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CADERNOS DE PARIS
&
MANUSCRITOS
ECONÔMICO-FILOSÓFICOS
DE 1844
K a r l M a r x
CADERNOS DE PARIS
&
MANUSCRITOS
ECONÔMICO-FILOSÓFICOS
DE 1844
1ª edição
EXPRESSÃO POPULAR
NOTA EDITORIAL......................................................................................... 7
MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS
DE 1844 KARL MARX
APÊNDICE
ALIENAÇÃO E ESTR ANHAMENTO.......................................................... 451
Sergio Lessa
NOTA EDITORIAL
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Daí:
A relação da propriedade privada com a propriedade privada é já
uma relação em que a propriedade privada alienou-se de si mes-
ma. O dinheiro, que encarna esta relação, é, consequentemente,
a alienação da propriedade privada, a abstração da sua natureza
específica, pessoal (idem).
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da sua vida; que, na sua produção, produz o seu nada; que o seu
poder sobre o objeto é o poder do objeto sobre ele; que, senhor da
sua produção, aparece como escravo dela (cf., infra, a p. 208-209).
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E a produção não tem apenas esta finalidade útil; tem uma fina-
lidade egoísta: o homem só produz para possuir para si mesmo.
O objeto da sua produção é a materialização da sua necessidade
imediata, egoísta (cf., infra, a p. 216).
Por isto,
sob a propriedade privada, o trabalho é alienação de vida, por-
que trabalho para viver, para conseguir um meio de viver. Meu
trabalho não é a minha vida [...]. Sob a propriedade privada, a
minha individualidade está alienada a tal grau que esta atividade
[o trabalho] me é detestável, motivo de tormento; é, antes, um
simulacro de atividade, uma atividade puramente forçada, que
me é imposta por um constrangimento exterior e contingente e
não por uma exigência interna e necessária (cf., infra, a p. 222).
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não concebe [begreift] essas leis, i. é, depois não mostra como elas
provêm da essência da propriedade privada. A economia nacional
não nos dá nenhum esclarecimento sobre o fundamento da divisão
entre trabalho e capital, entre capital e terra (cf. infra, p. 302-303).
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Notas
1 A bibliografia não apresenta uma data precisa: há fontes que apontam outubro e
outras novembro. Cf., entre as primeiras, A. Cornu, Carlos Marx. Federico Engels.
La Habana: Ed. Ciencias Sociales, II, 1976, p. 371; M. Rubel, Crônica de Marx. São
Paulo: Ensaio, 1991, p. 25; P. Vranicki, Storia del marxismo. Roma: Riuniti, 1973,
I, p. 83; P. Fougeyrollas, Marx. São Paulo: Ática, 1989, p. 14; a última grande bio-
grafia “oficial” soviética, redigida por P. N. Fedosseiev et alii, Karl Marx. Biografia.
Lisboa/Moscou: Avante!-Progresso, 1983, p. 53; V. Barnett, Marx. Buenos Aires:
Javier Vergara, 2010, p. 42 e também J. Sperber, Karl Marx. Uma vida no século XIX.
Barueri: Amarilys, 2014, p. 129. Assinalam novembro R. Garaudy, Karl Marx. Rio
de Janeiro: Zahar, 1967, p. 235; a cronologia aposta a K. Marx-F. Engels, Manifeste
du Parti Communiste. Paris: Flammarion, 1998, p. 199 e a competente apresentação
de Rubén Jaramillo a K. Marx, Escritos de juventud sobre el derecho. Textos 1837-1847.
Barcelona: Anthropos, 2008, p. 35. Outras mencionam, simplesmente, a partida
da Alemanha “no outono de 1843” (cf., por exemplo, J. Hampden Jackson, Marx,
Proudhon e o socialismo europeu. Rio de Janeiro: Zahar, 1963, p. 40).
Na bibliografia referenciada ao longo desta apresentação, só não indiquei em por-
tuguês os títulos listados quando não há tradução deles ou – e é possível que isto
tenha ocorrido em vários casos – quando as desconheço.
2 As autoridades prussianas, que tinham Marx sob observação desde os tempos da Rhe-
inische Zeitung [Gazeta Renana – cf. infra] (1842-1843), exerciam contínua vigilância
sobre os emigrados alemães em Paris. Logo depois da publicação do número único
dos Deutsch-Französische Jahrbücher [Anais-Franco Alemães] (cf. infra), proibiram a
circulação do periódico na Alemanha e determinaram aos guardas de fronteira (16
de abril de 1844) a prisão de seus responsáveis (Marx, Ruge e o poeta G. Herweg);
pressionando o governo francês a expulsar Marx de seu território – notadamente
após a sua colaboração com o jornal Vorwärts! [Avante!] (cf. infra) –, tiveram enfim
êxito: na última semana de janeiro de 1845, o Ministro do Interior francês (Guizot)
assinou a ordem de expulsão. A 3 de fevereiro, Marx deixa Paris – residirá, até março
de 1848, na Bélgica (em Bruxelas, primeiro na zona leste da cidade: Rua da Aliança,
nº 5, depois na Praça Sainte-Gudule e na Rua d’Orléans, nº 42).
3 É neste período parisiense que Marx conhece a Liga dos Justos, mas não se vincula a
ela; só posteriormente, em Bruxelas, manterá os contatos – juntamente com Engels
– de que resultarão as transformações na organização, tornada Liga dos Comunistas,
na qual militarão e para a qual redigirão o Manifesto do Partido Comunista.
Sobre a história da Liga e da vinculação de Marx e Engels a ela, cf. Engels, “Contri-
buição à história da Liga dos Comunistas”, in K. Marx-F. Engels, Obras escolhidas
em três volumes. Rio de Janeiro: Vitória, vol. 3, 1963; M. I. Mijailov, Historia de
la Liga de los Comunistas. Moscú: Nauka, 1968; Bert Andreas, La Ligue des Com-
munistes (1847). Documents constitutifs. Paris: Aubier, 1972 e Fernando Claudín.
Marx, Engels y la revolución de 1848. Madrid: Siglo XXI, 1975.
4 Sabe-se que dificuldades financeiras acossaram a família Marx até meados dos anos
1860, quando Engels teve condições para garantir de modo regular a subsistência
do amigo (antes, ajudava-o emergencialmente). Mas, no período parisiense, os Marx
– cuja primeira filha, Jenny, nascera a 1º de maio de 1844 – não viveram apertos:
pouco antes de casar-se, Jenny recebera da mãe um pequeno pecúlio e amigos de
Marx lhe enviaram de Colônia recursos após o fim dos Anais Franco-Alemães,
empreendimento que também lhe rendeu algo.
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Biografia, ed. cit., p. 53) –, inicialmente no célebre Café de la Régence (outrora fre-
quentado por Benjamin Franklin e Voltaire) e, em seguida, na casa de Marx. Engels
escreverá em outubro de 1885: “Quando, no verão de 1844, visitei Marx em Paris,
ficou patente nosso acordo em todos os terrenos teóricos e data dessa época nossa
colaboração” (“Contribuição à história da Liga dos Comunistas”, in loc. cit., p. 157);
então Marx se mostrava impactado pela leitura do ensaio engelsiano que editou nos
Anais Franco-Alemães (“Esboço de uma crítica da Economia Política” – coligido no
volume organizado por J. P. Netto, Engels. Política, da coleção “Grandes cientistas
sociais”. São Paulo: Ática, 1981); como Engels registrou, data daí a amizade e a
mútua colaboração que os uniu por toda a vida.
11 O livro sai em fins de fevereiro de 1845 – há edição brasileira: A sagrada família ou A
crítica da crítica crítica. Contra Bruno Bauer e consortes. São Paulo: Boitempo, 2003.
É de observar-se que a contribuição de Engels à obra foi pequena, uma vez que ele
estava inteiramente absorvido na preparação d’A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010, que vê a luz em Leipzig, em finais de maio
de 1845.
12 A concepção teórico-metodológica de Marx nunca teve, por parte do autor, um trata-
mento exaustivo – os textos pertinentes a ela mais importantes, que marcam a sua
evolução, encontram-se n’A ideologia alemã, na Miséria da filosofia e, especialmente,
na “Introdução” aos Grundrisse, além de uma referência importante no posfácio da
2ª edição do livro I d’O capital (todas estas obras estão editadas entre nós e serão
citadas adiante). Uma síntese muito acessível da concepção teórico-metodológica
marxiana encontra-se no meu opúsculo Introdução ao estudo do método de Marx.
São Paulo: Expressão Popular, 2011.
13 Vários pesquisadores brasileiros, ou trabalhando no Brasil, detiveram-se sobre
este momento de constituição do pensamento marxiano e sobre a sua pertinente
produção; cite-se, entre eles, Leandro Konder, Marxismo e alienação. São Paulo:
Expressão Popular, 2009 [ed. orig., 1965]; José Arthur Giannotti, Origens da
dialética do trabalho. São Paulo: Difel, 1966; José Paulo Netto, Capitalismo e reifi-
cação. São Paulo: Ciências Humanas, 1981; Ruy Fausto, Marx. Lógica & política.
São Paulo: Brasiliense, I, apêndice 2, 1983 e “Sobre o jovem Marx”. Discurso. São
Paulo: Departamento de Filosofia da FFLCH/USP, v. 13, 1983; H.-G. Flikinger,
Marx e Hegel. O porão de uma filosofia social. Porto Alegre: L&PM, 1986; Celso
Frederico, O jovem Marx. 1843-1844. As origens da ontologia do ser social. São Paulo:
Expressão Popular, 2009 [ed. orig., 1995]; o filósofo Manfredo A. de Oliveira
dedicou-lhe competente atenção, em “Os Manuscritos de Paris e a articulação do
horizonte de emancipação”. Síntese (nova fase). Belo Horizonte, vol. 23, n. 72 (1996)
e José Chasin também contribuiu com observações instigantes em Marx: estatuto
ontológico e resolução metodológica. São Paulo: Boitempo, 2009. Mais recentemente,
registra-se um renovado interesse acadêmico em torno do “jovem” Marx – veja-se,
por exemplo, Jesus Ranieri, A câmara escura. Alienação e estranhamento em Marx.
São Paulo: Boitempo, 2001 e “Da produção do chamado ‘jovem Marx’: algumas
notas sobre os Manuscritos econômico-filosóficos”. Outubro. São Paulo: Alameda,
n. 14, 2007; Sérgio Lessa, “A emancipação política e a defesa de direitos”. Serviço
Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, ano XXVIII, n. 90, junho de 2007; Renato
Almeida de Oliveira, “A concepção de trabalho na filosofia do jovem Marx e suas
implicações antropológicas”. Kínesis. Marília: Unesp, vol. II, n. 3, abril de 2010.
No âmbito acadêmico brasileiro, aliás, já são expressivas as dissertações e teses que
incidem sobre o trabalho do jovem Marx. Tal interesse desborda para a discussão
da reificação – como se verifica, por exemplo, no ensaio de N. Duarte, “O bezerro
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tians, 1989; Galvano Della Volpe, Rousseau y Marx. Barcelona: Martinez Roca, 1978;
A. Heller, La théorie des besoins chez Marx. Paris: UGE, 1978; Ludovico Silva, La
alienación en el joven Marx. México: Nuestro Tiempo, 1979; Emilio Lamo de Espi-
nosa, La teoría de la cosificación. De Marx a la Escuela de Francfort. Madrid: Alianza,
1981; Solange Mercier-Josa, Pour lire Hegel et Marx. Paris: Éd. Sociales, 1980 e Retour
sur le jeune Marx. Deux études sur le rapport de Marx à Hegel dans les Manuscrits de
1844 e dans le Manuscrit dit de Kreuznach. Paris: Méridiens-Klincksieck, 1986;
Maximilien Rubel, “introdução” a K. Marx, Oeuvres. Paris: Gallimard/La Pléiade,
III, Philosophie, 1982 e ainda Marx critique du marxisme. Paris: Payot & Rivages,
2000; Allen Oakley, Marx’s Critique of Political Economy. Intellectual Sources and
Evolution. I. 1844-1860. London: Routledge & Kegan Paul, 1984; Ángel Prior Olmos,
La libertad en el pensamiento de Marx. Murcia: Editum, 1988; Marion Barzen et alii,
Studien zu Marx’ erstem Paris-Aufenthalt und zur Entstehung der Deutschen Ideologie.
Trier: Schriften aus dem Karl-Marx-Haus, 43, 1990; Georges Labica, As “Teses sobre
Feuerbach” de Karl Marx. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990; I. Garo, Marx, une
critique de la philosophie. Paris: Seuil, 2000; E. Balibar, La philosophie de Marx. Paris:
La Découverte, 2001; W. Breckman, Marx, the young hegelians and the origins of ra-
dical social theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1999; J.-L. Lacascade,
Les métamorphoses du jeune Marx. Paris: PUF, 2002; Douglas Mogach, ed., The New
Hegelians. Politics and Philosophy in the Hegelian School. Cambridge: Cambridge
University Press, 2006; Vv. Aa., Nouvelles aliénations. Paris: Actuel Marx/PUF, 2006;
A. Artous, Le fétichisme chez Marx. Paris: Syllepse, 2006; S. Haber, L’aliénation. Vie
sociale et expérience de la dépossession. Paris: PUF, 2007 e “Quelques remarques sur la
critique de l’argent au debut du livre I du Capital de Marx”, in Marx – L’Image. Be-
sançon: Presses Universitaires de Franche-Comté, 2008; P. Macherey, Les “Thèses” sur
Feuerbach. Traduction et commentaire. Paris: Ed. Amsterdam, 2008; David Leopold,
The Young Karl Marx. Cambridge: Cambridge University Press, 2007; A. Honneth,
Reification. A new look at an old idea. New York: Oxford University Press, 2008;
Emmanuel Renault, dir., Lire les Manuscrits de 1844. Paris: Vrin, 2008; Michel
Henry, Marx. Paris: Gallimard, 2009; J. Spurk, “Le noyau dur de la théorie sociale
de Marx: du fétichisme et de ses conséquences”. Revue de MAUSS. Paris: La Décou-
verte, 2009 (2); Oliver Clain, dir., Marx philosophe. Montréal: Nota Bene, 2009;
Marcello Musto, “Marx in Paris: Manuscripts and Notebooks of 1844”. Science &
Society, vol. 73, 3 (july 2009) e “The Formation of Marx’s Critique of Political Eco-
nomy: From the Studies of 1843 to the Grundrisse”. Socialism and Democracy, vol.
24, 2 (july 2010); Miguel Vedda, “introdução” a K. Marx, Manuscritos económico-
-filosóficos de 1844. Buenos Aires: Colihue, 2010; H. Touboul, Marx avec Hegel.
Toulouse: Presses Universitaires du Mirail, 2010; Lucien Sève, “introdução” a K.
Marx, Écrits philosophiques. Paris: Flammarion, 2011; Sean Sayers, Marx and Aliena-
tion: Essays on Hegelian Themes. Basingstone-New York: Palgrave Macmillan, 2011;
Norman Levine, Marx’s Discourse with Hegel. Basingstone/New York: Palgrave
Macmillan, 2012; P. Dardot et C. Laval, Marx. Prénom: Karl. Paris: Gallimard, 2012;
Daniel Bensaïd, Espetáculo, fetichismo, ideologia. Fortaleza: Plebeu Gabinete de Lei-
tura, 2013; Ousmane Sarr, Marx et lá théorie de l’ idéologie. Paris: L’Harmattan, 2013;
V. Chanson, A. Cukier, F. Monferrand, dirs., La réification. Histoire et actualité d’un
concept critique. Paris: La Dispute, 2014. Vejam-se ainda os textos reunidos em “Sur
le jeune Marx”. Recherches Internationales à la Lumière du Marxisme. Paris: La Nou-
velle Critique, n. 19, 1960 e em “Il giovane Marx e il nostro tempo”. Annali della
Fondazione Feltrinelli. 1964-1965. Milano: Feltrinelli, anno VII, 1965.
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É significativo observar que, pelo menos até inícios de 1845, Marx se qualificava
como doutor em Filosofia – como registra no documento, firmado em Bruxelas a 7 de
fevereiro, mediante o qual solicita ao rei Leopoldo I permissão para residir na Bélgica
(cf. K. Marx-F. Engels, Opere. Roma: Riuniti, IV, 1972, p. 663). Mas, em junho de
1847, identifica-se como economista (cf. K. Marx, Miséria da filosofia. São Paulo:
Expressão Popular, 2009, p. 41).
19 Na sua original interpretação da dissertação marxiana de 1841 – na qual chega
mesmo a vislumbrar um embrião das posteriores Teses sobre Feuerbach –, Lukács (cf.
“O jovem Marx...”, in O jovem Marx e outros escritos de filosofia, ed. cit., p.123-131,
132) indica como ao tratamento da história da filosofia antiga por Marx já subjaz um
“programa político”, ou seja, “a vinculação da filosofia à oposição liberal”. Além deste
ensaio de Lukács, esclarecedoras análises da dissertação marxiana encontram-se
no primeiro capítulo de Mario Dal Pra, La dialletica in Marx, ed. cit. e em Foster,
A ecologia de Marx, ed. cit.
20 A criação da Gazeta Renana foi iniciativa de segmentos burgueses liberais de Colônia,
“movidos pelo desejo de destituir o juridicamente irrefreável, e autoritário, ocupante
do governo da Prússia, assim como sua burocracia de Estado” – nas palavras de
um historiador norte-americano liberal –, liderados pelo advogado Robert Jung,
“partidário dos Jovens Hegelianos”, Dagobert Oppenheim, banqueiro, e Engel-
bert Renard, comerciante de livros; o financimento do projeto foi inovador: uma
sociedade por ações. Nessa mesma fonte, há um curioso e informado debate sobre
a primeira experiência jornalística de Marx (J. Sperber, op. cit., p. 92 e ss.).
Textos de Marx na Gazeta Renana comparecem em K. Marx-F. Engels, MEW, vol.
e ed. cit. (1977); cf. também Carlos Marx-Federico Engels, Obras fundamentales,
vol. e ed. cit. Geralmente, dá-se grande importância aos textos que Marx publicou
na Gazeta Renana acerca da liberdade de imprensa (K. Marx, Liberdade de imprensa.
Porto Alegre: L&PM, 2006); mas deve-se sublinhar a relevância da sua crítica à
“Escola histórica do direito” (Historische Rechtsschule), que foi minudentemente
analisada por José Barata-Moura, Marx e a crítica da “Escola Histórica do Direito”.
Lisboa: Caminho, 1994; dela se ocupou, no Brasil, Rubens Enderle, “O jovem Marx
e o manifesto filosófico da Escola Histórica do Direito”. Crítica marxista. São Paulo:
Boitempo, n. 20, 2005.
21 É interessante observar que, pouco depois – junho de 1843 – foi-lhe oferecido o
cargo (que Marx obviamente recusou) de redator-chefe de um órgão oficialista
(Preussische Staatszeitung [Gazeta do Estado Prussiano]).
22 G. Lukács, “O jovem Marx...”, in O jovem Marx e outros escritos de filosofia, ed. cit.,
p. 135.
23 Eis aqui, cerca de 15 anos depois, a sua evocação: “Em 1842-1843, na qualidade de
redator da Gazeta Renana, encontrei-me, pela primeira vez, na embaraçosa obri-
gação de opinar sobre os chamados interesses materiais. [...] Nessa época, em que
o afã de ‘avançar’ sobrepujava amiúde a verdadeira sabedoria, fez-se ouvir [...] um
eco entibiado, por assim dizer filosófico, do socialismo e do comunismo francês.
Pronunciei-me contra essa mixórdia, mas, ao mesmo tempo, confessei claramente
[...] que os estudos que eu havia feito até então não me permitiam arriscar um juízo
a respeito da natureza das tendências francesas. [...] [O fim da Gazeta Renana]
ofereceu-me a ocasião, que me apressei em aproveitar, de deixar a cena pública e
me recolher ao meu gabinete de estudos” (K. Marx, prefácio – janeiro de 1859 – à
Contribuição à crítica da Economia Política, ed. cit., p. 46).
Para uma síntese da relação de Marx com o socialismo e o comunismo em 1842-
1843, cf. José Barata-Moura, Materialismo e subjectividade, ed. cit., p. 237-242.
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português o estudo de Antonio Negri, Marx oltre Marx. Quaderno di lavoro sui
Grundrisse. Milano: Feltrinelli, 1979.
50 Cf. os textos citados na nota 3, supra, e ainda Jacques Droz, “L’influence de Marx
en Allemagne pendant la révolution de 1848”. La Nouvelle Critique. Paris, n. 68,
1955. A intervenção jornalística de Marx na revolução alemã de 1848 está disponível
em K. Marx, Nova Gazeta Renana. São Paulo: EDUC, 2010; a tradutora dos textos
reunidos neste volume, Lívia Cotrim, precedeu-os de uma interessante apresentação;
outros comentários pertinentes encontram-se no prefácio de José Chasin a um dos
textos ali recolhidos, publicado anteriormente (K. Marx, A burguesia e a contrarre-
volução. São Paulo: Ensaio, 1987). Jovens pesquisadores têm, mais recentemente,
se debruçado sobre a importância daquele evento revolucionário na evolução de
Marx – veja-se, por exemplo, Irene Viparelli, “Marx e la revoluzione del 1848”.
Logos. Napoli, n. 4-5, 2009-2010.
51 Tal como formulei numa breve intervenção de 1983, incluída depois em J. P. Netto,
Democracia e transição socialista. Escritos de teoria e política. Belo Horizonte, Oficina
de Livros, 1990, p. 61-67.
52 O autor destas linhas, E. Bottigelli, dá por suposto que o leitor saiba que se tratava
de um espaço público demarcado por duas torres, construídas no final do século
XVIII, onde a guilhotina operou durante a Revolução de 1789.
53 E. Bottigelli, “apresentação” a K. Marx, Manuscrits de 1844, ed. cit. (1969), p.
XXIX.
54 Internacionalismo que Marx – assim como Engels, que já o assimilava em sua relação
com o movimento operário inglês – incorporará como constitutivo da mencionada
perspectiva revolucionária do proletariado e de que explicitamente ambos darão
provas cabais (teóricas e políticas) até o fim de suas vidas; a título de exemplos de
suas últimas intervenções, veja-se, em Marx, o parágrafo em que alude, n’A guerra
civil na França, à participação de estrangeiros na Comuna e em seu governo (cf.,
J. P. Netto, org., O leitor de Marx. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p.
418) e, em Engels, a sua correspondência posterior a 1891 (cf. K. Marx-F. Engels,
MEW, ed. cit., vols. 38 e 39).
Sabe-se que também a questão (e a problemática) do internacionalismo (e da nação)
é polêmica na tradição marxista; cf., entre outros títulos, G. Haupt, M. Löwy e
C. Weil, eds., Les marxistes et la question nationale. 1848-1914. Paris: Maspero,
1974; J. Pinsky, org., Questão nacional e marxismo. São Paulo: Brasiliense, 1980;
R. Galissot, “Nação e nacionalidade nos debates do movimento operário”, in E. J.
Hobsbawm, org., História do marxismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, vol. 4, 1984; M.
Löwy, Nacionalismos e internacionalismos. São Paulo: Xamã, 2000; E. J. Hobsbawm,
Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. São Paulo: Paz e Terra,
2008. Cf. ainda os ensaios de dois marxistas brasileiros: João Antônio de Paula, “A
ideia de nação no século XIX e o marxismo”. Estudos avançados. São Paulo: USP-
-IEA, vol. 22, n. 62, janeiro-abril de 2008 e Valério Arcary, “Internacionalismo e
nacionalismo: dilemas da aposta estratégica”. Serviço Social & Sociedade. São Paulo:
Cortez, n. 98, abril-junho de 2009.
55 Lê-se nos Manuscritos, redigidos por esta época: “Quando os artesãos comunistas
se unem, vale para eles antes do mais como finalidade a doutrina, propaganda etc.
Mas, ao mesmo tempo, eles apropriam-se por esse fato de uma nova necessidade, a
necessidade de sociedade, e o que aparece como meio tornou-se fim. Pode intuir-se
esse movimento prático nos seus resultados mais brilhantes quando se vê ouvriers
socialistas franceses reunidos. Fumar, beber, comer etc. já não existem como meios
da ligação nem como meios que ligam. A sociedade, a associação, a conversa, que de
120
J o s é P a u l o N e t t o
novo tem a sociedade como fim, basta-lhes; a fraternidade dos homens não é para
eles nenhuma frase, mas verdade, e a nobreza da humanidade ilumina-nos a partir
dessas figuras endurecidas pelo trabalho.” (cf. infra, neste volume, a p. 401-402).
Lê-se também n’A sagrada família, publicada um ano depois (1845): “Apenas quem
teve a oportunidade de conhecer o estudo, o afã de saber, a energia moral, o impulso
incansável de desenvolvimento dos operários franceses e ingleses pôde formar para
si uma ideia da nobreza humana desse movimento” (K. Marx-F. Engels, A sagrada
família..., ed. cit., p. 102. O “movimento” aqui referido diz respeito ao da grande
massa, que os “críticos críticos” desprezavam).
56 De que são provas eloquentes os seus textos de 1844/1845. Sobre essa sociabilidade,
vejam-se, por exemplo – duas entre tantas – as seguintes passagens d’A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra: “Na vida cotidiana, o operário é muito mais
humano que o burguês. [...] Para os operários, qualquer homem é um ser humano;
para os burgueses, o operário é menos que um homem. Por isso, os operários são
mais sociáveis, mais amáveis [...]. O operário tem uma mentalidade mais aberta,
dispõe de um juízo mais agudo sobre os fatos e não vê tudo, como o faz o burguês,
pelo prisma do interesse”. E sobre a relação entre a classe e a cultura, escreve o jovem
Engels: “Mas os operários sabem apreciar ‘uma sólida cultura’, desde que ela não
venha trazendo de contrabando os interessados saberes da burguesia – provam-no
as frequentes conferências sobre problemas das ciências naturais, da estética e da
economia, assistidas por um grande público e organizadas pelas instituições pro-
letárias [...]. Várias vezes vi operários [...] discutirem geologia, astronomia e outros
temas com argumentos superiores aos de qualquer burguês culto alemão” (A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra, ed. cit., p. 162-163 e 272).
57 O “Esboço de uma crítica da Economia Política”, que Engels redigiu entre fins de
1843 e janeiro de 1844 e logo enviou para os Anais Franco-Alemães, representou para
Marx, indiscutivelmente, um estímulo essencial para seus estudos – como observa-
ram dois analistas, o texto de Engels “agiu sobre Marx como uma revelação, e ele
lançou-se imediatamente à leitura dos economistas clássicos” (M. Morishima e G.
Catephores, Valor, exploração e crescimento. Marx à luz da teoria econômica moderna.
Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 17); não por acaso, junto aos apontamentos que
constituem os Cadernos de Paris, encontra-se um resumo do texto (cf. infra, neste
volume, as p. 185-186) e nos Manuscritos a caracterização de Adam Smith como
o “Lutero da economia” (cf. infra, neste volume, a p. 336) é diretamente tomada
dele. Ademais, como notou Chambre, nos mesmos Manuscritos, Marx desenvolveu
a concepção de alienação do proletário a partir da sua alienação diante do produto
do trabalho, tal como Engels indica no “Esboço...” (cf. H. Chambre, prefácio a
F. Engels, Esquisse d’une critique de l’ économie politique/Umrisse zu einer Kritik
der Nationalökonomie. Paris: Aubier Montaigne, 1974). E um historiador (ligado
à tradição da Sociedade Fabiana) do pensamento socialista chega até a sustentar,
penso que apressadamente, que o ensaio do jovem Engels “é uma antecipação das
doutrinas que Marx desenvolveu em seu folheto-conferência sobre Trabalho assa-
lariado e capital e, mais tarde, na sua Contribuição à crítica da Economia Política e
n’O capital ” (G. D. H. Cole, Historia del pensamiento socialista. I. Los precursores.
1789-1850. México: Fondo de Cultura Económica, I, 1974, p. 230).
Em 1859, Marx referiu-se ao “genial esboço de uma crítica das categorias econô-
micas” (K. Marx, Contribuição à crítica da Economia Política, ed. cit., p. 49) que
encontrou no ensaio juvenil de Engels; no livro I (1867) d’O capital, transcreve
passagens do texto engelsiano no capítulo I, a propósito da lei que regula a quan-
tidade de valor pelo tempo de trabalho socialmente necessário à produção, e no
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capítulo IV, acerca da fórmula geral do capital e suas contradições (cf. K. Marx,
O capital. Crítica da Economia Política, ed. cit., livro I, vol. 1, 1968, p. 84, 171
e 184). Não sem razões, pois, Celso Frederico afirmou que, “sem dúvida, Engels
não só iniciou Marx no estudo da Economia Política, como também lhe forneceu
elementos conceituais para a crítica dessa ciência” (C. Frederico, O jovem Marx...,
ed. cit., p. 128-129).
58 Sobre tais relações, cf. Cornu, Carlos Marx. Federico Engels, ed. cit., III, cap. I e
ainda: P. Haubtmann, Marx et Proudhon; leurs rapports personnels. Lyon: Écono-
mie et humanisme, 1947; W. Victor, Marx und Heine. Berlin: Henschel, 1951; G.
Woodcock, Pierre-Joseph Proudhon. New York: Schoken, 1972; J.-P. Lefebvre, Marx
und Heine. Trier: Karl Marx Haus, 1972; E. H. Carr, Michael Bakunin. New York:
Octagon, 1975; M. Leier, Bakunin. The creative passion. New York: Seven Stories,
2009.
59 Cf. K. Marx-F. Engels, MEW, ed. cit., vol. 1, 1958. Há pelo menos duas edições
brasileiras do artigo, concluído em 31 de julho de 1844: K. Marx, Glosas críticas
marginais ao artigo “O rei da Prússia e a reforma social”, de um prussiano. São Paulo:
Expressão Popular, 2010 e “Glosas críticas ao artigo O rei da Prússia e a reforma
social. De um prussiano”. K. Marx-F. Engels, Lutas de classes na Alemanha. São
Paulo: Boitempo, 2010. Ademais deste artigo, Marx só publicou no Vorwärts! mais
um pequeno texto (“Observações sobre os últimos exercícios de estilo de Frederico
Guilherme IV”, n. 66, 17 de agosto de 1844).
No Brasil, as Glosas críticas... receberam a atenção de alguns estudiosos, entre os
quais Alberto Dias Gadanha que, em 2002, defendeu a dissertação A revolta dos
tecelões da Silésia em 1844. Controvérsia entre Karl Marx e Arnold Ruge sobre a ins-
trumentalização da política pela revolução social (Universidade Federal da Paraíba)
e publicou o ensaio “O não senso de uma revolução social com alma política.
Marx – em 31 de julho de 1844. Uma leitura além de modernidades”. Kalagatos.
Revista de filosofia do Mestrado Acadêmico em Filosofia da UECE. Fortaleza, vol. 1,
n. 1, inverno de 2004; Giovanni Alves também tratou das Glosas... no segundo
capítulo do seu livro Limites do sindicalismo. Marx, Engels e a crítica da Economia
Política. Bauru: Praxis, 2003 e igualmente Ivo Tonet, na sua apresentação à edição
das Glosas..., por ele traduzida e lançada pela Expressão Popular na ed. cit. supra.
60 Inclusive em sua correspondência, Ruge evidenciava o rancor que desenvolvia frente
aos comunistas, em especial os alemães – veja-se esta passagem de uma carta (de 28
de março de 1844) à sua mãe: “Os piores são os comunistas alemães, que preten-
dem libertar todas as pessoas convertendo-as em operários e querem substituir a
propriedade privada pela comunidade de bens e por uma repartição equitativa das
riquezas, mas que, no entanto, estão eles mesmos agarrados à propriedade privada
e particularmente ao dinheiro” (apud Cornu, Carlos Marx. Federico Engels, ed.
cit., III, 1976, p. 40). Ou esta, de uma carta a Fleischer (de 9 de julho do mesmo
ano): “Marx mergulhou no comunismo alemão [...] é inconcebível que ele atribua
importância política a este lamentável movimento” (apud N. Lápine, O jovem Marx,
ed. cit., nota à p. 306).
61 Sobre a rebelião dos tecelões da Silésia (4-6 de junho de 1844) – componente do
quadro geral analisado por Jacques Droz, Europa, restauración y revolución. 1815-
1848. Madrid: Siglo XXI, 1993 –, cf. E. Dolléans, Histoire du mouvement ouvrier.
I. 1830-1871. Paris: A. Colin, 1948; B. Ponomariov, org., El movimiento obrero
internacional. Moscu: Progresso, vol. 1, 1982; Hans E. Bremes, 140 Jahre Webe-
raufstand in Schlesien. Industriearbeit und Technik – gestern und heute. Ein Beitrag
zur politischen Kulturarbeit. Münster: Westfälisches Dampfboot, 1985 e Christina
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von Hodenberg, Aufstand der Weber. Die Revolte von 1844 und ihr Aufstieg zum
Mythos. Bonn: Dietz, 1997.
62 Há tradução ao português, apensa a K. Marx-F. Engels, Lutas de classes na Alemanha,
ed. cit.
63 No seu texto essencial sobre o jovem Marx, publicado em 1955, escreveu Lukács:
“Na formação de Marx, o processo de superação do hegelianismo e do próprio
Feuerbach, com a consequente fundação da dialética materialista, coincidiu com
a passagem das posições democrático-revolucionárias a um socialismo consciente.
As duas tendências formam uma unidade necessária, mas o processo global se
desenvolveu, certamente de modo não casual, no período da história alemã em
que, depois da subida ao trono da Prússia de Frederico Guilherme IV e da virada
em sentido reacionário-romântico da política interna prussiana, desenvolveu-se na
Alemanha um fermento político e ideológico generalizado, ou seja, a preparação da
revolução democrático-burguesa de 1848. E foi precisamente neste período [...] que
eclodiu pela primeira vez a luta do movimento operário e revolucionário alemão.
Certamente não é casual a coincidência entre, de um lado, o processo de esclarecimento
e consolidação da concepção socialista do mundo no jovem Marx e, de outro, a primeira
ação revolucionária do proletariado alemão, ou seja, a revolta dos trabalhadores têxteis
da Silésia em 1844” (“O jovem Marx...”, in O jovem Marx e outros escritos de filosofia,
ed. cit., p. 122 [itálicos meus – JPN]).
Aliás, a mim me parece que foi Lukács o primeiro marxista a apreender e a compreender
em profundidade a relação entre a emergência histórica do proletariado (alemão) e a
elaboração teórica de Marx – já no seu célebre livro de 1923 (História e consciência
de classe. Estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2003), ele
sustentava que Marx descobriu no movimento revolucionário (dos tecelões da
Silésia) a possibilidade de a consciência de classe do proletariado (à diferença da
consciência burguesa) tender à supressão da imediaticidade – passo necessário para
uma consciência que visa à totalidade social; cf. o ensaio “Die Verdinglichung und
das Bewusstsein des Proletariats” [“A reificação e a consciência do proletariado”],
in Geschichte und Klassenbewusstsein. Studien über marxistische dialectik. Berlin:
Malik Verlag, 1923, esp. p. 189 e ss.
64 Em dois pequenos artigos publicados no jornal cartista The Northern Star, de 29
de junho de 1844 (n. 346), Engels comenta a rebelião silesiana, expedindo juízos
semelhantes aos que Marx formula na crítica a Ruge (cf. K. Marx-F. Engels, Collected
Works. London/New York: Lawrence & Wishart/International Publishers, vol. 3,
1975, p. 530 e ss.).
65 Cornu, Carlos Marx. Federico Engels, ed. cit., tomo III, 1976, p. 109-110.
66 Marx – ao contrário de Ruge – tem os trabalhadores pobres da Silésia em alta conta:
não protagonizam uma “revolta” de “espírito estreito”; aliás, neste mesmo texto, ele
escreve que “deve-se admitir que o proletariado alemão é o teórico do proletariado
europeu” (Idem, ibidem, p. 69).
67 “A cidade balneária de Kreuznach [na confluência dos rios Nahe e Reno, a nordeste
de Trier – JPN ] contava com uma excelente biblioteca municipal [...] para uso dos
muitos visitantes abastados e letrados que para lá acorriam [...]. Marx soube usu-
fruir desses recursos para fazer anotações sobre a história dos Estados Unidos e dos
principais países europeus, assim como estudar alguns clássicos da teoria política,
incluindo trabalhos de Montesquieu, Maquiavel e Rousseau” (Sperber, op. cit., p.
122).
68 Autores tão diversos como Lukács e Lápine coincidem nesta apreciação. Escreveu o
primeiro, ao analisar este momento da evolução de Marx, que o seu aspecto decisivo
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London: Routledge, 2012 [ed. orig., 1937]; Alfredo Saad Filho, O valor de Marx.
Campinas: Ed. da Unicamp, 2011; Samir Amin, Three Essays on Marx’s Value Theory.
New York: Monthly Review Press, 2013 e Jean-Marie Harribey, La richesse, la valeur
et l’ inestimable. Paris: Les Liens qui Libèrent, 2013; um dos componentes da “rein-
terpretação da teoria crítica de Marx”, empreendida por M. Postone (Time, labor
and social domination. New York: Cambridge University Press, 1993), é igualmente
uma “reinterpretação” da teoria do valor; em registro diverso, cf. também Anselm
Jappe, As aventuras da mercadoria. Para uma nova crítica do valor. Lisboa: Antígona,
2006. Para o quadro no interior do qual se deram as principais polêmicas marxistas,
cf. M. C. Howard and J. E. King, A History of Marxian Economics. I, 1883-1929,
II, 1929-1990. Basingstoke/ Princeton: Macmillan/ Princeton University Press,
1989-1992.
88 Cf., infra, a p. 191 A posição de Engels está expressa no “Esboço de uma crítica da
Economia Política”, loc. cit., esp. p. 60 e ss.
89 Veja-se: “O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz,
quanto mais a sua produção cresce em poder e volume. O trabalhador torna-se
uma mercadoria tanto mais barata quanto mais mercadoria cria. Com a valorização
do mundo das coisas, cresce a desvalorização do mundo dos homens em proporção
direta.” (cf. infra, a p. 304).
90 Cf. Sánchez Vázquez, loc. cit., p. 37.
91 A solução conclusiva de Marx, que supõe a incorporação crítica da teoria clássica
do valor, emergirá mesmo nos Grundrisse... e será formulada expressamente n’O
capital – trata-se da teoria da mais-valia.
Nos últimos 20 anos, competentes tradutores de Marx têm preferido verter, contra
uma tradição secular, porém justificadamente, Mehrwert por mais-valor/sobre-valor
– como se registra, por exemplo, nas edições francesa (de J.-P. Lefebvre) e brasileira
(de M. Duayer) dos Grundrisse; tal procedimento foi também adotado na edição
de Para a crítica da economia política. Manuscritos de 1861-1863. Cadernos I a V.
Terceiro Capítulo. O capital em geral (Belo Horizonte: Autêntica, 2010, trad. de
Leonardo de Deus) e na mais recente tradução do livro I d’O capital (São Paulo:
Boitempo, 2013, trad. de Rubens Enderle).
92 Marx vê nesta distinção a contradição entre os interesses gerais e os interesses par-
ticulares – toma o partido de Ricardo contra os seus críticos e extrai a conclusão do
possível direito da classe operária de abolir os segundos em benefício dos primeiros.
Cf., infra, as p. 194-197.
93 Leia-se: “[...]a economia nacional conhece o trabalhador apenas como animal
de trabalho, como uma rês reduzida às mais estritas necessidades corporais” (cf.,
infra, p. 255). Para Ricardo, diz Marx, “as nações são apenas oficinas da produção,
o homem é uma máquina de consumir e produzir; a vida humana, um capital; as
leis econômicas regem cegamente o mundo.”; e, citando Buret: “Para Ricardo, os
homens não são nada, o produto tudo” (cf., infra, p. 279).
94 Nos Manuscritos, lê-se que a Economia Política estabelece “o princípio de que ele
[o trabalhador], tal como qualquer cavalo, tem de ganhar o bastante para poder
trabalhar. Ela não o considera como homem [...]” (cf., infra, a p. 253). Para a Eco-
nomia Política, “as necessidades do trabalhador são apenas a necessidade de o manter
durante o trabalho e na perspectiva de que a raça dos trabalhadores não se extinga.”
(cf., infra, a p. 324).
95 Cf., infra, as p. 195-196. Na Miséria da filosofia, Marx volta ao cinismo de Ricardo:
após sublinhar que “a doutrina ricardiana resume rigorosamente, impiedosamente,
o ponto de vista de toda a burguesia inglesa, que é, em si mesma, a típica burguesia
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oposição por parte de um poder hostil, criado por ele mesmo, de modo que ele frustra
seu próprio propósito” (I. Mészáros, A teoria da alienação em Marx, ed. cit., nota, p.
19-20). Ouça-se outro especialista: “Marx utiliza o termo mais geral de Entfremdung
para designar os diversos aspectos, objetivos e subjetivos, da alienação. O termo En-
täusserung, mais concreto, insiste mais no aspecto jurídico da alienação, no fato de que
o objeto se tornou propriedade de outra pessoa jurídica, na sua ‘perda’ jurídica (o termo
Entäusserung entrou na ciência através da jurisprudência). O fato de Marx utilizar
por vezes, a seguir à palavra Entfremdung, colocando uma vírgula, não Entäusserung,
mas um termo ainda mais concreto, Verlust (‘perda’), parece confirmar esta escolha”
(N. Lápine, O jovem Marx, ed. cit., nota, p. 332-333). E diz ainda um competente
estudioso (e tradutor) brasileiro, referindo-se às duas palavras, Entfremdung e Entäus-
serung: “Marx, com efeito, usa tanto uma como outra. No primeiro dos Manuscritos,
Marx fala frequentemente de entfremdete, entäusserte Arbeit. O uso de uma ou outra
das denominações por Marx advém do prisma que se pretende destacar: no caso de
Entäusserung, a objetivação no e do processo de trabalho; no caso de Entfremdung, a
perda do controle e da autonomia, a dominação do sujeito por um ‘poder alheio’, a
alienação no curso desse processo de exteriorização, de produção objetiva” (Wolfgang
Leo Maar, nota ao ensaio de Marcuse [1933] “Sobre os fundamentos filosóficos do
conceito de trabalho da ciência econômica”, in Herbert Marcuse, Cultura e sociedade.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, II, 1998, p. 46-47).
Variantes da terminologia marxiana dos Manuscritos – neste caso específico, da
expressão entfremdete Arbeit (cf. K. Marx, MEW, Ergänzungsband, ed. cit., Erster
Teil, 1977, p. 519) – estão consignadas, no Brasil, p. ex., por Giannotti, que se
refere a trabalho alienado (cf. Origens da dialética do trabalho, ed. cit., p. 137) e por
Ranieri (cf. a sua tradução dos Manuscritos de econômico-filosóficos, ed. cit., p. 87),
que utiliza a forma trabalho estranhado (que ele justifica na sua “Apresentação”, esp.
p. 15-16).
Vale lembrar que a versão da hegeliana Fenomenologia do Espírito para línguas
neolatinas coloca questões complicadas para os tradutores, obrigando-os, a partir
de difícil trabalho interpretativo, a soluções às vezes polêmicas e inovadoras – cf.,
por exemplo, as observações contidas no índice analítico da versão francesa de Jean
Hyppolite de La Phénoménologie de l’Esprit. Paris: Aubier Montaigne, s.d., II, 316
e ss. e o trabalho de Vicenzo Cicero com a edição italiana (Fenomenologia dello
Spirito. Milano: Bompiani, 2008), assim como a nota de Paulo Meneses à mesma
Fenomenologia do Espírito, ed. cit., p. 9-11. Cf. também, na versão de Paulo Meneses
e colaboradores, da Filosofia do Direito de Hegel – Linhas fundamentais da Filosofia
do Direito, ed. cit., p. 99 – a observação dos tradutores: “Os termos Entäusserung e
entäussern, normalmente traduzidos por ‘exteriorização’ e ‘exteriorizar’, no âmbito
jurídico ou do Direito Abstrato, são sinônimos de Veräusserung e veräussern; por
isso serão traduzidos por ‘alheação’ e ‘alhear’, na medida em que significam tornar
alheio, passar para outrem o domínio ou o direito de desfazer-se, vender, alienar
juridicamente. Com isso evitamos o uso dos termos ‘alienação’ e ‘alienar’, que serão
usados exclusivamente para traduzir os termos clássicos Entfremdung e entfremden”.
Tais questões provavelmente também respondem, em parte, pelos problemas loca-
lizados por R. Mondolfo em versões da Ciência da lógica (cf. os parágrafos finais do
seu “prólogo” – e a sua “nota sobre as traduções anteriores” – a Hegel, Ciencia de la
lógica. Buenos Aires: Solar-Hachette, 1968). Questões que, diga-se de passagem,
colocam-se igualmente aos tradutores de obras que lidam com textos hegelianos
(cf., p. ex., as notas de Manuel Sacristán apostas a H. Marcuse, Ontología de Hegel
y teoría de la historicidad. Barcelona: Martinez Roca, 1970).
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108 Sánchez Vázquez chega mesmo a afirmar que estes apontamentos marxianos não
são “simples notas marginais de leitura, mas um texto bastante coerente e de uma
profundidade e brilhantismo que permite colocá-lo à altura dos mais louvados dos
Manuscritos de 1844”, na medida, inclusive, em que abordam problemas como: “o
dinheiro como atividade mediadora alienada e o crédito como desenvolvimento do
dinheiro e culminação da sua alienação; o intercâmbio como forma alienada da relação
social; as relações entre os homens quando tomam – com o intercâmbio – a forma
de relações entre proprietários privados; o trabalho como fonte de lucro ou trabalho
alienado; a dialética da necessidade, da produção e do intercâmbio nas condições da
propriedade privada e, enfim, a suposição de como seriam as relações humanas se
os homens produzissem humanamente” (loc. cit., p. 58-59). Ao que sei, o primeiro
estudioso que, no Brasil, apontou a importância das notas de Marx sobre James Mill
foi J. A. Giannotti, no seu pioneiro e já citado Origens da dialética do trabalho.
109 Em juízo que compartilho, Sánchez Vázquez (loc. cit., p. 83), sublinhando que a
análise do “trabalho lucrativo”, nestas notas sobre Mill, é “esquemática e pobre”
em relação à do trabalho alienado própria dos Manuscritos, considera que as deter-
minações marxianas alcançadas nos Cadernos são reiteradas nos Manuscritos, como
se verá a seguir.
110 Ademais de ser motivo recorrente na reflexão de Fromm, recorde-se que um dos
seus últimos trabalhos (1976) intitulava-se To Have or to Be? (há tradução: Ter ou
ser?. Lisboa: Presença, 1999).
A concepção antropológica que assenta o homem como proprietário privado – que,
como se viu, é pertinente à Economia Política (recorde-se Smith), com o privilégio
do ter, está vinculada ao que C. B. Macpherson designou como “individualismo
possessivo” no seu influente livro The Political Theory of Possessive Individualism:
Hobbes to Locke (Oxford: Oxford University Press, 1962, que teve, entre nós, uma
tradução pouco recomendável: A teoria política do individualismo possessivo de Hobbes
a Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979). Não parece, todavia, que o pensador
canadense tenha se valido substantivamente de Marx para a elaboração daquele livro
e, mesmo, da sua expressiva obra – cf., a partir de perspectivas críticas bem diversas,
Ellen M. Wood, “C. B. Macpherson: Liberalism and the Task of Socialist Political
Theory”. Socialist Register. London: Merlin Press, vol. 15, 1978 e J. M. Vilajosana
Rubio, “El aparato conceptual de C. B. Macpherson: poder y propiedad”. Anuario
de Filosofía del Derecho. Madrid: Sociedad Española de Filosofía Jurídica y Política/
Ministerio de Justicia, 4, 1987.
111 É neste passo que Marx distingue trabalho como manifestação de vida [Lebensäus-
serung] e trabalho como alienação de vida [Lebenssentäusserung] (cf., infra, a nota
156).
112 Como MacCulloch, Boisguillebert, Malthus e Say, além de Prévost e Daire (estes dois
últimos tradutores e antologiadores de economistas que leu em Paris). Nas Teorias
da mais-valia – mas não só nelas – vários deles serão objeto da análise marxiana.
113 No posfácio à 2ª edição d’O capital (janeiro de 1873) Marx diferencia “método de
exposição” de “método de pesquisa”: “É mister, sem dúvida, distinguir, formalmente,
o método de exposição do método de pesquisa. A investigação tem de apoderar-se
da matéria, em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvi-
mento, e de perquirir a conexão íntima que há entre elas. Só depois de concluído
esse trabalho é que se pode descrever, adequadamente, o movimento real” (cf. K.
Marx, O capital, ed. cit., livro I, vol. 1, p. 16).
Ao que sei, foi Dussel (A produção teórica de Marx, ed. cit., p. 13) quem primeiro
utilizou a expressão “laboratório teórico” referida a Marx.
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119 Para uma descrição detalhada dos Manuscritos, cf. a nota editorial n. 99 de K. Marx-
-F. Engels, MEW. Ergänzungsband. Schriften. Manuskripte. Briefe bis 1844. Erster
Teil. Berlin: Dietz Verlag, 1977, p. 672 e ss.; as notas editoriais apostas às p. 5, 71,
84 e 124 de K. Marx, Manuscrits de 1844, ed. cit. (1969); a nota de W. Roces à sua
tradução dos Manuscritos, in Carlos Marx-Federico Engels, Obras fundamentales.
1. Marx. Escritos de juventud, ed. cit., p. 723; N. Lápine, O jovem Marx, ed. cit., p.
230-231 e Sánchez Vázquez, El joven Marx..., ed. cit., p. 42 e ss.
120 No presente volume, seguindo-se a edição portuguesa, estão ainda apostos dois
“anexos”, cuja redação – conforme a Mega² (cf. as notas da Avante! às p. 423-425
deste volume) – é contemporânea à dos Manuscritos.
Observe-se a existência de duas Mega (acrônimo de Marx-Engels-Gesamtausgabe
[Obras completas de Marx e Engels]): a primeira, concebida por D. Riazanov no
início dos anos 1920, compreenderia 42 volumes, começou a ser editada em 1927 e
dela se tiraram 11 volumes até meados dos anos 1930; é de salientar que a primeira
publicação dos Grundrisse, editada em Moscou (1939-1941), não fez parte da Mega.
A segunda Mega (conhecida por Mega²), foi projetada pelos Institutos de Marxismo-
-Leninismo da União Soviética/URSS e da República Democrática Alemã/RDA
e começou a ser publicada nos anos 1970; com a anexação da RDA pela República
Federal da Alemanha e, em seguida, a implosão da União Soviética, articulou-se
um consórcio internacional para dar continuidade ao projeto, mas conforme uma
concepção – expressa com a criação, em 1990, da Fundação Internacional Marx-
-Engels [Internationale Marx-Engels Stiftung/IMES], sediada em Amsterdã – que se
pretende isenta de condicionalismos partidário-ideológicos; até agora, da Mega² já
foram publicados mais de 50 volumes (o projeto prevê 114 volumes). Os volumes que
vieram à luz antes de 1991 foram editados pela Dietz Verlag (Berlim); os editados
posteriormente têm a chancela da Akademie Verlag (também de Berlim).
Entre uma e outra Mega, a Dietz Verlag publicou, em 1956/1968, em 39 volumes,
mais dois volumes suplementares (no primeiro deles foram reeditados os Manus-
critos), a MEW (acrônimo de Marx-Engels Werke [Obras de Marx e Engels]); entre
1975 e 2005, foram editados em inglês (por Lawrence & Wishart/Londres e Inter-
national Publishers/Nova York) os 50 volumes da MECW (Marx-Engels Collected
Works [Obras coligidas de Marx e Engels]) e, em 1972, iniciou-se (Riuniti, Roma)
a publicação de uma edição italiana – K. Marx-F. Engels, Opere [Obras] – que, ao
que sei, foi interrompida em 1990, após o lançamento de 32 volumes. Na Espanha,
sob a direção de Manuel Sacristán, o grupo Grijalbo/Crítica (Barcelona) iniciou
na segunda metade dos anos 1970 a publicação das Obras de Marx y Engels (OME)
e, em 1982, sob a direção de Wenceslao Roces, a casa mexicana Fondo de Cultura
Económica, lançou a coleção Obras fundamentales de Marx y Engels, projetada para
um conjunto de 22 volumes – ao que sei, ambos os projetos restaram inconclusos.
Não é possível discutir aqui a questão do destino editorial da obra de Marx, que o
leitor interessado pode rastrear, numa aproximação geral, no ensaio de Hobsbawm,
“A fortuna das edições de Marx e Engels”, in E. J. Hobsbawm, org., História do
marxismo, ed. e vol. cit. e em G. Labica, dir., 1883-1983. L’oeuvre de Marx, un
siècle après. Paris: PUF, 1985. Dois ensaios (de Hugo Eduardo da G. Cerqueira e de
Leonardo de Deus), recolhidos em João Antônio de Paula, org., O ensaio geral..., ed.
cit., contribuem para esclarecer aquele destino e os projetos da Mega e da Mega² – e
as implicações deste último também não podem ser tangenciadas nesta oportuni-
dade, mas é preciso anotar que são significativas (sinalizadas, por exemplo, em A.
Mazzone, ed., Mega²: Marx ritrovato. Roma: Media Print, 2002 e em R. Fineschi,
Un nuovo Marx. Roma: Carocci, 2008).
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121 Veja-se: “O salário é determinado pela luta hostil entre capitalista e trabalhador”; “A
renda fundiária é fixada pela luta entre entre arrendatário e proprietário da terra. Por
toda a parte, encontramos reconhecidas na economia nacional a oposição como inimigos
(feindlichen Gegensatz) dos interesses, a luta, a guerra, como o fundamento da organização
social.” (cf., infra, as p. 243 e 286 [o itálico da última frase é meu [JPN]).
122 Para a nomenclatura utilizada nos Manuscritos, cf. o primeiro parágrafo da nota
79, supra e também a nota 188, infra.
123 Como já se referiu, nas suas primeiras aproximações à Economia Política, Marx
não distingue trabalho de força de trabalho – cf., por exemplo, K. Marx, Miséria da
filosofia, ed. cit., p. 65 e ss. A introdução de Engels (1891) a Trabalho assalariado e
capital (cf. K. Marx, Trabalho assalariado e capital & Salário, preço e lucro, ed. cit.,
p. 17 e ss.) esclarece didaticamente a distinção mencionada.
124 A ressalva do “quase sempre” justifica-se, por exemplo, pela questão do dinheiro,
mais desenvolvida nos Cadernos que nos Manuscritos – compare-se, infra, a p. 200
e ss. com a p. 414 e ss.
125 De fato, a referência a Smith, nos Manuscritos, é mais recorrente que nos Cadernos
– não só neste ponto, mas ainda na consideração da divisão do trabalho (cf., infra,
a p. 407 e ss. e a p. 187).
126 Quanto a E. Buret (1810-1842), a obra consultada por Marx é de reconhecida
importância no quadro dos estudos publicados nas décadas de 1830 a 1850 sobre
o pauperismo das massas trabalhadoras – como o mostram, p. ex., as suas referên-
cias por Robert Castel, As metamorfoses da questão social. Uma crônica do salário.
Petrópolis, Vozes, 1998, p. 283 e ss.
No que diz respeito a Wilhelm Schulz (1797-1860), A. Cornu, junto com W. Mönke,
foi dos poucos analistas a salientar a sua importância para o Marx dos Manuscritos:
o grande estudioso da obra marx-engelsiana vai ao ponto de afirmar que, em sua
análise “do desenvolvimento econômico e social, Schulz chegava a uma concepção
materialista da história”. Sintetizando as fontes de que se valeu Marx nas reflexões
contidas nos Manuscritos – sem deixar de remarcar a importância de Hegel e
Feuerbach–, Cornu escreve: “[...] Marx tomou de Engels a sua concepção do caráter
contraditório desse sistema [capitalista], que deveria provocar a sua supressão; os
artigos de Hess reforçaram a sua concepção do trabalho como elemento essencial da
vida humana e do caráter econômico e social da alienação; tomou, enfim, de Schulz
a ideia de que o desenvolvimento da produção e da divisão do trabalho determina a
sucessão das formas de sociedade e de Estado, assim como as lutas de classes” [itálicos
meus – JPN ]. Mas acrescenta na sequência imediata: “[...] Seria completamente falso
acreditar que Marx elaborou a sua teoria mediante uma espécie de compilação de
ideias tomadas desses trabalhos. O elemento fundamental da sua teoria era a sua
nova concepção do homem, que determinaria na sua crítica a Hegel, a Feuerbach
e aos economistas. Graças a ela haveria de renovar as ideias de Engels, Hess e de
Schulz, fundindo-as em um todo orgânico” (cf. A. Cornu, Carlos Marx. Federico
Engels, ed. cit., III, 1976, p. 141-142).
127 A ideia de uma contínua pauperização absoluta dos trabalhadores está presente na
Miséria da filosofia e, igualmente, no Manifesto do Partido Comunista (Hobsbawm,
aliás, sugeriu que, no Manifesto..., Marx é antes um “comunista ricardiano” que
um “economista marxiano” – cf. E. J. Hobsbawm, Sobre história. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998, p. 299). Mais precisamente: ainda na segunda metade dos anos
1840, Marx admite “uma lei geral da baixa dos salários a longo prazo” (Mandel, A
formação do pensamento econômico de Karl Marx, ed. cit., p. 61). As investigações
que se documentam nos Grundrisse... permitiram a Marx superar este equívoco e
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formular uma correta teoria do salário, que já está elaborada em 1865, em Salário,
preço e lucro (cf. K. Marx, Trabalho assalariado e capital & Salário, preço e lucro, ed.
cit.) e comparece especialmente nos capítulos XIV a XXXIII do livro I d’O capital
(cf., na ed. cit., vol. 2, p. 583 e ss.).
128 Nos conflitos concorrenciais entre o grande capital e os menores, Marx já verifica
o resultado: “Se [...] a este grande capital se enfrentam [...] capitais pequenos com
pequenos ganhos – como acontece na situação pressuposta de forte concorrência – ele
esmaga-os completamente. [...] A consequência necessária é, então, a deterioração
das mercadorias, a falsificação, a produção fraudulenta, o envenenamento universal,
como é manifesto nas grandes cidades” (cf., infra, as p. 273-274).
129 Leia-se: “Veremos [...] primeiro, como o capitalista exerce o seu poder de governo
sobre o trabalho por intermédio do capital, mas, em seguida, o poder de governo
do capital sobre o próprio capitalista” (cf., infra, a p. 264). Cf. também, infra, a
nota 144.
130 A problemática subjacente à afirmativa de Ricardo haveria de receber um tratamento
muito diverso por parte de Marx. Em 1847, depois de escrever que “os economistas
exprimem as relações da produção burguesa [... e] nos explicam como se produz
nessas relações dadas, mas não nos explicam como se produzem essas relações”, ele
anota: “essas relações sociais determinadas são também produzidas pelos homens
[...]. Adquirindo novas forças produtivas, os homens transformam o seu modo
de produção e, ao transformá-lo, alterando a maneira de ganhar a sua vida, eles
transformam todas as suas relações sociais” (K. Marx, Miséria da filosofia, ed. cit.,
p. 120-121, 125). E, cerca de cinco anos depois, clarifica o âmbito em que se pode
mover a ação dos homens: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem
como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (K. Marx, “O
dezoito brumário de Luís Bonaparte”, in K. Marx-F. Engels, Obras escolhidas em
três volumes, ed. cit., vol. 1, 1961, p. 203).
E quanto às “leis econômicas”: na teoria marxiana, as determinações econômicas
objetivas (sistêmicas e regulares) que a dinâmica do modo de produção capitalista
instaura na vida social são reconhecidas como leis e as suas implicações são tomadas
como necessárias – mas as leis que Marx identifica no modo de produção capitalista
nada têm de supra ou a-históricas nem de naturais no sentido de se deverem à natu-
reza: são tendências sociais reais que implicam contratendências igualmente objetivas
e operantes e que têm curso e validade em condições históricas muito determinadas;
quanto ao caráter necessário de suas implicações, ele diz respeito, exclusivamente, a
que “a presença factual de determinadas condições implica necessariamente, ainda
que apenas como tendência, determinadas consequências” (György Lukács, Para
uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo, I, 2012, p. 363). É conhecida a
recusa marxiana, por exemplo, de uma “lei” (natural e invariante) do crescimento
demográfico, como a de Malthus: “[...] Todo modo histórico de produção tem
suas leis próprias de população, válidas dentro de limites históricos. Uma lei abstrata
da população só existe para plantas e animais, e apenas na medida em que esteja
excluída a ação humana” (cf. K. Marx, O capital..., ed. cit., livro I, vol. 2, p.733
[itálicos meus – JPN ]); cf. também G. Duménil, Le concept de loi économique dans
“Le capital”. Paris: Maspero, 1978 e M. Vadée, Marx, penseur du posible. Paris:
Klincksieck, 1992. Com efeito, não há, na obra de Marx, nenhuma concessão a
qualquer modalidade de naturalização de fenômenos/processos sociais (e certas
expressões – como a registrável na citação que se faz no parágrafo seguinte desta
nota: “processo histórico-natural” [naturgeschichtlinen Prozess] – não devem levar
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1968; o cap. IV de Roger Garaudy, Marxismo do século XX. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1967; Werner Post, Kritik der Religion bei Karl Marx. München: Kösel Verlag,
1969; Dennis McKown, The Classical Marxist Critique of Religion. The Hague: M.
Nijhoff, 1975; Michele Bertrand, Le statut de la réligion chez Marx et Engels. Paris:
Ed. Sociales, 1979 e David McLellan, Marxism and Religion. New York: Harper &
Row, 1987. Para observações significativas referentes à América Latina, cf. o ensaio
de Michael Löwy, Marxismo e teologia da libertação. São Paulo: Cortez/Autores
Associados, 1991.
Mais acima, nesta nota, mencionamos a teoria da ideologia de Marx (e de Engels).
Vulgarizada pela utilização que dela se fez por algumas décadas, esta teoria des-
pertou novo interesse crítico a partir dos anos 1960 e várias contribuições estão
consignadas na bibliografia que já refenciamos; mas vale assinalar ainda – além de
trabalhos mais antigos, como os de Leo Kofler, La ciencia de la sociedad. Madrid:
Revista de Occidente, 1968 [ed. orig., 1944] e Lucien Goldmann, Ciências humanas
e filosofia. São Paulo: Difel, 1967 [ed. orig., 1952] –: Jean Lojkine, “Pour une théorie
marxiste des idéologies”. Cahiers du CERM. Paris: CERM/Ed. Sociales, 69, 1969;
Lucio Colletti, Ideologia e società. Bari: Laterza, 1970; R. Blackburn, ed., Ideology in
Social Sience: Readings in Critical Social Theory. London: Pantheon Books, 1972; do
já referido Leo Kofler, Sociologie des Ideologischen. Stuttgart: Kolhammer, 1975; G.
Vargas Lozano, ed., Ideología, teoría y política en el pensamiento de Marx. México:
UAP, 1980; G. Therborn, The Ideology of Power and Power of Ideology. London:
New Left Books, 1982; B. Parekh, Marx’s Theory of Ideology. London: Croom
Helm, 1982; Adolfo Sánchez Vázquez, Ensayos marxistas sobre filosofía e ideología.
Barcelona: Oceano, 1983; W. F. Haug, Elemente einer Theorie des Ideologischen.
Hamburg: Argument, 1993; T. Eagleton, Ideologia. São Paulo: Boitempo, 1997;
S. Zizek, Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999; L. Althusser,
Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 2001 [ed. orig.,
1970]; I. Mészáros, O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo, 2004 [ed. orig., 1989];
Vv. Aa., Critiques de l’ idéologie. Paris: Actuel Marx/PUF, 2008; e com registros
teóricos bem mais diferenciados, cf. J. Habermas, La technique et la science comme
“ idéologie”. Paris: Gallimard, 1973 [ed. orig., 1968]; Jorge Larrain, The Concept of
Ideology. London: Hutchinson, 1979 e Marxism and Ideology. London: Macmilann,
1983; Robert Porter, Ideology. Contemporary Social, Political and Cultural Theory.
Cardiff: University of Wales Press, 2006; Jan Rehmann, Theories of Ideology. The
Powers of Alienation and Subjection. Leiden: Brill, 2013.
A meu juízo, no quadro da bibliografia marxista acerca da ideologia produzida na
segunda metade do século XX, a contribuição do último Lukács revela-se a mais
original – cf. Para uma ontologia do ser social, ed. cit., II, 2013, cap. III. Observe-
-se que também na Ontologia (idem, cap. IV) Lukács oferece notável contributo à
análise da alienação – na tradução brasileira (de C. N. Coutinho, M. Duayer e N.
Schneider, com revisão técnica de R. V. Fortes), do estranhamento; a tradução (de F.
García Chilcote, em edição sob os cuidados de A. Infranca e M. Vedda) castelhana
deste capítulo da obra lukasciana intitula-se Ontología del ser social: la alienación
(Buenos Aires: Herramienta, 2013).
137 Cf., supra, a nota 114.
138 E já localizáveis, por exemplo, n’A ideologia alemã – alguns deles anotados por Díaz
(cf. La concepción del hombre en Marx, ed. cit.).
139 O deslizamento (Mandel, seguramente, preferiria dizer que Marx movimenta-se
“na fronteira da Filosofia e da Economia Política” – cf. A formação do pensamento
econômico de Karl Marx, ed. cit., p. 34) da Filosofia para a crítica da Economia
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Política apenas neste sentido pode ser posto como uma superação da Filosofia, que
não significa absolutamente o seu cancelamento – ou que só significa o cancelamento
do filosofar especulativo, da mentação filosófico-contemplativa. Cf. I. Mészáros,
“Marx filósofo” (loc. e ed. cit.) e José Barata-Moura, Filosofia em O capital. Uma
aproximação. Lisboa: Avante!, 2013. Para outra concepção da “superação da filosofia”
por Marx, cf. o polêmico Karl Korsch, Marxismo e filosofia. Rio de Janeiro: Ed.
UFRJ, 2010 [ed. orig., 1923].
140 Recordemos, sem temer a repetição, que fato é este, constatado pela Economia
Política: “O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz,
quanto mais a sua produção cresce em poder e volume. O trabalhador torna-se uma
mercadoria tanto mais barata quanto mais mercadoria cria.” (cf., infra, a p. 304).
Poucos parágrafos adiante, Marx volta a indicar como se exprime, “segundo as leis
nacional-econômicas”, a alienação do operário no seu objeto (cf., infra, a p. 307).
141 Marx verifica: “O trabalho produz obras maravilhosas para os ricos, mas produz
privação para o trabalhador. Produz palácios, mas cavernas para o trabalhador.
Produz beleza, mas mutilação para o trabalhador. Substitui o trabalho por máquinas,
mas lança uma parte dos trabalhadores a um trabalho bárbaro e faz da outra parte
máquinas. Produz espírito, mas produz idiotice, cretinismo para o trabalhador.”
(cf., infra, a p. 307).
142 As experiências (intelectuais e políticas) de Marx que se condensam no primeiro
semestre de 1844 permitem-lhe apreender os processos históricos com os quais está
defrontado como medularmente vinculados às classes sociais, suas contradições e
antagonismos e suas lutas. Mas ele ainda carece de conhecimentos e instrumentos
aptos para desenvolver uma análise histórico-concreta da estrutura de classes da
sociedade burguesa – somente a partir da segunda metade dos anos 1840 ele se
mostrará qualificado (seja pelo desenvolvimento dos seus estudos – de que o Ma-
nifesto do Partido Comunista já é uma prova evidente –, seja pela prova prática da
intervenção política, como na revolução de 1848) para reproduzir concretamente
a complexidade e a dinâmica das classes sociais na sociedade burguesa, operando
análises extremamente elaboradas, já perceptíveis na Mensagem do Comitê Central
à Liga dos Comunistas (março de 1850) e cujos primeiros exemplos estão em As
lutas de classes na França. 1848-1850 (1850) e n’O 18 brumário de Luís Bonaparte
(1852 – textos coligidos em K. Marx-F. Engels, Obras escolhidas em três volumes,
ed. cit., vol. I, 1961). Nas suas análises histórico-concretas, Marx não operou uma
abordagem da estrutura social como constituída somente por duas classes – ainda
que burguesia e proletariado sempre se lhe afigurassem as classes fundamentais no
modo de produção capitalista; de qualquer forma, ele nunca chegou a “definir”
classe social – como se constata no inacabado O capital, em que o texto pertinente
(o capítulo LII) não passa de duas páginas (cf. K. Marx, O capital, ed. cit., livro
III, vol. 6, 1974, p. 1112-1113).
Em vários verbetes (“burguesia”, “classes”, “camada social”, “campesinato” “pequena
burguesia/classe(s) média(s)”, “operários”, “proletariado” ), do já citado Dictionnaire
critique du marxisme, bem como em entradas similares (“burguesia”, “campesinato”,
“classe dominante”, “classe média”, “classe operária”) do também citado Dicioná-
rio do pensamento marxista, há um rol bibliográfico que contribui para clarificar
a categoria classe, ainda que as referências e mesmo os textos não digam respeito
exclusivamente à obra de Marx.
143 Glosando esta passagem, Sánchez Vázquez anota: “O operário [...] se aliena ao pro-
duzir, o não operário ao apropriar-se dos produtos e da atividade do operário. [...]
Esta diferença, no entanto, não altera o status alienado comum” (El joven Marx...,
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ed. cit., p. 103). Mas altera essencial e profundamente a relação das classes com a
alienação – como se verá abaixo, na próxima nota.
144 Neste passo, volta Marx a deixar claro que a alienação não incide somente sobre o
operário a partir da sua relação “com os objetos da sua produção. A relação do abas-
tado com os objetos da produção e com ela própria é apenas uma consequência desta
primeira relação. E confirma-a” (cf., infra, a p. 308). Como há pouco lembrou, em
pequeno mas expressivo artigo, o marxista indiano Patnaik, a alienação é processo
que tende à universalidade (cf. P. Patnaik, “Smith, Marx and Alienation”. People’s
Democracy, vol. XXXVIII, n. 32, August 10, 2014).
A alienação como processo inclusivo na sociedade fundada na propriedade privada
(burguesa) está presente no pensamento de Marx desde então; com uma mais clara
distinção entre os sujeitos sociais envolvidos, Marx, logo depois de dedicar-se aos
Manuscritos, escreve: “A classe possuinte e a classe do proletariado representam a
mesma auto-alienação humana. Mas a primeira das classes se sente bem e aprovada
nessa auto-alienação, sabe que a alienação é seu próprio poder e nela possui a aparência
de uma existência humana; a segunda, por sua vez, sente-se aniquilada nessa aliena-
ção, vislumbra nela sua impotência e a realidade de uma existência desumana. Ela
é, para fazer uso de uma expressão de Hegel, no interior da abjeção, a revolta contra
essa abjeção, uma revolta que se vê impulsionada necessariamente pela contradição
entre sua natureza humana e sua situação de vida, que é a negação franca e aberta,
resoluta e ampla dessa mesma natureza. Dentro dessa antítese o proprietário privado
é, portanto, o partido conservador, e o proletário o partido destruidor. Daquele parte
a ação que visa a manter a antítese, desse a ação de seu aniquilamento” (K. Marx-
-F. Engels, A sagrada família..., ed. cit., p. 47-48. A menção a Hegel tem razão de
ser – cf. a relação senhor/escravo na Fenomenologia do Espírito, ed. cit., p. 142 e ss.
–; cf., sobre este passo da Fenomenologia, o pequeno ensaio de Tran-Duc-Thao, “Le
‘noyau rationnel’ dans la dialectique hegélienne”. La Pensée. Paris, n. 119, 1965). A
“ação do seu aniquilamento” implica, segundo o Marx dos Manuscritos (cf., infra,
a p. 318), “a emancipação da sociedade da propriedade privada etc., da servidão,
[que] se exprime na forma política da emancipação dos trabalhadores não como se
se tratasse apenas da emancipação deles, mas antes porque na sua emancipação
está contido todo o humano [...]”; ou, como já vimos numa formulação marxiana
d’A sagrada família... (ed. cit., p. 49), “o proletariado pode e deve libertar-se a si
mesmo. Mas ele não pode libertar-se a si mesmo sem suprassumir suas próprias
condições de vida. Ele não pode suprassumir suas próprias condições de vida sem
suprassumir todas as condições de vida desumana da sociedade atual [...]” – este é
o “papel histórico-mundial” de proletariado.
Do Marx “maduro”, que já consolidou a sua concepção teórico-metodológica nos
Grundrisse e já avançou a ponto de considerar-se apto, enfim, a iniciar a redação
do livro I d’O capital, encontramos num manuscrito a formulação seminal da
tendência da alienação a operar universalmente na sociedade regida pelo capital:
“Na realidade, a dominação dos capitalistas sobre os operários é apenas o domínio
sobre estes das condições de trabalho [...], condições que se tornaram autônomas
precisamente diante dos operários. Esta relação em que as condições de trabalho
dominam o operário só se realiza, contudo, no processo real de produção que, [...]
como vimos, é essencialmente processo de produção de mais-valia [...]. As funções
que o capitalista exerce são somente as funções do próprio capital – do valor que se
valoriza succionando trabalho vivo – exercidas com consciência e vontade. O capi-
talista só funciona enquanto capital personificado, é o capital enquanto pessoa; do
mesmo modo, o operário funciona unicamente como trabalho personificado, que
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lhe pertence como suplício, como esforço, mas que pertence ao capitalista como
substância criadora e ampliadora de riqueza. [...] A dominação do capitalista sobre
o operário é, por conseguinte, a dominação da coisa sobre o homem, do trabalho
morto sobre o trabalho vivo, do produto sobre o produtor [...] Na produção material,
no verdadeiro processo da vida social [...] dá-se exatamente a mesma relação que,
no terreno ideológico, se apresenta na religião: a conversão do sujeito no objeto e
vice-versa. Considerada historicamente, esta conversão aparece como o momento
de transição necessário para impor, pela violência e às expensas da maioria, a cria-
ção da riqueza enquanto tal, ou seja, o desenvolvimento [...] das forças produtivas
do trabalho social, o único que pode constituir a base material de uma sociedade
humana livre. É necessário passar através desta forma antitética, assim como, no
princípio, o homem deve atribuir uma forma religiosa às suas faculdades intelec-
tuais, como poderes que se lhe enfrentam. Trata-se do processo de alienação de seu
próprio trabalho. Aqui o operário está, desde o princípio, num plano superior ao
do capitalista, porque enquanto este deitou raízes neste processo de alienação e
encontra nele a sua absoluta satisfação, o operário, ao contrário, em sua condição
de vítima do processo, está numa situação de rebeldia e o sente como um processo
de avassalamento. [...] O próprio processo de trabalho se mostra apenas como meio
do processo de valorização [...] conteúdo absolutamente mesquinho e abstrato que,
de um certo ângulo, faz aparecer o capitalista como submetido exatamente à mesma
servidão em face da relação com o capital que o operário, no polo oposto e de outra
maneira” (K. Marx, El capital. Libro I. Capítulo VI. Inédito, ed. cit., p. 19-20).
É preciso salientar, com ênfase, que a tendência à universalização da alienação na
sociedade capitalista está longe de significar a inexistência de contratendências ou
– menos ainda – a submissão de todos os indivíduos a ela. Lukács deteve-se várias
vezes sobre esta questão, após o seu fundamental estudo sobre a reificação (cf.
Geschichte und Klassenbewusstsein, ed. cit., p. 94-228), sobretudo na sequência da
explicitação madura do seu pensamento sobre a alienação em Hegel e em Marx (cf.
Der Junge Hegel..., ed. cit., esp. cap. IV, 4); mas é em suas grandes e últimas obras
que a questão aparece superiormente elaborada a partir de uma angulação teórico-
-sistemática: na Estética I (cf. Ästhetik I. Die Eigenart des Ästhetischen.1. Halbband.
Neuwied, 1963, esp. p.161-206, 550-617; 2. Halbband, o último capítulo, p. 675 e
ss.) e na Ontologia (cf. Para uma ontologia do ser social, ed. cit., II, esp. p. 577).
Uma autora que foi, até os inícios dos anos 1970, muito ligada a Lukács tematizou
esta problemática em vários de seus ensaios de então – refiro-me a Agnes Heller,
que, a partir de meados daqueles anos, afastou-se tanto de Lukács quanto da tra-
dição marxista. Em um dos ensaios recolhidos em O cotidiano e a história (Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1972, p. 38-39), escreveu Heller: “Existe alienação quando
ocorre um abismo entre o desenvolvimento humano-genérico e as possibilidades
de desenvolvimento dos indivíduos humanos, entre a produção humano-genérica
e a participação consciente do indivíduo nessa produção. Esse abismo não teve a
mesma profundidade em todas as épocas nem para todas as camadas sociais; assim,
por exemplo, fechou-se quase completamente nas épocas de florescimento da pólis
ática e do Renascimento italiano [objetos de Heller em estudos anteriores, quando
sob a influência de Lukács; cf. O homem do Renascimento. Lisboa: Presença, 1982
e Aristóteles y el mundo antiguo. Barcelona: Península, 1983]; mas, no capitalismo
moderno, aprofundou-se desmesuradamente. Ademais, tal abismo jamais foi intei-
ramente insuperável para o indivíduo isolado: em todas as épocas, sempre houve um
número maior ou menor de pessoas que, com ajuda de seu talento, de sua situação, das
grandes constelações históricas, conseguiu superá-lo. Mas, para a massa, para o grande
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número dos demais, subsistiu o abismo, quer quando era muito profundo, quer quando
mais superficial ” [itálicos meus – JPN ]. Neste mesmo volume de ensaios, e também
em passagens de outra importante obra de Heller (Sociologia della vita quotidiana.
Roma: Riuniti, 1975), o leitor encontra importantes determinações sobre as relações
entre a genericidade humana e o indivíduo.
Outros autores de algum modo relacionados a Lukács tematizaram o problema
da universalidade da alienação/reificação, como Lucien Goldmann (no ensaio “A
reificação” [ed. orig., 1958], in Dialética e cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979)
e Leo Kofler (implicitamente, ao longo do seu importante Arte abstrato y literatura
del absurdo. Barcelona: Barral, 1972; explicitamente, no cap. 7 de História e dialética.
Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2010); sob outra ótica, Karel Kosik considerou a questão
em Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969 [ed. orig., 1963]. No
Brasil, esta problemática foi tangenciada diversamente por Ricardo Antunes (Os
sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999, esp. caps. VII a X) e Mauro Iasi,
As metamorfoses da consciência de classe (São Paulo: Expressão Popular, 2006, esp.
parte 1).
Não podemos nos deter, aqui, no tratamento da alienação e da reificação operado
pela bem diferenciada (como o demonstrou Phil Slater, Origem e significado da
Escola de Frankfurt. Rio de Janeiro: Zahar, 1978) plêiade de pensadores que tive-
ram seus nomes ligados à chamada teoria crítica – cuja história foi cuidadosamente
rastreada por R. Wiggershaus, A Escola de Frankfurt. História, desenvolvimento
teórico, significação política. Rio de Janeiro: Difel, 2006, com rica documentação;
cf. também Martin Jay, A imaginação dialética. História da Escola de Frankfurt e do
Instituto de Pesquisas Sociais. 1923-1950. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. Além
do necessário exame dos textos seminais de seus autores (fundamental, mas não
exclusivamente, M. Horkheimer, T. W. Adorno, H. Marcuse, E. Fromm e também
J. Habermas), há que recorrer a um enorme rol de analistas – cf., entre muitos, G.
E. Rusconi, La teoria critica della società. Bologna: Il Mulino, 1968; J. G. Merquior,
Arte e sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1969 e O marxismo ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987; G. Therborn,
Critica e rivoluzione. Saggio sulla Scuola di Francoforte. Bari: Laterza, 1972, o seu
ensaio “The Frankfurt School”, in G. Stedman Jones et alii, Western Marxism. A
critical reader. London: Verso, 1978 e Do marxismo ao pós-marxismo?. São Paulo:
Boitempo, 2012; S. Buck-Morss, The Origin of Negative Dialectics. Theodor W.
Adorno, Walter Benjamin and the Frankfurt Institute. New York: The Free Press,
1977; P.-L. Assoun e G. Raulet, Marxismo e teoria crítica. Rio de Janeiro: Zahar,
1981; Emilio Lamo de Espinosa, La teoría de la cosificación…, ed. cit.; M. Löwy,
“Le marxisme rationaliste de l’École de Frankfort”. L’ homme et la societé. Paris:
Anthropos, vol. 65, n. 65- 66, 1982; Martin Jay, Marxism & Totality. The adventures
of a concept from Lukács to Habermas. Berkeley/Los Angeles: University of California
Press, 1984; Fredric Jameson, Marxismo e forma. Teorias dialéticas da literatura no
século XX. São Paulo: Hucitec, 1985 e O marxismo tardio. Adorno ou a persistência
da dialética. São Paulo: Ed. Unesp/Boitempo, 1997; Carlos Nelson Coutinho, “A
Escola de Frankfurt e a cultura brasileira”. Presença: Política e Cultura. São Paulo:
Caetés, n. 7, março de 1986; E. Guarnere, “Appunti su Adorno e il marxismo”, in
A. Angelini/G. Puglisi, Adorno in Italia. Siracusa: Ediprint, 1987; S. E. Bronner,
Da teoria crítica e seus teóricos. Campinas: Papirus, 1997 e I. Mészáros, O poder da
ideologia, ed. cit.; cf. também P. Anderson, Considerações sobre o marxismo ociden-
tal. Nas trilhas do materialismo histórico. São Paulo: Boitempo, 2004. Ademais de
páginas dos “clássicos de Frankfurt”, no que toca às relações da teoria crítica com
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notar que Sánchez Vázquez assinalou que o fato de Althusser ignorar completamente
a dimensão teleológica do processo de trabalho responde pela contraposição radi-
cal que o filósofo francês viu entre os Manuscritos e O capital (cf. esta importante
indicação de Sánchez Vázquez na sua Filosofia da práxis, ed. cit., p. 228).
Com referência à longa citação de Marx que fizemos linhas acima nesta nota,
são pertinentes aqui duas observações acerca da edição d’O capital que estamos
utilizando, na tradução pioneira de Reginaldo Sant’anna: a) onde este verteu
“intercâmbio material com a natureza”, outros optaram por “metabolismo com a
natureza” (cf. a versão d’O capital, de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, na coleção
“Os economistas”, São Paulo: Abril Cultural, I, 1, 1983, p. 149 e a de Rubens
Enderle, O capital. São Paulo: Boitempo, I, 2013, p. 255) – solução que me parece
mais consoante o original alemão (cf. K. Marx-F. Engels, MEW, ed. cit., vol. 23,
1972, p. 192: Stoffwechsel mit der Natur; acerca da relevância da concepção do
“metabolismo” em Marx, cf. as ricas notações de Foster em A ecologia de Marx, ed.
cit., p. 221 e ss.); b) onde Sant’anna valeu-se de “projeto”, tanto Barbosa e Kothe
quanto Enderle empregaram “objetivo” (cf. ed. e loc. cit., respectivamente p. 150
e p. 256), solução que igualmente me parece mais colada ao original (Marx não
usa o substantivo Projekt e sim Zweck – cf., em MEW, ed. e vol. cit., p. 193). Mas
devo advertir ao leitor que tais observações, como outras relacionadas a traduções
de textos marxianos, devem ser tomadas com cautela, uma vez que o meu limitado
domínio do alemão não me autoriza a nenhum juízo mais qualificado.
148 É claríssimo o rebatimento destas determinações do jovem Marx na sua obra “ma-
dura” – na “Introdução” (1857) aos Grundrisse, depois de assinalar que na produção
em geral a natureza é sempre o objeto da ação do sujeito (a humanidade), Marx
afirma que “toda produção é apropriação da natureza pelo indivíduo, no interior e
mediada por uma determinada forma de sociedade” (cf. K. Marx, Grundrisse, ed.
cit., p. 41-43); n’O capital, o “permanecer em constante processo para não morrer”
rebate da seguinte forma: “O trabalho, como criador de valores de uso, como traba-
lho útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer que sejam as formas de
sociedade –, é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material [cf. o
último parágrafo da nota anterior – JPN ] entre o homem e a natureza e, portanto,
de manter a vida humana” (cf. K. Marx, O capital, ed. cit., livro I, vol. 1, p. 50).
Aliás, a relação trabalho/natureza – na criação de riquezas sociais – foi analisada
por Paul Burkett, Marx and Nature: a Red and Green Perspective. New York: St.
Martin’s Press, 1999.
Não é possível, nos limites desta apresentação, sequer tangenciar o debate, emergente
no último terço do século XX, acerca do “fim do trabalho” (ou da “sociedade do
trabalho”) – cabe apenas sinalizar que ele tem sido objeto, no Brasil, de substantivas
intervenções (elas mesmas marcadas por polêmicas) de marxistas que assinalam os
enormes equívocos embutidos em tal debate; dentre essas intervenções, registre-se
especialmente: Ricardo Antunes, Adeus ao trabalho?. São Paulo: Cortez, 2011 [ed.
orig., 1995], Os sentidos do trabalho, ed. cit., alguns textos de O caracol e sua concha.
São Paulo: Boitempo, 2005 e o breve artigo “Produção liofilizada e a precarização
estrutural do trabalho”, in Edvânia A. de Souza Lourenço et alii, orgs., Avesso do
trabalho II. São Paulo: Expressão Popular, 2010; Sérgio Lessa, Trabalho e proleta-
riado no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Cortez, 2007; Francisco José Soares
Teixeira, “Marx, ontem e hoje” (esp. item 1, p. 50-85), in Francisco Teixeira e Celso
Frederico, Marx no século XXI. São Paulo: Cortez, 2008; e veja-se José Henrique C.
Organista, O debate sobre a centralidade do trabalho. São Paulo: Expressão Popular,
2006. Vale também a leitura de Giovanni Alves, ainda que sem o foco explícito no
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Há, na obra de Marx, elementos que contribuem decisivamente para fundar tanto
a crítica do nível a que chegou a liquidação da natureza pelo capitalismo contem-
porâneo (e não só este) quanto para projetar uma alternativa viável a ele; veja-se a
tese do caráter destrutivo da produção capitalista (que percorre toda a argumentação
de I. Mészáros, Para além do capital. São Paulo: Boitempo/Unicamp, 2002, mas cf.
esp. caps. 15 e 16) e o relevante trabalho de Joel Kovel, The Enemy of Nature. The
End of the Capitalism or the End of the World?. New York: Zed Books, 2002 – Kovel,
aliás, juntamente com M. Löwy, foi um dos inspiradores do Manifesto ecossocialista
internacional, divulgado por Capitalism, Nature, Socialism em seu n. 49, de março
de 2002; a um dos editores deste periódico norte-americano, James O’Connor,
deve-se o importante Natural Causes. Essays in Ecologycal Marxism. New York: The
Guilford Press, 1998. Cf. ainda R. Grundnann, Marxism and Ecology. Oxford:
Oxford University Press, 1991; o volume L’ écologie, ce matérialisme historique. Paris:
Actuel Marx/PUF, 1992; M. Löwy, Ecologia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2005;
o texto “Existe um marxismo ecológico?”, de E. Altvater, recolhido em A. Borón
et alii, orgs., A teoria marxista hoje. Problemas e perspectivas. São Paulo: Expressão
Popular/Clacso, 2007; a intervenção de R. Vega Cantor, “Marx, a ecologia e discurso
ecológico”, in J. Nóvoa, org., Incontornável Marx. Salvador/São Paulo: EDUFBA-
-Unesp, 2007, bem como as contribuições de C. F. B. Loureiro, J. G. Pedrosa e
E. Trein in Carlos Frederico B. Loureiro, org., A questão ambiental no pensamento
crítico. Natureza, trabalho e educação. Rio de Janeiro: Quartet, 2007 e M. Empson,
Marxism, ecology and human history. London: Bookmarks, 2013.
155 Recorde-se que Feuerbach escrevera que “consciência no sentido rigoroso existe
somente quando, para um ser, é objeto o seu gênero [...]. De fato é o animal objeto
para si mesmo como indivíduo [...], mas não como gênero – por isso falta-lhe a
consciência [...]. Somente um ser para o qual o seu próprio gênero [...] torna-se objeto
pode ter por objeto outras coisas ou seres de acordo com a natureza essencial deles”
(A essência do cristianismo, ed. bras. cit. [1988], cap. I, p. 43).
156 Já vimos que, nas notas sobre James Mill, Marx escreveu que, supondo que “pro-
duzíssemos como seres humanos” , “meu trabalho seria uma livre manifestação de
vida, um gozo de vida”; em troca, “sob a propriedade privada, o trabalho é alienação
de vida, porque trabalho para viver, para conseguir um meio de viver. Meu trabalho
não é a minha vida” (cf., infra, as p. 221-222). Ele distingue, assim e como vimos,
trabalho como manifestação de vida [Lebensäusserung] e trabalho como alienação de
vida [Lebenssentäusserung] (cf. K. Marx-F. Engels, Ergänzungsband...(MEW ), ed.
cit., p. 463).
Parece-me não haver a menor dúvida de que é precisamente a propósito do “trabalho
lucrativo”, do trabalho típico do regime do salariato – em suma, a propósito do
trabalho alienado – que Marx, n’A ideologia alemã (cf., na ed. cit., p. 42), afirma
que “a revolução comunista [...] suprime o trabalho”. Comentando as passagens em
que Marx se refere à “abolição do trabalho”, Marcuse chama a atenção para o fato
de todas elas conterem “a palavra Aufhebung, do vocabulário hegeliano, de modo
que a abolição do trabalho significa que um conteúdo é restaurado na sua forma
verdadeira. [...] Ele usa o termo ‘trabalho’ para significar o que o capitalismo na
verdade entende que o trabalho, em última análise, signifique, ou seja, aquela ati-
vidade que cria a mais-valia na produção de mercadorias, ou que ‘produz capital’”
(H. Marcuse, Razão e revolução, ed. cit., p. 266).
Por outra parte, no seu magnífico estudo da alienação em Marx, Mészáros observa
que, nos Manuscritos, “o trabalho é considerado tanto em sua acepção geral – como
‘atividade produtiva’: a determinação ontológica fundamental da ‘humanidade’
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159 Se, em 28 de dezembro de 1846, em carta a Annenkov, Marx afirma que “a socie-
dade, qualquer que seja a sua forma”, é “o produto da ação recíproca dos homens”
(cf. K. Marx-F. Engels, Werke, ed. cit., vol. 4, 1959, p. 548), já no calor da hora
revolucionária (início de abril de 1849), ele é muito mais preciso, valendo-se de
conquistas teóricas alcançadas n’A ideologia alemã (como a categoria de forças
produtivas): “[...] As relações sociais nas quais os indivíduos produzem, as relações
sociais de produção mudam, transformam-se com a transformação e desenvolvimento
dos meios materiais de produção, das forças produtivas. As relações de produção em sua
totalidade constituem o que chamamos de relações sociais, de sociedade, e na verdade
uma sociedade em um determinado nível de desenvolvimento histórico, uma sociedade
com caráter peculiar, distintivo. A sociedade antiga, a sociedade feudal, a sociedade
burguesa são tais totalidades de relações de produção, cada uma das quais designa
igualmente um nível específico de desenvolvimento na história da humanidade”
(cf. K. Marx, Nova Gazeta Renana, ed. cit., p. 542-543. Este texto, que retoma
conferências pronunciadas por Marx em 1847, em Bruxelas, foi depois coligido no
opúsculo Trabalho assalariado e capital – cf. K. Marx, Trabalho assalariado e capital
& Salário, preço e lucro. São Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 47).
Cerca de um decênio depois, Marx escreve que “a sociedade não consiste de
indivíduos, mas expressa a soma de vínculos, relações em que se encontram esses
indivíduos uns com os outros. [...] Ser escravo e ser cidadão são determinações,
relações sociais dos seres humanos A e B. O ser humano A enquanto tal não é
escravo. É escravo na e pela sociedade” (K. Marx, Grundrisse, ed. cit., p. 205). E,
na sua plena maturidade, no capítulo XLVIII do Livro III d’O capital, registra,
a propósito do “processo capitalista de produção” como “forma historicamente
determinada do processo social de produção em geral”, que este “é tanto um
processo de produção das condições materiais de existência da vida humana como
um processo que, operando-se em específicas relações histórico-econômicas de
produção, produz e reproduz estas mesmas relações de produção e, juntamente
com isto, os portadores deste processo, suas condições materiais de existência e
suas relações recíprocas, vale dizer, sua formação econômico-social determinada,
pois a totalidade destas relações com a natureza e entre si em que se encontram e em
que produzem os portadores desta produção, esta totalidade é justamente a sociedade,
considerada segundo a sua estrutura econômica” (K. Marx, El capital. México:
Siglo X XI, III, vol. 8, 1984, p. 1.042 [os itálicos são meus – JPN ]. Na edição
d’O capital, vertida por R. Sant’Anna, que venho citando, cf. o Livro III, vol. VI,
1974, p. 940). Sobre “formação econômico-social”, além do verbete (M. Godelier)
respectivo no citado Dictionnaire critique du marxisme, cf. as observações de H.
Lefebvre em seu livro O pensamento de Lenine. Lisboa: Moraes, 1969 [ed. orig.,
1957], E. Sereni et alii, La categoría formación económica y social. México: Roca,
1973 e C. Luporini, “Per l’interpretazione della categoria formazione economico-
-sociale”. Crítica marxista. Roma, XV, 3, 1977.
No quadro da sociologia acadêmica (e não só dela), a relação indivíduo/sociedade
(ou “grupo”, “comunidade” etc.) se pôs como problema consistente na prioridade,
precedência ou ponderação de um dos termos sobre o outro – foi assim desde Tar-
de e Durkheim, com suas distintas “soluções” (cf. G. Tarde, La logique sociale. Le
Plessis-Robinson: Institut Synthélabo, 1999 e As leis sociais. Niteroi: Ed. UFF, 2012
e E. Durkheim, esp. As regras do método sociológico. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
1972), culminando com o “esquema relacional” de Parsons (cf. Talcott Parsons,
The Social System. New York: The Free Press, 1959); igualmente pouco exitoso foi o
esforço, intencionalmente crítico, no marco da Psicologia Social, de Gerth e Mills
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162 Observe-se que, nas Teses sobre Feuerbach, Praxis comparece nas teses 1, 2, 3 e 8 e
Tätigkeit nas teses 1, 3, 5 e 9 (cf. o original alemão reproduzido in Labica, As “Teses
sobre Feuerbach” de Kark Marx, ed. cit., p. 21-25). Na edição brasileira citada do
texto marxiano (cf. K. Marx-F. Engels, A ideologia alemã, p. 533-535), a solução
dos tradutores (R. Enderle, N. Schneider e L. C. Martorano) foi, respectivamente,
prática e atividade – solução que me parece adequada.
Coerente com as análises que vem desenvolvendo há quatro décadas, na “introdução”
já citada a K. Marx, Écrits philosophiques, Lucien Sève afirma (p. 83), “contra toda
uma tradição”, que “o pensamento marxiano não é uma filosofia da Praxis, mas
um materialismo da Tätigkeit”.
163 Eis, literalmente, a afirmação lukacsiana: “julgamos correto ver no trabalho o modelo
de toda práxis social, de qualquer conduta social ativa” – cf. G. Lukács, Para uma
ontologia do ser social, ed. cit., II, p. 83; neste capítulo (“O trabalho”) da segunda
parte da obra, a segunda seção (“O trabalho como modelo da práxis social”, p. 82-
126) fundamenta exaustivamente aquela afirmação.
A determinação do caráter inclusivo da práxis – que desborda para além do trabalho,
envolvendo a arte, a ciência e outras objetivações humanas – está posta nas obras
do “último” Lukács. Mas pensadores marxistas que não se inscrevem na órbita de
Lukács também esclarecem esta problemática, alguns desenvolvendo, inclusive,
interessantes tipologias da práxis (cf., p. ex., o já citado trabalho de Sánchez Vázquez,
Filosofia da práxis).
164 Conforme a correta análise de Márkus, em Marx natureza humana [menschliche
Natur] não é sinônimo de essência humana [menschliches Wesen]. Enquanto esta
diz respeito ao “ser do homem” – e a ela voltaremos adiante –, aquela designa “a
totalidade das necessidades, as capacidades, as propriedades em geral, entendidas
no sentido de suas possibilidades humanas, que têm os indivíduos típicos das vá-
rias épocas históricas”; ela é “historicamente mutável, mesmo que contenha certos
elementos constantes” (G. Márkus, Marxismo y “antropología”, ed. cit., p. 76-77).
A mutabilidade histórica da natureza humana é expressamente afirmada por Marx
em 1847: “[...] toda a história não é mais que uma transformação contínua da na-
tureza humana” (cf. K. Marx, Miséria da filosofia, ed. cit., p. 163); tem razão, pois,
Mészáros quando observa que Marx “não aceita algo como uma natureza humana
fixa” e que, por isto mesmo, realiza a sua crítica da Economia Política “com uma
abordagem [...] baseada numa concepção de natureza humana radicalmente oposta”
à dos economistas políticos (I. Mészáros, A teoria da alienação em Marx, ed. cit., p.
137) – já antes, tratando da “ambiguidade terminológica” verificável nos Manuscritos,
Mészáros se referira à essência humana: Marx teria rejeitado “categoricamente a ideia
de uma ‘essência humana’. No entanto, ele manteve a expressão transformando o seu
significado original até torná-la irreconhecível ” (idem, ibidem, p. 19 – itálicos meus
[ JPN ]).
Tais categorias, como o leitor verificará nos textos marxianos que estão coligidos
neste volume, comparecem tanto nos Cadernos quanto nos Manuscritos – para o
seu cotejo com os originais, cf., na fonte citada supra na nota 9 (1977), as p. 451,
460, 462, 517, 531, 535-536, 540 e 542. E apesar das ironias de Marx em relação
aos conceitos empregados pelos “filósofos”, de fato filósofos idealistas e/ou especu-
lativos ou “materialistas puros” – seja n’A sagrada família..., seja n’A ideologia alemã
–, ele nunca as abandonou inteiramente: registra-se, p. ex., a presença de “natureza
humana” na Miséria da filosofia (cf. a citação do primeiro parágrafo desta nota), n’O
capital (ed. cit., trad. de Sant’anna, I, vol. 2, p. 708; III, vol. 6, p. 943) e nas Teorias
da mais-valia (ed. cit., II, p. 549); quanto à “essência humana”, a concepção que se
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liga os indivíduos uns aos outros, relação patriarcal, comunidade antiga, feudalismo
e sistema corporativo. [...] Cada indivíduo possui o poder social sob a forma de
uma coisa. Retire da coisa esse poder social e terá de dar tal poder a pessoas sobre
pessoas. Relações de dependência pessoal [...] são as primeiras formas sociais nas quais a
produtividade humana se desenvolve de maneira limitada e em pontos isolados [itálicos
meus – JPN ]. Independência pessoal fundada sobre uma dependência coisal [daqui
em diante, os itálicos são meus – JPN ] é a segunda grande forma na qual se constitui
pela primeira vez um sistema de metabolismo social universal, de relações universais,
de necessidades múltiplas e de capacidades universais. A livre individualidade fundada
sobre o desenvolvimento universal dos indivíduos e a subordinação de sua propriedade
coletiva, social, como seu poder social, é o terceiro estágio. O segundo estágio cria as
condições do terceiro (K. Marx, Grundrisse, ed. cit., p. 105-106). Para Marx, mais
adiante e entre parênteses, a “conexão coisificada” entre os indivíduos (a “segunda
forma”) “é certamente preferível à sua desconexão, ou a uma conexão local baseada
unicamente na estreiteza da consanguinidade natural ou nas [relações] de dominação
e servidão. É igualmente certo que os indivíduos não podem subordinar suas pró-
prias conexões sociais antes de tê-las criado. Porém, é absurdo conceber tal conexão
puramente coisificada como a conexão natural e espontânea, inseparável da natureza
da individualidade [...] e a ela imanente. A conexão é um produto dos indivíduos. É
um produto histórico. Faz parte de uma determinada fase de seu desenvolvimento.
A condição estranhada [Fremdartigkeit] e a autonomia com que ainda existe frente
aos indivíduos demonstram somente que estes estão ainda no processo de criação
das condições de sua vida social, em lugar de terem começado a vida social a partir
dessas condições. É a conexão natural e espontânea de indivíduos em meio a relações
de produção determinadas, estreitas. [Daqui em diante, os itálicos são meus, salvo
em “essa”, na segunda frase abaixo – JPN ] Os indivíduos universalmente desenvol-
vidos, cujas relações sociais, como relações próprias e comunitárias, estão igualmente
submetidas ao seu próprio controle comunitário, não são um produto da natureza, mas
da história. O grau e a universalidade do desenvolvimento das capacidades em que essa
individualidade se torna possível pressupõem justamente a produção sobre a base dos
valores de troca, que, com a universalidade do estranhamento do indivíduo de si e dos
outros, primeiro produz a universalidade e multilateralidade de suas relações e habi-
lidades. Em estágios anteriores de desenvolvimento, o indivíduo singular aparece
mais completo precisamente porque não elaborou ainda a plenitude de suas relações
e não as pôs diante de si como poderes e relações sociais independentes dele. É tão
ridículo ter nostalgia daquela plenitude original – da mesma forma, é ridícula a
crença de que é preciso permanecer naquele completo esvaziamento. O ponto de
vista burguês jamais foi além da oposição a tal visão romântica e, por isso, como
legítima antítese, a visão romântica o acompanhará até seu bem-aventurado fim”
(idem, ibidem, p. 109-110; note-se a relação entre “o ponto de vista burguês” e a
“visão romântica”).
Passemos a palavra ao Marx dos anos 1860: “Com razão para seu tempo, Ricardo
considera o modo capitalista de produção o mais vantajoso para a produção em
geral, o mais vantajoso para a geração da riqueza. Quer a produção pela produção,
e está certo. [...] A produção pela produção significa apenas desenvolvimento
das forças produtivas humanas, ou seja, desenvolvimento da riqueza da natureza
humana como fim em si. Opor a essa finalidade [como fazem os românticos e os
críticos sentimentais de Ricardo, como Sismondi] o bem do indivíduo é afirmar
que o desenvolvimento da espécie tem de ser detido [...]. Deixa-se de compreen-
der que esse desenvolvimento das aptidões da espécie humana, embora se faça de
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início às custas da maioria dos indivíduos e de classes inteiras, por fim rompe esse
antagonismo e coincide com o desenvolvimento do indivíduo isolado; que assim
o desenvolvimento mais alto da individualidade só se conquista por meio de um
processo histórico em que os indivíduos são sacrificados [...]” (K. Marx, Teorias
da mais-valia, ed. cit., vol. II, p. 549). Se a alienação implica uma defasagem entre
o nível de desenvolvimento do gênero e o do indivíduo (cf. a citação de Heller
no quinto parágrafo da nota 144, supra), estas linhas do Marx que já avançou,
desde os Grundrisse, até a determinação histórico-concreta da alienação deixam
claro a historicidade do fenômeno em que ela consiste e as condições (também
histórico-concretas) da sua ultrapassagem.
169 Recordemos as exatas palavras de Marx, resumindo – no parágrafo inicial de
“Trabalho alienado e propriedade privada” – a argumentação expendida nas pági-
nas anteriores do “Caderno I”: “Partimos dos pressupostos da economia nacional.
Aceitamos a sua linguagem e as suas leis. Supusemos a propriedade privada, a se-
paração de trabalho, capital e terra, igualmente de salário, lucro do capital e renda
fundiária, bem como a divisão do trabalho, a concorrência, o conceito de valor de
troca etc. A partir da própria economia nacional, com as suas próprias palavras,
mostramos que o trabalhador decai em mercadoria e na mais miserável mercadoria,
que a miséria do trabalhador está na relação inversa do poder e da magnitude da
sua produção, que o resultado necessário da concorrência é a acumulação do capital
em poucas mãos, portanto, o mais terrível restabelecimento do monopólio, que,
finalmente, a diferença de capitalista e arrendador fundiário [Grundrentner], tal
como a de agricultor e trabalhador manufatureiro desaparece, e toda a sociedade
tem de dividir-se nas duas classes dos proprietários e dos trabalhadores desprovidos
de propriedade.” (cf., infra, a p. 302-303; cf., supra, a nota 142).
É importante notar que, num complemento ao “Caderno II” (no qual Marx, questio-
nando a relação da fisiocracia – a que aludiremos adiante – com a indústria, já observa
que “o capital industrial é a figura objetiva explicitada (vollendete) da propriedade
privada” – cf., infra, a p. 340), Marx registrou que “a oposição (Gegensatz) de sem
propriedade e propriedade é ainda indiferente, não apreendida na sua ligação ativa,
na sua relação interna, ainda não como contradição (Widerspruch), enquanto não
for concebida como a oposição do trabalho e do capital.” (cf., infra, as p. 340-341).
170 Neste mesmo passo e linhas antes desta afirmação, Marx escreveu: “Uma elevação
violenta do salário [...] nada seria, portanto, senão um melhor assalariamento do
escravo e [daqui ao fim desta frase, os itálicos são meus – JPN ] não teria conquista-
do para o operário nem para o trabalho a sua determinação e dignidade humanas. A
própria igualdade dos salários, como Proudhon exige, apenas transforma a relação
do operário de hoje com seu trabalho na relação de todos os homens com o traba-
lho” – vê-se: bem antes de sua demolidora crítica a Proudhon (Miséria da filosofia,
1847; a obra de Proudhon criticada por Marx está vertida ao português: Sistema
das contradições econômicas ou Filosofia da miséria. São Paulo: Ícone, 2003), Marx
já apreende os limites do seu programa de reforma social. Lembre-se que, mais de
20 anos depois, na sua discussão (“Salário, preço e lucro”,1865) com o operário
John Weston, Marx diria que a classe operária, “em vez deste lema conservador: ‘Um
salário justo para uma jornada de trabalho justa!’, deverá inscrever na sua bandeira
esta divisa revolucionária: ‘Abolição do sistema de trabalho assalariado!’” (K. Marx,
Trabalho assalariado & Salário, preço e lucro, ed. cit., p. 142).
171 Nos “fragmentos” que tratam da divisão do trabalho, no Caderno III, linhas antes
de lembrar “que a divisão do trabalho e a troca repousam sobre a propriedade pri-
vada”, Marx escreveu: “A consideração da divisão do trabalho e da troca é do maior
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de, que se diferencia dos outros e se relaciona com eles através dessa posse exclusiva:
a propriedade privada é o seu modo de existência pessoal, distintivo – logo, a sua
vida essencial” (cf., infra, a p. 209).
176 Voltaremos ao “movimento da propriedade privada” – por agora, cabe completar
dizendo que só atingido o ponto a que aqui se refere Marx “a propriedade privada
pode explicitar (vollenden) a sua dominação sobre o homem e tornar-se, em sua forma
mais universal, um poder histórico-mundial” (cf., infra, a p. 340 [itálicos meus – JPN ]).
177 Quando agora alguma passagem aparecer entre aspas e sem indicação de fonte é
porque se trata de texto marxiano já transcrito anteriormente.
178 Para Marx, “A economia nacional [Economia Política] vela (verbirgt) a alienação
na essência do trabalho por não considerar a relação imediata entre o trabalhador,
(o trabalho) e a produção. [...] Mas a alienação mostra-se não só no resultado, mas
também no ato da produção, no interior da própria atividade produtiva.” (cf., infra,
a p. 308 ).Como anotam dois comentaristas: “A alienação no produto remete ou
pressupõe necessariamente a alienação da atividade de que resulta o produto”
(Sánchez Vázquez, El joven Marx..., ed. cit., p. 90); “Se o produto do trabalho é a
alienação, a própria produção deve ser a alienação em ato, a alienação da atividade”
(N. Lápine, O jovem Marx, ed. cit., p. 256).
179 Donde a desumanização do (homem) operário: “Chega-se assim ao resultado de que
o homem (o trabalhador) já só se sente livremente ativo nas suas funções animais –
comer, beber e procriar, quando muito ainda habitação, adorno etc. –, e já só como
animal nas suas funções humanas. O animal torna-se o humano e, o humano, o
animal.” (cf., infra, a p. 309).
180 Se, nos Manuscritos, como já se mencionou, há ainda hipotecas da antropologia de
Feuerbach, não me parece que o substrato desta afirmação marxiana tenha algo a
ver com o materialismo feuerbachiano ou, menos ainda, com laivos idealistas – no
primeiro semestre de 1844, Marx já é conscientemente materialista. Mas, de fato, os
problemas contidos na noção de sensibilidade de Feuerbach (de que Marx, também
como vimos, já se distingue com a notação do homem como ser da natureza ativo)
são definitivamente resolvidos em 1845-1846; veja-se, por exemplo, a seguinte pas-
sagem: Feuerbach “não vê como o mundo sensível que o rodeia não é uma coisa dada
imediatamente por toda a eternidade e sempre igual a si mesma, mas o produto da
indústria e do estado de coisas da sociedade, e isso precisamente no sentido de que
é um produto histórico, o resultado da atividade de toda uma série de gerações [...].
Mesmo os objetos da mais simples ‘certeza sensível’ são dados a Feuerbach apenas
por meio do desenvolvimento social, da indústria e do intercâmbio comercial. Como
se sabe, a cerejeira, como quase todas as árvores frutíferas, foi transplantada para a
nossa região pelo comércio há apenas alguns séculos e, portanto, foi dada à ‘certeza
sensível’ de Feuerbach apenas mediante essa ação de uma sociedade determinada
numa determinada época”; é por isto que Feuerbach “descobre apenas pastagens e
pântanos na Campagna di Roma, onde na época de Augusto não teria encontrado
nada menos do que as vinhas e as propriedades rurais dos capitalistas romanos”. De
qualquer modo, Marx assinala que “subsiste, sem dúvida, a prioridade da natureza
exterior” (K. Marx-F. Engels, A ideologia alemã, ed. cit., p. 30-31 [os últimos itálicos
meus – JPN)].
181 Já enfatizamos que a alienação não afeta somente o operário, o produtor direto – vê-se
a mesma ênfase no comentário que a este passo de Marx faz Lápine (O jovem Marx,
ed. cit., p. 257-258): “Na medida em que o ser genérico une os homens, a alienação
relativamente a ele gera a atomização dos seres humanos. Não é só o operário que é
arrancado ao seu ser genérico; o não operário é-o igualmente, e cada um deles é-o
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199 Mas Marx já deixou claro que “a indústria abrange [itálico meu – JPN ] a propriedade
fundiária superada (aufgehobne), do mesmo modo a sua essência subjetiva abrange
simultaneamente a essência subjetiva desta” (cf., infra, a p. 339).
Parece-me importante assinalar, aqui, que Marx toma, genial e corretamente, essa
tendência real já operante como um componente axial da dinâmica do que ulte-
riormente ele designará como modo de produção capitalista – mas está claro que,
do ponto de vista imediato, factual, a tendência ainda tardaria a afirmar-se. Isto
é o que indica a pesquisa de Landes (Prometeu desacorrentado..., ed. cit.) e o que
Hobsbawm reconhece na sua “introdução” ao Manifesto do Partido Comunista, ao
advertir os leitores deste texto magnífico que, nele, “Marx e Engels descreveram
não o mundo conforme já transformado pelo capitalismo em 1848, mas previram
como o mundo estava logicamente fadado a ser transformado por ele” (Cf. E. J.
Hobsbawm, Sobre história, ed. cit., p. 301).
200 Lápine se refere, neste ponto, às anotações de Marx sobre Mill: “Neste estado [sel-
vagem, bárbaro], o homem só produz aquilo de que tem necessidade imediata. O
limite da sua necessidade é o limite da sua produção. A oferta e a demanda coincidem
perfeitamente. A sua produção é proporcional às suas necessidades. Neste estado,
não há intercâmbio” (cf., infra, a p. 217).
201 Aqui, Lápine remete novamente às notas sobre Mill: “Na verdade, produzi visando a
um outro objeto, o objeto da tua produção que eu quero trocar pelo meu excedente –
troca que já realizo no meu espírito. O vínculo social em que me encontro em relação
a ti – meu trabalho para satisfazer a tua necessidade – é, pois, uma aparência, e a
nossa mútua integração é, também ela, aparência: sua base é a pilhagem recíproca”
(cf., infra a p. 218).
202 A remissão, ainda aqui, é às notas sobre Mill: “O que, antes de tudo, caracteriza o
dinheiro não é o fato de a propriedade alienar-se nele: a atividade mediadora é que
se aliena nele, é o movimento mediador, o ato humano, social, através do qual os
produtos do homem se complementam uns aos outros; este ato mediador torna-
-se a função de uma coisa material, externa ao homem – uma função do dinheiro.
Através deste mediador externo, o homem, em lugar de ser ele mesmo o mediador
para o homem, experimenta a sua vontade, a sua atividade, a sua relação com os
outros como uma potência independente de si mesmo e dos outros. Chega aqui ao
cúmulo da servidão” (cf., infra, as p. 200-201).
203 O pesquisador esclarece que circunstâncias são essas: “a renda da terra aparece
como uma qualidade específica de uma propriedade agrária específica, isto é, da
propriedade revestida de um invólucro natural; o trabalho agrícola aparece também
como trabalho específico que tem por objeto a própria natureza e que se confunde
diretamente com a ação das forças naturais; por outro lado, este trabalho está ro-
deado de uma rede ramificada de relações de castas que lhe conferem a aparência
de uma atividade genérica que tem um sentido social” (Lápine, O jovem Marx, ed.
cit., p. 274).
204 A qualificação é de Marx – releia-se: trata-se da “produção do objeto da atividade
humana como capital, em que toda a determinidade natural e social do objeto está
apagada, a propriedade privada perdeu a sua qualidade natural e social (portanto
perdeu todas as ilusões políticas e gregárias [geselligen] e não se confunde com quais-
quer relações aparentemente humanas), – em que também o mesmo capital permanece
o mesmo na mais diversificada existência natural e social, sendo completamente
indiferente perante o conteúdo real desta [...]” (cf., infra, a p. 326). E explicitamente,
como já vimos: “A propriedade fundiária, na sua diferença relativamente ao capital,
é a propriedade privada, o capital ainda eivado de preconceitos locais e políticos
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[...] o capital ainda não consumado. Ele tem de chegar à sua expressão abstrata, i. é,
pura, no curso da sua formação mundial.” (cf., infra, a p. 332).
205 Mészáros, A teoria da alienação em Marx, ed. cit., p. 25 (cf., supra, a nota 47).
206 Mészáros, A teoria da alienação em Marx, ed. cit., p. 23. Na interpretação de Mészá-
ros, os Manuscritos constituem o sistema de Marx in statu nascendi – constituição
tornada possível quando a questão da “transcendência” é concretizada no texto
sobre Hegel.
A “Crítica da dialética e da filosofia de Hegel em geral” recebeu tratamento su-
ficiente, entre outros, de Cornu (cf. Carlos Marx. Federico Engels, ed. cit., III, p.
200-224), Lukács (cf. Der Junge Hegel..., ed. cit., cap. IV, 4 e O jovem Marx e outros
escritos de filosofia, ed. cit., p. 186-195), Calvez (cf. O pensamento de Karl Marx,
ed. cit., I, I, 3), Marcuse (cf. Ideias sobre uma teoria crítica da sociedade, ed. cit., p.
41-55; cf., infra, a nota 237); Dal Pra (cf. La dialettica in Marx, ed. cit. [1977], cap.
III), Sánchez Vázquez (cf. El joven Marx..., ed. cit., cap. VI) e Lápine (cf. O jovem
Marx, ed. cit., p. 290-303); cf. também os estudos, já citados, de M. Rossi (1963),
W. Schmied-Kowarzik (1969) e S. Mercier-Josa (1980 e 1986). Há elementos para
esta discussão em V. Magalhães Vilhena, org., Marx e Hegel: Marx e o “caso” Hegel.
Lisboa: Horizonte, 1985. Aspecto importante da crítica a Hegel no escrito de Marx
em tela diz respeito à abstração – por isto, vale recorrer à contribuição de M. Vadée
(“A crítica da abstração por Marx”) a Jacques d’Hondt et alii, A lógica em Marx.
Lisboa: Iniciativas Editoriais,1978.
Na abertura desta apresentação ficou claro, e certamente o leitor o comprovou no
que leu até aqui, que as fontes bibliográficas que arrolamos contemplam orientações,
interpretações e hipóteses/teses conflitantes e diversificadas – seu elenco é intencional
e efetivamente pluralista. No caso presente, permito-me assinalar uma expressiva
discrepância em duas fontes: Sánchez Vázquez, reconhecendo os méritos de Lukács
no trato da relação de Hegel com a Economia Política, põe em questão – a meu
juízo, de forma muito discutível – a apreciação que dela faz Lukács.
207 Se o último parágrafo do “prefácio” aos Manuscritos – e se vejam as notas editorais
a ele pertinentes – é, quanto a isto, significativo, muito mais o são os comentários
marxianos nos parágrafos segundo, terceiro e quarto do excurso (cf., infra, respec-
tivamente, as p. 359-363).
208 No último capítulo de O jovem Hegel e os problemas da sociedade capitalista (cf.
Der junge Hegel..., ed. cit., IV, 4), Lukács demonstra persuasivamente que, embora
a crítica a Hegel só compareça explicitamente ao fim dos Manuscritos, ela de fato
atravessa o conjunto deles, ainda que Hegel não seja nomeado – e em função preci-
samente de Marx, à base dos seus estudos dos eonomistas políticos, já identificar a
raiz econômica da alienação.
209 Segundo o Marx de meados de 1844, três são os feitos de Feuerbach: 1. pro-
vou que a filosofia (de Hegel) é tão somente a religião trazida ao pensamento;
portanto, é um outro modo de existência da alienação da essência humana; 2.
fundou o materialismo verdadeiro e a ciência real e 3. questionou a concepção
hegeliana da negação da negação (cf., infra, a p. 363) – e a este questionamento
voltaremos adiante.
Recorde-se o leitor do “entusiasmo” de Marx referido por Engels (cf., supra, a nota
25) – meses depois, Marx já tinha claras, nas Teses sobre Feuerbach e em seguida n’A
ideologia alemã, as limitações desse “materialismo verdadeiro”.
210 A linguagem de Marx não é inocente: utiliza a palavra grandeza [Größe] para qua-
lificar a apreensão da essência do trabalho por Hegel – cf. o original alemão: “Das
Größe an der Hegelschen Phäenomenologie und ihrem Endresultate...” (K. Marx-F.
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Engels, Werke. Ergänzungsband. Schriften. Manuskripte. Briefe bis 1844, ed. cit., p.
574).
211 Para a exploração e o aprofundamento das questões aqui envolvidas, cf. esp. J. A.
Giannotti, Origens da dialética do trabalho, ed. cit., p. 155 e ss., Sánchez Vázquez,
El joven Marx..., ed. cit., cap. VI. Mas cf. também os textos citados na nota 206,
supra.
212 A feliz expressão é de Roger Garaudy, La pensée de Hegel. Paris: Bordas, 1966, p.
76; de Garaudy, o trabalho mais significativo sobre Hegel é Dieu est mort. Étude
sur Hegel. Paris: PUF, 1962.
213 Marx alude ao “positivismo acrítico” e ao “idealismo acrítico” de que Hegel con-
tinuará dando provas. Veja-se o comentário de Sánchez Vázquez (El joven Marx...,
ed. cit., p. 196-197): “A Fenomenologia contém, em germe, potencialmente, o que
se mostrará em toda a sua nudez no sistema hegeliano: uma justificação acrítica
da realidade, dos fatos. Por isto, Marx emprega o termo positivismo, no sentido de
um ater-se aos fatos, justificando-os acriticamente, não fundadamente, e, por isto,
Marx o qualifica como positivismo acrítico. [...] Mas é também um idealismo acrítico,
baseado no apriorismo não fundado da Ideia, que se traduz, por um lado, na negação
da experiência presente e, por outro, na sua restauração, justificando-a conservado-
ramente”. (Para uma ponderação cuidadosa do conservadorismo de Hegel, cf. os
trabalhos de Jacques d’Hondt, Hegel, philosophe de l’ histoire vivant. Paris: Delga,
2013 [ed. orig., 1966] e Hegel en son temps (Berlin, 1818-1831). Paris: Delga, 2011
[ed. orig., 1968] e também Vv. Aa., Hegel et Marx: la politique et le réel. Poitiers:
Centre de Recherche et de Documentation sur Hegel et sur Marx/Université de
Poitiers, 1971).
Marx, porém, mesmo nessas duras reservas à Fenomenologia hegeliana, não mi-
nimiza a sua “grandeza”: na crítica mistificadora, “na medida em que ela capta a
alienação do homem – ainda que o homem apareça apenas na figura do espírito
–, residem [...] todos os elementos da crítica, ocultos e frequentemente preparados
e elaborados de um modo que excede de longe o ponto de vista de Hegel.” (cf.,
infra, a p. 369).
Não é esta a oportunidade para sequer tangenciar as possibilidades e os limites do
idealismo objetivo (veja-se a tese I sobre Feuerbach) – possibilidades e limites que,
em Hegel, são concomitantes e inseparáveis, configurando um espaço de tensões e
contradições tais que a sua filosofia idealista acaba por comportar “um materialismo
posto de cabeça para baixo [...]” (cf. F. Engels, Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia
clássica alemã, em K. Marx-F. Engels, Obras escolhidas..., ed. cit., 3, 1963, p. 181).
Não é detalhe menor que, na sua leitura da Lógica, durante o exílio suíço, entre
setembro e dezembro de 1914, Lenin tenha verificado que “na obra mais idealista
de Hegel há menos idealismo e mais materialismo” (cf. V. I. Lenin, Cadernos sobre a
dialética de Hegel. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011, p. 194; M. Löwy discorre sobre
o que julga ser o impacto político desta leitura sobre Lenin em seu Método dialético
e teoria política, ed. cit., cap. VIII).
214 Já então Marx afirmava que a solução de “oposições teóricas” (subjetivismo/obje-
tivismo, espiritualismo/materialismo, atividade/sofrimento) “só é possível de um
modo prático, só através da energia prática do homem, e por isso a sua solução não
é de modo nenhum apenas uma tarefa do conhecimento, mas é uma tarefa vital
real, a qual a filosofia não pôde resolver precisamente porque a apreendia apenas
como tarefa teórica.” (cf., infra, a p. 353). E também já tinha clareza de que, se “a
solução dos enigmas teóricos é uma tarefa da prática e está mediada praticamente”,
“a verdadeira prática é a condição de uma teoria real e positiva” (cf., infra, a p. 400).
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215 Esta concepção é reiterada n’A ideologia alemã: “O comunismo não é para nós um
estado de coisas [Zustand] que deve ser instaurado, um ideal para o qual a realidade
deverá se direcionar. Chamamos de comunismo o movimento real que supera o
estado de coisas atual. As condições desse movimento [...] resultam dos pressupostos
atualmente existentes” (K. Marx-F. Engels, A ideologia alemã, ed. cit., p. 38). E,
sabe-se, retomada no Manifesto: “As proposições teóricas dos comunistas não se
baseiam, de modo nenhum, em ideias ou em princípios inventados ou descobertos
por este ou aquele reformador do mundo. São apenas expressões gerais de relações
efetivas de uma luta de classes que existe, de um movimento histórico que se processa
diante de nossos olhos” (K. Marx-F. Engels, Manifesto do Partido Comunista, ed.
cit., p. 21).
Nos Manuscritos, considerando a efetividade do movimento histórico em que consiste
o comunismo e a sua necessidade para a resolução da contradição mencionada, Marx
de fato não problematiza a sua realização (cf., infra, a nota 220) – por outro lado,
não se esqueça que estas páginas do “Caderno III” são a primeira elaboração teórico-
-filosófica marxiana em defesa do comunismo. Isto, porém, não significa que para
Marx uma tal realização sejam favas contadas, com o trânsito da humanidade ao
comunismo inscrito num determinismo histórico inexorável (cf., aqui, as reflexões
de João Antônio de Paula, Crítica e emancipação humana. Ensaios marxistas. Belo
Horizonte: Autêntica, 2014, p. 139-153). O otimismo revolucionário de que Marx
sempre deu provas não tinha nada de ingênuo – precisamente no seu documento
teórico-político mais célebre, lê-se que as lutas de classes (como a luta entre o
proletariado e a burguesia, constitutiva do movimento histórico que possibilita o
comunismo) configuram “uma guerra que sempre terminou ou com uma transfor-
mação revolucionária de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta”
(K. Marx-F. Engels, Manifesto do Partido Comunista, ed. cit., p. 5 [os itálicos são
meus/JPN ]). Historicamente, sempre se lida com alternativas – a que está em jogo
aqui é supressão da propriedade privada, a alienação e seus corolários ou... o que
depois conheceremos, a barbárie.
216 Ao longo da sua vida, foram contínuos a polêmica e o confronto crítico (teórico e/
ou político) de Marx com/contra vertentes socialistas e comunistas, reformistas e
revolucionárias, mas também democrático-burguesas, que lhe eram contemporâneas.
Dentre as que tiveram registro e/ou divulgação públicos à época, assinalemos apenas
aquelas com/contra: W. Weitling e H. Kriege (ideólogo do “socialismo verdadeiro),
em 1846; Proudhon e K. Heinzen, em 1847; A. Gottschalk e S. Born, no processo
da revolução alemã de 1848; A. Willich e K. Schapper, em 1850; J. Weston, 1865;
Bakunin, 1869-1872; J. G. Eccarius, 1872; com os protagonistas, lassalleanos ou
não, da criação do Partido Social-Democrata Alemão, 1874-1875. Evidentemente,
não faz parte dessas polêmicas o confronto com o provocador Karl Vogt, cujo
desmascaramento atormentou Marx no final dos anos 1850 (cf. K. Marx, Sr. Vogt.
Lisboa: Iniciativas Editoriais, I-II, 1976).
217 Entre aqueles que são convencionalmente arrolados como socialistas, Marx menciona
Proudhon, Fourier e Saint-Simon (os dois últimos designados, também conven-
cionalmente, como “utópicos”). Aqui e noutro passo dos Manuscritos (cf., supra, a
nota 170) há reservas a Proudhon – Marx, porém, até 1846 manteve para com ele
uma relação de grande respeito (basta ver as referências a Proudhon n’A ideologia
alemã); em 1847 Marx o critica duramente (Miséria da filosofia), no Manifesto do
Partido Comunista trata-o como um “socialista burguês” e só na nota necrológica
que redige em janeiro de 1864 oferece dele uma avaliação mais justa (cf., na ed. cit.
da Miséria da filosofia, as p. 259-269). Saint-Simon, Fourier e Owen (nomeado mais
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228 Segundo esta teoria, diz Marx, “há gente a mais. Até mesmo a existência do homem
é um puro luxo e se o trabalhador for ‘moral’ [...] será poupado na procriação. A
produção do homem aparece como miséria pública” (cf., infra, a p. 398).
229 As controvérsias entre os economistas (Lauderdale e Malthus, de um lado e, doutro,
Say, Ricardo) sobre poupança e luxo, Marx resume-as indicando a sua inépcia (cf.,
infra, as p. 396-399).
230 Diz Marx: “O sentido que a produção tem, no que diz respeito ao rico, mostra-se
manifestamente no sentido que ela tem para o pobre; para [os de] cima, a exterioriza-
ção é sempre fina, oculta, ambígua, aparência; para [os de] baixo, grosseira, franca,
sincera, essência. A necessidade rude do trabalhador é uma fonte de lucro muito
maior que a fina do rico. Os sotãos em Londres rendem mais ao seu senhorio do que
os palácios, i. é, são, no que a ele diz respeito, uma riqueza maior, portanto, para
falar nacional-economicamente, uma maior riqueza social.” (cf., infra, a p. 398).
De qualquer modo, a alienação, também aqui, é universal – se os de cima podem
fruir a riqueza e atender às suas necessidades, nem por isso a alienação na posse e
na fruição deixa de operar – cf., infra, as p. 403-404
No que toca à pregação moral, segundo Marx, “a autorrenúncia, a renúncia à vida,
a todas as necessidades humanas, é a sua tese principal. Quanto menos comeres,
beberes, comprares livros, fores ao teatro, ao baile, ao restaurante, pensares, amares,
teorizares, cantares, pintares, esgrimires etc., tanto [mais] poupas, tanto maior se
tornará o teu tesouro [...]. Quanto menos tu fores, quanto menos exteriorizares a
tua vida, tanto mais tens, tanto é a tua vida exteriorizada, tanto mais armazenas da
tua essência alienada.” (cf., infra, a p. 395).
231 Entra em cena, aqui, o dinheiro – na sequência imediata do que transcrevemos na nota
anterior, diz Marx: “Tudo o que o economista nacional te toma de vida e de humanidade,
tudo isso ele te restitui em dinheiro e riqueza. E tudo aquilo que tu não podes, pode o
teu dinheiro [...] ele é a verdadeira potência [Vermögen]” (cf., infra, a p. 395).
232 Note-se a referência à riqueza do ser humano e natural – no mesmo passo, Marx
anotou que “o sentido humano, a humanidade dos sentidos, apenas advêm pela
existência do seu objeto, pela natureza humanizada.” (cf., infra, a p. 352).
Neste contexto, é ilustrativa a reflexão de Marx acerca de como a indústria cons-
titui o livro aberto das forças humanas essenciais objetivadas de que o homem deve
se apropriar, questão que, até então, a Psicologia simplesmente abstraiu de suas
considerações (cf., infra, as p. 353-354).
233 Para a constituição do marxismo, alguns pensadores foram decisivos – como G.
Plekanov e K. Kautsky; na do maxismo-leninismo, não se pode minimizar o papel
intelectual, especialmente em 1924-1926, de Stalin – peça básica dessa contribui-
ção foi vertida ao português e divulgada no Brasil: Os fundamentos do leninismo.
Rio de Janeiro: Calvino, 1934 (precedida de uma edição tirada na Argentina: Os
fundamentos do leninismo: conferências realizadas na Universidade de Sverdlov, de
Moscou, em princípios de abril de 1924. Buenos Aires: Sudam, 1931). Nos anos
1950, a Editorial Vitória (Rio de Janeiro), do PCB, iniciou a publicação das Obras
de Stalin, que, ao que sei, foi interrompida com a edição do volume VI (1954), no
qual se encontram Os fundamentos do leninismo.
234 O texto staliniano está disponível no volume 29 da coleção “Grandes cientistas
sociais”/Política – Stalin. São Paulo: Ática, 1982, p. 127-157.
235 David Riazanov (1870-1938) foi vítima, mais uma, da razzia promovida por Stalin
na segunda metade dos anos 1930. O texto de Hugo Eduardo da G. Cerqueira,
coligido por João Antônio de Paula no já citado O ensaio geral..., apresenta uma
bela síntese da vida e da obra de Riazanov, seguida de bibliografia.
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(notas de leitura de 1844)
KARL MARX
NOTA DO TRADUTOR
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N o t a d o t r a d u t o r
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1 A edição de Maximilen Rubel se abre com esta passagem. O texto traduzido por
Bolívar Echeverría antecede-a com uma nota encontrada numa página solta, na qual
Marx faz um resumo do ensaio “Esboço de uma crítica da Economia Política”, que
Engels enviou da Inglaterra para os Anais Franco-Alemães (ensaio que se encontra
disponível em J. P. Netto, org., Engels. Política. S. Paulo: Ática, col. “Grandes
cientistas sociais”, vol. 17, 1981). Eis o teor da nota (cf. Cuadernos de Paris, ed. cit.,
p. 103-104):
“A propriedade privada. Sua consequência imediata: o comércio; como toda atividade
[se torna] fonte imediata de lucro para aqueles que a exercem. A seguinte categoria
condicionada pelo comércio: o valor. Valor real abstrato e valor de troca. Say: utili-
dade como determinação do valor real; Ricardo e Mill: custos de produção. Para os
autores ingleses, a concorrência representa a utilidade frente aos custos de produção;
para Say [os representados são] os custos de produção. Valor: a relação entre os custos
de produção e a utilidade. A aplicação imediata do valor: a decisão, em geral, se é
conveniente produzir, se a utilidade compensa os custos de produção. A aplicação
prática do conceito de valor, limitada à decisão sobre a produção; a diferença entre
valor real e valor de troca repousa no fato de que o equivalente oferecido no comér-
cio não é o equivalente. O preço: relação entre custos de produção e concorrência.
Apenas o que pode ser monopolizado tem um preço. A definição ricardiana da
C a d e r n o s d e P a r i s
renda da terra é errônea porque pressupõe que uma redução da demanda repercute
instantaneamente no arrendamento da terra e põe imediatamente fora de serviço
uma quantidade equivalente do solo trabalhado em piores condições. Isto é errôneo.
Esta definição deixa de lado a concorrência que, segundo Smith [...] a fertilidade.
O arrendamento da terra é a relação entre a fertilidade do solo e a concorrência. O
valor da terra deve medir-se segundo a capacidade de produção de áreas iguais nas
quais se emprega trabalho igual.
Divisão entre capital e trabalho. Divisão entre capital e lucro. Divisão do lucro em
lucro e juros [...]. Lucro: o peso que o capital põe na balança para a determinação
dos custos de produção; permanece inerente ao capital e isto recai sobre o trabalho.
Divisão entre trabalho e salário. Importância do salário. A importância do trabalho
na determinação dos custos de produção. Separação entre terra e homem. Trabalho
humano dividido em trabalho e capital.
(Aquilo que acima se pôs entre colchetes é da responsabilidade de Bolívar Echeverría.
[N. do T.])
2 “Propriedade [...] uma posse reconhecida. A Economia Política supõe a sua existência
como uma coisa de fato e apenas acidentalmente considera o seu fundamento e as suas
consequências. [...] Não pode haver riquezas sem propriedade [...] o maior estímulo
para a aquisição de riquezas e, portanto, para a produção. [...] Riqueza [...] a soma dos
valores, ou seja, a soma das coisas avaliáveis que alguém possui [...]. Riqueza de uma
nação [...] a soma dos valores na posse dos particulares que compõem esta nação e
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K a r l M a r x
3. Valor e utilidade
Na determinação do valor, Ricardo considera somente os
custos de produção e Say apenas a utilidade. Em Say, a concor-
rência substitui os custos de produção. A utilidade – ou seja,
dos valores que possuem em comum. A riqueza [...] relativa ao valor das coisas de
que se necessita, comparado ao valor das coisas que se podem oferecer em troca
[...]” (Jean-Baptiste Say, Traité d’ économie politique. Paris: 2 tomos, 1817, p. 471,
478-480). [BE] O Tratado de economia política, de J.-B. Say, tem edição brasileira
na coleção “Os economistas” (S. Paulo: Abril Cultural, 1983). [N. do T.]
3 “Os principais aperfeiçoamentos das faculdades produtivas do trabalho e a maior
parte da habilidade, da destreza e a inteligência com que elas são dirigidas ou
aplicadas se devem, ao que parece, à divisão do trabalho”. [...] “Assim como é mediante
o contrato, mediante a troca ou compra, que obtemos dos outros os benefícios que
nos são mutuamente necessários, assim foi também precisamente esta disposição
para comerciar que, nas origens, deu lugar à divisão do trabalho”. [...] “Por exemplo,
numa tribo de caçadores ou de pastores, um particular fabrica arcos e flechas com
maior rapidez e destreza que outros. Comercia amiúde com seus companheiros e
recebe cabeças de gado ou de caça em troca desse tipo de objetos; logo se dá conta
de que, mediante este procedimento, pode obter tais presas mais facilmente do
que se fosse pessoalmente atrás delas. Assim, pois, graças a um cálculo interessado,
faz da fabricação de arcos e flechas a sua ocupação principal – e ei-lo convertido
em fabricante de armas” (Adam Smith, Recherches sur la nature et les causes de la
richesse des nations. Tradução de Germain Garnier. Paris: 4 tomos, 1802, p. 11, 32
e 33). [BE] Registram-se duas edições integrais da obra de A. Smith em português:
A riqueza das nações. Investigação sobre sua natureza e suas causas. S. Paulo: Abril
Cultural, col. “Os economistas”, 2 vols., 1983 e Inquérito sobre a natureza e as causas
da riqueza das nações. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2 vols., 1999. [N.
do T.]
187
C a d e r n o s d e P a r i s
4 Valor: “Se é a quantidade de trabalho fixado numa coisa que regula o seu valor
de troca, consequentemente todo aumento da quantidade deste trabalho deve
necessariamente aumentar o valor do objeto sobre o qual foi aplicado; igualmente,
toda redução do mesmo trabalho deve reduzir o preço do objeto” (David Ricardo,
Des principes de l’ économie politique et de l’ impôt. Tradução de F. S. Constancio.
Paris: 2 tomos, 1835, p. 8). “Para que o valor de troca aumente quando aumentam
os custos de produção, será necessário que a relação entre a oferta e a demanda
permaneça igual; a demanda deveria também aumentar, mas isto não ocorre;
embora se igualem todas as outras relações, a demanda se reduz necessariamente.
Portanto, o valor de troca não aumenta quando aumentam os custos de produção”
(Say, op. cit., p. 8, nota). [BE] Há tradução da obra de D. Ricardo na coleção “Os
economistas”: Princípios de economia política e tributação (S. Paulo: Abril Cultural,
1982). [N. do T.]
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K a r l M a r x
4. Renda da terra
Ricardo separa a fertilidade do solo em si daquela que este
adquire graças a instrumentos e instalações, ao capital nele
investido. Trata-se de uma separação absurda. Smith observa,
corretamente, que, em geral, o capital destinado ao melhora-
mento do solo não provém do proprietário e, logo, este não
deveria exigir, enquanto capitalista, uma renda mais elevada por
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C a d e r n o s d e P a r i s
5. Propriedade e acumulação8
Eis uma observação divertida de Say sobre a função da
propriedade: função
na verdade cômoda, mas que, no estado atual das nossas socie-
dades, exigiu uma acumulação, fruto de uma produção e uma
poupança, vale dizer, de uma privação anterior (op. cit., p. 92).
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8. Superprodução e crise
A Economia Política não conhece apenas o milagre da
superprodução e da supermiséria, mas também o do contraste
entre o crescimento dos capitais e seus métodos de emprego de
um lado e, doutro, como consequência de tal crescimento, a
escassez de oportunidades produtivas.
Na situação atual, a importância da teoria de Ricardo reside
apenas em que ela mostra como, no curso de uma acumulação
progressiva, a concorrência entre os capitalistas e a queda de
seus lucros não acarretam necessariamente, como Smith su-
punha, uma elevação dos salários. Neste momento, em todos
os países industriais, o número de trabalhadores ultrapassa a
sua demanda e eles podem ser recrutados cotidianamente no
proletariado sem trabalho. Inversamente, a acumulação, junto
à concorrência, reduz continuamente o salário.
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C a d e r n o s d e P a r i s
Ricardo, tanto como Say – que pensa como ele (t. II, p.
95, nota) e que foi o primeiro a formular o princípio segundo
o qual a demanda da produção só é limitada pela própria pro-
dução –, não pode responder a esta questão: de onde provêm
a concorrência e as falências, as crises comerciais etc., se todo o
capital encontra seu emprego correspondente, se este emprego
está sempre em proporção ao número de capitais? Com esta
simples proposição, estes senhores suprimiriam o seu princípio
maior, a concorrência, tanto como a razão deste princípio e de
toda a sua sabedoria, ou seja: que cada indivíduo (bem enten-
dido, um indivíduo não sem dinheiro) sabe perfeitamente o que
corresponde a seus interesses e, por consequência (consequência
carregada de conteúdo), ao interesse da sociedade. Por que razão
esses sábios indivíduos se arruinariam a si mesmos e causariam a
ruína de outros se, para todo capital, há uma utilização lucrativa
sempre disponível?
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18 “A quantidade de dinheiro pode ser tão grande que seu valor pode cair abaixo do que
tem como metal precioso; neste caso, a relação original se restabelece graças à restituição
imediata do metal precioso a seu estado de metal precioso em barras”. “Se o valor do
dinheiro é determinado pelo valor do metal precioso, como este último é regulado? [...]
O ouro e a prata são mercadorias que requerem uma inversão de trabalho e capital;
portanto, os custos de produção regulam o valor do ouro e da prata, assim como o de
todos os demais produtos” (James Mill, Éléments d’économie politique. Tradução de J.
T. Parisot. Paris, 1823, p. 136-137). [BE]
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19 Marx formula aqui as mesmas ideias que Moses Hess apresenta em seu ensaio sobre
o dinheiro (Über das Geldwesen), cujo manuscrito lera em finais de 1843. [MR]
20 “O intermediário da troca é aquele artigo que torna efetivo o intercâmbio entre outros
dois artigos ao ser recebido em troca de um e entregue em troca de outro” (Mill, op.
cit., p. 125). [BE]
200
K a r l M a r x
uns aos outros; este ato mediador torna-se a função de uma coisa
material, externa ao homem – uma função do dinheiro.
Através deste mediador externo, o homem, em lugar de
ser ele mesmo o mediador para o homem, experimenta a sua
vontade, a sua atividade, a sua relação com os outros como uma
potência independente de si mesmo e dos outros. Chega aqui ao
cúmulo da servidão. Não é surpreendente que este mediador se
converta em um verdadeiro deus, porque reina onipotentemente
sobre as coisas para as quais ele me serve como intermediário.
Seu culto torna-se um fim em si. Separados deste mediador, os
objetos perdem o seu valor. Se, primitivamente, o dinheiro só
tinha valor na medida em que representava os objetos, estes,
agora, só possuem valor na medida em que o representam21.
Esta inversão da relação primitiva é necessária. Este mediador
é, por consequência, a essência da propriedade privada que se
perdeu a si mesma, que se alienou; é a essência da propriedade
privada tornada exterior a ela mesma, expulsa dela mesma, tan-
to como é a mediação entre as produções humanas, mas uma
mediação alienada, a atividade genérica do homem separada do
homem. Todos os caracteres que pertencem à atividade genérica
da produção, próprios a esta atividade, são transferidos a este
mediador. O homem se empobrece tanto mais como homem
separado deste mediador quanto mais este se torna rico.
Cristo, primitivamente, representa: 1º) os homens diante de
Deus; 2º) Deus para os homens; 3º) os homens para o homem.
De igual modo, o dinheiro – por definição – representa
primitivamente: 1º) a propriedade privada para a propriedade
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ser ilimitado e livre [...]; esta liberdade e esta universalidade se estendem ao seu
ser total ” (L. Feuerbach, Manifestes philosophiques. Paris, 1960, p. 196). São estes
manuscritos parisienses, inspirados em Feuerbach, que nos oferecem a definição do
“homem total” e do “indivíduo integral” de que fala Marx n’O capital (cf. Oeuvres,
t. I, p. 987, 992). [MR]. Esta última referência de Maximilien Rubel encontra-se, na
edição brasileira já citada d’O capital, no livro I, vol. 1, às p. 554 e 559. O primeiro
texto feuerbachiano citado foi traduzido ao português – L. Feuerbach, Princípios
da filosofia do futuro. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. [N. do T.]
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26 O tema dos efeitos destrutores da divisão do trabalho será desenvolvido n’O capital,
livro I, caps. XIV e XV. No seu Esboço..., Engels remete as diversas separações
“refinadas”, “contra-natureza”, caras ao economista, à separação fundamental do
capital e do trabalho, assim como ao crescente antagonismo entre capitalistas e
trabalhadores (Werke. Berlin: Dietz Verlag, 1958, I, p. 511 e ss.). [MR] A referência
de Maximilien Rubel a’O capital, na edição brasileira citada, é encontrada nos
capítulos XII e XIII (livro e volume citados, p. 386-579). Sobre o texto de Engels,
cf., supra, a nota 1. [N. do T.]
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27 “É consumo improdutivo todo aquele que não acresce o produto, que não serve
para adquirir, mediante uma coisa, outra equivalente”. “O consumo produtivo
é, em si, um meio, um meio para a produção; o consumo improdutivo não é um
meio, é um fim – o prazer que oferece o consumo é o motivo de toda a operação
precedente”. “Tudo o que se consome de maneira produtiva é capital. Esta é uma
propriedade especialmente curiosa do consumo produtivo. O que se consome de
maneira produtiva é capital e torna-se capital mediante o consumo”. “O trabalho
produtivo corresponde ao consumo produtivo e o trabalho improdutivo ao consumo
improdutivo”. “O consumo se regula de acordo à medida da produção; o homem
só produz porque necessita possuir. Se o objeto produzido é o que deseja possuir,
e se reuniu a sua quantidade necessária, deixa de trabalhar [...]. Se produz mais, é
porque quer possuir outro objeto, obtendo-o em troca do excedente do primeiro
[...]. Produz uma coisa motivado pelo desejo de possuir outra [...]. Se um homem
produz unicamente para si, o intercâmbio não se realiza [...] não deseja comprar
nada nem oferece nada para vender [...]. Se a este caso se aplica, como metáfora,
a expressão ‘oferta e demanda’, pode-se dizer que a oferta equivale exatamente à
demanda”. “Duas coisas são necessárias para constituir uma demanda: o desejo de
possuir uma mercadoria e a posse de um objeto equivalente que se pode oferecer em
troca dela. Por demanda compreende-se o desejo de comprar e o meio para fazê-lo. Se
falta um dos dois, a compra não pode realizar-se. A posse de um objeto equivalente
é a base necessária de toda demanda. É em vão que um homem deseja possuir um
determinado objeto se não possui nada a oferecer para possuí-lo. O objeto equivalente
que se entrega é o instrumento da demanda. A magnitude da demanda se mede de
acordo com o valor deste objeto. A demanda e o objeto equivalente são termos que
se podem substituir mutuamente. Como vimos [...], a magnitude do desejo de um
homem de possuir outros objetos se mede pela soma total da sua produção, menos
a parte que retém para seu consumo próprio [...]. Sua vontade de comprar e seu meio
para fazê-lo são, portanto, equivalentes [...]” (Mill, op. cit., p. 240, 241, 242, 246,
251, 252-253). [BE]
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(p. 422). Ele ainda não podia ver que, sobre a base da proprie-
dade privada, é o próprio intercâmbio, o valor tout court31, que
despoja a natureza e o homem do seu “justo valor”. O “res-
tabelecimento do justo valor” das mercadorias significa, para
Boisguillebert, restabelecer o seu valor comercial. De qualquer
forma, devemos assinalar que a primeira polêmica radical contra
o ouro e a prata – logo, já que eram os únicos representantes da
moeda, contra o dinheiro – dirige-se contra a desvalorização do
homem e da natureza dos produtos humanos tomando-a como
uma consequência do dinheiro. Este valor ideal, escolástico,
destroi o seu valor real 32.
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MANUSCRITOS
ECONÔMICO-FILOSÓFICOS
DE 1844
KARL MARX
[PREFÁCIO
(PROVENIENTE DO CADERNO III)]
[XXXIX] Prefácio
Anunciei, nos Anais franco-alemães, a crítica da ciência do
direito e do Estado sob a forma de uma crítica da filosofia hege-
liana do direito.1 Na preparação para a impressão,2 mostrou-se
inteiramente inadequada a mistura da crítica, dirigida apenas
contra a especulação, com a crítica das diversas matérias, to-
lhendo o desenvolvimento e dificultando o entendimento. Além
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K a r l M a r x
6 Cf. Wilhelm Weitling, Die Menschheit, wie sie ist und wie sie sein sollte [A Humanidade,
como é e como devia ser], 1838-1839; Garantien der Harmonie und Freiheit [Garantias
da harmonia e da liberdade], 1842; Das Evangelium eines armen Sünders [O Evangelho
de um pobre pecador], com diversas redações entre 1843-1846. (N. Ed.)
7 Trata-se da coletânea Einundzwanzig Bogen aus der Schweiz [Vinte e uma folhas de
impressão a partir da Suíça], Primeira Parte, 1843, editada por Georg Herwegh. Nela
publicou Moses Hess, anonimamente, três artigos: “Socialismus und Communis-
mus” [“Socialismo e comunismo”], “Philosophie der Tat” [“Filosofia da ação”] e
“Die Eine und ganze Freiheit!” [“A liberdade una e toda!”]. (N. Ed.)
8 Trata-se de “Umrisse zur einer Kritik der Nationalökonomie”. Cf. Mega², I/3, p.
467-494. (N. Ed.)
9 Cf. K. Marx, “Zur Judenfrage” [“Para a questão judaica”], Mega², I/2, p. 141-169,
bem como o artigo citado na nota 1, supra. (N. Ed.)
10 Cf. Ludwig Feuerbach, Das Wesen des Christenthums [A essência do cristianismo],
1841, “Vorläufige Thesen zur Reformation der Philosophie” [“Teses provisórias para
a reformação da filosofia”], 1843, Grundsätze der Philosophie der Zukunft [Princípios
fundamentais da filosofia do futuro], 1843.
Do manuscrito consta ainda a seguinte variante: “Para além destes escritores citados,
que se ocuparam criticamente da economia nacional, a crítica positiva moderna \
alemã, portanto também a crítica alemã da economia nacional, deve a sua verdadeira
fundamentação às descobertas de Feuerbach, contra cuja “Philosophie der Zukunft!”,
bem como contra cujas “Thesen zur Reform [o título da 1ª edição nos Anekdota
era “Vorläufige Thesen zur Reformation der Philosophie”] der Philosophie” nos
Anekdota [Anekdota zur neuesten deutschen Philosophie und Publicistik (Inéditos da
filosofia e publicística alemã mais recente), 1843], por muito que elas sejam silencia-
damente utilizadas, parece ter-se provocado, pela inveja mesquinha de uns e pela
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
real inimizade \ pela cólera real \ e pela impotência real de outros, uma conspiração
do silêncio, em forma.” (N. Ed.)
11 Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Phänomenologie des Geistes [Fenomenologia do
Espírito], 1807; Wissenschaft der Logik [Ciência da Lógica], 1812-1816. (N. Ed.)
12 Alguns aspectos desta problemática foram desenvolvidos de modo crítico por Marx
e Engels designadamente em Die heilige Familie, oder Kritik der kritischen Kritik.
Gegen Bruno Bauer & Consorten [A sagrada famí1ia, ou Crítica da crítica crítica.
Contra Bruno Bauer e consortes], 1845, e Die deutsche Ideologie. Kritik der neuesten
deutschen Philosophie in ihren Repräsentanten Feuerbach, B. Bauer und Stirner, und
des deutschen Sozialismus in seinen verschiedenen Propheten [A ideologia alemã. Crítica
da mais recente filosofia alemã nos seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner,
e do socialismo nos seus diversos profetas], 1845-1846. (N. Ed.)
13 Cf. Bruno Bauer, Was ist jetzt der Gegenstand der Kritik? [Qual é agora o objeto da
crítica?], 1844. (N. Ed.).
Relativamente a este passo, o manuscrito apresenta ainda a seguinte variante:
“Ao contrário, ao crítico abstrato \ recenseador insapiente que procura ocultar a
sua completa ignorância e pobreza de pensamento atirando à cabeça do crítico
positivo \ realmente produtivo a frase “ frase utópica” ou também frases como “a
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CADERNO I
[I] Salário
O salário é determinado pela luta hostil15 entre capitalista e
trabalhador (Arbeiter). A necessidade da vitória para o capitalis-
ta16. O capitalista pode viver mais tempo sem o trabalhador do
que este sem aquele. Associação entre os capitalistas: habitual e
eficiente (von Effekt); a dos trabalhadores: proibida e com más
consequências para eles. Além disso, o proprietário fundiário e
o capitalista podem acrescentar vantagens industriais aos seus
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23 Em francês no texto: nenhuma sofre tão cruelmente com o seu declínio como a
classe dos operários. (N. Ed.)
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
24 Wesen, tal como em Fabrikwesen é ser e, também, essência. Uma tradução também
possível seria na essência da fábrica. (N. do R.)
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31 Uma tradução menos literal poderia ser “administrador da miséria”. (N. do R.)
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po36. Antes de mais, tem de lhe restar tempo para poder também criar
espiritualmente e fruir espiritualmente. Os progressos no organismo
[Organismus] do trabalho ganham esse tempo. Pois, agora, com as
novas forças motrizes e maquinaria melhorada, não poucas vezes um
só trabalhador executa, nas fábricas de algodão, o trabalho de 100
ou mesmo de 250-350 dos antigos trabalhadores. Consequências
semelhantes em todos os ramos da produção, porque cada vez mais
forças naturais exteriores são forçadas a tomar parte [X] no trabalho
humano. Ora, se antes, para a satisfação de um certo quantum37 de
necessidades materiais, era exigido um dispêndio de tempo e força
humana que mais tarde foi reduzido para metade, então outro tanto
se alargou, simultaneamente, sem qualquer prejuízo para o bem-estar
sensível (sinnlichem Wohlbehagen), o espaço de ação para o criar e
fruir espiritual... Mas, também sobre a repartição dos despojos que
ganhamos ao velho Cronos, ele mesmo, no seu domínio mais próprio,
ainda decide o jogo de dados do acaso cego e injusto. Na França,
calculou-se que, do ponto de vista atual da produção, um tempo de
trabalho médio de cinco horas diárias a cada apto para o trabalho seria
bastante para a satisfação de todos os interesses materiais da sociedade.
... Não obstante a economia de tempo devida ao aperfeiçoamento da
maquinaria, para uma numerosa população a duração do trabalho
de escravo nas fábricas apenas aumentou. Ibid, p. 67-68.
A passagem para além do trabalho manual composto pressupõe uma
decomposição do mesmo nas suas operações simples. Mas, então,
em primeiro lugar apenas uma parte das operações uniformemente
recorrentes caberá às máquinas, a outra parte caberá aos homens.
Segundo a natureza das coisas e segundo experiências concordantes,
tal atividade contínua e uniforme é igualmente prejudicial para o
espírito como para o corpo; e então, assim, ainda tem de manifestar-
-se, nessa ligação da maquinaria com a mera divisão do trabalho
entre braços humanos mais numerosos, todas as desvantagens desta
última [da divisão do trabalho].38 As desvantagens mostram-se, entre
outras coisas, na maior mortalidade do trabalhador fabril [XI]. ...
Ainda não se tomou... em consideração esta grande diferença: até
36 Marx faz aqui um jogo de palavras. Em “não pode continuar a ser o servo do corpo”
(nicht mehr der Leibeigene des Leibes sein”), servo (Leibeigene) e corpo (Leibes) pos-
suem a mesma raiz. (N. do R.)
37 Em latim no texto: quantidade. (N. Ed.)
38 Inserção do revisor. (N. do R.)
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
42 Em francês no texto: “Pour vivre donc, les non-propriétaires sont obligés de se mettre
directement ou indirectement au service des propriétaires, c-à-d. sous leur dépendance.”
43 Constantin Pecqueur, Théorie nouvelle d’ économie sociale et politique, ou études sur
l’organization des sociétés [Teoria nova de economia social e política, ou estudos sobre
a organização das sociedades], 1842. (N. Ed.)
44 Em francês no texto: Domestiques – gages; ouvriers – salaires; employés – traite-
ment ou emoluments. (N. Ed.)
45 Em francês no texto: “louer son travail”, “prêter son travail à l’intérêt”, “travailler
à la place d’autrui”. (N. Ed.)
46 Em francês no texto: “louer la matière du travail”, “prêter la matière du travail à
l’intérêt”, “faire travailler autrui à sa place”. (N. Ed.)
47 Em francês no texto: “Cette constitution économique condamne des hommes à
des métiers tellement abjects, à une dégradation tellement désolante et amère, que
la sauvagerie apparaît, en comparaison, comme une royale condition.” (N. Ed.)
48 Em francês no texto: “La prostitution de la chair non-propriétaire sous toutes les
formes.” (N. Ed.)
49 Em alemão, Lumpensammler, literalmente catador de trapos. O miserável de rua.
(N. do R.)
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
das suas causas, e da insuficiência dos remédios que lhe foram opostos até agora; com
a indicação dos meios próprios para libertar dela as sociedades], t. I, 1840, p. 36. É
segundo essa obra, p. 36-37, que Marx cita os referidos Extraits des enquêtes et des
pièces officielles publiées en Angleterre par le parlement, depuis l’année 1833 jusqu’ à
ce jour [Extratos dos inquéritos e dos documentos oficiais publicados em Inglaterra pelo
Parlamento, desde o ano de 1833 até hoje]. (N. Ed.)
53 Em francês no texto: Le travail est une marchandise. (N. Ed.)
54 Em francês no texto: Comme marchandise le travail doit de plus en plus baisser de
prix. (N. Ed.)
55 Em francês no texto: “La population ouvrière, marchande de travail, est forcément
réduite à la plus faible part du produit... La théorie du travail marchandise est-elle
autre chose qu’une théorie de servitude déguisée? Pourquoi donc n’avoir vu dans le
travail qu’une valeur d’échange?” (N. Ed.)
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56 Em francês no texto: “Le travailleur n’est point vis à vis de celui qui l’emploie dans
la position d’un libre vendeur. ... Le capitaliste est toujours libre d’employer le
travail, et l’ouvrier est toujours forcé de le vendre. La valeur du travail est complète-
ment détruite, s’il n’est pas vendu à chaque instant. Le travail n’est susceptible, ni
d’accumulation, ni même d’épargne, à la différence des véritables [marchandises.]
Le travail c’est la vie, et si la vie ne s’échange pas chaque jour contre des aliments,
elle souffre et périt bientôt. Pour que la vie de l’homme soit une marchandise, il
faut donc admettre l’esclavage.” (N. Ed.)
57 Em francês no texto: le libre résultat d’un libre marché. (N. Ed.)
58 Em francês no texto: “abaisse à la fois et le prix et la rémunération du travail; il
perfectionne l’ouvrier et dégrade l’homme (...) L’industrie est devenue une guerre
et le commerce un jeu.” (...) Les machines à travailler le coton. (N. Ed.)
59 Em inglês no texto: in England. (N. Ed.)
60 Cf. E. Buret, De la misère..., p. 193, nota. (N. Ed.)
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61 Abreviatura da palavra latina scilicet: a saber. Os parênteses são de Marx. (N. Ed.)
62 Em francês no texto: “Elle a prodigué la vie des hommes qui composaient son
armée avec autant d’indifférence que les grands conquérants. Son but était la
possession de la richesse et non le bonheur des hommes.” (...) (sc. économiques)
librement abandonnés à eux-mêmes... doivent nécessairement entrer en conflit;
ils n’ont d’autre arbitre que la guerre, et les décisions de la guerre donnent aux
uns la défaite et la mort, pour donner aux autres la victoire. ... c’est dans le
conflit des forces opposées que la science cherche l’ordre et l’équilibre: la guerre
perpétuelle est selon elle le seul moyen d’obtenir la paix; cette guerre s’appelle
la concurrence.” (N. Ed.)
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pior são eles pagos; veem-se alguns que, com 16 longas horas de
trabalho por dia de esforço contínuo, mal compram o direito de
não morrer.[11] l. c. p. 68-69.
[XV] Temos a convicção ... partilhada pelos comissários encar-
regados do inquérito à condição dos tecelões manuais, de que as
grandes cidades industriais perderiam, em pouco tempo, a sua
população de trabalhadores, se não recebessem a cada instante
dos campos vizinhos recrutamentos contínuos de homens sãos,
de sangue novo.63 p. 362 l. c.
1) O capital
1) Sobre que se baseia o capital, i. é, a propriedade privada
dos produtos de trabalho alheio?
Se o próprio capital não se reduz a roubo ou fraude, então precisa
do concurso da legislação para consagrar (heiligen) a herança. Say,
t. I, p. 136, nota.[12]
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2) O ganho do capital
O lucro ou ganho do capital é totalmente diverso (verschieden) do
salário (Arbeitslohn). Essa diversidade (Verschiedenheit) mostra-se
de um modo duplo. Por um lado, os ganhos do capital regulam-se
totalmente pelo valor do capital aplicado, mesmo que o trabalho
de controle e direção possa ser o mesmo com capitais diversos.
Acresce, além disso, que em fábricas grandes todo esse trabalho é
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76 Em francês no texto: “On sait que les travaux de la grande culture n’occupent
habituellement qu’un petit nombre de bras”. De acordo com os editores da Mega²,
não foi possível localizar a fonte dessa citação. (N. Ed.)
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82 Em francês no texto: “La concurrence n’exprime pas autre chose que l’échange
facultatif, qui lui-même est la conséquence prochaine et logique du droit indivi-
duel d’user et d’abuser des instruments de toute production. Ces trois moments
économiques, lesquels n’en font qu’un: le droit d’user et d’abuser, la liberté
d’échanges et la concurrence arbitraire, entraînent les conséquences suivantes:
chacun produit ce qu’il veut, comme il veut, quand il veut, où il veut; produit
bien ou produit mal, trop ou pas assez, trop tôt ou trop tard, trop cher ou à
trop bas prix; chacun ignore s’il vendra, à qui il vendra, comment il vendra,
quand il vendra, où il vendra; et il en est de même quant aux achats. [XIII]
Le producteur ignore les besoins et les ressources, les demandes et les offres. Il
vend quand il veut, quant il peut, où il veut, à qui il veut, au prix qu’il veut. Et
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Na verdade, diz o sr. de Sismondi (t. II, p. 33187), não resta senão
desejar que o rei, tendo ficado só na ilha, rodando constantemente
uma manivela (Kurbel), faça realizar por autômatos todo o tra-
balho da Inglaterra.88
O patrão, que compra o trabalho do operário a um preço tão
baixo que mal basta para as necessidades mais prementes, não
é responsável nem pela insuficiência dos salários, nem pela de-
masiado longa duração do trabalho: ele padece, ele próprio, a lei
que impõe ... não é tanto dos homens que vem a miséria, mas da
potência das coisas.89 l. c. p. 82.
Na Inglaterra, há muitos lugares onde faltam aos habitantes
capitais para uma completa cultura da terra. A lã das provín-
cias do Sul da Escócia tem, na maior parte das vezes, de fazer
uma grande viagem por terra pelos piores caminhos para ser
trabalhada no condado de York, porque faltam capitais para a
manufatura no seu lugar de produção. Há na Inglaterra mui-
tas cidades fabris pequenas, cujos habitantes não têm capital
suficiente para o transporte dos seus produtos industriais para
mercados afastados onde encontrem procura e consumidores.
Os comerciantes são aqui [XIV] apenas agentes de comerciantes
mais ricos que residem em algumas grandes cidades comerciais.
Smith, t. II, p. 382.[41]
Para aumentar o valor do produto anual da terra e do trabalho, não
há outros meios senão aumentar, quanto ao número, os operários
produtivos, ou aumentar, quanto à potência, a faculdade produtiva
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foram adotadas (em 1815, 1822 e depois) alterando as condições das importações
de cereais, e em 1828 foi introduzida uma escala móvel, a qual elevava as taxas de
importação de cereais quando os preços desciam no mercado interno e vice-versa.
Em 1838, Cobden e Bright, industriais de Manchester, fundaram a Anti-Corn Law
League (Liga Contra a Lei dos Cereais). Apresentando a exigência da plena liberdade
de comércio, a Liga lutava pela revogação das Leis dos Cereais, com o objetivo de
reduzir os salários dos trabalhadores e de enfraquecer as posições políticas e eco-
nômicas da aristocracia fundiária. Como resultado dessa luta, as Leis dos Cereais
foram revogadas em 1846, o que significou uma vitória da burguesia industrial
sobre a aristocracia fundiária. (N. Ed.)
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116 Em alemão, Rang. Poderia também ser traduzido por “segunda ordem” ou “segunda
classe”. Preferimos “segunda categoria” para não confundir com as ordens medievais
ou com classes sociais. (N. do R.)
117 Os colchetes constam na edição da Mega². (N. do R.)
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118 Traduzimos Entfremdung e seus derivados por alienação, alienado etc., e Entässerung
e seus derivados por exteriorização, exteriorizado etc. As razões para tal escolha são
discutidas no apêndice desta edição. (N. do R.)
119 Cf. K. Marx, EJ-BS; Mega², IV/2, p. 316 e 319. (N. Ed.)
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como leis. Ela não concebe [begreift]120 essas leis, i. é, depois não
mostra como elas provêm da essência da propriedade privada.
A economia nacional não nos dá nenhum esclarecimento sobre
o fundamento da divisão entre trabalho e capital, entre capi-
tal e terra. Quando, p. ex., ela determina a relação do salário
com lucro do capital, vale para ela como fundamento último
o interesse do capitalista; quer dizer, ela supõe o que deve ex-
plicar (entwickeln). De igual modo, por toda a parte intervém
a concorrência. Ela é explicada por circunstâncias exteriores.
Em que medida essas circunstâncias exteriores, aparentemente
acidentais, são apenas a expressão de um desenvolvimento neces-
sário – sobre isso a economia nacional nada nos ensina. Vimos
como a própria troca lhe aparece como um fato acidental. As
únicas rodas que o economista nacional põe em movimento
são a ganância e a guerra entre os gananciosos, a concorrência.
Precisamente porque a economia nacional não concebe
(begreift) a conexão do movimento, pôde-se, p. ex., tornar a
contrapor a doutrina da concorrência à doutrina do monopólio,
a doutrina da liberdade industrial à doutrina da corporação,
a doutrina da divisão da posse fundiária à doutrina da grande
propriedade fundiária, pois concorrência, liberdade industrial,
divisão da posse fundiária eram apenas desenvolvidas e conce-
bidas (begriffen) como consequências acidentais, propositadas,
violentas, e não como consequências necessárias, inevitáveis,
naturais do monopólio, da corporação e da propriedade feudal.
Portanto, temos agora que conceber a conexão essencial
com o sistema do dinheiro (Geldsystem) de toda a alienação
(Entfremdung) que é a propriedade privada, a ganância, a
separação entre trabalho, capital e propriedade da terra, entre
120 Lembremos que a categoria hegeliana de “conceito” (Begriff ) supõe uma ultrapassa-
gem da imediatez em direção a um saber da sua essência, isto é, a uma compreensão
concreta do seu desenvolvimento. (N. Ed.)
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121 Ver as anotações de Marx a um passo de A. Smith em EAS; Mega², IV/2, p. 336.
(N. Ed.)
122 Em alemão, sachlich gemacht hat, literalmente, “se fez coisa” ou “se fez objetivo” (no
sentido de objetividade oposta à subjetividade). (N. do R.)
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123 A versão lusitana dos Manuscritos, que é a base do texto desta edição brasileira,
registra, neste passo, desapossamento; em nota, os editores portugueses assinalam:
“Neste contexto de oposição a apropriação (Aneignung), Entäusserung adquire
o significado de desapossamento”. Optamos por exteriorização, por parecer-nos
mais próximo ao texto marxiano - mas está é uma passagem de difícil tradução e
interpretação e nos pareceu por bem assinalar a opção da edição portuguesa. Nas
outras passagens do texto, optamos por traduzir Entäusserung por exteriorização e
Entfrendung por alienação. Se é verdade que toda Entfremdung é uma Entäusserung,
o oposto não é verdade. Esta associação – ou aproximação à quase identidade –,
entre alienação e exteriorização, pode ter sentido para Hegel da Fenomonologia e
da Ciência da Lógica, mas não faz qualquer sentido nos Manuscritos. (N. do R.)
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124 Cf. L. Feuerbach, Das Wesen..., Introdução, II, e K. Marx, “Zur Kritik... Einleitung”,
Mega², I/2, p. 170-171. (N. Ed.)
125 Stoff, no original. Outra tradução possível seria “substância”. (N. do R.)
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segundo, cada vez mais ele deixa de ser meio de vida no sentido
imediato, meio para a subsistência física do trabalhador.
Segundo esse duplo aspecto, o trabalhador torna-se, por-
tanto, um servo do seu objeto, primeiro, por receber um objeto
do trabalho, i. é, por receber trabalho, e, segundo, por receber
meios de subsistência. Portanto, para poder existir, primeiro,
como trabalhador, e, segundo, como sujeito físico. O extremo
dessa servidão é que ele só já como trabalhador se pode manter
como sujeito físico e só já como sujeito físico é trabalhador.
(A alienação do trabalhador no seu objeto exprime-se, se-
gundo as leis nacional-econômicas, em modo tal que, quanto
mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir;
em que, quanto mais valores ele cria, tanto mais sem valor
(wertloser) e indigno se torna; em que, quanto mais formado o
seu produto, mais deformado o trabalhador126; em que, quanto
mais civilizado o seu objeto, tanto mais bárbaro o trabalhador;
em que, quanto mais potente (mächtiger) o trabalho, tanto
mais impotente (ohnmächtiger) o trabalhador; em que, quanto
mais espiritualmente rico o trabalho, tanto mais sem espírito
(geistloser) e servo da natureza se torna o trabalhador.)
A economia nacional vela (verbirgt) a alienação na essência do
trabalho por não considerar a relação imediata entre o trabalha-
dor, (o trabalho) e a produção. Com certeza. O trabalho produz
obras maravilhosas para os ricos, mas produz privação para o
trabalhador. Produz palácios, mas cavernas para o trabalhador.
Produz beleza, mas mutilação para o trabalhador. Substitui o
126 Marx emprega aqui um jogo de palavras difícil de ser traduzido em português:
geformter é o aumentativo do particípio passado de formen, traduzível por formar
ou moldar; mißförmiger é composto por förmig, que significa “com forma de”, com
o prefixo miß, literalmente falso, muito próximo do fake em inglês. Quanto mais
o trabalhador forma seu objeto, mais ele se constitui com forma de falso: “mais
deformado”, nesta passagem, possui este sentido. (N. do R.)
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127 Para Marx, o universal é tão real e pleno de determinações quanto o singular. O fato
de se comer uma pera e não o universal frutas não significa que a universalidade das
frutas seja inexistente. O universal é parte da história tal como o singular, ambos
são componentes moventes e movidos da história. O homem, nesta frase de Marx,
é genérico na medida em que ele só existe como parte do gênero humano, da hu-
manidade e, por sua vez, esta apenas existe como síntese dos singulares que são os
indivíduos. O que o homem faz é parte movente e movida da história, o produto
de cada ato de trabalho é um produto singular que faz parte da história universal
do gênero humano. (N. do R.)
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132 Seguimos, até o momento, a opção, da edição portuguesa, de traduzir Wesen por
ser. Contudo, neste parágrafo, parece-nos que a tradução mais fiel seria traduzir
as três vezes em que comparece Wesen por essência. Mas, ao leitor, fica o alerta da
possibilidade de uma tradução ligeiramente diferente, alternando “ser” por “essência”.
(N. do R.)
133 No manuscrito figura ainda, riscado: “Nós partimos do trabalho alienado de si
próprio e analisamos apenas esse conceito”. (N. Ed.)
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134 No manuscrito figura ainda, riscado: “Nós não pressupusemos o conceito da pro-
priedade privada”. (N. Ed.)
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135 Cf. P.-J. Proudhon, Qu’est-ce que la propriété?.., III, §§ 4 a 8. (N. Ed.)
136 Cf. nota 135, supra. (N. Ed.)
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137 Com muita frequência, allgemein é traduzido por universal. O que é correto. Mas
há uma sutil diferença entre allgemein e universell, o primeiro literalmente significa
“todos da aldeia” e, o segundo, vindo do latim universalis: significa todo o existente,
o universal. Aqui, nesta passagem, Marx emprega allgemein menschliche no sentido
de que na emancipação dos trabalhadores está contida a emancipação de todos os
membros da humanidade. (N. do R.)
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[CADERNO II (PARTE CONSERVADA)]
[A RELAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA]
140 Em inglês no texto: proposta de Emenda. Trata-se de An Act for the Amendment
and better Administration of the Laws relating to the Poor in England and Wales que
entrou em vigor em 14 de agosto de 1834. Por essa lei ficava proibido qualquer
auxílio em dinheiro e meios de vida aos desocupados e suas famílias, que deviam
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ser encaminhados para casas de trabalho (work houses), onde eram compelidos a
trabalhar em condições infra-humanas. Cf. K. Marx, Exzerpte aus Eugène Buret:
De la misère des classes labourieuses en Angleterre et en France [Excertos de Eugène
Buret: Da miséria das classes laboriosas na Inglaterra e na França] (doravante: EEB)
e “Kritische Randglossen zu dem Artikel ‘Der König Von Preuβen und die Sozial-
reform. Von einem Preuβen’” [“Notas marginais críticas ao artigo ‘O rei da Prússia
e a reforma social. De um prussiano’”], Mega², respectivamente IV/2, p. 555-556,
e I/2, p. 452-453. (N. Ed.)
141 Cf. K. Marx, Exzerpte aus Guillaume Prevost: Réflexions du traducteur sur le système
de Ricardo [Excertos de Guillaume Prevost: Reflexões do tradutor sobre o sistema de
Ricardo] (doravante: EGP), Mega², IV/2, p. 477-478 e 483. (N. Ed.)
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142 Cf. K. Marx, EGP, Mega², IV/2, p. 477-478 e 480. (N. Ed.)
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149 Funke relata que o episódio é narrado por Justus Möser em Patriotische Phantasien
[Fantasias patrióticas], 1820; todavia faz também referência a Heinrich Leo e aos
seus Studien und Skizzen zu einer Naturlehre des Staates [Estudos e esboços para uma
doutrina natural do Estado], 1833, provável razão da atribuição errônea por parte
de Marx. (N. Ed.)
150 Cf. K. Marx, Notizen zur Geschichte Deutschlands und der USA und Exzerpte aus
staats – und verfassungsgeschichtlichen Werken (Heft 5) [Apontamentos para a história
da Alemanha e dos USA e Excertos de obras de história do Estado e da Constituição
(Fascículo 5), Mega², IV/2, p. 256 -265. (N. Ed.)
151 As referências a Sismondi são em geral tomadas de Eugène Buret. Veja -se, por
exemplo, a nota 89, supra. (N. Ed.)
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[CADERNO III]
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159 Cf. K. Marx, Exzerpte aus John Ramsay MacCulloch: Discours sur l’origine, les pro-
grès, les objects particuliers, et l’ importance de l’ économie politique [Excertos de John
Ramsay MacCulloch: Discurso sobre a origem, os progressos, os objetos particulares e
a importância da economia política] (doravante: EJRM); Mega², IV/2, p. 474-475.
(N. Ed.)
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tão grande perante ele que ele quer aniquilar tudo o que não é
capaz de ser possuído por todos como propriedade privada; ele
quer abstrair do talento de um modo violento etc. a posse ime-
diata, física, vale para ele como a única finalidade da vida e da
existência; a determinação do trabalhador não é superada, mas
estendida a todos os homens; a relação da propriedade privada
permanece a relação da comunidade (Gemeinschaft) com o
mundo das coisas; finalmente, esse movimento de contrapor à
propriedade privada a propriedade privada universal exprime-se
na forma animal em que o casamento (o qual decerto é uma
forma da propriedade privada exclusiva) é contraposto à comu-
nidade de mulheres, portanto na qual a mulher se torna uma
propriedade comunitária e comum. Pode dizer-se que essa ideia
da comunidade de mulheres é o segredo expresso desse comunismo
ainda totalmente rude e desprovido de pensamento. Tal como
a mulher sai do casamento para a prostituição universal, todo
o mundo da riqueza, i. é, da essência objetiva do homem, sai
da relação do casamento exclusivo com o proprietário privado
para a relação da prostituição universal com a comunidade.
Esse comunismo, ao negar por toda a parte a personalidade do
homem – é precisamente apenas a expressão consequente da
propriedade privada, a qual é essa negação. A inveja universal e
constituindo-se como poder é a forma oculta na qual a avareza
se estabelece e apenas se satisfaz de outro modo. A ideia de toda
a propriedade privada enquanto tal está pelo menos virada contra
a propriedade privada mais rica como inveja e desejo de nive-
lamento, de tal modo que estes constituem mesmo a essência
da concorrência. O comunismo rude é apenas a explicitação
dessa inveja e desse nivelamento a partir do mínimo imagina-
do. Ele tem uma medida determinada limitada. Quão pouco
essa superação da propriedade privada é uma apropriação real
demonstra-o precisamente a negação abstrata de todo o mundo
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164 Cf. L. Feuerbach, Das Wesen..., x; GW, vol. 5, p. 178. (N. Ed.)
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165 Cf. F. Engels. Briefe aus London [Cartas de Londres], III; Mega², I/3, p. 460-463.
(N. Ed.)
166 Em alemão, Betätigung, que também poderia ser traduzido como “colocar em
marcha”. (N. do R.)
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169 Cf. M. Heβ, “Philosophie der That” em Einundzwanzig Bogen..., p. 329. Marx
aborda igualmente o tema do ter em Die heilige Familie... [A sagrada família...];
MEW, vol. 2, p. 43-44. (N. Ed.)
170 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., § 42; GW, vol. 9, p. 323-324. (N. Ed.)
171 Cf. L. Feuerbach, Das Wesen...; GW, vol. 5, p. 333. (N. Ed.)
172 Na edição da MEW, lê-se Genuss (consumo) em vez de Geist (espírito). (N. do R.)
350
K a r l M a r x
173 Cf. L. Feuerbach, Das Wesen...; GW, vol. 5, p. 34. (N. Ed.)
351
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
352
K a r l M a r x
176 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., § 28; GW, vol. 9, p. 308. Atente-se em como, para
Marx, a prática já não corresponde apenas a uma confirmação da existência, mas
alarga-se ao vetor da transformação. Veja-se K. Marx, Thesen über Feuerbach [Teses
sobre Feurbach], 8; MEW, vol. 3, p. 7. (N. Ed.)
353
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
177 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie..., II, Introdução; TW, vol. 9, p. 9-11. (N. Ed.)
354
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355
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
356
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181 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie..., § 339; TW, vol. 9, p. 343-351. (N. Ed.)
182 Em latim no texto: geração espontânea. (N. Ed.)
183 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie..., § 341; TW, vol. 9, p. 360-367. (N. Ed.)
184 Cf., provavelmente, Aristóteles, Metafisica, H, 4, 1044 a 34-35. Ver também F.
Hegel, Enzyklopädie..., §§ 369, 370; TW, vol. 9, p. 516-520. (N. Ed.)
357
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
358
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359
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
186 Cf. David Friedrich Strauβ, Das Leben Jesu, kritisch bearbeitet [A vida de Jesus, critica-
mente elaborada], Bd. 1-2, 1835-1836; Streitschriften zur Vertheidigung meiner Schrift
über das Leben Jesu und zur Charakteristik der gegenwärtigen Theologie [Polêmicas em
defesa do meu escrito acerca da vida de Jesus e da caracterização da Teologia presente],
H. 1-3, 1837; Charakteristiken und Kritiken. Eine Sammlung zerstreuter Aufsätze
aus den Gebieten der Theologie, Anthropologie und Aesthetik [Características e críticas.
Uma coletânea de ensaios dispersos nos domínios da Teologia, da Antropologia e da
Estética], 1839; Die christliche Glaubenslehre in ihrer geschichtlichen Entwicklung und
im Kampfe mit der modernen Wissenschaft [A dogmática cristã no seu desenvolvimento
histórico e em luta com a ciência moderna], Bd. 1-2, 1840-1841. (N. Ed.)
187 Cf. B. Bauer, Kritik der evangelischen Geschichte der Synoptiker [Crítica da história
evangélica dos sinóticos], Bd. 1, 1841, p. VI-XV. (N. Ed.)
188 Cf. B. Bauer, Das entdeckte Christenthum. Eine Erinnerung an das achtzehnte
Jahrhundert und ein Beitrag zur Krisis des neunzehnten [O cristianismo desvendado.
Uma reminiscência do século dezoito e um contributo para a crise do século dezenove],
1843, p. 113. (N. Ed.)
360
K a r l M a r x
361
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
195 Cf. B. Bauer, “Neueste Schriften über die Judenfrage” [“Escritos mais recentes
sobre a questão judaica”], Allgemeine Literatur-Zeitung, H. IV, p. 10-19; e “Cor-
respondenz...”, p. 38. (N. Ed.)
196 Para além dos artigos de Bauer, tenha-se em conta também Melchior Hirzel, “Cor-
respondenz. Aus Zürich” [“Correspondência. De Zurique”], Allgemeine Literatur-
-Zeitung, H. V, p. 12 e 15. Marx voltará à crítica dessa perspectiva designadamente
em Die heilige Familie...; MEW, vol. 2, p. 152-157, 222-223. (N. Ed.)
197 Em latim no texto: atestado de pobreza. (N. Ed.)
198 Cf. B. Bauer, “Correspondenz...”, p. 30-32, e também K. Marx, Die heilige Familie...;
MEW, vol. 2, p. 157-171. (N. Ed.)
362
K a r l M a r x
199 Para além das obras de Feuerbach que têm vindo a ser referidas, tenha-se igualmente
em conta Zur Kritik der Hegelschen Philosophie; GW, vol. 9, p. 16-62. (N. Ed.)
200 Cf. L. Feuerbach, por exemplo, Vorläufige...; GW, vol. 9, p. 245-246; e Grundsätze...,
§ 5º; GW, vol. 9, p. 266. (N. Ed.)
201 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., §§ 42 e 61; GW, vol. 9, respectivamente p. 323-324
e 338-339. (N. Ed.)
202 Cf. id., ibid., Grundsätze..., § 39; GW, vol. 9, p. 321-322. (N. Ed.)
363
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
203 Cf. L. Feuerbach, Vorläufige...; GW, vol. 9, p. 246-247, e Grundsätze..., § 21; GW,
vol. 9, p. 297. (N. Ed.)
204 Cf. L. Feuerbach, 1..., §§ 29 e 30; GW, vol. 9, respectivamente p. 308-309 e p.
313-314. (N. Ed.)
364
K a r l M a r x
205 Em alemão, die Sittlichkeit. Sitte é o costume, die Sittlichkeit está mais próximo aos
costumes da vida cotidiana e se distingue de Ethik e também de Moralität. Por isso
365
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
214 Ver, por exemplo, F. Hegel, Phänomenologie...; TW, vol. 3, p. 153-154, e Vorlesungen
über die Geschichte der Philosophie [Lições sobre a história da filosofia]; TW, vol. 8,
p. 21-22. (N. Ed.)
215 Cf. F. Hegel, Phänomenologie...; TW, vol. 3, p. 575-591. (N. Ed.)
216 Cf. F. Hegel, Grundlinien...; TW, vol. 7, p. 346-347. (N. Ed.)
370
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371
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220 Cf. F. Hegel, Phänomenologie...; TW, vol. 3, p. 575 e ss. (N. Ed.)
373
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
374
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221 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., § 6º; GW, vol. 9, p. 269. (N. Ed.)
375
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
222 Cf. L. Feuerbach, Das Wesen...; GW, vol. 5, p. 84. (N. Ed.)
223 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., § 34; GW, vol. 9, p. 318. (N. Ed.)
376
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377
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
225 Passagem de difícil tradução. No alemão temos “die von der gleichgültigen Fremdheit
bis zurwirklichen feindseligen Entfremdung fortgehnmuß ”. Fremdheit tem o mesmo
radical de Entfremdung, que traduzimos homogeneamente por alienação (e seus
correlatos). Não há em português substantivo abstrato para alienação (alienidade,
por exemplo), o que torna impossível a tradução literal de “gleichgültigen Fremdheit”.
A expressão se refere ao caráter trivial, desimportante, quase não notado, que não
provoca uma reação do sujeito, de muitos dos processos de alienação que ocorrem
na vida cotidiana sem maiores consequências para a história do indivíduo ou da
sociedade. Destes processos alienantes “triviais” “deve-se” evoluir para a “alienação
real” que comparece como inimigo (feindseligen), como oposição hostil e que requer
uma ação do sujeito (seja ele o indivíduo ou o gênero humano). (N. do R.)
378
K a r l M a r x
o não ser do objeto para ela, pelo fato de que ela sabe o objeto
como sua autoexteriorização, i. é, se sabe – o saber como objeto
– pelo fato de o objeto ser apenas a aparência de um objeto, um
engano, mas pela sua essência não é nada a não ser o próprio
saber, que se contrapõe a si próprio e por isso tem contraposta
a si uma nadidade, um algo que não tem nenhuma objetividade
fora do saber; ou o saber sabe que, ao comportar-se para com
um objeto, apenas está fora de si, se exterioriza; que ele apenas
aparece a si próprio como objeto, ou que o que lhe aparece como
objeto é apenas ele próprio.
Por outro lado, diz Hegel, aqui reside simultaneamente esse
outro momento: que ela precisamente superou e retomou em si
igualmente essa exteriorização e objetividade, portanto, no seu
ser-outro como tal, ela está junto de si.
Temos reunidas nesta análise todas as ilusões da especu-
lação.
Em primeiro lugar: a consciência, a autoconsciência no seu
ser-outro como tal, ela está junto de si. Ela está, portanto, ou se
aqui abstrairmos da abstração hegeliana e no lugar da autocons-
ciência pusermos a autoconsciência do homem, ela está, no seu
ser-outro como tal, junto de si.
Isso, em primeiro lugar, implica que a consciência – o
saber como saber –, o pensar como pensar –, finge ser imedia-
tamente o outro de si, sensibilidade, realidade, vida, o pensar
sobrepujando-se no pensar. (Feuerbach.)226 Esse aspecto está
aqui contido na medida em que a consciência, como consciência
apenas, tem o seu escândalo não na objetividade alienada, mas
na objetividade como tal.
Em segundo lugar, implica que o homem autoconsciente,
na medida em que reconheceu e suprimiu o mundo espiritual
379
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
227 Cf. L. Feuerbach, Grundsätze..., § 21; GW, vol. 9, p. 295-298. (N. Ed.)
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384
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234 Cf., por exemplo, L. Feuerbach, Vorläufige...; GW, vol. 9, p. 244 e 258; e Grund-
sätze..., § 49; GW, vol. 9, p. 330-332. (N. Ed.)
385
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
235 Marx alude aqui ao ritmo que estrutura a Ciência da lógica de Hegel. Para além
dessa obra, tenha-se igualmente em conta a I Parte da Enciclopédia. (N. Ed.)
236 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie...,§ 244; TW, vol. 8, p. 393. (N. Ed.)
386
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238 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie..., § 257; TW, vol. 9, p. 47-48. (N. Ed.)
239 Cf. id., ibid., § 245; TW, vol. 9, p. 13. (N. Ed.)
389
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
240 Cf. id., ibid., § 247; TW, vol. 9, p. 24. (N. Ed.)
241 Cf. F. Hegel, Enzyklopädie..., § 381; TW, vol. 10, p. 17. (N. Ed.)
390
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391
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
243 Cf. Johann Wolfgang von Goethe, Faust, I, Auerbachs Keller. (N. Ed.)
244 Em latim no texto: condição indispensável. (N. Ed.)
392
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393
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
246 Relativamente a essa espécie de batata e ao seu papel na alimentação dos trabalha-
dores, cf. E. Buret, De la misère..., p. 110-111. (N. Ed)
394
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398
K a r l M a r x
[Aditamentos]
[XVIII] Já vimos os múltiplos modos como o economis-
ta nacional estabelece a unidade de trabalho e capital: 1) o
capital é trabalho acumulado; 2) a determinação do capital
no interior da produção – em parte a reprodução do capital
com ganho, em parte o capital como matéria-prima (mate-
rial do trabalho), em parte ele próprio como instrumento que
trabalha (a máquina é o capital imediatamente posto como
idêntico ao trabalho) – é trabalho produtivo; 3) o trabalhador
é um capital; 4) o salário pertence aos custos do capital; 5)
com respeito ao trabalhador, o trabalho é reprodução do seu
capital de vida; 6) com respeito ao capitalista, um momento
da atividade do seu capital.
Finalmente, 7) o economista nacional supõe a unidade
originária de ambos como unidade de capitalista e trabalha-
dor; é isto a situação paradisíaca originária. Como esses dois
momentos, como duas pessoas, se engalfinham [XIX] é para o
economista nacional um acontecimento acidental e, por isso, a
ser esclarecido apenas externamente. (Veja-se Mill.)251
As nações que ainda estão ofuscadas pelo brilho sensível
dos metais nobres e por isso ainda são servas do fetiche do
dinheiro metálico (Fetischdienerdes Metallgeldes) – ainda não
399
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
252 Em alemão, vollendeten Geldnationen, literalmente, nações que ainda não realizaram
em toda a sua amplitude a relação dinheiro. (N. do R.)
253 Cf. nota 176, supra (N. Ed.)
254 Fórmula que evoca um dos princípios da doutrina da ciência de Fichte. Ver também
o texto de Heβ, anteriormente citado, Philosophie der That. (N. Ed.)
255 Cf. B. Bauer, Die Posaune des jüngsten Gerichts über Hegel, den Atheisten und Anti-
christen [A trombeta do Juízo Final sobre Hegel, o ateu e anticristo], 1841, I e II. (N.
Ed.)
256 Ver, por exemplo, Heβ, Die europäische Triarchie [A triarquia europeia], 1841, p.
155-178. (N. Ed.)
257 Cf. Edgar Bauer, “Proudhon”, Allgemeine Literatur-Zeitung, H. V, p. 41-42; K.
Marx, Die heilige Familie..., MEW, 2, p. 40-44. (N. Ed.)
400
K a r l M a r x
401
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
259 Marx se refere, aqui, à organização da sociedade feudal em três estados, a nobreza
(o “Segundo estado”), a Igreja (o “Primeiro estado”) e o “Terceiro estado” composto
pelo restante da população. (N. do R.)
260 Cf. a p. 393, supra. (N. Ed.)
402
K a r l M a r x
261 Segundo os editores da Mega² não foi possível localizar a fonte dessa citação. (N. Ed.)
403
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404
K a r l M a r x
262 Cf. P.-J. Proudhon, Qu’est-ce que la propriété?..., IV, 7. (N. Ed.)
405
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
406
K a r l M a r x
[Fragmentos]
[Divisão do trabalho]
A sociedade – tal como aparece para o economista nacional
– é a sociedade burguesa, na qual cada indivíduo é um todo de
necessidades e só |[XXX]V| existe para o outro tal como o outro
só existe para ele, na medida em que se tornam reciprocamente
meios. O economista nacional – tão bem quanto a política nos
seus direitos humanos – reduz tudo ao homem, i. é, ao indivíduo,
a que retira toda a determinidade, para o fixar como capitalista
ou trabalhador.
A divisão do trabalho é a expressão nacional-econômica da
socialidade do trabalho no interior da alienação. Ou, dado que
o trabalho é apenas uma expressão da atividade humana no
interior da exteriorização, da expressão de vida como exteriori-
zação de vida, assim também a divisão do trabalho não é senão
o pôr alienado, exteriorizado, da atividade humana como uma
atividade genérica real ou como atividade do homem como ser
genérico.
Acerca da essência da divisão do trabalho, que naturalmente
tinha de ser apreendida como um motor principal da produção
da riqueza logo que o trabalho fosse reconhecido como a essên-
cia da propriedade privada, – i. é, acerca dessa figura alienada
e exteriorizada da atividade humana como atividade genérica,
os economistas nacionais são muito obscuros e contraditórios.
Adam Smith: “A divisão do trabalho não deve a sua origem
à sabedoria humana. Ela é a consequência necessária, lenta e
gradual da inclinação para a troca e do traficar recíproco dos
produtos. Essa propensão para o comércio é verosimilhan-
temente uma consequência necessária do uso da razão e da
palavra. Ela é comum a todos os homens, não se encontra em
nenhum animal. O animal, logo que está crescido, vive por sua
conta. O homem precisa constantemente do apoio de outros e
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
408
K a r l M a r x
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
Assim J. B. Say.
As forças inerentes ao homem são: a sua inteligência e a sua dis-
posição física para o trabalho; aquelas que derivam a sua origem
da condição de sociedade268 consistem: na capacidade de dividir o
trabalho e de dividir os diversos trabalhos entre os diversos homens... e
na capacidade [Vermögen] de trocar os serviços recíprocos e os produtos
que constituem esses meios.[80]... O motivo pelo qual um homem
dedica a outro os seus serviços é o interesse próprio – o homem
exige uma recompensa pelos serviços prestados a um outro.[81] – O
direito da propriedade privada exclusiva é indispensável para que
se estabeleça a troca entre os homens.[82]
Assim Skarbek.
Mill apresenta a troca desenvolvida, o comércio, como con-
sequência da divisão do trabalho.
A atividade do homem pode ser reduzida a elementos muito
simples. Na verdade, ele nada mais pode fazer que produzir
410
K a r l M a r x
Assim Mill.
Mas toda a economia nacional moderna concorda em que
divisão do trabalho e riqueza da produção, divisão do trabalho
e acumulação do capital se condicionam reciprocamente, bem
como em que unicamente a propriedade privada em liberdade,
entregue a si própria, pode produzir a divisão do trabalho mais
útil e abrangente.
Os desenvolvimentos de Adam Smith podem resumir-se nisto:
a divisão do trabalho dá ao trabalho a capacidade infinita de pro-
dução. Ela está fundada na propensão para a troca e o tráfico, uma
inclinação especificamente humana, que verosimilhantemente
não é acidental, mas, antes, está condicionada pelo uso da razão e
da linguagem. O motivo daquele que faz a troca (Austauschenden)
não é a humanidade, mas o egoísmo. A diversidade dos talentos
humanos é mais o efeito do que a causa da divisão do trabalho,
i. é, da troca. Também só a última torna útil essa diversidade. As
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
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K a r l M a r x
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
[Dinheiro]
|XL[I]| Se as sensações, paixões etc. do homem não são
apenas determinações antropológicas em sentido próprio, mas
verdadeiramente afirmações essenciais (naturais), ontológicas
(ontologisheWesens-(Natur)bejahungen) – e se elas só se afirmam
realmente pelo fato de o seu objeto ser sensivelmente para elas,
então é evidente que 1) o modo da sua afirmação não é intei-
ramente um e o mesmo, mas, antes, que o modo diferente da
afirmação forma a peculiaridade da sua existência, da sua vida; o
modo como o objeto é para elas é o modo peculiar da sua fruição;
2) aí onde a afirmação sensível é superar imediato do objeto na
sua forma autônoma (comer, beber, elaborar o objeto etc.), é a
afirmação do objeto; 3) na medida em que o homem é humano,
portanto também a sua sensação etc. é humana, a afirmação do
objeto por um outro é igualmente a sua fruição própria; 4) só
pela indústria desenvolvida, i. é, pela mediação da propriedade
privada, devém a essência ontológica da paixão humana, tanto na
414
K a r l M a r x
269 Esse tema do dinheiro e da alienação será retomado por M. Heβ em 1844-1845
num quadro onde se fazem igualmente sentir algumas teses do chamado “socialismo
verdadeiro”. Ver, por exemplo, “Über die sozialistischen Bewegung in Deutschland”
[“Acerca do movimento socialista na Alemanha”], “Über die Noth in unserer
Gesellschaft und deren Abhülfe” [“Acerca da miséria na nossa sociedade e do seu
remédio”] e “Über das Geldwesen” [“Acerca do sistema do dinheiro”] em Philoso-
phie und Sozialistische Schriften [Escritos filosóficos e socialistas], respectivamente p.
284-307, 311-326 e 329-348. (N. Ed.)
270 Faust, I, Auerbachs Keller. (N. Ed.) [Cf. Fausto. São Paulo: Ed. 34, I, 2004, p.
149-150. (N. do R.)
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M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
E depois, abaixo:
Oh, tu doce regicida, nobre divórcio
De filho e pai! brilhante profanador
Do mais puro leito de Himeneu! valente Marte!
Terno e amado sedutor eternamente florescente
Cujo esplendor fulvo funde a neve sagrada
No seio puro de Diana! divindade visível,
Que fraternizas estreitamente impossibilidades
E as constranges a beijarem-se! tu falas em cada língua,
[XLII] Qualquer finalidade! oh, pedra de toque dos corações!
Pensa, o homem teu escravo rebela-se!
Que a tua força, enredando-os, os aniquile a todos
416
K a r l M a r x
271 W. Shakespeare, Timon of Athens, ato IV, cena 3. Marx cita segundo a tradução
de August Wilhelm von Schlegel e Ludwig Tieck, 1832. Marx voltará a esse passo
de Shakespeare, designadamente, em O capital (ver K. Marx, O capital, vol. I, t. I,
Edições “Avante!”; Edições Progresso, Lisboa-Moscou, 1990, p. 155).(N. Ed.)
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K a r l M a r x
421
ANEXO I
274 Apontamento provavelmente da segunda metade de 1844; Mega², I/2, p. 909. (N. Ed.)
ANEXO II
275 Texto escrito por Marx durante a redação do Caderno III dos seus Manuscritos
econômico-filosóficos, tendo aí sido intercalado entre as p. XXXIV e XXXV, mas
com numeração autônoma das páginas; Mega², I/2, p. 439-444. Para um confronto
com o texto de Hegel, cf. Phanomenologie..., TW, vol. 3, p. 575-586. (N. Ed.)
M a n u s c r i t o s e c o n ô m i c o - f i l o s ó f i c o s
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432
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Notas
1 Adam Smith, Recherches sur la nature et les causes de la richesse des nations. Trad.
nouv., avec des notes et observations; par Germain Garnier, t. 1 e 2, Paris, 1802,
t. 2, p. 162: “La classe des propriétaires peut gagner peut-être plus que celle-ci à
la prospérité de la société; mais aucune ne souffre aussi cruellement de son déclin,
que la classe des ouvriers.”
2 Id., ibid., t. 1, p. 193: “Dans un pays qui aurait atteint le dernier degré de richesse
... les salaires du travail et les profits des capitaux seraient probablement très-bas
tous les deux. ... la concurrence, pour obtenir de l’occupation, serait nécessairement
telle, que les salaires y seraient réduits à ce qui est purement suffisant pour maintenir
le même nombre d’ouvriers, et le pays étant déjà pleinement peuplé, ce nombre ne
pourrait jamais augmenter.”
3 Constantin Pecqueur, Théorie nouvelle d’ économie sociale et politique, ou études sur
l’organisation des sociétés, Paris, 1842, p. 409-410: “Ce sont alors des domestiques, et
la part de richesses qu’ils reçoivent en retour s’appelle gages. Ils concourent avec eux
ou sous leurs ordres à l’oeuvre de production des richesses agricoles, manufacturières
et commerciales; et alors ce sont des ouvriers: et la part de richesse qu’ils reçoivent se
nomme salaire. IIs dirigent le travail, ou ils remplissent diverses fonctions de l’ordre
intellectuel ou de surveillance qui assurent l’oeuvre de production, pour le compte
du propriétaire; et alors, sous le nom d’employés, ils obtiennent plus de considération,
plus de stabilité dans leur fonction, que les ouvriers au jour ou à la semaine, et la
part de richesse qui leur est échue prend le nom de traitement ou d’émoluments, et
se paie au mois ou à l’année.”
4 Id., ibid., p. 411: “Des propriétaires qui prêtent à intérêt la matière du travail aux
prolétaires. Or, emprunter du travail moyennant intérêt, c’est prêter la matière du
travail à intérêt, tout comme emprunter la matière du travail à intérêt, c’est prêter
son travail à intérêt. Et en définitive, faire quelqu’une de ces choses, c’est ou faire
travailler autrui à sa place, ou travailler à la place d’autrui: ce qui est le point juste
ou se noue le noeud gordien de l’économie politique du passé, noeud fatal, qui
constitue, avec l’esclavage ou avec la servitude mitigée, l’immoralité la plus flagrante,
au dire de saint Paul, qui déclare que celui qui ne veut pas travailler n’a point le
droit de manger. Ainsi donc tout se réduit à ces deux moments: louer son travail et
louer la matière du travail; mais quelle différence entre ces deux modes de location!
Louer son travail, c’est commencer son esclavage; louer la matière du travail, c’est
constituer sa liberté.”
5 Id., ibid., p. 418: “... parmi nous, la dignité humaine est si bas ravalée, que des
cadavres vivants qu’on nomme chiffonniers, sortent quotidiennement de leur tombe à
l’heure des ténebres et s’en vont, munis d’une lanterne, d’un crochet et d’une hotte,
à la recherche de guenilles, remuer et fouiller les tas d’immondices de nos riches
et fastueuses cités! et tant d’ignominie pour gagner les plus pressantes nécessités
d’une vie mourante!”
6 Charles Loudon, Solution du problème de la population et de la subsistance, soumise
a un médecin dans une série de lettres, Paris, 1842, p. 228: “Je doute fort qu’il y ait
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beaucoup plus de 60 à 70,000 filles publiques dans les trois royaumes réunis. On
peut estimer égal le nombre de femmes d’une vertu douteuse.”
7 Eugène Buret, De la misère des classes laborieuses en Angleterre et en France; de la
nature de la misère, de son existence, de ses effets, de ses causes, et de l’ insuffisance
des remèdes qu’on lui a opposés jusqu’ ici, avec l’ indication des moyens propres à en
affranchir les sociétés, t. 1, Paris, 1840, p. 42-43: “Suivant cette théorie, le travail
est considéré abstraitement comme une chose, et l’économiste qui étudie les varia-
tions de l’offre et de la demande, oublie que la vie, la santé, la moralité de plusieurs
millions d’hommes sont engagées dans la question; le travail est une marchandise:
si le prix en est élevé, c’est que la marchandise est très-demandée; si, au contraire,
il est très-bas, c’est qu’elle est très-offerte; et de cette façon, quand on spécule ainsi,
rien ne vient troubler votre sang-froid ni déranger vos calculs.”
“Comme marchandise, le travail doit de plus en plus baisser de prix; car la concur-
rence exerce une double pression pour le réduire, pression de la part de ceux qui
emploient le travail et qui s’efforcent de l’obtenir au meilleur marché possible, au
moyen de machines et d’inventions nouvelles; pression de la part des travailleurs,
qui, agglomérés sur un même point et de plus en plus nombreux, offrent leur travail
au rabais ...”
8 Id., ibid., p. 44: “... si les grands ateliers achètent de préférence le travail des enfants
et des femmes qui coûte moins que celui des hommes ...”
9 Id., ibid., p. 50: “... que le salaire n’était pas le résultat d’un libre marché, ou, si
l’on veut, que le travail n’était pas une marchandise.”
10 Id., ibid., p. 52-53: “... le régime économique actuel ... abaisse à la fois et le prix et
la rémunération du travail, il perfectionne l’ouvrier et dégrade l’homme.”
11 Id., ibid., p. 68-69: “La guerre industrielle demande pour être menée avec succès
des armées nombreuses qu’elle puisse entasser sur le même point et décimer large-
ment. Et ce n’est ni par dévoûment, ni par devoir, que les soldats de cette armée
supportent les fatigues qu’on leur impose; c’est uniquement pour échapper à la
dure nécessité de la faim. Ils n’ont ni affection, ni reconnaissance pour leurs chefs;
les chefs ne tiennent à leurs inférieurs par aucun sentiment de bienveillance; ils ne
les connaissent pas comme hommes, mais seulement comme des instruments de
production qui doivent rapporter beaucoup en dépensant le moins possible. Ces
populations de travailleurs, de plus en plus pressées, n’ont pas même la sécurité
d’être toujours employées; l’industrie qui les a convoquées ne les fait vivre que
quand elle a besoin d’elles, et, sitôt qu’elle peut s’en passer, elle les abandonne
sans le moindre souci; et les travailleurs, mis à la reforme, sont forcés d’offrir leur
personne et leur force pour le prix qu’on veut bien leur accorder. Plus le travail
qu’on leur donne est long, pénible et fastidieux, moins ils sont rétribués; on en
voit qui, avec seize heures par jour d’efforts continus, achètent à peine le droit de
ne pas mourir!”
12 Jean-Baptiste Say, Traité d’ économie politique, ou simple exposition de la manière dont
se forment, se distribuent et se consomment les richesses, 3. éd., t. 1 e 2, Paris, 1817, t.
1, p. 136: “... en supposant même que le capital ne soit le fruit d’aucune spoliation
... il faut encore ... le concours de la législation pour en consacrer l’hérédité ...”
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les salaires, avec la prospérité de la société, et ne tombe pas; comme eux, avec sa
décadence. Au contraire, ce taux est naturellement bas dans les pays riches, et haut
dans les pays pauvres; et jamais il n’est si haut que dans ceux qui se précipitent le plus
rapidement vers leur mine. L’intérêt de cette troisième classe n’a donc pas la même
liaison que celui des deux autres, avec l’intérêt général de la société. ... Cependant
l’intérêt particulier de ceux qui exercent une branche particulière de commerce ou
de manufacture, est toujours, à quelques égards, différent et même contraire à celui
du public. L’intérêt du marchand est toujours d’agrandir le marché et de restreindre
la concurrence des vendeurs. ... Cette proposition vient d’une classe de gens dont
l’intérêt ne saurait jamais être exactement le même que l’intérêt de la société, qui
ont en général intérêt à tromper le public et même à le surcharger...”
31 Id., ibid., t. I, p. 179: “L’accroissement des capitaux qui fait hausser les salaires,
tend à abaisser les profits. Quand les capitaux de beaucoup de riches commerçants
sont versés dans un même genre de commerce, leur concurrence mutuelle tend
naturellement à en faire baisser les profits...”
32 Id., ibid., t. 2, p. 372-373: “Ainsi le capital qu’on peut employer au commerce
d’épicerie, ne saurait excéder ce qu’il faut pour acheter cette quantité. Si ce capital
se trouve partagé entre deux différents épiciers, la concurrence fera que chacun
d’eux vendra à meilleur marché que si le capital eut été dans les mains d’un seul; et
s’il est divisé entre vingt, la concurrence en sera précisément d’autant plus active, et
il y aura aussi d’autant moins de chance qu’ils puissent se concerter entr’eux pour
hausser le prix de leurs marchandises.”
33 Id., ibid., t. I, p. 201: “La hausse des salaires opère en haussant le prix d’une mar-
chandise, comme opère l’intérêt simple dans l’accumulation d’une dette. La hausse
des profits opère comme l’intérêt composé.”
34 Id., ibid., t. I, p. 196-197: “Dans un pays qui est parvenu au comble de sa mesure
de richesse... comme le taux ordinaire du profit net y sera très-petit, il s’ensuivra
que le taux de l’intérêt ordinaire que ce profit pourra suffire à payer, sera trop bas
pour qu’il soit possible, à d’autres qu’aux gens très-riches, de vivre de l’intérêt de
leur argent. Tout les gens de fortune bornée ou médiocre seront obligés de diriger
par leurs mains l’emploi de leurs capitaux. Il faudra absolument que tout homme
à peu près soit dans les affaires ou intéressé dans quelque genre de commerce.”
35 Id., ibid., t. 2, p. 325: “C’est ... la proportion existante entre la somme des capitaux
et celle des revenus qui détermine partout la proportion dans laquelle se trouveront
l’industrie et la fainéantise: partout où les capitaux l’emportent, c’est l’industrie qui
domine; partout ou ce sont les revenus, le fainéantise prévaut.”
36 Id., ibid., t. 2, p. 358-359: “... à mesure que les capitaux se multiplient, la quantité
de fonds à prêter à intérêt devient successivement de plus en plus grande. À mesure
que la quantité des fonds à prêter à intérêt vient à augmenter, l’ intérêt ... va nécessai-
rement en diminuant, non-seulement en vertu de ces causes générales qui font que
le prix de marché de toutes choses diminue à mesure que la quantité de ces choses
augmente, mais encore en vertu d’autres causes qui sont particulières à ce cas-ci. À
mesure que les capitaux se multiplient dans un pays, le profit qu’on peut faire en les
employant diminue nécessairement: il devient successivement de plus en plus difficile
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épargne dans la dépense d’entretien du capital fixe, qui ne diminue pas dans le tra
vail la puissance productive, doit augmenter le fonds...”
41 Id., ibid., t. 2, p. 382: “ll y a beaucoup d’endroits dans la Grande-Bretagne, où les
habitants n’ont pas de capitaux suffisants pour cultiver et améliorer leurs terres. La
laine des provinces du midi de l’Écosse vient, en grande partie, faire un long voyage
par terre dans de fort mauvaises routes, pour être manufacturée dans le comte d’York,
faute de capital pour être manufacturée sur les lieux. Il y a en Angleterre plusieurs
petites villes de fabriques, dont les habitants manquent de capitaux suffisants pour
transporter le produit de leur propre industrie à ces marchés éloignés où il trouve
des demandes et des consommateurs. Si on y voit quelques marchands, ce ne sont
proprement que les agents de marchands plus riches qui résident dans quelques-unes
des grandes villes commerçantes.”
42 Id., ibid., t. 2, p. 193-194: “Puis donc que, dans la nature des choses, l’accumulation
d’un capital est un préalable nécessaire à la division du travail, le travail ne peut pas
recevoir de subdivisions ultérieures qu’à proportion que les capitaux se sont préa-
lablement accumulés de plus en plus. À mesure que le travail vient à se subdiviser,
la quantité de matières qu’un même nombre de personnes peut mettre en oeuvre
augmente dans une grande proportion; et comme la tâche de chaque ouvrier se
trouve successivement réduite à un plus grand degré de simplicité, il arrive qu’on
invente une foule de nouvelles machines pour faciliter et abréger ces tâches. A
mesure donc que la division de travail va en s’étendant, il faut, pour qu’un même
nombre d’ouvriers soit constamment occupé, qu’on accumule d’avance une égale
provision de vivres et une provision de matières et d’outils plus forte que celle qui
aurait été nécessaire dans un état de choses moins avancé. Or, le nombre des ou-
vriers augmente en général dans chaque branche d’ouvrage, en même temps qu’y
augmente la division de travail, ou plutôt c’est l’augmentation de leur nombre qui
les met à portée de se classer et de se subdiviser de cette manière.”
43 Id., ibid., t. 2, p. 194-195: “De même que le travail ne peut acquérir cette grande
extension de puissance productive, sans une accumulation préalable de capitaux, de
même l’accumulation des capitaux amène naturellement cette extension. La personne
qui emploie son capital à faire travailler, cherche nécessairement à l’employer de
manière à ce qu’il fasse produire la plus grande quantité possible d’ouvrage: elle
tâche donc à la fois d’établir entre ses ouvriers la distribution de travaux la plus
convenable, et des les fournir des meilleures machines qu’elle puisse imaginer ou
qu’elle soit à même de se procurer. Ses moyens pour réussir dans ces deux objects,
sont propor tionnés en général à l’étendue de son capital ou au nombre de gens que
ce capital peut tenir occupés. Ainsi non-seulement la quantité d’industrie augment
dans un pays à mesure de l’accroissement du capital qui la met en activité, mais
encore, par une suite de cet accroissement, la même quantité d’industrie produit
une beaucoup plus grande quantité d’ouvrage.”
44 Id., ibid., t. 2, p. 215-216: “Dans une loterie parfaitement égale, ceux qui tirent les
billets gagnants doivent gagner tout ce qui est perdu par ceux qui tirent les billets
blancs. Dans une profession ou il y en a vingt qui échouent contre un qui réussit, cet
un doit gagner tout ce qui aurait pu être gagné par les vingt malheureux. L’avocat,
qui commence peut-être à pres de quarante ans à tirer parti de sa profession, doit
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51 Id., ibid., t. 2, p. 161: “Des trois classes, c’est la seule à laquelle son revenu ne coûte
ni travail ni souci, mais à laquelle il vient pour ainsi dire de luimême, et sans qu’elle
y apporte aucun dessein ni plan quelconque.”
52 Id., ibid., t. I, p. 306: “La rente varie selon la fertilité de la terre, quel que soit son
produit, et selon sa situation, quelle que soit sa fertilité.”
53 Id., ibid., t. I, p. 210: “En supposant des terres, des mines et des pêcheries d’une
égale fécondité, le produit qu’elles rendront sera en proportion de l’étendue des
capitaux qu’on emploiera à leur culture et exploitation, et de la manière plus ou
moins convenable dont ces capitaux seront appliqués. En supposant des capitaux
égaux et également bien appliqués, ce produit sera en proportion de la fécondité
naturelle des terres, des mines et des pêcheries.”
54 Id., ibid., t. I, p. 299-300: “Le propriétaire, lors de la stipulation des clauses du bail,
tâche, autant qu’il peut, de ne lui pas laisser dans le produit une portion plus forte
que ce qu’il faut pour remplacer le capital qui fournit la semence, paie le travail,
achète et entretient les bestiaux et autres instruments de labourage, et pour lui
donner en outre les profits ordinaires que rendent les fermes dans le canton. Cette
portion est évidemment la plus petite dont le fermier puisse se contenter sans être
en perte, et le propriétaire est raremente d’avis de lui en laisser davantage. Tout
ce qui reste du produit ou de son prix ... au-delà de cette portion, quel que puisse
être ce reste, le propriétaire tâche de se le réserver comme rente de sa terre; ce qui
est évidemment la plus forte rente que le fermier puisse suffire à payer, dans l’état
actuel de la terre. ... ce surplus peut toujours être regardé comme la rente naturelle
de la terre, ou la rente moyennant laquelle on peut naturellement penser que seront
louées la plupart des terres.”
55 Jean-Baptiste Say, Traité d’ économie politique..., t. 2, p. 142-143: “Les propriétaires
terriens ... exercent ... une espèce de monopole envers les fermiers. La demande de
leur denrée, qui est le terrain, peut s’étendre sans cesse; mais la quantité de leur
denrée ne s’étend que jusqu’à un certain point ... le marché qui se conclut entre
le propriétaire et le fermier, est toujours aussi avantageux qu’il peut l’être pour le
premier ... Outre cet avantage que le propriétaire tient de la nature des choses, il
en tire un autre de sa position, qui d’ordinaire lui donne sur le fermier l’ascendant
d’une fortune plus grande, et quelquefois celui du crédit et des places; mais le
premier de ces avantages suffit pour qu’il soit toujours à même de profiter seul
des circonstances favorables aux profits de la terre. L’ouverture d’un canal, d’un
chemin, les progrès de la population et de l’aisance d’un canton, élevent toujours
le prix des fermages. ... Le fermier lui-même peut améliorer le fonds à ses frais;
mais c’est un capital dont il ne tire les intérêts que pendant la durée de son bail,
et qui, à l’expiration de ce bail, ne pouvant être emporté, demeure au propriétaire;
dès ce moment, celui-ci en retire les intérêts sans en avoir fait les avances, car le
loyer s’élève en proportion.”
56 Adam Smith, Recherches..., t. 1, p. 299: “La rente, considérée comme le prix payé
pour l’usage de la terre, est naturellement le prix le plus haut que le fermier soit en
état de payer, dans les circonstances où se trouve la terre pour le moment.”
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57 Id., ibid., t. I, p. 351: “La rente d’un bien à la surface de la terre, monte communé-
ment à ce qu’on suppose être le tiers du produit total, et c’est pour l’ordinaire une
rente fixe et indépendante des variations accidentelles de la récolte.”
58 Id., ibid., t. 2, p. 378: “C’est rarement moins du quart ... du produit total.”
59 Id., ibid., t. I, p. 341: “Une bonne carrière de pierre, dans le voisinage de Londres,
fournirait une rente considérable. Dans beaucoup d’endroits d’Ecosse et de la
province de Galles, elle n’en rapportera aucune.”
60 Id., ibid., t. I, p. 302-303: “On ne peut porter ordinairement au marché que ces
parties seulement du produit de la terre dont le prix ordinaire est suffisant pour
remplacer le capital qu’il faut employer pour les y porter, et les profits ordinaires de
ce capital. Si le prix ordinaire est plus que suffisant, le surplus en ira naturellement
à la rente de la terre. S’il n’est juste que suffisant, la marchandise pourra bien être
portée au marché, mais elle ne peut fournir à payer une rente au propriétaire. Le prix
sera-t-il ou ne sera-t-il pas plus que suffisant? C’est ce qui dépend de la demande.”
61 Id., ibid., t. I, p. 303-304: “... la rente entre dans la composition du prix des mar-
chandises, d’une autre manière que n’y entrent les salaires et les profits. Le taux haut
ou bas des salaires et des profits est la cause du haut ou bas prix des marchandises;
le taux haut ou bas de la rente est l’effet du prix ...”
62 Id., ibid., t. I, p. 305-306: “Les hommes, comme toutes les autres espèces anima-
les, se multipliant naturellement en proportion des moyens de leur subsistance, il
y a toujours plus ou moins demande de nourriture. Toujours la nourriture pourra
acheter ... une quantité plus ou moins grande de travail, et toujours il se trouvera
quelqu’un disposé à faire quelque chose pour la gagner. A la verité, ce qu’elle peut
acheter de travail n’est pas toujours égal à ce qu’elle pourrait en faire subsister si elle
était distribuée de la manière la plus économique, et cela à cause des forts salaires
qui sont quelquefois donnés au travail. Mais elle peut toujours acheter autant de
travail qu’elle peut en faire subsister, au taux auquel ce genre de travail subsiste
communément dans le pays. Or, la terre, dans presque toutes les situations possi-
bles, produit plus de nourriture que ce qu’il faut pour faire subsister tout le travail
qui concourt à mettre cette nourriture au marché ... Le surplus de cette nourriture
est aussi toujours plus que suffisant pour remplacer avec profit le capital qui fait
mouvoir ce travail. Ainsi, il reste toujours quelque chose pour donner une rente au
propriétaire.”
63 Id., ibid., t. I, p. 345: “... non-seulement c’est de la nourriture que la rente tire sa
première origine, mais encore si quelqu’autre partie du produit de la terre vient aussi
par la suite à rapporter une rente, elle doit cette addition de valeur à l’accroissement
de puissance qu’a acquis le travail pour produire de la nourriture, au moyen de la
culture et de l’amélioration de la terre.”
64 Id., ibid., t. I, p. 337: “La nourriture de l’homme paraît être le seul des produits de
la terre qui fournisse toujours, et nécessairement de quoi payer une rente quelconque
au propriétaire.”
65 Id., ibid., t. I, p. 342: “Les pays ne se peuplent pas en proportion du nombre que
leur produit peut vêtir e loger, mais en raison de celui que ce produit peut nourrir.”
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66 Id., ibid., t. I, p. 338-339: “Les deux plus grands besoins de l’homme, après la nour-
riture, sont le vêtement et le logement. La terre, dans son état primitif et inculte, peut
fournir des matériaux de vêtement et de logement pour beaucoup plus de personnes
qu’elle n’en peut nourrir. Dans son état de culture, au contraire, elle ne peut guère
fournir de ces sortes de matériaux à toutes les personnes qu’elle serait dans le cas de
nourrir, du moins tels que ces personnes voudraient les avoir et consentiraient à les
payer. Ainsi, dans le premier état, il y a toujours surabondance de ces matériaux,
qui nont souvent, pour cette raison, que peu ou point de prix. Dans l’autre, il y en
a souvent disète; ce qui augmente nécessairement leur valeur. Dans le premier état,
une grande partie de ces matières est jetée comme inutile, et le prix de celles dont on
fait usage est regardé comme équivalent seulement au travail et à la dépense de les
mettre en état de servir. Elles ne peuvent en conséquence fournir aucune rente au
propriétaire du sol. Dans l’autre, elles sont toutes mises en oeuvre, et il y a souvent
demande pour plus qu’on n’en peut avoir. Il se trouve toujours quelqu’un disposé
à donner, de chaque portion de ces matières, plus que ce qu’il faut pour payer la
dépense de les transporter au marché; ainsi leur prix peut toujours fournir quelque
chose pour faire une rente au propriétaire de la terre.”
67 Id., ibid., t. 1, p. 335: “La population augmenterait, et les rentes s’élèveraient
beaucoup au dessus de ce qu’elles sont aujourd’hui.”
68 Id., ibid., t. 2, p. 157-159: “... toute amélioration qui se fait dans l’état de la société,
tend, d’une manière directe ou indirecte, à faire monter la rente réelle de la terre,
à augmenter la richesse réelle du propriétaire, c’est-à-dire, son pouvoir d’acheter le
travail d’autrui ou le produit du travail d’autrui. L’extension de l’amélioration des
terres et de la culture y tend d’une manière directe. La part du propriétaire dans le
produit augmente nécessairement à mesure que le produit augmente. La hausse qui
survient dans le prix réel de ces sortes de produits bruts ... la hausse, par exemple,
du prix du bétail tend aussi à élever, d’une manière directe, la rente du propriétaire,
et dans une proportion encore plus forte. Non-seulement la valeur réelle de la part
du propriétaire, le pouvoir réel que cette part lui donne sur le travail d’autrui, aug-
mentent avec la valeur réelle du produit, mais encore la proportion de cette part,
relativement au produit total, augmente aussi avec cette valeur. Ce produit, après
avoir haussé dans son prix réel, n’exige pas plus de travail, pour être recueilli ...
pour suffire à remplacer le capital qui fait mouvoir ce travail, ensemble les profits
ordinaires de ce capital. La portion restante du produit, qui est la part du proprié-
taire, sera donc plus grande, relativement au tout, qu’elle ne l’était auparavant.”
69 Id., ibid., t. 2, p. 159: “Ces sortes d’améliorations dans la puissance productive du
travail, qui tendent directement à réduire le prix réel des ouvrages de manufacture,
tendent indirectement à élever la rente réelle de la terre. C’est contre du produit
manufacturé que le propriétaire échange cette partie de son produit brut, qui excède
sa consommation personelle, ou, ce qui revient au même, le prix de cette partie.
Tout ce qui réduit le prix réel de ce premier genre de produit, élève le prix réel du
second; une même quantité de ce produit brut répond dès-lors à une plus grande
quantité de ce produit manufacturé, et le propriétaire se trouve à portée d’acheter
une plus grande quantité des choses de commodité, d’ornement ou de luxe qu’il
desire se procurer.”
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70 Id., ibid., t. 2, p. 161: “Ce que nous venons de dire plus haut, fait voir que l’intérêt
de la première de ces trois grandes classes est étroitement et inséparablement lié à
l’intérêt général de la société.”
71 Id., ibid., t. 1, p. 331: “... la rente des terres cultivées pour produire la nourriture
des hommes, règle la rente de la plupart des autres terres cultivées.”
72 Id., ibid., t. I, p. 345-346: “On peut dire d’une mine en général, qu’elle est féconde
ou qu’elle est stérile, selon que la quantité de minéral que peut en tirer une certaine
quantité de travail, est plus ou moins grande que celle qu’une même quantité de
travail tirerait de la plupart des autres mines de la même espèce.”
73 Id., ibid., t. I, p. 350: “... le prix de la mine de charbon la plus féconde règle le
prix du charbon pour toutes les autres mines de son voisinage. Le propriétaire et
l’entrepreneur trouvent tous deux qu’ils pourront se faire, l’un une plus forte rente,
l’autre un plus gros profit en vendant quelque chose au dessous de tous leurs voisins.
Les voisins sont bientôt obligés de vendre au même prix, quoiqu’ils soient moins en
état d’y suffire, et quoique ce prix aille toujours en diminuant, et leur enlève même
quelquefois toute leur rente et tout leur profit. Quelques exploitations se trouvent
alors entièrement abandonnées; d’autre ne rapportent plus de rente, et ne peuvent
plus être continuées que par le propriétaire de la mine.”
74 Id., ibid., t. I, p. 353: “Après la découverte des mines du Pérou, les mines d’argent
d’Europe furent pour la plupart abandonnées. ... La même chose arriva à l’égard
des mines de Cuba et de Saint-Domingue, et même à l’égard des anciennes mines
du Pérou, apres la découverte de celles du Potosi.”
75 Id., ibid., t 2, p. 367-368: “Il est à remarquer que partout le prix courant des terres
dépend du taux courant de l’intérêt. ... si la rente de la terre tombait au dessous
de l’intérêt de l’argent d’une différence plus forte, personne ne voudrait acheter
des terres; ce qui réduirait bientôt leur prix courant. Au contraire, si les avantages
faisaient beaucoup plus que compenser la différence, tout le monde voudrait acheter
des terres; ce qui en releverait encore bientôt le prix courant.”
76 Id., ibid.,t. I, p. 29-37: “Cette division du travail ... ne doit pas être regardée, dans son
origine, comme l’effet d’une sagesse humaine ... elle est la conséquence nécessaire,
quoique lente et graduelle, d’un certain penchant naturel à tous les hommes qui
ne se proposent pas des vues d’utilité aussi étendues; c’est ce penchant à trafiquer,
à faire des trocs et des échanges d’une chose pour une autre. ... ce penchant est un
de ces premiers principes de la nature humaine ... ou bien, comme il paraît plus
probable, s’il est une conséquence nécessaire de l’usage du raisonnement et de la
parole. Il est commun à tous les hommes, et on ne l’aperçoit dans aucune autre
espèce d’animaux ... Dans presque toutes les autres espèces d’animaux, chaque
individu, quand il est parvenu à sa pleine croissance, est tout-à-fait indépendant
... Mais l’homme a presque continuellement besoin du secours de ses semblables,
et c’est en vain qu’il l’attendrait de leur seule bienveillance. Il sera bien plus sûr de
son fait en s’adressant à leur intérêt personnel, et en leur persuadant qu’il y va de
leur propre avantage de faire ce qu’il souhaite d’eux. ... Nous ne nous adressons
pas à leur humanité, mais à leur égoisme; et ce n’est jamais de nos besoins que nous
leur parlons, c’est toujours de leur avantage. ... Comme c’est ainsi par traité, par
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troc et par achat que nous obtenons des autres la plupart de ces bons offices qui
nous sont mutuellement nécessaires, c’est cette même disposition à trafiquer qui
a, dans l’origine, donné lieu à la division du travail. Par exemple, dans une tribu
de chasseurs ou de bergers, un particulier fait des arcs et des fleches avec plus de
célérité et d’adresse qu’un autre. Il troque souvent avec ses compagnons ces sortes
d’ouvrages contre du bétail ou du gibier, et il s’aparçoit bientôt que par ce moyen il
peut se procurer plus de bétail et de gibier, que s’il se mettait lui-même en campagne
pour en avoir. Par calcul d’intérêt donc, il fait sa principale affaire de fabriquer des
arcs et des flêches ... la différence des talents naturels entre les individus ... n’est pas
tant la cause que l’effet de la division du travail ... sans la disposition des hommes
à trafiquer et à échanger, chacun aurait été obligé de se procurer à soi-même toutes
les nécessités et commodités de la vie. Chacun aurai eu la même tâche à remplir
et le même ouvrage à faire, et il n’y aurait pas eu lieu à cette grande différence
d’occupations, qui seule peut donner naissance à une grande différence de talents.
Comme c’est ce penchant à troquer qui donne lieu à cette diversité de talents, si
remarquable entre hommes de différentes professions, c’est aussi ce même penchant
qui rend cette diversité utile. Beaucoup de races d’animaux, qu’on reconnaît pour
être de la même espèce, ont reçu de la nature des caractères distinctifs, quant à leurs
dispositions, beaucoup plus remarquables que ceux qu’on pourrait observer entre
les hommes, antérieurement à l’effet des habitudes et de l’éducation. Par nature,
un philosophe n’est pas de moitié aussi différent d’un porte-faix, en talent et en
intelligence, qu’un mâtin l’est d’un lévrier, un lévrier d’un épagneul, et celui-ci
d’un chien de berger. Toutefois ces différentes races d’animaux, quoique de même
espèce, ne sont presque d’aucune utilité les unes pour les autres. Le mâtin ne peut
pas ajouter aux avantages de sa force, en s’aidant de la légéreté du lévrier ou de la
sagacité de l’épagneul, ou de la docilité du chien de berger. Les effets de ces différents
talents ou degrés d’intelligence, faute d’une faculté ou d’un penchant au commerce
et à l’échange, ne peuvent être mis en commun, et ne peuvent le moins du monde
contribuer à l’avantage ou à la commodité commune de l’espèce. Chaque animal est
toujours obligé de s’entretenir et de se défendre lui-même à part et indépendamment
des autres, et il ne peut retirer la moindre utilité de cette variété de talents que la
nature a répartie entre ses pareils. Parmi les hommes, au contraire, les talents les plus
disparates sont utiles les uns aux autres, parce que les différents produits de chacune
de leurs diverses sortes d’industrie respective, au moyen de ce penchant universel à
troquer et à commercer, se trouvent mis, pour ainsi dire, en une masse commune
ou chaque homme peut aller acheter, suivant ses besoins, une portion quelconque
du produit de l’industrie des autres. Puisque c’est la faculté d’échanger qui donne
lieu à la division du travail, l’accroissement de cette division doit par conséquent
toujours être limitée par l’étendue de la faculté d’échanger, ou en autres termes,
par l’étendue du marché. Si le marché est très-petit, personne ne sera encouragé à
s’adonner entièrement à une seule occupation, faute de pouvoir trouver à échanger
tout ce surplus du produit de son travail qui excédera sa propre consommation,
contre un pareil surplus du produit du travail d’autrui qu’il voudrait se procurer.”
77 Id., ibid., t. 1, p. 46: “Ainsi chaque homme subsiste d’échanges ou devient une espèce
de marchand, et la société elle-même est proprement une société commerçante.”
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APÊNDICE
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A gênese da humanidade
Na passagem do século XVIII ao XIX, o que se conhecia da
história da humanidade era muito pouco. A civilização egípcia,
com as pirâmides e a Esfinge, por exemplo, foi “descoberta”
quando da invasão do Egito por Napoleão. Que o planeta tivesse
uma história era algo impensável – e que esta história se estende
por cerca de 4,5 bilhões de anos, era ainda mais inconcebível.
Darwin ainda estava há meio século de distância. Apenas ao
final do século XIX foi incorporado à ciência que a família,
algo tão fundamental na reprodução das sociedades, tinha
um passado muito distinto da família burguesa, monogâmica,
patriarcal.
Hegel contava com menos dados históricos à sua disposição
do que qualquer colegial dos nossos dias. A resposta que ele po-
deria dar à questão da origem da humanidade era muito pobre3.
Tendo em vista a maior complexidade da matéria orgânica frente
à inorgânica, postulou que a primeira era posterior à segunda.
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Alienação em Marx
Há uma enorme distância entre os conteúdos dos conceitos
de objetivação e exteriorização de Hegel e de Marx. O mesmo
ocorre com a alienação. Para Hegel, a exteriorização e objeti-
vação eram momentos do processo fundante da contradição
sujeito-objeto que teria dado o início à elevação do Geist de
seu em-si ao seu para-si. Para Marx, trata-se, primordialmente,
do processo de transformação da matéria natural em meios de
produção e de subsistência pelo qual, ao objetivar uma teleo-
logia, não apenas a natureza é transformada, mas também a
natureza social dos humanos evolui. Se, para Hegel, alcançado
o Absoluto, a contradição sujeito-objeto seria superada pela
identidade sujeito-objeto e, consequentemente, a exterioriza-
ção e objetivação deixariam de comparecer, para Marx não há
processo social que não seja a síntese em tendências históricas
universais dos atos singulares dos indivíduos concretos, social-
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12 Por sua vez, fundada pelo baixo desenvolvimento das forças produtivas etc.
13 Em O povo das Montanhas Negras, Raymond Williams (1991) narra lendas em
que esse papel da religião no período primitivo é bastante evidente. Lukács
discute também essa função social da religião nas sociedades primitivas (cf.
em especial Lukács, 1990, p. 288-290, 1986, p. 19, 71-79, 221 e 702-705).
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14 Mészáros, 2002; Paniago, 2012. Para Marx e Engels (assim como para Lukács
e Mészáros), as forças produtivas representam a capacidade de a humanidade
fazer sua própria história ao retirar da natureza os meios de produção e de
subsistência. Os complexos alienantes, com enorme frequência, reduzem ou
rebaixam a capacidade humana em fazer sua própria história, exatamente por
isso são processos de alienação. No capitalismo desenvolvido, esta contradição
entre o desenvolvimento das capacidades humanas e os processos alienantes
atinge uma qualidade pela qual a capacidade produtiva a serviço do capital
está em antagonismo direto com a capacidade humana em fazer nossa própria
história – sem nenhum exagero, se converte em um processo de destruição do
humano que nos aproxima da possibilidade de nos extinguirmos no planeta.
Não há, por isso, qualquer identidade entre o desenvolvimento da capacidade
produtiva e o desenvolvimento das forças produtivas em nossos dias – pelo
contrário, como a relação do capital com a humanidade é de alienação e não
de identidade, o aumento da capacidade produtiva do capital é antagônico ao
desenvolvimento da humanidade.
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Referências bibliográficas
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Lessa, S. Mundo dos homens. 4a. edição; 2a. impressão, Instituto Lukács,
São Paulo, 2013.
Lukács, G. Prolegomini all’ Ontologia dell’ Essere Sociale. Ed. Guerini e
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