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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIENCAS E TECNOLOGIA DAS AGUAS

Taciane Lemos Andrade


Yago Estouco Rodrigues
Natale Pedro Cassuli Neto
Brenda Leticia Mesquta
Bianca Larissa Mesquita

ODONATAS COMO BIOINDICADORES DE ALTERAÇÕES


AMBIENTAS

Santarém
2017
Taciane Lemos Andrade
Yago Estouco Rodrigues
Natale Pedro Cassuli Neto
Brenda Leticia Mesquta
Bianca Larissa Mesquita

ODONATAS COMO BIOINDICADORES DE ALTERAÇÕES


AMBIENTAS

Trabalho apresentado como requisito parcial para


aprovação na disciplina de Biomonitoramento de Ambientes
Aquáticos na Universidade Federal do Oeste do Pará.

Prof. Dr. José Max Barbosa de Oliveira Junior

Santarém
2017
1. INTRODUÇÃO

O constante crescimento das cidades gera diversas pressões aos recursos


naturais, causando degradação do meio ambiente. O despejo de esgoto sem
tratamento, a remoção da mata ciliar, o barramento de corpos hídricos são alguns
dos impactos causados por ação antrópica, ocasionando em mudanças físico-
químico da água, perda de biodiversidade, contaminação de lençóis freáticos e risco
a saúde da população.
Alguns organismos contribuem para identificar o quanto um determinado
ambiente está impactado, esses organismos são denominados bioindicadores e sua
presença ou diminuição dos ecossistemas estão ligadas a ações antrópicas ou
naturais em seus habitats. Em relação a tolerância em relação as alterações
ambientais, Callisto e Goulart, 2003, classificam macro invertebrados bentônicos
como sensíveis ou intolerantes, tolerantes e resistentes.
Impacto ambiental pode ser definido como qualquer tipo de alteração nas
propriedades físico-químicas e biológicas ambientais geradas através de ações
antrópicas que alteram o bem estar, afetam a saúde e a segurança da população
além de alterar as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade
dos recursos ambientais (Resolução do CONAMA n.º 01 de 23/01/86).
O monitoramento de impactos ambientais sofridos a determinadas
ecossistemas aquáticos tem suas vantagens como por exemplo a identificação nas
propriedades físico-químicas da água (CALISTO E GOULART, 2003). Já o
monitoramento biológico abrange o levantamento de abundancia de especies
tolerantes as alterações e a perda das espécies mais sensíveis. (BARBOUR et al.,
1999).
Os animais da classe odonatas, habitam todos os ambientes duciaquicolas
com grande diversidade nos trópicos. Peruquetti e De Marco 2002 relatam que
odonatas são insetos predadores aquáticos tanto na fase larval como adultas.
Quando na fase larval é considerada um dos principais predadores aquáticos.
Devido sua presença em ambientes aquáticos as odonatas são consideradas como
um ótimo bioindicador.
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O odonata tem sido muito utilizado tanto em estudos de impactação ambiental


quanto em estudos de conservação no qual pode observar o aumento ou a
diminuição das especies da ordem, seja pelo estado dos corpos hídricos (STEWART
e SAMWAYS 1998) ou pela remoção de matas ciliares (SAMWAYS e STEYTLER
1996).
Os indivíduos da ordem odonata são conhecidos vulgarmente por lava-
bunda, cavalo de judeu, libélula, jacintas, lavadeiras, dentre outros dependendo de
sua região (SOUZA et al., 2007).
O nome odonata é originado do latim odus que significa dente e gnathos que
significa maxila e refere-se aos dentes fortes das especies adultas (COSTA et al.,
2012). A ordem odonata está dividida em três subordens sendo que somente duas
são encontradas no Brasil, Anisóptera e Zygoptera ( SOUZA et al., 2007).
Anisóptera é caracterizada pelo formato robusto de seus corpos enquanto os
zygopteras são geralmente mais delicadas (MUGNAI et al., 2010). Ainda, essas
subordens se diferem entre si pela maneira como pousam, os zygopteras posam
com as asas dispostas sobre seus abdômen enquanto as anisópteras pousam de
asas abertas (SOUZA et al, 2007).
Esse trabalho tem como objetivo a identificação de espécies de odonatas
predominantes em ambientes alterados e preservados sendo utilizados como
bioindicadores.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Identificar espécies de odonatas predominantes em ambientes alterados e


preservados.

3. MATERAIS E METODOS

3.1. ÁREA DE ESTUDO


5

O estudo foi desenvolvido no município de Santarém nos igarapés do bairro


Diamantino e na comunidade de Irurama e no centro de reabilitação animal (ZooFit) .
Segundo dados do IBGE Santarém possui extensão total de sua área de 17.898,389
km² e população estimada de 294.447 habitantes. Santarém situa-se no rio Tapajós,
na confluência com o maior rio em volume de água doce do mundo, o rio Amazonas
(PREFEITURA SANTARÉM) (Figura 1).

Figura 1. Localização da cidade de Santarém – PA


Fonte: Autores

3.2. COLETA DE DADOS

O estudo foi realizado no período de 31 de março de 2017 a 11 de abril de


2017. As coletas dos indivíduos de odonatas foram realizadas no Igarapé do Irurama
e através de dados coletados anteriormente, em cada um dos respectivos corpos
hídricos demarcou-se um perímetro de 100 metros com 20 segmentos de 5m cada,
utilizando um dispositivo eletrônico (DATALOGGER) cronometrado para aquisição
de dados a cada 5 minutos, de parâmetros físicos tais como temperatura, umidade
relativa do ar e luminosidade em cada um dos segmentos demarcados.
A coleta dos espécimes realizou-se utilizando rede entomológica
popularmente conhecida como puçá (Figura 2), utilizada para captura de insetos em
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pleno vôo ou parados em locais de difícil captura como galhos e folhas de arvores,
confeccionada com tecido transparente fino facilitando a visualização da captura do
inseto (ALMEIDA et al., 1998) e para armazenamento dos insetos utilizou-se
envelopes entomológicos (Figura 3), sua confecção é simples basicamente um
recorte retangular de papel a4 não devem ser mortos no frasco mortífero, o ideal é
transportá-los vivos em envelopes triangulares de papel até que possam ser mortos
de maneira adequada. Sua confecção é simples e o lepidóptero deve ficar dentro do
envelope com suas dobradas.

Figura 2. Modelo de rede entomológica


Fonte: Almeida et al. (1998).

Figura 3. Modelo de envelope entomológico


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Fonte: Almeida et al. (1998).

A identificação das classes deu-se no próprio local observando as diferenças


morfológicas de dois espécimes de odonatas enquanto a identificação individual dos
indivíduos ocorreu com o auxilio de especialistas no laboratório de Biologia da
Universidade Federal do Oeste do Pará.

3.3. ÁNALISE DOS DADOS

O levantamento de dados ocorreu com o auxilio do programa de planilhas


Excel 2010, onde foram separados indivíduos das classes anisóptera e zygoptera
verificando a abundância e riqueza dessas espécies em ambientes preservados e
alterados. Posteriormente esses dados foram lançados no programa Státistica 7
para confecção de gráficos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Identificou-se um total de 229 indivíduos de odonatas sendo 18 anisópteras e


211 zygopteras (Tabela 1).

Tabela 1. Amostragem da quantidade de indivíduos de odonatas por classe.


Ordem Classe Especie Quantidade
Zenitoptera fasciata 0
Perithemis lais 1
Diastatops obscura 4
Orthemis discolor 1
Orthemis biolleyi 2
Rhodopygia cardinalis 1
Erythrodiplax basalis 4
ODONATA ANISOPTERA
Erythemis spp. 1
Micrathyria artemis 2
Erythrodiplax fusca 0
Argyrothemis argentea 0
Erythrodiplax juliana 1
Orthemis concolor 0
Erythrodiplax melanica 0
8

Orthemis spp. 1

Phasmoneura exigua 1
Epipleoneura cappiliformis 26
Oxystigma petiolatum 11
Hetaerina spp. 0
Hetaerina sanguínea 0
Mnesarete smaragdina 42
Mnesarete aenea 18
Fylgia spp. 5
Fylgia amazonica 5
Phasmoneura spp. 4
Oxystigma spp. 7
Mnesarete spp. 15
ZYGOPTERA Neoneura denticulada 13
Dicterias atrosanguinea 2
Chalcopteryx radians 16
Heteragrion icterops 18
Epipleoneura spp. 0
Argia tinctipennis 7
Chalcopterix spp. 3
Argia spp. 3
Epipleoneura spp. 2
Ischnura capreolus 11
Ischnura spp. 2
Mnesarete spp. 0
Neoneura spp. 0
TOTAL 229

Foi observado que diferença na quantidade de espécies de zygoptera e


anisóptera se dá devido aos fatores físico-químicos do ambiente estudado tais como
distribuição das espécies influenciadas pelo clima, luminosidade, umidade relativa
do ar e a integridade do ambiente (JUEN & DE MARCO, 2012).
Observou-se também que a predominância de anisóptera se dá com maior
freqüência em ambientes alterados (Figura 4). Enquanto em ambientes preservados
a ocorrência de zygopteras é maior (Figura 5).
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Figura 4. Abundância de anisóptera predominante em ambientes alterados. As barras representam o


intervalo de confiança de 95%

Figura 5. Abundância de zygoptera predominante em ambientes preservados. As barras representam


o intervalo de confiança de 95%.

Os odonatas são ótimos bioindicadores de alterações ambientais por


possuírem uma grande variedade de espécies que podem ser indicadoras de
alterações nesses sistemas porque sua fase adulta é afetada pelas condições na
vegetação ciliar (FERREIRA-PERUQUETTI et al., 2002), por apresentarem
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subordens representativas especificamente de alterações em locais preservados


(zygopteras) sua presença indica que o ambiente está preservado e sua ausência
indica que perturbações antropicas estão alterando o ambiente e espécies do
mesmo gênero ou da mesma família devem compartilhar características
semelhantes de resposta ao ambiente, o que as tornam mais ou menos tolerantes
às alterações ambientais. (BATISTA, 2010).
Enquanto os anisópteras são mais tolerantes as alterações causadas a
determinados ambientes, principalmente por serem indivíduos exotérmicos e
dependem da radiação solar para iniciação de suas atividades. O estudo sobre a
distribuição das espécies de odonatas em conjunto as variáveis ambientais auxilia
na definição de seu habitat potencial (GUISAN et al., 2000), esses estudos poder ser
utilizados para determinar a ocorrência de espécies, determinando assim a
magnitude dos efeitos das alterações do ambiente e avaliar a perda de espécies em
áreas com ausência de inventários anteriores de fauna (BATISTA, 2010).
Em relação à riqueza de espécies o resultado foi similar ao de abundância
sendo anisóptera predominante em ambientes alterados (Figura 6) e zygoptera em
ambientes preservados (Figura 7).

Figura 6. Riqueza de anisoptera predominante em ambientes alteradoss. As barras representam o


intervalo de confiança de 95%.
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Figura 7. Riqueza de zygoptera predominante em ambientes preservados. As barras representam o


intervalo de confiança de 95%.

Observou a maior ocorrência das espécies Epipleoneura cappiliformes (26


individuos); Mnesarete smaragdina (42 indivíduos); Mnesarete aenea (18 indivíduos)
e Heteragrion icterops (18 indivíduos) em ambientes preservados e da espécie
Erythrodiplax basalis (4 indivíduos) em ambiente alterado.
Perturbações causadas no ambiente afetam comunidades aquáticas como a
remoção de matas ciliares aumentando a incidência de radiação solar (BATISTA,
2010), e também em alterações diretamente nos corpos d’águas como o despejo de
efluentes modificando a quantidade de nutrientes presentes nesses ambientes.
Essas perturbações fazem com que ocorra a diminuição da riqueza de grupos de
insetos menos tolerantes (RESH et al., 1988).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os insetos são abundantes e a probabilidade de que coletas de alguns


espécimes tenham algum impacto nas populações é irrelevante. Portanto, não é
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necessária a preocupação com o equilíbrio ecológico pelas coletas comuns (Almeida


et al., 1998).
A utilização de bioindicadores auxilia na identificação de alterações
ambientais em ecossistemas aquáticos tornando-se uma importante ferramenta para
a prevenção de impactos maiores contribuindo para o desenvolvimento de novos
estudos nesse âmbito.
Todas as espécies coletadas na região podem servir futuramente como
ferramentas de estudos locais aprofundados auxiliando no controle das ações
antropicas danosas geradas pelas comunidades presentes no entorno dessas áreas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S; MARINONI, L. Manual de Coleta,


Conservação, Montagem e Identificação de Insetos. Ribeirão Preto: Holos, 1998.

BATISTA, J. D.Sazonalidade, Impacto ambiental e o padrão de


diversidade beta de odonata em riachos tropicais no Brasil. Universidade
Federal de Viçosa, CDD 22 ed. 595.733, Viçosa, MG, 2010.

BARBOUR, M.T.; et al. Rapid Bioassessment Protocols for Use in


Streams and Wadeable Rivers: Periphyton, Benthic, 1999.

COSTA, J. M. et al. Insetos do Brasil. Diversidade e Taxonomia. Ribeirão


Preto: Holos Editora. 2012.

FERREIRA-PERUQUETTI, P.; DE MARCO, P. Efeito da alteração


ambiental sobre comunidades de Odonata em riachos de Mata Atlântica de
Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 2002.

GOULART, M. & CALLISTO, M. Bioindicadores de qualidade de água


como ferramenta em estudos de impacto ambiental. Revista da FAPAM, 2003.

GUISAN, A., Zimmermann, N.E. Predictive habitat distribution models in


ecology. Ecological Modelling , 2000.

JUEN, L.; DE MARCO, P. JR. Dragonfly endemism in the Brazilian


Amazon: competing hypotheses for biogeographical patterns. Biodiversity and
Conservation, 2012.

MUGNAI, R.; et al. Manual de Identificação de Macroinvertebrados


Aquáticos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Technical Books, 2010.
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RESH V.H. et al. The role of disturbance in stream ecology. Jornal of


North American Benthological Society 7, 1988.

SAMAWAYS, M.J. & N.S. STEYTKER, Dragonfly (Odonata) distribution


patterns in urban and forest landscapes, and recommendations for riparian
management. Biological Conservation, 1996.

SOUZA, L. O. et al. Guia on-line: Identificação de larvas de Insetos


Aquáticos do Estado de São Paulo. 2007. Disponível em:<
http://sites.ffclrp.usp.br/aguadoce/Guia_online.>

STEWART, D.A.B. & M.J. SAMAWAYS. Conserving dragonfly (Odonata)


assemblages relative to river dynamics in an African savanna game reserve.
Conservation Biology, 1998.

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