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Escola Estadual de Ensino Médio Irmão José Otão

Disciplina: Artes
Professora: Anajara Lucena
Estudantes: Arthur Marcon, Alexandre, Luísa Novello, Maria Eduarda de
Souza, Paulo Henrique, Vinícius B. Pansera e Vithor.
Turma: 202

Mulheres na História da
Arte:

Anita Malfatti
Introdução
Anita Catarina Malfatti (1889-1894) foi uma das mais importantes artistas
plásticas brasileiras da primeira fase do Modernismo sendo considerada a
precursora do Modernismo no Brasil, vale destacar que a sua exposição ocorrida
em 1917 trouxe diversos benefícios e fixações deste importante movimento
artístico. A mostra expressionista da pintora foi um marco para a renovação das
artes plásticas no Brasil.

O estopim da sua carreira artística se deu quando Monteiro Lobato realiza


a postagem de uma crítica no jornal de São Paulo, intitulada “Paranoia ou
Mistificação” em virtude à arte expressionista de Anita.
Infância
Anita Catarina Malfatti nasceu dia 2 de dezembro de 1889 na cidade de
São Paulo. Os pais de Anita eram estrangeiros, o seu pai Samuel Malfatti italiano
e sua mãe Betty Krug norte-americana. Anita Malfatti nasceu com uma atrofia
congênita no braço e na mão direita resultando em movimentos limitados de
modo que desde pequena foi treinada a utilizar sua mão esquerda para a
realização de diversas atividades. Foi assim que a pequena Anita, destra por
nascimento, tornou-se canhota pela necessidade, após intenso treinamento, que
a ajudou a superar as dificuldades dessa condição.

Anita Malfatti aprendeu as primeiras letras no colégio São José, estudou


na Escola Americana e em 1897 ingressou no Colégio Mackenzie.

Devido à incerteza, ansiedade sobre qual rumo seguir na vida aos 13 anos
de idade Anita Malfatti estabeleceu uma ideia radical: imaginou que passar por
uma aventura perigosa poderia lhe tirar essas dúvidas e trazer a resposta, o
estímulo que tanto imaginava. Seguindo este pensamento Anita deitou-se no vão
entre os trilhos de uma linha do trem perto de sua casa e aguardou o trem passar.
Foi algo horrível, indescritível comentou. Em meio a essa situação de forte
emoção, barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante
Anita contemplou cores e cores esboçando o espaço. A partir desse momento a
sua incerteza se tornou sanada notando que a pintura era o seu futuro.

Adolescência
Anita Malfatti cresceu em uma elegante família, os seus pais não detinham
de tanta riqueza, porém a garota nunca havia passado por dificuldades vivendo
com uma boa qualidade de vida. O seu pai Samuel Malfatti havia sido engenheiro
e a sua mãe Elisabete, pintora, desenhista, falava fluentemente 7 línguas,
professora e devido as suas grandes capacidades ficou encarregada de cuidar
pessoalmente da educação de sua filha.

Consentâneo a dedicação, inteligência, comprometimento, Malfatti


conseguiu ingressar no Mackenzie College sem grandes dificuldades onde se
formou professora aos 19 anos. Com a morte do pai, a sua mãe Elisabete passou
a dar aulas de idiomas e de pintura para a menina, enquanto que, para
complementar o orçamento doméstico, Anita começou também a trabalhar como
professora.

Formação
Em 1910 com a ajuda financeira de seus familiares foi estudar na
Alemanha frequentando o ateliê de Fritz Burger e em seguida matriculou-se na
Academia Real de Belas Artes em Berlim, local este que estudou pintura
expressionista cujo objetivo estava em expressar o emocional, distorcer formas
e usar cores pouco reais.

No ano de 1914 Anita Malfatti estava de volta ao Brasil realizando uma


exposição na Casa Mappim uma loja sofisticada, única, paraíso de compras da
elite paulistana onde apresentou os estudos da pintura expressionista feitos no
ateliê de Lovis Corinth em Berlim.

Em 1915 viajou para Nova Iorque onde estudou na Artes Students League
e na Independent Scool of Art sob a orientação do professor Homer Boss, pessoa
filósofa, artista plástico que dominava o expressionismo possuindo uma das
difíceis características que era de deixar o aluno com liberdade de criação para
a pintura, foi aí que a carreira de Anita Malfatti amanhou grande impulso, pois
usufruiu da autonomia de pintar livremente sem limitações estéticas. São dessa
época as obras: O Japonês, O Farol e A Boba.

Em 1917 Anita Malfatti retornou para São Paulo e no dia 20 de


dezembro por obstinação dos amigos, entre eles o pintor Di Cavalcanti, a pintora
realiza uma exposição de suas obras apresentando 53 arrojados trabalhos entre
pinturas, aquarelas e gravuras chocando a provinciana e acadêmica São Paulo.

Técnicas e características da pintura de Anita


Anita possuía um estilo único e diferente de todos em 1922, sofrendo
influência do cubismo e expressionismo; seu estilo dava destaque às
expressões, além de adicionar mais cores. Anita atraiu total atenção ao trazer
uma nova forma de ver o mundo por meio das pinturas. Ela abusava das cores
vibrantes, pinceladas visíveis, ressaltando expressões e abrindo espaço para
temas pessoais e do cotidiano.

Principais exposições, conquistas e críticas


Sua primeira exposição individual ocorre em 1914, no Mappin Stores em
São Paulo, mas é somente em 1917 que Anita ganha o reconhecimento
merecido com a exposição “Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti”, onde
apresentou cerca de 53 obras suas. Ainda nesta etapa, Anita recebeu uma crítica
de Monteiro Lobato, que orbita em torno dos supostos equívocos da arte
moderna (seu elitismo, hermetismo, adesão aos modismos, sua "falta de
sinceridade"), com o título de “Paranoia ou mistificação?; em compensação,
escritores e poetas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del
Picchia apoiaram a pintora e a defenderam, desautorizando o crítico em seus
textos publicados pelos jornais da época. A Semana da Arte Moderna em 1922,
também abriu portas para Malfatti, que teve suas 20 telas expostas (dando
ênfase ao quadro “O Homem Amarelo”); esse evento visava uma nova estética
pautada na liberdade e brasilidade, baseados em vanguardas artísticas
europeias.

Abaixo, algumas das resenhas publicadas:

"Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes através de
uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes.
Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é
original, como é inventiva, em alto grau possui um sem-número de qualidades inatas e
adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto,
seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum
impressionismo (sic) discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de
caricatura. Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de
outros tantos ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia
até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma - caricatura que não visa, como a
primitiva, ressaltar uma ideia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. A
fisionomia de quem sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão
de prazer, ou de beleza, denunciam as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de
quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar, e muito
desconfiado de que o mistificam habilmente(...)".
Monteiro Lobato
LOBATO, Monteiro. [A propósito da exposição Malfatti]. Apud. BATISTA, Marta Rossetti. Anita
Malfatti e o início da arte moderna no Brasil: vida e obra. São Paulo, 1980. Dissertação
(Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. v. 1.
p.165. [Texto extraído do artigo A propósito da exposição Malfatti, escrito em 1917]
"Possuidora de uma alta consciência do que faz, levada por um notável instinto para a
apaixonada eleição dos seus assuntos e da sua maneira, a vibrante artista não temeu levantar
com os seus cinquenta trabalhos as mais irritadas opiniões e as mais contrariantes
hostilidades. Era natural que elas surgissem no acanhamento da nossa vida artística. A
impressão inicial que produzem os seus quadros é de originalidade e de diferente visão. As
suas telas chocam o preconceito fotográfico que geralmente se leva no espírito para as nossas
exposições de pintura. A sua arte é a negação da cópia, a ojeriza da oleografia".
Oswald de Andrade
Andrade, Oswald [A Exposição Anita Malfatti]. Apud. BATISTA, Marta Rossetti. Anita Malfatti e
o início da arte moderna no Brasil: vida e obra. São Paulo, 1980. Dissertação (Mestrado) -
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. v. 1. p.175. [Texto publicado
originalmente no Jornal do Commércio em 11 de janeiro de 1918]

"Monteiro Lobato - estilo clava, estilo pelúcia - tem no diabólico prestígio da sua pena um
mágico poder de sedução às vezes perigosos. Com tais artimanhas tece os seus períodos, que
o nosso espírito nele se enrosca, se prende; é como visgo para pássaros inexpertos; é como
um aranhol para mosquitos incautos...Caí, a respeito de Anita Malfatti, no visgo do seu estilo e,
preso por ele, julguei, com o critério de Lobato, sem ver todas as obras da artista, toda a obra
dela." Comigo milhares de paulistas, aprioristicamente, assim julgaram essa mulher singular,
que, quando não tivesse outro mérito, teria o de haver rompido, com audácia de arte
independente e nova, a nossa sonolência de retardatários e paralíticos da pintura....Quando
defrontei as telas de Anita, comecei a maturar se a acidez de Lobato era justa, e acabei
achando-o cruel e exagerado na formidável catilinária que pespegou na nossa brilhante
patrícia..."
Menotti del Picchia
PICCHIA, Menotti Apud. BATISTA, Marta Rossetti. Anita Malfatti e o início da arte moderna no
Brasil: vida e obra. São Paulo, 1980. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. v. 1. p. 213 [Texto publicado no Correio
Paulistano em novembro de 1920]

Conquistas e sua importância


Além de realizar exposições nacionais, Anita também despertou interesse
no âmbito internacional, tanto crítico individualmente, quanto socialmente,
carregando consigo artes expostas em Nova York, Berlim e Paris. Em 1942, a
artista foi nomeada presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo.

E não menos importante, foi a principal precursora do Modernismo no


Brasil e abriu portas para a inclusão das mulheres, onde, relembrando que estas
naquela época não tinham nem direito ao voto (que só foi lhes concedido em
1932) e tinham apenas a responsabilidade de criar filhos e cuidar da casa, sem
poder apresentar opiniões variadas, beirando sobressair-se do patriarcado. Anita
foi uma inspiração, quebrando barreiras (utilizando técnicas que “não eram de
bom tom” para mulheres) e trazendo consigo novos olhares do mundo e suas
particularidades; ademais, Malfatti inovou não só em seus ideais, mas sobretudo
suas técnicas ao lado de Tarsila do Amaral, proporcionando uma divisão artística
para a sociedade.
Principais obras de Anita Malfatti
 O Burrinho Correndo (1909)
 O Barco (1915)
 A Estudante Russa (1915)
 O Farol (1915)
 Uma Estudante (1916)
 O Japonês (1916)
 O Homem de Sete Cores (1916)
 A Mulher de Cabelo Verde (1916)
 A Boba (1916)
 O Homem Amarelo (1916)
 Tropical (1917)
 A Onda (1917)
 A Chinesa (1922)
 Mario de Andrade I (1922)
 As Margaridas de Mário (1922)
 Paisagem dos Pirineus (1924)
 As Duas Igrejas (Itanhaém, 1940)
 Samba (1945)

Um pouco sobre algumas de suas pinturas mais famosas


Burrinho Correndo (1909)

Considerado o primeiro quadro de Anita, este que fora assinado como


Babynha. A pintura foi inspirada por uma capa de revista popular da época. Não
há muita informação acerca da pintura, ou se há uma história por trás dela.
Material usado: óleo s/tela
Dimensão: 29,5 x 20 cm

O Homem Amarelo (1915-1916)


”O Homem Amarelo” representa um imigrante italiano pobre que posou
para a artista na época em que ela estudava no exterior. A artista comenta que
o modelo sustentava “um olhar desesperado naquele dia”.
Anita retrata de maneira sensível, inusitada e ousada a forma e cor; a
figura apresenta um olhar desorientado de desalento, roupas simples, baratas e
desgastadas pelo tempo. Seus olhos escuros são delimitados por contornos
pretos, com espessas sobrancelhas em forma de acento circunflexo.
O quadro foi comprado por Mário de Andrade, conforme prometera à
artista. Ele disse: “Estou impressionado com este quadro, que já é meu, mas um
dia virei busca-lo”. Esta obra faz parte do acervo do Instituto de Estudos
Brasileiros da Universidade de São Paulo, Brasil.
Essa obra é a segunda versão, a primeira versão, foi feita nos Estados
Unidos durante o período em que Anita esteve estudando. Foi feita em carvão e
pastel, com o mesmo título e quase com as mesmas medidas.
Ficha Técnica
O Homem Amarelo, 1915
Anita Malfatti
Óleo sobre tela, c.i.d.
61,00 cm x 51,00 cm
Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade
de São Paulo (SP)

A Boba (1915-1916)
A boba é uma das obras mais importantes da pintora brasileira e
apresenta elementos cubistas e futuristas para além de muitas cores. O retrato
traz uma única protagonista - jovem, expressiva-, que se destaca em primeiro
plano. Já aqui Anitta deforma as formas básicas da sua personagem. O fundo,
abstrato, é feito a partir de pinceladas largas.
A tela é construída com o uso das cores em uma orquestração de laranjas,
amarelos, azuis e verdes, realçando desta maneira as zonas cromáticas
delineadas pelas linhas negras, na maioria diagonais - ordenação cubista.
Ficha técnica
A Boba, 1915
Anita Malfatti
Óleo sobre tela, c.i.e.
61,00 cm x 50,60 cm
Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP)

O Japonês (1915)
Há fortes indícios que o protagonista da obra seja o pintor Yasuo
Kuniyoshi (1893-1953), um colega de Anita em Nova York tanto na Arts Students
League, como na School of Art.
Conta com tons vermelhos e amarelos, afeição do personagem sobressai
na tela. O trabalho foi comprado por Mário de Andrade em 1920 esteve exposto
tanto na Semana da Arte Moderna quanto na VI Bienal Internacional de São
Paulo.
Ficha técnica

O Japonês, 1915
Anita Malfatti
Óleo sobre tela, c.i.d.
61,00 cm x 51,00 cm
Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade
de São Paulo (SP)

O farol (1915-1917)
Nesta obra a pintora trás também as técnicas que aprendeu durante seus
estudos na Alemanha. O farol (1915-1917) foi pintado na ilha de Monhegan, na
costa leste estadunidense, ao ar livre, quando ela era aluna do professor Homer
Boss, que permitia que seus alunos expressassem-se com liberdade.
Segundo a artista, eles pintavam diversas telas, ao sol, chuva, neblina,
ventania. Ela também relatou que era a tormenta, era o farol, possuíam casinhas
dos pescadores escorregando pelos morros, possuíam paisagens circulares, o
sol...lua...o mar.
Nos dias atuais a obra pode ser vista e encontrada no
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Material: óleo sobre a tela.
Dimensão: 46,50x61cm

A Ventania (1915)
O conceito da artista era claramente influenciada pelas obras do pintor
Holandês Vicent Van Gogh, onde a característica marcante eram as pinceladas
e textura espessa, ressaltadas e rápidas.
A obra “A Ventania"(1915) o vento se torna elemento principal em
destaque, já que dobra tudo que à sua volta se encontra com sua força colossal,
em diferentes cores.
Hoje em dia a obra se encontra no Acervo dos palácios do governo do
Estado São Paulo.

Material usado:
Óleo sobre a tela.
Dimensão: 48x60cm
A Chinesa (1922)
A composição “A Chinesa”, obra da artista brasileira Anita Malfatti, era
uma das prediletas da autora. O escritor Mário de Andrade dizia não gostar da
obra, pois queria que a amiga não se desviasse daquilo que considerava ser o
projeto modernista.
O fundo vermelho da composição destaca os demais elementos pintados
em diversas tonalidades de azul.

Ficha técnica:
Ano: c. 1921-1922
Dimensões: 100 x 77 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Coleção particular

Curiosidades sobre Anita Malfatti


 Primeira representante do Modernismo no Brasil.
 Possuía uma atrofia no braço e na mão direita.

 Ao lado de Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e


Menotti del Picchia, formaram o “Grupo dos Cinco”, onde defendiam
ideais da Semana de Arte Moderna.
Conclusão
Essa foi a história da adoradíssima Anita Malfatti, notamos entre ela uma
baita história, mulher guerreira, obstinada, esperançosa que mesmo entre as
dificuldades, barreira imposta pela sociedade continuou lutando, evoluindo,
buscando progressivamente conhecimento para aprimorar suas técnicas e
mudar o estilo artístico que durante muito tempo esteve restrito aos homens.
Essa foi uma mulher importantíssima desenvolvendo grande papel dentro de
nossa sociedade, ficará para sempre em nossas memórias.

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