Pacientes com Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) apresentam episódios onde
fazem ingestão de grandes quantidades de alimentos, relatam sensação de perda de falta de controle e sentem culpa excessiva em seguida. É comum que esses indivíduos experimentem uma supervalorização da forma corporal e do peso e a necessidade de controlar ambas as coisas. O TCA pode acontecer tanto em indivíduos com sobrepeso, como em indivíduos que estão na faixa de peso ideal. Em resumo o TCA, trata-se da supervalorização da forma do corpo e do peso e de sua capacidade de controlá-los. Esses pacientes relatam tentativas frequentes de fazer dieta, e quando fora do episódio compulsivo, não apresentam restrições excessivas na alimentação. O padrão alimentar desse paciente, tende a ser excessivo mesmo fora do episódio compulsivo. O episódio de compulsão alimentar é desencadeado por afeto negativo (emoções como culpa, raiva, medo, estresse), estressores interpessoais e dietas restritivas. Embora seja fonte de grande sofrimento, não há o uso regular de comportamentos inadequados para controle de peso, característicos da Bulimia Nervosa. Como os meus pensamentos influenciam no transtorno alimentar A maioria das pessoas julga seu valor pessoal com base no seu desempenho em uma variedade de aspectos da vida. Entretanto, pessoas com Transtorno Alimentar (TA) valorizam principalmente a forma corporal e a capacidade para se manter magras e são muito exigentes com relação a esses aspectos. Isso significa dizer que, se você tem um TA, a magreza, a forma corporal e a capacidade para controlar a sua alimentação podem estar muito as sociados a sua autoestima e você pode considerá-los os principais indicadores de seu valor como pessoa. Pode pensar que as outras pessoas também irão julgar seu valor com base na magreza e que você só será valorizado se estiver com um corpo perfeito. O modo como pensamos influencia diretamente nossos sentimentos, comportamos e reações físicas. Por exemplo, pensar “Tenho que ter um corpo muito magro para ser aceito” pode levar a um medo excessivo de engordar e sentimentos de intensa tristeza, frustração e culpa quando a pessoa come algo que considera excessivo. Para obter alívio desses sentimentos, às vezes ela utiliza os comportamentos compensatórios inadequados para perder peso ou para lidar com as suas emoções. Embora na atualidade quase todo mundo se preocupe com a própria aparência, as pessoas com TA apresentam expectativas muito altas sobre a importância da magreza na realização das metas pessoais devida. Se você tem um TA, pode acreditar que a magreza e a capacidade para controlar a alimentação são os principais instrumentos para garantir sucesso na vida. Além disso, pode associar a magreza à competência, superioridade e autocontrole de modo geral. Tendemos a achar que o modo como pensamos representa exatamente o modo como as coisas são, ou seja, você pode acreditar que todos os seus pensamentos são verdades absolutas. Contudo, em alguns momentos, podemos ter a tendência a interpretar os acontecimentos de um modo distorcido. Isso significa dizer que você pode estar exagerando a importância de alguns aspectos da sua vida e sofrendo sem necessariamente precisar. Tente refletir sobre seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Temos um episódio no Podcast Fluentes em blá-blá-blá, disponível no Spotify, chamado “Você tem sido refém dos seus pensamentos?”. Ele vai te ajudar a entender um pouquinho mais que PENSAMENTOS MENTEM. Como o meu problema pode estar sendo mantido? Além das altas expectativas sobre a importância da magreza, vários outros fatores associados podem ajudar a manter um TA: a tentativa de adotar uma dieta muito rígida, o uso de métodos compensatórios inadequados para perder peso, dificuldades com autoestima e autoaceitação, dificuldades de relacionamento interpessoal, perfeccionismo, dificuldades familiares e dificuldades para lidar com problemas em geral. Suas ideias supervalorizadas sobre a forma do corpo e do peso, e de sua capacidade de controlá-los, podem levar você a adotar dietas cada vez mais rígidas e a restrição alimentar excessiva favorece a ocorrência dos episódios de compulsão alimentar (ECAs). Assim, forma-se um círculo vicioso no qual a dieta restritiva favorece a ocorrência dos ECAs, que aumenta a preocupação com o ganho de peso, levando à intensificação da restrição alimentar e novamente aos ECAs. Em geral, a compulsão está associada ao pensamento “tudo ou nada”. Por exemplo, quando você come um pouco além do que planejou, pode pensar: “Já que saí da dieta, vou comer tudo que eu puder porque amanhã começarei um regime bem rígido”. Um aspecto importante que você deve considerar é que a dificuldade para seguir uma dieta excessivamente restritiva não está em você, não é uma deficiência pessoal para controle da alimentação, mas sim uma perspectiva pouco realista sobre as dietas restritivas. Os profissionais da área de saúde mais atualizados não prescrevem dietas muito rígidas porque as pessoas em geral não conseguem mantê-las por muito tempo. Como posso lidar com o transtorno alimentar? As pessoas com TA têm muita vergonha de seus hábitos alimentares e, muitas vezes, os escondem das pessoas próximas que podem ajudar. Você pode perceber que se afastou de familiares e amigos com medo de que eles julguem seu comportamento ou não entendam suas dificuldades. Uma questão importante é: você não precisa lidar com todas as suas dificuldades sozinho. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) poderá ensinar a você diversas técnicas que o ajudarão a melhorar seu autocontrole e superar o TA. A seguir estão alguns exemplos. Registro da alimentação: você aprenderá a fazer um diário alimentar que pode ajudá- lo a entender melhor seus hábitos alimentares, os fatores que o fazem comer de forma inadequada, assim como seus pensamentos e sentimentos associados (Agras, 2008). Padrão regular de alimentação: você poderá aprender a sustentar um padrão regular de alimentação, o que o ajudará a diminuir a compulsão alimentar. Organização dos hábitos alimentares: o tratamento poderá ajudar você a lidar com refeições realizadas em viagens, restaurantes e festas, quando há muita exposição a alimentos e você pode ter dificuldade para controlar sua alimentação. De forma geral, ele vai ajudar você a desenvolver um estilo de vida que o capacite a controlar melhor seus hábitos alimentares. Treinamento em resolução de problemas: durante o processo terapêutico você desenvolverá a capacidade de resolver problemas de modo geral. Muitas vezes o TA piora em função de dificuldades para lidar com as pressões do dia a dia, como dificuldades familiares e com os relacionamentos afetivos, dificuldades com o estudo ou trabalho, entre outras. Com o tratamento, você conseguirá identificar os problemas assim que eles surgirem, aprenderá diferentes estratégias para enfrentá-los e poderá escolher as melhores soluções para cada problema específico. Regulação de emoções: os ECAs e os métodos compensatórios podem se tornar uma forma generalizada de aliviar sentimentos desconfortáveis, atuando como distração temporária de problemas correntes. Ao longo da terapia você aprenderá técnicas para relaxar, reduzir sua tristeza, raiva, culpa e outros sentimentos difíceis de suportar sem recorrer à alimentação inadequada e aos métodos compensatórios. Desenvolver alternativas à compulsão alimentar: você também aprenderá várias técnicas que o ajudarão a lidar com a compulsão alimentar. Após identificarmos todos os eventos que favorecem a ocorrência dos ECAs, você vai aprender várias habilidades diferentes que podem ajudar você a resistir ao impulso para comer inadequadamente. Aprender a lidar com a imagem corporal: com o tratamento, você irá aprender a perceber melhor o seu formato corporal e a refletir melhor sobre suas expetativas relacionadas à aparência. Desenvolver habilidades interpessoais: algumas pessoas com TA podem apresentar timidez, dificuldades para dizer o que pensam e sentem, para lidar com críticas ou negar pedidos por medo de rejeição, entre outras. Se você tiver algum tipo de dificuldade de relacionamento, poderá aprender habilidades sociais que melhorarão a qualidade da sua relação com as pessoas e o aumento da sua autoestima. Avaliar mais profundamente seus pensamentos: no processo da psicoterapia você aprenderá a avaliar a maneira como pensa sobre vários aspectos da sua vida, por exemplo: seu valor como pessoa, suas qualidades e defeitos, sua forma corporal e peso, sua capacidade para controlar a alimentação, seus relacionamentos, entre outros. Ou seja, você aprenderá a identificar se suas interpretações são realmente com dizentes com a realidade e se existem formas mais precisas de compreender e lidar com suas dificuldades. O tratamento é um processo colaborativo, caminharemos juntas. É compressivo que pareça um grande desafio para você, mas ao longo do tratamento, você será capaz de perceber que existem saídas, soluções possíveis e que poderá conseguir sentir-se mais próximo de seus objetivos e diminuir seu sofrimento. Se você conseguir mudar seus hábitos atuais, poderá dar maior atenção a vários aspectos da sua vida e atingir metas que antes pareciam muito difíceis de serem alcançadas.
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