Você está na página 1de 25

50Ft§TAS

Wffi§TffiMWNI-IffiS
ffi ffiffi&ffiffiffiffiãffiffi

lntrodução de lúmn JosÉ Vlz PrNro

Tradução e notas de Aua Ar-exlNonfl{LvEs DE SousA


e MAruA JosÉ VIz PINro

TíÍulo: Testemunhos e Fragmentos


Autor: Sohstas
Edição: Imprensa Nacional{asa da Moeda
Concepção gáfica: Branca Vilallonga
(Departamento Editorial da INCM)
Reaisfro dotexto: Levi Condinho
Tiragem: 1000 exemplares
Data de impressão: Maio de 2005
ISBN: 972-27-1359-0
Depósito legal: 225 063/05
TMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA
LISBOA
2005
APRESENTAÇÃO

Pretendeu-se com a publicação de Os Sofistas Testemunhos


e
-
Eragmentos, pela primeira vez traduzidos para a lÍngua portuguesa
em versão integral, colmatar uma lacuna no panorama dos textos
fundamentais de filosofia antiga e facultar um importante instru-
mento de trabalho a todos os que queiram conhecer mais directa-
mente as doutrinas dos representantes da Primeira Sofística gre-
gal que se desenvolveu na segunda metade do século v a. C.
Os sofistas apaÍecem na cena citadina, no âmbito da expansão
das instituições democrâticas, como os primeiros educadores pro-
fissionais, especialistas nas artes da linguagem, nomeadamente na
dialéctica e na retórica, suscitando na sua época reacções ambi-
valentes, marcadas pela admiração e pelo repúdio. No plano da
hermenêutica, a leitura das suas teses deu também origem a inter-
pretações díspares. Considerados como "filósofos" por Hegel, no
século xx, depois de terem sido durante séculos excluídos da his-
tória da filosofia e relegados para um segundo plano pela tradição
pejorativa que sobre eles foi «construída» a partir da recepção pla-
tónico-aristotélica, os sofistas têm sido objecto de um amplo e inin-
terrupto processo de "reabilitação», conducente à situação actual
de consenso quanto ao valor dos seus contributos para o pensa-
mento ocidental.
As posições teórico-práticas dos sofistas, reconstituídas com
base nas fontes disponíveis, revestem-se hoje da maior actualidade,
podendo interessar não só aos filósofos, mas a todos os que se
ocupam de questões acerca da linguagem e das artes da comu-
nicação, abrangendo ainda os estudiosos das áreas de sociologia,
de história da religião e de teoria política.
A presente tradução é precedida por uma introdução ao mo-
vimento sofístico, que visa proporcionar ao leitor um quadro gené-
rico de referência, com algumas indicações relativas ao perfil dos
sofistas e à sua inserção na sociedade gtega, procurando caracte-
rizar em termos sucintos estes pensadores, no plano dos factos
e no plano das ideias, a partir das actividades por eles realizadas
e a partir das doutrinas que lhes são imputadas. A bibliografia
sumária que acompanha a introdução inclui, além das edições críti-
cas fundamentais e de traduções de fontes, uma selêcção de obras
e de artigos, relevantes por razões diversas, para uma iniciação
nos estudos sofísticos. Uma breve nota de informação bíogrâÍica,
com dados relativos à vida e à obra dos diferentes sofistas, introduz
INTRODUÇAO
a apresentação da correspondente doxografia e dos respectivos
fragmentos.
A tradução foi realizada em estreita e continuada colaboração
pelas duas autoras que investiram no trabalho comum um gosto Os SorrsrAs p a SopÍsrrcA
partilhado pela cultura grega e a preparação que lhes advinha das
suas formações específicas, respectivamente em filologia clássica
e em filosofia antiga.
L. Os sofistas no seu tempo e os principais marcos
da recepção da Sofística na tradição filosófica

Para dizer quem foram os sofistas e de que maneira se destacaram


rnlrL' tts seus coetâneos, o procedimento mais seguro e menos cantloaerso
I drscrcuê-los a partir da actioidade à qual, de uma forma ou outra, se
t'ttrontram ligados: o ensino da cultura geral e das artes da palaara. De
litrto, tts sofistas surgem como os primeiros docentes profissionais, e a
ilyr(ilLliza,gem dos saberes em que reiaindicam ser mestres apresenta-
s( ronto algo de muito aalioso na época de transição, correspondente
it segunda metade do século v a. C., em que a sua presençfr se impoe
ttrt uido citadina, um pouco por toda a parte no mundo grego.
()riundos de proaeniências diaersas, os sofistas associam ao desem-
l,r,,lto da Íunção pedagógica a condição de sábios itinersntes, exercendo,
rttrlnrtttttt estrangeiros deslocados das suas pátrias de origem, uma in-
llttlttcin política indirecta nas cidades onde se fixam e educam os jotsens
lts littttílias mais ilustres e mais poderosas.
() critério extrínseco da actiaidade profissional faculta-nos um ele-
tttrttlo Ete permite estabelecer uma certa unid"ade na caracterização dos
r;rr/islas cltno promotores da noaa educação, salaaguardando o caso ex.-
r't'pti611,11 dc Crítias, e conhecer as diferentes mod.alidades em que desen-
uilptritm n tarefa de mestres. A questão torna-se sinda mais complexa
tltttt,,do tlucrern()s caracterizá-los seguindo o critério intrínseco das res-
Itrr'l|ptts drtutrinas, plrque, neste caso, se torna patente a multiplicidade
r/rrs $r'rís ltotrtos dc aistn, para lá das difiutldades inerentes à reconstituição
rírs lrrrsiçôr's tetiric:ns t' práticas, futt lgy6ç sustentado, agra.aadas pela
r'rj(?,s{r,r dns .fitutas a lralos ntctutdras da trtnsntissão doxográficn. 'l'endo
em atenÇão as diaergências que os separam, não obstante a eaentual plata- ximação que acentua o paralelismo entre a eaolução de sophistes e a
tln própria sophia, será de se atender a urna outra nbordagem signifi-
forma comum, caloca-se a dúaida de ser legítimo falar de uma Sofls-
tica ou de um moaimento sofístico ou se deaemos ater-nos npenas aos Mtian. o termo sophia liga-se inicialmente à sabedorin própria dos poetas,
sofistas, considerados em si mesmos nas suas concepções indiaiduais. dos aidentes, dos homens sagrados e dos taumaturgos, sendo o seu traço
Sofística e sofistas surgem naturalmente como os pólos de qualquer apre- principal o carácter dioino. Nesta perspectirsa, o acesso ao referido saber
sentação introdutória, e a dialéctica entre estas linhas de força será a ndainha de uma espécie de experiência sobrenatural, que transcendia o
traae mestra em torno da qual nos propomos estruturar os tópicos subse- ylnno meramente humano da aprendizagem e do exercício. Na sequência
quentes. do desenvolaimento da polis, quando surgiram os sofistas como agentes
lmporta assinalar a aura de ambiguidade e de polémica que, desde 0u Wofessores de um nouo modelo de paideia, deu-se uma modificação
os começos, acompanhou a sua interaenção na cena da oida social do til, clnteúdo semântico do termo, pois este passou a designar esse tipo
seu tempo: os sofistas foram objecto de críticas negatiuas e simultanea- tlt nttarts me6tres, com toda a ambiaalência que a sua rEutação prouocaaa.
mente admirados. Assim, o termo que os designa reflecte, na eaolução Veremos, a seguir, em que consistia esse ensino, no que respeita aos
das suas conotações, um processo que só poderá ser cabalmente entendido tonteúdos leccionados e no que se reporta aos procedimentos adoptados
no contexto histórico-cultural que o condiciona. Primeiramente, <<sofista>> psrn dlconçar os fins aisados. Para já, cumpre salientar que as reacções
era sinónimo de e abrangia não só o que se afirmaaa como deten- §u§citfrdãs pelos sofistas se reaestem de uma dupla dimensão, marcada,
"sábio"
tor de saber especializado numa determinada área, como se aplicaaa, num l.rr uru lado, pela atracção, et por outro, pela reieição. Assim, eles eram,
plano mais genérico, a todo aquele que, conciliando a preparação teórica nunm linha positiaa, os transmissores de competências rtalorizadas no
e a maneira sensata de orientar a sua aida prática, surgia aos olhos dos
demais como protagonista do modelo de sabedorial. Para lá desta apro-

rrtofl$tn» designou, em primeiro lugar, o indivíduo habilitado numa arte par-


llcttlnr ou num determinado saber fazer; num segundo momento, Pa§sou a
1G. B. Kerferd, .The first Greek Sophists», Class. Reo, 6a $950), pp.8- h.r unra aplicação mais geral, abrangendo a sabedoria que se manifesta nos
-10, e lmages of Man in Ancient and Medieaal Thought, Sfudia Gerardo Verbeke cumportamentos ajustados do dia-a-diai num terceiro momento, aplicou-se
ab amicis et collegis dicata, Louvain, 1976, cap.1,; cf. The Sophistic Mooement, ,l,r u.tbet teorético, científico ou filosófico, em que avulta o interesse pelas
p.24.Kerterd considera que a descrição da história do termo é demasiado rrlztleu das coisas e Por uma explicação a partir das causas. Para Kerferd, deve
esquemática e estaria marcada pela perspectiva de Aristóteles (Metafísica, 1), n tnolhrr-se, de modo muito especial, a associação primitiva do «sábio, sofista»
para quem todo o processo cognoscitivo vai do particular para o geral. Assim, (otxpóç, orxpto(ç) ao «poeta» (notnúç).

13
12
:,rn'itrl (tntolaia factores complexos, susceptíaeis de desencadear conflitos
seu tempo como instrurnentos decisiaos do sucesso na carreira política
e, de um modo geral, nos êxitos mundanos; eles apareciam, numa linlta
Ir ittlt'rcssas; a animosidade contra o "profissionalismo, dos soÍistas rsdica

negatiaa, associados a uma espécie de espírito mercantil, que se totnava trrtvlrtr ordem mais ampla de considerações, ligada às próprias tensões
mal aisto quando os bens em apreço er(trm <<os alimentos relatiuos à alma' ittlrrttus tla sociedade. Com efeito, até então s educação fora apanágio
e não <<os alimentos relatiaos ao corporr2. ir ilytrrs, aeiculada no seio de famílins que herdaaam, juntamente com
rtt; ltf ipi!1içi11s da riqueza, o acesso ao saber, e que defendiam o cariz here-
l-lm dos motioos determinantes da hostilidade em relação aos sofistas
3. litúrio dns boas disposições naturais. A possibilidade de a educação ser
foi o facto de eles exercerem o ensino mediante remuneração Não haaia
nenhuma relutância em admitir que os seraiços e a prática dos ofícios rrlttrln t qttcm quisesse, dadas as Suas implicações, representaaa um risco
,'rtr.itrl. Assirn se compreende que a má aontade contra os sofistas tenha
deaeriam ser pagos, do mesmo modo que a aenda de mercndorias era
t'ittlo sobrctudo de dois campos extremos: dos meios ricos e conseraadores,
feita a dinheiro, mas os sofistas declaraaam ensinar uma forma de exce'
lência muito particular, a arete política. Ora, um ensino desse tipo deaeria tlttt' níio uinm com bons olhos os sinais de mudança; da parte dos mais
seruiços
processar-se no âmbito de uma relação pessoal, marcada pela dedicação l,,iltr.l3, impossibilitados, por razões económicas, de recorrer aos
do mestre ao discípulo ou do pai ao filho, pelo que o desempenho merce- Itttlurlcs. A acção educatiaa dos sofistas teae como destinatários as elites
nário daquela actiaidade chocaaa as sensibilidades. Além disso, o facto t' tttttt tts fttüssas, o que não obsta n que, parfi lá das classes médias abas-
de uma determinada formação se constituir em instrumento de promoção Irrrlrts, tlns quais prooinha ct maioria dos alunos, muitos destes discípulos
Itt,t.lt,tt((sscnt a famíIias aristocráticas, que pretendiam
que os seus filhos
t;r' tttlilpt(lssem aos noaos tempos e obtiaessem, por mérito próprio, as
/rrrr;i('r)r,s dc destaque que apenas o direito
de nascimento garantia até
2
Cf. Platão, Protágoras, 312 b-314 b.
3 é atestada em nume-
A questão da remuneração auferida pelos sofistas t'ti:;tt ültur0. Segundo salienta W.lneger, o que estaoa na ordem do dia,
rosas fontes e constitui uma prova do carácter profissional da sua docência. tttt irtÍt'io t meados do século v a. C. na Grécia, e em especial em Atenas,
Mas admitir como elementos determinantes para a caracterização de "sofista" t,t{t ullripnssar o preconceito mítico das prerrogatioas do sangue e fomen-
a .itinerância, e os honorários recebidos pelo ensino ministrado não constitui, Ittr ututt etlucação baseada na conquista indiaidual e comunitárin do saber
a.
no entanto, um critério incontroverso. Sócrates foi visto por muitos dos seus
contemporâneos como sofista, ou próximo destes, e Crítias, um dos oligarcas,
detentor de considerável fortuna, integrou o núcleo dos sofistas antigos mais
famosos, mas nenhum dos dois se ajusta a uma descrição em tais moldes.
Cf., a esse respeito, G. Romeyer-Dherbey, no prefácio à versão francesa da rW. ircgcr, l'nidaia. A Formação do Homem Grego, cit., pp.312-31'3.
obra de M. Untersteiner, Les sophistes, cit., II' f

15
l4
Os estudiosos diaidem-se entre os que procurarnm snber quem forant ,u, uItt'ulttut t t)til t'((urstt n falácias, sobreanloriznndo, nn díscussão eris-
os sofistas e o que, de facto, fizeram e aqrLeles que se ocuparam do seu tt,,t rt ,,ur t':t:;tt ittt((|i|to. A segundn acusação aisn desmascaTar as suas
pensamento, indiferentes 0o qLte eles empreenderams. Pnrn todos os efeitos 1,t, !, tt ,t,t:; tt t'tltttttdort's tlos Gregos: os sofistas ntnnipulam técnicas de
e enr dioersos cantpos, a recepçãtt nntiga dos sofistns primotL pcln anúi , n ,utt,(,rlr,rlr'), crtr rttctldas ttrbitrários, transmitindo nos seus discursos

guidnde. Nurn plano imedinto, eles não sc enqundraL)ant, rLa óptica da trrtulrtt t,,'.,lrt:; t't'rtlidntlas, a ttão cópias genuínas dos modelos; contribuam
algtLns pensndores mais famosos, rtomendante.nte Pkttão e Aristótelcs, l',n,t tt tlt':,tt,,,,r'r',gtrç,'tlo (tictt-pttlíticn da comunidade, mediante a crítica cor-
nos pnrâtnetros da filosofia, pelo que as suas concepções pnreciam situnr-st' t,, t,'tt tttt', lrntrltrrtttntos da justiçn e no culto dos deuses; aaloriznm os
no domínio das opiniões que não tinharu o estatuto do aerdadeiro saber, ,I' rtr, il1r,., Itrt:::;iorrrrís c contíngentes na escolha pragmática do melhor,
confinando-se fi uma snbedorin nparente. , ut ,', tlt' ur)t'l('ttt"tts opções morais por princípios rncionais e absol.utos.
Como Kerferd sintetizn, as censlt.ras dc Plntno nos sofistns incidcnr ,, , trilt t tilt'ttlt' tt AristótelcsE, ressaltn a críticn dn Sofística como tntl
eru dois nlaos principais: os sofistns não são pensndores sérios, são indi' ,rl', t ,rl,tnt ult': os srrflsfns raucstem a «máscilra de filósofosr, na mcdida
aídttos intorais6. A pritneira ocusação baseia-se numa nmpla gama de ' nt tlnt r'lr'r lirttttttt'rrta sa desinteressam de dizer n aerdqde sobre a reali-
rnzões, familiares aos leitores dos diálogos platónicos7, tnis como: os ,l,t,l, lttt)lt'tr'ttt r/iscttrsos opostos sobre as mesmas coisas e o mesmo dis-
sofistas ffrcae'Ín-Se no terreno das apnrêncins e dos fenólnenos; desairttLttnt ,nt 1, ,1rlrrr'r'rrfsr/s tlttc são c ttão são ao mesmo tempo, pondo em cfiusa
o critério da aerdnde , fixnndo-se na doxa enr detrimenÍo da episteme; 'íl,io,lc não contrsdição, e não se coíbem de iludir os seLLS
ttlrrt:tt:s dc todo o tipo dc expadicntcs.
rrs srr/isÍns trào scrcut
"filósofos, aos olhos de Pkttão e
s Cf. G. B. Kerferd, Tlrc Sophístic Mouenrcnt, cit., p. 10. Esta ideia é retomada ; itú lL'r' cfaitos rrcgntioos na prática doxográfica subsequente
e desenvolvida na apresentação da edição francesa da referida obra, Le ntou- ', lrrttltrtttlotrtctttc depende. O menosprezo em que eram tidos
tlemefit sophistique, traduzida por A. Tordesillas e por D. Bigou, Patis, 1.999, It'rttr;lit'rt lorns-sc Ltm desincentiao para o registo e a repetição
pp.1B-31, em especial pp.21 e segs. (a apresentação é da autoria deste último).
6lhidutr, p.6.
Para uma introdução a esta problemática, indicatnos como leituras fttu-
7

damentais os ditilogos platónicos FÓdon e Reptíblica, a que acresccntamos, pelo


modo como permitem reconstituir o quadro em que se desenrolam oS confr'on- ( I ('nr l,,rllit'rrlirr, Mrln.físicn,livrotv, easReftLtaçõesSofístícas. ParaAris-
tos entre os sofistas e seus interlocutores, Protágoras, Górgios e Eutidento; y'tot t,,t, 1, , rrrrporl,r lrrl,r'r'ontr.r tls sofistas no próprio terreno em que estes se
fim, para a reconstituição das posições filosóficas dos sr:rfistas, em particular ,r,,\,.rr ,',1,r ,rr1',rrr)rt'nlJÇ.t(), r'tlontinar os procedimentos discursivos, a fim
de Prcrtágoras, Teatcttt e So.fistn são textos indispensár'eis. ,1, l, lr", rlr'llr l,rl os tlivr't'sos tiPos i1' paralogistnos.

l(, t7
dns respectiaas doutrinas, o que leaa ao agraoamento do já delicado pro- lnnrnix tt preaalece doraoante a opinião de que os soÍistas defendem
blema dns fontes. Estaaam, assim, reunidas as condições para excluir dtultinns interessantes na ôptica da filosofia e que, no plano do agir,
os sofistas da tradição filosófica, e, como é sabido, tal situnção manteae-se t â lu,nlt s de vista que aeicula?n, mais do que factores determinantes da
até ao século rux, reaestindo-se do maior impacto, em sentido inTserso, nhr fu t)alorcst então imperante, ou causas imediatas da peraersão dos
as obras de Hegele e de Grotell, Çue constituíram os marcos pioneiros t'trir,Jrrr(,rr, c()nstituem <<sinais dos tempos>>. As transformações ocorridas
e decisiaos numa certa maneira de encarar a história da fitosofia e a na- nil rry,urrda metade do século v a. C. contribueffi paru as mutações ope-
tureza e o estatuto do mouimento sofístico. Contra as aersões segundo rrrínrr lrrls uiaências e nos conceitos, reflectindo-se na própria linguagem
as quais os sofistas não eram pensadores sérios e difundiam doutrinas o lttlitsnmento entre aquilo que se aiae e aquilo que se pensa, pela que
'l'tttÍditles12 dirá que, muito embora as palaoras sejam as lnesmas, elas
t,ttililrilm a significar coisas diferentes.

e
Cf. G. W. Hegel, Vorlesung über die Geschichte der phitosophie in Werke
in Zwanzig Biinden 18, Frankfurt am Main, 197'1.:nas referidas Lições sobre a
História da FilosoÍia, Hegel sustenta que os sofistas, juntamente com Sócrates, rr Cf. Henry Sidgwick, Philology, 4 (L872), p.289,
"The Sophists», lournal of
foram os pioneiros na descoberta da subjectividade, demarcando-se da anterior Ir,lltmunha, numa breve e contundente formulação, que se tornou clássica,
especulação sobre a nafureza. Importa assinalar, na sequência da interpretação rr lcct'pção típica da visão negativa dos sofistas, que vinha na herança da
hegeliana, a obra de Eduard Zeller, Die Philosophie der Griechen in ihràr geschi- h.llura platónico-aristotélica a respeito destes. E nessa perspecüva que B. Cas-
chtlichen Entwicklung (Tübingen, 1844-'1,852), pelo grande impacto exercido rlrr rrponta as duas vertentes que qualquer reabilitação dos sofistas tem de
sobre a historiografia posterior. Veja-se em G. B. Kerferd, The Sophistic Mooe- rrrntt'mplar. Em relação à crítica platónica, é necessário valorizar o que Platão
ment, cit., cap.2, pp. 4-1,4, a reconstituição das principais etapas da história rrt,lt.s desvaloriza: no plano teórico, o primado dos fenómenos, das sensações,
da hermenêutica relativa à Sofística. rlorr acidentes; no plano prático, o arnor pelo poder e pelo dinheiro. Em relação
10
Cf. George Grote, History of Greece,10 vols., Londory L846-1856, vol. vu. i\ crítica de Aristóteles, importa encontrat, paralâ da censura aristotélica ao
O historiador insurge-se contra os responsáveis pela transmissão de uma falsa logou charis, a positividade específica da racionalidade sofística e inquirir que
imagem dos sofistas, acentuando o facto de estes apenas terem em comum tlpo de discurso se instaura, quando se Íala para não dizer nada: cf. "Du
a profissão exercida e não compartilharem doutrinas. Defendia que era injusto
lirux tru du mensonge à la fiction
culpá-los pela desmoralização dos Gregos, pois os sofistas limitaram-se a - (deo pseudos
l,r Plaisir de Parler, cit., pp.6-8. Sobre
à plasma)»>, izl B. Cassin, ed.,
tema, veja-se também B. Cassin et
difundir opiniões correntes na sociedade de então. No entanto, a mençãd M. Narcy, La décision du sens, Le liare gamma de la Métaphysique d'Aristote,
da inexistência de um fundo doutrinário próprio, ao inviabilizar a condenação lntroduction, texte, traduction et commentaire, Paris, 1989, em especial pp. 42-50.
em bloco dos sofistas, também dificultava a sua avaliação em moldes posiüvos. t2 Cf . História da Guerra do Peloponeso, 3, 82, 4-6.

18 19
Os contributos de Hegel e de Grote para uma recuperação herme- I tt l,lu,ulistutt de pontos de aista irredutíaeis a uma medida única e

nêutica da Sofistica são inequioocamente reletsantes, se bem que se situem nltrlrtrlot'rt.


em campos distintos: se se priailegia a perspectiaa de Hegel, os sofistas I lt:ilt o sttcttlo passado até aos nossos dias, manteae um ritmo impa-
são filósofos e, enquanto pensadores, constituem um momento necessário tlt,d tt r'lmtttnda «reabilitação" dos sofistas na formulação expressiaa
da história da filosofia; se se atende à perspectiaa de Grote, os sofistas lil rrrrrrsrio dt Clémence Ramnouxls sobre
-
a obra que llntersteiner dedi'
são profissionais do ensino, inocentes relatioamente à decadência moral t ttn tttt t:;l ttdrt dos sofistas 16; mas uma tal linguagem tornou-se descabida,
dos seus coetâneos e, nessa qualidade, constituem apenas um conjunto tttt rn'lntliindc, pois os problemas deixaram de se colocar nesses moldes.
de indiaíduos empenhados em torno da paideial3. Com base na obra I tttutt ttttittttln Lioio RossettilT, a recuperação relatioa à mnneira pejo-
de Hegel, é possíael reintegrar de pleno direito os sofistas no domínio túltt\t tlr utL'drttr os sofistas, ,rinaugurada por Hegel e depois relançada
da filosofia e fazer um leaantamento sumário das características mais tttilt t'nt't'{'tt yt|r Grote, [...1 completou já a sua carreira, dando lugar a
releaantes do denominado omoaimento sofistico». Partindo dos contributos ililttt tt't't,rr(ntc reiuindicação dos seus méritos, a qual se pode dizer pri-
de Grote, poder-se-ão indicar as práticas pedagógicas seguidas pelos sofis- lrtrltt rlrtrtfttttnte de um objectiao polémico preciso. Quem contesta hoje
f rl,Í'l,ri tntracimentos?, É objecto de um consenso alargado o reconhe-
tas enquanto educadores, mais do que apurar os efectiaos conteúdos dou-
trinários correlatioos a tais procedimentos. Assim, é incontestáael a per- t nnt'nlt, iu índole filosófica das doutrinas sofísticas e a releoância das

manência de uma certa dialéctica entre a unidade e a multiplicidade, ntt':,ntttt; tm tttmada de consciência das aporias fundamentais da história
permitindo a listagem das afinidades, quer no plano das ideias quer no tltt ltt't,:itttuttto. Subsiste, no plano metodológico, o intento de conciliar
plano das estratégias de conduta, susceptíaeis de facultar uma oisão global
unitária acerca da dita Sofística14, sem esquecer as muitas diaergências
rr ( 'l , ( 'l(.mence Ramnoux,
"Nouvelle réhabilitation des Sophistes>r, Reoue
,lt filrltlir,ysiquc et de Morale, janv.-mars 1968, pp.1-15, inctuído ern Études
l' t l, r tr' r rr I i ry t r,s l, l> aris, 1970, pp. 17 5-188.
r" M,rrio Untersteiner, I Sofisti,2vols., Milano, 1967 (1,.^ ed. Torino, 1949).
Cf. Didier Bigou, na introdução a Le mouaement sophistique, cit., pp.20-21.
13

Ibidem, p.21.. A,,Sofística, terá sido, antes de mais, uma noção elaborada
14 À nlrr,r trrrrtribui para dar a conhecer os sofistas, nas suas posições individuais,
,,f rrrilr'rrirrtlo» o processo concernente a estes, antes de propor qualquer ,1uízo»
no âmbito da reconstituição platónica do teor não das doutrinas dos sofistas,
mas do que era susceptível de caracterizar uma aütude comurn por parte desteà, ,r 'rt.lr t1.sP(tit(),
l/ t '1, Livio lkrssetti, per la storia del pensiero
a qual, na óptica de Platão, se conota com o erro a denunciar. No decurso "Bibliografia critica generale
das considerações seguintes, usaremos "Sofística" como equivalente a .movi- r l,rf,,rllrr I sofisti", Grande Antologia Filosofica a cura di Umberto Antonio
mento sofísüco". l',rrlrrr,,rrri, Milano, 1966, v<tl.32, 1984, pp.67-86.

20 21
os dois aectores de uma inuestigação necessária: numa dimensão plural, t ttt',,',rt ntt't;nttt linha situnm-se os contTibutos de Adolfo Leai20, de
oisa-se o estudo dos sofistas em si mesmos, nas particularidades dos seus | ,tttt\unu t'(t:;rrl0no2t e de Gilbert Rome4er'Dherbeyn, para lá de outros
escritos e das posições doutrinárias, a reconstituir com base nas fontes r,,ltttlrr, uttuttgt'ú/icos, de carácter mais circunscrito, como por exemplo,
disponíueis (por fragmentárias e limitadas que estas sejam); numa di- rr., r/r' ,'l trlrtnirt l'rtpizzi23 e de Barbara Cassin2a; no que se reporta ao

mensão singular, importa aprofundar como é que a Sofística foi um moai-


mento de pensamento, definindo-a nos seus contornos genéricosrs. Refe-
rimos, nesta dupla orientação, alguns dos estudos mais importantes: no | | :ilot irt itlla Sttfistica, Napoli, 1966. O autor insiste na necessidade
'rr

que respeita aos sofistas, considerados indiaidualmente, & já citada obra ,lr ,,,rrr1,rlr'11rlt'r as c'loutrinas dos sofistas no contexto histórico-filosófico em
as reflexões dos
de Llntersteiner re,I Sofisti (Torino, 1949), representa um marco de refe- 'prr r",1,r,, li,rrrltitttt strlrtido, numa linha de continuidade com
f ll,,,r,f rl', rlllt'|§('()Ctlpilram da physis.
rência obrigatória, tendo esta publicação sido acompanhada pela edição 'I t I Nrr/rrrr r lslituzittní Llmane nelle dottrine dei Sofistí, Napoli, 1971.; Un
crítica dos respectioos testemunhos e fragmentos (Firenze, 1949-1962), ltt ,,tt ,t'.ttr iittlisli, Napoli, 1976. Destas obras, a primeira aborda a análise
,l,r, |rr,,rr.lei soÍísticas a partir das fontes e no horizonte da problemática
,l,r trtttrtosf plrtlsis, salientando a complementaridade da natureza e
,,g,,,,,1,,,111
rl,r , rrllrrr,r rr,r trliÍ'icação da vida colectiva Stega; a segunda visa ser um instru-
nr, rrl,r rlr,rlivtrlliaçrio didáctica sobre os sofistas, incluindo uma antologia
18
Essa terá sido a orientação fundamental que se depreende do impor-
,lr tr.. l.,, lrrrrrlirtrtt'ntiris e respectivos comentários.
tante artigo de Kerferd, «The Future Direction of Sophistic Studies", in G.B- " r\ rrl,r',r Lrs Sophistas, Paris, 1985, publicada na colecção Que sais-je?,
Kerferd, ed., The Sophists and Their Legacy, Wiesbaden, 1981 (contendo os
tr,rrlrr.,rrl,r l),u,r l)ortllgtrês por João Amado (Lisboa, 1986), representou um
trabalhos apresentados no Colóquio sobre Filosofia Antiga, realizado em Bad
, l, ll.llo lrilrliogriiíico decisivo Para a difusão dos conhecimentos acerca da
Homburg, de 29 Agosto a 1 de Setembro de 1979); cf. A. Tordesillas, na apre-
',rrlr,,lrr,r, ,rli,rtttlo o caraicter acessível com o rigor e a profundidade da infor-
sentação da edição, em língua francesa, de M. Untersteiner, Les Sophistes,
cit., p. xvttI. rrr,r,lr lirlu,r s(r lluÍt1il linha interpretativa próxima de Untersteiner, ao subli-
1e
Mario Untersteiner, no preÍácio da 1." edição de I Sofisti (Torino, 1949), rrlr,rr ,r l,illit'tlt»s l'ragmentos dos próprios sofistas e respectiva doxografia,
,r ,lnnlnr,,r() lr',i1iicn clo seu confronto com a contingência das escolhas.
declara o propósito de limitar a investigação às principais figuras de filósofos '' r\rrlorrio ('trppizi reconstilui e discute criticamente o pensamento de Protá-
que impulsionaram o movimento de pensamento, conhecido sob a deno-
minação de .sofística», estudando-os a partir das respectivas fontes. A edição t,fff ,r'.,rl,,rrlilrlitsÍiurtcsquectlnsideraimportantesParaesseefelÍo,emProta-
,
,,rrttr lr lrt,lnnttttitttti,t' t i t'ranuuenti, edizione ríoeduta e ampliata con Ltn studio su
crítica da doxografia e fragmentos, entretanto empreendida pelo mesmo autor,
Sofisti, Testimonianze e Frammenti, 4 vols., Firenze, 1949-1,962, acrescenta à l,t t,rltr. lt t,lrrr, il lttttsirro c la fortwm, Firenze, 1955.
'rr\ r'rliç,ro r'rÍtica tluc lJarbarir Cassin Íez do tratado Do Não Ente, em
anterior recolha de textos da edição de Diels-Kranz alguns novos excertos,
julgados pertinentes.
',t l'ttnttt'nttlt', Lr''l'ruilrl Á,,u,,11,,,, Dt' Malisstt Xenophane Gorgia Édition critique

)) 23
mo,imento sofistico ou à sofística, no intento de destacar, grobarmente,
)l,'n*,í\,lt* sr' rtos séculos il e m da era cristã, tendo
como principar centro
as suas características
filosóficas numa abordagem temátiia, são parti_ ttútt ,'llrttrts, t,tts Roma, e procura a sabedoria
cularmente releoantes as obras de william Kefuh chambers Guitrie2s entendiia, prJdLo,minan-
I*ttrttlr, r'ttrtto litcratura e como retórica. para rá da perio'diz,ção
e de George Briscoe Kerferdze ,urprn
os
.

textos reunidos na edição crítica realizada por Hermann Diels


lil,lr tttr rlrsutuoluimento da sofística, derineada ,* tuào, à*p,tor,lra
úl,tlil tr,t' sttltlinhar a distância qu, ,rporo a acção de
e walther Kranz, Die Fragmente der vorsokratiker, correspondem prestigiadas
Irnlr 111'1,'i,,,rnro, camo protágoias e Górgias, referidi figuras
ím furmos deferen-
aos escritos dos representantes da chamada <<primeira sofística,
de que lp 1n.lrr lt,rtltritt plstão, e a índole de quíse rezsestiram ,, p,ratiro-r"f*pr_
fizeram parte, entre outros, protágoras, Xeníades, Górgías, Licofronte, liltltr' tt rllqlírs dos seus representantes mais tardios,
Pródico, Hípias, Trasímaco, Antiftnte, crítias, além ío Anónimo associados
a excessos
de rlttt' r rtttlt ilttrÍrnm para iryagem degradada
Jâmblico e dos Dissoi y da «classe». As nottas depre-
logor, cuia interaenção se situa cronologicamente , t htltt'tt'; tttl(tirt sobretudo
(s yaquei que estesfazem à estrutura jurídico-
como se disse, em meados do século v a. C., princípios do sécito
w a. c., lhtltltrrt tlo listado e à rerigião iradicionar, assim como do
e tem uma componente teórico-prática. A dcnominad.a osegunda uso abusiao
Sofistica» tltl,ttt t I r:; i0 d kçUy1, Zr .

et commentaire, Lille, 1980, constituiu um precioso contributo


para o estudo 2, ()s sofistas como educadores _ a caracterização
de Górgias. Numerosos e importantes trabàlhos da autora, relativos dos sofistas
aos sofis- nt'lgundo o critério extrínseco da actividade
tas, foram reunidos em L'Effet Sophistique, paris, .J.995. profissional
* cxercida
- 4 History of Greek Phiíosophy, vol. in, Cambridge, lggt; aprimeira parte
desta obra, correspondente ao esludo da sofística, ioi publicaàa
em volume l\tttt rrt' rnta rcpresentação
autónomo pela Cambridge Univ. press e em tradução, como,
por exemplo, .lttu ttt' sucintq da acção rezsada a cabo peros sofis-
Les nphistes, trad. de J. p. Cottereau, paris, payot, L976. tt't.;r'(irnttte ao sterouro da educação, importa reconstituir,
26 sumaria-
. The sophistic Moztement (Cambridge, 19gi); na referida obra, o autor
visa mostrar a relevância filo-sófica das pósições individuais dos 'tt'rlr,
rrlr,;rr,s lt'nttts-chaae: o que ensinaram;
a que procedimentos recor_
sofistas, jus-
tificando a legitimidade de falar de um «rnovimento sofístico» u pá.ii.
â*,
temas comuns que suscitaram o interesse dos seus membros; e
dem.nstra
ainda, mediante a análise aprofundada das principais fontes, que
as questões
levantadas constituiriam um factor decisivo no desenvolvimento
à,, p..- (I
samento filosófico, não só dos seus coetâneos, como das gcraçõers ,,r,zl«r Vcr.sónyi, Socrnlic Í!untattisnr, Westport,
vintl,uras, Greenwood press,
l'l' ,l
7 ll.

24
25
reram nd prática docente; quem foram os destinatárias desse ensino; em cuidndo e o rigor no uso da linguageml como o órgão priailegiado das
que moldes se efectuou o respectizto pagamento. lnnais competências. Mas ndo se deaerá sobreoslorizar o carácter formal
Para abordar estss questões, será elucidatiao recorrer a Platão e às lo tttodelo educatiao preconizado, em detrimento das matérins leccionadas,
declarações de intenção que ele põe, respectiaamente, na boca de Protá- ilnlo que a cultura geral constitui um elemento decisiao na formação
goras e de Górgias, nos diálogos intitulados a partir dos seus nomes2g. l'ncullnda pelos sofistas aos seus discípulos. Para loseph Moreauze, o
Protágoras apresenta-se como professor de arte política (techne politike), Itt'tttrt ,rsofística» não designa inicialmente uma corrupção da dialéctica,
ensinando a excelência (arete), que se manifesta na prudência inerente lt nrtc de raciocinar, indicando, pelo contrário, uma forma de cultura
ao bom goaerno dos assuntos públicos e da própria casa, pelo domínio ytt'lir'ular, específica de uma determinada epoca da ciailização. O ensino
das palauras e dos actos; Gôrgias diz-se mestre de retórica ou da arte uirnlodo pelos noaos mestres tinha um cariz genérico, mãs essa gene-
de conaencer, e um e outro fazem o elogio dos beneflcios que o seu ensino rulidmla, ktnge de reaerter para uma abstracção aazia, decorria do carácter
proporciona, Em ambos os casos, o conteúdo mais importante do magis- tttrlinrlor c flexíael, que possibilitaaa a aplicação das competências adqui-
tério exercido é o uso adequado da palaara, o domínio da argumentação lhlm ur ntúltiplos e dioersificados carnpos. As linhas de força da paídeia
e da eloquência persuasiaa, mobilizando para esse efeito elementos de nolittlit'tt, ossentes numa espécie de geralrr, conectam-se precisa-
"educafro
tipo demonstratiao e de tipo emotiao, complementares entre si. Qualquer nmtlt crtnt a exaltação da techne e dologos, quer dizer, com as duas
plano sofístico de estudos oinha na sequência do currículo de preparação /ttl1'r1r's primordiais da inteligência, que se constituem para o homem
básica que incluía três partes, cada uma delas com o seu professor proprio: t't,ntfi i,,strltmentos do poder sobre a natureza e sobre os seus seme-
o pedotriba cuidaua da educação física e era responsáael pela ginástica, lluniln ttt, A originalidade do modelo sofhtico destaca-se à luz das críticas
o citarista zelaaa pela aprendizagem da música e o gramático ensinaaa qu( llrc .litram dirigidas, aindas de dois campas antagónicos, afectos
a ler e a escrez)er, bem como a memorizar üersos de Homero e Hesíodo
e de outros poetas, pelo oalor pedagógico e moral dos conteúdos trans-
mitidos. No currículo sofístico, realça-se que a propedêutica de toda a r" t'1, ,,Qu'o$t-ce qu'un sophiste?", in Platon ileoant les sophistes, París,
aprendizagem deaerá ser o estudo da correcção dos nomes, ou seja, o lvâ'|, 1t1t,7^17,
ttt lltiltur, pp, 332-333. Podemos traduzir os termos gregos logos e techne,
üttt rl tttr,rnurri polivalentes, respectivamente por .linguagem, e por «técnica»,
lr tlutt r ot'l'r,x1'rt»rrle, em traços largos, por um lado, à capacidade específica
28
Cf. respectivamente Protágoras,318 a e segs.; Górgias, 449 a-b, 452 e- tltl ltrrtltrr h\p{tui, ntinente ao homo sapiens, e, por outro lado, à principal prer-
-457 c. rrrSlllvrr tlo ltonn .lahcr.

26 27
respcctiaumerute q Platão31 e a lsócrqtes32. Psra o primeiro, uma rnzão trtt.nltt t,t ttidtç|o de si rnesmLtr33; parn o segundo, o tnodelo educatiao
instrutnental que acautele a posse de meios, desconectados da inteligência '', tntntt) rlt'i,t't'á fazer n simbiose da retórica e da filosofia, exaltando o
dos fins a que se deaem submeter os seus usos, cottstitui uma séria limi- , illttltt rrtilil!tilr qlte tem de orientar O bom orador, betn como o discer-
tnção, desairtuando o ínteresse essencial dn naturezn humana «no conhe- tuntt tttt, iltt)rnl proaeniente dns lições colhidas na história e na literatLtra,
,lrtr'.'.turlrt -t()ltro os Sofistls» Lglo Contestnção eficnz quer dos erístícos,
,lilt ., 1'1;,,4rtlttilt am llLtos rjerbais, quer dos que ensínam a cloquêncin
31 No
que respeita a Platão, entre os diversos textos que nos faculiam
!!ttnl ltltttttt l«irico, distnnte dn uídn.
informações preciosas sobre os sofistas, destacamos, em especial, Eutidento I t. ltttt((tlintcntos usados pelos sofistas fia prática docente foram
e Sofista. No primeiro, deparamo-nos com a descrição caricatural da ,,ttrttt, ,ltt'('t:;ilictldos, indo d.ns conferências públicns, nbertas a quem qtti-
"iniciaçào
nos m.istérios sofísticos", correspondente à encenação por parte de dois so- , , ,t ,t:,lit, tros cursos fÍequentados por w11 núnrcro restrito de ouuintes,
fistas, Eutidemo e Dionisidoro, das suas práticas educativas; no segundo, ,,,/ , \, ltrit trs lições particulares. A nprendizagenr tla orte de lsem falar
nas diversas definições de "sofista», resultam particuiarrnente interessantes
as qlre os apresentam como peritos na antilógica e nos cornbates de argumentos ',,tr, rtt tt Itiltltc(iltcnto dn língun e da granúticn, nssim como propor-
, i.,,.t,'it ililtít
e as que fixam a sua mestria nas mírltiplas formas de mimese. A leitura de ltr«'iosa njttdn no domínio de tópicos recorrentes, respeitantes
Segundo Alcibíades (132 e segs.) faculta-nos uma contraposição expressiva da , ,, t r,t ,rtrtttr,.t\t's preL)isíaeis e passíaeis de serem estereotipadas. Os joaens
sensibilidade sofística (protagonizada por Alcibíades) e fiiosófica (representada i ,;t:,ttu //, r':;,;() (t ntodelos de discursos, Semelhantes aos diSCu.rSoS epidíC-
por Sócrates), sobre o pano de fundo da interpretação socrático-platónica da I ' 'l
máxima délfica "conhece-te a ti mesmcl,. "n tt t ttl)(tlo:lins, exemplificados nos escritos gorgiaflos Elogio de
32Cf . Discursos Xlil, Contro os Sofistns, considerado como «a declaraçào ll, l, rr.r , l)r,lt'sir cle Palamedes. Ahahilidade dos sofistas nn artc dos
de princípios» de Isócrates, quando abriu em Atenas a sua escola de retórica, t, , ,t ,' . utttuili,slttr)tt-sc, por um lt;tdo, na polymathia ou snher enciclo-
por volta de 390 a. C. Para Isócrates, a verdadeira filosofia era a retórica tal 1 ..t ,,, tlr' rlur' t;t' tlttnglorinaaln e que lhes permitia
fnlar sobre. qualquer
como ele a concebia e praticava: não um saber teorético, com aspiraçôes ao
estatuto de episterue, mas uma técnica, assente em opiniões, devendo a elo-
quência subordinar-se aos imperativos da consciência moral e ajustar-se às
particularidades das diferentes situaçôes. Segundo A. Maclntyre (Whose t. ,,1 r, , rl,'rl,,(,nt . factor decorrente do *ensincl,,, cont lrenosprezo pelos
Itrsficc? Which RotionallfyT, London ,1988, p.86), é de destacar, na persistente r. r, ,, r, l,,.rt,ltl(', .r "r.ratureza» do aprendiz e à "aplicação, do mesmo,
infiuência exercida por lsócrates e pelas suas concepções didácticas, o facto I r ,r, r, .,.,rlr,rr,,r ,r irnportância dos exercícios práticos, em detrimento do
de ele ter dado forma canónica à retórica como instrumento de um modelor I ,,,,, ,,1,, ,1, r ul:,o ltt,tgiStf.fl.
educativo cujo objectivo dominante era a eficácia na persuasão, mais do que r lrrrr'rr,rr',r'rrr [rllttinica traduz-se por
"conhecimento e cuidado da
a busca da verdade através da investigação. Com efeito, ao acusar os sofistas ,r,,,, ,I l'l,rt,ro, ,,\lriltírtdas, 132 c e segs.

28 29
l,r,lr'rrrlirrttr lrortstttitir ser ocessíuel
n tttdtts' tlesdc quc esttaassem ent
outro lndo'
osslffito, ParecenLlo saber o qt'te, de Íacto' não snbinnl' e' Por t,ntlttí)('.' s(icio-ecottómicns de a eln se cnntlidntctrefiT' Por
outro lado'
intprorisaaamt collt igrol stLcesso, disutrsos breoes
rmfncilirl;ade com qLrc tttltt,t ltt lt'r l)t'csante qlte, flo ântltito das prátictts correrLtes na época' os
ou lttttgos. "
,11' l1,1l1t'; ,r,l,,i1,ttrt1ospaios sttfisttts nãct serianr clifercntes dos ltrocedimantos
dn idsde atlulto,
discípulos tlos sofistns (raftt jout,ns, ntt Iintisr
oi
dcsnfogntla3l' A rtoun ,lr, tt 'li,'r'r'lsrrs t'tttttas otribtrcnr tt Sócrntes a Llttc sã() profitsn,rcntc cxcttt-
pcrtcncerttcs n fomílins íont sitttnçatt aconómicn O quc (),s scP{tta rtttlicnlrt.ratttc são os
tt que se cnntlidntaannr aTtnrecía ntttrt contexto progrcssístn' 1'lttt' trrlt,', ,,u, ,li,ilrrgos plnttirticos'
edttcnção
I't' lr ,r,'; tt (lttc as respectittas estrntégitts obedecintn'
sendtt t7e stfulinlmr'
,r, ,rridí,l, o,n qr,, tinlm corno finnli'dade o exercício esclarecido
da razão ' índole instrttmental e
e aísnu, obter os instnrnrcntoi linguísticos
e discr.Lrsiaos para unn rtidtl 'rrt rlr):t so.fistas'já designados,-a det'esa da disso' rtma dit'er-
conro ', ',t 'tlrtt'illt' rrcrttrn d'ns lnbi'litnções ndquiritlss' Além
encarado
ntallrcr, tt que leunria t:t qtrc o nroõitnento sofístico fosse
t,t tt,'ttlltt trirttltt t1o sctt ttrctdtt rle enfrmtnr o cdLtcfiÇão: atlqulttto
tltt
3s. Mns isso rtãtt ttbstn o quc n tónícn rt'
o. ilr,rr,irrisnt., dn Arrtigrtidadc
,1 .1t1 t rttico'ltlnttirticLt totln n aprcndizngutt gcnuíttn ílnplica
ttttt
próxitttos dn t t
antlgttardista coexistissc,,CLttt {1 Tlarsistôncin t]c elcmentos
e de sentir' Unt dtts ns- ,t iltt)tt)s() t ctttrrl-tle xo, qtLc cxigc n nprct|trittção ltessoal' por pnrta
traà'4ao e tle forntns oconserantlovç15' de peflsor a aprefi-
o de a educnção que tt1' tlrt,1!111; ç!pt'tíêncins efll cat'tsa, nn perspectiatt sofística'
pectos mais inoaadores serirt precisamente fncto

Embora a alusão à remnncração cobr"atla pelos sofistas


3q fossc r-truiio fl'c- r, /)/i' I'ltilosophit' Lltr Atr.fkliirrrnS, Tiibingen ' 1932' cap' 6.(trad'' Ln
,
Da trumerosa bibliografia
q*"r-tt.:.o, fontes antigas, este elerncnto nào- selitr ern si
mesmo esse'ncial it,,, ,1, . I trttrii,rrs,l'aris, 19(16, pp. ZàO e segs.)'
r ,,r , ,,, r,ilr,r irttlicatrt'rs: G. Saitta, L'illuminisnro tlella SoJisticn Crecn' Mil;rrro'
para a sua curactenraçjo'-tf' "tptu, nota-3 Além de o Pagamento do nristlzos
.rÀ dn.lu que.cor.obora o profissionalismo dos sofistas, L I r,, I l,rr r'lor'l', 'l'lu' Liberttl Tentper í Greek Politícs' London/New Haven'
poder ser visto como of Grcek Erilightutntent'
toda a controvérsia a este respeito tem como pano de fundo a questão acerca r I rr, ,lrr, Ir lioltrtst'n , Intcllcctunl Experinrcnts the
slr ott não ensiuada' Cf'' e'm PIatão' tr este Pr()-
l, , , , l')/'r'; Al(l() Maglis, greco» in AA' YY''^5.-t.udi di
a"-" ftrttiLrifidaclc cla orete "L'illuminismLr
flr,,rí,qorris e o clebatc sulrjacente a M(rro.tr; r'er
tambér'n' dc moclo muittr t't' 1lrttrtttit,,, Nnp,.líi, 1985, Pp 209-251' em especial p1't'209'222'
fàrit,i,
rrlt,,tltt'o (ltlc l'h. (it'rlrpJrz intittrle a terceira parte do vol'
rda
o capítulo ã,rs piss,,i Logoi clue incide nestc por.rto
espercífico:
ilr,i."r^., r ,r
, , , ,/, , ltt.,, lrr, l)r,rrl.r,r., rcspciiirnte. à sofística, .D:rs Zeitalter der Ar-lf-
cf. DK 90, 6. |
são tarmbém apre- Philosopltrl' c1á
35 Acusados, por alguns, de irraciorralistno, cls sofistas ' r rl ,,,trttt W. K- C' (iutl-rlie, em '4 Historq ttf Greek
tluzes' no mundo antigo Esttr inter-
sentados com os replelentantes das I , r*l,,l,,ttt,lo Sticratt's e' os sofistas, o subtítr'rlo dg'Jhe Fifth-Centtiry
tlie GLtst'lriclttc dcr
p,:"tna;o cstava iá presente e,r Hege'l: cf. 7or./csirrt{ iiltcr
'pi'l,ilur,nll,ir,cit., p.4li)- Ilrnst C-ilssirtrr acclltLla ils rtrí7'os grL'g'ls c1a "itli-rt'lt'tlas

31

tíl
dizagem assentaoa na imitação e na repetição de modelos exteriores, con- it "( r(ttt,r a famosa oposição entre «filósofo>> e <<sofista>>, em que este
ducentes a um saber fazer, sem acanetar qualquer modificação profunda lllllttto üa dpresentado como o «não filósofo>>. Assim somos leaados pelos
no sujeito. Daí que o êxito do ensino sofístico, tal como era publicitado Itltttilts da própria inaestigação a retomar a problemática ideia de "filo-
pelos agentes do mesmo, fosse operacional sem exigir grande esforço por tttllt" qua se institui sm do diferendo em causa37.
"pedra-de-toque>>
parte do aprendiz, chegando a bom resultado num tempo curto36. Nutna aproximação preliminar e propedêutica, tal como foi repeti-
innl.ult acentuado pelos mais autorizados estudiosos do tema, impõe-
il, il rilr.)aliação do testemunho platónico, na génese da própria noção
3. Os sofistas como filósofos a caracterização dos sofistas Ir "xtfÍstica»>: para a tónica depreciatiaa dessa qualificaÇão, contaaam,
- das
segundo o critério intrínseco posições teórico-práticas h nmtn,ira importante, as atitudes que lhe eram associadas de relathtismo,
que lhes são atribuídas tw pt111ç do conhecimento e dos aalores, e de pragmatismo, quanto ao
Ittittunlo do útil e do imediato em detrimento do bem e das realidades
Os sofistas estiaeram durante séculos associados à recepção negatiaa tlrtis cottsiderados como fins. É nessa linha que Olof Gigon sublinha
de que foram objecto na doxagrafia platónico-aristotélica, com o conse- t tttlluência dos aeredictos platónicos, na complexa recepção das posições
quente desinteresse por parte da tradição filosófica ocidental. Por con- r/rrrr rlifrr$ sofistas quer no domínio das noções ,<construídas)> quer no
seguinte, o facto de podermos hoje designá-los como «filósofos» resulta Itlntn dos factos. Antes de mais, num primeiro plano, Platão «constrói
de aários factores. Supõe, em primeiro lugar, uma mudança substancial t litin de 'sofista' como imitação, caricatura, adaersário do 'filósofo',
de atitude quanto à aalorização do que os sofistas eaentualmente pen- tu,tulo $te último, também ele, construído como ideia»38; num segundo
saram, pnra lá daquilo que realizaram na época em que aiueram, o que lilrttto, o testemunho platónico não opera no âmbito das representações,
passa pelo confronto renoaado com as fontes e pelo esforço de releitura
das mesmas. Em segundo lugar, implica que a noção de «filósofo» seja
suficientemente ampla de forma a abranger o <<sofista>>. Para isso, tem 17
A oposição entre filóso{o e sofista constitui um tema central em todo
r t 'rt'lttts platónico, descrita por Platão através de frequentes jogos de palavras,
rrrulrilizarrdo metaforicamente a relação entre o original e o simulacro, o objec-
ll rr,rrl c a sombra, a cópia perfeita e a versão incompleta ou deformada do
36Esta modalidade de «via rápida" no ensino de adultos, com as conco- rrrotlt'ltl, o cão e o lobo, o homem são e o doente.
mitantes fórmulas de oeducação inlstantânear, foram alvo da ironia de Phtào, r8
Cf. Olof Gigon, .Rationalité et transrationalité chez les sophistes", ln
em numerosos passos da sua obra, dos quais destacamos: Eutiilemo,273 c e fr,rrrr'lrrançois Mattéi, ed., La naissance de la raison en Gràce (Actes du Congràs
segs./ e Fedro,275 e-277 a. rlr' Nlr'r', Mai 1987), Paris, 1990, pp.231-239, p.231,.

32 :'J
7

mas no dos safistas históricos que, nos diálogos, contracenam com urt hçto antilógica coadunam-se com a uersatilidade das experiências relati-
Sócrates histórico, surgindo aqueles, de certo modo, isolados do contexto líll àa impressões sensorinis acerca do mundo circundante, mas nãa pode'
cultural e filosófico à luz do qual as suas teses são susceptíaeis de ser ilo nunca leuar ao conhecimento das reqlidades imutárteis, cuia identidade
elucidadas. ú pode ser objecto da dialéctica. As coisas inaisíaeis para os olhos corpó-

Ora, um e outro aspecto são do maior interesse para tentar com- Íúor sd se tornam acesskteis enquanto objecto da oisão da alma, amante
preender o que se interpõe como obstáculo a uma leitura fiel e objectiaa ll sabedoria, O sofista surgirá, então, como o «filósofo imperfeitorse
das fontes, no sentido de aoltar a equacionar a importância filosófica
bm uez de ser reduzido ao «não filósofoo), como aquele que se limitou
destes pensadores. A nooidade representada pela sua actiaidade reflexfua
I ilm nível inferior de conhecimento (doxa) e não ascendeu à apreensão
ún renlidade em si mesma, atendo-se às realidades apenas tal como nos
adoém, em grande medida, da atençdo pioneira dsda às temãticas cen-
$yilrrcem (phainomena). Nessa aproximação, na perspectiaa de Platão,
tradas no homem e na oida do homem em sociedade. Os sofistas fixaram-se
o tofista fica aquém da "filosofia>», enquanto conhecimento aerdadeiro,
sobretudo nas questões relatioas à praxis política e não nos problemas Ittt'tesário e absoluto, coincidente com a episteme; mas não é radical-
respeitantes à physis, dominantes na especulação dos filósofos seus rttt,nte excluído do caminho que a ela conduz, muito embara se detenha
predecessores ou coetâneos. Para equacionar deaidamente a releoância nm primefuas etapas do percurso.
filosófica dos sofistas, conoém atender ao contexto histórico-cultural em Além disso, há que salientar a retoma da análise do filosofar como
que aioeram e em que se formaram, tanto no que se refere à linha de rtt'liuidade inerente à consciencialização das aporins do pensamento e aos
continuidade coffi o passado, como no que se projecta, prospectiuamente, rtllrços enaidados para as solucionar. Nessa linha, situa-se a sugestioa
em relação aas efeitos futuros das suas estimulantes críticas e aparentes illacussão que Pierce Aubenqueal faz das doutrinas sofísticas acerca da
proaocações.
Retomnndo o primeiro aspecto focado, na óptica de Platão, a referda
oposição entre ,rfilósofo»> e <<soÍtsta>> poderá ser descrita numn aersão mais 3e Cf. a comunicação de G. B. Kerferd, «Le sophiste vu Par Platon: un
ou tnenos drástica. Na contraposição introduzida pelo autor do Fédon plrllosophe imparfait", m B. Cassin, ed, Positions de la Sophistique, cit., pp.1345.
e da Repítblica entre o mundo visíael, corcespondente ao deztir e à mu-
{ Cf. Pierre Aubenque, k probléme de l'être chez Aristole, Pans, l9W (1'u ed.,
dança, e o mundo inaisíael, conespondente às ideias, os procedimentos l9(2),96-97: «De um modo geral, em vez de prolongar as respostas platónicaq
rguc considera pouco convincentes, Aristóteles retoma os própios problemas,
adoptados pelos sofistas mostram-se adequados às aparêncins fenom&úcas,
tnl como os sofistas os colocaram desse ponto de vista, o aristotelismo é uma
a que os próprios sofistas se reportam, se bem que inoperantes no plano roüposta à Sofística, paralá de Platão, mais do que uma ramificação do plato-
superior das realidades em si mesmas. Os duplos discursos e a argumen- nlumo., (Ibidem, p. 96.)

34 35
linguagem e do conhecimento. Defende o estadioso que a filosofia de aofística incidiu principalmente em úreas problemáticas ligadas
Aristóteles n podc ser entendida como o esfarço de superar as ilificuldadx ptrxla política, oalorizando os temas conectados corn a esfera do
leaantadas pelos sofktas e sustenta que as referi-dns aporias estão na ori- e corn as preocupações utilitárias prôximas do quotidiano. Nas
gem das filosffis dos grandes expoentes do período clássico, Platão e por eles assumidas, surgem setnpre associadas as componentes
Aristóteles, nomeadamente no campo da ontologia e da ética. Nas suas e prática, o que não diminui o carácter pioneiro de muitas das
coordenadas gerais, a leitura de Pierce Aubenque, coadjuoada por muitos concepções acerca do homem e da sociedade. As questões que sus-
estudiosos, coincide cotn os objectiaos prioritários da reconstituição que o seu interesse são de índole muito aariada: para lá da atenção
Kerferd ernpreende do moaimento sofrsüco: não só mostrar que <<os nfistas fldt d linguagem e às artes relatiuas ao domínio da mesma, desde a
são filósofos>>, como demonstrar que <<as posições que Platão adopta, em
llfrmdtica à dialéctica e à retórica, ocupam-se dos problemas atinentes
matéria de étiea e de política, são umn resposta às interrogações filosóficas § t;onhecimento, ao direito e à política, à religião e à educação a. Deaido
leaantadas pelos sofistas»> at. h cnracterísticas específicas das matérias relatioas ao mundo humano,
gttnryrrcnde-se que o saber que lhes diz respeito nuttca possa aspirar a
lltwnçar o estatuto apodíctico de uma ciência exacta, semelhante ao da
4. A investigação sobre a Sofística, hoje. llfitenática. Os saberes adquiridos por tais sábios baseiam-se em opiniões
Tendências e actualidade dos estudos em curso Q fi, crenças marcadas pela aerosimilhança e pelo sentido do apropriado
ls úlfirentes situações. Com nista à comunicação, priaile§am-se as com-
A argumentação em defesa da natureza filosófica das posições sofis- pllncias que decorrem da persuasão, mais do que da demonstração. Será
ticas mobiliza certamente um outro paradigma de racionalidade, em que fim a perspectiaa assinalada por Olof Gigon quando afirma que <<o efisino,
caibam sensibilidades filosóficas alternatiaas ao modelo clássico, e não lltt illcd e em política, nãa se faz, corno na maternática, por um didaskeirç
será por acaso que os es,tudos sofisticos conoirjam hoje no sentido de mnl unicamente mediante um peítheinr, 43. As artes do logos procuram
enfatizar que a dimensão unitária da sofística adoém, em grande parte úçrcnaolaer capacidades que permitam diferentes usos da linguagem, nos
e de forma primordial, das temáticas tratadas. Ora, como foi dito, a qunlâ 6e destaca o poder de convencer os eventuais interlocutores ou

Cf. A. Tordesillas, no prefácio à já citada versão francesa da obia de


41
G. B. Kerferd, The Sophistic Mooement, cit., introduçáo, pp.1-3.
Kerferd, Le mouoement sophistique, cit., p. 10, cujos termos reproduzimos por '2Cf,
al OloÍGigon, «Rationalité et transrationalité chez les sohistes», in l.-F.
nos parecer que sirúeüzam o essencial com clareza e rigor. Mrtttél, ed., La naissance de la raison en Gràce, cit., p.233.

36 37
auditores a aderirem aos pontos de uista tidos como «melhores»». Destd à aiabilidade e à estabilidade das relações sociais. Destaca-se,
maneira, ao caracterizar o saber corno um determinado tipo de poder, a especificidade da razãa sofística em relação à racionalidade da
não pretendemos sobreualorizar o carácter instrumental das competência* clássica de matriz souático-platónica-aristotélica, deixando em
transmitidas pela educação softstica, mas antes acentuar a relação entre as linhas de irutestigação, antes referidas, no sentido de se chegar,
os procedimentos adoptados e as incertezns inerentes às situações concretas flluro, a uma representação mais nítida e mais rica quer dos sofistas
da rsida humana. Ao enfrentar as questões respeitantes ao homem e às da Sofística.
relações dos homens entre si no seio da sociedade, as dificuldades radica-
aarn, de certa maneirat na índole complexa e problemútica do próprio
objecto.
Na tentatiaa de indicar alguns aspectos comuns das posições drfrn-
didas pelos soÍistas, limitar-nos-emos a algumas considerações genéricas:
os sofistas integram-se nesse amplo moaimento filosôfico, tipicamente
grego, que se caracteriza pela confinnça na razão e que fomenta, por múl-
tiplas aias, a capacidade de pensar, de falar e de argumentar; os soÍistas
aalorizam a experiência imediata das coisas, partindo dos dados feno-
ménicos e das aivências, e, no quadro alargado do confronto das expe-
riências e dos modos de ver, são levados a partilhar uma concepção relati-
vista acerca da uerilade e dos aalores. Isso implica, em maior ou merlor
grau e em moilalidades diaersificadas, o repúdio de um modelo de razão,
absoluto e unhtersal, q que corresponda coma correlato a propria rmlidade,
o que inviabiliza, ou dificulta, a existência de uitérios unívocos de juízo
no plano do conhecimento e do agir, O modelo alternatiao de razrto, subja-
cente às práticas sofísticas, aaloriza os pontos de aista indiaiduais e a
multiplicidadc ile opiniões, diaergentes entre si. Envolae, pois, a disutssão
intersubjectiva e o recurso à argumentação persuasiua, E frm de possibi-
litar a aceitação de princípios comuns e a construção de consensos, indis-

3B 39
Áconas

lntrodutória

frrtltágoras, nascido em Abdera, viveu aproximadamente entre


t0-42i/L a. C., sendo filho de Artemon ou, segundo fontes mais
de Meândrio. Este teria sido um homem rico que tivera
Cportunidade de receber em sua casa Xerxes, rei da Pérsia, quando
mrreu a invasão da Grécia (480 a. C.). Reconhecido pela hospi-
, o rei proporcionara a Protágoras desfrutar, na sua
juven-
Ittdt, da educação dos magos persas. O contacto com aquela cul-
hlâ lnfluiu nas suas ulteriores posições religiosas. No entanto,
üln versão acerca da condição abastada da sua família Paterna
Ítlldc com uma outra, segundo a qual o jovem teria começado
$r rt, ocupar de tarefas humildes como a de carregador; no exer-
iíClo destes trabalhos travara conhecimento com Demócrito, que
lpfecl[va a sabedoria prática que_demonstrava. Não é, contudo,
Ilrprímil que protágoras tenha sido discípulo de Demócrito, pois
Olc, nnscido em 460 a. C, seria cerca de trinta anos mais novo
dO qutl ele, o que não impede que tenham tido conhecimento
das
dttutrlnas um do outro.
Na verdade, não dispomos de informações suficientemente
llSurns que nos permitam reconstituir em Pormenor a vida de
lfiitlgnrás. As fontes convergem em atestar que viveu cerca de
Itçnta anos, quarenta dos quais dedicados à profissão de sofista,
lfVAndo a cabo a formação dos jovens e auferindo largos proventos
ü11 o ensino ministrado. Nessa qualidade úajou pela Grécia, tendo
Otldo em Atenas em várias ocasiões, com períodos de-perma-
illnclo mais ou menos prolongados (teria aí vivido de 450 a 444,

55
l).lt,t l,l tlits visil.rs lt,lt.r'irl.rs n() 1'li)///,,i(,/rr:;. .l(l(l tl. ll0 r'), r'lr('(1il('tt | í,,
lt, tr , . llttlr,r r'tlt tr':,1)ott,li,lr) ,l lllll ll,tl,ttlo ltttlt'lrt'lttlt'ltlt', ttt.t:'
[ot-t o círcttlo clos it-ttclcctLtais c i]l'tistils rlttt' Pli1,;11,,1nr ( ()nr l'tit it'lt's. !' r., l,,,,l, nr,r', ,r:':i('t',tlr',r lo. I )ivt'ts,ts l)l'()l)():;l,ls tlr' t't't'ottsliltrit-,lo
Na sequência desta relaÇão dc amizarclc, foi ctrcirt'r't'g.trlo, ('nl .+4,tr- i, ,,r,1,1.t(..,1(),1,t ttl,l,t lrt'1l,tt',9tir',t lll',lttt,tt't'ttt.ttlits, st'tlrl6 tlt'
-443 a. C., de redigir a constituição de Túrio, ernpreenclirrrcr-rto parr- , ,, rl,rr .r,1,'[ )lrlt'tslt'ittt'r', tltrt',.ltltrtititttlo ttlltit vt't'tt'trtt'tlestItrtiva
-helénico que simbolizava os ideais das elites bem pensantes cla- . ,!r, r , r.rlr'rrlr, t rlnsIt-(rtivir rto [)('r]sirÍrtertto tltt stlfistir, ctlllsidcra
quele tempo. I l,rr r.r'l rlrr'rrrrtilos tlos títlrltls tlcncitltlados por Diógenes Laércio
Por causa das opiniôes que expressou no começo do tratadrr . irrt, i',r''rr n,rs tlilt'r'i'nttts sccçoes das Antilttgias, consoante as
Dos Dettses, foi movido contra ele um processo por impiedade e, r, rrr rrr,.r'. ,rl,,,r'rl.rtl.ts (1.'' secção dos dcuses; 2." secção do
no prosseguimento do mesmo, terá sido expulso de Atenas e ba- - os problemas relativos à- polis;
' ,, (,.,r() tlas leis c clc ttldcls
nido do território grego, ao mesrrro tempo que os selrs livros eram r , , , ,r. rl,rs irrtcs). Qttantct ao Grnncle Tratsdo, enquanto alguns
confiscados e queimados na praça pública. Segundo um relato ' ,,, tr\,rn ('st('tcxttt ótico-pedagógico ao tratado intitulado Das
recorrente em múltiplas fontes, morreu afogado num naufrágio \ .!,,1, I lrrlt'r-s[ciner admite, dada a tónica antilógica do segundo
no decurso da viagem marítima que se seguiu à condenaçào. r rrr lr rll l)()sitivi-l do primeiro, que ele faça parte de Verdade.
O prestígio de que gozou entre os seus contemporâneos e, poste- r,r,,,lis1'ror-ncts de informações bastantes para Íesolver as
riormente, na época helenística, explica que a sua estátua figurasse .r, , rtr ',r, r't'lt'r'ctrtes aos títulos e à natureza dos respectivos con-
no grupo dos filósofos ilustres, diante de um conjunto de estátuas r,,r,1,, , t,rt'tr) de apenas terem chegado até nós escassos frag-
de poetas igualmente famosos, descobertas no Egipto, ern 7951,
nas escavações arqueológicas de Mênfis.
',,'.t,,,,1rÍiculta, ainda mais, a reconstituição do seu pensamento
. 1, r.r'.r ,r tlcpcttdência em que nos encontramos em relaÇão às
Protágoras foi o representante mais proeminente da Antiga r .rrrr ,l,ror:r'á[icas. Assim, para levar a cabo uma hermenêutica
Sofística. Platão atribui-lhe, no diálogo homónimo Protágorns (317b
e segs.), uma auto-apresentação em que ele reconhece ser um 'r,, r r, l,r ,lt' l'rotiigoras, o eventual estr-rdioso deverá fundamentar-
, rr,,, lr':;lt'rlrunhos de Platão, de Aristóteles e de Sexto Empírico,
sofista, mestÍe na arte política (techne politike), ensinando aos seus
, ! ,. , I l,'rrrlo c'leixar de atender aos condicionalismos dos diferentes
, ,,
discípulos a forma de excelência (nrete), que se manifesta na pru-
i,r,,r, l t'ur sido incisivamente sublinhado que a abordagem que
dência (euboulia), que torna os homens capazes de intervir com . r, lrl,rsol'«'rs fazem das posições de Protágoras e aquilo que
êxito nas diversas situações correntes da vida, no plano doméstico
,lr, rrt.rrrr na transmissão das suas doutrinas reflecte, de maneira
e no plano público, não só através das palavras proferidas como
l. r, rrrrr,rntc, a problemática a que cada um deles é mais sensível.
através das acções. Com efeito, ao comprometer-se a educar os
jovens para o exercício da cidadania, o modelo de paidein que orien-
.,,lrr'r'(':ipcita a Platão, a doutrina segundo a qual o homem é
, ,,,,,1r,1,r tlc todas as coisas perspectiva-se no âmbito da proble-
ta o seu magistério assenta no primado da cultura geral e das artes
do logos, tidas como indispensáveis aos participantes nas activi- ',r,rr,.r ,'pistemológica do conhecimento verdadeiro. No atinente
dades da polis.
, r.t.lclcs, a discussão da tese, atribuída ao sofista de Abdera,
Diógenes Laércio (9, 55) indicou doze tratados cuja autoria ,,,,,,r (l,r possibilidade de formular discursos antitéticos sobre
caberia a Protágoras: Arte do Erísticn, Dn Lutn, Dn Mntemáticn, Do I ' ,. lrrt'r'r'calidades era encarada à luz da preocupação de salva-
Estado, Da Anfuiçao, Das Virtudes, Da Situação Originária, Sobre os que ,,,,,1,rr o princípio da não contradição, condição sine tlua non da
.r,r,,lrrr,,r.r c da ciência. Na óptica de Sexto Empírico, representante
Estão no Hades, Dos Erros Humanos, Discurso lmperatiao, Acção ludicinl
sobre o Pagamento de Honorários, Antilogias (liaros primeiro e segundo). l, , , , 1rlrr'isrno no séculos tt-il d. C., o que se punha em causa, de

Deste catálogo não constam alguns títulos referidos noutras fontes, r,,, rr,r rrr,ris premente, eram as consequências corrosivas que, no
entre eles: Dos De uses, Verdade, Discursos Dennlidores, Do Ser, Grande t,l ,,r, nr('toclológico, a defesa da verdade de todas as opiniões
Tratndo. Como só posteriormente se tornou habitual intitular obras r , r.r ( trnsigo, quanto ao critério de distinção entre o verdadeiro
escritas em prosa, é natural que estes títulos descrevam o teor dos , ,, l.rl:;o. Só tendo em conta os pressupostos específicos de que
tratados. Pensa-se que sejam duas as obras principais: Verdnde, t, r rr.rnr os autores dos diversos testemunhos se poderia alcançar
também conhecida corno Discursos Demolidores, e Antilogins. Talvez ,,,rr1,r'ccnsão equilibrada das posições de Protágoras. Mas,

56 57
nt('snl() t'('('()ltstitrrillrlo r-,stas t-lAS sLlits linhas g,t,r.rris,
PCl.sistt,n (lrr(,s_ , .1.r l'rol,rr',or',ts tlt' l't'os.,, l',slt't'l't'otlit'rl tlt'('t'os t'olt't'Iar'itttt tl i-
lilo dc corrciliar ns irpri.rr:cntcs irrcongrr_rências dcls pontos cle vista rrlr,'ro lt'rrtlo lrlrlrlit.tnrt'tttt' tliscttt'sos'i. Ir l'l.rtátl, r'ttl /)rtlÍtítttrtts (',
qr-re lhe são simultaneamente atribuídos, dos quais
destacamos c.ls ,lr.'(llr('l'rritl it'o tinlra rrrna v()lz. gravc. I'rotaigorats foi discípr-rlo de
seguintes: a preocupação com a correcção dos nomes; a tese l r, rrror'r'ito (cogt.totninirclo "Sabedoria», como diz Favorino nas
de
que não é possível contradizer; a defesa da enunciação de juízos llt ,trttitt:; VtrinLlts ') (St) E [Pr:otágoras] foi o primeiro a afirmar
antitéticos sobre todas as coisas; a doutrina do hornem como «rne- ,1rr.:,olrrc [oc]os os assuntos existem dois argumentos antitéticos
dida» das coisas; a arte de tornar mais for:te o argumento mais , rtr('si s c utilizou-os, arguindo mediante perguntas e respostas,
fraco.
l,r,rtrr,r tluc ele iniciou. Além disso/ uma das suas obras começava
,1,".1,r n'rirncira: r,De todas as coisas o homem é medida das que
80 [74] PROTÁGORAS ..r(i (lu('são, das que não são que não são»e.Dizia ainda que a
,lrrr,r lrircla mais é do que as sensações, conforme afirma Platão
t,, lr'r'l(t(t 10, e que tudo é verdadeiro. Uma outra obra começava
A. Vida e doutrina
"Não posso saber se os deuses existem ou não existem
,1, '.1(' rn()do:
,''nr (lLrc forma têm. Muitas coisas impedem esse saber: a obs-
, ,rr it l.rrle do assunto e a brevidade da vida humana, 1' . (52) Porque
1. Diógenes Laércio, 9, 50 e segs. protágoras, filho de !,,n)('(,'()Lr o seu livro com este intróito, foi expulso pelos Atenienses,
Ártemon
ou, seg;undo Apolodoro e Dínon, no livro qui.to das Histórins ,lu('(lucimaram os seus livros na ágora, depois de os terem sub-
Pérsicns, filho de Meâr-rdrio l, era oriundo de Abdera,
como refere
Heraclides de Ponto na obra Dns Lais 2; este também diz que
ele
redigiu uma legislação para Túrio 3. Mas, segundo afirma Êupolis, ,l,r rr,rlrrrt.rlidade de Teos ao sofista não é tida em conta; seria explicada pela
nos Aduladores 4, eta natural de Teos; com efelto, ele diz: «Lá r, l.r,,ro ('ntre as referidas localidades (Teos foi metrópole de Abdera) ou por
dentro
, r, rnstâncias pontuais irrelerrantes (segundo Cuthrie, A History of Greek
l'lttlrt:;n1tl111,III, cit., p.262,.TeoS, ajustar-se-ia melhor à métrica).
' ( ) r'xercício remunerado desta actividt'rde, no âmbitc> do ensino profissio-
lNa,, re sabc st'Protág,oras ,,,rlrz,rtlo tla excelência, foi objecto de crítica e contribuiu pata a má reputação
foi fillro U,, I111:pon ou rlt,Mt,,lrrtlri(), nl.ls
o,ome do seguncl., p.r Apolocloro (FCrI{ist. 244F ZO II ,1,,',,.oiistrq junto dos coetâneos; cf. introclr-rção, p. 14.
por Dí.o^ (fr. 6 FHG Tl"Iidg
1040) e
I_I 90; cf DK g0 A 2), é mais provável. Veja_se, ' l3l6 a.l
a fav.r
da.primeira hipótese, DK 80 A 3. Meândrio é um nome jónico
muito comum llrr.36 FHG III 583.1 O cognome de «Sabedori3" (Io9ícx) é atribuído a
e Apolodoro de Atenas, reputado mitógrafo que frorescóu I r, rrrrrr'r'ito em DK 68 A 2 (Suda) e A 18 (Clemente de Alexandria, Miscelânen).
em meados do sé-
culo n a. C., teve acesso, por intermécrio àe Heràcrides do ponto, I ,rr olirro, reputado rnembro da denominada Segunda Sofística, frequentou
a informaçóes
fi<.ledignas. Corrobora-o Dínon de Critofonte (finais do ,, , rr( ul() do imperador Adriano e, mais tarde, foi reabilitado por Antonirto
sécuro'rv u. õ.i, u.r,o,,
de uma história d;r Pérsia nruito clifr_rnclida na Ar.rtiguiclacle. l'r,, rl,r tlcsgraça prolítica em que entretertrio c;rírtr. Da stta obra, clestacam-se
2[Fr.27 voss.]Heraclides
clo p.nto, rnembro de nma famÍlia aristocrática, , . rriscelâne;1sr, de que Ilavro\utrr\ i«tropía é um dos prinreiros exemplos
frequentou a Academia platónica e assumiu a chefia cla mesma, , ,,rrlrt't irlos do género. Quanto à pletendida relação com Demócrito, dificul-
quando pratão
se deslocou pela terceira r.,ez à sicília (361-360 a. C.). Dtrtado,f"'g.rr-rJ".upr- ,l,rilr,s cr"r)noltigicas inviabilizam que Protágoras tenha sido seu discípulo,
cidade literária, a sua vasta obra reflecte interesses muitos diversiíicados .,,,.it,rntlo que ele nasceu por volta de 492 a. C. e Demócrito em 460a.C.,
(veja-
-se a esse respeito D L.^5 6, 56-59) e, tendo particular ,r,r:, nil.lil irnpede que tenha conhecido as suas doutrinas. Com efeito, ignora-
interesse para o estudo
de figuras como as de pitágoras e de Empédocres, i.fluiu ,( ,! (l.lta exacta do nascimento do sofista, mas, segnndo a opinião que hoje
cre m.rà., importa,te
na tradição biográfica em geral.
3 Na 1,rr.r.,rltt't', vivcu de 492-490 a 422-420 a. C. A data de nascimento de 460 a. C.
Íu,daçâo de' Túrià (4a4 a. c.), ernpreenclime^to pa.-herénico levado , .rtlilrrrítla a l)em(rcrito por Apoloclu:o e é aclmitida pela rnaioria dos estudio-
a_cabo sob o patrocí.io de péricres, corabóraram representantes .,,'., (,llrh()rir haj;r actualmente defensores da data de 494 a. C., com base no
ilustres das
elites da época, pro'indos de várias áreas clo saber, entre
os quais ," L,,1('r)runh() dc Diotloro.
tram o historiador Heródoto e o orador Lísias. "r-r.or"r-
a 'r llt 6 a.l
[Fr. 746, I 2()7 K.] Êupoiis (século v a. C.), unr d.s atrtores mais farnosr.rs lti l.l
tla comóclia títica ar-rtiga, pt-rr. cm cena Lilra crítica dos sofistas,,-,u-.1,-'n.lrn r') 5il r'
| I s;t'13s. I
l)ilr'('('i(l() cor.r () rlu('I'latio clcscrc'r,c t,nr 1)r.olrlqorrrs,314 c c s(,gs. A atriirrriçii. I ltr,t.l
traído, por intermédio de um mensageiro público, a todos os que :;,rbc bem disputar" 1e. (53) Foi o primeiro a propor o género socrá-
os possuíam 12. Protágoras foi o primeiro a exigir um pagamento lit'o de argumento. Foi também o primeiro a usar na discussão
de cem minas 13; e foi o primeiro a distinguir os tempos do verbo 14, () ilrgumento de Antístenes que tenta demonstrar que não é pos-
a expor a importância do momento oportuno 1s, a organizar deba- ,irvcl contradízer, conforme Platão diz no Eutidemo 20. Foi ainda
tes 16 e a introduzir artifícios lógicos para os que se dedicam às o Prlmsir6 a criar métodos de refutação às teses propostas, como
disputas 17. E, pondo de parte o sentido, centrou-se nos nomes e ,liz o dialéctico Artemidoro, na sua obra Contra Crisipo2l. E Íoi
rr lrrimeiro a inventar a chamada
assim criou este género de discursos erísticos, agora tão em voga 18. "rodilha de transporterr22, sobre
Também Tímon diz a respeito dele: ,r t;rral se colocam os fardos, como diz Aristóteles na obra Da Edu-
"O aguerrido Protágoras que

r2 Dadas as características da religião ,lrstinta é feita por Carl Joachim Classen, «The Study of Language amongst
grega, destituída de conteúdos dog-
máticos rígidos e sem uma classe sacerdotal vigilante em relação à ortodoxia, 'i(,( rirtes' Contemporaviss", in C. J. Classen, ed., Sophistlk, Darmstadt, Wis-
a tradição segundo a qual diversas figuras ilustres da cena ateniense (por .,,.r rschaftliche Buchgesellsch aft, 197 6, pp. 215-247, pp. 224-225. Sobre a distin-

exemplo, Protágoras, Sócrates, Fídias, Anaxágoras, Eurípides, Teodoro) foram r,,r() (,ntre «dialéctica, antilógica e erística», veja-se o esclarecedor cap.6 da
objecto de processos de impiedade e condenados ao exílio ou a penas maiores ,,l,r"ir de G. B. KerÍerd, The Sophistic Moaement, cit., pp.59-67.
t')
resulta de razões complexas e diversificadas, entre as quais avultam as moti- [Fr.47 D.] Tímon de Fliunte (320-230 a. C.), filósofo céptico, de cuja
vações políticas. Paralá das ambíguas reacções suscitadas pelos sofistas entre ,rrnpla plsdução chegaram até nós, para além de alguns fragmentos, os poe-
os seus concidadãos, é de admitir que Protágoras Íosse alvo da inimizade rrr,rs satíricos Silloi, asstnalaria com a atribuição a Protágoras do termo êníperrtoç,
dos opositores de Péricles,já que frequentava o círculo deste. Veja-se, sobre ,lu('traduzimos por «aguerrido», a qualidade de se imiscuir na relação de
este assunto, G. B. Kerferd,The Sophistic Mor:ement, cit., cap. xr, pp, 163-72. lr,rslilidade, inerente ao confronto dos argumentos.
13 Em relação à questão dos
honorários e à fixação do montante dos r(r
[286 c.] A tese da impossibilidade de contradizer, atrTbuída a Protágoras
mesmos/ cf. DK 80 A 2-6, 8,24. {, L A l9), foi igualmente defendida, entre outros, por Antístenes (Írs. 47 a,
1a R. Pfeiffer,
History of Classical Scholarship, Oxford, Clarendon Press, l'i lt, 47 c, in Antisthenis Fragmenta, col. F. Decleva Caizzi, Milano, Istituto
1988, p. 38, põe em dúvida que Protágoras se tenha ocupado especificamente lrlrlorial Cisalpino, 1966) e por Pródico. Este último sustentou o princípio
dos tempos dos verbos, sublinhando que o interesse dos sofistas pela gramá- ,lr, tltrc "não é possível contradizer», num fragmento transcrito por Dídimo,
tica visava o uso aperfeiçoado da língua, como suporte das artes do logos, r, rr'!(), por volta do século ry da era cristã e inserto no chamado Papiro de
tendo sobretudo um cariz utilitário; cÍ. Frédérique Ildefonse, La naissance de I rrr',r, descoberto no Egipto, ern 1941. Este texto, editado e comentado por
la grammaire dans l'antiquité grecque, Paris, Vrin, 1997, pp. 12-14. t i llincler & L. Liesenborghs em
"Eine Zuweisung der Sentenz or)r éouv
A doutrina do kairos (rcxrpoç), <<momento oportuno», associada à tradição ,rvrrÀí'Terv na Prodikos von Keosr, Museum Heloeticum, n 0966) e reproduzido
15

pitagórica, é expressamente atribuída a Górgias e constifui um elemento muito ,,rn ('. J. Classen, ed., Sophistik, cit., pp. 452-462, foi traduzido para francês
importante da retórica sofística em geraf na medida em que o sucesso da práüca ,, :'trlrrnetido a pertinente discussão crítica por |. P. Reding, Les fondements
persuasiva advinha, de maneira decisiva, da ajustada captação do tempo favo- l,lrilosoylriques de la rhétorique chez les sophistes grecs et chez les sophistes chinois,
rável à intervenção. A valorização da «ocasião propícia" representa uma noção r rl,, 1r1-r. 140-141. Esta doutrina, muito difundida na época, foi justificada por
qualitativa de temporalidade, muito importante no uso adequado do discurso. I'rorlico com base na correspondência biunívoca entre os nomes e as coisas;
16
Trata-se, mais precisamente, de .,X-óTov ôyôveçr, ou seja, de .combates no (lu('respeita a Protágoras, poderão invocar-se dois tipos de argumentos:
de argumentos» ou «discursos". nr, (lu(' apelam para a correcção das designações, decorrentes das impressôes
17
O artificialismo dos procedimentos argumentativos é acentuado depre- ',rr'r'itaclas pela experiência imediata das coisasi os que retomam a doutrina
ciativamente nos que cultivam a dimensão agonística da discussão. r,lr,,rtit'a da impossibilidade de dizer o que não é. Sobre esta questão, veja-
18 A tradução
proposta não é consensual, mas, ao trad:uzir ôróvorcr por ,,r, ll. l). Rankin,
«sentido», entende-se «o conteúdo de pensamento» a que o termo se reporta,
"Ouk Estin Antilegein», in G.B. Kerferd, ed., The Sophísts
rtrrrl llrcit' l,agncy, Wiesbaden, Franz Steiner Verlag, 1981, pp.25-37.
em contraposição à consideração meramente verbal das palavras em si mes- rl Autor desconhecido.
"ro,i tlv ôróvorov oSeiç rpôç torivopo ôrcÀé10r1 rai
mas. Untersteiner verte r.r 'l'úÀI (/r7lr)
significa, em sentido lato, «protuberância"; .bossar; em senti-
tô v0v Énrró)"orov yév«rç tõv êptotrrôv éyévvr1oev" da seguirrte rnarreira: "Egli, ,lo 1r.11[iç111n1', clcsigna umi] pequcnir almoiadtr qtte se col«rca, c'm gcrtrl, sobrc
lasciato da parte il cr»rtenuto di perrsiero risolse la sua discussionc nella parola ,,,, oullrros, para ajtrdar a trrrnsportar oblcctos pcsados. Ct»tno a palavra «itltno-
c tlicdt'origint'all'attrralc razza superficialc clt'gli ct'isti"; orr scja,
"t'lc (l,rotá- l,rrl,r,, rrijo tlatltrz a iclcia tlc trarrspor[t'r.lt't'oisas, opt1ip1115 por ur]rn (!xl)r('ss(l()
gorls) tlt'ixartrlo dt'Piu"tt.o cotrlt'tirlo do P1.111;i1111,',",to, t'stnbolt'ct'tr a clist.rrssào rlll(,('s;liv('ss('tl ttrais P|rixirrro prlssívCl tlrl 11r'r'1ír t't1ttt'losst't'otttltrt'r'rtsívt'l
tt,t 1r.11;11,1',1, tl;rntlo orip,r,ttt r't itt'Ittitl luç,r srrPt.ríit'i;rl tlt't'ríslir'os,,. IJtrr.r lt.ittrra ,'lr l,orlulitt('s.
ttt\'tr()''\; ('ril (l(' l'ittto tulr ('rlrf('llil(lrlr, torrro l,rnrlrtinr tliz ,rlgtrrcs l;ilotolo llt'rltll,t rlttt', tlttt';ttttt'il viitgt'ttt tlttt'
,r,,,,1r,r1,11,11 1;111t1'1't'lt'.
li;-ricr.rro 2'l; c, rlcstc nrorlo, i«li crraltecitlo P111' I)crrttit'rilo r;trr'o virr l, 1,r'r rrr,il, ('lur.litt't,,'ito.r Sitili.t, tl st'tt [r.tft'tt st'altt lltltllt; a isttl
a jutrtar lcnhar. I"oi o prinroiro a diviclir o cliscurso cm (luatr() partcs: ,1,,,1, I rrrrprlll'5, n() s('u /.ttirtt r:'. Algtrrrs r1 izcrrr qtlc ltloIretl na via-
pedido, pergunta, resposta, ordem (54) (para outros, pckr cr.ntrário, i, r, ,1r.1,11j'; tlt,tt'r'rrivitlo cerca clc rt()vcntit anos. (56) Apolodoro33
em sete: narração, pergunta, resposta, ordem, exposição, pedido, ,lrlu.r l,r'lo t'ontriirio, rlttc l-lt()rrcll com setenta anos e que exerceu
intimação), a que iambém chamou fundamentos dos discursos 2s. ,' ' r.rr,,:,olr$tit'o cl tr t'antc quareltta anos, estando no seu apogeu
34. Conta-se que uma vez, dePois
Mais tarde, Alcidamante26 Íala de quatro partes do discurso: afir- 1,,,r .rltrrr,r, tlir 1i4." ()limpríarc1a
mação, negação, interrogação, alocução. Das suas obras, leu em ,1, t, r r,., l,rnr.rtlo o pergamento ao seu discípulo Evatlo que dizia:
primeiro lugar a obra intitulada Dos Deuses, cujo princípio atrás ,r r , rr ,rirrtltl triio:.rlcaucei uma vitória», ele retorquiu: ,,mas se
citámos 27'. let-a em Atenas, em casa de Eurípides, ou, como alguns , r ,, rr, r'r' lcstu rlisputa] devo receber pagamento, porque a ven-
defendem, em casa de Megaclides 28; outros dizem que foi no Liceu, , r r'.r \'('n(('r"cs tu, devo recebeÍ pagamento, poÍque tu a ven-
servindo-se da voz do seu discípulo Arcágoras, filho de Teódoto. i , tr' '' I lorrvc: também um Protágoras astrónomo/ para quem
Acusou-o Pitodoro, filho de Polizelo, um dos Quatrocentos; mas l,Í,rrr,rr1í' t'onrpôs um epicédio, e um terceiro, filósofo estóico.
Aristóteles fala de Evatlo ". (SS) Os livros que se conservam são
os seguintes:. Arte dn Erística, Da Luta, Da Matemática, Do Estado, ' I rltrstlirttt, Vidns dos Sofistos, 1,70, 1 e segs.37 Protágoras
Da Ambiçã0, Dns Virtudes, Da Situação Originária, Sobre os qtLe Estão .1, \l,,llr,r liri sofista, e discípulo de Demócrito, no seu próprio
no Reino de Hades, Dos Erros Hurunnos, Discurso lmperatiao, Acção t,,r. ' l,rrrrbónr travou conhecimento com os magos Persas, na
ludicial sobre o Pagnmento de Honorários, livros primeiro e segundo ,lrrrr.r ,l,r t'xPcclição de Xerxes contra a Hélade. O seu pai era Meân-
das Antiloglas. Estes são os seus livros 30. Também Platão escreveu ,lr r,,,lrr(' supcrava em riqueza muitos que viviam na Trácia; por
rr r rr.r r,l,rrlo Xcrxes em sua casa e ter recorrido a Presentes, collse-
, ,rrÍ l,.u,r o Í'ill-ro o ensino dos magos. Com efeito, os magos persas
23
,t,,, {', lrrr'.un ()s que não são persas/ a não ser por ordem do rei.
[Fr. 63 Rose.] r 'r \ rrrnl l)arece-me que Protágoras extraiu da educação persa a
IDK 68 A 9.] Nessa ocasião, Protágoras foi apreciado por Demócrito,
24

o que levt-ru a Llma aproxirnação entre ambos; cf. Rosalind Kent Spragr-re, Tle ,,1, r.r ( orrlr';iritt aos costumes de exprimir a incerteza sobre se os
Oltler Sopltists, cit., p.5. E também Epicuro, Ír.772, p. 153,2 Usener (citado ,l, rr r", t'ristt'rn ()u não existem. Os magos invocam os deuses como
por Untersteiner). r, lr nrrrrrlrrrs rrr-ls ritos que realizam secretamente, mas abolem a
25 Para
Classen ("The Study of Language amongst Socrates'Contempo- ,,! r,,r ptilrlica no divino, não queÍendo parecer ter poder a partir
rariesr, op. cit., p.37), Diógenes Laércio não quererá dizer que outros susten-
taram que Protágoras fez uma divisão do discurso em sete partes, mas que
essa divisão alternativa foi feita por outros autores.
[Fr. 8, Orat. Att.,II 155 b 36.] Alcidamante, discípulo de Górgias e um
26
. 'r r l,r,rru ltrrrdirtnentaimente dttas, as Antilogins e Verdode ou Disctrsos De-
pouco rnais velho c1o que Lsócrates, defendeu, na teoria e ntr prática, a improvi- ' tt,l,tt t ,. ( )r'r('sfi()lrLlcndo respectivamente às vertelltes destrutiva e cons-
(

sação nos discursos orais e escritos. Arnante da cornpilação de saberes diver- r,,rrr\,r (l,r :;r'u pt'r-rsarnent<l; muitos dos títulcls indicados pol Diógenes Laércio
sos, aquilo que dele conhecemos fez parte de uma obra de grande ampiitude, r !,, ,rr l,,rllt' tl.t primeira: cf. a nota introdutória a Protágoras.
intitulada Moooeíov. I l r' l(ril |HC 1 412.] Filócoro foi um importante historiador ateniense
l
[cf. A 1.] cf. B 4.
27 ,,,.,, rl l,t,r'r,oltat dc 340 a. C.), que deixou, entre olltras obras, uma História
2E
A leitura pública da obra em casa de Eurípides parece verosímil, dado i, \tr'ilrt'. r'ilr tlt'zttsscte rrolumes que cobria os acontecimentos ocorridos até
o relacionamento deste írltimo com os meios filosóficos de Atenas, sendo- ,, 1 'í,( Lr. ( .

-ihe atribuída, para lá da admiração por Heraclito de Éfeso, a convir,ência p. a90 N 2.]
ll(,';,r't'51'111,1.1o errn 410-8,
com Diógenes de Apolónia e com o sofista Protágoras; a personagem de ' lr{,rI lisl 2448 lt 71 11 1040.1
Megaclides não nos é corúrecida paralá desta referência. Veja-se em W. Nestle, rlttt t ir.(i.l
Historin del Espirito Griego, Barcelona, Editorial Ariel, 1981, pp. 1,62-165. 'l( I ll (r. Spcrrggl, Luv. reXv., pp.26 e segs.]
2e
lFr. 67; cf. DK 80 B 6.1 ' ll' ll Sr'lrciclr.t,cillcr.]
30 A enumeração dos títulos é incompleta, não constando deste elenco
lr I l)l( ()l-i A ().1
oblas corlro L)os f)crr.scs ctu VcrdndL,. Segundo Untersteiner, as obras de Protá- ' ( I rrol,r l. 12

ír.) (r, l
tlaí. (li) I'ot't'attsit rl isttl r') l«ri lt.trtitltt pt'los Att'trit'ttst's tlt'trltlos ,r.r.rlrl l,ot rlt't't'r'lo lrrilrlir'o, li'l.'' ()lirrrlríatl.r'"'. n,-,r,lcir.», Attltt
rr,r
()s scLrs tcrritílrios; scgrllrclo clizt'nt urrs, clt';'rois c1t'tt'r sicltl iLrlgatio, !,, t,t lli I)izr'rrr rlrrc l'}r'«rtiigtlr.rs lili ul.tt stlÍista rltltirc'ltl r-lc ctltrhc-
segundo parece a outros, ntt sequência dc uma votação, sclll tcr , rr,.nlor; lr,rstirntt'ProÍ'trrrr-los c cxtrctt-uu-trctttc cloquettte entre os
sido julgado. Ao deslocar-se entre as ilhas e o contineute, partr l,rrn, rro:; irr\zt'r.rtorcs ria ret(rrica, contemporâneo e concidadão do
fugir às trirremes dos Atenienses, dispersas por todos os mares, tr r, r, l)r,rrrocrito (por estc' foi-lhe transmitida a sua ciência) a6;
naufragou, quando navegava numa pequena embarcação. (a) Ele ,,,r'.t,r (lu('(,stc [)rotágoras acordolr com o seu discípulo Evatlo
foi o primeiro a introdLtziÍ o uso da discussão mediante remu- rrr I',r'.ull('r.rto clcntrrsiado elevado e sob uma condição impru-
neração 40 e transmitiu-o aos Gregos, facto que não é censurável, ,1, rtlr'. ,'1,'.'17.
pois esforçamo-nos mais pelas coisas que pagamos do que por
aquelas que obtemos gratuitamente. Platão, sabendo que Protá- ', l'lrrti)o, Protágoras,377 b. PnorÁconas: Eu segui um caminho
goras se exprimia num estilo solene e que se vangloriava de ser rr rtr'il,ull('ntc diferente destes 43 -
e reconheço que sou um sofista e
solene e que nalgumas ocasiões fazia discursos mais longos do ,lr, (., lrrt'rl homens49.Iá há muitos anos que estou neste ofício (se
que o conveniente, caracterizou o seu modo de se exprimir num lrrrl,rr lorlos os anos, não há dúvida de que já tenho muitos). Pela
longo mito 41. r,l,r,l. t.u poderia ser pai de todos vós, sem excluir ninguéms0.
rlrl,r () jovem, se te associares a mim, ser-te-á possível, logo no
3. Hesíquio, Ottomatólogo aos Escólios sobre Platão, Repúblicn, 600 c. ,lr.r |nl ([le comeÇares a conviver comigo/ regressares a casa melhor
42.
Protágoras era filho de Ártemon de Abdera Ele era carregador 1
,, ,r ( ,ll rsn disso e exactamente o mesmo no dia seguinte; e em cada

mas, tendo encontrado Demócrito, dedicou-se à filosofia e ocupou- ,lr,r ,.r,r'lt'-ii possível progredires para melhorsr.3lB d. Os outros
-se da retórica. Foi o primeiro que inventott os discursos erísticos rr,rl.rrrl rrrai os jovens. Tendo estes fugido das ciências, os seus mes-
e fez os discípulos pagarem Lrma remuneração de cem minas; por tr, ', rr.t'onduzem-nos às ciências contra a sua vontade, ensinando-
isso também recebeu a alcunha de Logos. Foram seus discípulos llr,', t ,ilculo, Astronomia, Geometria e Música. (E, ao mesmo tempo,
o orador Isócrates e Pródico de Ceos. Os seus livros foram queima-
dos pelos Atenienses. De facto, disse: "Não posso saber nem se
os deuses existem nem se não existem." a3 Platão escreveu um
diálogo sobre ele. Naufragou numa viagem de barco Para a Sicília,
I I t.t,1-441.1
tendo morrido com a idade de noventa anos, depois de ter exercido
aa.
1" ('1. 1; cf. nota 7.
a profissão de sofista durante quarenta anos. Suda, Protágoras I lll (r.^lCf. A 1: ao reclamar o pagamento dos honorários a Evatlo, este
,1,r,.rr,r rriio ter ainda rrencido nenhuma causa. Protágoras respondera que,
4. Eusébio, Crónica de lerónimo. Eurípides é considerado famo- , l r.rt lo Íosse vencido na discussão com ele, teria de lhe pagar e, se vencesse,
so... e tarnbém o sofista Protágoras, cujos livros os Atenienses quei- r, rr.r r)iu,rlrrclrte de lhe pagar. Cf. também B 6.
r''
ll)os sofistas disfarçados como Orfeu.]
r" I'r'oltigoras manifesta publicamente a sua concordâtrcia quanto ao facto
'1, ,.r trnr sofista (opoÀoyô te oo<protilq eivor) e de, enquanto tal, educar ho-
3e Filóstrato atribui às posições de Protágoras acerca dos deuses a pena ,,,, rr,. (xrri ncrtôeóerv ov0pónoq).
'r'^ (('na clescrita no Protágoras teria ocorrido numa reunião em casa de
que sobre ele recaiu, com ou sem juízo prévio.
a0
É de notar a ambivalência da referência ao ensino remunerado da arte
r rlr,r'', (llranLlo Protágclras se encontrava de visita a Atenas: cf. outras fontes
, r,,rrrlrrlit lq rnaiS CredíveiS: A 1, 2, 4,8,9.
de discussão, objecto de controvérsia e susceptível de incorrer no elogio e
na cerlsura dos coetâneos.
'r l'rotiigoras não sri defende a possibilidade clo ensino da excelência,
1' ,,,rr,),nrt()-l'('clarna clue é ttm bom mestre, garantinclo ao discípulo uma Pro-
[C 1.] Cf. Platão, Protágoras,320 c e segs. A respeito da conveniente
extensão clos cliscursos, veja-sã, no mesmo diáúgo, a iniervenção de Sóclattes , ,i".,,ro tliiiriir na aprenclizagen'r. A Íorma verbal usada, «enrôrôóvcrr», cor-
em 329 b e segs. (Cf. A 7.) i, .1,1r111lf ir ircÇão cle.se acrescentar», adequada à ideia de «progresso», para
42
Cf. A 1, a respeito da filiação de Protágoras. , ,1rr,rl ,r lingua grt'ga não dispõe de um vocábulo específico. Esta noçào e
43
Ul 4.1
, l,,rr.,r(l,r I,r'la ir[irnrirçiio cle clrrc taI cxpalrsão se realiza no sentido do melhor
a'l (Colrtaminaclo por A I c 3.) r,rl l() llrlÀtrov).

('.1 (t't

Você também pode gostar