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DIREITO ADMINISTRATIVO – BARNEY BICHARA


AULA 05 - DATA: 22.10.2021

9. A ALTERAÇÃO DOS CONTRATOS

A premissa continua sendo a mesma da Lei n. 8666, em que o contrato


pode ser alterado unilateralmente ou por acordo. Quando a alteração é
unilateral, ela terá natureza jurídica de cláusula exorbitante, uma das
prerrogativas que a Administração dispõe para realizar a finalidade do
contrato. Se a alteração é por acordo, o contratado tem que aceitar. Por
isso não é cláusula exorbitante.

Art. 124. Os contratos regidos por esta Lei


poderão ser alterados, com as devidas
justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
a) quando houver modificação do projeto ou
das especificações, para melhor adequação
técnica a seus objetivos;
b) quando for necessária a modificação do
valor contratual em decorrência de
acréscimo ou diminuição quantitativa de
seu objeto, nos limites permitidos por esta
Lei;

Com essa regra já estamos familiarizados porque essa regra é a mesma


da Lei n. 8666 (art. 65, I), sendo qualitativa ou quantitativa, com
alteração do valor do contrato, 25% para mais ou 25% para menos e, no
caso de reforma, até 50% para mais.

II - por acordo entre as partes:


a) quando conveniente a substituição da
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garantia de execução;
b) quando necessária a modificação do
regime de execução da obra ou do serviço,
bem como do modo de fornecimento, em
face de verificação técnica da
inaplicabilidade dos termos contratuais
originários;

É necessário acordo quando as partes chegam à conclusão que o regime


de execução não foi o adequado tecnicamente. Modo de execução é uma
das cláusulas necessárias em todo contrato, que define como o
contratado executará o objeto do contrato.

Em um contrato de fornecimento, o município de Belo Horizonte precisa


contratar a compra de 100.000 livros didáticos para o ensino
fundamental para serem distribuídos gratuitamente na rede municipal
de ensino, sendo essa a necessidade da Administração, só que ela não
quer os 100.000 livros imediatamente porque precisa ir distribuindo
mensalmente, então a Administração precisa de 10.000 livros por mês,
sendo parcelado em 10x o fornecimento da compra contratada.

c) quando necessária a modificação da


forma de pagamento por imposição de
circunstâncias supervenientes, mantido o
valor inicial atualizado e vedada a
antecipação do pagamento em relação ao
cronograma financeiro fixado sem a
correspondente contraprestação de
fornecimento de bens ou execução de obra
ou serviço.

É importante que se saiba que o contrato administrativo pode mudar


unilateralmente e por acordo, em que a Administração e o contratado
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decidem mudar. Lembra daquela garantia do inciso II, ‘a’, que o


contratado ofereceu no início, como em títulos da dívida pública? Se
o contratado queria substituir por fiança bancária, a Administração
consente porque qualquer um desses garante o contrato, mas a
Administração também pode negar.

O equilíbrio econômico-financeiro é a relação de adequação entre os


encargos do contratado e o pagamento feito pela Administração, sendo
direito subjetivo do contratado. Para manter esse equilíbrio econômico-
financeiro, existe a correção monetária, o reajuste do contrato, o índice e
as datas de reajustamento, mas tudo isso é cláusula necessária e já está
previsto.

Às vezes acontece o imprevisto, que ninguém esperava ou podia imaginar


e, diante do imprevisto, se precisa mudar o contrato para restabelecer o
equilíbrio econômico-financeiro. A Administração e o contratado, diante
de um evento superveniente que impacta sobre o contrato, conversam
sobre os rumos do contrato e como restabelecer o equilíbrio econômico-
financeiro, alterando esse contrato. Quando se mexe no equilibro
econômico-financeiro a partir de critérios pré estabelecidos
(reajustamento e correção monetária), não estamos mudando o contrato
porque são cláusulas necessárias. Agora aconteceu algo imprevisto que
impactou o contrato.

d) para restabelecer o equilíbrio econômico-


financeiro inicial do contrato em caso de força
maior, caso fortuito ou fato do príncipe ou em
decorrência de fatos imprevisíveis ou previsíveis
de consequências incalculáveis, que
inviabilizem a execução do contrato tal como
pactuado, respeitada, em qualquer caso, a
repartição objetiva de risco estabelecida no
contrato.
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Aqui é a teoria da imprevisão que muda o valor do contrato, porque na


alínea ‘c’ diz “quando necessária a modificação da forma de pagamento
por circunstâncias supervenientes”. Nesta alínea ‘d’, é para restabelecer
o equilíbrio econômico-financeiro, no valor, em casos de imprevisto que
inviabilize a execução do contrato como pactuado e respeitando a
repartição objetiva dos riscos estabelecidos no contrato.

A matriz de riscos, que estudamos anteriormente, também é cláusula


necessária, define a alocação de riscos, sendo alguns para a
Administração, alguns para o contratado e outros para ambos. A
Administração contrata e ocorre o imprevisto, o não imaginado (uma
pandemia) ou aquilo que poderia até ser imaginado, mas as
consequências são incalculáveis que impede a execução do contrato tal
como pactuado, mas, antes de fazerem as mudanças, deve se olhar a
matriz de riscos. Se o risco acontecido já tinha sido imaginado e definido
que, se ele eventualmente acontecesse, a responsabilidade seria do
contratado, então por esse custo a Administração não vai assumir,
porque as partes já tinham previsto as possibilidades, alocando os riscos,
e isso aconteceu.

§ 2º Será aplicado o disposto na alínea “d”


do inciso II do caput deste artigo às
contratações de obras e serviços de
engenharia, quando a execução for obstada
pelo atraso na conclusão de procedimentos
de desapropriação, desocupação, servidão
administrativa ou licenciamento ambiental,
por circunstâncias alheias ao contratado.

A lei só amplia a hipótese de alteração vista na alínea ‘d’, dizendo que às


vezes o contratado terá um prejuízo econômico não por evento
superveniente, imprevisível ou de consequências incalculáveis, mas em
razão de comportamentos administrativos alheios à Administração que
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contratou. A hipótese é a mesma, ela só foi decomposta porque na alínea


‘d’ se fala em fato superveniente, imprevisível ou de consequências
incalculáveis que caracterize caso fortuito, força maior ou fato do
príncipe.

No § 2º a lei fala que às vezes o que faz com que tudo dê errado não é um
fato imprevisível ou de consequências incalculáveis, mas sim um ato
administrativo. O Estado de São Paulo vai fazer uma obra muito
importante. Para isso, é necessária uma licença do município porque ele
é o ente político competente para definir questões de interesse local e a
obra do Estado de São Paulo vai atravessar o município de São Paulo.

O Estado licita para construir a obra e os procedimentos administrativos


são feitos para obter essa licença, mas a licença não sai. O cronograma
de execução previa, no exemplo dado, que a obra tinha que se iniciar em
1º de maio, mas isso não é possível porque a licença não saiu, porque a
desapropriação ou servidão não foram concluídas. O contratado está
esperando, com máquinas alugadas, funcionários que recebem por dia e
uma série de obrigações cujo decurso do tempo traz implicações e
prejuízos.

Embora esses fatos – a licença, a servidão ou desapropriação – não sejam


imprevisíveis ou de consequências incalculáveis, obstam o início da
execução, o cumprimento do contrato e desequilibra a equação
econômico-financeira entre encargos do contratado e pagamento feito
pela Administração.

Contudo, se a licença não saiu porque o contratado não pediu e estava


previsto no edital que encargo era do contratado, a culpa de estar dando
errado é do contratado e isso está caracterizando inadimplemento
contratual, sendo passível de punição.

Art. 125. Nas alterações unilaterais a que se refere o inciso I do caput do


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art. 124 desta Lei, o contratado será obrigado a aceitar, nas mesmas
condições contratuais, acréscimos ou supressões de até 25% (vinte e
cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato que se fizerem nas
obras, nos serviços ou nas compras, e, no caso de reforma de edifício ou
de equipamento, o limite para os acréscimos será de 50% (cinquenta por
cento). Igual na Lei n. 8666. Alteração unilateral quantitativa.

Art. 126. As alterações unilaterais a que se refere o inciso I [alteração


qualitativa] do caput do art. 124 desta Lei não poderão transfigurar o
objeto da contratação.

A Administração pode até alterar unilateralmente o contrato, para mudar


as especificações inicialmente definidas, de modo a melhor atender aos
objetivos de interesse público, mas não se pode transfigurar o objeto.
Imagine que a prefeitura de um município pequeno deseja comprar 100
bicicletas modernas e elétricas para que os agentes públicos de saúde
possam percorrer o município atendendo a população na assistência
básica da Saúde. O valor do contrato é de R$ 2 milhões. A Administração
faz a licitação, mas percebe que essas bicicletas elétricas não estão
funcionando porque quebram toda hora, o servidor reclama, não chega
no horário e diz ao contratado que vai mudar o objeto do contrato,
exigindo que lhe seja fornecido 10 veículos em vez de 10 bicicletas, no
mesmo valor. Não pode mudar o valor, muda a qualidade.

Art. 130. Caso haja alteração unilateral do


contrato que aumente ou diminua os
encargos do contratado, a Administração
deverá restabelecer, no mesmo termo
aditivo, o equilíbrio econômico-financeiro
inicial.

Já vimos essa norma várias vezes ao longo da lei. Nas cláusulas


exorbitantes, tinha essa mesma regra dizendo que sempre que houver
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alteração unilateral, haverá o reequilíbrio econômico-financeiro. A lei está


dizendo que isso se dará no mesmo ato, no mesmo termo aditivo que
prevê o acréscimo ou supressão deve também prever a questão
relacionada ao equilíbrio econômico-financeiro.

Art. 131. A extinção do contrato não


configurará óbice para o reconhecimento do
desequilíbrio econômico-financeiro,
hipótese em que será concedida
indenização por meio de termo
indenizatório.

A lei agora fala em termo indenizatório, sendo o instrumento através do


qual a Administração paga o contratado para restabelecer o equilíbrio
econômico-financeiro quando o contrato já tiver terminado. Ao longo da
execução, se tem o direito a essa manutenção, mas, terminado o contrato,
também se tem direito à essa manutenção e a Administração vai pagar
através de termo de indenização. A forma de pagar é diferente porque o
contrato acabou.

Parágrafo único. O pedido de


restabelecimento do equilíbrio econômico-
financeiro deverá ser formulado durante a
vigência do contrato e antes de eventual
prorrogação nos termos do art. 107 desta
Lei.

A lei diferencia pedir de ter direito. Direito o contratado continua a ter e


esse direito se materializará através de um termo de indenização ou
termo indenizatório, mesmo o contrato tendo terminado. Formular a
pretensão, pedir, precisa ser no curso da execução do contrato.

Art. 133. Nas hipóteses em que for adotada


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a contratação integrada ou semi-


integrada, é vedada a alteração dos valores
contratuais, exceto nos seguintes casos:

Já vimos o que é contratação integrada e semi-integrada. Quando o modo


de execução for contratação integrada, aquela em que se contrata o
licitante para fazer do início o projeto e até a conclusão, ou semi-
integrada quando se contrata o licitante para fazer do projeto executivo
até o final, nesse caso não se pode mudar o valor do contrato, salvo:

I - para restabelecimento do equilíbrio


econômico-financeiro decorrente de caso
fortuito ou força maior;

II - por necessidade de alteração do projeto


ou das especificações para melhor
adequação técnica aos objetivos da
contratação, a pedido da Administração,
desde que não decorrente de erros ou
omissões por parte do contratado,
observados os limites estabelecidos no art.
125 desta Lei;

III - por necessidade de alteração do projeto


nas contratações semi-integradas, nos
termos do § 5º do art. 46 desta Lei;

IV - por ocorrência de evento superveniente


alocado na matriz de riscos como de
responsabilidade da Administração.

Em todos esses casos, é possível mudar o valor do contrato mesmo


quando o regime de execução é integrado ou semi-integrado. O último
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inciso é ótimo para compreendermos, ao longo da lei, o que é matriz de


riscos. O art. 6º conceitua matriz de riscos, depois a lei fala em alocação
de riscos, em equilíbrio econômico-financeiro e sempre insistindo na
matriz de riscos porque é ela que define o parâmetro inicial do contrato
para a manutenção do equilíbrio e, além de existir a matriz de riscos, se
distribui os riscos.

10. A EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

Na Lei n. 8666, esse tema está no art. 79. O contrato administrativo


termina quando ele cumpre o objeto ou quando se termina o prazo
contratualmente definido. É a forma normal de os contratos acabarem.
Se extinguem naturalmente porque houve conclusão do objeto ou
advento do termo. O contrato se extingue por anulação de ofício ou a
requerimento. Toda anulação pressupõe ilegalidade no procedimento. O
contrato acaba por ato unilateral da Administração, por rescisão
unilateral que tem natureza jurídica de cláusula exorbitante.

A rescisão, nesse caso, pode ser por acordo entre a Administração e o


contratado. Pode ser ainda judicial, se não tiver acordo. Assim como na
Lei n. 8666, a nova lei começa esse ponto definindo os motivos da
rescisão. Esse é um artigo ótimo para se estudar o ato administrativo
(sujeito, forma, objeto, motivo e finalidade).

Estamos agora tratando do ato de rescisão, que precisa ter esses cinco
elementos. O que a lei nos apresenta agora são os motivos (elemento do
ato administrativo) que a Administração tem para praticar o ato
administrativo de rescisão. Artigo 137.

Sabemos que o imprevisto acontece, fatos imprevisíveis ou de


consequências incalculáveis, só que esses fatos, quando eles impactam
sobre o contrato, eles podem gerar inadimplemento total ou
inadimplemento parcial. Com o imprevisto tendo acontecido, não dá para
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executar o contrato. O imprevisto gera inadimplemento total, em que o


contrato acaba, só que há casos em que o imprevisto, quando impacta
sobre o contrato, gerará inadimplemento parcial em que o contratado, em
razão do imprevisto, ainda consegue executar o contrato, mas é
necessário rever o equilíbrio econômico-financeiro, porque o contratado
não consegue executar o contrato com o valor inicialmente pactuado, mas
consegue fazer se for alterado.

Essa hipótese possui ainda mais discricionariedade (está no motivo do


ato administrativo, na valoração do que está definido na lei) do que as
demais. Essa é a maior das discricionariedades porque se a autoridade
máxima falar que precisa rescindir porque tem interesse público, tem que
rescindir. Interesse público será definido pela autoridade, a partir do
juízo de oportunidade e conveniência.

Todos os atos da Administração, inclusive os discricionários, podem ser


apreciados pelo Poder Judiciário. O contratado pode se ver rescindido por
um motivo de interesse público que não é razoável, concreto ou real. A
Administração diz que para ela é, então está rescindido. O contratado, se
quiser, pode recorrer ao Poder Judiciário e pedir uma anulação dessa
rescisão porque o motivo de interesse público ali indicado é
insubsistente.

No que tange o § 2º do artigo 137, o contratado terá direito à extinção


do contrato nas seguintes hipóteses neste artigo descritas. Aqui o motivo
que enseja a rescisão é em favor do contratado, em que ele dirá que tal
fato aconteceu e agora ele, contratado, que não quer, nas seguintes
hipóteses:

I - supressão, por parte da


Administração, de obras, serviços ou
compras que acarrete modificação do
valor inicial do contrato além do limite
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permitido no art. 125 desta Lei;

Já vimos várias vezes as cláusulas exorbitantes, em que há alteração


unilateral. A Administração pode alterar os quantitativos inicialmente
pactuados (25% mais ou para menos e, nos casos de reforma, 50% para
mais) e o contratado deve aceitar, mas a lei fala que, se a Administração
diminuir os quantitativos inicialmente pactuados, se o contratado quiser
rescindir, ele rescinde. Se ele não quiser rescindir, não rescinde e vai
fornecer o que a Administração pediu e receber o valor correspondente.

II - suspensão de execução do contrato,


por ordem escrita da Administração, por
prazo superior a 3 (três) meses;

Na Lei n. 8666 (art. 78, XIV), era de 120 dias intercalados ou contínuos.
Agora a lei fala em 3 meses. A Administração contrata uma empresa para
fornecimento de qualquer coisa. No meio do caminho, a Administração
suspende a execução porque não precisa do objeto do contrato naquele
momento, considerando que não tem dinheiro porque a arrecadação caiu
e, como a Administração tem que pagar à medida em que se executa o
contrato, vai ter dificuldades para pagar, então, por questões de
organização financeira, suspende a execução do contrato. Se a suspensão
for além de 3 meses, o contratado pode querer a rescisão. Aqui, temos
uma faculdade do contratado, de poder rescindir ou aguardar a
normalização da situação para que o contrato continue.

III - repetidas suspensões que totalizem


90 (noventa) dias úteis,
independentemente do pagamento
obrigatório de indenização pelas
sucessivas e contratualmente
imprevistas desmobilizações e
mobilizações e outras previstas;
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Cuidado, no inciso II se fala de 3 meses consecutivos e aqui se fala em


90 dias úteis nos casos de suspensões sucessivas, diferentemente da Lei
n. 8666. Somando o número de dias úteis em que o contrato ficou
suspenso em razão dessas várias ordens de suspensão, deu mais de 90
dias úteis.

Assim, insatisfeito, o contatado poderá extinguir o contrato. Para fazer a


reforma de um prédio público, o contratado tem que ficar se adequando
ao cronograma e às orientações do órgão porque o prédio que está sendo
reformado não está vazio, continua funcionando porque é a sede da
Administração.

Em várias situações, a Administração suspende porque vai ser ponto


facultativo para o servidor, apesar de ser dia útil, e não terá expediente
por dois dias úteis. Como não terá ninguém no prédio, se suspende a
execução do contrato da reforma.

Depois, a Administração suspende a execução do contrato novamente por


3 semanas, que tem dias úteis, porque não se conseguiu desocupar a
parte do prédio em que a reforma começaria. Se essas suspensões
totalizarem mais de 90 dias úteis, o contratado pede à Administração
para rescindir e ser indenizado pelos custos para mobilizar e desmobilizar
(coisas e pessoas) a execução do contrato.

IV - atraso superior a 2 (dois) meses,


contado da emissão da nota fiscal, dos
pagamentos ou de parcelas de
pagamentos devidos pela Administração
por despesas de obras, serviços ou
fornecimentos;

O contratado presta a parte dele e a Administração não paga, só que na


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Lei n. 8666 (art. 78, XV) fala em 90 dias. Aqui a lei muda a sistemática
falando em 2 meses, a contar da emissão da nota fiscal. A Administração
recebe a nota fiscal e não paga. Depois de 2 meses que isso aconteceu, o
contratado pode querer a rescisão do contrato. O contratado tem direito
ao recebimento porque ele prestou, mas também tem direito a pedir
rescisão porque a Administração não pagou no prazo. Se o contratado é
um licitante habitual que sabe que o Estado tarda, mas não falha, ele
emite a nota fiscal e, passados os 2 meses, nada faz porque sabe que logo
deve receber.

V - não liberação pela Administração, nos


prazos contratuais, de área, local ou
objeto, para execução de obra, serviço ou
fornecimento, e de fontes de materiais
naturais especificadas no projeto,
inclusive devido a atraso ou
descumprimento das obrigações
atribuídas pelo contrato à Administração
relacionadas a desapropriação, a
desocupação de áreas públicas ou a
licenciamento ambiental.

Reduzindo a hipótese de rescisão em favor do contratado, que está parado


esperando, mas não pode começar o contrato porque a Administração
não lhe entregou a área, porque a área está ocupada por posseiros
invasores e o Estado ainda não conseguiu os retirar de lá e nem vai
conseguir, porque tem milhares de famílias morando lá.

§ 3º As hipóteses de extinção a que se


referem os incisos II, III e IV do § 2º deste
artigo observarão as seguintes
disposições:
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Essas são as hipóteses de exceção do contrato não cumprido. Em


condições normais ‘de temperatura e pressão’, o contratado, depois que
a Administração não o pagar em 2 meses, pode suspender a execução do
contrato. Se mudaram as condições, o contratado vai ter que continuar
executando o contrato, afinal estamos em guerra, vivemos uma grave
perturbação da ordem, estamos diante de calamidade pública, etc.

I - não serão admitidas em caso de


calamidade pública, de grave perturbação
da ordem interna ou de guerra, bem
como quando decorrerem de ato ou fato
que o contratado tenha praticado, do
qual tenha participado ou para o qual
tenha contribuído;

Podemos visualizar aqui que nesse inciso, além de situações anormais,


há o venire contra factum proprium. Quando alguém pratica alguma
coisa, tem uma conduta, essa conduta concorre para o seu prejuízo e
depois essa pessoa alega estar tendo prejuízo. A pessoa colabora, de
algum modo, para o dano acontecer e o Direito veda condutas
contraditórias.

II - assegurarão ao contratado o direito


de optar pela suspensão do cumprimento
das obrigações assumidas até a
normalização da situação, admitido o
restabelecimento do equilíbrio
econômico-financeiro do contrato, na
forma da alínea “d” do inciso II do caput
do art. 124 desta Lei.

Já falamos sobre isso várias vezes anteriormente. A Administração não


paga, o contratado continua a executar em vez de pedir a rescisão porque
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ele acha melhor, apesar das suspensões. O contratado tem o direito de


“segurar a onda” ou pedir a rescisão. Se o contratado decidir “segurar a
onda”, mesmo diante do inadimplemento da Administração, ele fará jus
ao restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

§ 4º Os emitentes das garantias previstas


no art. 96 desta Lei deverão ser
notificados pelo contratante quanto ao
início de processo administrativo para
apuração de descumprimento de
cláusulas contratuais.

Estão lembrados da hipótese do step-in right, em que a Administração


contrata e exige seguro-garantia e exige que a seguradora assine o
contrato como interveniente e, se der errado, quem vai executar esse
contrato até o final será a seguradora? A lei vai dizer que, quando isso
acontece, a Administração deve dar o contraditório à seguradora porque
se o contratado não cumprir a obrigação, quem vai ter que cumprir é a
seguradora e a Administração dá início a um procedimento
administrativo dizendo ao contratado que ele descumpriu o contrato,
notificando o interveniente porque ele é pessoa diretamente interessada.

Art. 138. A extinção do contrato poderá


ser:
I - determinada por ato unilateral e
escrito da Administração, exceto no caso
de descumprimento decorrente de sua
própria conduta;
II - consensual, por acordo entre as
partes, por conciliação, por mediação ou
por comitê de resolução de disputas,
desde que haja interesse da
Administração;
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Aqui a lei também trouxe um ponto novo, dizendo que o contrato


administrativo pode ser extinto por ato unilateral da Administração
(cláusula exorbitante), quando ocorrer descumprimento de contrato. E se
o descumprimento de contrato se deu por conduta da
Administração? Ela não vai rescindir unilateralmente.

Pode ser rescisão por acordo, por distrato e isso é novidade porque a lei
previu aqueles instrumentos alternativos de solução de disputas.
Estamos com problema no contrato, podendo ser chamado um
conciliador para ele tentar harmonizar as divergências entre as partes,
fazer um acordo e extinguir o contrato. Pode ser através do comitê de
disputas, da mediação, da conciliação, etc. A consensualidade e a
participação são tendências na Administração nas decisões
administrativas em relação aos administrados. O contratado participa da
decisão final, que não é vertical e imperativa, é consensual e dialógica.

III - determinada por decisão arbitral, em


decorrência de cláusula compromissória
ou compromisso arbitral, ou por decisão
judicial.

Sempre se discutiu se cabia ou não cabia arbitragem no âmbito da


Administração Pública. A lei de arbitragem (Lei n. 9606/98) foi alterada
recentemente dizendo que a Administração pode usar a arbitragem,
embora já existisse há algum tempo a previsão na lei de arbitragem para
a Administração se utilizar dela, a Administração ficava receosa, sem
saber como funcionava bem, só que as legislações têm mudado e a lei da
desapropriação, a lei de PPP, a lei de concessões e agora a nova lei de
licitações todas têm arbitragem e a decisão do árbitro tem natureza
jurisdicional porque é título executivo e não depende de homologação.

§ 2º Quando a extinção decorrer de culpa


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exclusiva da Administração, o
contratado será ressarcido pelos
prejuízos regularmente comprovados que
houver sofrido e terá direito a:
I - devolução da garantia;
II - pagamentos devidos pela execução do
contrato até a data de extinção;
III - pagamento do custo da
desmobilização.

O contrato acabou. Quem deu causa à extinção foi o contratado? Não.


Então, a Administração reconhece que a culpa não foi do contratado,
devolvendo a ele a garantia, pagando o que ele executou e ainda não havia
sido pago e ainda será indenizado pelos custos da mobilização e
desmobilização. Se a extinção decorrer de culpa do contratado, a
Administração retém a garantia dada, não vai pagar naquele momento o
que foi executado e ainda não havia sido pago (considerando que ainda
não se sabe a extensão dos prejuízos causados pelo contratado), vai
ocupar provisoriamente os bens do contratado para garantir a
continuidade do contrato.

Art. 139. A extinção determinada por ato


unilateral da Administração poderá
acarretar, sem prejuízo das sanções
previstas nesta Lei, as seguintes
consequências:
I - assunção imediata do objeto do
contrato, no estado e local em que se
encontrar, por ato próprio da
Administração;

Essa hipótese ocorre quando a Administração extingue o contrato porque


a culpa foi do contratado e a primeira consequência é assumir o objeto
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do contrato, no estado em que estiver, de forma auto executória.

II - ocupação e utilização do local, das


instalações, dos equipamentos, do
material e do pessoal empregados na
execução do contrato e necessários à sua
continuidade;

III - execução da garantia contratual


para:
a) ressarcimento da Administração
Pública por prejuízos decorrentes da não
execução;
b) pagamento de verbas trabalhistas,
fundiárias e previdenciárias, quando
cabível;
c) pagamento das multas devidas à
Administração Pública;
d) exigência da assunção da execução e
da conclusão do objeto do contrato pela
seguradora, quando cabível;

O contratado descumpriu o contrato, a Administração assumiu o objeto


do contrato. Se houver interesse público para garantir a continuidade do
serviço, ocupa provisoriamente os bens e executa a garantia. A velha lei
não falava disso. A nova lei fala o que a Administração vai fazer com essa
garantia, nesse inciso III.

IV - retenção dos créditos decorrentes do


contrato até o limite dos prejuízos
causados à Administração Pública e das
multas aplicadas.
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A Administração vê que o contratado já executou, mas não vai pagar, vai


reter os pagamentos porque ainda não sabe a extensão dos prejuízos
causados pelo contratado. Se o prejuízo causado for igual ao que foi
executado e não foi pago, fica quite. Se o prejuízo causado é menor do
que o devido pela Administração, a Administração vai descontar uma
parte e pagar a outra. Se não der, ficará sendo insuficiente o valor.

§ 1º A aplicação das medidas previstas


nos incisos I e II do caput deste artigo
ficará a critério da Administração, que
poderá dar continuidade à obra ou ao
serviço por execução direta ou indireta.

§ 2º Na hipótese do inciso II do caput


deste artigo, o ato deverá ser precedido
de autorização expressa do ministro de
Estado, do secretário estadual ou do
secretário municipal competente,
conforme o caso.

Tem que decorar: descumpriu o contrato, a Administração pode fazer as


seguintes coisas:
A. Assumir imediatamente;
B. Ocupar provisoriamente os bens do contratado para garantir a
continuidade do contrato, que pode até acontecer, mas depende de ato
do ministro, na União. Do secretário de Estado, nos Estados. Do
secretário municipal, nos Municípios porque a medida afeta o direito de
propriedade

11. O RECEBIMENTO DO OBJETO DO CONTRATO

O recebimento pode ser provisório ou definitivo.


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Art. 140. O objeto do contrato será


recebido:
I - em se tratando de obras e serviços:
a) provisoriamente, pelo responsável por
seu acompanhamento e fiscalização,
mediante termo detalhado, quando
verificado o cumprimento das exigências
de caráter técnico;
b) definitivamente, por servidor ou
comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo detalhado
que comprove o atendimento das
exigências contratuais;

São duas as diferenças entre o provisório e o definitivo: quem recebe e o


ato que materializa esse recebimento. Será provisório quando o agente de
fiscalização ou o que acompanha a execução do contrato der o “ok”, que
está tudo certo e foi tudo feito.

O servidor incumbido de receber vai fazer o recebimento definitivo e vai


conferir se o que foi entregue está de acordo com o estabelecido no
contrato porque no recebimento provisório, o que o fiscal do contrato faz
é verificar se o objeto do contrato cumpre as especificações técnicas, só
que o contrato vai além de especificações técnicas, por isso a lei divide
em provisório e definitivo.

II - em se tratando de compras:
a) provisoriamente, de forma sumária,
pelo responsável por seu acompanhamento
e fiscalização, com verificação posterior da
conformidade do material com as exigências
contratuais;
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b) definitivamente, por servidor ou


comissão designada pela autoridade
competente, mediante termo detalhado que
comprove o atendimento das exigências
contratuais.

É igual ao inciso de obras e serviços, o que a lei faz é dividir em incisos


diversos.

§ 2º O recebimento provisório ou
definitivo não excluirá a
responsabilidade civil pela solidez e pela
segurança da obra ou serviço nem a
responsabilidade ético-profissional pela
perfeita execução do contrato, nos
limites estabelecidos pela lei ou pelo
contrato.

Não precisava desse parágrafo, mas a lei disse ao contratado que a


Administração vai até receber o objeto do contrato, definitivamente, mas
o contratado continua sendo responsável civilmente (reparação de danos)
pelos vícios redibitórios, pelos vícios ocultos que a Administração não
poderia prever estarem presentes. O recebimento do objeto do contrato
pela Administração não afasta a responsabilidade civil do contratado.

§ 5º Em se tratando de projeto de obra, o


recebimento definitivo pela
Administração não eximirá o projetista
ou o consultor da responsabilidade
objetiva por todos os danos causados por
falha de projeto.

Veja uma norma específica para um contrato específico, o contrato de


22

projeto de obra. A Administração precisa construir uma ponte, a primeira


coisa a ser feita é contratar alguém para fazer o projeto. Depois, licita de
novo para decidir quem vai executar o projeto. A lei diz que nos projetos
de obra, quem fez o projeto responde objetivamente pelos danos
decorrentes da falha do projeto.

§ 6º Em se tratando de obra, o
recebimento definitivo pela
Administração não eximirá o contratado,
pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos,
admitida a previsão de prazo de garantia
superior no edital e no contrato, da
responsabilidade objetiva pela solidez e
pela segurança dos materiais e dos
serviços executados e pela
funcionalidade da construção, da
reforma, da recuperação ou da ampliação
do bem imóvel, e, em caso de vício,
defeito ou incorreção identificados, o
contratado ficará responsável pela
reparação, pela correção, pela
reconstrução ou pela substituição
necessárias.

A lei, no § 5º, falou do projeto da obra, em que o recebimento definitivo


desse projeto da obra não exime a responsabilidade objetiva do projetista,
do contratado.

O § 6º fala da obra, em que a Administração vai receber a obra


definitivamente, faz um laudo com tudo “ok” hoje.

Nesse ínterim, temos que a lei diz que isso não exclui a responsabilidade
do contratado pelos vícios redibitórios/ocultos eventualmente existentes
23

por um prazo mínimo de 5 anos, continuando obrigado a resolver os


problemas. O edital pode estabelecer prazo de 10 anos.

12. O PAGAMENTO DOS CONTRATOS

Lembre-se das regras que já estudamos sobre pagamento, que serão


agora detalhadas e especificadas.

Art. 141. No dever de pagamento pela


Administração, será observada a ordem
cronológica para cada fonte diferenciada
de recursos, subdividida nas seguintes
categorias de contratos:
I - fornecimento de bens;
II - locações;
III - prestação de serviços;
IV - realização de obras.

O que a lei está dizendo é que a Administração deve classificar os


contratos para fins de pagamento e pagar os contratados na ordem
cronológica dos contratos e de acordo com as categorias dos contratos,
devendo haver isonomia e impessoalidade.

§ 1º A ordem cronológica referida no


caput deste artigo poderá ser alterada,
mediante prévia justificativa da
autoridade competente e posterior
comunicação ao órgão de controle
interno da Administração e ao tribunal
de contas competente, exclusivamente
nas seguintes situações:

Esse vai ser outro artigo que os alunos devem memorizar. A


24

Administração vai pagar alguém que está lá atrás na frente de outro que
estava mais à frente. Isso é possível excepcionalmente, se houver
justificativa e se a autoridade competente avisar ao Tribunal de Contas e
à Controladoria interna de auditoria que pagou fora da ordem, ou seja,
para pagar fora da ordem cronológica de apresentação, a autoridade tem
que justificar e contar que fez assim, nas seguintes situações:

I - grave perturbação da ordem, situação


de emergência ou calamidade pública;
II - pagamento a microempresa, empresa
de pequeno porte, agricultor familiar,
produtor rural pessoa física,
microempreendedor individual e
sociedade cooperativa, desde que
demonstrado o risco de descontinuidade
do cumprimento do objeto do contrato;
III - pagamento de serviços necessários
ao funcionamento dos sistemas
estruturantes, desde que demonstrado o
risco de descontinuidade do
cumprimento do objeto do contrato;
IV - pagamento de direitos oriundos de
contratos em caso de falência,
recuperação judicial ou dissolução da
empresa contratada;
V - pagamento de contrato cujo objeto
seja imprescindível para assegurar a
integridade do patrimônio público ou
para manter o funcionamento das
atividades finalísticas do órgão ou
entidade, quando demonstrado o risco de
descontinuidade da prestação de serviço
público de relevância ou o cumprimento
25

da missão institucional.

Nesses casos, a Administração determina o pagamento daquele


contratado, mesmo que fora da ordem cronológica conforme manda a lei,
devendo avisar à Controladoria e ao Tribunal de Contas que assim o fez.
Diante de calamidade, deve-se priorizar os contratos da Saúde e, dentro
da Saúde, deve se priorizar aquele tipo de contrato específico, que deve
receber primeiro, para que não haja problemas na continuidade do
contrato. A Administração paga a microempresa primeiro porque, se ela
não receber, ela pode quebrar.

No inciso V, para a autarquia prestar os serviços para o qual foi criada,


precisa estruturar uma série de coisas e fazer vários contratos, se não
tiver aquele contrato, não consegue fazer o objetivo, então se dá
prioridade ao pagamento daquele contrato. Avisa o Tribunal de Contas e
a Controladoria.

É possível pagar esse contrato primeiro, apesar de ele estar lá atrás


porque se não pagar esse contrato, se corre o risco de descontinuidade
de serviços da autarquia – é a atividade-fim do órgão/entidade.

§ 2º A inobservância imotivada da ordem


cronológica referida no caput deste
artigo ensejará a apuração de
responsabilidade do agente responsável,
cabendo aos órgãos de controle a sua
fiscalização.

§ 3º O órgão ou entidade deverá


disponibilizar, mensalmente, em seção
específica de acesso à informação em seu
sítio na internet, a ordem cronológica de
seus pagamentos, bem como as
26

justificativas que fundamentarem a


eventual alteração dessa ordem.

Esse § 3º é importantíssimo porque isso é publicidade, é uma formalidade


imposta expressamente pela lei para garantir a transparência, a
publicidade e possibilitar o controle da atividade administrativa. Então,
tem que estar previsto no site os contratos, divididos pelas categorias com
as ordens de pagamento e a justificativa se alguém recebeu fora da ordem
de pagamentos.

Art. 144. Na contratação de obras,


fornecimentos e serviços, inclusive de
engenharia, poderá ser estabelecida
remuneração variável vinculada ao
desempenho do contratado, com base em
metas, padrões de qualidade, critérios de
sustentabilidade ambiental e prazos de
entrega definidos no edital de licitação e
no contrato.

A lei disse que é possível pagamento variável, a considerar o desempenho


do contratado. Pode ter um acréscimo de valor se o contratado conseguir
concluir o contrato na metade do tempo, por exemplo

§ 1º O pagamento poderá ser ajustado em


base percentual sobre o valor
economizado em determinada despesa,
quando o objeto do contrato visar à
implantação de processo de
racionalização, hipótese em que as
despesas correrão à conta dos mesmos
créditos orçamentários, na forma de
regulamentação específica.
27

Na prestação de serviços de consultoria, em razão dos processos de


gestão estabelecidos, terá uma economia de 40% dos gastos. A empresa
diz que nada precisa ser pago agora, porque só poderá ser pago depois
que se implantar os processos e a Administração vê a economia que esse
processo trouxe.

A Administração contrata para modernizar o fluxo de documentos na


repartição e o contratado tem certeza de que, se a Administração seguir
as orientações, terá uma economia de 30% do que atualmente gasta e a
remuneração será 1% desses 30% que serão economizados.

§ 2º A utilização de remuneração variável


será motivada e respeitará o limite
orçamentário fixado pela Administração
para a contratação.

Estão lembrados que a cláusula necessária, a indicação da dotação


orçamentária, em todo contrato tem que vir expresso a origem da
dotação orçamentária? É possível remuneração variável em razão do
desempenho do contratado? Sim, é possível, mas tem que ser motivado.
Tem que ver se o pagamento variável está dentro do orçamento
estabelecido no contrato.

Art. 145. Não será permitido pagamento


antecipado, parcial ou total, relativo a
parcelas contratuais vinculadas ao
fornecimento de bens, à execução de
obras ou à prestação de serviços.

Essa é a regra, a Administração só paga depois que receber o objeto do


contrato. Ela vai realizando as medições ao longo da execução do
contrato. Ela mede, confere e paga, mas só paga depois que receber.
28

§ 1º A antecipação de pagamento
somente será permitida se propiciar
sensível economia de recursos ou se
representar condição indispensável para
a obtenção do bem ou para a prestação
do serviço, hipótese que deverá ser
previamente justificada no processo
licitatório e expressamente prevista no
edital de licitação ou instrumento formal
de contratação direta.

A lei fala que é proibido pagamento antecipado, mas excepcionalmente se


a Administração justificar, colocar no edital da licitação e colocar no
contrato, é possível o pagamento antecipado, quando houver vantagem
para a Administração, como se fosse pagamento à vista.

§ 2º A Administração poderá exigir a


prestação de garantia adicional como
condição para o pagamento antecipado.

Pagar antecipadamente era risco, então a lei fala que, para acautelar a
Administração em razão desse risco, é possível que a Administração exija
uma garantia adicional que não é aquela garantia do contrato. Aqui, são
garantias da entrega porque já foi pago.

13. DA NULIDADE DOS CONTRATOS

A licitação é um procedimento administrativo, o contrato é um ato


administrativo bilateral. Então podemos ter ilegalidades na licitação e no
contrato. Estamos aqui nas nulidades do contrato porque as nulidades
da licitação já foram estudadas em tópico próprio. Essa é uma das coisas
mais importantes da nova lei. Art. 147.
29

A lei fala que antes de a Administração anular o contrato porque tem


alguma ilegalidade, primeiro deve se verificar se aquela ilegalidade pode
ser corrigida, se é sanável. Caso não seja e a ilegalidade for insanável,
ainda assim a lei diz à Administração que ela, diante disso, antes de
mandar anular o contrato, tem que se considerar o quanto previsto nos
incisos, como o impacto social (construção de ponte que liga uma cidade
a outra) e o impacto ambiental, por exemplo.

Além da ilegalidade, existe a realidade e não pode a autoridade


simplesmente dar uma “canetada” anulando porque é ilegal,
considerando que pessoas serão demitidas, a obra ficará inacabada, a
população não vai conseguir usufruir da ponte, correndo risco, vai ter
custos de manutenção e para não deteriorar. Antes de determinar a
anulação, a Administração deve tentar resolver. Se não for sanável, a
Administração deve, antes de decidir, considerar todos esses fatores.

A Administração, constatando a ilegalidade e sendo insanável, deve


considerar todos os fatores acima, ou seja, a realidade em volta do
contrato. Se a Administração perceber que anular aquele contrato vai ser
prejudicial ao interesse público, a Administração reconhece que o
contrato é ilegal, mas há interesse público na manutenção dele e ele vai
continuar. Enquanto isso, vai se responsabilizar quem fez errado e
aplicar as penalidades contratuais e legais cabíveis, pedindo, ainda,
indenização. Art. 148.

A anulação do contrato, de que trata este art. 148, ocorre quando a


Administração pondera todos os elementos analisados anteriormente e,
mesmo assim, decide anular. A lei diz que a anulação do contrato produz
efeitos ex tunc, apagando efeitos pretéritos e impede efeitos futuros. Ou
mantém o contrato com a ilegalidade para ser corrigida e os responsáveis
punidos, ou anula. Se anular, efeitos ex tunc.

A Administração determina que o contrato é ilegal, que vai anular esse


30

contrato, só que o contratado vai continuar executando o contrato tido


por ilegal por um período suficiente para a Administração escolher outra
pessoa que irá continuar esse contrato. O período é de 6 meses, podendo
ser prorrogado uma única vez.

Ou seja, o ato de anulação produz eficácia futura. Quando anulamos,


reconhecemos a invalidade e os efeitos do reconhecimento da ilegalidade
produzem efeitos futuros, até quando a Administração achar outra
pessoa para substituir e o contrato continuar – no máximo de 6 meses,
podendo ser prorrogado. Art. 149

A anulação do contrato produz efeitos ex nunc para o terceiro de boa-fé


(aquele que não deu causa à ilegalidade), em que o ato produz efeitos do
dia que ele foi feito para frente. Tudo o que já aconteceu é mantido. Art.
150.

A lei já falou isso várias vezes e está falando de novo, só que a lei traz
uma consequência para isso, a de nulidade e responsabilização. Vimos
que é cláusula necessária de todo contrato a indicação da dotação
orçamentária para o pagamento do contrato. A lei está dizendo que, se
não tiver dotação orçamentária e o orçamento, o contrato é ilegal e, além
de ilegal, a autoridade que deu causa vai ser responsabilizada.

14. MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

A nova lei de licitações e contratos traz os chamados meios alternativos


de resolução de controvérsias. A ideia é simples, a de que o Judiciário
não dá conta de resolver tudo o que tem que ser resolvido. Por isso, muita
coisa fica parada. A lei previu que, na aplicação da nova lei, é possível
que as partes convencionem meios alternativos de disputa. Em vez de,
quando der errado, procurar o Judiciário, procure meios alternativos
para resolver o conflito. Art. 151
31

Só podemos ter meios alternativos de resolução de disputas para direitos


patrimoniais disponíveis.

15. DAS INFRAÇÕES E SANÇÕES ADMINISTRATIVAS


Agora, chegamos em uma parte muito importante que é a de penalidades
que a Administração pode aplicar. Vimos que uma das cláusulas
exorbitantes é o poder de aplicar sanções ao contratado de forma auto
executória, abrindo procedimento administrativo, garante a ampla defesa
e o contraditório e aplica a penalidade.

Diante do inadimplemento total ou parcial do contrato, a Administração


vai apurar a ilegalidade, garantir o devido processo legal e aplicar a
penalidade cabível. As penalidades são as mesmas da Lei n. 8666:
advertência, multa, suspensão de licitar e contratar e declaração de
inidoneidade. Art. 156 e parágrafos.

Aqui a multa é penalidade administrativa. Abre o procedimento com


ampla defesa e contraditório e constata que se descumpriu o contrato.
Será aplicada multa, no valor de 0,5% a 30% do valor do contrato.

A Administração pode advertir e multar, pode suspender de licitar e


contratar e multar, pode declarar a inidoneidade e multa. Portanto, temos
que é possível cumular todas as penalidades com multa. Só não podemos
cumular multa com multa.

São penalidades administrativas pelo descumprimento da lei de licitações


e contratos: advertência, multa, suspensão de licitar e contratar e
declaração de inidoneidade. As penalidades aqui são as mesmas, mas as
regras de aplicação são diferentes.

§ 4º A sanção prevista no inciso III do


caput deste artigo será aplicada ao
responsável pelas infrações
32

administrativas previstas nos incisos II,


III, IV, V, VI e VII do caput do art. 155
desta Lei, quando não se justificar a
imposição de penalidade mais grave, e
impedirá o responsável de licitar ou
contratar no âmbito da Administração
Pública direta e indireta do ente
federativo que tiver aplicado a sanção,
pelo prazo máximo de 3 (três) anos.

Na Lei n. 8666, o prazo máximo era de 2 anos e ainda havia uma


divergência entre a Administração e a Administração Pública. A nova lei
resolveu isso e fixou que a suspensão de licitar e contratar vai ser
aplicada ao contratado e vai durar por no máximo 3 anos, não podendo
licitar com o ente federado que aplicou a penalidade. Se a União
suspender de licitar e contratar, não se pode licitar e contratar com a
União, Administração direta ou indireta, com os Estados e Municípios
pode.

§ 5º A sanção prevista no inciso IV do


caput deste artigo será aplicada ao
responsável pelas infrações
administrativas previstas nos incisos
VIII, IX, X, XI e XII do caput do art. 155
desta Lei, bem como pelas infrações
administrativas previstas nos incisos II,
III, IV, V, VI e VII do caput do referido
artigo que justifiquem a imposição de
penalidade mais grave que a sanção
referida no § 4º deste artigo, e impedirá
o responsável de licitar ou contratar no
âmbito da Administração Pública direta e
indireta de todos os entes federativos,
33

pelo prazo mínimo de 3 (três) anos e


máximo de 6 (seis) anos.

Declarada a inidoneidade, o contratado punido fica impedido – e não


suspenso – de licitar e contratar com qualquer órgão ou entidade da
Administração pública direta ou indireta, de todos os poderes. Não pode
mais participar de licitações e contratos por no mínimo 3 anos e no
máximo 6 anos.

Art. 158. A aplicação das sanções


previstas nos incisos III e IV do caput do
art. 156 desta Lei requererá a
instauração de processo de
responsabilização, a ser conduzido por
comissão composta de 2 (dois) ou mais
servidores estáveis, que avaliará fatos e
circunstâncias conhecidos e intimará o
licitante ou o contratado para, no prazo
de 15 (quinze) dias úteis, contado da data
de intimação, apresentar defesa escrita e
especificar as provas que pretenda
produzir.

Tem que ter procedimento administrativo, essa é a regra. Toda aplicação


de penalidade tem que ter procedimento administrativo, só que aqui a lei
exige um procedimento administrativo específico porque tem que ser
designada uma comissão, essa comissão tem que ser formada pelo menos
por 2 servidores estáveis e essa comissão responsável por apurar formada
por pelo menos 2 servidores estáveis vai conduzir o procedimento
administrativo que resultará em uma dessas penalidades.

§ 4º A prescrição ocorrerá em 5 (cinco)


anos, contados da ciência da infração
34

pela Administração, e será:

A Administração contrata e o contratado pisa na bola. Se isso ocorre, a


Administração tem o poder de punir o contratado, só que a lei estabelece
um prazo para punir o contratado que descumpriu o contrato, que é de
5 anos a contar do dia em que o fato se tornou conhecido.

Essa prescrição será paralisada:


I - interrompida pela instauração do processo de responsabilização a que
se refere o caput deste artigo;
II - suspensa pela celebração de acordo de leniência previsto na Lei nº
12.846, de 1º de agosto de 2013;
III - suspensa por decisão judicial que inviabilize a conclusão da apuração
administrativa.

Cinco anos para começar a prescrição, mas há causas que interrompem


e causas que suspendem.

O art. 160 é muito importante porque a lei de licitações previu a


possibilidade de desconsiderar a personalidade jurídica para fins de
responsabilização porque a pessoa jurídica não se confunde com a pessoa
dos sócios. Em algumas situações se descaracteriza a personalidade
jurídica e vai atrás do sócio e a lei de licitações admitiu isso nos contratos.
Arts. 160 e 163.

O contratado foi punido, impedido de licitar e contratar ou punido com a


declaração de inidoneidade, ele pode chegar à Administração (à
autoridade que aplicou a penalidade) admitindo o erro, querendo se
reabilitar. Quem puniu, reabilita. O contratado prova que o dano por ele
causado foi reparado, que já pagou a multa e deve esperar pelo menos 1
ano de punição antes de pedir a reabilitação no caso de impedimento de
licitar e contratar e pelo menos 3 anos no caso de declaração de
inidoneidade.
35

IV - cumprimento das condições de


reabilitação definidas no ato punitivo; V
- análise jurídica prévia, com
posicionamento conclusivo quanto ao
cumprimento dos requisitos definidos
neste artigo. Parágrafo único. A sanção
pelas infrações previstas nos incisos VIII
e XII do caput do art. 155 desta Lei
exigirá, como condição de reabilitação do
licitante ou contratado, a implantação ou
aperfeiçoamento de programa de
integridade pelo responsável.

Aplicadas aquelas duas penalidades, o contratado pode se reabilitar,


devendo comprovar tudo isso, cumulativamente. Uma vez deferido o
pedido de reabilitação, o licitante impedido de licitar/contratar ou
declarado inidôneo, perde essa condição e volta para o jogo.

14. DO CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES


A nova lei se preocupou muito com as regras de controle sobre a execução
dos contratos.

Art. 169. As contratações públicas


deverão submeter-se a práticas
contínuas e permanentes de gestão de
riscos e de controle preventivo, inclusive
mediante adoção de recursos de
tecnologia da informação, e, além de
estar subordinadas ao controle social,
sujeitar-se-ão às seguintes linhas de
defesa:

Para controle, devem ser criadas linhas de defesa, como se fossem


36

barreiras que impeçam a ilegalidade porque se a primeira barreira furar,


a ilegalidade fica parada na segunda barreira. Se a segunda furar, ainda
existe uma terceira. O objetivo é o controle.

I - primeira linha de defesa, integrada por


servidores e empregados públicos, agentes de
licitação e autoridades que atuam na
estrutura de governança do órgão ou
entidade;
II - segunda linha de defesa, integrada pelas
unidades de assessoramento jurídico e de
controle interno do próprio órgão ou
entidade;
III - terceira linha de defesa, integrada pelo
órgão central de controle interno da
Administração e pelo tribunal de contas.

O contrato está sendo executado, quem deve ficar de olho é quem está
trabalhando em volta dele, as autoridades que estão ali, só que o Jurídico
também vai analisar, depois ele vai passar para a auditoria, só que ainda
há os órgãos de controle externo, como a controladoria do ente e o
tribunal de contas. O objetivo é garantir a legalidade das contratações
públicas.

15. O PORTAL NACIONAL DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS (PNCP)


A nova lei de licitações previu o chamado portal nacional de compras, que
é um órgão central que vai coordenar todas as contratações públicas, no
nível da União, dos Estados e dos Municípios. Arts. 174 e 176.

O município com até 20.000 habitantes tem 6 anos para se adaptar.


Enquanto isso, ele vai fazendo com ele fez. Não vai fazer publicações
eletrônicas porque não tem estrutura para tanto. O que deve ser
publicado por ordem da lei vai ser publicado no Diário Oficial ou em
37

jornal de circulação local e todos os documentos que qualquer


interessado quiser em relação às contratações pede e o Município
entrega.

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