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Aluno (a): Gleice Kelle Nunes da Silva

Turma: 2º BAV Noite

Data: 22/06/2022

Título da obra escolhida: O Homem Amarelo

Autor (a): Anita Malfatti

Data: 1915

Gênero: retrato

Técnica: óleo sobre tela

Dimensões: 51cm x 61cm

Localização: Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da


Universidade de São Paulo (SP)
Pintado em 1915 por Anita Malfatti, o quadro O Homem Amarelo tornou-se uma
das pinturas mais conhecidas da artista. Foi exposto em 1917 em uma exposição
organizada por Anita um ano após sua chegada dos Estados Unidos, sob influência de
Di Cavalcanti e Menotti del Picchia, onde recebeu críticas negativas em relação a sua
técnica.

Anita Catarina Malfatti (1889-1964) foi uma artista plástica brasileira, nascida
em São Paulo, descendente de alemães. Passou a estudar pintura em Berlim e Dresden
em 1910, sob influência de seu tio Jorge Krug, um arquiteto que trabalhava no escritório
de Ramos de Azevedo. Anitta nasceu com uma atrofia no braço direito e por isso teve
que aprender a pintar usando o braço esquerdo. Durante seu estudo na Europa, a jovem
pintora teve contato com o Expressionismo Alemão, estética a qual influenciava a
maioria de suas obras.

No ano de 1915, Anita Malfatti teve de se mudar para os Estados Unidos, em


Nova York, com o objetivo de fugir da Primeira Guerra Mundial. Lá, teve aulas com o
professor de Homer Boss que dominava o expressionismo, movimento artístico até
então desconhecido em países fora da Europa. Foi sob a orientação de Boss, que Anitta
passou a pintar mais livremente, sem as limitações estéticas do academicismo. Foi ali,
durante esses estudos, que ela pintou seus quadros mais conhecidos.

Na sua exposição realizada em São Paulo, em 1917, Anita Malfatti reuniu cerca
de 53 pinturas, aquarelas e gravuras produzidas por ela, o que acabou agitando a
imprensa na época. A artista tornou-se a primeira mulher a misturar técnicas europeias
com características brasileiras, por meio do uso de cores fortes e elementos tropicais.

Na época, o escritor Monteiro Lobato, crítico do jornal O Estado de São Paulo,


escreveu seu artigo intitulado de “A propósito da exposição Malfatti" (que ficou
conhecido como "Paranóia ou Mistificação?”) que desaprova o modernismo presente
nas obras da pintora. No artigo, ele chega a comparar as obras de Anita a pinturas “que
ornam as paredes internas dos manicômios” (LOBATO, 1917).

Segundo ele, existem dois tipos de artistas: os que veem normalmente as coisas
e que, em consequência disso, reproduzem fielmente as imagens e aqueles que
distorcem aquilo que veem, pois enxergam a natureza de maneira anormal.

Foi esse o incômodo causado pela pintura “O homem amarelo” - não só esta,
como também “A mulher de cabelos verdes”, entre outras, que mesclam o
Expressionismo ao estilo único da artista devido ao uso das cores irreais, os traços
grossos, as figuras consideradas tortas, a falta de distinção entre fundo e imagem e o
distanciamento da realidade.

Contudo, este não foi o primeiro contato do Brasil com a expressão modernista,
uma vez que, em sua passagem pelo país em 1913, Lasar Segall realizou duas
exposições em São Paulo e em Campinas. Não houve polêmicas e nem surpresas, o que
leva a reflexão de que “não se esperava de Segall, lido, naquela época, com estrangeiro,
o que se esperava de Anita”.

As obras de Anita, no entanto, acabaram chamando a atenção de Mário de


Andrade e Oswald de Andrade, que mais tarde tornaram-se melhores amigos da pintora.
Das obras expostas por ela, oito quadros foram comprados (dois por Mário e Oswald) e
após a publicação do artigo de Monteiro Lobato, seis deles foram devolvidos.

O quadro adquirido por Mário de Andrade foi “O homem amarelo”, como uma
promessa feita à artista. Segundo ela, a pintura retratava um imigrante italiano, que
havia pedido a ela para posar, com uma “expressão desesperada”. E de fato ela o retrata
com um olhar vago e perdido, um homem “pobre, excluído e esquecido”, que apesar de
trajar um paletó e gravata, suas vestes parecem surradas, visivelmente desajeitado e com
o corpo contorcido, ultrapassando os limites da tela (bem característicos dos outros
trabalhos de Anita).

A pintura apresenta traços escuros e grossos, as mãos da figura são quase


eliminadas pelo enquadramento. O homem se inclina para a sua direita - e a cabeça,
levemente para a esquerda. Seus ombros arqueados indicam uma tensão, o que também
pode ser sentido através de sua expressão facial, mostrando a opressão sentida por ele.

Após a exposição, Anitta passou um ano sem produzir nenhuma obra. Foi aí que
ela voltou a estudar, frequentando o ateliê de Pedro Alexandrino, onde conheceu Tarsila
do Amaral. Foi sob o incentivo dos amigos que Anitta participou da Semana de Arte
Moderna de 1922, onde, ao lado de Tarsila, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e
Menotti del Picchia, integrou o que ficou conhecido como O Clube dos Cinco.

As obras de Anita apresentam em conjunto a ideia de Oswald de Andrade sobre


o antropofagismo apresentado por ele em seu manifesto publicado em 1928, onde ele
defende a ideia da junção entre os estilos de outros países às obras com elementos
brasileiros, criando assim um estilo único com uma mistura de outros povos.
“O Homem Amarelo”, por sua vez, é a representação da Modernidade. Segundo
o historiador da arte Rafael Cardoso, nesta obra “[…] Anita fala de indivíduos que não
se encaixam direito no mundo, de uma humanidade exilada em sua condição humana.”
e sob muitas vaias, os artistas que integraram a Semana de Arte Moderna, enfrentaram o
desafio de incentivar os brasileiros a produzirem uma arte genuinamente brasileira.

E como o próprio Modernismo busca, Anita aventurou-se em seu próprio estilo


através do experimentalismo, utilizando a sua liberdade formal ao unir o Movimento
Expressionista ao Nacionalismo brasileiro, indo contra ao academicismo que os artistas,
até então, faziam estar presente em suas produções.

Desta forma, Anita Malfatti seguiu fazendo o seu trabalho. Não limitando-se a
reprodução da realidade como a maioria dos pintores da época, ela pintava somente
aquilo que a interessava, mostrando que é possível ultrapassar a ideia daquilo que se
espera de uma artista, algo que até mesmo Monteiro Lobato reconhece em seu artigo.

tivéssemos na Sra. Malfatti apenas uma “moça que pinta”, como há


centenas por aí, sem denunciar centelhas de talento, calar-nos-íamos, ou talvez
lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos “bombons” que a crítica açucarada
tem sempre à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora
da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento dando a respeito da sua
arte uma opinião sinceríssima (LOBATO, 1917).
Referências:

CARDOSO, Rafael. A Arte Brasileira em 25 Quadros . Editora Record, 2008.

LOPES, Vivian Caroline. Mari Miró e o Homem Amarelo. Editora Ciranda Cultural,
2017.

In: FOLHA de São Paulo. Coleção Folha Grandes Pintores Brasileiros: Anita
Malfatti. Folha de São Paulo, 2013.

In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. O Homem Amarelo.


Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2054/o-homem-amarelo.
Acesso em 22 de junho de 2022.

CUNHA, Juliana. A Polêmica Exposição de Anita Malfatti, Revista Desvio, 2021.


Disponível em:
https://revistadesvio.com/2021/07/20/a-polemica-exposicao-de-anita-malfatti/. Acesso
em 22 de junho de 2022.

DIAS, Lu. Anita Malfatti - O Homem Amarelo. Vírus da Arte, 2015. Disponível em:
https://virusdaarte.net/anita-malfatti-o-homem-amarelo/#:~:text=A%20
composição%20O%20 Homem%20Amarelo,também%20foi%20 motivo%20de%20
polêmica. Acesso em 22 de junho de 2022.

FRAZÃO, Diva. Biografia de Anita Malfatti. In: eBiografia, 2021. Disponível em:
https://www.ebiografia.com/anita_malfatti/. Acesso em 22 de junho de 2022.

MACHADO, Felipe. Mulheres modernistas. In: IstoÉ, 2022. Disponível em:


https://istoe.com.br/mulheres-modernistas/. Acesso em 22 de junho de 2022.

ANITA MALFATTI. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia


Foundation, 2022. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Anita_Malfatti&oldid=63808355. Acesso
em: 22 junho de 2022.

PARANOIA OU MISTIFICAÇÃO?. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:


Wikimedia Foundation, 2022. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Paranoia_ou_Mistifica%C3%A7%C3%A3o
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Wikimedia Foundation, 2022. Disponível em:
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A PROPÓSITO da Exposição Malfatti, Monteiro Lobato. In: ACERVO ESTADÃO,


2017. Disponível em:
http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,a-proposito-da-exposicao-malfatti--mont
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POLIZELLI, Letícia. 100 anos da Semana de 22: O Homem Amarelo, de Anita


Malfatti. SP Escola de Teatro, 2022. Disponível em:
https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/100-anos-da-semana-de-22-o-homem-amar
elo-de-anita-malfatti. Acesso em 22 de junho de 2022.

PAULINO, Roseli. O Homem Amarelo - Anita Malfatti. Arte & Artistas, 2019.
Disponível em: https://arteeartistas.com.br/o-homem-amarelo-anita-malfatti/. Acesso
em 22 de junho de 2022.

FUKS, Rebeca. Anita Malfatti: obras e biografia. In: Cultura Genial. Disponível em:
https://www.culturagenial.com/anita-malfatti-obras-biografia/. Acesso em 22 de junho
de 2022.

Contações de 22: Mari Miró e o Homem Amarelo (FC SBC). TV Fábricas de


Cultura, 2021. 1 vídeo (20 minutos). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=igwJ3D0HsC4. Acesso em 22 de junho de 2022.

Contação de História - Semana de 22 - Mari Miró e o Homem Amarelo. TV


Fábricas de Cultura, 2021. 1 vídeo (11 minutos). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ozGoq3B6JXs. Acesso em 22 de junho de 2022.

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