objetivos da unidade............................................................................................................ 44

Ciclos de refrigeração.......................................................................................................... 45
Introdução aos ciclos frigoríficos.................................................................................. 46
Diagrama de Mollier e tabelas termodinâmicas......................................................... 46
Balanço energético.......................................................................................................... 50
Ciclo de Carnot ................................................................................................................ 52

Ciclo de refrigeração por compressão de vapor............................................................. 55

Fluidos de trabalho............................................................................................................... 58

Afastamento dos ciclos reais em relação aos ciclos ideais........................................ 64

Sintetizando............................................................................................................................ 66
Referências bibliográficas.................................................................................................. 67

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Sumário

Unidade 3 - Ciclos motores a gás


Objetivos da unidade............................................................................................................ 69

Introdução aos ciclos motores a gás....................................................................... 70

Ciclo Brayton............................................................................................................... 75

Ciclo simples de turbina a gás com regenerador................................................... 87

Sintetizando............................................................................................................................ 92
Referências bibliográficas.................................................................................................. 93

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Sumário

Unidade 4 - Trocadores de calor


Objetivos da unidade............................................................................................................ 95

Introdução aos trocadores de calor.................................................................................. 96

Tipos básicos de trocadores de calor............................................................................... 98

Projeto e seleção................................................................................................................ 101

Fator de incrustação........................................................................................................... 109

Método da diferença de temperatura média logarítmica........................................... 113

Sintetizando.......................................................................................................................... 117
Referências bibliográficas................................................................................................ 118

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Apresentação

Olá, leitor!
Com base nas leis da termodinâmica, trazemos a você um material que ver-
sa sobre os princípios básicos dos sistemas térmicos e fluidomecânicos, com-
preendendo o funcionamento e a operação dos principais dispositivos das má-
quinas térmicas para a geração de energia, como ciclos motores a gás e vapor,
sistemas de aquecimento e refrigeração, e ciclos motores de combustão.
Embora os conceitos sejam bastante amplos, trataremos diretamente dos
principais dispositivos térmicos geradores de energia, utilizando uma lingua-
gem simples e uma modelagem matemática bastante clara, proporcionando
um aprendizado motivador e de incentivo a projetos futuros.
Com este material, esperamos contribuir para uma formação sólida, que
articule teoria e prática, para uma atuação ainda mais eficiente na área.
Bons estudos!

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O autor

O professor Eric Fabiano dos Santos


possui pós-graduação em Ensino da
Matemática pelo Centro Universitário
Claretiano (2019), mestrado em Enge-
nharia Biomédica pela Universidade de
Mogi das Cruzes – UMC (2014), pós-gra-
duação em Automação Industrial pela
Faculdade Anchieta em São Bernardo
do Campo (2010) e graduação em enge-
nharia Mecânica com ênfase em Auto-
mobilística pela Universidade São Judas
Tadeu – USJT (2007).
Tem experiência na área de pesquisas e
desenvolvimento de projetos em enge-
nharia. Atualmente, atua como profes-
sor universitário em diversos cursos de
engenharia.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3112760720825240

Agradeço a Deus, por me capacitar, e a minha família, pelo apoio a este trabalho.

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O autor

O professor Leovir Cardoso A. Junior


é graduado em Engenharia de Contro-
le e Automação pelo Instituto Federal
de Goiás (IFG) e mestre em Engenharia
Elétrica e da Computação pela Universi-
dade Federal de Goiás (UFG). Atua pro-
fissionalmente em projetos de eficiência
energética de sistemas elétricos, siste-
mas térmicos e de refrigeração, além de
ser professor de instituições de ensino
superior, públicas e privadas, de Goiás.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/0533485135891182

Dedicado à Deus, à memória de minha avó Marciana, aos meus pais Leovir e
Aparecida Helena, minha companheira Thaísa de Deus, a quem me apego em
instantes de dificuldade e com quem celebro os instantes de júbilo. E, por fim,
dedico aos meus alunos das instituições que leciono em Goiás.

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UNIDADE

1 CICLOS MOTORES
A VAPOR

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Objetivos da unidade
Definir máquinas térmicas e os parâmetros de eficiência, segundo os
parâmetros termodinâmicos de Kelvin-Planck e Carnot;

Introduzir o ciclo Rankine ideal para geração de energia;

Descrever modelamentos matemáticos para cálculo de potência e


rendimento;

Abordar parâmetros de operação e rendimento dos ciclos Rankine ideal de


reaquecimento, regeneração e ciclos combinados.

Tópicos de estudo
Ciclos motores a vapor Ciclo de Rankine regenerativo
Introdução ao ciclo de potência Ciclo de Rankine combinado:
regeneração e reaquecimento
Ciclo de Rankine
Efeitos da variação de pressão Afastamento dos ciclos reais
e temperatura em relação aos ideais

Ciclo de Rankine com reaqueci-


mento

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Ciclos motores a vapor
Antes de iniciar nossos estudos em relação aos motores a vapor, precisa-
mos entender alguns aspectos importantes quanto à geração de energia por
meio da produção de vapor.
Num aspecto geral, a termodinâmica tem seu interesse voltado para trans-
formações de energia, e suas leis descrevem limites nos quais se observa a
ocorrência dessas transformações. Já se verificou no Primeiro Princípio da Ter-
modinâmica (PPT) ou Primeira Lei da Termodinâmica (PLT) que a energia é con-
servada, mas não impõe restrições no que diz respeito ao sentido do processo.
Enquanto a ciência tenta explicar o que acontece à nossa volta, a termodi-
nâmica tenta desenvolver afirmativas de âmbito geral, leis da natureza, científi-
cas, que, de alguma forma, consideram tais fenômenos como de único sentido.
Exemplo disso está na água fria misturada à água quente, cujo resultado é água
morna, da qual não se pode mais retirar a água fria ou quente. Ou um prato
que se quebra em diversos pedaços que não se reagrupam mais. Comparando
os dois processos, temos que eles ocorrem em um único sentido, ou seja, são
ditos irreversíveis.
No entanto, esses processos poderiam acontecer em qualquer um dos dois
sentidos (reversível ou irreversível), sem contrariar a Primeira Lei da Termodinâ-
mica, isto é, sem violar o princípio da conservação da energia. Assim, a Segun-
da Lei da Termodinâmica (SLT) vem explicá-los e mostrar que alguns processos
causam mudanças no sistema e nas suas vizinhanças que podem ser comple-
tamente revertidas, ou seja, ambos podem retornar aos seus estados iniciais.
Embora sejam bastante vastas as aplicações termodinâmicas, a capacidade
de geração de trabalho por meio de fontes térmicas será nosso principal ele-
mento de estudo. Nesse contexto, a Segunda Lei da Termodinâmica enfatiza a
capacidade de se gerar trabalho por meio da transformação da energia térmica,
através de sistemas termodinâmicos definidos como máquinas térmicas ou sis-
temas termodinâmicos de produção de trabalho por meio da geração de vapor.
Segundo Franco Brunetti no primeiro volume do livro Motores de combustão
interna, de 2012, máquinas térmicas são dispositivos que permitem realizar
a transformação de energia térmica em trabalho. Para Zulcy de Souza, no pri-
meiro tomo do livro Projeto de máquinas de fluxo, conforme publicado em 2011,

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máquinas térmicas são todo sistema termodinâmico que troca com o meio ex-
terno, de modo contínuo, as formas de energia calor e trabalho.

ASSISTA
Para saber mais sobre as máquinas térmicas, assista:
Máquinas Térmicas e o Ciclo de Carnot - Brasil Escola,
que traça mais detalhes, de forma clara e didática, sobre
esse conceito.

As máquinas térmicas dependem da queima de um combustível (derivados


de petróleo, carvão vegetal, nuclear) para que seja possível o aquecimento de
um fluido de trabalho (água) para a geração de vapor e transformação da ener-
gia térmica liberada. O vapor produzido pelo aquecimento da água (Diagrama
1) é gerado na caldeira, um trocador de calor (TC) que fornece a turbina e vapor
superaquecido à alta pressão e alta energia térmica, sendo, assim, capaz de
gerar trabalho para o meio externo, seja mecânico ou elétrico (BORGNAKKE;
SONNTAG, 2013).

DIAGRAMA 1. ESQUEMA DE OPERAÇÃO DE UMA MÁQUINA TÉRMICA PARA


GERAÇÃO DE ENERGIA (CICLO RANKINE)

Gerador
de vapor
W

Turbina 3

1
4
Condensador
Bomba
Fonte: BORGNAKKE, SONNTAG, 2013, p. 244. (Adaptado).

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O processo de geração de trabalho nas máquinas térmicas se dá sempre
em um ciclo fechado, segundo os princípios termodinâmicos de transferência
de energia que obedecem às leis da termodinâmica. Desta forma, não há como
imaginar um ciclo de energia térmica produzindo integralmente trabalho (POT-
TER; KROOS, 2016).
A Segunda Lei da Termodinâmica não proíbe a geração de trabalho por meio
do calor, mas impõe restrições ao calor fornecido quanto à conversão total em tra-
balho. Segundo essa lei, é impossível, por meio de um processo cíclico, converter
completamente o calor absorvido por um sistema em trabalho realizado por ele.
Em outras palavras, podemos dizer que é impossível produzir trabalho com
100% da energia fornecida pelo calor, pois sempre ocorrerão perdas entre o
sistema e o meio e, por mais isolado que o sistema esteja, ainda haverá perdas
por dissipação desta energia, que poderá ocorrer também entre os dispositi-
vos envolvidos. Desta forma, o rendimento ƞ de um dispositivo de geração de
energia térmica será sempre inferior a 1 ou seja, ƞ < 1 (POTTER; KROOS, 2016).
Segundo a termodinâmica, calor Q é uma forma espontânea de fluxo de
energia que se desloca de um corpo de maior energia interna para um corpo
de menor energia, movida pela diferença de temperatura entre eles. O calor
não flui naturalmente de uma região “fria” para uma região mais “quente”; para
que isso ocorra, devemos forçá-lo por meio do fornecimento de trabalho em
um ciclo invertido conhecido como ciclo de refrigeração. Já que a definição de
trabalho W é mais ampla, porém, nos concentraremos na definição de que o
trabalho é aquele gerado pela energia liberada pelo calor. Definições mais com-
plexas poderão ser encontradas na medida em que estudarmos os dispositivos
que compõem as máquinas térmicas.
O parâmetro de desempenho ou rendimento termodinâmico ƞ é obtido se-
gundo a razão de saída de trabalho W pela entrada de energia de uma fonte
quente Qq , obedecendo a Equação 1:

saída W
η= =
entrada Qq (1)

As unidades usuais no Sistema Internacional (SI) para calor e trabalho são:


caloria (cal) ou joule (J), sendo: 1 cal = 4,186 J (1kcal = 4186 kJ). Dessa forma, não
há unidade para o rendimento, sendo ele considerado adimensional.

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Como o trabalho W gerado é resultado do fluxo de calor entre as fontes
quentes Qq e frias Q f num sistema termodinâmico, o rendimento do sistema
pode ser também obtido pela Equação 2:

W Qq - Qf Qq Qf Qf
η= = = =1- (2)
Qq Qq Qq Qq Qq

Exemplo 1: uma turbina recebe cerca de 1000 kJ de vapor superaquecido


de uma caldeira e rejeita para o meio externo cerca de 300 kJ. Determine a
eficiência da turbina.
Resolução: segundo a Equação 2, podemos determinar a eficiência e o tra-
balho da máquina térmica. Note que, segundo a relação, podemos obter o tra-
balho W pela diferença entre os calores das fontes quente Qq e fria Q f.

W = Qq - Q f = 1000 - 300 = 700[kJ]

W Qq - Qf 1000 - 300
η= = = = 0,7
Qq Qq 1000

Observação: por ser uma grandeza adimensional, o rendimento não apre-


senta unidade e pode ser representado em porcentagem.

η = 0,7 x 100 = 70%

Embora, a princípio, entendamos que máquinas térmicas sejam aque-


las que operam obedecendo a um fluxo de calor para geração de vapor e
produção de trabalho (ciclos de aquecimento e motores a vapor), também
são ditas máquinas térmicas os aparelhos que trabalham em ciclo inver-
tidos, como é o caso dos refrigeradores (ciclos de refrigeração) (POTTER;
KROOS, 2016).
Para as máquinas que operam em ciclos de geração de calor para a pro-
dução de trabalho, um rendimento de 100% violaria o princípio da Segunda
Lei da Termodinâmica, pois sabemos que há uma perda significativa de calor
por dissipação não aproveitada na geração de trabalho. Segundo o jovem
físico Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832), é impossível que todo o calor
gerado produza trabalho.

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O ciclo de Carnot (Gráfico 1) ou máquina térmica de Carnot é a máquina
cíclica ou ciclo definido por dois processos isotérmicos reversíveis e dois pro-
cessos adiabáticos reversíveis.

GRÁFICO 1. OS PROCESSOS QUE COMPÕE O CICLO DE CARNOT

P
A

Expansão isotérmica
B

Compressão adiabática
Expansão adiabática
D

C
Compressão isotérmica

Fonte: KROOS; POTTER, 2016, p. 175. (Adaptado). V

EXPLICANDO
Um sistema, segundo Carnot, não existe. Trata-se apenas de um parâme-
tro para a condição de existência das demais máquinas térmicas.

O ciclo de Carnot compreende quatro etapas:


• A-B: recebendo calor à temperatura constante Tq da fonte quente, o
gás sofre expansão isotérmica (temperatura constante), realizando traba-
lho mecânico;
• B-C: afastando da fonte quente Qq , e agora isolado termicamente do ex-
terior, o gás expande adiabaticamente (sem troca de calor), resfriando-se até
atingir a temperatura Tf da fonte fria, ainda realizando trabalho;
• C-D: colocado em contato com a fonte fria, novamente sem diferença de
temperatura para evitar perdas, o gás é, então, comprimido isotermicamente
pela realização de trabalho sobre ele;

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• D-A: afastado da fonte fria Q f, é
ainda comprimido adiabaticamen-
te até atingir a temperatura da fonte
quente Tq , reiniciando o ciclo.
A eficiência de uma máquina tér-
mica, segundo Carnot, define-se como
um dispositivo operando em quase
equilíbrio, ou seja, opera por um pro-
cesso sem qualquer atrito, nenhuma
expansão súbita e nenhuma transfe-
rência de calor por meio de diferença
de temperaturas finitas. A referida máquina não existe, mas definirá o parâme-
tro para a condição de existência da máquina térmica, denominada máquina
de Carnot (POTTER; KROOS, 2016). A máquina de Carnot opera com processos
ideais reversíveis sem nenhum atrito, de modo que não pode ser melhorada;
neste caso, o ciclo deverá possuir a máxima eficiência possível.
As conclusões de Carnot definiram os parâmetros aceitos até os dias atuais
para a condição de existência de qualquer dispositivo térmico capaz de gerar
trabalho. Carnot acertou quando supôs que a diferença de temperatura entre
as fontes quente Tq e fria Tf (Equação 3) era o fator determinante para obter a
eficiência do ciclo.
Tq - Tf Tq Tf Tf
η= = - =1- (3)
Tq Tq Tq Tq

Importante: as temperaturas Tq e Tf devem ser adotadas na escala Kelvin.


Exemplo 2: uma máquina a vapor funcionando a vapor d’água sob pressão
atmosférica de 100 kPa é resfriada com uma mistura de gelo e água. Admitindo
que as temperaturas das fontes quentes e frias sejam, respectivamente, 400 K
e 300 K, qual será a maior eficiência possível da máquina?
Resolução: segundo a Equação 3, temos:

Tq - Tf 300
η= =1- = 0,25
Tq 400

η = 25%

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Em comparação aos parâmetros de Kelvin-Planck e Carnot, podemos de-
finir se um sistema termodinâmico é considerado possível ou impossível se o
mesmo obedecer aos seguintes critérios:

ƞ Carnot>ƞ Kelvin-Planck (máquina possível)


ƞ Carnot<ƞ Kelvin-Planck (máquina impossível)

Importante: a eficiência máxima da maioria dos motores é muito menor do


que 100%. Uma usina de energia tem eficiência de cerca de 40%, enquanto a de
um motor de automóvel é de cerca de 20%.
Exemplo 3: um motor operando com rendimento de cerca de 25% recebe
calor de uma fonte quente Qq a 427 °C e rejeita calor a uma fonte fria Q f, produ-
zindo uma potência líquida de 1000 cv. Determine:
a) os fluxos de calor trocado com as fontes quentes e frias;
b) a temperatura da fonte fria.
a) segundo Kelvin-Planck, temos:

·
W 1000 ·
η= ... 0,25 = logo: Qq = 4000 [cv]
· ·
Qq Qq

· · · · ·
W = Qq - Qf ... 1000 = 4000 - Qf logo: Qf = 3000 [cv]

b) segundo Carnot, temos:

Tf Tf
η=1- ... 0,25 = 1 - logo: Tf = 525K
Tq 700

Introdução ao ciclo de potência


Segundo Potter e Kroos (2016), os dispositivos podem, combi-
nados em vários ciclos, produzir energia. Entre eles está o
ciclo básico de Rankine (Diagrama 2), que é usado em usi-
nas nucleares, de carvão ou de queima de lixo. Este ci-
clo é composto por quatro dispositivos ideais: caldeira,
turbina, condensador e bomba.

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DIAGRAMA 2. OPERAÇÃO DE UM CICLO DE VAPOR PARA GERAÇÃO DE TRABALHO

3
Turbina W

Q
4
Q

Condensador
2

Bomba
1

W
Fonte: KROOS; POTTER, 2016, p. 261. (Adaptado).

Considerando que nosso objetivo seja conhecer a potência de trabalho ge-


rada nos motores a vapor, iremos descrever a modelagem matemática para
geração de energia a fim de compreender como se procede a determinação da
potência gerada pelo fluxo de vapor através de uma turbina, passando por um
conjunto de pás rotativas. As turbinas operaram devido à energia fornecida por
uma caldeira em um ciclo de superaquecimento de vapor ou pelo fornecimento
de energia por um compressor (POTTER; KROOS, 2016).
As turbinas são consideradas sistemas adiabáticos (Q = 0), nas quais as tro-
cas de calor ocorrem exclusivamente para a geração de trabalho e, embora
haja uma pequena parcela de perda para o meio, seja pelo calor ou pela varia-
ção da energia cinética, ela é considerada desprezível se comparada à energia
fornecida para a geração de trabalho (POTTER; KROOS, 2016). Dessa forma, a
equação da energia (Equação 4) é definida pela relação:

-Ẇ = ṁ .Δh = ṁ .(hs - he ) (4)

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Para o qual Ẇ representa a potência extraída da turbina, ṁ o fluxo de massa
de vapor através da turbina e ∆h = ḣ s - he a variação de entalpia na entrada e
saída da turbina.

EXPLICANDO
As turbinas a vapor são dispositivos geradores de energia. Recebem o
vapor superaquecido do trocador de calor (caldeira) e descartam vapor
saturado para o condensador (mistura vapor e líquido). O título de vapor
é de x = 1, ou seja, 100% do fluido de serviço que passa pela turbina deve
ser vapor. Caso haja alguma concentração líquida de fluido, haverá redu-
ção da eficiência no ciclo.

Na turbina, a pressão de entrada Pe é maior do que a pres-


são de saída Ps devido a extração de energia, como podemos
observar no Diagrama 3.

DIAGRAMA 3. ESQUEMA DE UMA TURBINA OPERANDO


NUM CICLO DE POTÊNCIA A VAPOR

200 kPa
400°C
he = 3276,55 kJ/Kg

Entrada

.
TURBINA W (Potência)

Saída

50 kPa

150° C

hs = 2780,08 kJ/kg

Fonte: KROOS; POTTER, 2016, p. 128. (Adaptado).

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Tabela 1. Volume específico na entrada da turbina a 4 MPa de pressão e temperatura de 500 °C. Fonte: WYLEN;
SONNTAG; BORGNAKKE, 2013, p. 523. (Adaptado).

Um ponto importante a ser discutido sobre sistemas térmicos é em


relação às propriedades dos fluidos envolvidos no sistema. Como nossos
estudos se concentram na geração de trabalho pelo escoamento de va-
por, a água é o principal fluido de serviço, contudo, podemos admitir ou-
tros fluidos no escoamento tanto em sistemas de resfriamento quanto em
condicionamento de ar e arrefecimento. Variações de pressão e tempera-
tura podem alterar a densidade ou massa específica
ρ do fluido, o que altera os parâmetros de estudo
no sistema. Os sólidos e líquidos terão densidades
relativamente altas, enquanto os gases apresentam
densidades relativamente baixas. A densidade pode
variar com a temperatura de uma substância e,
principalmente para os gases, com a pressão
da substância. Portanto, na solução de pro-
blemas envolvendo líquidos ou sólidos, a
densidade é geralmente tratada como uma
constante (POTTER; KROOS, 2016).

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Tabela 2. Entalpia de entrada para pressão de 200 kPa e temperatura de 400 °C. Fonte: WYLEN; SONNTAG; BORGNAKKE,
2013, p. 521. (Adaptado).

Assim, o fluxo de massa pode ser obtido pelas equações da termodinâmica


para regime de escoamento, sendo que ρ é a massa específica do vapor d’água
nas condições de entrada, que pode ser obtida pela relação ρ = 1 , com v re-
v
presentando o volume específico do vapor d’água nas condições de entrada
(Equação 5). 1
ṁ = ρ · A · V = v · A · V (5)

Exemplo 4: vapor de água, a 200 m/s, entra na turbina a


4 MPa e 500 °C e sai na forma de vapor saturado a 80kPa.
Calcule a potência de saída, considerando que a seção de en-
trada tenha 5 cm de diâmetro.

DIAGRAMA 4. TURBINA

4 Mpa
500O C
he = 3445 (kJ/kg)

ENTRADA
Vapor superaquecido

D = 5cm Turbina W

Vapor saturado 80 kPa


x=1
SAÍDA
hs = 2666 (kJ/kg)
Fonte: KROOS; POTTER, 2016, p. 156. (Adaptado).

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[s ]
· 1 ·A·V= 1 kg
m=ρ·A·V= · (π · 0,025 2) · 200 = 4,544
v 0,08643

· · ·
- W = m · Δh = m· (hs - he) = -4,544 [ kgs ] · (2666 - 3445) [ kJs ] = 3540 [kW]

Tabela 3. Volume específico na entrada da turbina a 4 MPa de pressão e temperatura de 500 °C. Fonte: WYLEN; SONNTAG;
BORGNAKKE, 2013, p. 523. (Adaptado).

Ciclo de Rankine
O ciclo Rankine é o ciclo ideal para produzir energia utilizado nas centrais
termelétricas e é composto basicamente por quatro componentes que operam
em um ciclo fechado: caldeira ou gerador de vapor, turbina a vapor, condensa-
dor e bomba hidráulica.
O esquema apresenta os seguintes dispositivos para o ciclo Rankine:
• Bomba: comprime a água líquida saturada à alta pressão (p1<p2) saída do
condensador e a devolve para caldeira;
• Caldeira: adiciona calor, resultado da queima de combustível, à água de
alta pressão para criar vapor superaquecido (p2 = p3);
• Turbina: o vapor de alta pressão e alta temperatura escoa
através da turbina para produzir energia (p3>p 4);
• Condensador: o vapor que sai da turbina é condensado
no condensador (trocador de calor) para tornar água líquida
saturada, que novamente entra na bomba (p 4 = p1).

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EXPLICANDO
O ciclo Rankine é considerado o ciclo ideal de obtenção de energia nas
usinas termelétricas. A máxima eficiência de um ciclo Rankine, operando
no Brasil, pode chegar a cerca de 28%.

Efeitos da variação de pressão e temperatura


Uma vez que o ciclo Rankine é usado para gerar energia, como qualquer
máquina térmica, apresenta eficiência que pode ser obtida segundo a relação
(Equação 6):
. .
potêncialíquida WT -WB
η= = . (6)
potênciaentrada QB

A eficiência do ciclo Rankine é de aproximadamente 30%; isto é, cerca de


30% da energia necessária para aquecer a água na caldeira é de fato convertida
para a energia útil da turbina. Os outros 70% são descartados pelo conden-
sador. Dessa forma, considerando o ciclo como um sistema, a primeira lei da
termodinâmica exige a seguinte relação (Equação 7):
. . .
Q B = Wt + Q C (7)

Sendo que Q̇ c representa a quantidade de calor descartada pelo conden-


sador, Ẇ é o trabalho realizado pela turbina, e Q̇ o calor recebido pela caldei-
T B

ra. Cada uma destas parcelas deve ser calculada obedecendo às condições de
entalpia em cada etapa do ciclo. Segundo Potter e Kroos (2016), o fluido de
serviço não se encontra a todo o momento em estado de vapor; ele passa por
mudanças de fase e variações de pressão e temperatura na medida em que
circula por cada um dos dispositivos do ciclo, devido à transferência de energia
no sistema. Nesse caso, considerando que para líquidos incompressíveis, como
a água que escoa por uma bomba, e desprezando a transferência e perdas de
calor, a potência exigida por ela é obtida pela relação (Equação 8):
. .
WB = - W

( )
. . PS - Pe
(8)
WB = m
ρ

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 26

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O mesmo ocorre em uma turbina hidráulica (Equação 9) com as mesmas
hipóteses; a energia produzida é:

. .
WT = W

( )
. . PS - Pe
(9)
WT = m
ρ

Exemplo 5: num ciclo Rankine ideal (Diagrama 5), uma bomba eleva a pres-
são de 8 kg/s de água de 20 kPa para cerca de 5 MPa. A caldeira aumenta a tem-
peratura para cerca de 500 °C e o vapor sai da turbina como vapor saturado.

DIAGRAMA 5. CICLO RANKINE IDEAL SIMPLES DE POTÊNCIA A VAPOR

Q ent
5 MPa

5 MPa 500° C
Caldeira

3
2

Turbina W sai

W ent Bomba 20 kPa 4


x=1 Q sai

1 Condensador

x=0

Fonte: KROOS; POTTER, 2016, p. 146. (Adaptado).

Determine:
a) A energia requerida pela bomba;
b) A energia de entrada na turbina;
c) A energia que é produzida pela turbina;
d) A eficiência gerada no ciclo Rankine.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 27

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Resolução:

[ s ] · (5000 - 20) [ m ]
a) kg kN

( ) = 1000 kg
. . P2 - P1 8 2

WB = m = 40 [kW]
ρ
[m ] 3

b) para analisar a caldeira, torna-se necessário encontrar a entalpia reque-


rida pela caldeira. Nesse caso, a entalpia de entrada na caldeira será igual à
entalpia de saída da bomba:
. .
WB = m (h2 - h1)

40 = 8 (h2 - 251,4) logo: h2 = 256,4 [ kJs ]


Agora, pela equação da energia expressa para a caldeira, um trocador de
calor será:
. .
QB = m (h3 - h2) = 8 (3434 - 256,4) = 25421 [kW]

c) para a potência produzida na turbina, temos:


. .
W T = -m (h4 - h3) = -8 (2538 - 3434) = 7168 [kW]

d) para a eficiência do ciclo, temos:


. .
W T - WB 7168 - 40
η= . = = 0,280 logo: η = 28%
QB 25421

Comentário: em razão dos valores encontrados, podemos notar que a taxa


de energia da bomba é muito pequena em comparação aos demais dispositivos
do ciclo Rankine. Caso se despreze a energia da bomba, devemos considerar
que a entalpia de entrada na caldeira seja aproximadamente igual à entalpia de
saída do condensador: h2≈251,4(KJ/kg) – entalpia obtida por meio da tabela de
propriedades termodinâmicas. Dessa forma, teríamos:

. .
QB = m (h3 - h2 ) = 8 (3434 - 251,4) = 25460 [kW]

.
WT 7168
η= . = = 0,282 logo: η = 28,2%
QB 25460

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O calor rejeitado pelas centrais termelétricas pode ser reaproveitado para
o aquecimento de residências e edifícios, aumentando substancialmente a efi-
ciência da usina para, possivelmente, cerca de 60%.
Há três maneiras de se aumentar a eficiência do ciclo de Rankine:
• Elevando a temperatura do vapor que sai da caldeira: aumentando,
assim, a saída de potência na turbina. O uso de vapor superaquecido à alta
temperatura aumentará a eficiência, mas é limitado pelas propriedades de me-
tais utilizados para construir as pás da turbina. A máxima temperatura que os
metais de hoje podem suportar é de cerca de 620º C, contudo, pás de cerâmica
e com resfriamento podem ser uma opção;
• Reduzindo a pressão na qual o condensador opera: quanto menor a
pressão do condensador, menor a entalpia na turbina, o que eleva a eficiência
na saída de trabalho. A pressão de saída na turbina poderá
ficar abaixo da pressão atmosférica. Isso é uma prática co-
mum em projetos de usinas;
• Aumentando a pressão na bomba: o que aumenta
a pressão na caldeira e, consequentemente, aumenta a en-
talpia de entrada na turbina.

Ciclo de Rankine com reaquecimento


Um ciclo de reaquecimento (Dia-
grama 6) se refere a uma modificação
do ciclo ideal básico de Rankine. Note
que há neste ciclo seis estados, e que
o vapor superaquecido que flui pela
região de alta pressão da turbina re-
torna à caldeira e é novamente adicio-
nado ao vapor da seção de baixa pres-
são da turbina antes de seguir para o
condensador. Dessa forma, a turbina
produz mais potência, aumentando significativamente a eficiência do ciclo e,
consequentemente, a quantidade de energia produzida, recuperando os cus-
tos adicionais em razão da modificação do sistema.

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DIAGRAMA 6. CICLO RANKINE IDEAL COM REAQUECIMENTO

Caldeira Turbina Turbina


alta baixa
4

REAQUECEDOR

P4 = P 5 6

Condensador
2

Bomba
1

Região de pressão
T Reaquecimento
de turbina alta
Região de pressão
de turbina baixa
3 5

1 6

S
Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 269. (Adaptado).

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Exemplo 6: o vapor na turbina de alta pressão retorna à caldeira no ciclo
de potência Rankine ideal quando alcança uma pressão de 1 MPa. Logo após, é
devolvido à turbina de baixa pressão a 600 °C (Diagrama 7).

DIAGRAMA 7. CICLO RANKINE COM REAQUECIMENTO

T Reaquecimento a 1 MPa

600º C
3 5

6 MPa

20 kPa

1 6

S
Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 270. (Adaptado).

Determine:
a) A transferência de calor necessária pelo gerador de vapor;
b) A quantidade de transferência de calor do condensador;
c) A taxa de fluxo de massa do vapor para produzir 12 MW de potência pela
turbina;
d) A eficiência do ciclo.

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Resolução: como a o fluxo de massa de vapor não foi dado no problema,
iniciaremos pela determinação das entalpias nos estados considerados, uti-
lizando as tabelas das propriedades termodinâmicas disponíveis na obra de
Gordon Van Wylen, Richard E. Sonntag e Claus Borgnakke, Fundamentos da ter-
modinâmica clássica (2013), p.521-523.
Pela potência fornecida de 12 MW pela turbina, podemos obter o fluxo de
massa pela Equação 10:

ẆT = ṁ · wT (10)

O trabalho fornecido pela turbina é a soma das seções de pressão alta e


baixa, logo:

ẆT = (h3 - h4) + (h5 - h6)

Estado 3: P3 = 6 MPa, T 3 = 600°C, logo: h3 = 3658,40(kJ/kg)


Estado 4: P4 = 1 MPa, logo: h4 = 3080(kJ/kg)
Estado 5: P3 = 1 MPa, T 3 = 600°C, logo: h5 = 3696,32(kJ/kg)
Estado 6: P6 = 20 kPa, logo: h6 = 2609,70(kJ/kg)

WT = (3658,40 - 3080) + ( 3696,32 - 2609,70 = 1665,02 [kgkJ ] )


logo: m = 7,21[ ]
kg
12000 = m · 1665,02
s

a) a energia necessária pela caldeira é a soma da seção de alta pressão e a


seção de reaquecimento.

qB = (h3 - h2) + (h5 - h4)


QB = ṁ[(h3 - h2) + (h5 - h4)]
̇

Estado 2: P2 = 6 MPa, logo: h2≈251,4(kJ/kg)

Q̇B = 7,21[(3658,40 - 251,4) + (3696,32 - 3080)] = 29[kW]

b) o calor perdido no condensador.

qc = (h6 - h1)
Q̇ = ṁ(h - h )
C 6 1

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Estado 1: P1 = 20 MPa e x = 0, logo: h1≈251,4(kJ/kg)

Q̇C = 7,21(2609,70 - 251,4) = 17[kW]

c) a taxa do fluxo de massa: m = 7,21 [ kgs ]


d) a eficiência do ciclo.

WT
η= = 12 = 0,41 logo: η = 41%
QB 29

Importante: o trabalho da bomba é ignorado pelo cálculo de eficiência des-


de que seja pequeno ao ser comparado ao trabalho da turbina.

Ciclo de Rankine regenerativo


Um processo de regeneração pode ser empregado para adicionar calor
à água que sai da bomba antes que ela entre na caldeira. O próprio calor
que é eliminado pela turbina pode ser utilizado para preaquecer a água
de alimentação em um aquecedor de alimentação aberto no qual o vapor
superaquecido da turbina e a água líquida que sai do condensador são mis-
turados (POTTER; KROOS, 2016).
Já que a pressão do condensador e o vapor extraído devem apresentar a
mesma pressão, é necessária uma bomba para aumentar a pressão do con-
densado à pressão do vapor extraído. Isso representa um ciclo Rankine rege-
nerativo ideal. Dessa forma, o calor economizado na caldeira é de algum modo
deslocado pelo fato de menos vapor seguir pela turbina.
No aquecedor de água de alimentação aberto, o vapor da turbina é dire-
tamente misturado com o condensado do condensador. A água de
alimentação preaquecida entra na bomba de água de alimentação
(3). Um aquecedor de água de alimentação aberto está na câma-
ra de mistura. Massa e energia em equilíbrio, consi-
derando um aquecedor isolado e as variações de
energia cinética e potencial desprezadas, são
escritas como (utilizando a mesma quantidade
de estado como no Diagrama 8) fornecendo o
fluxo de massa que deve ser extraído da turbina.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 33

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DIAGRAMA 8. CICLO IDEAL RANKINE E CICLO REGENERATIVO COM ÁGUA
DE ALIMENTAÇÃO ABERTA

5
Caldeira

4 Turbina
Aquecedor de água de
alimentação aberto
6
3

Bomba alimentada 2 7
de água 1
Condesador
Bomba de
condesado
T 5

Caldeira
4 6
Aquecedor
2 3
Condesador
1 7

S
Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 272. (Adaptado).

Conhecendo as propriedades do vapor extraído, pode-se determinar o flu-


xo de massa extraído ṁ 6 (Equação 13).


m2 + m6 = m3 (massa) (11)

m2 · h2 + m6 · h6 = m3 · h3 (energia)
(12)
h3 - h2
m6 = m3 ·
h6 - h2 (13)

No aquecedor de água de alimentação fechado (Diagrama 9), dois fluidos são


mantidos separados e sem mistura, como considerado no trocador de calor.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 34

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DIAGRAMA 9. AQUECEDOR DE ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO FECHADO

Vapor
.
m6

Água de alimentação

.
m3
.
m2
Condensado
Bomba de condensado

Válvula Volta a
Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 272. (Adaptado). condensador

Exemplo 7: o ciclo Rankine ideal (Diagrama 10) é modificado, permitindo que


o aquecedor de água de alimentação aberto retire o vapor a uma pressão de
cerca de 800 kPa, conforme ilustra o diagrama T-s (Diagrama 11).

DIAGRAMA 10. CICLO IDEAL RANKINE COM UM AQUECEDOR COM


ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO ABERTO

6 MPa
600°C 3
T
Caldeira
6 MPa
8 MPa Turbina 600°C
3
20 kPa qen 6 MPa Wturb, sal
2
4
2
Condensador 20 kPa
1 1 qsal 4
Wbomba, en
Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 272. (Adaptado).
S

Considerando que não haja perdas, calcule a eficiência do ciclo da Diagrama


11 mantendo todas as propriedades do ciclo representado na Diagrama 10.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 35

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DIAGRAMA 11. CICLO IDEAL RANKINE REGENERATIVO

5 6 MPa
T 5 600°C
Caldeira
Turbina
Turbina
4 Aquecedor de água 6 MPa
de alimentação aberto 6 800 kPa
6 4 Aquecedor
3 2
3
20 kPa
1 7
2 7
1
S
Condensador

Fonte: POTTER; KROOS, 2016, p. 262. (Adaptado).

Resolução: primeiramente, iremos determinar as entalpias dos estados con-


siderados no processo utilizando as tabelas de propriedades termodinâmicas.
Tabela água saturada
Estado 1: P1 = 20 kPa, x1 = 0, logo: h1 = 251,4 (kJ/kg)
Estado 2: desprezando o trabalho da bomba, logo: h2 = h1 = 251,4 (kJ/kg)
Estado 3: P3 = 800 kPa, x3 = 0, logo: h3 = 721,10 (kJ/kg)
Estado 4: desprezando o trabalho da bomba, logo: h4 = h3 = 721,10 (kJ/kg)
Tabela vapor superaquecido
Estado 5: P5 = 6 MPa, T5 = 600 °C, logo: h5 = 3658,40 (kJ/kg)
Estado 6: P6 = 800 kPa, logo: h6 = 2048,04 (kJ/kg)
Estado 7: P7 = 20 kPa, logo: h7 = 2358,33 (kJ/kg)
Não se fornece a vazão mássica de vapor em retirada no estado 6, que deve
ser calculada. Considerando ṁ 3 = 1( kg ), já que o interesse é apenas determinar
s kg
a eficiência, então consideramos ṁ 5 = 1( ), logo as Equações 11 e 12 fornece-
s
rão os valores para ṁ 2 e ṁ 6 .

m2 + m6 = 1

m2 · 251,4 + m6 · 3020 = 721,10

m2 = 0,8303 [ kgs ] m = 1,1697 [ kgs ]


6

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Considerando ṁ 3 = ṁ 4 = ṁ 5 , temos:

Q̇B = ṁ5(h5 - h4) = 1.(3658,40 - 721,10) = 2937,3[kW]

Na saída da turbina temos:

ẆT = ṁ5(h5 - h6) + (ṁ5 - ṁ6)(h6 - h7)


ẆT = 1(3658,40 - 2048,04) + (1 - 0,1697)(2048,04 - 2358,33) = 1353[kW]

Assim, para a eficiência do ciclo, temos:


·
WT
η= = 1353 = 0,46 logo: η = 46%
· 2937,3
QB

Ciclo de Rankine combinado: regeneração e reaquecimento


Atualmente, são utilizados nas
usinas tanto os reaquecedores
quanto os aquecedores de água de
alimentação, ou seja, ciclos combi-
nados operando com regeneração e
reaquecimento.
Segundo Potter e Kroos (2016),
os reaquecedores garantem que o
vapor que sai da turbina estará na
região superaquecida e os aquece-
dores de água de alimentação man-
terão a quantidade de combustível
queimado em quantidade mínima,
chegando a resultados de efi ciência
superior a 50%.

Afastamento dos ciclos reais em relação aos ideais


O ciclo real de potência deriva do ciclo Rankine em razão das perdas ao
longo de seus componentes.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 37

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Tabela 4. Temperatura a pressão 20 kPa no estado de água saturada na saída da turbina. Fonte: WYLEN; SONNTAG;
BORGNAKKE, 2013, p. 519. (Adaptado).

Tf
η=1- = 1 - 333,06 = 0,56 logo: η = 56%
Tq 773
Podemos notar que a eficiência obtida no ciclo Rankine é menor do que a
obtida por Carnot. Isso se deve em razão da transferência irreversível de calor
em uma grande diferença de temperatura na caldeira.
Os gases quentes resultantes da queima do combustível estão em tempe-
ratura muito mais alta do que o vapor nos tubos da caldeira, logo, o processo
de transferência de calor é extremamente irreversível, mesmo que seja trans-
ferido como sendo “ideal”.
O ciclo Carnot permite o processo de transferência de calor reversível so-
mente em uma diferença de temperatura infinitesimal, processo que não pode
ser feito em uma usina ou qualquer outra situação real. Dessa forma, a eficiên-
cia obtida por Carnot é maior do que o ciclo Rankine.
A única perda que torna a eficiência do ciclo real do vapor significativa-
mente menor do que a eficiência do ciclo Rankine ideal é a perda na turbina,
que pode ocorrer em razão do fluxo de vapor ao redor das pás da turbina.
Atualmente, por meio de técnicas e estudos dinâmicos para escoamento de
fluidos, são desenvolvidas pás longas que chegam a aprimorar a eficiência

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 38

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das turbinas em até 90%. As perdas adicionais em cada ciclo de potência a
vapor real ocorrem nos tubos que conectam todos os componentes. Essas
perdas se referem a quedas de pressão entre os componentes e os sistemas
de escoamento de fluidos.
Para compensar as perdas com a queda de pressão, aumenta-se a pressão
de saída das bombas, o que exigirá energia adicional para operar cada bomba
do sistema, porém, uma vez que a potência pode ser ignorada nos cálculos de
eficiência, a que é adicionada não é significativa no cálculo do ciclo.
Algo bastante significativo é o fato de que os equipamentos auxiliares ne-
cessitam utilizar a parte da energia produzida, o que reduz parte da energia
útil. Atualmente, cerca de 6% da saída da energia da usina é necessária para
operar equipamentos auxiliares (POTTER; KROOS, 2016).
Para uma eficiência do ciclo de vapor real de cerca de 50%,
as perdas adicionais e as necessidades dos equipamentos
da usina envolvidos no ciclo chegam a reduzir a 39% o
rendimento. Somente pouco mais de 1/3 da energia con-
tida no combustível chega a ser convertida em energia.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 39

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Sintetizando
Nessa unidade, estudamos os ciclos motores a vapor e a definição de
seus conceitos baseados no princípio dos motores térmicos quanto à pro-
dução de trabalho e geração de energia, por meio de uma fonte de calor.
As definições apresentadas e propostas por Kelvin-Planck e Sadi Carnot
modelaram o princípio da Segunda Lei da Termodinâmica (SLT), definindo,
assim, os parâmetros para a obtenção da energia, trabalho e eficiência do
ciclo, segundo os gradientes de calor e temperatura. Vimos também que,
segundo Carnot, o rendimento de um sistema deve ser menor que o deter-
minado pela relação dos gradientes de temperatura por ele proposto para
que este seja possível, ou seja, o rendimento de Carnot deve ser maior
que a relação estabelecida por Kelvin-Plank, caso contrário, o sistema é
considerado impossível.
Vimos que uma máquina térmica pode ser entendida como qualquer dis-
positivo que retira energia de uma fonte de calor para produzir trabalho e,
baseando-se neste conceito, estudamos o ciclo motor Rankine ou ciclo de po-
tência a vapor Rankine, que representa o modelo ideal de extração de energia
calorífica para geração de trabalho por apresentar o melhor rendimento em
operação, sendo, inclusive, empregado na arquitetura das grandes centrais
termelétricas, assegurando eficiência de cerca de 30% em serviço.
Outro ponto discutido e bastante explorado foi a análise das proprie-
dades termodinâmicas, pressão e temperatura do fluido de trabalho – no
caso, a água –, para determinarmos a energia interna liberada pelos dis-
positivos envolvidos no ciclo (bomba, caldeira, turbina e condensador), e
a modelagem matemática das equações referentes à obtenção da energia,
calor, trabalho e potência. Isso demonstrou o balanço da entalpia ao longo
do escoamento do fluido pelo ciclo e, embora apresentasse características
específicas, sua configuração nos assegurou a distribuição da energia de
forma a garantir um sistema confiável, com a menor perda de calor possível.
Apesar da perda de calor ainda ser grande, ela é atenuada por modificações
dinâmicas, como visto nos modelos de reaquecimento, regeneração e ciclo
combinado, que se mostraram eficientes quanto ao aumento do desempe-
nho de extração de calor e menores perdas.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 40

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Os exemplos citados ao longo da unidade e as atividades foram modelados,
segundo situações reais baseadas em hipóteses, seguindo os princípios das má-
quinas térmicas e obedecendo às leis da termodinâmica. Eles têm como intenção
tornar as aplicações dos conceitos discutidos ao longo da unidade claras, porém,
estudos mais aprofundados em relação ao assunto poderão exigir uma consulta
mais ampla às referências bibliográficas, a fim de assegurar uma melhor com-
preensão de processos ainda mais significativos em projetos de engenharia.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 41

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Referências bibliográficas
BRAGA FILHO, W. Fenômeno de transporte para engenharia. Rio de Janeiro:
LTC, 2006.
BRUNETTI, F. Motores de combustão interna. v. 1. São Paulo: Blucher, 2012.
KROOS, K. A.; POTTER, M. C. Termodinâmica para engenheiros. São Paulo:
Trilha, 2016.
MÁQUINAS TÉRMICAS e o Ciclo de Carnot - Brasil Escola. Postado por Brasil
Escola. (16 min. 45 s.), son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=fLfd0P4EXHY>. Acesso em: 24 jan. 2020.
SOUZA, Z. Elementos de máquinas térmicas. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
SOUZA, Z. Projetos de máquinas e de fluxo. Tomo 1. Base teórica e experi-
mental. Rio de Janeiro: Interciência; Minas Gerais: Acta, 2011.
WYLEN, G. V.; SONNTAG, R.; BORGNAKKE, C. Fundamentos da termodinâmi-
ca clássica. 8. ed. São Paulo: Blucher, 2013.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 42

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UNIDADE

2 FUNCIONAMENTO
DOS CICLOS DE
REFRIGERAÇÃO

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Objetivos da unidade
Compreender o funcionamento dos ciclos de refrigeração, em especial,
distinguindo ciclos reais de ciclos ideais;
Utilizar os ciclos ideais para a compreensão, análise e projeto de ciclos reais;
Diferenciar os ciclos de motores a vapor dos ciclos de refrigeração, em especial, do
ciclo de refrigeração por compressão de vapor;
Relacionar o ciclo motor de vapor ao ciclo de Carnot, compreendendo suas
limitações técnicas;
Compreender e utilizar as tabelas termodinâmicas para análise e projeto de ciclos
de refrigeração;
Interpretar o ciclo de Mollier, analisando e relacionando as grandezas e
propriedades termodinâmicas dos principais fluidos refrigerantes;
Utilizar a ferramenta de interpolação matemática em tabelas termodinâmicas;
Identificar os tipos de fluidos de trabalho de acordo com suas propriedades e
especificações do projeto a ser desenvolvido;
Identificar os deslocamentos das curvas dos ciclos frigoríficos relacionando às
condições reais dos componentes do sistema;
Reconhecer o afastamento dos ciclos reais dos ciclos ideais, utilizando destes para
medir a eficácia dos sistemas;
Utilizar os conceitos teóricos apresentados na unidade para a resolução de
problemas práticos no cotidiano do projeto de sistemas de refrigeração.

Tópicos de estudo
Ciclos de refrigeração Ciclo de refrigeração por
Introdução aos ciclos frigoríficos compressão de vapor
Diagrama de Mollier e tabelas
Fluidos de trabalho
termodinâmicas
Balanço energético Afastamento dos ciclos reais
Ciclo de Carnot em relação aos ciclos ideais

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Ciclos de refrigeração
Antes de qualquer coisa, cabe explicar o que é um ciclo de refrigeração. Dá-se
o nome de ciclo de refrigeração à transferência de calor de compartimentos em
temperatura inferior (região de baixo potencial energético) para outro compar-
timento ou ambiente com temperatura mais elevada (região de alto potencial
energético). Os equipamentos que produzem refrigeração são chamados de re-
frigeradores ou equipamentos frigoríficos e operam segundo ciclos de refri-
geração. Para que estes aparelhos funcionem, faz-se necessária a presença de
fluidos de trabalho; estes, por sua vez, são chamados de fluidos refrigerantes.
Ciclos de refrigeração nada mais são que ciclos termodinâmicos dos fluidos
refrigerantes. Os equipamentos frigoríficos são utilizados em diversas aplica-
ções, tais como: conforto de ambientes, conservação de alimentos, manutenção
de ambientes industriais, dentre outros. O conhecimento adequado dos ciclos
de refrigeração tem sido bastante utilizado para se promover melhorias e con-
sequente otimização do processo de refrigeração, aumentando, por sua vez, a
eficiência do sistema e consequente redução do gasto energético.
Uma vez que o resultado da variação da energia é positivo, isto significa di-
zer que a energia adentra no sistema, sendo necessária, obrigatoriamente, uma
fonte de energia externa. Nenhum fluido refrigerante possui qualidades e carac-
terísticas ideais, logo, em cada processo controlado, poderá ser escolhido um
fluido diferente que melhor se adeque à situação.
São exemplos de fluidos refrigerantes:
• CFC: clorofluorcarbonos, R11 e R12 (diclorodifluormetano CCl2F2);
• HCFC: hidroclorofluorcarbonos, R22;
• HFC: hidrofluorcarbonos (efeito estufa), R134a;
• Blends de HCFCs e HFCs: R401a;
• Alguns fluidos: R410A, R290 (propano), R610a (isobutano);
• R744 (CO2), R117 (amônia) e R729 (ar).
Todavia, alguns destes fluidos provocam empobrecimento da camada de
ozônio. Estes foram substituídos por meio do Protocolo de Montreal. Este Pro-
tocolo trata de substâncias com potencial destrutivo à Camada de Ozônio, onde
150 países comprometeram-se à substituir fluidos refrigerantes com estas ca-
racterísticas por aqueles com menor poder destrutivo à camada.

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Introdução aos ciclos frigoríficos
Para a obtenção de refrigeração de forma contínua, é essencial a compreen-
são dos ciclos de refrigeração. Estes promovem uma série de processos com o
fluido refrigerante, retornando, sempre, à condição inicial, reiniciando este ci-
clo imediatamente. É necessário mencionar que um dos processos é a remoção
de calor de um ambiente de baixa temperatura, enviando-o para um ambiente
de alta temperatura, uma geladeira, por exemplo.
É inevitável mencionar que existem processos que ocorrem espontanea-
mente, tal como um fluido mantido em um ambiente com alta pressão sair em
direção a um ambiente de pressão inferior se a válvula de interconexão estiver
aberta. Este processo é espontâneo, ocorre sem a necessidade de produzir tra-
balho. No entanto, o processo reverso não seria espontâneo e seria necessária
a realização de trabalho, normalmente de um compressor, a fim de que o fluido
retorne ao ambiente inicial de maior pressão.

EXPLICANDO
A convenção de sinais é essencialmente importante para o estudo da
termodinâmica. Usualmente, utiliza-se a letra Q para representar a quanti-
dade de energia transferida por um sistema. Convenciona-se:
Q > 0: transferência de calor para o sistema.
Q < 0: transferência de calor para o sistema.

Diagrama de Mollier e tabelas termodinâmicas


Ponto importantíssimo para a análise e projeto de sistemas de refrigera-
ção é o conhecimento e a interpretação dos diagramas de pressão-entalpia
juntamente com a utilização das tabelas de propriedades termodinâmicas
dos fluidos refrigerantes. Estes diagramas e tabelas são aliados poderosos no
projeto e análise de sistemas.
Começando pelos diagramas de pressão-entalpia, este é utilizado na cor-
relação das propriedades termodinâmicas dos refrigerantes, sendo incluídas
linhas isotérmicas, linhas isentrópicas e isocóricas, respectivamente sen-
do temperatura constante, entropia constante e volume constante. O Gráfi-
co 1 apresenta a relação entre pressão e entalpia, também conhecido como

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Diagrama de Mollier. É possível observar distintas fases do fluido refrigeran-
te separadas pelas linhas de saturação. Define-se a temperatura de saturação
como aquela na qual ocorre a vaporização em uma determinada pressão, de-
nominada de pressão de saturação ou de vapor.

GRÁFICO 1. PRESSÃO-ENTALPIA

Estado crítico

Líquido
sub-resfriado
Pressão [kPa]

Vapor saturado

superaquecido
Vapor

Líquido saturado

Entalpia [kJ/kg]
Fonte: JABARDO; STOECKER, 2002, p. 13. (Adaptado).

EXPLICANDO
É comum observar o termo estado saturado. O que ele significa? O estado
no qual uma mudança de fase começa ou termina é denominado estado
de saturação. Logo, o estado saturado é o ponto em que existe o fluido em
fase líquida e em vapor.

Quanto às tabelas termodinâmicas, estas apresentam as propriedades de


determinadas substâncias, em especial, os fluidos refrigerantes. A Tabela 1 apre-
senta parte da tabela de propriedades termodinâmicas da amônia saturada.

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TABELA 1. TABELA DE PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DA AMÔNIA SATURADA

Volume específico Energia interna Entalpia Entropia


(m3/kg) (kJ/kg) (kJ/kg) (kJ/(kg K))

Temp. Pressão Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor
Evap. Evap. Evap.
ºC kPa sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat.

T p vl vv ul ulv uv hl hlv hv sl slv sv

-50,00 40,84 0,00142433 2,62775 118,369 1308,66 1427,03 118,427 1415,91 1534,34 0,56609 6,34512 6,91121

-46,52 50,00 0,00143272 2,17495 133,582 1297,89 1431,47 133,654 1406,57 1540,22 0,63373 6,20637 6,84011

-45,00 54,49 0,00143644 2,00708 140,229 1293,15 1433,38 140,307 1402,44 1542,75 0,66297 6,14701 6,80998

-40,00 71,69 0,00144896 1,55328 162,221 1277,34 1439,56 162,325 1388,59 1550,92 0,75832 5,95579 6,71411

-35,00 93,10 0,00146191 1,21678 184,340 1261,21 1445,55 184,476 1374,35 1558,83 0,85219 5,77096 6,62315

-33,59 100,00 0,00146564 1,13809 190,607 1256,60 1447,21 190,753 1370,26 1561,01 0,87843 5,71987 6,59830

-33,33 101,33 0,00146634 1,12417 191,771 1255,74 1447,51 191,919 1369,50 1561,42 0,88329 5,71044 6,59373

-30,00 119,43 0,00147529 0,96396 206,581 1244,76 1451,34 206,757 1359,71 1566,47 0,94462 5,59206 6,53668

-25,00 151,47 0,00148914 0,77167 228,942 1227,98 1456,92 229,168 1344,64 1573,81 1,03566 5,41865 6,45431

-20,00 190,08 0,00150345 0,62373 251,419 1210,85 1462,27 251,705 1329,13 1580,83 1,12535 5,25035 6,37570

-18,85 200,00 0,00150682 0,59465 256,615 1206,86 1463,47 256,916 1325,49 1582,40 1,14583 5,21226 6,35808

-15,00 236,17 0,00151827 0,50868 274,012 1193,38 1467,39 274,370 1313,15 1587,52 1,21373 5,08678 6,30051

-10,00 290,71 0,00153361 0,41830 296,719 1175,53 1472,25 297,164 1296,69 1593,86 1,30087 4,92759 6,22846

-9,22 300,00 0,00153604 0,40608 300,252 1172,73 1472,98 300,713 1294,10 1594,81 1,31428 4,90326 6,21754

-5,00 354,76 0,00154950 0,34664 319,541 1157,31 1476,85 320,091 1279,73 1599,82 1,38680 4,77245 6,15925

-1,88 400,00 0,00155972 0,30941 333,839 1145,74 1479,58 334,463 1268,88 1603,34 1,43983 4,67757 6,11740

0,00 429,38 0,00156599 0,28930 342,482 1138,69 1481,17 343,155 1262,24 1605,39 1,47159 4,62104 6,09263

4,14 500,00 0,00158012 0,25032 361,568 1122,96 1484,53 362,358 1247,33 1609,69 1,54096 4,49831 6,03927

5,00 515,75 0,00158312 0,24304 365,545 1119,66 1485,20 366,362 1244,19 1610,55 1,55529 4,47308 6,02836

9,28 600,00 0,00159833 0,21035 385,410 1103,00 1488,41 386,369 1228,25 1614,62 1,62619 4,34880 5,97499

10,00 615,05 0,00160092 0,20543 388,736 1100,19 1488,92 389,721 1225,55 1615,27 1,63796 4,32826 5,96622

13,80 700,00 0,00161496 0,18145 406,465 1085,07 1491,54 407,596 1210,96 1618,55 1,70019 4,22006 5,92024

15,00 728,52 0,00161947 0,17461 412,062 1080,26 1492,32 413,242 1206,29 1619,53 1,71966 4,18632 5,90599

17,85 800,00 0,00163038 0,15955 425,413 1068,69 1494,11 426,717 1195,03 1621,75 1,76580 4,10665 5,87245

20,00 857,48 0,00163881 0,14920 435,532 1059,85 1495,38 436,937 1186,37 1623,31 1,80047 4,04699 5,84745

21,52 900,00 0,00164487 0,14236 442,706 1053,53 1496,24 444,186 1180,18 1624,36 1,82489 4,00506 5,82995

24,90 1000,00 0,00165859 0,12850 458,660 1039,37 1498,03 460,318 1166,20 1626,52 1,87877 3,91284 5,79161

25,00 1003,24 0,00165903 0,12809 459,157 1038,92 1498,08 460,821 1165,76 1626,59 1,88044 3,90999 5,79043

28,02 1100,00 0,00167169 0,11707 473,506 1026,02 1499,53 475,345 1152,96 1628,31 1,92837 3,82827 5,75664

30,00 1167,20 0,00168020 0,11046 482,950 1017,45 1500,40 484,911 1144,41 1629,32 1,95966 3,77507 5,73472

30,94 1200,00 0,00168427 0,10749 487,421 1013,37 1500,79 489,442 1140,33 1629,77 1,97440 3,75004 5,72443

Fonte: BELL, et al., 2014.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 48

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A Tabela 2 apresenta as propriedades termodinâmicas do fluido refrigerante
R-134a.

TABELA 2. TABELA DE PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DO R134a SATURADO

Volume específico Energia interna Entalpia Entropia


(m3/kg) (kJ/kg) (kJ/kg) (kJ/(kg K))

Temp. Pressão Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor
Evap. Evap. Evap.
ºC kPa sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat.

T p vl vv ul ulv uv hl hlv hv sl slv sv

-70,00 7,98 0,000666 2,058959 111,19 227,39 338,59 111,20 243,82 355,02 0,6262 1,2002 1,8264

-66,86 10,00 0,000670 1,666663 115,00 225,32 340,32 115,01 241,98 356,99 0,6448 1,1730 1,8178

-65,00 11,38 0,000672 1,476493 117,26 224,10 341,35 117, 26 240,89 358,16 0,6557 1,1573 1,8130

-60,00 15,91 0,000678 1,079033 123,35 220,79 344,15 123,36 237,95 361,31 0,6846 1,1163 1,8010

-56,41 20,00 0,000683 0,870813 127,75 218,41 346,17 127,77 235,82 363,58 0,7051 1,0880 1,7931

-55,00 21,83 0,000685 0,802362 129,48 217,48 346,96 129,50 234,98 364,48 0,7131 1,0771 1,7902

-50,00 29,45 0,000691 0,606198 135,65 214,15 349,80 135,67 231,98 367,65 0,7410 1,0396 1,7806

-49,68 30,00 0,000692 0,595798 136,05 213,93 349,98 136,07 231,79 367,85 0,7428 1,0372 1,7800

-45,00 39,12 0,000698 0,464726 141,86 210,79 352,65 141,89 228,94 370,83 0,7685 1,0035 1,7720

-44,60 40,00 0,000699 0,455113 142,36 210,52 352,88 142,39 228,69 371,09 0,7707 1,0006 1,7713

-40,45 50,00 0,000705 0,369253 147,54 207,71 355,25 147,57 226,14 373,71 0,7932 0,9718 1,7650

-40,00 51,21 0,000705 0,361076 148,11 207,40 355,51 148,14 225,86 374,00 0,7956 0,9687 1,7643

-36,93 60,00 0,000710 0,311227 151,96 205,31 357,27 152,00 223,94 375,94 0,8120 0,9480 1,7601

-35,00 66,14 0,000713 0,284018 154,40 203,98 358,38 154,44 222,72 377,17 0,8223 0,9352 1,7575

-33,86 70,00 0,000714 0,269304 155,84 203,20 359,04 155,89 222,00 377,89 0,8283 0,9277 1,7561

-31,12 80,00 0,000719 0,237551 159,31 201,30 360,61 159,37 220,25 379,62 0,8428 0,9100 1,7528

-30,00 84,38 0,000720 0,225945 160,73 200,52 361,25 160,79 219,53 380,32 0,8486 0,9028 1,7515

-28,63 90,00 0,000722 0,212641 162,47 199,57 362,04 162,54 218,64 381,18 0,8558 0,8942 1,7499

-26,07 101,33 0,000726 0,190184 165,74 197,77 363,51 165,81 216,97 382,78 0,8690 0,8781 1,7472

-25,00 106,40 0,000728 0,181623 167,11 197,01 364,12 167,19 216,26 383,45 0,8746 0,8715 1,7461

-20,00 132,73 0,000736 0,147395 173,54 193,45 366,99 173,64 212,92 386,55 0,9002 0,8411 1,7413

-17,13 150,00 0,000741 0,131283 177,25 191,38 368,63 177,36 210,96 388,32 0,9148 0,8240 1,7388

-15,00 163,94 0,000745 0,120671 180,02 189,83 369,85 180,14 209,49 389,63 0,9256 0,8115 1,7371

-10,08 200,00 0,000753 0,099877 186,45 186,20 372,64 186,60 206,02 392,62 0,9503 0,7831 1,7334

-10,00 200,60 0,000754 0,099590 186,55 186,14 372,69 186,70 205,97 392,66 0,9506 0,7827 1,7334

-5,00 243,34 0,000763 0,082801 193,13 182,38 375,51 193,32 202,34 395,66 0,9754 0,7546 1,7300

-4,28 250,00 0,000764 0,080685 194,08 181,83 375,91 194,27 201,81 396,08 0,9790 0,7506 1,7296

0,00 292,80 0,000772 0,069309 199,77 178,54 378,31 200,00 198,60 398,60 1,0000 0,7271 1,7271

0,67 300,00 0,000774 0,067704 200,67 178,01 378,68 200,90 198,09 399,00 1,0033 0,7234 1,7267

5,00 349,66 0,000782 0,058374 206,48 174,60 381,08 206,75 194,74 401,49 1,0243 0,7001 1,7245

5,03 350,00 0,000782 0,058319 206,52 174,58 381,10 206,79 194,72 401,51 1,0245 0,7000 1,7244

8,93 400,00 0,000791 0,051207 211,79 171,44 383,24 212,11 191,61 403,72 1,0433 0,6793 1,7226

10,00 414,61 0,000793 0,049442 213,25 170,57 383,82 213,58 190,74 404,32 1,0485 0,6736 1,7221

Fonte: BELL, et al., 2014.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 49

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 49 02/03/20 15:11


Vamos exemplificar a utilização das tabelas de propriedades termodinâmi-
cas. Utilizando as Tabelas 1 e 2, determinar:
a) A pressão do R-134a saturado em um condensador onde a temperatura é
de 10 ºC.
b) A temperatura da amônia onde a pressão é de 405 kPa.
Resolução:
a) Neste caso, basta, simplesmente, verificar a temperatura do R-134a na Ta-
bela 2, o valor correspondente à pressão é 414,61 kPa.
b) Analisando a Tabela 1, observa-se que não existe indicação deste valor de
pressão, 405 kPa. No entanto, existe um valor de pressão superior a este e um
valor inferior. Desta forma, pode-se utilizar da interpolação, interpolando os va-
lores encontrados entre as temperaturas entre -2 ºC e -1 ºC, conforme segue.

temperatura = -2 + (1) ∙
( 405 - 399,2
414,6 - 399,2 ) = -2 + 0,4 = -1,6

Logo, a temperatura procurada é -1,6 ºC.

Balanço energético
As explanações anteriores, em conjunto com a Segunda Lei da Termodinâ-
mica, garantem aplicações consideráveis aos ciclos motores e ciclos de refrige-
ração. Brevemente, recorda-se o conceito e a forma para encontrar a eficiência
de um sistema térmico. Inicialmente, a variação de energia, ou simplesmente o
balanço energético de um sistema termodinâmico em ciclo, deve ser visto por:
∆Eciclo = Qciclo - Wciclo
Sendo que:
Qciclo é a quantidade líquida de transferência de energia por calor;
Wciclo é a quantidade líquida de transferência de energia por trabalho.
No entanto, uma vez que o sistema retorna constantemente à condição ini-
cial, a variação de energia é nula. Isto implica dizer que:
Qciclo = Wciclo
A expressão anterior representa o princípio da conservação da energia e deve
ser satisfeita em todos os ciclos termodinâmicos, de modo que seja possível de-
finir dois tipos de ciclos: ciclo motor e ciclo frigorífico. A Figura 1 apresenta os
dois ciclos; observa-se a importância de conhecer o sentido do fluxo de potência.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 50

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 50 02/03/20 15:11


No ciclo motor, existe a transferência de potência para determinado sistema a
partir de um corpo quente; no ciclo frigorífico, a energia é transferida de um cor-
po frio, sendo descarregada para um corpo quente, o que ocorre mediante a
realização de trabalho.

Corpo Corpo
quente quente
Qsaída

Qentrada
Sistema wciclo = Qentrada - Qsaída Sistema wciclo = Qsaída - Qentrada
Qentrada

Qsaída
Corpo Corpo
frio frio

(a) (b)

Figura 1. Ciclo motor e ciclo frigorífico. Fonte: MORAN et al., 2000, p. 120. (Adaptado).

Desta forma, no ciclo de refrigeração ou ciclo frigorífico, a energia de entrada


Qentrada é a energia transferida por calor para o sistema a partir do corpo frio. Ao
passo que a energia de saída Qsaída é a energia que é descarregada para o ambien-
te ou corpo quente.
Finalmente, podemos relacionar as energias de entrada e saída ao definir o
trabalho realizado neste ciclo:
Wciclo = Qsaída - Qentrada
Pode-se definir a eficácia de ciclos de refrigeração, sendo, portanto, a razão
entre a energia de entrada e o trabalho realizado pelo sistema. O coeficiente de
eficácia costuma ser representado pela letra grega β.
Qentrada Qentrada
β= =
Wciclo Qentrada - Qsaída

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 51

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 51 02/03/20 15:11


Ciclo de Carnot
É praxe das ciências exatas utilizar de sistemas ideais para, a partir deles,
desenvolver estudo, previsão e modelagem de sistemas reais. Quando se trata
de ciclos termodinâmicos ou frigoríficos, um dos mais comuns é o ciclo de Car-
not. Este ciclo opera entre duas temperaturas, apresentando a maior eficiên-
cia. Este fato implica que qualquer ciclo real operando entre os mesmos níveis
do ciclo de Carnot apresentará eficiência menor que este.
A Figura 2 apresenta a ilustração dos componentes do ciclo de Carnot, in-
cluindo compressor, dois trocadores de calor e um motor.

qr

3 Trocador de
calor a alta
temperatura 2
Trabalho

Trabalho
Motor Compressor
4 Trocador de 1
calor a baixa
temperatura

qa
Figura 2. Componentes do ciclo de Carnot. Fonte: JABARDO; STOECKER, 2002, p. 32. (Adaptado).

A Figura 2 apresenta a ilustração dos componentes do ciclo de Carnot, in-


cluindo compressor, dois trocadores de calor e um motor. No ciclo de Carnot,
os sistemas realizam ciclos de quatro processos reversíveis (internamente),
sendo dois deles adiabáticos (Q = 0) e outros dois isotérmicos (sem variação de
temperatura).
Observando a Figura 2, convém avaliar quais são os processos adiabáticos
e quais são os processos isotérmicos:
• Processo 1-2: existe aqui um processo de compressão adiabático, sendo
ideal; este compressor não sofre com atrito;

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 52

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• Processo 3-4: neste processo, existe uma expansão adiabática, também
desconsiderando as perdas neste motor;
• Processo 2-3: aqui se observa a existência de entrega do calor a uma tem-
peratura constante;
• Processo 4-1: ocorre a remoção isotérmica do calor do ambiente em baixa
temperatura.
A entropia é uma propriedade que não é conservativa, ou seja, não obede-
ce a uma lei de conservação. Desta forma, é mais conveniente definir a varia-
ção da entropia, podendo defini-la em termos da temperatura do sistema e da
energia que ele ganha ou perde na forma de calor:


f
dQ
∆S = Sf - Si =
i
T

A entropia é uma função de estado, logo, depende exclusivamente do esta-


do inicial e final do gás. Desta forma, de acordo com a Segunda Lei da Termodi-
nâmica, “se um processo ocorre em um sistema fechado, a entropia do sistema
aumenta para processos irreversíveis e permanece constante para processos
reversíveis. Ela nunca diminui”. Para a interpretação dos diagramas de tempe-
ratura x entropia, veja o Gráfico 2:

GRÁFICO 2. VARIAÇÃO DE ENTROPIA

Processo internamente reversível

dA = T dS
= δQ


2

Área = T dS = Q
1

S
Fonte: FRANÇA, 2014, p. 20. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 53

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Nestes diagramas, a área abaixo da curva repre-
senta a energia transferida em forma de calor nos
processos internamente reversíveis.
Tendo sido compreendida a análise dos diagra-
mas temperatura x entropia e tendo sido expla-
nado o próprio conceito de entropia, vamos ver
um exemplo?
Seja uma máquina operando em ciclo de Car-
not, com os processos ocorrendo nas seguintes
temperaturas:
• T1 = 300 K;
• T 2 = 400 K.
E nas seguintes entropias:
• s2 = 1,5 kJ/kgK;
• s3 = 0,89 kJ/kgK.
Identifique a quantidade de calor removido e rejeitado por kg de refrigerante.
Para resolver esta questão é conveniente, inicialmente, desenhar o ciclo de
Carnot em diagramas temperatura x entropia. Observe o Gráfico 3.

GRÁFICO 3. EXEMPLO DE DIAGRAMA TEMPERATURA X ENTROPIA

3 2
T Q rejeitado

Q absorvido
4 1

Fonte: JABARDO; STOECKER, 2002, p. 14. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 54

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Operando em ciclo de Carnot, tem-se:
T 3 = T 2 = 400 K;
T1 = T4 = 300 K;
s1 = s2 = 1,5 kJ/kgK;
s 4 = s3 = 0,9 kJ/kgK.
O calor removido Qremovido pode ser calculado pela área abaixo da curva re-
presentada pela linha 4-1:
kJ
Qremovido = T1 ∙ (s1 - s4 ) = 300 ∙ (1,5 - 0,9)k = 180
kg

O calor rejeitado Qrejeitado pode ser calculado pela área abaixo da curva repre-
sentada pela linha 2-3:
kJ
Qremovido = T 2 ∙ (s2 - s3 ) = 400 ∙ (1,5 - 0,9)k = 240
kg

Ciclo de refrigeração por compressão de vapor


É o mais utilizado em equipamentos frigorífi cos para “produção” de frio,
ou seja, redução da temperatura no interior de determinado recipiente ou
ambiente. Normalmente, o processo de troca de calor ocorre por intermé-
dio do componente chamado de evaporador. Este resfria o ar ou outro fl ui-
do que circula pelo recipiente ou ambiente refrigerado pela ação de um
elemento ventilador.
Sendo evaporado o fl uido, normalmente, por meio de um processo iso-
bárico, ou seja, sem a variação de pressão, este é resfriado e ventilado a fim
de resfriar o ambiente desejado. O fl uido retorna para o exterior do ambien-
te para que seja condensado e para que o processo seja repetido. Muitos
outros componentes podem ser utilizados neste processo.
A Figura 3 apresenta o esquemático de um sistema de refrigeração
por compressão de vapor. Nele, é possível observar, além do con-
densador e do evaporador, o compressor e a válvula de
expansão. Avaliando as principais transferências de
calor e o trabalho realizado, será possível definir o
coefi ciente de desempenho dos sistemas por com-
pressão de vapor.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 55

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.
Qsaída

3 2

CONDENSADOR

.
VÁLVULA DE We
EXPANSÃO COMPRESSOR

EVAPORADOR

4 1
VAPOR SATURADO
OU SUPERAQUECIDO
.
Qentrada
Figura 3. Componentes de um sistema de refrigeração por compressão de vapor. Fonte: MORAN et al., 2000, p. 177. (Adaptado).

Considere Q· a taxa de transferência de calor (também chamada de ca-


pacidade de refrigeração) e m· a vazão mássica do fluido refrigerante. O
Gráfico 4 apresenta o diagrama de Mollier (pressão x entalpia) para o ciclo
de compressão de vapor ideal, com os estados h1, h2 , h3 e h 4 .

GRÁFICO 4. CICLO DE COMPRESSÃO DE VAPOR IDEAL

P
Ciclo ideal

Isoentálpico QH

3 2

QL

4 1 Win

Isoentrópico

Fonte: FRANÇA, 2014, p. 11. (Adaptado).

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DICA
Apesar da capacidade de refrigeração ser medida, normalmente, em kW,
outra unidade bastante utilizada é Btu/h ou, ainda, a tonelada de refrigeração.

Então, para a formulação da equação do ciclo ideal, aplicável para um


sistema em regime permanente e para um escoamento unidimensional com
uma entrada e uma saída, isto é, ms = m e = m.
· ·
Q - Wútil =
( h+
2
1 2
) (
V + g · ∆e m· s -
s
h+
2
1 2
)
V + g · ∆e
e
m· e

Inicialmente, considerando um evaporador ideal, o balanço da taxa de


energia neste se torna, basicamente, a taxa de transferência de calor por
unidade de massa do fluido refrigerante.
·
Q = (h1 - h4) m·
Após deixar o evaporador, o fluido refrigerante é com-
primido pelo compressor até pressão e temperatura altas
novamente. Considerando o caráter ideal do sistema, não
haverá trocas de calor com o compressor ou mesmo
perdas, então, avaliando exclusivamente o compressor,
teremos:
·
W = (h2 - h1) m·
Para o condensador:
·
Q = (h2 - h3) m·
Por fim, o fluido refrigerante entrará na válvula de expansão, sendo:
h4 = h3
Em um ciclo de refrigeração, o objetivo é a remoção de calor do ambien-
te a ser refrigerado. Assim, seu COP (Coeficiente de Performance) pode ser
definido como a razão entre o calor retirado e o trabalho realizado. Desta
forma:

Q
COP =
W
Uma vez trabalhando com sistemas ideais, pode-se utilizar a expressão:
h1 - h4
COP =
h2 - h1

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 57

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 57 15/05/2020 15:04:13


Fluidos de trabalho
Como já apresentado, os fl uidos de trabalho em ciclos termodinâmicos
são os que permitem efetuar as trocas de calor entre o sistema e o ambien-
te, ou entre os reservatórios, conforme a necessidade. Os fl uidos de traba-
lho possuem grande diversidade, sendo classifi cados de acordo com suas
características e propriedades termodinâmicas.
É interessante lembrar que os fl uidos de trabalho, apesar de possuírem
suas características próprias, não estão isolados do sistema. Ao passarem
pelos inúmeros componentes do sistema de refrigeração, ocorrem perdas,
o que leva ao deslocamento das curvas reais do sistema. O Gráfi co 5 apre-
senta o deslocamento destas curvas quando observadas as características
dos componentes do sistema.

GRÁFICO 5. DESLOCAMENTO DAS CURVAS REAIS EM VIRTUDE DAS


CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA

T
P = const

2 3

2’
1’
1 4 4’

S
Fonte: FRANÇA, 2014, p. 15. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 58

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No Gráfico 5, os pontos 1, 2, 3 e 4 apresentam os estados do fluido de
trabalho quando consideradas as características ideais dos componentes do
sistema de refrigeração. Os pontos 1’, 2’, 3’ e 4’ representam o deslocamento
das curvas do processo considerando as condições reais dos componentes.
Os fluidos de trabalho são distinguidos pelas suas propriedades; assim
sendo, o engenheiro projetista do sistema de refrigeração, por exemplo, de-
verá estar atento a estas propriedades para buscar o fluido de trabalho ideal
para o objetivo final do projeto. As principais características a serem analisa-
das para a escolha do fluido de trabalho são:
• Temperatura e pressão de operação;
• Máximo fluxo de calor no evaporador;
• Propriedades termofísicas do fluido;
• Toxicidade, risco de ignição e explosão e condições do equipamento com
tempo de uso.
Os fluidos de trabalho podem ainda ser classificados segundo a inclinação
da linha de vapor saturado no diagrama temperatura-entropia:
• Úmidos;
• Isentrópicos;
• Secos.
A diferença entre estes tipos de fluidos de trabalho está na inclinação de
suas curvas temperatura-entropia. Por exemplo, a água é um tipo de fluido
úmido, uma vez que a inclinação da curva de vapor saturado é negativa. Flui-
dos secos possuirão esta curva com inclinação positiva, ao passo que fluidos
isentrópicos possuem esta inclinação nula.
Vamos a um exemplo prático: suponha que determinado sistema de refri-
geração por compressão de vapor opere com o fluido refrigerante 134a, cujo
diagrama pressão-entalpia está apresentado no Gráfico 6. Considere ainda a
refrigeração por compressão de vapor operando em ciclo ideal, sendo que a re-
gião quente tem temperatura de 26 ºC e a região fria tem temperatura de 0 ºC. A
vazão mássica do refrigerante é de 0,08 kg/s. Entrando vapor saturado no com-
pressor e deixando o condensador como líquido saturado, determine:
a) A potência do compressor
b) A capacidade de refrigeração
c) Coeficiente de desempenho

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 59

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GRÁFICO 6. DIAGRAMA PRESSÃO-ENTALPIA DO REFRIGERANTE 134A

Fonte: Dupont Company, 1993.

A Tabela 3 apresenta as propriedades termodinâmicas deste refrigerante.

TABELA 3. TABELA TERMODINÂMICA DO R134a - LÍQUIDO E VAPOR SATURADO

Volume específico Energia interna Entalpia Entropia


(m3/kg) (kJ/kg) (kJ/kg) (kJ/(kg K))

Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor


Temp. Pressão Evap. Temp.
sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat. sat.
ºC bar hrg ºC
ur x 103 ug ur ug hr hg sr sg

-40 0,5164 0,7055 0,3569 -0,04 204,45 0,00 222,88 222,88 0,0000 0,9560 -40

-36 0,6332 0,7113 0,2947 4,68 206,73 4,73 220,67 225,40 0,0201 0,9506 -36

-32 0,7704 0,7172 0,2451 9,47 209,01 9,52 218,37 227,90 0,0401 0,9456 -32

-28 0,9305 0,7233 0,2052 14,31 211,29 14,37 216,01 230,38 0,0600 0,9411 -28

-26 1,0199 0,7265 0,1882 16,75 212,43 16,82 214,80 231,62 0,0699 0,9390 -26

-24 1,1160 0,726 0,1728 19,21 213,57 19,29 213,57 232,85 0,0798 0,9370 -24

-22 1,2192 0,7328 0,1590 21,68 214,70 21,77 212,32 234,08 0,0897 0,9351 -22

-20 1,3299 0,7361 0,1464 24,17 215,84 24,26 211,05 235,31 0,0996 0,9332 -20

-18 1,4483 0,7395 0,1350 26,67 216,97 26,77 209,76 236,53 0,1094 0,9315 -18

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 60

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-16 1,5748 0,7428 0,1247 29,18 218,10 29,30 208,45 237,74 0,1192 0,9298 -16

-12 1,8540 0,7498 0,1068 34,25 220,36 34,39 205,77 240,15 0,1388 0,9267 -12

-8 2,1704 0,7569 0,0919 39,38 222,60 39,54 203,00 242,54 0,1583 0,9239 -8

-4 2,5274 0,7644 0,0794 44,56 224,84 44,75 200,15 244,90 0,1777 0,9213 -4

0 2,9282 0,7721 0,0689 49,79 227,06 50,02 197,21 247,23 0,1970 0,9190 0

4 3,3765 0,7801 0,0600 55,08 229,27 55,35 194,19 249,53 0,2162 0,9169 4

8 3,8756 0,7884 0,0525 60,43 231,46 60,73 191,07 251,80 0,2354 0,9150 8

12 4,4294 0,7971 0,0460 65,83 233,63 66,18 187,85 254,03 0,2545 0,9132 12

16 5,0416 0,8062 0,0405 71,29 235,78 71,69 184,52 256,22 0,2735 0,9116 16

20 5,7160 0,8157 0,0358 76,80 237,91 77,26 181,09 258,36 0,2924 0,9102 20

24 6,4566 0,8257 0,0317 82.37 240,01 82,90 177.55 260,45 0,3113 0,9089 24

26 6,8530 0,8309 0,0298 85,18 241,05 85,75 175.73 261,48 0,3208 0,9082 26

28 7,2675 0,8362 0,0281 88,00 242,08 88,61 173.89 262,50 0,3302 0,9076 28

30 7,7006 0,8417 0,0265 90,84 243,10 91,49 172.00 263,50 0,3396 0,9070 30

32 8,1528 0,8473 0,0250 93,70 244,12 94,39 170.09 264,48 0,3490 0,9064 32

34 8,6247 0,8530 0,0236 96,58 245,12 97,31 168,14 265,45 0,3584 0,9058 34

36 9,1168 0,8590 0,0223 99,47 246,11 100,25 166,15 266,40 0,3678 0,9053 36

38 9,6298 0,8651 0,0210 102,38 247,09 103,21 164,12 267,33 0,3772 0,9047 38

40 10,164 0,8714 0,0199 105,30 248,06 106,19 162,05 268,24 0,3866 0,9041 40

42 10,720 0,8780 0,0188 108,25 249,02 109,19 159,94 269,14 0,3960 0,9035 42

44 11,299 0,8847 0,0177 111,22 249,96 112,22 157,79 270,01 0,4054 0,9030 44

48 12,526 0,8989 0,0159 117,22 251,79 118,35 153,33 271,68 0,4243 0,9017 48

52 13,851 0,9142 0,0142 123,31 253,55 124,58 148,66 273,24 0,4432 0,9004 52

56 15,278 0,9308 0,0127 129,51 255,23 130,93 143,75 274,68 0,4622 0,8990 56

60 16,813 0,9488 0,0114 135,82 256,81 137,42 138,57 275,99 0,4814 0,8973 60

70 21,162 1,0027 0,0086 152,22 260,15 154,34 124,08 278,43 0,5302 0,8918 70

80 26,324 1,0766 0,0064 169,88 262,14 172,71 106,41 279,12 0,5814 0,8827 80

90 32,435 1,1949 0,0046 189,82 261,34 193,69 82,63 276,32 0,6380 0,8655 90

100 39,742 1,5443 0,0027 218.60 248,49 224,74 34,40 259,13 0,7196 0,8117 100

Fonte: MORAN et al., 2000, p. 241.

Resolução: inicialmente, é preciso lembrar que as unidades de medidas de-


vem estar adequadas, neste caso, precisa-se converter as temperaturas para a
escala Kelvin.
TK = TC + 273
Logo:
Região fria: 273 K;
Região quente: 299 K.
Prosseguindo com a resolução, a potência do compressor será calculada em
dependência da vasão mássica, que foi dada pelo enunciado. Vale ressaltar que,

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 61

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 61 02/03/20 15:13


uma vez que o enunciado deixa claro que o ciclo é ideal, precisa-se considerar
que tanto a válvula quanto o compressor atuam adiabaticamente. Ademais, po-
de-se desprezar os efeitos das energias cinéticas e potencial.
O diagrama temperatura-entropia para um ciclo ideal de compressão de va-
por está apresentado no Gráfico 7.

GRÁFICO 7. DIAGRAMA TEMPERATURA-ENTROPIA DO CICLO DE


COMPRESSÃO DE VAPOR IDEAL

2s

1
4

S
Fonte: MORAN et al., 2000, p. 241. (Adaptado).

Observando a Tabela 3, em 0 ºC, a entalpia é de 247,23 kJ/kg e uma entropia


de 0,9190 kJ/kg K, uma vez que se trata de um vapor saturado.
No estado 2s, a temperatura de saturação é de 26 ºC, logo, trata-se de vapor
superaquecido. Para este caso, é necessário consultar outra tabela, a Tabela 4,
que apresenta as propriedades termodinâmicas do R134a como vapor supera-
quecido. Encontrar estas tabelas na internet é possível, basta realizar pesquisas
nos mecanismos de busca comuns.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 62

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TABELA 4. TABELA TERMODINÂMICA DO R134a VAPOR SUPERAQUECIDO

p = 6.0 bar = 0.60 MPa p = 7.0 bar = 0.70 MPa


(Tsat = 21.58 ºC) (Tsat = 26.72 ºC)

Sat. 0,03408 238,74 259,19 0,9097 0,02918 241,42 261,85 0,9080

30 0,03581 246,41 267,89 0,9388 0,02979 244,51 265,37 0,9197

40 0,03774 255,45 278,09 0,9719 0,03157 253,83 275,93 0,9539

50 0,03958 264,48 288,23 1,0037 0,03324 263,08 286,35 0,9867

60 0,04134 273,54 298,35 1,0346 0,03482 272,31 296,69 1,0182

70 0,04304 282,66 308,48 1,0645 0,03634 281,57 307,01 1,0487

80 0,04469 291,86 318,67 1,0938 0,03781 290,88 317,35 1,0784

90 0,04631 301,14 328,93 1,1225 0,03924 300,27 327,74 1,1074

100 0,04790 310,53 339,27 1,1505 0,04064 309,74 338,19 1,1358

110 0,04946 320,03 349,70 1,1781 0,04201 31,31 348,71 1,1637

120 0,05099 329,64 360,24 1,2053 0,04335 328,98 359,33 1,1910

130 0,05251 339,38 370,88 1,2320 0,04468 338,76 370,04 1,2179

140 0,05402 349,23 381,64 1,2584 0,04599 348,66 380,86 1,2444

150 0,05550 359,21 392,52 1,2844 0,04729 358,68 391,79 1,2706

160 0,05698 369,32 403,51 1,3100 0,04857 368,82 402,82 1,2963

Fonte: MORAN et al., 2000, p. 241.

Porém, para esta situação, é necessário utilizar a interpolação, assunto que já


foi discutido nesta unidade, uma vez que a Tabela 4 apresenta as propriedades
termodinâmicas para a temperatura de 21,58 ºC e para a temperatura de 26,72 ºC.
Realizando esta interpolação, será obtido o valor de entalpia de 264,7 kJ/kg.
a) Finalmente, pode-se utilizar as equações definidas anteriormente:
·
W = (h2 - h1) m·
= (0,08) · (264,7 - 247,23) = 1,4 kW

b) A capacidade de refrigeração é a taxa de transferência de calor fornecida ao


refrigerante através do evaporador. Nota-se que a vazão mássica está em kg/s,
ao passo que a capacidade de refrigeração é definida em minutos. Logo, será ne-
cessário ajuste desta unidade pelo fator de 60 segundos por minuto. Do mesmo
modo, será necessário converter o resultado da capacidade de refrigeração que

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 63

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 63 02/03/20 15:13


será encontrado em kJ/kg para tonelada de refrigeração, dividindo o resultado por
211 kJ/min. Para tanto, será necessário, ainda, encontrar o valor da entalpia no es-
tado três. Este é simples de encontrar, pois se trata de líquido saturado. Avaliando
a Tabela 3, a entalpia para este estado é de 85,75 kJ/kg.
·
Q = (h3 - h2) m·
·
Q = (0,08) x (60) [247,23 - 85,75] / = 3,67

O resultado é 3,67 TR (toneladas de refrigeração).


Ressalta-se que, por se tratar de um processo ideal, pelas hipóteses apre-
sentadas, o valor da entalpia no estado três é igual ao valor da entalpia no
estado quatro.
c) O coeficiente de desempenho será calculado por:
h1 - h4 247,23 - 85,75
COP = = = 9,24
h2 - h1 264,7 - 247,23

Afastamento dos ciclos reais em relação aos ideais


Sabe-se que, na natureza, não existem processos ideais. Todos os proces-
sos reais envolvem perdas e relações com componentes externos aos siste-
mas. As principais perdas que devem ser consideradas em sistemas reais são:
• Perdas nas tubulações por conta do atrito e transferência de calor com
o meio;
• Perdas de carga nas caldeiras envolvidas no processo, perdas nas tur-
binas, bombas e motores calculadas pelo rendimento destes componentes;
• Perdas no condensador e no evaporador.
As situações apresentadas fazem com que os ciclos reais se afastem dos
ciclos ideais. Tanto a perda de carga como a troca de calor provocam uma
diminuição da disponibilidade energética do vapor que entra na turbina.
Para evitar perdas nas bombas, ocasionadas pelo baixo rendimento de al-
gumas delas, pode-se utilizar de bombas (motores) de alto rendimento. Es-
tas possuem características elétricas e mecânicas que reduzem as perdas.
Perdas no condensador são relativamente baixas quando comparadas com
demais perdas. O Gráfi co 8 apresenta as curvas do ciclo real do processo de
compressão de vapor.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 64

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GRÁFICO 8. CURVAS REAIS DO PROCESSO DE COMPRESSÃO DE VAPOR

T 2

2S
.
QH

3 .
Win

1
.
4 QL 5

S
Fonte: FRANÇA, 2014, p. 15. (Adaptado).

Como mencionado, todos os processos que ocorrem na natureza são


reais. São utilizados os ciclos ideais para estudo e aproximação dos proces-
sos reais.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 65

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Sintetizando
Nesta unidade, foram apresentados os principais conceitos referentes aos
ciclos de refrigeração, bem como suas aplicações na indústria, no cotidiano da
sociedade, entre outros. Vimos os principais fluidos refrigerantes, observando
que os ciclos de refrigeração nada mais são que os ciclos termodinâmicos dos
fluidos refrigerantes. Foram retomados os conceitos de convenção de sinais
para trocas de calor. A Segunda Lei da Termodinâmica foi enunciada por Clau-
sius e Kelvin-Planck, sendo associada aos ciclos de refrigeração.
Foram apresentadas as formas de uso das tabelas de propriedades termo-
dinâmicas, bem como a utilização da interpolação na análise destas tabelas. O
diagrama de Mollier foi apresentado e explanado com vistas à elucidação das
curvas de saturação, trazendo condições para a escolha do fluido refrigerante
adequado a cada sistema. O conceito de entropia foi relembrado, retomando a
ideia de processos reversíveis e irreversíveis. Foi realizado o balanço energéti-
co dos sistemas de refrigeração.
Estudamos o ciclo de Carnot, o ciclo de refrigeração por compressão de
vapor, as características ideais destes ciclos e o afastamento deste aos ciclos
ideais. Vimos também os principais fluidos de trabalho, identificando as incli-
nações das curvas de saturação destes para classificá-los em fluidos úmidos,
secos e isentrópicos.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 66

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID2.indd 66 02/03/20 15:13


Referências bibliográficas
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nâmica, mecânica dos fluidos e transferência de calor. Rio de Janeiro: Grupo
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JABARDO, J. M. S.; STOECKER, W. F. Refrigeração industrial. São Paulo: Editora
Blucher, 2002.
WANKE, B. S. L. Análise de ciclos combinados com diferentes fluidos. 2019.
74 f. Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da
Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Rio de Janeiro,
2019. Disponível em: <http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopo-
li10028669.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2020.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 67

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UNIDADE

3 CICLOS MOTORES
A GÁS

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Objetivos da unidade

Definir os ciclos motores a gás;

Descrever os parâmetros de operação


e rendimento do ciclo Brayton ideal e
regenerativo.

Tópicos de estudo
Introdução aos ciclos motores
a gás
Ciclo Brayton
Ciclo simples de turbina a gás
com regenerador

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 69

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Introdução aos ciclos motores a gás
Os ciclos de potência a gás são ciclos de energia que usam gás ideal (fl ui-
do compressível) como fl uido de trabalho. Segundo Merle Kroos e Kenneth
Potter, autores do livro Termodinâmica para engenheiros, de 2016, esses
motores não têm a vantagem de utilizar mudanças de fases para transferir
grandes quantidades de calor; em vez disso, são alimentados por grande
quantidade de ar, responsável pela geração de energia, que faz a potência
depender da quantidade de ar que chega aos cilindros. Logo, um compres-
sor leva ar comprimido aos cilindros, aumentando a quantidade necessária
de ar para a queima da unidade de combustível, conclusão dada por Zulcy
Souza, no livro de 2011, Projetos de Máquinas e de Fluxo: tomo 1, base teórica
e experimental.
A atenção aqui será concentrada no estudo dos motores de combustão
interna, no qual a queima de combustível ocorre internamente, como o ci-
clo Brayton. Nos ciclos de energia Rankine, eles têm combustão externa,
pois ela acontece fora da unidade de produção de energia. Um exemplo é
a antiga locomotiva a vapor, cuja combustão acontecia no interior de uma
caldeira, com a queima de carvão ou madeira, e o vapor liberado para um
dispositivo de pistão alternativo, que convertia energia térmica para gera-
ção da energia mecânica.
Outro ponto importante a ser tratado são os motores de combustão in-
terna para sistemas operando em ciclos abertos, em que o fluido de traba-
lho não retorna ao estado e local originais, como o que ocorre com um au-
tomóvel; nele o ar em temperatura ambiente entra e os produtos em alta
temperatura saem. Porém, antes de entrar em maiores detalhes relativos ao
estudo dos ciclos motores a gás, será feito um breve comentário a respeito
da transferência de calor em mecanismos e sistemas através da modelagem
matemática da transferência de energia do sistema.
De acordo com Kroos e Potter, a transferência de calor “Q“ é o mecanismo
que transfere a energia de um sistema para outro. Esta transferência, vista na
Equação 1, se dá em razão da diferença de temperatura entre dois meios, ou
seja, entre um sistema e sua vizinhança.
Q = m . c . (Ts - Te) (1)

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 70

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Q representa o fluxo de calor no sistema, m é o fluxo de massa do sistema, c
é o calor específico do fluido e (Ts - Te) a diferença entre as temperatura de entra-
da e saída. São admitidas outras equações para o cálculo da transferência de
calor, como a que dá a diferença de entalpia ∆h na entrada e saída do sistema,
resumida pela Equação 2.
Q = m . Δh = m . (hs - he) (2)
Também se escreve as Equações 1 e 2 segundo a Equação 3:
Q = m . Δh = m . (hs - he) = m . cp. (Ts - Te) (3)
Analisando o primeiro princípio da Termodinâmica aplicado ao volume de
controle, se modela o equacionamento de energia contemplando um cálculo
do fluxo de energia Q, conforme a Equação 4:
Q - W = ΔU (4)
W simboliza o trabalho realizado ou sofrido pelo fluido e ΔU a variação da
energia interna do sistema. Para transferências de calor em escoamento de
fluidos, Kroos e Potter destacam que a expressão ΔU assume uma série de
energias associadas, como as energias cinética m . ν2 e potencial m · g · h, de-
2
monstradas pela Equação 5:
Q - W = ΔU + ΔEc + ΔEp (5)
A partir dos estados iniciais e finais destas energias, surge a Equação 6:

Q - W = m . Δh + ( m . νs m. νe
2
-
2 ) + (m . g . zs - m.g.ze) (6)

Isolando a massa m, se tem a definição da equação da energia para regimes


de escoamento, dada pela Equação 7:
ν s - νe
Q - W = m[hs - he + + g(zs - ze)] (7)
2
Embora os elementos da Equação 7 sugiram uma modelagem extensa em
situações reais de aplicação, as diferenças de cotas e velocidades em meio à
entrada e à saída dos dispositivos não são significativas em situações reais
e, portanto, são desprezadas nos cálculos por não interferirem no resultado
do rendimento dos equipamentos, expostos na Equação 8, já que operam em
pressões relativamente altas:
Q - W = ΔU + 0 (8)
Fundamentando-se nas seguintes hipóteses para a equação da energia:
• Escoamento em regime permanente;

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 71

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• Uma entrada e uma saída;
• Escoamento uniforme na entrada e na saída (velocidade, pressão e ental-
pia são uniformes em todas as áreas);
• O calor entrando e o trabalho saindo do volume de controle são positivos.
Chega-se à Equação 9:
Q - W = m . Δh = m(hs - he) (9)
Kroos e Potter recomendam em situações que envolvam fluidos incompres-
síveis, na qual a densidade é mantida constante, empregar a forma simplificada
da energia apresentada pela Equação 10:

Q-W=m. (
P s - Pe
ρ ) (10)

Na equação, ρ é a massa específica do fluido e P as pressões na seção de en-


trada e saída do sistema. Nas modelagens matemáticas aqui exibidas, são ne-
cessários alguns conhecimentos referentes às propriedades dos fluidos com-
pressíveis, como a massa específica ρ e o volume específico ν. Assim, se pode
obter tais fatores usando a equação dos gases perfeitos, denominada equação
de Clapeyron e exibida nas Equações 11, 12 e 13:
P.V=m.R.T (11)
P.ν.m=m.R.T (12)
R.T (13)
ν=
ρ

Como ρ = 1 ou ν = 1 , se atinge a Equação 14:


ν ρ

R . T ... 1 = P
ν=
ρ ρ R.T

R.T (14)
ρ=
P
R é a constante de compressibilidade dos gases, valor encontrado nas
tabelas de propriedades termodinâmicas ou dados em problemas, se
atentando às unidades descritas para esta constante, pois variam e tornam
necessárias as análises dimensionais antes de aplicar as equações. Como
em todos os assuntos envolvendo termodinâmica, operações com neces-
sidade de conversões de unidades são frequentes. Outras equações refe-
rentes às propriedades e que são úteis quando trabalhadas com fluidos são

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 72

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as Equações 15 e 16, nas quais V representa o fl uxo volumétrico ou vazão
volumétrica do fl uido:
R.T
ν= (15)
ρ
V
m= (16)
ν

EXPLICANDO
Os valores da constante k e de outras propriedades termodinâmicas são
dados pelas tabelas de propriedades termodinâmicas, disponíveis no livro
Fundamentos da Termodinâmica Clássica, de Gordon Van Wylen, Richard
Sonntag e Claus Borgnakke.

Exemplo 1: hélio deve ser comprimido desde 100 kPa e 300 K até 500
kPa e 400 K. A perda de calor pelo revestimento do compressor é estimada
em 60 kW. Desprezando as variações de energia cinética e potencial entre a
entrada e a saída deste equipamento, se determina o fl uxo de massa capaz
de ser comprimido, considerando a potência do compressor de 700 kW.
Solução: segundo as hipóteses expostas e sendo o hélio um gás perfeito, temos:
Q - W = m . Δh = m(hs - he) = m . cp(Ts - Te)
Q - W = m . cp (Ts - Te) → W = m . cp(Te - Ts) + Q
-700 = m . 5,193(300 - 400) + 60
m = 1,23 [kg/s]

TABELA 1. CALOR ESPECÍFICO DO GÁS HÉLIO

Fórmula Peso ρ Cp0


Gás R kJ/kg K Cv0 kJ/kg K k = Cp/Cv
química molecular (kg/m3) kJ/kg K

Acetileno C2H2 26,038 0,3193 1,05 1,699 1,380 1,231

Água
H2O 18,015 0,4615 0,0231 1,872 1,410 1,327
(vapor)

Ar 28,97 0,287 1,169 1,004 0,717 1,400

Amônia NH3 17,031 0,4882 0,694 2,130 1,642 1,297

Argônio Ar 39,948 0,2081 1,613 0,520 0,312 1,667

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 73

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Butano C4H10 58,124 0,1430 2,407 1,716 1,573 1,091

Dióxido
de CO2 44,01 0,1889 1,775 0,842 0,653 1,289
carbono

Monóxido
de CO 28,01 0,2968 1,13 1,041 0,744 1,400
carbono

Etano C2H6 30,07 0,2765 1,222 1,766 1,490 1,186

Etanol C2H5OH 46,069 0,1805 1,883 1,427 1,246 1,145

Etileno C2H4 28,054 0,2964 1,138 1,548 1,252 1,237

Hélio He 4,003 2,0771 0,1615 5,193 3,116 1,667

Hidrogênio H2 2,016 4,1243 0,0813 14,209 10,085 1,409

Fonte: WYLEN; SONNTAG; BORGNAKKE, 1995.

Os motores analisados têm o ar como fluido de trabalho. O ar ambiente entra an-


tes da compressão e é expelido imediatamente após a energia mecânica ser produ-
zida, como nos automóveis e caminhões. A rápida sucessão dos processos nos ciclos
abertos é simplificada por uma série de hipóteses na análise de ar padrão, que faz uso
das seguintes hipóteses:
• O fluido de trabalho é o ar tratado como um gás ideal;
• A compressão e a expansão no ciclo são adiabáticas e reversíveis, resultando em
dois processos isentrópicos;
• A combustão é um processo simples de transferência de calor para o ar de uma
fonte externa igual à que a combustão forneceria, o que depende do tipo analisado,
seja um motor a diesel ou uma turbina a gás;
• A rejeição de calor no exaustor é realizada pela transferência de calor para a vi-
zinhança com um processo que devolve o ar no estado inicial enquanto não se faz
trabalho algum para finalizar o ciclo.
Segundo Kroos e Potter, se um gás ideal, tal como o ar, é o fluido ideal em um
compressor ou uma turbina, o processo da entrada para a saída é adiabático de
quase-equilíbrio, sem transferência de calor e sem perdas, adotando calores especí-
ficos constantes. Uma aproximação da temperatura desconhecida é alcançada pela
Equação 17: k -1

( )
P2 k
(17)
T 2 = T1
P1

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 74

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Ainda de acordo com os autores, essa equação é muito
importante, já que a compressão ou expansão do gás é co-
mum em vários dispositivos. Os valores para k correspon-
dem à razão entre os calores específicos dos gases a pressão
e volume constantes, dados pela Equação 18:
cp
k= (18)
cv

Ciclo Brayton
O ciclo Brayton, criado por George Brayton em 1872, foi o primeiro pa-
tenteado como um motor de pistão que operava por meio de um compressor
e uma turbina, qual visto no Diagrama 1. Nos anos 1920, devido ao fato do
compressor e da turbina não serem tão eficientes, ele não atraiu interesse in-
dustrial significativo.
Hoje designado como turbina a gás, ele é aproveitado em aeronaves comer-
ciais e militares maiores, assim como em usinas, tanques, navios, caminhões
grandes e até mesmo motocicletas. As desvantagens comparadas aos motores
de pistão são o custo alto, a ineficiência em baixas velocidades, o arranque de-
morado e a resposta lenta à mudança de velocidade. Não obstante, a relação
peso-potência é muito atrativa, o que é apontado por Kroos e Potter.

DIAGRAMA 1. CICLO BRAYTON EM UM MOTOR TURBOJATO

Injeção de combustível

Entrada de ar
Exaustão de
gases quentes

Difusor Compressor Câmara de Turbina Bocal


combustão

Fonte: BORGNAKKE; SONNTAG, 2013 (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 75

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 75 02/03/20 15:09


EXPLICANDO
O ciclo Brayton, utilizado em turbinas de aviões e máquinas pesadas,
consiste em um dispositivo combinado de compressor e turbina para gerar
energia.

A turbina a gás que opera no ciclo Brayton é um motor de combustão


interna. Diferente dos ciclos Otto e Diesel, presente nos automóveis, cami-
nhões, tanques e navios, nos quais ocorre fluxo contínuo, existe um fluxo
constante de ar e um fluxo constante de produtos de combustão, conforme
indicado no Diagrama 2.

DIAGRAMA 2. TURBINA A GÁS DE CICLO ABERTO

QC

COMBUSTOR

2 COMBUSTÍVEL 3

COMPRESSOR TURBINA Wlíq


ω

1 4 Qsai

Ar Produtos
de combustão
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

No ciclo Brayton, a compressão do ar é realizada pelo compressor giratório.


A combustão acontece em uma câmara e pode queimar diferentes tipos de
combustíveis. Os produtos de alta pressão e elevada temperatura fluem pela
turbina a gás produzindo energia.
Para analisar o ciclo Brayton, será empregue o primeiro princípio da Termo-
dinâmica para volumes de controle (o compressor, a turbina e os trocadores

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 76

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 76 02/03/20 15:09


de calor). No Diagrama 3, há um esquema de turbina a gás de ciclo fechado
composto por quatro dispositivos em que:
• O ar é comprimido em uma pressão de saída até 30 vezes maior que a
pressão de entrada em um motor a jato. Um processo adiabático de quase-
-equilíbrio é assumido mediante o compressor;
• O calor é adicionado em uma pressão constante no combustor (um troca-
dor de calor);
• O ar de alta pressão e alta temperatura passa pela turbina produzindo
energia. Um processo adiabático de quase-equilíbrio é admitido através
da turbina;
• O ar que sai da turbina é resfriado em um segundo trocador de calor de
pressão constante para introduzi-lo outra vez no compressor.

DIAGRAMA 3. TURBINA A GÁS DE CICLO FECHADO

Qentra

TROCADOR DE
CALOR
2 COMBUSTOR 3

COMPRESSOR TURBINA Wlíq


ω

1 4
TROCADOR DE
CALOR

Qsai
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

Conforme mostra o Diagrama 3, o trocador de calor superior conta com


a entrada de energia que ocorreria durante a combustão, e o trocador de
calor inferior emite o calor associado aos produtos de combustão e não
realiza nenhum trabalho. Os motores de turbina a gás de ciclos aberto e

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 77

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 77 02/03/20 15:09


fechado são termodinamicamente idênticos, o que é indicado por Souza
em seu livro de 2011.
Franco Brunetti, autor de Motores de combustão interna: tomo 1, de
2012, observa que a turbina e o compressor estão liga-
dos de forma mecânica por um eixo, de forma que o
movimento do compressor é realizado pela turbina.
Apenas nos anos 1940 é que a turbina gerou energia
suficiente para conduzir o compressor e energia adi-
cional para ser competitiva com motores de pis-
tão. Se a turbina e o compressor tivessem só 80%
de eficiência, uma turbina a gás não seria competi-
tiva. À medida que a eficiência aumentou, as turbinas
a gás encontraram diversas aplicações, sendo a mais comum alimentar
aeronaves comerciais.
No funcionamento de um ciclo Brayton ideal, os diagramas P-v e T-s
são exibidos como no Diagrama 4. A entrada e a remoção de calor utilizam
pressão constante, sendo que a eficiência térmica do ciclo Brayton, ado-
tando uma constante cp, é:

η=1-
Qsai
=1-
m . cp . (T4 - T1)
=1-
(T4 - T1)
=1-
T1 ( )T4
T1
-1
(19)

( )
Qentra (T 3 - T 2)
m . cp . (T 3 - T 2) T3
T2 -1
T2

DIAGRAMA 4. P-v E T-s PARA O CICLO BRAYTON IDEAL

P Qentra T
2 3 Qentra 3

P = const
Q=0
2
Q=0 4

P = const
4 1
1 Qsai Qsai
υ S

Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 78

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 78 02/03/20 15:09


ASSISTA
Para saber mais a respeito do ciclo Brayton, o vídeo Ciclo
Brayton Ideal - Ciclos de Potência, postado pelo professor
Auro Marcolan, explica o método com animações que
ilustram como isso se dá na realidade.

Com diferenças imediatas entre a turbina a gás e os motores alternativos,


se nota que a primeira envolve diversos dispositivos para seu funcionamento,
enquanto o segundo realiza tudo em um único cilindro, graças a um pistão.
Além disso, no ciclo Brayton, o trabalho é contínuo na turbina, enquanto nos
alternativos há uma alternância entre os tempos úteis e os que envolvem tra-
balho, assim como informa Brunetti. Para os trocadores de calor de pressão
constante, com P3 = P2 e P4 = P1, tem-se a Equação 20:
P3 P2
= (20)
P4 P1
Os processos de compressor e de turbina são idealizados como isentrópi-
cos no ciclo Brayton ideal. Logo, se obtêm as relações dadas pelas Equações 21
e 22: k

( )
k-1
P2 T2
= (21)
P4 T1
k

( )
k -1
P3 T3
= (22)
P1 T4

Com as Equações 21 e 22, se arranjam as relações apresentadas na


Equação 23:
T2 T3
=
T1 T4
ou (23)

T4 T3
=
T1 T2

Portanto, a equação que define a eficiência do ciclo Brayton, em razão das


temperaturas, pode ser definida segundo a Equação 24:
T1
nBrayton = 1 - (24)
T2

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 79

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 79 02/03/20 15:10


Também se alcança a eficiência do ciclo Brayton segundo a Equação 25, em
razão das pressões:
k-1

( )
k
P1
nBrayton = 1 - (25)
P2

A razão da pressão P2 que sai do compressor para a pressão P1 que en-


tra no compressor, em geral, é a pressão atmosférica, cuja taxa de pressão
é r p , conforme Diagrama 5.

DIAGRAMA 5. RAZÃO rp DO COMPRESSOR

P2

COMPRESSOR

P1
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

P2
rp = (26)
P1
Em termos dessa razão de pressão, a eficiência do ciclo Brayton fica defini-
da segundo a Equação 27:
1-k
k
nBrayton = 1 - rp (27)

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 80

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 80 02/03/20 15:10


Vale salientar que a eficiência é a taxa de trabalho líquido para a entrada
de calor no sistema. No ciclo Brayton, se associa o termo razão de trabalho
reverso (BWR, back-workratio) à razão do trabalho necessário para conduzir
o compressor para o trabalho total produzido pela turbina. Até os anos 1940,
era necessário muito trabalho da turbina para conduzir o compressor. Nesse
sentido, Kroos e Potter relatam que, com o aumento da eficiência dos compres-
sores e das turbinas, em virtude do melhor projeto de lâmina e temperatura
maior de entrada para as turbinas (materiais com melhor resistência ao calor),
as turbinas a gás passaram a aceitar diversas aplicações.

EXPLICANDO
O termo BWR se refere à razão da energia necessária para conduzir o
compressor para o trabalho total produzido pela turbina. É expresso como
porcentagem, muito parecido com eficiência.

Exemplo 2: ar entra no compressor de uma turbina a gás, como no Diagra-


ma 6, com temperatura de 300 K e 100 kPa de pressão, e sofre compressão
passando para 700 kPa. O combustor aumenta a temperatura para 1000 K.
Considere um processo ideal com calores específicos constantes.

DIAGRAMA 6. TURBINA A GÁS DE CICLO FECHADO

Qentra

700 kPa 1000 K


TROCADOR DE
CALOR
2 COMBUSTOR 3

COMPRESSOR TURBINA Wlíq


ω

1 4
TROCADOR DE
100 kPa CALOR
300 K

Qsai
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 81

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 81 02/03/20 15:10


Determine:
a) A eficiência térmica do ciclo:
-0,4

( )
1,4
1-k
700
nBrayton = 1 - rp k
=1- = 0,426 = 42,6%
100

b) O trabalho líquido.
Comentário: as temperaturas conhecidas no ciclo são T1 e T 3 , portanto de-
vem ser encontradas nas temperaturas T 2 e T4 . A partir da Equação 17, tem-se:
k-1

( )
k
T2 P2
= 300 . 70,2857 = 523 K
T1 P1
k-1

( ) ( )
0,2857
k
T4 P4 1
= 1000 . 574 K
T3 P3 7

Para estabelecer o trabalho líquido wlíq , é utilizada a Equação 28, definida


pela relação, lembrando que não se usa o fluxo de massa nesse exemplo.
wlíq = w turb - wcomp = (h3 - h4) - (h2 - h1) = cp . (T 3 - T4) - cp . (T 2 - T1) (28)
Do mesmo modo, se chega a:
wlíq = w turb - wcomp = (h3 - h4) - (h2 - h1) = cp . (T 3 - T4) - cp . (T 2 - T1)
wlíq = 1,004 . [(1000 - 574) - (523 - 300)] = 203 [kJ/kg]

TABELA 2. CALOR ESPECÍFICO DO AR

Fórmula Peso R ρ Cp0 Cv0


Gás k = Cp/Cv
química molecular kJ/kg K (kg/m3) kJ/kg K kJ/kg K

Acetileno C2H2 26,038 0,3193 1,05 1,699 1,380 1,231

Água
H2O 18,015 0,4615 0,0231 1,872 1,410 1,327
(vapor)

Ar 28,97 0,287 1,169 1,004 0,717 1,400

Amônia NH3 17,031 0,4882 0,694 2,130 1,642 1,297

Argônio Ar 39,948 0,2081 1,613 0,520 0,312 1,667

Butano C4H10 58,124 0,1430 2,407 1,716 1,573 1,091

Dióxido
de CO2 44,01 0,1889 1,775 0,842 0,653 1,289
carbono

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 82

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 82 02/03/20 15:10


Monóxido
de CO 28,01 0,2968 1,13 1,041 0,744 1,400
carbono

Etano C2H6 30,07 0,2765 1,222 1,766 1,490 1,186

Etanol C2H5OH 46,069 0,1805 1,883 1,427 1,246 1,145

Etileno C2H4 28,054 0,2964 1,138 1,548 1,252 1,237

Fonte: WYLEN; SONNTAG; BORGNAKKE, 1995.

c) O BWR do sistema:

DIAGRAMA 7. BWR (RAZÃO DE TRABALHO REVERSO)

Qentra

700 kPa 1000 K


TROCADOR DE
CALOR
2 COMBUSTOR 3

COMPRESSOR TURBINA
ω

BWR
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

wcomp 223
BWR = = = 0,523 = 52,3%
w turb 426

d) A entrada de calor no sistema:

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 83

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 83 02/03/20 15:10


DIAGRAMA 8. ENTRADA DE CALOR ATRAVÉS DO COMBUSTOR

Qentra

700 kPa 1000 K


TROCADOR DE
CALOR
2 COMBUSTOR 3

COMPRESSOR TURBINA
ω

Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

qentra = cp . (T 3 - T 2) = 1,0 . (1000 - 523) = 477 [kJ/kg]


No ciclo Brayton simples, se obtém a eficiência também pela Equação 29:
Wsai
(29)
η=
Qentra
Visto que a turbina energiza o compressor, como no Diagrama 3, o que exi-
ge volumosa quantidade de energia, tem-se que:
Wsai = W turb - Wcomp (30)
Exemplo 3: o ar a 2 kg/s, visto no Diagrama 9, entra no compressor a uma
pressão de 100 kPa e temperatura 20 °C, e deixa o compressor a uma pressão
de 600 kPa. O ar sai do combustor com uma temperatura média de 900 °C.

DIAGRAMA 9. TURBINA A GÁS DE CICLO FECHADO

Qentra

600 kPa
TROCADOR DE
CALOR
2 COMBUSTOR 3

COMPRESSOR TURBINA Wlíq


ω

1 4
TROCADOR DE
100 kPa CALOR
20 ºC

Qsai
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 84

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 84 02/03/20 15:10


Determine:
a) A entrada de calor no combustor.
Comentário: assumindo um processo adiabático de quase-equilíbrio, a
temperatura de ar que sai do compressor é definida pela Equação 17:
k -1 1,4 - 1

( ) ( )
k 1,4
P2 600
T 2 = T1 = 293 = 489 K
P1 100

TABELA 3. CONSTANTE K

Fórmula Peso R ρ Cp0 Cv0


Gás k = Cp/Cv
química molecular kJ/kg K (kg/m3) kJ/kg K kJ/kg K

Acetileno C2H2 26,038 0,3193 1,05 1,699 1,380 1,231

Água
H2O 18,015 0,4615 0,0231 1,872 1,410 1,327
(vapor)

Ar 28,97 0,287 1,169 1,004 0,717 1,400

Amônia NH3 17,031 0,4882 0,694 2,130 1,642 1,297

Argônio Ar 39,948 0,2081 1,613 0,520 0,312 1,667

Butano C4H10 58,124 0,1430 2,407 1,716 1,573 1,091

Dióxido de
CO2 44,01 0,1889 1,775 0,842 0,653 1,289
carbono

Monóxido
de CO 28,01 0,2968 1,13 1,041 0,744 1,400
carbono

Etano C2H6 30,07 0,2765 1,222 1,766 1,490 1,186

Etanol C2H5OH 46,069 0,1805 1,883 1,427 1,246 1,145

Etileno C2H4 28,054 0,2964 1,138 1,548 1,252 1,237

Fonte: WYLEN; SONNTAG; BORGNAKKE, 1995.

Portanto, para a entrada de calor no trocador de calor (combustor), a partir


da Equação 3, se chega a:
Q = m . Δh = m . (hs - he) = m . cp . (Ts - Te)
Qcomb = m . Δh = m . (h3 - h2) = m . cp . (T 3 - T 2)

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 85

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 85 02/03/20 15:10


Qcomb = 2 . 1 . (1173 - 489) = 1368 [kJ/s]
Ao contrário do Exemplo 2, o fluxo de massa foi dado no problema.
Desta forma, se aproveitam outras modelagens matemáticas para a re-
solução do sistema, o que não é um problema, pois, conhecido o fluido,
é possível especificar o fluxo de massa mediante parâmetros como den-
sidade e dimensões do sistema.
b) A temperatura de saída da turbina.
Comentário: a pressão no combustor é constante. Sendo assim, a
pressão que entra na turbina é de 600 kPa e a que sai é de 100 kPa. Como
o ar que passa pela turbina é submetido a um processo adiabático de
quase-equilíbrio, tem-se:
k-1 1,4 - 1

( ) ( )
k 1,4
P4 100
T4 = T 3 = 1173 = 703 K
P3 600

c) A razão de trabalho reverso (BWR):


Wcomp = m . Δh = m . (h2 - h1) = m . cp . (T 2 - T1)
Wcomp = 2 . 1 . (489 - 293) = 392 [kW]
W turb = m . Δh = m.(h3 - h4) = m . cp . (T 3 - T4)
W turb = 2 . 1 . (1173 - 703) = 940 [kW]

Wcomp 392
BWR = = = 0,417 = 41,7%
W turb 940

d) A saída de potência:
Wsai = W turb - Wcomp

Wsai = 940 - 392 = 548 [kW]


e) A eficiência do ciclo:

Wsai 548
η= = = 0,400 = 40%
Wentra 1368

Comentário: podem ser adotados, como condições


iniciais de entrada do ar no sistema, parâmetros nas
condições do ar ambiente, que se encontram a 20 °C
e 100 kPa.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 86

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 86 02/03/20 15:10


Ciclo simples de turbina a gás com regenerador
Os gases de exaustão da turbina são usados para preaquecer o ar por meio
do regenerador antes de entrar na câmara de combustão. Como os
gases deixam a turbina com temperatura maior que a do ar que deixa
o compressor, um regenerador melhora a eficiência térmica do
ciclo, de acordo com Kroos e Potter. O ciclo Brayton regene-
rativo aberto é exibido no Diagrama 10, com T-s para o ciclo
ideal indicado no Diagrama 11, ponderando que T 2 < T1.

DIAGRAMA 10. CICLO BRAYTON REGENERATIVO ABERTO

6 Regenerador

Qsai
Qent
3
Combustor

2 4 5

Compressor Turbina

Wsai

1
Entrada de ar
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 87

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 87 02/03/20 15:10


DIAGRAMA 11. T-s PARA O CICLO BRAYTON REGENERATIVO, FECHADO E IDEAL

4
T

Qent

5
3
2 6

1 Qsai

s
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

ASSISTA
Para entender melhor o ciclo Brayton regenerativo, o
vídeo Termodinâmica: Ciclo de Brayton com Regeneração
de Calor (resolvido em Excel), do professor Paulo Sele-
ghim, explica melhor o processo.

Segundo Kroos e Potter, o ciclo poderia ser desenhado como um ciclo fe-
chado considerando o trocador de calor entre os estados 6 e 1, como em T-s, no
entanto não haveria efeito na análise do aumento de sua eficiência.
Para a determinação da eficiência deste ciclo regenerativo, o primeiro prin-
cípio da Termodinâmica para volume de controle permite que sejam orde-
nados o calor fornecido pelo combustor (Equação 31), o trabalho da turbina
(Equação 32) e o trabalho do compressor (Equação 33):

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 88

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 88 02/03/20 15:10


qent = (h4 - h3) = cp . (T4 - T 3) (31)
w turb = (h4 - h5) cp . (T4 - T5) (32)
wcomp = (h2 - h1) cp . (T 2 - T1) (33)
O trabalho líquido produzido pelo ciclo obedece à relação da Equação 28:

wlíq = w turb - wcomp = cp . (T4 - T5) - cp . (T 2 - T1)


(34)
wlíq = w turb - wcomp = cp . (T4 - T5 - T 2 + T1)

Ainda segundo os autores, o regenerador ideal admite T 5 = T 3 . Desse


modo, observa-se que as Equações 31 e 32 são iguais, logo: qent = w turb . As-
sim, chega-se à relação da eficiência do ciclo pela Equação 35, como se nota
ao lado do combustor P2 = P3 = P4 e ao lado do exaustor P1 = P5 = P 6 , desde que
não haja queda de pressão pelo trocador de calor ideal:
T2
-1
wlíq w turb - wcomp wcomp T 2 - T1 T1 T1
η= = =1- =1- =1- . (35)
Qentra w turb w turb T4 - T5 T2 T5
1-
T4

Para isso, conforme visto na Equação 17, os respectivos processos isentró-


picos pelo compressor e pela turbina fornecem:
k-1

()
P2 k

T 2 = T1
P1

Dessa forma, segundo o ciclo regenerativo, tem-se a Equação 36:


k-1 k-1

() ()
P5 k
P1 k

T5 = T4 = (36)
P4 P2

O que possibilita que a Equação 35, após algumas transformações algébri-


P
cas e visualizando 1 = r , forneça a eficiência do ciclo Brayton regenerativo
P2 p

ideal, segundo a Equação 37:


k-1
T1 k
nBrayton = 1 -
r (37)
T4 p
Segundo Kroos e Potter, a Equação 37 demonstra que a eficiência diminui
à proporção que a taxa de pressão rp aumenta, um efeito oposto à eficiência
do ciclo Brayton ideal proposto na Equação 27. Isso significa que há uma taxa

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 89

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 89 02/03/20 15:10


de pressão em que as eficiências de dois ciclos são iguais, correspondendo à
condição T 2 = T5 no Diagrama 11. Se T 2 > T5 , um regenerador de fato, há um efeito
negativo. Se T1 / T4 = 0,25, a taxa de pressão em que as eficiências são iguais é
de 11,32.
Exemplo 4: o ar entra no compressor de uma turbina a gás com 300 K e
100 kPa, onde é comprimido passando para 700 kPa com uma temperatura
máxima de 1000 K, como no Exemplo 2. Um regenerador, visto no Diagrama
12, é inserido no ciclo:

DIAGRAMA 12. CICLO BRAYTON REGENERATIVO ABERTO

6 Regenerador

Qsai
Qent
(Produtos de
3
combustão)
Combustor

700 kPa 2 4 5
1000 K

Compressor Turbina

Wsai

1
Entrada de ar
100 kPa
300 K
Fonte: KROOS; POTTER, 2016. (Adaptado).

Determine a eficiência térmica do ciclo e o BWR, contemplando processos


ideais e calores específicos constantes.
Solução:
k-1
T1 k 300
nBrayton = 1 - rp = 1 - . 70,2857 = 0,477 = 47,7%
T4 1000

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 90

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID3.indd 90 02/03/20 15:10


Comparado ao Exemplo 2, houve um aumento de 12%, o que comprova a
eficiência do ciclo regenerativo:

k-1

()
P2 k

T 2 = T1 = 300 . 70,2857 = 523 K


P1

k-1

() ()
0,2857
P5 k
1
T5 = T4 = 1000 . = 574 K
P4 7

w turb = (h4 - h5) = cp . (T4 - T5) = 1 . (1000 - 574) = 426 [kJ/kg]

wcomp = (h2 - h1) = cp . (T 2 - T1) = 1 . (523 - 300) = 223 [kJ/kg]

Logo, o BWR do ciclo será:

wcomp 223
BWR = = = 0,523 = 52,3%
w turb 426

O regenerador aumentou a eficiência do ciclo, mas


não gerou efeito sobre o BWR; o efeito do regenerador
foi de reduzir a entrada de energia no combustor.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 91

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Sintetizando
Embora haja diversos ciclos a serem discutidos ao longo do estudo de siste-
mas motores, como é o caso dos ciclos Otto e Diesel, os estudos nessa unidade
se concentraram no modelo Brayton, cuja turbina opera sob efeito de um gás
ideal. O estudo de sua modelagem matemática se mostrou um diferencial na
verificação do parâmetro de sua eficiência e do aumento desta para um siste-
ma com regeneração.
Apesar de estar associado às operações de turbinas a jato de aeronaves,
combinado com o ciclo Rankine, o ciclo Brayton apresenta rendimentos ainda
mais significativos. Um exemplo disso está no fato dos gases de exaustão de
alta temperatura de uma turbina a gás que opera no ciclo Brayton serem fonte
de calor para uma usina que opera no ciclo Rankine.
Essa usina de ciclo combinado é mais sustentável do que uma operação
separada. Contanto que os motores do ciclo Brayton utilizem combustível de
baixa combustão, eles se tornam compatíveis com outros combustíveis e bio-
combustíveis, tornando-se úteis em locais remotos onde os pequenos motores
Brayton podem ser localizados.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 92

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Referências bibliográficas
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Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1980.
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SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 93

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UNIDADE

4 TROCADORES
DE CALOR

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Objetivos da unidade
Identificar e diferenciar os tipos de trocadores de calor;

Classificar os trocadores de calor de acordo com sua funcionalidade,


características de construção e aplicação;

Utilizar os conceitos de transferência de calor por condução e convecção no


projeto e dimensionamento de trocadores de calor;

Compreender o conceito de coeficiente global de transferência de calor,


utilizando-os no dimensionamento e nos projetos dos trocadores;

Relacionar o fator de incrustação para dimensionamento e projeto dos trocadores


de calor, considerando os tipos de materiais utilizados, bem como os fluidos de
trabalho;

Realizar cálculos de resistência térmica total, considerando o fator de incrustação;

Utilizar o método da diferença de temperatura média logarítmica para análise


adequada dos trocadores de calor.

Tópicos de estudo
Introdução aos trocadores de Fator de incrustação
calor
Método da diferença de
Tipos básicos de trocadores temperatura média logarítmica
de calor
Projeto e seleção

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Introdução aos trocadores de calor
Os trocadores de calor são responsáveis por realizar a troca de calor entre
dois fluidos em temperaturas diferentes, evitando a mistura de um com o outro.
São largamente utilizados na indústria e são imprescindíveis em uma série de
aplicações no cotidiano, como condicionamento de ar, refrigeração, aquecimen-
to, entre outros. Os trocadores de calor são estudados há bastante tempo, pas-
sando constantemente por melhorias de projeto.
Geralmente, a transferência de calor ocorre pela convecção em cada fluido e
pela condução através da parede que os separa em um trocador de calor. Des-
ta forma, é necessário conhecer o coeficiente global de transferência de calor,
representando, em apenas um coeficiente, as contribuições desses efeitos (con-
vecção e condução). Existem muitos tipos e formas de trocadores em virtude da
enorme quantidade de aplicações, e são classificados a partir de critérios, como:
a) Pelo modo que realiza a troca de calor;
b) Pelo número de fluidos em que ele atua;
c) Pelo seu tipo de construção.
Outros tipos de classificação podem ser utilizados de acordo com tipos de
aplicações ou construções dos trocadores. De acordo com o processo de trans-
ferência de calor, trocadores podem ser classificados como trocadores de conta-
to direto e trocadores de contato indireto, os quais possuem as subclassificações
de transferência direta ou de tipo armazenamento. Em relação à sua construção
mecânica, podem ser classificados como tubular e tipo placa, onde os tubulares
possuem as subclassificações: carcaça e tubo, tubo duplo e serpentina.
Diante da diversidade de tipos de trocadores de calor, o responsável pelo
projeto do sistema térmico deve utilizar critérios específicos para a escolha do
tipo que será utilizado em cada projeto e auxiliados pela
sua experiência profissional. Além disso, devem utilizar
métodos de cálculo confiáveis para o projeto. Isto deve ser
apresentado como fator relevante, pois determinados ti-
pos de trocadores possuem seus métodos de cálculo de
posse exclusiva da empresa fabricante, o que dificulta
o correto dimensionamento deste equipamento em
determinado projeto.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 96

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Critérios como desempenho térmico, desempenho operacional, manuten-
ção, flexibilidade operacional, custo, entre outros, devem ser analisados pelo
projetista a fim de encontrar a alternativa mais adequada, que, muitas vezes,
pode não ser a mais barata. Desta forma, o projetista deverá planejar ao me-
nos três etapas de projeto: i) análise térmica, onde será avaliada a área neces-
sária para o trocador de calor de acordo com a aplicação; ii) projeto mecânico,
envolvendo as definições de temperatura e pressão de operação, o caráter cor-
rosivo dos fluidos, entre outras características mecânicas; e iii) o processo de
fabricação deste trocador, que poderá ser individual (para apenas um projeto)
ou produzido em maior escala.
Avaliando todos esses critérios, o
projetista poderá definir se uma uni-
dade de troca de calor convencional,
padrão, encontrada com facilidade em
revendedores do gênero, será ade-
quada ou se será necessário o desen-
volvimento de uma peça específica (o
que pode ser consideravelmente mais
caro). Por fim, critérios como facilida-
de de limpeza, vida útil e manutenção
também são levados em conta. Res-
salta-se que todos os equipamentos
trocadores de calor devem estar em
conformidade com os requisitos de se-
gurança da ASME (Tubular Exchange
Manufactures Association).

EXPLICANDO
A ASME, Tubular Exchanger Manufacturers Association, é uma as-
sociação de profissionais de engenharia mecânica fundada em 1880
nos Estados Unidos. A associação foi criada por conta do expressivo
número de acidentes, como explosões de caldeiras e vasos pressu-
rizados. Desse modo, os engenheiros se organizaram em uma socie-
dade para regulamentar o projeto e a fabricação de equipamentos
pressurizados.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 97

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Tipos básicos de trocadores de calor
Os trocadores de calor podem aparecer em várias configurações. Na Figura
1, por exemplo, vemos um trocador de calor no formato de serpentina, muito
utilizado em aquecedores e refrigeradores. O mais simples dos trocadores de
calor é o modelo construído por dois tubos, que podem se apresentar na forma
de escoamento paralelo e de escoamento contracorrente.

Figura 1. Trocador de calor em formato de serpentina. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/02/2020.

No escoamento paralelo, os fluidos quente e frio entram no trocador pelo


mesmo lado e escoam pela mesma direção, ao passo que no escoamento contra-
corrente os fluidos quente e frio entram no trocador por extremidades opostas,
escoando em direções opostas. É importante conhecer a densidade de área do
trocador de calor representado pela letra grega β.

EXPLICANDO
A densidade de área (β ) de um trocador de calor é a razão entre a
superfície de transferência do trocador e o seu volume. Sendo:

β=
A
V
=
[ ] m2
m3
Este índice permite a classificação dos trocadores de calor com base
em sua compacticidade. Dessa forma, pode-se afirmar que:
m2
• β > 700 m3
é classificado como compacto se for gás-líquido;
m2
• β > 400 m3 é classificado como compacto se for líquido-líquido.

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Trocadores de calor compactos são muito utilizados em sistemas onde exis-
tem limitações de peso e/ou volume dos trocadores, uma vez que esse tipo de
trocador permite que sejam alcançadas altas taxas de transferência de calor en-
tre os dois fluidos em um pequeno volume. Um exemplo comum desses trocado-
res é o trocador gás-líquido do sistema de ar-condicionado residencial. A Figura
2 apresenta os trocadores de calor de tubo duplo com escoamento paralelo e
escoamento contracorrente. A Figura 3 apresenta um trocador de calor compac-
to utilizado em sistemas de ar-condicionado residencial.

(a)

(b)

Figura 2. Trocadores de tubo duplo. Fonte: INCROPERA; DEWITT; BERGMAN, 2000. (Adaptado).

Figura 3. Trocador de calor compacto. Fonte: ÇENGEL; GHA JAR, 2012, p. 631.

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Outra configuração de escoamento é o chamado escoamento cruzado, onde
os fluidos circulam em direção perpendicular de modo que este escoamento
pode ser classificado como com mistura ou sem mistura.
O mais comum dos trocadores de calor utilizados em aplicações industriais
é o trocador do tipo casco e tubo, que é bastante utilizado e é composto por
muito tubos que são acondicionados em um casco. A permuta do calor, neste
caso, ocorrerá mediante o escoamento do fluido no interior dos tubos enquanto
o outro fluido escorrerá através do casco.
Esses trocadores de calor do tipo casco e tubo podem ser classificados de
acordo com o número de passes envolvidos no casco e nos tubos. A Figura 4
apresenta o esquema de um trocador de calor casco e tubo com um passe no
casco e um passe nos tubos.

Saída de Entrada
Caixa de distribuição
tubos do casco Chicanas
dianteira

Tubos
Caixa de distribuição Casco
Saída de Entrada de
traseira casco tubos

Figura 4. Trocador de calor do tipo casco tubo. Fonte: ÇENGEL; GHA JAR, 2012, p. 631. (Adaptado).

Outro tipo comum de trocador de calor é o chamado placa e quadro, que


consiste em uma série de placas dispostas paralelamente permitindo passagem
para o escoamento. A Figura 5 apresenta o trocador de calor do tipo placa e
quadro. Observa-se que, neste tipo de trocador, em virtude do escoamento dos
fluidos quentes e frios ocorrerem em passagens alternadas, cada escoamento
frio é cercado por dois escoamentos quentes.

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Distribuição de fluxo em um
trocador de calor a placas

Figura 5. Trocador de calor tipo placa. Fonte: VM Brasil. Acesso em: 26/02/2020.

DICA
Para saber um pouco mais sobre o trocador de calor do tipo radiador,
acesse sites de fabricantes e revendedoras de equipamentos térmicos.

Projeto e seleção
Como citado anteriormente, os trocadores de calor envolvem dois escoa-
mentos de fluidos que são separados por uma parede que geralmente é só-
lida. Dessa forma, os processos de troca de calor entre os dois fluidos são os
seguintes:
• Troca de calor do fluido quente para a parede por convecção;
• Troca de calor através da parede por condução;
• Troca de calor da parede para o fluido frio por convecção.
Coeficiente global de transferência de calor
Assim, o processo de transferência de calor dentro do trocador de calor
envolve, além de uma resistência associada à condução, duas resistências as-
sociadas à convecção. Para a definição da equação da rede de resistência dessa
transferência de calor, vamos lembrar o conceito de resistência térmica.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 101

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A resistência térmica de uma superfície de convecção contra a passagem do
calor pode ser calculada como o inverso do produto da área de superfície (A s) e
o coeficiente de convecção (h), conforme a expressão a seguir:

Rconv =
1
hA s []
K
W

A resistência térmica à condução pode ser calculada pela razão entre o com-
primento da parede ou superfície de condução e a área dessa superfície, sendo
que esta precisa ser proporcional ao coeficiente de condutividade térmica (k),
segundo a expressão:
Rcond =
L
kA s []
K
W

A análise da expressão anterior mostra que a resistência à condução de-


penderá da geometria do meio de condução e, ainda, às propriedades térmicas
deste, tal como a condutividade térmica média.
Uma vez recordadas as expressões para cálculo das resistências de transfe-
rência de calor da convecção e da condução, podemos proceder com o cálculo
do coeficiente global de transferência de calor. Veja a superfície do trocador de
calor na figura a seguir:

Transferência
de calor Do Di
Tubo externo

Fluido
externo Tubo interno
Fluido
interno Ao= πDoL
Ai= πDiL
Figura 6. Esquemático do trocador de calor. Fonte: ÇENGEL; GHA JAR, 2012, p. 633. (Adaptado).

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 102

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A resistência à condução da parede será calculada por:

Rparede = ln
( ) Do
Di
2πkL
Onde:
• Do é o diâmetro externo do tubo interno;
• Di é o diâmetro interno do tubo interno;
• k é o coeficiente de condutividade térmica do material do tubo interno;
• L é o comprimento dos tubos do trocador de calor.
Dessa forma, o coeficiente global da transferência de calor dependerá, tam-
bém, de duas trocas por convecção: a do fluido quente para a parede e a da
parede para o fluido frio. Usando representação oriunda da eletricidade, po-
demos comparar esta rede com um circuito de resistores em série, conforme
apresentado na Figura 7.

Ti To
1 1
Ri= Rparede Ro =
hiAi hoAo
Figura 7. Representação da rede de resistências térmicas.

Assim, pode-se calcular a resistência total da seguinte forma:

R = Ri + Rparede + Ro=
1
+
ln
( )
Do
Di
+
1
hi A i 2πkL ho A o
É interessante reunir todas as resistências térmicas em uma única resistên-
cia, que será chamada de R e auxiliará na expressão da taxa de transferência de
calor, onde o termo U é o coeficiente global de transferência de calor, a partir
da equação:
∆T
Q= = UA s ∆T = Ui Ai ∆T = Uo Ao ∆T
R

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 103

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Ou apenas:

1 1 1 1 1
= = =R= + Rparede +
UA s Ui A i Uo A o hi A i ho A o

Em situações onde a espessura da parede do tubo é pequena e a condutivi-


dade térmica elevada, a resistência à condução da parede tende a zero, de modo
que a resistência térmica da parede pode ser, neste caso, desconsiderada.
Para a solução de problemas envolvendo transferência de calor entre flui-
dos, é preciso conhecer suas propriedades térmicas na temperatura de trabalho.
Pensando nisto, apresentamos na Tabela 1 as propriedades da água saturada e
na Tabela 2 as propriedades do metano, metanol, isobutano e glicerina.

TABELA 1. PROPRIEDADES TÉRMICAS DA ÁGUA SATURADA

Número
Pressão Entalpia Condutividade Coeficiente de
Densidade, p. Calor específico, Viscosidade térmica, μ. de
Temp.. de de vapor- térmica, expansão volumétrica,
Ibm/ft3 cp, Btu/lbm - °F Ibm/ft - h Prandtl.
saturação ização k, Btu/h • ft - °F β, 1/R
Pr

h1. Btu/
Psat, psia Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido Vapor Líquido
T, oF Ibm

-3 -6
32.02 0.0887 62.41 0.00030 1075 1.010 0.446 0.324 0.0099 1.204 x 10 6.194 x 10 13.5 1.00 -0.038 x 10-3

40 0.1217 62.42 0.00034 1071 1.004 0.447 0.329 0.0100 1.308 x 10-3 6.278 x 10-6 11.4 1.01 0.003 x 10-3

50 0.1780 62.41 0.00059 1065 1.000 0.448 0.335 0.0102 8.781 x 10-4 6.361 x 10-6 9.44 1.01 0.047 x 10-3

-4 -6
60 0.2563 62.36 0.00083 1060 0.999 0.449 0.341 0.0104 7.536 x 10 6.444 x 10 7.95 1.00 0.080 x 10-3

70 0.3632 62.30 0.00115 1054 0.999 0.450 0.347 0.0106 6.556 x 10-4 6.656 x 10-6 6.79 1.00 0.115 x 10-3

80 0.5073 62.22 0.00158 1048 0.999 0.451 0.352 0.0108 5.764 x 10-4 6.667 x 10-6 5.89 1.00 0.145 x 10-3

-4 -6
90 0.6988 62.12 0.00214 1043 0.999 0.453 0.358 0.0110 5.117 x 10 6.778 x 10 5.14 1.00 0.174 x 10-3

100 0.9503 62.00 0.00286 1037 0.999 0.454 0.363 0.0112 4.578 x 10-4 6.889 x 10-6 4.54 1.01 0.200 x 10-3

110 1.2763 61.86 0.00377 1031 0.999 0.456 0.367 0.0115 4.128 x 10-4 7.000 x 10-6 4.05 1.00 0.224 x 10-3

-4 -6
120 1.6945 61.71 0.00493 1026 0.999 0.458 0.371 0.0117 3.744 x 10 7.111 x 10 3.63 1.00 0.246 x 10-3

130 2.225 61.55 0.00636 1020 0.999 0.460 0.375 0.0120 3.417 x 10-4 7.222 x 10-6 3.28 1.00 0.267 x 10-3

140 2.892 61.38 0.00814 1014 0.999 0.463 0.378 0.0122 3.136 x 10-4 7.333 x 10-6 2.98 1.00 0.287 x 10-3

-4 -6
150 3.722 61.19 0.0103 1008 1.000 0.465 0.384 0.0125 2.889 x 10 7.472 x 10 2.73 1.00 0.306 x 10-3

160 4.745 60.99 0.0129 1002 1.000 0.468 0.384 0.0128 2.675 x 10-4 7.583 x 10 -6 2.51 1.00 0.325 x 10-3

170 5.996 60.79 0.0161 996 1.001 0.472 0.386 0.0131 2.483 x 10-4 7.722 x 10 -6 2.90 1.00 0.346 x 10-3

-4 -6
180 7.515 60.57 0.0199 990 1.002 0.475 0.388 0.0134 2.317 X 10 7.833 x 10 2.15 1.00 0.367 x 10-3

190 9.343 60.35 0.0244 984 1.004 0.479 0.390 0.0137 2.169 x 10-4 7.972 x 10-6 2.01 1.00 0.382 x 10-3

200 11.53 60.12 0.0297 978 1.005 0.483 0.391 0.0141 2.036 x 10-4 8.083 x 10-6 1.88 1.00 0.395 x 10-3

-4 -6
210 14.125 59.87 0.0359 972 1.007 0.487 0.392 0.0114 1.917 x 10 8.222 x 10 1.77 1.00 0.412 x 10-3

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 104

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212 14.698 59.82 0.0373 970 1.007 0.488 0.392 0.0145 1.894 x 10-4 8.250 x 10-6 1.75 1.00 0.417 x 10-3

220 17.19 59.62 0.0432 965 1.009 0.492 0.393 0.0148 1.808 x 10-4 8.333 x 10-6 1.67 1.00 0.429 x 10-3

-4 -6
230 20.78 59.36 0.0516 959 1.011 0.497 0.394 0.0152 1.711 x 10 8.472 x 10 1.58 1.00 0.443 x 10-3

-4 -6
240 24.97 59.09 0.0612 952 1.013 0.503 0.394 0.0156 1.625 x 10 8.611 x 10 1.50 1.00 0.462 x 10-3

250 29.82 58.82 0.0723 946 1.015 0.509 0.395 0.0160 1.544 x 10-4 8.611 x 10-6 1.43 1.00 0.480 x 10-3

-4 -6
260 35.42 58.53 0.0850 939 1.018 0.516 0.395 0.0164 1.472 x 10 8.861 x 10 1.37 1.00 0.497 x 10-3

-4 -6
270 41.85 58.24 0.0993 932 1.020 0.523 0.395 0.0168 1.406 x 10 9.000 x 10 1.31 1.01 0.514 x 10-3

280 49.18 57.94 0.1156 925 1.023 0.530 0.395 0.0172 1.344 x 10-4 9.111 x 10-6 1.25 1.01 0.532 x 10-3

-4 -6
290 57.53 57.63 0.3390 918 1.026 0.538 0.395 0.0177 1.289 x 10 9.250 x 10 1.21 1.04 0.549 x 10-3

-4 -6
300 66.98 57.31 0.1545 910 1.029 0.547 0.394 0.0182 1.236 x 10 9.389 x 10 1.16 1.02 0.566 x 10-3

320 89.60 56.65 0.2033 895 1.036 0.567 0.393 0.0191 1.144 x 10-4 9.639 x 10-6 1.09 1.03 0.636 x 10-3

-4 -6
340 117.93 55.95 0.2637 880 1.044 0.590 0.391 0.0202 1.063 x 10 9.889 x 10 1.02 1.04 0.656 x 10-3

-5 -5
360 152.92 55.22 0.3377 863 1.054 0.617 0.389 0.0213 9.972 x 10 1.013 x 10 0.973 1.06 0.681 x 10-3

380 195.60 54.46 0.4275 845 1.065 0.647 0.385 0.0224 9.361 x 10-5 1.041 x 10-5 0.932 1.08 0.720 x 10-3

-5 -5
400 241.1 53.65 0.5359 827 1.078 0.683 0.382 0.0237 8.833 x 10 1.066 x 10 0.893 1.11 0.771 x 10-3

-5 -5
450 422.1 51.46 0.9082 775 1.121 0.799 0.370 0.0271 7.722 x 10 1.130 x 10 0.842 1.20 0.912 x 10-3

500 680.0 48.95 1.479 715 1.188 0.972 0.352 0.0312 6.833 x 10-5 1.200 x 10-5 0.830 1.35 1.111 x 10-3

-5 -5
550 1046.7 45.96 4.268 641 1.298 1.247 0.329 0.0368 6.083 x 10 1.280 x 10 0.864 1.56 1.445 x 10-3

-5 -5
600 1541 42.32 3.736 550 1.509 1.759 0.299 0.0461 5.389 x 10 1.380 x 10 0.979 1.90 1.883 x 10-3

650 2210 37.31 6.152 422 2.086 3.103 0.267 0.0677 4.639 x 10-5 1.542 x 10-5 1.30 2.54 -

700 3090 27.28 13.44 168 13.80 25.90 0.254 0.1964 -5 -5 6.68 9.71 -
3.417 x 10 2.044 x 10

705.44 3204 19.79 19.79 0 - - - - -5 -5 - - -


2.897 x 10 2.897 x 10

Fonte: ÇENGEL; GHA JAR, 2012, p. 878.

TABELA 2. PROPRIEDADES TÉRMICAS DO METANO, METANOL, ISOBUTANO E GLICERINA

Número
Conductiv-
Calor espe- Difusividad Viscosidad cinemáti- expansión.
Temp., Densidad, idad Viscosidad
cífico, Cp, térmica, dinâmica. ca, de volumétrica,
T, °F p, lbm/ft3 térmica, k. v, ft2/s
Btu/lbm • R a, ft2/s p, lbm/ft • h Prandtl. P. 1/R
Btu/h • ft • R
Pr

Metano

-280 27.41 0.8152 0.1205 1.497 x 10-6 1.057 x 10-4 3.857 x 10-6 2.575 0.00175

-260 26.43 0.8301 0.1097 1.389 x 10-6 8.014 x 10-5 3.032 x 10-6 2.183 0.00192

-240 25.39 0.8523 0.0994 1.276 x 10-6 6.303 x 10-5 2.482 x 10-6 1.945 0.00215

-220 24.27 0.8838 0.0896 1.159 x10-6 5.075 X 10-5 2.091 x 10-6 1.803 0.00247

-200 23.04 0.9314 0.0801 1.036 x 10-6 4.142 x 10-5 1.798 x 10-6 1.734 0.00295

-180 21.64 1.010 0.0709 9.008 x 10-7 3.394 x 10-5 1.568 x 10-6 1.741 0.00374

-160 19.99 1.158 0.0616 7.397 x 10-7 2.758 x 10-5 1.379 x 10-6 1.865 0.00526

-140 17.84 1.542 0.0518 5.234 x 10-7 2.168 x 10-5 1.215 x 10-6 2.322 0.00943

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 105

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 105 03/03/20 15:43


Metanol [C3H3(OH)]

70 49.15 0.6024 0.1148 1.076 x 10-6 3.872 x 10-4 7.879 x 10-6 7.317 0.000656

90 48.50 0.6189 0.1143 1.057 x 10 -6


3.317 x 10 -4
6.840 x 10-6 6.468 0.000671

110 47.85 0.6373 0.1138 1.036 x 10-6 2.872 x 10-4 6.005 x 10-6 5.793 0.000691

130 47.18 0.6576 0.1133 1.014 x 10-6 2.513 x 10-4 5.326 x 10-6 5.250 0.000716

150 46.50 0.6796 0.1128 9.918 x 10-7 2.218 x 10-4 4.769 x 10-6 4.808 0.000749

170 45.80 0.7035 0.1124 9.687 x 10-7 1.973 x 10-4 4.308 x 10-6 4.447 0.000789

Isobutano (R600a)

-150 42.75 0.4483 0.0799 1.157 x 10-6 6.417 x 10-4 1.500 x 10-6 12.96 0.000785

-100 41.06 0.4721 0.0782 1.120 x 10 -6


3.669 x 10 -4
8.939 x 10-6 7.977 0.000836

-50 39.31 0.4986 0.0731 1.036 x 10-6 2.376 X 10-4 6.043 x 10-6 5.830 0.000908

0 37.48 0.5289 0.0664 9.299 x 10-7 1.651 x 10-4 4.406 x 10-6 4.738 0.001012

50 35.52 0.5643 0.0591 8.187 x 10-7 1.196 x 10-4 3.368 x 10-6 4.114 0.001169

100 33.35 0.6075 0.0521 7.139 x 10-7 8.847 x 10-5 2.653 x 10-6 3.716 0.001421

150 30.84 0.6656 0.0457 6.188 x 10-7 6.558 x 10-5 2.127 x 10-6 3.437 0.001883

200 27.73 0.7635 0.0400 5.249 x 10-7 4.750 x 10-5 1.713 x 10-6 3.264 0.002970

Glicerina

32 79.65 0.5402 0.163 1.052 x 10-6 7.047 0.08847 84101

40 79.49 0.5458 0.1637 1.048 x 10-6 4.803 0.06042 57655

50 79.28 0.5541 0.1645 1.040 x 10-6 2.850 0.03594 34561

60 79.07 0.5632 0.1651 1.029 x 10-6 1.547 0.01956 18995

70 78.86 0.5715 0.1652 1.018 x 10-6 0.9422 0.01195 11730

80 78.66 0.5794 0.1652 1.007 x 10 -6


0.5497 0.00699 6941

90 78.45 0.5878 0.1652 9.955 x 10 -7


0.3756 0.004787 4809

100 78.24 0.5964 0.1653 9.841 x 10-7 0.2277 0.00291 2957

Fonte: ÇENGEL; GHA JAR, 2012, p. 882.

Suponha que o isobutano tenha de ser resfriado com água em um trocador


de calor de duplo tubo, onde os tubos internos de cobre possuem 3 cm de es-
pessura e o tubo externo possui diâmetro de 4 cm. Considere que o fluido que
será resfriado escoe em taxa de vazão de 1,0 kg/s, que a água escoe em 0,8 kg/s
e que o fluido a ser resfriado tem temperatura média de 75 °C, ao passo que a
temperatura média da água é de 50 °C. Suponhamos também que o trocador
tenha a resistência de condução desprezível devido à espessura do tubo ser des-
prezível. Para calcular o coeficiente global de transferência de calor, seguimos os
seguintes passos:

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 106

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 106 03/03/20 15:43


Primeiramente, deve-se observar a Tabela 1, que apresenta as propriedades
térmicas da água saturada. Em 50 °C, suas propriedades são:
kg
ρ = 998,1
m3
W
k = 0,644
m

Pr = 3,55
kg
μ = 0,547.10 -3 .s
m

Para o isobutano, as propriedades térmicas são:

kg
ρ = 478,5
m3
W
k = 0,0757
m

Pr = 3,363
kg
μ = 8,785.10 -5 .s
m
Examinando exclusivamente a água, deve-se calcular a velocidade para, em
seguida, determinar o número de Reynolds a fim de verificar se se refere a um
escoamento laminar ou turbulento:

Qi Qi 0.8
V= = = = 3,5623

( ( ))
ρAc D
2 998.1 x (π(0,015)2 )
ρ π
2

Determinando o número de Reynolds:

μ 0,547.10 -3
v= = = 5,48.10 -7
ρ 998,1

VD 3,5623 x 0,03
Re = = = 195016,42
v 5,48.10 -7

Uma vez que o número de Reynolds é superior à 10.000, o escoamento


é chamado de turbulento. Podemos, agora, obter o número de Nusselt:

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 107

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 107 03/03/20 15:43


hD
Nu = 0,023Re0,8 Pr0,4 = 651,44
k
Logo:
kNu 0,644 x 651,44 W
h= = = 13984,24 .K
D 0,03 m2
Feito isso, deve-se repetir exatamente a mesma análise para o isobutano,
que está percorrendo o espaço anular entre os dois tubos, logo:
D = Do - Di = 0,04 - 0,03 = 0,01 m
Calculando a velocidade média e o número de Reynolds, temos:

Qi Qi 1 m
V= = = = 2,98

( [( ) ( ) ])
ρAc Do
2
D1
2 478,5 x (7.10 ) -4
s
ρ π -
2 2

μ 8,785 . 10 -5
v= = = 1,84 .10 -7
ρ 478,5

VD 2,98 x 0,01
Re = = = 161956,52
v 1,84 . 10 -7

Uma vez que o número de Reynolds é superior a 10.000, o escoamento é de-


nominado turbulento. Vamos obter o número de Nusselt:
hD
Nu = = 0,023Re0,8 Pr0,4 = 549,47
k
Logo:
kNu 0,0757 x 549,47 W
Nu = = = 4159,4 .K
D 0,01 m2
Assim sendo, após os cálculos dos coeficientes de transferência de calor por
convecção, podemos calcular o coeficiente global de transferência de calor usan-
do a equação:
1 1 1
~ +
U hi ho

A equação poderá ser utilizada somente porque foi informado pelo enuncia-
do que o trocador possui resistência de condução desprezível devido à espessu-
ra do tubo também ser desprezível.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 108

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 108 03/03/20 15:43


Logo:
1 1 1 W
~ + = 3205,86
U 13984,24 4159,4 m2
Portanto, o valor aproximado do coeficiente global de transferência de calor
é U = 3205,86 W/m2.
Conforme observado no desenvolvimento do exemplo anterior, as condições
físicas influem significativamente na determinação do coeficiente global de transfe-
rência de calor. Outro ponto que deve ser constatado é que o coeficiente global de
transferência de calor tem seu valor muito mais influenciado pelo menor coeficiente
de transferência pela convecção. Isso ocorre porque o inverso de um número gran-
de resulta em um resultado pequeno. Desse modo, o coeficiente global será muito
mais próximo ao menor coeficiente de convecção. Analisando a questão pelo viés
da física, observamos que o coeficiente de convecção menor criará uma espécie de
“estrangulamento” no caminho do fluxo de calor.
Ressaltamos que projetos de trocadores de calor são realizados a partir de cál-
culos minuciosos do coeficiente global de transferência de calor. Todavia, conhecer
alguns valores aproximados é bastante interessante e útil em situações de projetos.

Fator de incrustação
Assim como a maioria dos sistemas físicos, os trocadores de calor não são
imunes à ação do tempo. Uma das ocorrências mais naturais dos trocadores
de calor é o acúmulo de depósitos nas superfícies internas dos permutadores.
Essa camada de depósitos que pode ser composta, inclusive, por sujeira, pro-
voca reação natural ao processo de troca de calor. Quando há muito depósito
nas tubulações, existe a tendência de ocorrer um aumento natural da resis-
tência à transferência de calor, de diminuir a velocidade de escoamento etc.,
reduzindo significativamente a eficiência do processo de troca.
As incrustações podem ser oriundas do próprio fluido de trabalho, da sua
interação com a superfície interna dos trocadores ou mesmo da corrosão. A
incrustação causa prejuízos econômicos pela perda do rendimento global do
sistema de troca de calor, pelo aumento da potência de bombeamento, pelo
aumento da resistência ao escoamento, pela necessidade de manutenção e
limpeza dos trocadores, entre outras consequências.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 109

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 109 03/03/20 15:43


Dentre os tipos de incrustação, destacam-se:
• Incrustação por precipitação: é o tipo mais comum de incrustação e se
caracteriza pela cristalização de substâncias presentes no fluido sobre a super-
fície interna do trocador, provocando os chamados “depósitos”;
• Incrustação por solidificação: quando ocorre de um líquido se solidificar
sobre a superfície sub-resfriada;
• Incrustação biológica: alguns fluidos (como a água, por exemplo) podem
conter micro-organismos que podem se acumular na superfície interna do tro-
cador;
• Incrustação química (corrosão): bastante comum em ambientes indus-
triais. Pode ser evitado utilizando revestimento nos tubos metálicos com vidro,
por exemplo, ou utilizando tubo plástico no lugar de tubos metálicos. Também
é possível usar metais inoxidantes, empregar soluções antioxidantes nos flui-
dos de trabalho, entre outros procedimentos;
• Outros tipos menos comuns.
O efeito a logo prazo é a deterioração do sistema de troca de calor. Por isso,
na hora do projeto, deve-se considerar esse fenômeno inserindo nos cálculos o
chamado fator de incrustação. É importante considerar a incrustação no proje-
to, pois a hora parada dos trocadores e a constante manutenção podem causar
prejuízo maior que o custo superior de um trocador maior ou mais eficiente.
O fator de incrustação é influenciado pela temperatura de operação e pela
velocidade dos fluidos de trabalho. Com velocidades maiores, torna-se mais
difícil acumular partículas no interior dos tubos. Porém, o grande influenciador
do fator de incrustação é o tempo de utilização do trocador.

Figura 8. Tubo com incrustação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/02/2020.

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 110

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 110 03/03/20 15:43


Como supracitado, é necessário levar em conta o fator de incrustação no
projeto de trocadores de calor. Para trocadores de calor do tipo casco tubo,
pode-se utilizar a relação:

1
=
1
=
1
=R=
1
+
R f,i
+
ln
( )
Do
Di
+
R f,o
+
1
UA s Ui A i Uo A o hi A i Ai 2πkL Ai ho A o

Onde R f,o e R f,i são os chamados fatores de incrustação do lado do casco e do


lado do tubo, respectivamente. Existe uma grande incerteza e imprecisão nos
valores de incrustação disponíveis em tabelas e manuais, porém, ainda assim
são melhores do que não utilizar nenhum tipo de consideração e devem ser
levados em conta para avaliação dos trocadores de calor. A seguir, desenvolve-
remos um exemplo de cálculo acerca do fator de incrustação mostrando seu
impacto nos trocadores de calor.
Usaremos como exemplo um trocador de calor do tipo casco e tubo cujo tubo
interno possui coeficiente de troca de calor k = 18,20 W/m.K, além de diâmetro
interno de 2 cm, e externo de 2,2 cm. O casco possui diâmetro interno de 3,8 cm.
Os coeficientes de transferência de calor por convecção são de 950 W/m.K na
superfície interna do tubo e 1600 W/m.K em sua superfície externa. Os fatores
de incrustação do lado do tubo são de 9.10 -5 m2.K/W e do lado do casco de 0,0002
m2.K/W. Solicita-se: a) determinar a resistência térmica do trocador de calor; b)
os coeficientes globais de troca de calor; e c) analisar o impacto das resistências
de incrustação no valor da resistência térmica total do trocador de calor (percen-
tualmente). O comprimento total do trocador é 2 metros.
Primeiramente, vamos separar os valores já identificados:

W
• k = 18,20 .K
m
• Di = 2 cm
• Do = 2,2 cm
W
• hi = 950 K
m2
W
• ho = 1600 K
m2

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 111

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 111 03/03/20 15:43


K
•R f,i = 9.10 -5 m2.
W
K
•R f,o = 9.10 -4 m2.
W
• L= 2 m
Para a resolução do item a:
As áreas das superfícies cilíndricas serão calculadas por:
Ai = 2πRi L = πDi L= π(0,02m)(2m) = 0,1256 m2
e
Ao = 2πRo L = πDo L = π(0,022m)(2m) = 0,13816 m2
Estes valores deverão ser substituídos na equação:

1
=
1
=
1
=R=
1
+
R f,i
+
ln
( ) Do
Di
+
R f,o
+
1
UA s Ui A i Uo A o hi A i Ai 2πkL Ao ho A o

Logo,

R=
1
+
R f,i
+
ln
( )Do
Di
+
R f,o
+
1
hi A i Ai 2πkL Ao ho A o

R=
1
+
9.10 -5
+
ln
( )
0,022
0,02
+
2.10 -4
+
1
(950)(0,1256) 0,1256 2π(18,20)(2) 0,13816 (1600)(0,13816)

R = (8,38.10 -3 + 7,17.10 -4 + 4,16.10 -4 + 1,48.10 -3 + 4,52.10 -3)

K
R = 0,015513
W
Para a resolução do item b:
K
O valor da resistência térmica é R = 0,015513 W .
Os valores dos coeficientes globais de transferência de calor são os seguintes:

1 1 W
Ui = = = 513,24 K
RAi (0,015513)(0,1256) m2

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 112

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1 1 W
Uo = = = 466,58 K
RAo (0,015513)(0,13816) m2

Para a resolução do item c:


O valor total da resistência térmica é:
K
R = 0,015513
W
O valor das influências dos fatores de incrustação são:
K
Rincr = 7,17.10 -4 + 1,48.10 -3 = 2,197.10 -3
W
O percentual é:

2,197.10 -3
. 100% = 14,17%
0,015513

Logo, 14,17% do valor da resistência térmica é consequência da influência


dos fatores de incrustação.

Método da diferença de temperatura média logarítmica


Trocadores de calor são projetados para funcionar por longos períodos.
Dessa forma, podem ser considerados como dispositivos de escoamento per-
manente. Com o passar do tempo, fatores como a incrustação podem alterar
o desempenho e o funcionamento dos trocadores. Porém, a vazão mássica
dos fluidos deverá permanecer a mesma, assim como as velocidades de es-
coamento. Os fluidos podem ter alterações em seus calores específicos em
função da temperatura. Porém, pode-se recorrer a intervalos de temperatura
onde o calor específico possa ser considerado constante, correndo risco de
pouca perda de precisão.
Para realizar o equacionamento para análise dos trocadores de calor, algu-
mas suposições e considerações são importantes:
• Avalia-se o sistema em condições de regime permanente;
• Considera-se uma distribuição uniforme de velocidades, tanto do fluido
quente quanto do fluido frio;
• Considera-se a existência de variação de temperatura somente em dire-
ção axial;

SISTEMAS TÉRMICOS E FLUIDOMECÂNICOS 113

SER_ENGMEC_SISTERFLUI_UNID4.indd 113 03/03/20 15:43


• As propriedades térmicas dos fluidos são consideradas propriedades
constantes;
• Do mesmo modo que as propriedades térmicas, considera-se o coefi-
ciente global de transferência de calor U constante;
• Por fim, é necessário considerar as perdas desprezíveis para o ambiente,
tanto em energia térmica quanto em eventuais mudanças na energia cinética
e/ou potencial.
A primeira lei da termodinâmica determina que as trocas de calor do flui-
do quente para o fluido frio sejam iguais. Assim, para o fluido frio:
·
Q = m· c cpc (Tc,sai - Tc,entra)
Para o fluido quente:
·
Q = m· h cph (Th,sai - Th,entra)
Onde:
• m· h é a vazão mássica do fluido quente;
• cph é o calor específico do fluido quente;
• Th é a temperatura de saída do fluido quente;
• m· c é a vazão mássica do fluido frio;
• cpc é o calor específico do fluido frio;
• Tc é a temperatura de saída do fluido frio.
Vale a observação de que a taxa de transferência de calor é considerada
como positiva na direção do fluido quente para o fluido frio. Usualmente, uti-
liza-se um fator que relaciona a vazão dos fluidos com seu calor específico, a
capacidade térmica:
Ch = m· hcph

Cc = m· ccpc

Nos trocadores de calor mais comuns (evapores e condensadores) os fluidos


passam por processos de mudança de fase no interior desses permutadores,
logo, a transferência de calor para o fluido deverá promover esta mudança de
fase, utilizando a entalpia de vaporização ou do líquido para cálculos específicos.
Para relacionar a taxa de transferência de calor com o coeficiente global de
transferência de calor, com a área da superfície de transferência e com a varia-
ção média da temperatura, usamos a equação:
·
Q = UA s ΔTm

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No decorrer do comprimento do trocador de calor, apesar de dimensionado
corretamente, ocorrem variações naturais nas temperaturas dos fluidos quen-
te e frio. Isso implica numa diferença, também normal, da variação de tempe-
ratura entre os dois fluidos no interior do permutador de calor.
Isto posto, justifica-se a utilização do valor médio da diferença de tempera-
tura. A fim de identificar essa relação, utilizaremos a Figura 2. A diferença de
temperatura entre os dois fluidos é grande na entrada, porém, reduz sobre-
maneira na saída dos trocadores, neste caso, de duplo tubo. Esse processo é
usual, pois a temperatura do fluido frio aumenta em direção à saída, ao passo
que a temperatura do fluido quente diminui.
Dessa forma, o balanço de energia em cada fluido será expresso por:

·
δ Q = - m· hcph dTh
e
·
δ Q = m· ccpc dTc
Onde:
• mh é a vazão mássica do fluido quente;
• cph é o calor específico do fluido quente;
• Th é a temperatura de saída do fluido quente;
• m· c é a vazão mássica do fluido frio;
• cpc é o calor específico do fluido frio;
• Tc é a temperatura de saída do fluido frio.
Observando as duas equações acima, não é difícil concluir que a taxa de
perda de calor do fluido quente é igual à taxa de ganho de calor do fluido frio.
Logo:
·
δQ
dTh =
m· hcph

·
δQ
dTc =
m· ccpc

Substituindo na expressão anterior:

·
dTh - dTc = d(Th - Tc ) = - δ Q ( 1
m· hcph
+
1
m· ccpc )
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Relacionando com a taxa de transferência de calor global

·
δ Q = U(Th - Tc )dA s

Substituindo na equação:

( )
d(Th - Tc ) 1 1
= -UdA s +
Th - Tc m· hcph m· ccpc

Integrando ambos os lados da equação, temos:

( )
d(Th,sai - Tc,sai ) 1 1
In = -UdA s +
Th,entra - Tc,entra m· hcph m· ccpc

De modo que:
·
Q = UA s ΔTlm

Onde ΔTlm é a diferença média de temperatura logarítmica.

ΔT1 - ΔT 2
ΔTlm =

( )
ΔT1
In
ΔT 2

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Sintetizando
Trocadores de calor são dispositivos que facilitam sobremaneira a trans-
ferência de calor. Apresentamos as características dos trocadores de calor e
suas aplicações. Os permutadores foram classificados de acordo com suas ca-
racterísticas construtivas e pela forma de realização da transferência de calor.
O processo de transferência de calor dentro dos trocadores foi definido em
termos das convecções e da condução realizadas em seu interior, calculando,
a partir disso, o coeficiente global de transferência de calor. O coeficiente au-
xilia no processo de dimensionamento e projeto do trocador. A incrustação foi
discutida, apresentando seus tipos principais, suas prováveis causas e como
esse fenômeno implica nos cálculos do projeto de trocadores. A resistência
térmica foi calculada, primeiro, sem considerar o fator de incrustação e, logo
em seguida, realizou-se exemplo considerando este fator. A análise, o projeto
e a seleção dos trocadores foram apresentados observando os aspectos técni-
cos e econômicos para projetos, tais como: desempenho térmico, desempenho
operacional, manutenção, flexibilidade operacional, custo, perda de carga, en-
tre outros. O método da diferença de temperatura média logarítmica foi apre-
sentado para utilização na análise dos trocadores de calor.

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(Mestrado em Ciências e Engenharia de Petróleo) – Faculdade de Engenharia
Mecânica e Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Cam-
pinas, 2010.

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