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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUTÔNOMO DO BRASIL - UNIBRASIL

AMANDA DETZ

BRUNO TRINDADE

CAROLINE E. C. MORESCO

DEBORA K. DOS SANTOS

PEÇA ACUSATÓRIA DA PERSONAGEM “IAGO”

“A Tragédia De Otelo, O Mouro De Veneza”

William Shakespeare

CURITIBA

2016
EXORDIO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DA ILHA DE FERNANDO DE NORONHA.

Em todo tempo, busca-se a justiça: muitos acreditam que a mesma


vem dos céus, ou melhor, de Deus ou de uma força maior, enfim, há diversas
crenças e possibilidades. A questão é que a procura da justiça pode ser
demorada, entretanto, é necessário que, com base em fatos, verdades e
sentidos, busque-se reconstruir os fatos para que se possa julgar um ato de
maneira com que ninguém seja prejudicado, muito menos injustiçado. Dessa
forma, busca-se com esta peça, a concretização da justiça com base no que for
relatado neste caso. Com isso, é esperado que haja animação e que seja
despertada curiosidade aos senhores. Sendo assim, por meio desta, é possível
e necessário realizar a acusação de IAGO, tendo em vista que cometeu
diversos crimes, sendo estes: Injúria Racial, Apropriação Indébita, Homicídios e
Lesão Corporal, os quais serão minuciosamente abordados a seguir:

NARRATIO

O caso ocorreu em duas cidades, Santos e a Ilha de Fernando de


Noronha. O mesmo contém tragédias, mortes, vinganças e amor. O acusado
IAGO, cabo de OTELO acredita que sua esposa, EMÍLIA, o tenha traído com
OTELO, motivo pelo qual busca sempre a vingança e a infelicidade do general
OTELO, que, por sua vez, possuía relação de matrimônio com DESDÊMONA,
filha de BRABÂNCIO, vereador santista.

Em data de 13/01/2016, IAGO se alia a RODRIGO, um empresário de


Santos e perdidamente apaixonado por DESDÊMONA. Aproveitando-se deste
fato, obtém sua ajuda na concretização da vil vingança contra OTELO. Desta
feita, os dois passam a colocar em prática as ideias de IAGO para destruir o
casamento e a vida de OTELO, agindo falsamente e sem piedade alguma,
inclusive colocando em risco a vida de terceiros.

Tamanho era o ódio de IAGO por OTELO que comete seu primeiro
crime aqui relatado: injúria racial, presente no artigo 140, § terceiro do CP,
qual seja “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”, logo, IAGO
demonstrava sentir-se superior a OTELO, sempre o ofendendo referindo-se a
sua cor, sendo que tais ofensas configuram o crime de injúria racial, conforme
pode ser verificado nas cartas escritas por RODRIGO e juntadas aos autos na
forma de PROVAS DOCUMENTAIS, das quais transcrevemos um trecho: [em
conversa com BRABÂNCIO] “Neste instante mesmo, agora, agorinha, um bode
preto e velho está cobrindo sua branca ovelhinha” [grifo nosso indicando que
se refere a OTELO]1. Como não havia intimidade e muito menos amizade, mas
sim uma relação profissional, não haveria a possibilidade de tê-lo chamado
desse modo de forma carinhosa, ou seja, não há o que o defenda desse crime,
tendo em vista que expôs tal preconceito sobre OTELO para terceiros.
BRABÂNCIO, fazendo parte desse momento, relata como ocorreu:

“IAGO se referiu de um modo muito agressivo a respeito de OTELO,


meu genro, agindo com superioridade e ofendendo-lhe a sua
dignidade, referindo-se a um diabo, aquele que comete as piores
atrocidades. Posso falar que o fato de OTELO não estar lá para que
pudesse se defender fere mais ainda sua dignidade, no momento em
que IAGO fala mal do meu genro para mim e para os demais
serviçais e os demais presentes no momento. E depois de saber que
minha filha teria se casado com OTELO por amor e que IAGO
poderia estar querendo prejudicar o casamento, entendo que IAGO
quis mostrar a parte ruim de OTELO, volto dizer, ofendendo-lhe.”

Com base no testemunho de BRABÂNCIO pode-se notar que IAGO


agia de má-fé em relação a OTELO.

O plano de vingança iniciou-se ainda em 13/01/2016, no período


noturno, em frente à casa de BRABÂNCIO, quando RODRIGO, a mando de
IAGO, causa um alvoroço para informar a BRABÂNCIO que sua filha,
DESDÊMONA, havia sido enfeitiçada por OTELO e tomada como sua esposa
e, ainda, que teria ela supostamente traído a confiança de seu pai ao evadir-se.
Data venia, RODRIGO e IAGO não lograram êxito quando tentaram separá-los

1 SHAKESPEARE, William. OTELO. Porto Alegre. 2013. L&PM Editores. p. 10.


e colocar BRABÂNCIO, contra sua filha e OTELO, uma vez que dois OTELO e
DESDÊMONA foram chamados a explicarem a real situação e, diante de tal
explicação, BRABÂNCIO se convenceu de que não havia feitiço contra sua
filha e que a mesma estava se casando por puro e verdadeiro amor a OTELO,
amor este recíproco. Nota-se que mesmo que essa tentativa não tenha
resultado na vontade de IAGO, ele continua se passando por bom moço e
ganhando a confiança de OTELO, mesmo após ter tentado envenenar a mente
de BRABÂNCIO contra ele, sem que este saiba. Ou seja: percebe-se quão
friamente IAGO age em seus planos.

Na mesma ocasião, o prefeito de Santos convoca OTELO para que


compareça à Ilha de Fernando de Noronha para resolver assuntos de Estado;
OTELO, de pronto, aceita e parte para a Ilha. Em data de 14/01/2016, saem
três navios de Santos: o primeiro levando CÁSSIO; o segundo levando IAGO,
RODRIGO, EMÍLIA e DESDÊMONA e o terceiro levando OTELO. Tendo em
vista a turbulência marítima, apenas em 19/01/2016 todos os três chegam à
Ilha, todavia, o navio de OTELO foi o último a atracar à Ilha, resultando assim,
o atraso de OTELO oportuniza a IAGO que despeje seu veneno sobre
DESDÊMONA e EMÍLIA deixando-as constrangidas e ofendidas ao ouvi-lo
desdenhar as mulheres como um todo e demonstrar seu ódio para com o
gênero feminino.

Logo após o acontecimento, OTELO chega à Ilha e, não havendo mais


assuntos de Estado para tratar, retira-se para descansar com DESDÊMONA,
EMÍLIA e os demais, deixando a sós a dupla, IAGO e RODRIGO, os quais
tramam plano contra CÁSSIO com dolo de fazer com que ele perca a confiança
de OTELO, perdendo sucessivamente seu cargo de tenente. Sendo assim,
IAGO começa intoxicar a mente de OTELO cada vez mais a respeito de
CÁSSIO e seu suposto caso com DESDÊMONA, gerando dúvidas em OTELO,
que começa a suspeitar e acreditar que IAGO é confiável e que está tentando
ajudá-lo tal qual um amigo faria, mal sabendo ele que IAGO não o suporta e
que seu plano é desgraçar sua vida. Mais uma vez, aparecem os relatos de
RODRIGO, no qual conta ele dos planos que tramava com IAGO contra
OTELO.
Pasmem senhores jurados!, o plano da dupla é posto em prática
quando IAGO propositalmente embebeda CÁSSIO e, logo após, RODRIGO o
instiga e provoca a tal ponto que, um homem controlado e pacífico como ele,
toma uma atitude impulsiva de correr atrás de RODRIGO a fim de afrontá-lo
por tamanhas ofensas a ele deferidas, gerando uma briga na qual, segundo o
plano, RODRIGO deveria matá-lo.

Diante de tamanho caos na madruga, o Prefeito MONTANO, de


Fernando de Noronha, tenta apaziguar o tumulto suplicando a CÁSSIO que
retome sua razão e deixe de lado uma briga tão fútil. Entretanto, CÁSSIO, por
ter sido embriagado por IAGO, não estando assim em suas perfeitas
faculdades mentais, toma tal súplica como uma afronta e parte para um
combate corporal com MONTANO, momento este em que RODRIGO aproveita
para fugir furtivamente.

Assim que noticiado de referido alvoroço, OTELO prontamente se


dirige ao local do embate para averiguar os fatos, sendo que, chegando lá,
encontra seu tenente CÁSSIO, homem de sua confiança e seu braço direito,
em situação vexatória meio a um duelo com MONTANO. Frente a tais fatos,
após ter ouvido a explicação de todos os envolvidos, inclusive IAGO que fingiu
ignorância do acontecido, OTELO decide destituir CÁSSIO de sua atual
patente, qual seja tenente. Posto isto, senhores, o desprezível plano da dupla,
IAGO e RODRIGO foi exitoso!

O fingido IAGO instruiu CÁSSIO para que ele pedisse a DESDÊMONA,


em data de 20/01/2016, a intercessão desta junto a OTELO, o que ela, uma
mulher caridosa, mui amiga e inocente, promete imediatamente realizar. Por
conseguinte, no mesmo dia, ela passa a cumprir a promessa suplicando a
OTELO que releve o acontecido, perdoe CÁSSIO e restitua a sua posição,
justificando ela que CÁSSIO é um homem bom e apenas teve um momento de
fraqueza.

Visando instigar ciúmes em OTELO, IAGO utiliza-se de todos os


artifícios possíveis para mascarar situações e promover diversas intrigas,
confundindo assim a mente e coração de OTELO, vindo a degradar seu
relacionamento de muito amor, sinceridade e reciprocidade com DESDÊMONA
que, se não fosse pela conduta de IAGO, viria a ser muito próspero e produziria
muitos frutos.

Referido sentimento era tamanho que, como prova deste, OTELO


presenteara DESDÊMONA com um lenço que fora de sua mãe, portanto,
contendo o lenço profundo valor sentimental. DESDÊMONA por sua vez, o
guardava como sua própria vida, tendo por este imenso afeto. Pasmem os
senhores que, dentre tantas perversidades praticadas por IAGO, este induziu
sua esposa EMÍLIA a furtar o lenço supracitado e o entregar. De posse do
lenço, IAGO o deposita maliciosamente na cabeceira da cama de CÁSSIO,
sem que o mesmo veja, com a intenção de fazer com que OTELO acredite que
DESDÊMONA quem havia deixado o lenço lá, e, desta forma, dá continuidade
à vingança que planejara contra OTELO, dirigindo-se até o mesmo para
despejar seu veneno contra aquele que detinha unicamente amor a serenidade
por sua esposa.

Por ter sido tantas vezes influenciado pelas ideias maldosas de IAGO,
OTELO, tomado por violenta emoção, decide por eliminar CÁSSIO, contudo,
IAGO, ainda fingindo boa-fé e mostrando-se “homem de confiança”, diz a
OTELO que ele mesmo resolverá o problema, qual seja a morte de CÁSSIO.
Sendo assim, IAGO trama com OTELO também a morte de CÁSSIO,
mostrando mais uma vez a sua crueldade.

RODRIGO, não satisfeito com a atual situação do plano que tinha


firmado com IAGO, propõe-lhe uma conversa crítica para que acertem a
continuidade ou não do plano, pois RODRIGO vinha se sentindo traído e
pensava que IAGO o estava “passando para trás”. Em tal conversa, RODRIGO
questiona qual o destino que IAGO deu às joias que ele havia lhe entregue
para que fossem oferecidas à DESDÊMONA como prova de seu amor; IAGO,
por sua vez, tranquiliza RODRIGO e expõe nova fase do plano, tirando o foco
do questionamento, ocultando o crime de apropriação indébita por ele
cometido a partir do momento em que não cumprira com sua palavra dada a
RODRIGO, não entregando as joias à DESDÊMONA, crime este disposto no
artigo 168 do CP: “apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tenha a posse ou
a detenção”, sendo este seu segundo crime. Em suas cartas – PROVAS
DOCUMENTAIS-, RODRIGO deixa claro que tais joias nunca foram entregues
a DESDÊMONA o que leva a acreditar que ele manteve-se na posse dessas
joias, apropriando-se de coisa alheia móvel, cometendo o crime de apropriação
indébita, por não ter cumprido o que lhe fora solicitado, diante disto, após tanto
tempo em sua posse, as joias nunca entregues à DESDÊMONA e, planejando
já matar RODRIGO, IAGO age traiçoeiramente não entregando as joias até que
pudesse matar RODRIGO depois que ele já tivesse o ajudado suficientemente,
ficando então, com as joias para si. Porque depois de morto RODRIGO não
poderia cobrá-lo a respeito do fim que tiveram seus bens. IAGO apropriou-se
de coisa alheia móvel e mesmo que não saibam o real destino, sabe-se que
não foram entregues ao seu destino final que seria DESDÊMONA. O que sem
dúvidas e sem argumentos resulta no crime de apropriação indébita como
citado acima.

A nova fase do plano incluía a morte de CÁSSIO a ser realizada por


RODRIGO. Contudo, RODRIGO antecipa-se escrevendo as cartas
supracitadas usadas neste momento como provas documentais, relatando as
vergonhosas e abomináveis atitudes de IAGO, uma vez que conhecia o
mesmo, precavendo-se de possível traição por parte de IAGO. De qualquer
maneira, em data de 24/01/2016, RODRIGO visando tirar CÁSSIO de seu
caminho e ver-se cada vez mais próximo de DESDÊMONA, dá continuidade ao
plano e dirige-se para cumprir com sua parte, no entanto, mal imaginava ele
que este seria seu fim!, o fim que, por mais que ele pensasse, não poderia
acreditar que o seu fiel companheiro o trairia de tal forma. Para haver traição é
necessário que haja confiança anteriormente e, neste caso, houve: RODRIGO
confiava em seu cúmplice e esperava que todos aqueles planos tivessem
resultado favorável a eles dois, porém, foi traído por IAGO que desejou tirá-lo
de seu caminho para que não o confrontasse mais, muito menos cobrasse
resultados. Logo, IAGO traiu RODRIGO quando o matou, cometendo então,
crime de homicídio qualificado mediante traição.
No mesmo dia, após a briga de RODRIGO e CÁSSIO, IAGO, visando
parecer o herói que salva CÁSSIO e precavendo-se de um possível
testemunho a seu desfavor por parte de RODRIGO, assassina o mesmo de
forma covarde, sem notar que BIANCA, mulher apaixonada por CÁSSIO que o
procurava no momento, presencia os atos por ele realizados – BIANCA
comprovará tais fatos em seu depoimento pessoal -, sendo este o seu terceiro
crime a ser observado! Atentem os senhores, que IAGO foi capaz de
assassinar seu próprio parceiro, aquele que o ajudou em suas maldades,
deixando claro a todos nós o seu caráter! Sendo assim, cometendo o crime de
homicídio qualificado, presente no artigo 121, § 2º, inciso IV, qual seja “Matar
alguém à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”, matar alguém mediante
traição configura homicídio qualificado, neste caso, uma vez que RODRIGO
confiava plenamente em IAGO, tendo-o como amigo, a traição está evidente,
logo IAGO cometeu o crime de homicídio qualificado, como já dito
anteriormente. Ressaltando-se o fato de que IAGO foi quem “chegou” mais
rápido no local. Se fosse outro indivíduo o autor do crime, certamente IAGO se
depararia com o assassino de RODRIGO, sendo assim, teria uma resposta
para o crime. Ademais, fica claro que não haveria tempo suficiente para a
pessoa fugir e logo IAGO aparecer. Com isso, relata-se o que a testemunha
BIANCA diz a respeito:

“No momento em que estava a procura do meu bom e amado


CÁSSIO, ouvi gritos e reconheci a sua linda voz. Corri então, na
direção dos gritos e, na espreita, observei que RODRIGO estava
morto e meu amado caído no chão gritando de dor sem os seus
membros inferiores. Neste momento, vi IAGO olhando para toda a
cena sem reação alguma, friamente com os olhos brilhando. Mesmo
sem que ele me visse eu podia sentir a sua felicidade, enquanto
CÁSSIO pedia por socorro. Assim que me deparei com toda aquela
cena, em questão de segundos corri para ajudar meu homem, foi
então que MONTANO e GRACIANO chegaram para ver o que
estava acontecendo e lhe ajudaram.”

A testemunha traz em seus relatos a lembrança ao encontrar


RODRIGO morto.
Depois de assassinar RODRIGO, IAGO fere profundamente os
membros inferiores de CÁSSIO, visando deixá-lo incapacitado para que nunca
mais voltasse a exercer seu cargo e fazendo-o perder permanentemente o
movimento de seus membros atingidos, incidindo no crime de lesão corporal
gravíssima, previsto no artigo 129, § 2º, I e III, do Código Penal, sendo seu
quarto crime. Bianca, flerte de CASSIO, passava por perto no momento em que
houve a briga e se depara com tudo o que aconteceu, presenciando assim, o
crime de IAGO, que cortou as pernas de CÁSSIO, para que o mesmo não
viesse a ocupar novamente sua função. Fato que pôde ser previsto por
RODRIGO em suas cartas. Até mesmo, vejam jurados: CÁSSIO já possui uma
ação contra IAGO, pedindo-lhe indenização por motivos de dano existencial e
moral. O testemunho já citado de BIANCA serve também para esse crime – o
qual aconteceu no mesmo local e logo em seguida -, e soma-se com os relatos
de MONTANO e GRACIANO. Diante disso, os mesmos puderam esclarecer:

“Ouvi muitos gritos aflitos e, quando corri para ver o que estava
acontecendo, foi o momento em que vi RODRIGO atirado no chão e
CÁSSIO sangrando e clamando por ajuda. Mas vi também IAGO,
que dissera ser o primeiro a chegar. Acredito que tenha sido o
primeiro a chegar, pois já estava lá. Foi tudo muito rápido e, assim
que houve o primeiro grito, já corri para o local.” Relato este de
MONTANO.

“Após ouvir um grito desesperado, fui em direção de onde vinham,


com cada vez mais frequência, novos gritos. Quando cheguei ao
local, vi CÁSSIO ao chão sem pernas e sangrando muito e, de outro
lado distante, RODRIGO morto. Entretanto, tendo em vista o largo
espaço entre um e outro é impossível acreditar que um tenha ferido
o outro. O tempo que demorei a chegar até o local foi curto, e lá já
estava IAGO.” Relato esse de GRACIANO.

Nesse meio tempo, conforme confirmam as testemunhas GRACIANO,


MONTANO e outros soldados e empregados da casa, no quarto de
DESDÊMONA e OTELO, ocorre uma discussão entre o casal, na qual OTELO
acusa sua esposa de tê-lo traído com CÁSSIO e, perante suas negações, ele
indica como prova de sua acusação o fato de que o lenço já referenciado
estava em posse de CÁSSIO. Sucessivamente à discussão OTELO assassina
DESDÊMONA, agindo guiado por violenta emoção causada pelas mentiras de
IAGO.

EMÍLIA e as referidas testemunhas se deparam com a cena de


DESDÊMONA morta sob a cama e pedem explicações a OTELO que,
fortemente abalado, conta detalhadamente tudo o que IAGO o havia dito sobre
DESDÊMONA e seu suposto caso com CÁSSIO, sendo este o motivo pelo qual
OTELO matou sua esposa, ou seja, por ciúme: sentia-se realmente traído, pois
havia depositado confiança no que IAGO havia contado. EMÍLIA, então, ao
perceber que seu marido havia armado tamanha atrocidade, revela a todos os
presentes (OTELO, GRACIANO, MONTANO, soldados, empregados e,
inclusive, IAGO, que havia adentrado ao local) a verdade sobre a história do
lenço: que EMÍLIA em certo dia viu o lenço caído e lembrou-se de que IAGO,
seu marido, sempre solicitara que ela o pegasse o entregasse, sendo assim,
apanhou o lenço e o deu a IAGO, agindo com inocência e sem sequer imaginar
qual fim teria o lenço e, principalmente, DESDÊMONA, sua amiga. Sendo
assim, não teria outro motivo para que IAGO quisesse tanto o lenço se não
fosse o caso de armar para CÁSSIO, enquanto envenenava OTELO contra
DESDÊMONA.

IAGO, que ouvia tais palavras e insistentemente pedia que EMÍLIA se


calasse, para que seu plano maligno não viesse à tona e fosse descoberto,
apunhala-a com a intenção de matá-la fazendo com que parasse de falar,
levando-a a óbito, e foge, sendo seguido por MONTANO, GRACIANO e demais
soldados. Neste caso IAGO incide no seu quinto e último crime de homicídio
qualificado com agravante, presente no artigo 121, § segundo, inciso V, qual
seja: “Matar alguém para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime”, uma vez que mata EMÍLIA, sua esposa,
exclusivamente para que as demais pessoas presentes no quarto não
descubram seus crimes. Ademais com base no Art. 61, II, “e” CP, a pena será
agravada quando o agente tiver cometido crime contra ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge, sendo assim, matar a esposa resulta em
agravante para a pena de IAGO. Neste caso ainda, como havia testemunhas,
não há a possibilidade de se alegar que não é IAGO o autor do homicídio, ou
ainda, que armaram para ele. Logo, IAGO deverá ser acusado pela morte de
EMÍLIA, com o intuito de fazê-la parar de contar seu plano para Otelo e os
demais, querendo o mesmo ocultar um crime e condutas de má fé anteriores.
Como prova, pode-se observar o relato de MONTANO que estava no local no
momento em que IAGO assassina a sua esposa:

“Depois do susto ao ver DESDÊMONA morta em sua cama, EMÍLIA


entrega seu marido IAGO, ao dizer que ele esteve tramando todo
tempo planos contra OTELO e que IAGO lhe pedira que pegasse o
lenço que OTELO dera a sua esposa. Diante disso, diversas vezes
IAGO pediu para que EMÍLIA se calasse perante tal situação,
entretanto, a mesma desobedecendo-lhe continuou a entregar seus
planos, como o de querer destruir o casamento de OTELO. IAGO
ameaçou sua esposa diversas vezes para que a mesma parasse de
falar, entretanto, como já dito, ela desobedeceu aos pedidos de seu
marido e o mesmo desferiu-lhe um golpe de faca, matando-a. Tendo
em vista que houve ameaça de morte e o mesmo o fez, não haveria
possibilidade de IAGO querer somente lhe ferir, mas sim queria
matá-la.”

Tendo em vista que GRACIANO também estava no local, é possível


visualizar outro relato a respeito do ocorrido:

“Iago realmente matou sua esposa quando a mesma começou a


entregar os maldosos planos que ele teria contra a vida de OTELO.
O mesmo, com receio de que sua esposa entregasse todos os
planos que ela tinha conhecimento, ameaçou-lhe de morte e assim o
fez, quando a mesma desobedeceu a ele e continuou relatando o
que sabia para OTELO. IAGO, com uma facada, atinge sua esposa.
Dava para ver em seus olhos todo o ódio que exalava sobre ele e a
vontade de matá-la!”

Com base no relato de duas testemunhas que estavam no local, não


há outra escolha, senão a de requerer a acusação IAGO pela morte de sua
esposa EMÍLIA.

PERORATIO
Ante o exposto, requer-se pela condenação do acusado pelos crimes
de:

Injúria Racial a OTELO, uma vez que OTELO é negro e IAGO homem
branco, uma vez que IAGO se sente superior a OTELO por conta da cor de sua
pele, uma vez que tal sentimento de superioridade leva IAGO a injuriar OTELO
constantemente e uma vez que tal injúria é configurada crime, conforme fulcro
no artigo 140 do CP.

Apropriação Indébita das joias entregues por RODRIGO a IAGO, uma


vez que as joias serviriam para que IAGO presenteasse DESDÊMONA em
nome de RODRIGO, uma vez que IAGO jamais deixou claro a RODRIGO qual
fim teve tais joias, uma vez que DESDÊMONA nunca procurou RODRIGO para
agradecer pelas joias e partindo do pressuposto de que estas nunca foram
entregues, logo, incide IAGO no crime contido no artigo 168 do CP.

Homicídio Qualificado de RODRIGO, uma vez que a quebra de


confiança entre sujeitos configura traição, uma vez que havia entre os dois,
relação de confiança, uma vez que IAGO quebra tal relação ao assassinar
RODRIGO covardemente, mediante traição, logo, incide IAGO no crime
consolidado no artigo 121, § segundo, inciso IV do CP.

Homicídio Qualificado de EMÍLIA, uma vez que EMÍLIA percebe os


abjetos planos de IAGO, uma vez que IAGO quer manter-se impune de seus
crimes, uma vez que EMÍLIA passa a relatar às testemunhas supracitadas as
ações de IAGO, uma vez que, para configurar homicídio qualificado, faz-se
necessário que o homicídio tenha o fim de encobrir crime anterior, IAGO mata
EMÍLIA com uma facada fatal, logo, incide IAGO no crime previsto no artigo
121, § segundo, inciso V do CP.

Lesão Corporal contra CÁSSIO, uma vez que CÁSSIO estava


temporariamente afastado de seu cargo de tenente, uma vez que IAGO almeja
tal cargo, uma vez que percebe que CÁSSIO virá a recuperar seu cargo, uma
vez que, a fim de assegurar-se de que CÁSSIO não recuperará o cargo e seu
caminho estará livre para possuí-lo, corta as pernas de CÁSSIO, deixando-o
permanentemente inapto ao trabalho, incide no crime contido no artigo 129,
§2º, incisos I e III do CP.

Nestes termos,

Pede deferimento.

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