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DIREITO PENAL II

CASOS PRÁTICOS — CULPA

Caso I
A Contas com a política

X, vereador numa Câmara Municipal, detinha o pelouro da contabilidade e, nessa qualidade, era
competente para autorizar o pagamento das despesas orçamentadas de acordo com as deliberações
do executivo. Por lei, os contratos de fornecimento celebrados pelas autarquias estavam sujeitos a
visto prévio do Tribunal de Contas, tendo X conhecimento desta norma. Todavia, X autorizou
vários pagamentos respeitantes a contratos de fornecimento que sabia que não poderiam obter o
visto do Tribunal de Contas por não terem sido celebrados por escrito.
O artigo 14.º da Lei n.º 34/87, de 16 de Julho – Crimes de Responsabilidade dos Titulares de
Cargos Políticos –, prevê o seguinte tipo incriminador: “O titular do cargo político a quem, por
dever do seu cargo, incumba dar cumprimento a normas de execução orçamental e
conscientemente as viole: (…) b) autorizando pagamentos sem o visto do Tribunal de Contas
legalmente exigido (…) será punido com pena de prisão até 1 ano”.

(a) Determine a responsabilidade jurídico-penal de X, admitindo que não se provou que este
conhecesse a proibição e punição legal da sua conduta.

(b) Determine a responsabilidade jurídico-penal de X, admitindo que se provou que este praticou
o facto num estado de inimputabilidade provocado pela ingestão de álcool.

Caso II
A Tragédia de Otelo

Otelo, erradamente convencido por Iago que a sua esposa, Desdémona, lhe teria sido infiel com
Cássio, e dispondo do que julga ser inequívoca prova dessa infidelidade — prova que havia sido
“plantada” por Iago para iludir Otelo —, sente-se profundamente ofendido no seu orgulho e
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reputação. Um dia, após chamar Desdémona ao seu quarto, é apoderado por um sentimento de
raiva e acaba por asfixiar fatalmente a sua esposa.

Caso III
Em busca do imposto perdido

Após trincar uma madalena, Adão foi invadido pelas memórias do trágico ano de 2020. Em
escassos segundos, reviveu todos os acontecimentos. Os primeiros casos de Covid-19. A queda na
facturação da sua pastelaria. A redução de horário de trabalho que teve de impor aos seus
funcionários, seguida de cortes no seu salário. A declaração de estado de emergência. Os 3 meses
seguintes sem abrir portas. A lenta reabertura e os clientes que nunca voltaram. Lembrou-se
especialmente da conversa que teve com a sua contabilista quando decidiu para não pagar as
prestações que a sua empresa devia à Segurança Social. “Preciso desse dinheiro para pagar
salários aos meus funcionários, muitos deles estão há 3 meses sem receber”, disse-lhe.
Foi interrompido pelo ruído do seu computador. Novo email do seu advogado: acabava de ser
proferida Sentença pelo Juízo Criminal do Tribunal de Lisboa e Adão era condenado pelo crime
de abuso de confiança fiscal por não ter procedido ao pagamento das contribuições para a
Segurança Social (1). Na sentença, o juiz escrevera que “é óbvia a elevada culpa de Adão, sócio
único e gerente da empresa “Pastelaria do Adão”, pois que se todas as entidades empregadoras
se negassem a cumprir os seus deveres fiscais para, ao invés, cumprirem outras obrigações,
rapidamente chegaria ao fim a Segurança Social e, com isso, a subsistência de milhões de
pessoas”.

(1) Nos termos do artigo 107.º do Regime Geral das Infracções Tributárias, “As entidades empregadoras que,
tendo deduzido do valor das remunerações devidas a trabalhadores e membros dos órgãos sociais o montante
das contribuições por estes legalmente devidas, não o entreguem, total ou parcialmente, às instituições de
segurança social, são punidas com as penas previstas nos n.os 1 e 5 do artigo 105.º [pena de prisão até três
anos ou multa até 360 dias]”.
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Caso IV
O caso Kimura

Após descobrir que o seu marido mantinha uma amante numa zona distante da cidade, Fumiko
Kimura, uma mulher japonesa de 32 anos de idade, imigrante residente na Califórnia e residente
numa comunidade local com outros imigrantes japoneses, no dia 29 de Janeiro de 1985 lançou-se
nas águas do oceano Pacífico com os seus dois filhos de 4 anos e de 6 meses. Os filhos encontraram
aí morte imediata e Kimura sobreviveu graças à acção de socorristas. Nove psiquiatras atestaram,
após exame clínico, que Kimura sofrera um violento sentimento de fracasso, ao ponto de perder a
auto-estima e se tornar incapaz de distinguir a sua vida da vida dos filhos, vendo-os como
extensões de si propria. A infidelidade matrimonial é socialmente vista na comunidade nipónica
como causa de desonra da esposa.

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