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Quem matou Marilyn Monroe?

Ana Elisa Muçouçah


Orientadora: Heloisa Pontes
Resumo: Este artigo tem como objeto de estudo a persona cinematográfica de Marilyn
Monroe (1926 -1962) tal qual construída por quatro trabalhos biográficos distintos. Aqui
pretende-se realizar uma análise da disputa de discursos – privilegiando as temáticas de
gênero e sexualidade – presentes nas narrativas sobre a morte da atriz contidas em cada
uma das biografias estudadas. Isto porquê, compreende-se que enquanto um produto
cultural, a persona cinematográfica de Marilyn deve ser historicizada, o que significa
admitir que esta é mediada pelos contextos históricos, sociais e culturais em que está sendo
produzida e ou reproduzida. Para tanto, as biografias selecionadas para a analise foram:
“Marilyn” (1973) de Norman Mailer, “Marilyn: Norma Jeane” (1986) escrita por Gloria
Steinem “Marilyn: A biography” (1998) de Donald Spoto e, “Fragmentos: poemas,
anotações intimas e cartas” (2012) com textos de autoria da própria Monroe.

Palavras chave: 1. Produção Cultural, 2. Gênero e Sexualidade, 3. Cinema


Hollywoodiano, 4. Marilyn Monroe, 5. Biografias

“I knew I belonged to the public and to the world, not because I


was talented or even beautiful, but because I had never belonged
to anything or anyone else.” 1

Tomada I: Introdução

 Luzes, Câmera ...

O ano é 1961, o local é o deserto interior do estado de Nevada. Marilyn Monroe


filmava aquele que seria seu último filme lançado em vida, “Os Desajustados” (The
Misfits), direção de John Huston e texto do até então marido da atriz, Arthur Miller. No
enredo da película, Monroe vivia Roslyn Taber, uma atraente recém divorciada, e
contracenava com seu ídolo de infância Clarke Gable, em conjunto com Montgomery Cliff,
1
formava o trio de estrelas da obra. Na cena em questão, Monroe encontrava-se na entre
lençóis com Gable, seu par romântico no longa-metragem, e propositalmente insistia em
deixar o mamilo desnudo visível à câmera, apesar da constante censura por parte da direção
de John Huston.

...Ação!

Seja no que diz respeito a sua carreira, tão bem-sucedida quanto conturbada, ou sua
vida pessoal, igualmente espetacular – e espetacularizada – aos olhos do público, Marilyn
Monroe tem estado por décadas sob todos os holofotes como grande estrela do imaginário
na sociedade ocidental. Presença marcante em uma significativa parcela da produção
cultural de massas desde a segunda metade do século XX, Marilyn protagoniza nossas
construções contemporâneas de cinema americano, Hollywood, enquanto símbolo de
beleza, sensualidade e glamour. Direta ou indiretamente, a atriz está em todos os lugares, da
capa de revista que levanta a saia de Hilary Clinton para pinta-la como indecente, do álbum
dos Beatles que tentava sumarizar a cultura de massas em uma única imagem, o ensaio para
a Playboy de Lindsay Lohan que mimetiza a nudez de Monroe até a homenagem dos
diamantes Chopard 2. Se em suas próprias palavras a atriz pertencia ao público, a música, o
design, o cinema, os estudos iconográficos e o mundo social em seus diversos âmbitos
apossaram-se de Marilyn, bem como do poder de lhe conferir sentidos e significados
diversos que convergem, conflitam, transformam-se, constroem-se e reconstroem-se.

No território da produção biográfica, não seria diferente, a produção de trabalhos sobre


a atriz é extensa e complexa, mas acima de tudo diversa: tomando como exemplo os
acontecimentos que se desenrolaram durante as gravações do filme “Os Desajustados”, isto
se torna evidente. O primeiro parágrafo deste texto encerra os pontos de concordância entre
os biógrafos da atriz sobre o caso de nudez parcial mencionado, a partir daí as narrativas
biográficas tornam-se concorrentes. Se em sua obra Gloria Steinem opta por tratar deste
episódio, bem como do filme, de forma pouco extensa, sem conceder-lhe grande foco ou
nível de detalhamento, na coletânea “Fragmentos” evidencia-se por meio dos textos
selecionados como o período em que Monroe passou nos estúdios de filmagem da obra e
como um todo como esposa de Miller, foi definidor para o legado da atriz, repleto de

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intensas emoções e crescimento, enquanto se escolhe também ignorar o divorcio entre
Marilyn e o dramaturgo que ocorreria em seguida. É, no entanto, entre Donald Spoto e
Norman Mailer que a verdadeira batalha em torno deste episódio é travada. Mailer utiliza-
se do mamilo descoberto como uma evidencia da malicia em Monroe, a prova definitiva de
que a atriz desafiaria diretores e desrespeitaria autoridades para conseguir se manter
sempre no centro das atenções, a sexualidade usada como arma suprema para conquistar os
anseios egoístas de Marilyn, contra os quais os homens da vida da atriz com quem Mailer
tanto se solidariza e se identifica, estariam indefesos 3. Spoto, por outro lado, toma o caso
como exemplo da espontaneidade, bom humor e opinião forte da atriz, o biografo narra que
Marilyn teria argumentado “Qual é, John! Vamos provocar o pessoal da censura!”. 4 O
mamilo exposto é para Donald Spoto de alguma forma um posicionamento da atriz diante
ao contexto politico do cinema hollywoodiano, e mais do que isso, uma prova de que a atriz
pensava, e ansiava por liberdade criativa e agencia sobre a própria produção artística.

A disputa sobre os sentidos da insistência de Marilyn em contrariar o diretor, e de toda


a agitação no set de filmagem de “Os Desajustados” figura como um dos múltiplos duelos
travados por seus biógrafos pela legitimidade de suas narrativas acerca da trajetória de
Monroe, e mais do que isso pela legitimidade dos significados que constroem com essas
narrativas, de forma consciente ou não. Se estudamos com quatro autores, devemos
entender que tratamos, em decorrência, de quatro perspectivas diferentes sobre a infância
de Marilyn conturbada por idas e vindas do orfanato e um complexo relacionamento com
sua mãe, sobre os anos que marcaram o auge de sua carreira cinematográfica e aqueles que
lembrados como o declínio da mesma, quatro chave explicativas sobre a morte prematura
da atriz em 1962, e por fim, consequentemente de quatro Marilyns – ou melhor quatro
formas de compreender e objetivar uma narrativa sobre a atriz e sua persona
cinematográfica– social e historicamente construídas.

No presente artigo, buscamos investigar que Marilyn são essas, como elas se constroem
e que discursos perpassam sua construção, através da análise do modo com que cada
biógrafo trata a morte da atriz em sua obra, partindo do pressuposto de que ao narrar,
explicar e dimensionar o fim da vida de Monroe, os autores estariam também evidenciando

4
como compreendiam a artista, quais concepções de gênero estão subjacentes à esta
compreensão e fundamentalmente: como esta forma de compreender as questões de gênero
e sexualidade e consequentemente a figura de Marilyn é própria de uma experiencia
específica do mundo social, histórica e culturalmente localizada.

Apesar de se proporem como tal, as biografias não são a verdade da atriz, mas várias
verdades concorrendo ao mesmo tempo

Questões teóricas:

-Bourdieu

- Persona – Sobral;Sarlo

Tomada III: Desenvolvimento II – Analise

Tomada

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