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8. LICITANTES
Vimos que quem participa do projeto não participa da execução e essa é uma premissa
muito relevante. A administração licita e contrata um licitante para fazer o projeto, e,
depois, a administração licita e contrata um licitante para executar o objeto do
contrato. A lei diz que quem fez um não pode fazer o outro. Quem participou e venceu
a licitação do projeto não pode, de modo algum, participar da licitação para a execução
do projeto.
Todo edital de licitação para execução de uma obra tem que ter, obrigatoriamente,
como anexo o projeto respectivo. O interessado, para decidir se licita ou não, a primeira
coisa que ele tem que fazer é ver se ele tem condições econômicas e técnicas de executar
o projeto e só vai conseguir saber disso se analisar o edital e examinar o projeto, no
anexo do edital. É justamente por isso que quem elaborou o projeto não pode participar
dessa licitação.
A lei diz que quem foi contratado para elaborar o projeto não pode ser contratado para
executar o objeto desse projeto. O § 2º diz que, se a administração quiser, pelo exercício
de discricionariedade administrativa (oportunidade e conveniência), pode dizer ao
contratado que fez o projeto, que é muito complexo, como a construção de um reator
nuclear, e esse contratado deve auxiliar a administração na elaboração do edital para
escolher quem executará e na gestão do contrato (em que outro venceu e está
executando) a construção do reator considerando que ninguém sabe mais do projeto
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do que a empresa que o elaborou.
A administração diz que fará uma licitação para escolher alguém e que esse alguém vai
fazer o projeto básico, vai fazer o projeto executivo, vai executar o projeto, vai deixá-lo
funcionando, testar e entregar tudo pronto para a administração. Isso se chama
contratação integrada, quando todo o processo de execução é integrado – do projeto à
conclusão, ao funcionamento.
Imagine que a administração quer construir uma ponte. Para o projeto, uma licitação;
para a execução do projeto, outra licitação. Quem venceu uma não pode participar da
outra, como regra. Na contratação integrada, une-se essas duas fases e a
administração licita para contratar o licitante que fará tudo do início ao fim.
Por isso que a lei vai dizer que, no caso em que a contratação for integrada, não se
aplica aquela vedação de que quem venceu a licitação do projeto não pode participar
da outra, sendo exceção. Nesse caso, se a contratação é integrada, não tem projeto e
eles não constarão dos anexos da licitação porque quem for contratado vai fazer tudo,
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inclusive o projeto. Na contratação semi-integrada, a administração contrata alguém
para fazer o projeto básico e contrata outro alguém para fazer do projeto executivo em
diante.
9. CONSÓRCIO
Surge a figura do consórcio. Uma empreiteira, ainda que gigante e experiente, não
consegue fazer esse contrato que é muito grande e a administração exige garantias,
certificados, etc. Essa empreiteira se junta com uma construtora igualmente grande
em um consórcio, um acordo comercial porque, como sozinhas elas não conseguiriam,
juntas venceriam a licitação.
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Art. 15. Salvo vedação devidamente justificada no processo licitatório, pessoa jurídica
poderá participar de licitação em consórcio, observadas as seguintes normas:
Já vimos que se a administração vai licitar para um objeto, mas não quer nenhum
consórcio participando e fundamenta essa decisão. Consórcio nenhum vai poder
participar daquela licitação. Poderá participar pessoas e empresas individualmente
consideradas, não em consórcio. Para isso, a administração tem que justificar no
procedimento licitatório as razões pelas quais essa restrição foi imposta, porque a regra
é a universalidade. Ressalvadas as restrições devidamente justificadas e colocadas no
procedimento licitatório, as pessoas jurídicas poderão participar em consórcio das
licitações, observadas as seguintes regras:
O consórcio desta Lei é um acordo entre pessoas jurídicas para realização de objetivo
comum. Sendo assim, o consórcio não tem personalidade jurídica, por isso a lei diz aos
consorciados que eles devem indicar o líder porque é com esse líder que a administração
vai assinar o contrato, vai tratar, prestar garantias, se relacionar. É necessária uma
pessoa jurídica, sujeita a direitos e obrigações.
III - admissão, para efeito de habilitação técnica, do somatório dos quantitativos de cada
consorciado e, para efeito de habilitação econômico-financeira, do somatório dos
valores de cada consorciado;
§ 1º O edital deverá estabelecer para o consórcio acréscimo de 10% (dez por cento) a
30% (trinta por cento) sobre o valor exigido de licitante individual para a habilitação
econômico-financeira, salvo justificação.
A administração vai contratar uma empresa para executar uma obra, uma ponte.
Publica o edital e chama os interessados a participarem. Não pode contratar qualquer
um porque existem várias questões que podem causar problemas no futuro e
comprometer o interesse público. Não podemos contratar alguém que não tenha
experiência para executar, porque ele pode construir a ponte e a ponte cair, então a
administração precisa exigir dos licitantes comprovação de experiência técnica, nos
termos do edital.
Outra questão é que a administração contrata e o licitante não tem condição financeira
para executar o contrato, considerando que a administração só paga quando houver
execução. Primeiro o contrato executa do bolso dele e depois recebe. Ressalvadas as
questões relacionadas com a pandemia, que são excepcionais, é vedado o pagamento
antecipado dos contratos administrativos, razão pela qual a administração exige que o
licitante demonstre capacidade econômico-financeira de custear a execução do
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contrato (livros contábeis, faturamento, lucros, prejuízos, etc.).
A empresa tem que ter saúde financeira para essas questões também, próprias dos
contratos administrativos (receber depois do combinado, ter que paralisar ou retardar
a execução por interesse público). Quem tem que suportar todas essas consequências
é o contratado e, para suportar todas essas consequências que podem ou não
acontecer, a empresa tem que ter saúde financeira o suficiente para suportar a
execução do contrato.
A administração pode entender que não vai exigir isso do consórcio, então deve
justificar. Como premissa para entender as contratações públicas, temos a premissa
do Direito Administrativo de que o licitante deve se sujeitar à vontade do Estado, uma
relação de verticalidade e desigualdade entre a administração e o administrado.
Juridicamente, o Estado está em posição de supremacia e de verticalidade.
O mesmo raciocínio lógico dessa premissa acontece na lei de licitações. Não adianta a
administração fazer um milhão de exigências porque, se fizer, ninguém vai participar
da licitação, então acontece a chamada licitação deserta em que a administração
publica o edital e ninguém comparece porque ninguém quis assinar um contrato com
todas aquelas condições. A administração pode exigir garantia do contratado, até X
valor. Se é colocada a garantia no máximo, os licitantes não terão interesse em
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participar.
Verifique que a empresa não pode sair e deixar a outra sozinha, porque ela não consegue
sozinha. A administração diz que, antes de a empresa disser quem vai a substituir no
consórcio, a administração precisa analisar os documentos dessa empresa, a fim de
verificar se ela preenche os mesmos requisitos da empresa que está saindo, tudo isso
se a administração deixar, de forma justificada e fundamentada. Se a empresa quiser
sair mesmo assim, sofrerá as penalidades previstas em lei.
10. COOPERATIVAS
É esse o intuito da nova lei, mas, em vez de ser a escola, será a administração. A
administração vai licitar e tem que contratar alguém, esse alguém pode ser uma
cooperativa. A administração pública quer um contrato para assessoria contábil e
financeira de contas do seu órgão.
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Para tentar colocar as coisas em ordem, o órgão ou entidade decide licitar para contratar
uma consultoria contábil, feita por profissional habilitado e com experiência. José é
contador e participa, mas a cooperativa de contadores também vai participar. Aquela
cooperativa tem 50 contadores. Temos nessa licitação José e a cooperativa de
contadores licitando para contratar. A cooperativa manda o profissional executar o
objeto do contrato.
III - qualquer cooperado, com igual qualificação, for capaz de executar o objeto
contratado, vedado à Administração indicar nominalmente pessoas;
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IV - o objeto da licitação referir-se, em se tratando de cooperativas enquadradas na Lei
nº 12.690, de 19 de julho de 2012, a serviços especializados constantes do objeto social
da cooperativa, a serem executados de forma complementar à sua atuação.
(cooperativas de trabalho)
O que a nova lei de licitações diz é que as medidas para incluir as micro e pequenas
empresas nas contratações públicos no estatuto das micro e pequenas empresas (LC n.
123/06), aquelas regras que estão na lei complementar que facilitam o acesso da micro
e pequena empresa nas contratações públicas valem para a nova lei de licitação: a
questão do empate ficto, da regularidade fiscal. Quais micro e pequenas empresas não
terão as vantagens da lei complementar?
A administração vai fazer uma licitação para fazer uma contratação e o item necessário
para a execução desse contrato é maior o valor dele do que o faturamento da empresa
de pequeno porte. Imagine que a LC 123 diga que se enquadra no conceito de empresa
de pequeno porte aquela cujo faturamento bruto seja de até R$ 4 milhões por ano e a
empresa prova ser empresa de pequeno porte porque leva um demonstrativo e quer
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participar da licitação. A administração admite que essa empresa de pequeno porte
participe, mas não dará as vantagens da lei a ela porque só um item custa R$ 5
milhões, mais do que ela fatura o ano inteiro.
Parece estar falando a mesma coisa do inciso anterior, mas o inciso I se refere à
compras e serviços. O inciso II se refere a obras e serviços de engenharia. A lei diz que
não vai levar os benefícios da LC n. 123 à micro e pequena empresa que, nos contratos
de fornecimento (compra) e serviços quando o item custar mais do que o valor que a
lei estabelece para qualificar uma empresa como sendo de pequeno porte.
Se a administração licita e o licitante vence aquele contrato, o valor a ser pago a ele,
em razão desse contrato, fará com que ele fature mais que o limite legal para o
qualificar como pequena empresa, porque senão é feita a licitação com vantagens de
pequena empresa ou microempresa, vence, assina o contrato e, em razão desse
contrato, deixa de ser pequena empresa.
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Concorre como sendo pequena empresa e depois executa o contrato como sendo uma
grande empresa? Tem que ser pequena empresa para licitar e durante a execução do
contrato, considerando o ano. A lei diz que uma Secretaria de Estado de Saúde faz uma
licitação. A pequena empresa participa, tem vantagens, assina o contrato.
Daqui 3 meses, a Secretaria de Saúde faz outra licitação e a mesma pequena empresa
decide participar da nova licitação como sendo pequena empresa e vence com
vantagens, assinando o segundo contrato. O somatório dos valores dos diferentes
contratos celebrados em razão de diferentes licitações no tempo de um ano de
calendário não pode ultrapassar o valor legal para qualificar uma empresa como de
pequeno porte.
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§ 3º Nas contratações com prazo de vigência superior a 1 (um) ano, será considerado
o valor anual do contrato na aplicação dos limites previstos nos §§ 1º e 2º deste artigo.
Podemos ter contratos que durem mais de 1 ano, que durem 5 anos. Vamos considerar
o valor anual e não global do contrato e vamos observar se o valor de pagamento anual
correspondente à execução do contrato fica dentro dos limites que a lei estabelece para
qualificar uma empresa como sendo de pequeno porte. Não consideramos, se o
contrato durar mais de 1 ano, o valor total, sempre se considera 1 ano, um exercício
fiscal.
Agora vamos falar sobre os agentes públicos na licitação. Agente público é definido por
lei, sendo a pessoa física quem mantém um vínculo com a administração e são
encarregados de funções específicas relacionadas à aplicação dessa lei. A nova lei vai
reforçar o chamado princípio da segregação de funções.
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Essa é a segregação de funções. Vamos avaliar os recursos humanos, os agentes
públicos sujeitos à autoridade e direcionando eles para licitações e contratos, desde que
observados os seguintes requisitos:
Às vezes, podemos ter até terceirizados. Todos no mesmo universo daquela autarquia,
cada qual exercendo as atribuições que lhe são devidas. A lei vai dizer que a autoridade
competente, na hora de escolher quem vai atuar nas licitações, deverá
preferencialmente escolher efetivos. A lei fala em “empregado público dos quadros
permanentes” porque sabemos que aquela autarquia pode ter servidores estatutários,
mas pode ser que essa autarquia, por qualquer motivo, tenha empregados públicos.
Existe um vínculo permanente com a administração.
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qualificação deve ser dada por escola de governo para treinar e atualizar os servidores.
O presidente da autarquia está com uma servidora que trabalha na mesma autarquia
e ela é ótima, sabe tudo de licitação, dá até aula na escola de governo sobre
procedimentos de contratação e licitação, só que essa servidora é casada com o diretor
de uma empreiteira e essa empreiteira é uma licitante habitual porque essa autarquia
do exemplo pode ser o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)
e constrói rodovias
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diariamente. A autoridade competente não vai poder indicar essa servidora, por mais
qualificada que ela seja, porque ela é casada com o diretor de um licitante habitual.
A ideia é que um servidor pratique um ato e que esse ato vai passar para outro agente,
sejam pessoas diferentes com atribuições diferentes de modo que um conheça o
trabalho do outro e afira se o trabalho do outro está de acordo com a lei. A licitação é
um procedimento, uma sucessão de atos que passa pelas mãos de diferentes servidores
públicos, só que é muito comum ir passando e ninguém perceber o erro porque as
funções são distintas. Um procurador faz uma análise jurídica e, se tiver alguma
ilegalidade em uma planilha alterada, ele não vai perceber e vai passar adiante.
▪ O agente de contratação
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Entre todos os agentes públicos do setor de licitações, a autoridade competente vai
escolher um e atribuir a ele ser o agente de contratação daquela licitação, ou seja, ele
será o incumbido de gerir todo o procedimento daquela licitação e posterior contratação.
A nova lei diz que, se a modalidade for pregão, continuamos chamando o agente de
contratação de pregoeiro, como sempre foi.
Art. 8º A licitação será conduzida por agente de contratação, pessoa designada pela
autoridade competente, entre servidores efetivos ou empregados públicos dos quadros
permanentes da Administração Pública, para tomar decisões, acompanhar o trâmite
da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras
atividades necessárias ao bom andamento da licitação.
• Vedações
Temos que nos lembrar que a lei expressamente ressalva algumas vantagens a algumas
figuras, como a micro e pequena empresa, vimos a margem de preferência admitida
em lei. Tirando esses casos em que a lei expressamente admite tratamento jurídico
diferenciado por algum motivo, todos são iguais e devem ser tratados de forma igual.
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em lei.
• Defesa
Estamos tratando de agentes públicos que atuam nas licitações. Vimos o setor de
licitações, o agente de contratação, as vedações que aqueles que atuam no setor de
licitações não podem praticar e agora veremos sobre a defesa. A licitação feita
anteriormente foi noticiada como fraudulenta e haverá cobertura da mídia e
investigações do MP e do Tribunal de Contas. Isso quer dizer que o agente público que
atuou nessa licitação de forma errada vai precisar ser defendido na Justiça Criminal, na
Justiça Cível por ação de improbidade, em um PAD (Procedimento Administrativo
Disciplinar), perante o Tribunal de Contas, etc.
Quem vai defender? A lei diz que, se quem praticou o ato, assim o fez seguindo as
orientações jurídica do órgão responsável, a advocacia pública daquele ente assumirá
a defesa daquele servidor. Deu tudo errado, mas os agentes públicos fizeram tudo que
a procuradoria jurídica do órgão mandou. Se isso ficar constatado, se chama a
Advocacia Geral da União, se for na União, a Procuradoria Geral do Estado de São
Paulo, se foi em São Paulo para fazer a defesa desse servidor, se ele assim o quiser.
Mas e se o servidor fez algo de errado? A advocacia pública que atuou na defesa desse
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servidor se retira e o servidor deve contratar advogado.
Um sujeito era presidente do DNIT e, enquanto era presidente do DNIT, várias licitações
foram feitas e uma deu errado, só que descobriram isso anos depois e, nessa altura,
ele já estava até aposentado/exonerado. Ele é notificado, citado, intimado em razão de
ato ilícito supostamente praticado em uma licitação que ele participou anos atrás. Se
aplica a mesma regra, a advocacia pública deve o defender se ele fez tudo certo. Mesmo
não estando mais ali, o que importa é que o ato questionado decorre de uma licitação
que ele participou.
Saímos dos agentes públicos e voltamos para a nossa sequência. Isso vai dar um
trabalho maior para o aluno porque tipo de licitação é o critério objetivo para julgar as
propostas e que deve estar expresso no edital de licitação e escolher dentre as
propostas apresentadas.
Na velha lei de licitações, que ainda está em vigor porque vigorará até 1º de abril de
2023, estudávamos no art. 45, § 1º que são tipos de licitação, exceto para a modalidade
concurso: menor preço, melhor técnica, técnica e preço, maior lance/oferta. A nova lei
não usa o mesmo nome de tipo de licitação, simplesmente dizendo que são critérios
para julgar.
Art. 33. O julgamento das propostas será realizado de acordo com os seguintes critérios:
I – menor preço;
II – maior desconto;
III – melhor técnica ou conteúdo
artístico; IV – técnica e preço;
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V – maior lance, no caso
de leilão; VI – maior
retorno econômico.
A nova lei vai estabelecer, a partir do art. 33, vários critérios para definir quando se
usa o tipo de licitação, que é uma conjugação entre modalidade e tipo. Além disso, a lei
vai definir regras específicas para contratos específicos que não veremos nesse curso,
de linhas gerais. Fica no âmbito do casuísmo, contrato X com tipo Y, que deverá ser
analisado pelos alunos no estudo da lei.
Sempre foi assim e vai continuar sendo: ponto certo de prova é o tema da contratação
direta (dispensa e inexigibilidade), que é a contratação sem prévia licitação, conforme
art. 37, XXI da Constituição Federal. Esse tema ficou diferente da velha lei de licitações
A. Conceito
B. Hipóteses
1. Inexigibilidade - Art. 74
2. Dispensa - Art. 75
Inexigibilidade ocorre quando não é viável licitar, não é viável competir. As hipóteses
legais são exemplificativas porque o legislador não é capaz de prever e positivar na lei
todos os casos em que a competição não é viável, então a lei exemplifica, que é o
máximo que a lei pode fazer. A discricionariedade na inexigibilidade está na aferição
da viabilidade da competição, então a autoridade competente tem poder e liberdade
para decidir sobre a viabilidade da competição no caso concreto.
Na dispensa, é o contrário, é possível licitar, mas a lei diz que não é caso de licitar. Daí
o fato de a dispensa ser taxativa porque só há dispensa nos casos em que a lei indicar
como dispensa. Na dispensa, a discricionariedade está na escolha se licita ou não.
Percebam que na contratação direta, há discricionariedade na dispensa (licita se
quiser) e na inexigibilidade (aferir a viabilidade da competição), mas o modo de exercer
a discricionariedade muda.
C. Inexigibilidade
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Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:
Celso Antônio Bandeira de Mello, quando explica isso, ele faz uma observação
importante dizendo que o pressuposto lógico de qualquer competição é existir mais de
um competidor, porque se existe apenas um que produz o que a administração, não
tem como chamar os interessados. Se há apenas um fornecedor e se a administração
precisa desse bem que só ele fornece, não tem como competir.
Essa é aquela velha hipótese que sempre lembramos, desde a antiga lei. Só que essa
lei trouxe alguma peculiaridade para esse caso, que veremos adiante. Fique atento
porque a administração pode contratar artista diretamente para um show de
inauguração de um hospital.
O prefeito de São Paulo quer comemorar o aniversário da cidade com um grande show
aberto ao público, com Roberto Carlos. O secretário de cultura do município de São
Paulo vai conseguir ligar para o Roberto Carlos? Daí a lei fala em contratar diretamente
o artista ou contratar o artista através de empresário exclusivo.
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c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
g) restauração de obras de arte e bens de valor histórico;
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e
laboratoriais, instrumentação e monitoramento de parâmetros específicos de obras e
do meio ambiente e demais serviços de engenharia que se enquadrem na definição
deste inciso.
Está parecido com a nova lei, mas não está igual. Primeiramente, o art. 25 da Lei n.
8666 dizia para a contratação de serviços técnicos profissionais especializados no art.
13 daquela lei. Tínhamos que ir no art. 13 e ver a lista dos serviços técnicos
profissionais especializados. Essa lista era fundamental porque só podíamos declarar
a inexigibilidade para aqueles serviços. Se o serviço que fosse ser contratado pela
administração não fosse um daqueles do art. 13, não podia ser inexigibilidade com
base no inciso II do art. 25.
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⮚ Exemplo: no período militar em que foram construídas as usinas nucleares de
Angra. Para construir os reatores nucleares de angra, o governo brasileiro fez um
acordo com a Alemanha que deu errado e o Brasil ajuizou uma ação
internacional contra a Alemanha por entender que houve descumprimento do
contrato, Acordo Brasil-Alemanha. É marcado um dia para se fazer a
apresentação das alegações finais no processo. A União precisa de um advogado
para fazer a sustentação das alegações finais nesse processo movido contra a
Alemanha por descumprimento do acordo.
É qualquer advogado que tem competência para isso? Não, pelas questões de acordo
internacional, acordo nuclear, outro idioma, etc. Não é qualquer profissional, qualquer
escritório de advocacia que promove a execução do objeto desse contrato, então esse
contrato de prestação de serviço de advocacia é singular porque se exige qualidades
especiais com a sua execução.
Vem a nova lei e muda isso, passando a indicar, de pronto, quais são os serviços.
Legislativamente, muda, porque ao falar sobre serviços técnicos profissionais
especializados a lei já diz quais os são, na mesma hora. O que mudou de verdade que
vai impactar no mundo real é que o requisito da singularidade não existe mais na nova
lei. Basta que o serviço seja de natureza predominantemente intelectual e o contratado
ter notória especialização.
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IV – objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento;
Esse é o que professor aposta que mais vai cair em todas as provas porque na Lei n.
8666 essa hipótese era de dispensa de licitação. A nova lei, de acordo com a doutrina
que arguia isso há muito tempo, determinou que alugar ou comprar imóvel para atender
necessidades específicas da administração é inexigibilidade.
Imagine o local do prédio do TJSP, só que esse prédio foi construído 100 anos atrás ou
mais e o prédio ficou pequeno para a estrutura do tribunal. É necessário mais espaço
para documentos, para servidor, para computador e aquele prédio não tem e não tem
como ampliar, reformar aquele prédio.
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§ 2º Para fins do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se empresário
exclusivo a pessoa física ou jurídica que possua contrato, declaração, carta ou outro
documento que ateste a exclusividade permanente e contínua de representação, no
País ou em Estado específico, do profissional do setor artístico, afastada a
possibilidade de contratação direta por inexigibilidade por meio de empresário com
representação restrita a evento ou local específico.
Imagine que a administração pública quer contratar o show do Roberto Carlos porque
está organizando um evento de combate à pobreza, vai ter que se buscar quem é o
empresário do Roberto Carlos. A lei diz que só haverá inexigibilidade se o empresário
for exclusivo e a exclusividade tem que ser considerada em âmbito nacional ou
estadual, em âmbito local não. O empresário local não se enquadra em empresário
exclusivo para fins da lei.
§ 3º Para fins do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se de notória
especialização o profissional ou a empresa cujo conceito no campo de sua
especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas
atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e reconhecidamente adequado
à plena satisfação do objeto do contrato.
§ 4º Nas contratações com fundamento no inciso III do caput deste artigo, é vedada a
subcontratação de empresas ou a atuação de profissionais distintos daqueles que
tenham justificado a inexigibilidade.
§ 5º Nas contratações com fundamento no inciso V do caput deste artigo, devem ser
observados os seguintes requisitos:
I - avaliação prévia do bem, do seu estado de conservação, dos custos de adaptações,
quando imprescindíveis às necessidades de utilização, e do prazo de amortização dos
investimentos;
II - certificação da inexistência de imóveis públicos vagos e disponíveis que atendam ao
objeto;
III - justificativas que demonstrem a singularidade do imóvel a ser comprado ou locado
pela Administração e que evidenciem vantagem para ela.
Para declarar a inexigibilidade para comprar um imóvel, tudo isso deve ser observado.
O Estado de São Paulo possui vários imóveis ocupados só que nenhum dos imóveis
públicos disponíveis atende às necessidades. É quase a mesma lógica do inciso I, só
que o inciso I fala de outro contrato e o § 5º fala de um contrato específico, de locação
e compra de imóveis.
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