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INTRODUÇÃO DO MÓDULO

Olá!
Seja bem-vindo(a) ao módulo, você verá a fase da contratação do executor do projeto e da licitação
propriamente ditas, conforme o seguinte:

 as fases internas e externas da licitação;


 as medidas preparatórias da licitação;
 a elaboração da minuta de edital;
 as previsões que devem estar presentes na minuta do edital e do contrato;
 a cláusula de eficácia do contrato;
 a estruturação de garantia de proposta (bid bond);
 os prazos e as formas de publicidade;
 as exigências de habilitação e julgamento de propostas;
 a possibilidade de inversão de etapas;
 a pré-qualificação e suas vantagens;
 as etapas de habilitação e de proposta;
 os recursos e as providências de encerramento da licitação;
 a formalização do contrato e condicionantes para sua eficácia;
 gestão contratual;
 prorrogação do contrato;
 extinção do contrato.

Mas, por que aprender tudo isso?

Todos esses assuntos estão relacionados a fase final do processo de estruturação e desenvolvimento de
projetos de concessão e PPP. Seu conhecimento aprofundado, tanto da teoria quanto da prática, é essencial
para uma licitação eficiente e proveitosa. O que propicia uma boa contratação e o sucesso do projeto.

Vamos lá?!
Bons estudos.

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1. INTRODUÇÃO

Agora, que já estudamos as etapas mais intensas de interação com a sociedade a respeito do projeto,
inclusive com os principais players, passamos ao estudo da fase de contratação do executor do projeto pela
unidade federativa. Essa seleção, como sabemos, ocorre por meio de licitação.

IMPORTANTE
Licitação é o processo administrativo utilizado para eleger a proposta mais vantajosa
para a unidade federativa.

Em muitos pontos, a licitação para projetos de concessão e PPP se assemelha às licitações para os
contratos administrativos tradicionais. Há:
• Uma fase interna - de preparação; e
• Uma fase externa – na qual há efetivamente a disputa entre os privados (chamados de licitantes
nessa fase) que pretendem executar o projeto.

Mas, tanto a lei de concessões quanto a lei de PPP têm disciplinas específicas para o processamento
de licitações de seus projetos e que vamos tratar com mais detalhes aqui.

Vale atentar que as próprias unidades federativas também podem ter normas próprias de licitações
e contratações públicas, sejam gerais ou específicas para contratos de concessão e PPP. Embora não seja
possível tratar de todas essas normas locais aqui, diante do grande número de unidades federativas do país,
é importante reforçarmos que seu conteúdo geralmente inclui:

• Apresentação de requisitos formais para a instauração da licitação, criando um trâmite interno para
a autorização do início da licitação, seu processamento e encerramento;
• Disciplina de prazos maiores do que aqueles fixados em leis de gerais, por exemplo, prazos para
publicação de edital.

Ou seja, em projetos de PPP e concessão, precisamos sempre prestar muita atenção à legislação
local, inclusive no que toca à etapa licitatória.

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RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Confira a videoaula “Leis locais” para relembrar o tema.

NA PRÁTICA
O Estado de Minas Gerais foi um dos pioneiros a adotar o próprio marco legal sobre PPP, antecedendo até
mesmo a União.
Confira mais informações sobre a Lei 14.868/2003, de Minas Gerais no link:
https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=Lei&num=14868&ano=2003

Etapas da Licitação

Fase Externa:
Publicação do edital
Fase interna: Sessão de recebimento de documentos
Adoção de medidas preparatórias Etapa de habilitação
Elaboração do edital de licitação Etapa de propostas
Recursos
Adjudicação

Fonte: elaborado pelo autor, 2018

2. A FASE INTERNA DA LICITAÇÃO


Vamos acompanhar agora os trâmites da fase interna da licitação. A fase interna é aquela em que
são adotas as providências necessárias para o bom andamento da licitação.

Isso significa que:


• Medidas preparatórias, como as autorizações necessárias para que a licitação ocorra, serão adotadas.
• O edital de licitação, será elaborado, bem detalhado, com o máximo de informações aos licitantes
para garantir a isonomia entre eles.
• As contribuições e ajustes formais que forem necessários serão incorporados no edital para finalizá-
lo.

2.1. As medidas preparatórias

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Para se dar início a licitação são necessárias algumas medidas preparatórias. Muitas delas advêm,
inclusive, de fases anteriores do desenvolvimento do projeto de concessão e PPP.

Um exemplo é a observação da melhor forma de prestação para a necessidade pública que se busca
beneficiar com o projeto. Ou seja, é preciso identificar se a PPP é a melhor forma para a prestação do serviço
que se deseja fornecer ou se outra forma de prestação seria mais adequada. No caso de a PPP ser a forma
ideal, essa correspondência precisa ser comprovada de maneira suficiente e compreensível, carregada de
provas que evidenciem o argumento da escolha.

RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Confira o subcapítulo “6.6. Value for Money” do Módulo 1 para relembrar o tema.

Essas informações serão essenciais para a autorização da abertura de licitação, a qual é dada pela
autoridade competente, de acordo com a Lei de PPP, no inciso I do artigo 10. Esse ato tanto pode ser
praticado pela autoridade máxima daquela unidade federativa (o Prefeito, no caso de um município), quanto
por outro agente recebeu poderes para tanto, como o Presidente do Conselho Gestor de PPP da unidade
federativa, por exemplo. De toda forma, as informações citadas servirão de base para essa autoridade
competente sustentar sua decisão de iniciar a licitação de um projeto de PPP.

POR DENTRO DAS LEIS


Lei de PPP
Art. 10. A contratação de parceria público-privada será precedida de licitação na modalidade de
concorrência, estando a abertura do processo licitatório condicionada a:

I – autorização da autoridade competente, fundamentada em estudo técnico que demonstre: (...)

Confira a Lei de PPP na íntegra:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11079.htm

O artigo 10 da Lei de PPP também impõe que essa autorização deve ser acompanhada de:

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• demonstração de que o projeto de PPP que será licitado é a melhor opção, dentre todas possíveis,
para atender à necessidade pública. (item 6.6 do módulo 1 desse material).
• demonstração de que a situação fiscal da unidade federativa não será comprometida com a execução
do projeto (que detalhamos no item 3.3 do módulo 1 deste material).

Em seguida trataremos de outras providências necessárias da fase interna da licitação.

2.2. A elaboração da minuta de edital

É comum e desejável que uma das partes dos estudos entregues, seja por autorizatário ou por
estruturador independente, contenha minutas de edital de licitação e de contrato. Assim, por mais que a
unidade federativa não faça parte dos estudos, já terá tais documentos, até porque a fase de interação com
a sociedade exige a disponibilização dessas minutas para as etapas de consulta e audiência pública.

RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Os conceitos de autorizatário e de estruturador independente já foram apresentados em módulos
anteriores. Você se lembra?
Autorizatário: é o particular eleito pela via do PMI para desenvolver os estudos técnicos.
Estruturador independente: é o particular contratado pela via ordinária para desenvolver os estudos
técnicos.

NA PRÁTICA
Essas minutas podem ter inspiração nos modelos tradicionalmente utilizados pela
unidade federativa. É que neles está refletiva a forma mais familiar aos gestores
públicos da unidade federativa processarem suas licitações (especialmente o
pregoeiro e a comissão de licitação). Além disso, estão amoldados às exigências da
legislação local.

Confira alguns exemplos de minutas de editais de licitação em PPP:


TOMADA DE PREÇOS (aracaju.se.gov.br)
https://www.convalemg.com.br/edital-licita%C3%A7%C3%A3o-concorrencia-conce

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Mas, lembre-se, estamos falando de modelos. Por isso, as minutas de editais elaboradas nos estudos
devem sofrer adaptações, a serem realizadas no âmbito da unidade federativa, principalmente se voltadas
a garantir a isonomia entre os licitantes e a publicidade da licitação.

NA PRÁTICA
Acompanhe um exemplo simples: é compreensível que, no momento da elaboração dos estudos, alguns
detalhes procedimentais não tenham sido apresentados, como o dia e a hora da licitação, os locais (físicos e
eletrônicos) para acesso ao edital e aos anexos, o nome dos agentes públicos que comporão a comissão de
licitação, os meios para interlocução com a unidade federativa para o esclarecimento de dúvidas e assim por
diante. A unidade federativa deve, portanto, inserir todas as essas informações, pois, apesar de irrelevantes
na época da elaboração dos estudos, são fundamentais para a licitação.

SAIBA MAIS

Os cuidados quando da elaboração do edital: devem estar voltados à elaboração, com base nas informações
técnicas e econômicas apresentadas nos estudos, dos requisitos de habilitação (especialmente as exigências
de qualificação técnica).

Os cuidados quando da elaboração da minuta de contrato: devem garantir que a equação econômico-
financeira desenhada nos estudos esteja totalmente refletida na minuta contratual. É importante transferir
as conclusões dos estudos sobre matriz de riscos, investimentos, contraprestação pública, garantias
(públicas e privadas), taxa interna de retorno, plano de negócios etc. para normas contratuais. Tudo a bem
de preservar o equilíbrio desenhado nos estudos, o qual garantiu a sustentabilidade do projeto.

IMPORTANTE
Pode ocorrer de a unidade federativa não ter exigido a apresentação de minutas de
edital e contrato, requerendo dos estruturadores ou autorizatários que
desenvolveram o projeto, a apresentação somente de sugestões de cláusulas-chave
do edital e do contrato (como as de exigência de habilitação técnica – para o edital, e
a cláusula de hipóteses de reequilíbrio econômico-financeiro – para o contrato.
Nessas situações, o zelo da unidade federativa deve ser redobrado.

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As minutas, ainda que elaboradas no âmbito interno da unidade federativa, deverão
também ser submetidas previamente à consulta pública, e possivelmente à audiência
pública, nos mesmos termos e condições daquelas confeccionadas quando da
elaboração dos estudos.
RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Para se informar mais a respeito das audiências públicas para projetos de PPP,
consulte o Módulo 3 e a videoaula “Audiências Públicas”.

A elaboração do edital deve conter diversas informações que serão abordadas a diante.

VÍDEO

Após finalizar a leitura deste material, confira o vídeo “Precauções relevantes na elaboração das minutas de
edital e de contrato”, disponível no Módulo 4, e informe-se mais sobre o tema.

2.2.1 Definição do objeto da contratação

Quanto ao objeto, é preciso ter em mente que o regime jurídico das PPP veda a utilização do seu
modelo quando o arranjo for dedicado exclusivamente para execução de obra, fornecimento ou instalação
de bens ou prestação de mão-de-obra (§ 4º do art. 2º da Lei nº 11.079/2004).
No caso de uma concessão comum, a restrição é de outra natureza, pois o objeto do contrato
necessita ser a prestação de um serviço público.

2.2.2 Valor e prazo do contrato

Há limitações atinentes ao valor e prazo das PPP. O valor do contrato não pode ser inferior a R$
10.000.000,00 (dez milhões de reais), e o prazo de prestação do serviço não pode ser inferior a 5 (cinco) nem
o prazo de vigência superior a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação. Esses limites não
existem para a concessão. Isso não significa liberdade total para a definição do prazo do contrato e do seu
valor, os quais devem ter justificativa densa, quando de sua definição. Essa justificativa tradicionalmente
tem origem econômica, sendo, assim, apresentada nos estudos econômicos.

NA PRÁTICA

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Confira alguns exemplos de valores de contratos e critérios adotados em PPP no Estado de São Paulo:
• “PPP Alto Tietê: Conforme a Cláusula 6ª, o valor do contrato é de R$ 997.377.948,00, calculado com base
no preço unitário (R$/m3).
• PPP da Linha 4 – Amarela do Metrô do Estado de São Paulo: Conforme a Cláusula 5ª, o valor do contrato é
de R$ 790.000.000,00, correspondentes ao montante total estimado dos investimentos sob a
responsabilidade da Concessionária
• PPP dos Complexos Hospitalares do Estado de São Paulo: Conforme a Cláusula 7ª, o valor do contrato é de
R$ 2.654.663.503,34, composto pelo somatório do aporte, da contraprestação pecuniária e as decorrentes
da tarifa de remuneração.
• PPP São Lourenço: Conforme a Cláusula 5ª, o valor do contrato é de R$ 6.045.746.601,52, correspondente
ao somatório das receitas projetadas a serem auferidas pela SPE no decorrer da concessão.”
Fonte: Manual de Parcerias do Estado de São Paulo.

2.2.3 Sistema remuneratório

Quanto ao sistema remuneratório, embora a Lei das PPP proíba o pagamento de contraprestação
pecuniária enquanto não houver a disponibilidade do serviço, admite que a contraprestação seja paga em
face de parcela fruível do serviço (§ 1º do art. 7º da Lei nº 11.079/2004).

IMPORTANTE
Em casos em que a concessionária tomar a operação logo ao início do contrato, poderá perceber
parcela financeira equitativamente relativa com a prestação do serviço, paulatinamente, até que a execução
contratual albergue a totalidade do objeto ajustado, a contraprestação do poder concedente vai se
elevando, na exata medida da prestação do serviço.

Além disso, ainda no tocante à remuneração do parceiro privado, destaca-se a possibilidade de


previsão de um sistema de remuneração variável vinculada ao desempenho do contratado (art. 6°, § 1°, da
Lei nº 11.079/04), por meio da conexão entre o sistema de pagamentos e os indicadores de desempenho,
previamente definidos em um Quadro de Indicadores de Desempenho (QID), que estará anexo ao Edital.

A vinculação de parcela da remuneração da concessionária a indicadores de desempenho constitui


uma forma de garantir que o parceiro privado possua incentivos para aplicar na execução do contrato as

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técnicas mais eficazes. Ao invés de adotar apenas sanções como forma de garantir o cumprimento da
execução contratual, passa-se a incentivar o parceiro privado a alcançar melhores níveis de eficiência.

NA PRÁTICA
Caso se decida, por ocasião da estruturação do modelo, adotar a remuneração variável a partir dos
indicadores de desempenho, é recomendável que seja contratado um verificador independente, sem
vinculação com as partes contratantes, para aferir o atingimento de referidos indicadores de forma
imparcial.
Afasta-se, com tal medida, o receio do parceiro privado de ter sua remuneração indevidamente
reduzida, já que não será a Administração (contratante) quem irá realizar o cálculo da parcela variável.
De outro lado, a Administração poderá contar com o auxílio de uma empresa especializada, com
capacidade técnica e operacional para medir a qualidade dos serviços.

Por fim, é importante verificar, no caso das PPP, se as fontes de receitas que poderão ser utilizadas
para custear as despesas com a remuneração do parceiro privado também já se encontram regulamentadas,
assim como os limites fiscais e exigências orçamentárias incidentes.

2.2.4 Mecanismos para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro

A manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de contratos administrativos possui fundamento


constitucional (art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal).

POR DENTRO DAS LEIS


Constituição Federal
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

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A estruturação do modelo deve trazer um catálogo mais específico sobre as formas e os fatores de
reequilíbrio econômico-financeiro da concessão. Bem entendido que a estabilização da matriz de riscos é o
que configura a equação econômico-financeira do contrato de concessão e PPP, é conveniente que o
contrato antecipe as hipóteses possíveis para que se opere o reequilíbrio, assim como defina as
metodologias para tanto.

NA PRÁTICA
No Estado de São Paulo, os contratos em geral preveem a discricionariedade da unidade federativa para
eleger a forma de recomposição de equilíbrio econômico-financeiro, possibilitando a escolha entre os
seguintes mecanismos, sem prejuízo de outros:
• Prorrogação ou redução do prazo da Concessão;
• Revisão do valor da contraprestação;
• Revisão do valor das tarifas (em contratos com previsão de cobrança de tarifa);
• Combinação das modalidades anteriores ou outras admitidas pela legislação;
• Indenização/ pagamento pecuniário.
No entanto, pode-se citar alguns contratos que preveem condições específicas diversas:
• PPP Nova Tamoios: Alteração no plano de investimentos devida;
• PPP da Fabricação de Medicamentos – FURP: Aumento ou redução do percentual de desconto, bem
como majoração ou desconto sobre a contraprestação básica e/ou sobre a contraprestação adicional.
Fonte: Manual de Parcerias do Estado de São Paulo.

2.2.5 Cláusula de eficácia do contrato

Na hipótese de o contrato prever certas medidas iniciais para viabilizar a plena execução contratual
(a exemplo da assinatura de termo de transferência entre Poder Público e particular), é importante
considerar a inclusão de cláusula que contemple condição suspensiva ao início da eficácia do contrato. Com
isso, evita-se que prazos relativos a obrigações de investimentos comecem a correr, sem que tenham sido
atendidas todas as condições necessárias para dar plena exigibilidade às obrigações contratuais.

NA PRÁTICA
Confira alguns exemplos de cláusulas de eficácia presentes em contratos de PPP:
• PPP Estádio da Fonte Nova (BA):

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“13.2 Eficácia. A eficácia do Contrato se dará com o atendimento cumulativo de: (a) constituição da garantia
pública ou fluxo de pagamento nos termos da cláusula 7 do Edital de PPP; (b) assinatura do Contrato pelo
agente responsável pela custódia e manutenção da garantia pública ou do fluxo de pagamento, na qualidade
de intervenienteanuente; e (c) estruturação e assinatura dos instrumentos de financiamento necessários à
implementação do Projeto, conforme a Proposta Econômica apresentada pelo Adjudicatário. Considera-se
“Data de Eficácia” aquela em que se der o atendimento de todas essas condições.”
Confira o contrato na íntegra:
https://www.sefaz.ba.gov.br/administracao/ppp/Anexo_1_Contrato.pdf

• PPP Resíduos Sólidos no Município de Cuiabá (MT):


“13.7 A eficácia dos termos e condições deste CONTRATO está sujeita ao cumprimento, durante o PERÍODO
DE TRANSIÇÃO, das seguintes condições suspensivas:
13.7.1 Celebração, pelo MUNICÍPIO, CONCESSIONÁRIA e BANCO, dos instrumentos necessários para viabilizar
o mecanismo de pagamento da CONTRAPRESTAÇÃO, nos termos da CLÁUSULA 21ª ;
13.7.2 Celebração, pelo MUNICÍPIO, FUNDO, BANCO e CONCESSIONÁRIA, dos instrumentos pertinentes para
viabilizar a transferência automática de valores do FUNDO para a CONTA DA CONCESSIONÁRIA, nos termos
da CLÁUSULA 21ª;
13.7.3 Apresentação, pela CONCESSIONÁRIA, da GARANTIA DE EXECUÇÃO DO CONTRATO, nos termos da
CLÁUSULA 27ª; e
13.7.4 Contratação, pela CONCESSIONÁRIA, dos seguros, conforme previsto na CLÁUSULA 32ª.”
Confira o contrato na íntegra:
http://www.cuiaba.mt.gov.br/storage/webdisco/2015/12/30/outros/59ba8fd783c70089bf76fd5fcda79cf5.
pdf

2.2.6 Estruturação de garantias públicas

Ponto essencial para os contratos de parcerias público-privadas é o sistema de garantias públicas de


adimplemento das obrigações pecuniárias da unidade federativa. Tais garantias, que já são relevantes nos
contratos de concessão patrocinada, são ainda mais fundamentais nos contratos de concessão
administrativa, pois, na ausência de receita tarifária, eventual inadimplemento das contraprestações
públicas certamente terá forte impacto no fluxo de caixa do projeto.

RELEMBRANDO O CONTEÚDO

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Confira a videoaula “Garantias Públicas” para relembrar das informações importantes a respeito do tema.

A estruturação de garantias sólidas e eficazes para acautelar os agentes envolvidos (concessionária e


financiadores) concorre para a redução dos custos dos projetos de PPP, tornando a contratação mais
econômica e vantajosa à Administração. Há, portanto, uma relação direta e inversamente proporcional entre
os custos do projeto e a eficiência do sistema de garantias.

SAIBA MAIS
Uma possibilidade de garantia a ser instituída é a utilização de um fundo
garantidor, nos termos do art. 8°da Lei n° 11.079/04.
O que fala o especialista a respeito?
• Fernando Vernalha Guimarães - O fundo consiste, em síntese, em um instituto
que materializa “a autonomia de certo patrimônio (inclusive para efeitos de
sua gestão e organização), vinculando-se à realização de certos objetivos”
(VERNALHA GUIMARÃES, Fernando. Parceria Público-Privada. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 376.).

Destaca-se que os fundos referidos no inciso V do art. 8° da Lei das PPP são dotados
de personalidade jurídica de direito privado.

Afora isso, é comum, no âmbito de contratos de PPP, a destinação de recursos a uma conta vinculada,
colocada aos cuidados de um agente financeiro garantidor (um banco, por exemplo). Este agente financeiro
será responsável por gerir a conta, e, ao final de cada mês, transferir para a conta do parceiro privado valor
equivalente ao de sua contraprestação mensal efetiva.

IMPORTANTE
É importante pontuar que a vinculação de receitas não ofende o artigo 100 da Constituição Federal
(sistema de precatórios). Isso porque, o sistema de precatório se volta a pagamentos, por determinação
judicial, de obrigações vencidas, enquanto a vinculação de receitas tem por escopo obrigações vincendas.

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Para garantir recursos suficientes na conta para a realização dos pagamentos devidos ao parceiro
privado, é usual que a unidade federativa se comprometa a manter um saldo mínimo na conta, e a
complementar tal receita, no caso de insuficiência dos recursos vinculados. Com isso, garante-se um colchão
de liquidez, que reduz consideravelmente o risco de inadimplemento por parte da unidade federativa – e,
por conseguinte, os custos de transação contratuais.

Limitação importante atinente à vinculação de receitas é imposta pelo artigo 167, inciso V, da
Constituição Federal. Este dispositivo proíbe a vinculação de receitas advindas de impostos. Quanto a isso,
vale esclarecer, desde já, que a vinculação de receitas da COSIP para contratações de iluminação pública não
afronta essa vedação constitucional. Isso porque, a COSIP é uma contribuição, ou seja, constitui tributo de
natureza diversa de imposto.

POR DENTRO DAS LEIS


Constituição Federal
“Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.”

SAIBA MAIS
O que fala o especialista a respeito da vinculação de receitas?
• Fernando Vernalha Guimarães - a vinculação de receitas, por si só, não pode
ser considerada uma garantia clássica para fins das contratações de
concessão e PPP, mas constitui “modalidade de pagamento de obrigações
com fonte vinculada de receita” (VERNALHA GUIMARÃES, Fernando.
Parceria Público-Privada. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 365.).

2.2.7 Conformação das exigências de habilitação à luz da dimensão e das peculiaridades do


objeto da contratação

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Dada a envergadura dos contratos de concessão e PPP, é importante que os requisitos de habilitação
técnica e econômico-financeira exigidos por ocasião da licitação reflitam, adequadamente, a dimensão
técnica e econômico-financeira do projeto.

SAIBA MAIS
O artigo 18 da Lei nº 8.987/95 estabelece que o Edital de licitação será elaborado, no que couber,
observando as normas gerais sobre licitações e contratos. Isso significa que as exigências de habilitação da
Lei n° 8.666/93 devem ser aplicadas, conquanto se atende às peculiaridades dos contratos de concessão.

As exigências de qualificação técnica e econômico-financeira devem guardar, portanto,


proporcionalidade à dimensão técnica e ao porte financeiro do projeto. Assim, pode ocorrer que certas
exigências, que para contratos ordinários poderiam ser entendidas como restritivas, são perfeitamente
legítimas para a dimensão de contratos de concessão e PPP.

Neste particular, deve-se pontuar a necessidade de requisitos de qualificação técnica que garantam
a contratação de parceiro privado que assegure o atendimento aos requisitos técnicos associados ao projeto.
Para tanto, é relevante exigir a comprovação de experiência técnica pelos licitantes por meio da
apresentação de atestado, em dimensão qualitativa e quantitativa condizente com o projeto. A mesma
lógica deve ser aplicada à qualificação econômico-financeira.

2.2.8 Exigência de garantia de proposta (bid bond)

Instrumento relevante para assegurar a seriedade da participação de interessados em certame da


magnitude da concessão de serviços públicos é a exigência de garantia de proposta, prevista no artigo 31,
inciso III da Lei nº. 8.666/93.

SAIBA MAIS
Lei Geral de Licitações (LGL)
Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-á a:
(…)
III – garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos no ‘caput’ e § 1o do art. 56 desta Lei,
limitada a 1% (um por cento) do valor estimado do objeto da contratação.

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Muito embora a Lei n° 8.987/95 não trate especificamente das garantias a serem apresentadas no
momento da proposta, a aplicação supletiva da LGL serve para assegurar que esta exigência é válida e deve
constar no edital de licitação como requisito para a qualificação econômico-financeira do licitante.

Aqui, vale destacar que, conquanto a LGL tenha incluído a garantia de proposta como requisito de
habilitação, deve-se priorizar sua análise nos casos em que houver inversão de fases (onde ela pode ser
apresentada junto à proposta) ou fase de pré-qualificação (sendo apresentada junto com os demais
documentos exigidos).

NA PRÁTICA
Embora não haja previsão legal para que a garantia de proposta seja analisada
antes da fase de habilitação, não há vedação para tanto.
Em verdade, esse “adiantamento” da análise constitui expediente utilizado na
maior parte dos procedimentos licitatórios de grande porte, justamente porque
garante a seriedade da proposta apresentada pelo licitante.
Veja-se, nesse sentido:
• O Edital da concorrência internacional para concessão do serviço de
transporte público coletivo intermunicipal na Região Metropolitana de São
Paulo:
http://www.parcerias.sp.gov.br/Parcerias/Projetos/Detalhes/128
• O Edital da concessão administrativa para serviços de operação e manutenção
do empreendimento Sistema Produtos São Lourenço, em São Paulo:
http://www.parcerias.sp.gov.br/Parcerias/Projetos/Detalhes/115
• O Edital de concessão para ampliação, manutenção e exploração dos
Aeroportos Internacionais de Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Porto Alegre
(RS) e Salvador (BA):
http://www.anac.gov.br/assuntos/paginas-tematicas/concessoes/audiencias-
publicas-florianopolis-sc-fortaleza-ce-porto-alegre-rs-e-salvador-ba

2.2.9 Definição da arbitragem como meio de solução de conflitos derivados da concessão

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Em linha com a disposição do novo Código de Processo Civil, (art. 3º, §2º e §3º), a Lei nº 8.987/95
indica como prioritária a resolução consensual dos litígios nas concessões, ao prever que é cláusula essencial
dos contratos aquela que disponha sobre modo amigável de solução de divergências contratuais (art. 23,
inciso XV). Mais especificamente, o artigo 23-A de referida Lei dispõe que o contrato poderá prever o
emprego de mecanismos privados para resolução de disputas decorrentes ou relacionadas ao contrato,
inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei nº 9.307/96.

O artigo 11, inciso III, da Lei de PPP possui previsão similar. Segundo tal dispositivo, o edital poderá
prever o emprego dos mecanismos privados de resolução de disputas, inclusive a arbitragem, para dirimir
conflitos decorrentes ou relacionados ao contrato.

NA PRÁTICA
Além das normas nacionais destacadas, algumas leis regionais ou locais também
trataram sobre o assunto:
• Lei estadual nº 11.688/2004 – Estabelece o Programa de Parcerias Público-
Privadas no Estado de São Paulo e trouxe orientações para seleção dos
árbitros. Estes devem (i) ser vinculados a instituições especializadas na
matéria e (ii) possuir reconhecida idoneidade.
• Lei estadual nº 19.477/2011 – Regula arbitragem envolvendo o Estado de
Minas Gerais, que exige que o juízo arbitral seja exercido exclusivamente
por órgão arbitral institucional, assim como exige que seja previsto já no
edital de licitação todas as despesas com arbitragem, taxa de administração
da instituição arbitral, honorários de árbitros e peritos e outros custos
administrativos, que deverão ser adiantados pelo contratado quando da
instauração do procedimento arbitral.

A inclusão de cláusula compromissória no contrato é de interesse tanto do parceiro privado quanto


da unidade federativa. Isso porque, a arbitragem oferece maior segurança jurídica (árbitros com
conhecimento técnico da matéria resolvem o conflito) e efetividade (o procedimento é mais célere)
comparativamente a processos judiciais. Tais fatores, diminuem os custos de transação e precisamente por
isso implicam a redução do valor do contrato. Não por outra razão, a adoção desta forma de solução de
conflitos tem sido estimulada no âmbito da Administração Pública.

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Nesse sentido, a recente Lei nº 13.448/2017, que regulamenta a relicitação e prorrogação de
contratos de concessão dos setores rodoviário, aeroportuário e ferroviário federal, instituiu em caráter geral
a possibilidade de uso do procedimento arbitral para esses setores da infraestrutura, inclusive com a
possibilidade de alteração de contratos em vigor, para fins de que o instrumento seja incorporado às
cláusulas contratuais.

NA PRÁTICA
O Superior Tribunal de Justiça decidiu que “a Administração Pública, ao recorrer à arbitragem para
solucionar litígios que tenham por objeto direitos patrimoniais disponíveis, atende ao interesse público,
preservando a boa-fé dos atos praticados pela Administração Pública, em homenagem ao princípio da
segurança jurídica” (CC 139519/RJ).

É recomendável que os documentos editalícios disponham os contornos do procedimento arbitral,


por exemplo com a definição do órgão arbitral, critérios de escolha de árbitro, responsabilidade pelos custos,
sede e idioma da arbitragem, grau de publicidade (lembre-se que a publicidade é um dos princípios que rege
a Administração pública), evitando-se, assim, prejuízo à celeridade do procedimento em razão de eventuais
conflitos quando da instauração (já que as partes, em tal ocasião, estarão em litígio).
É recomendável, também, que sejam discriminadas as matérias contratuais sujeitas ao juízo arbitral,
assim como que a Administração justifique técnica e economicamente a adoção do juízo arbitral, bem como
demonstre a conformidade com as práticas de mercado.

NA PRÁTICA
Confira o seguinte precedente do TCU: “RELATÓRIO DE LEVANTAMENTO DE AUDITORIA.
DETERMINAÇÕES. PEDIDO DE REEXAME. CONHECIMENTO. OBRIGATORIEDADE DE CELEBRAÇÃO DE
CONTRATOS EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA A PRODUÇÃO DE EFEITOS NO PAÍS. CLÁUSULA ARBITRAL,
POSSIBILIDADE DESDE QUE JUSTIFICADA TÉCNICA E ECONOMICAMENTE. CONTRATAÇÃO NO MODELO
"TURN KEY", CONSIDERAÇÕES. PROVIMENTO PARCIAL. CIÊNCIA À RECORRENTE.”. (Acórdão 2145/2013-
Plenário).

NA PRÁTICA

18
O STJ decidiu quanto à abrangência do juízo arbitral que “não é qualquer direito público sindicável na
via arbitral, mas somente aqueles cognominados como ‘disponíveis’, porquanto de natureza contratual ou
privada” (STJ, MS 11308/DF).

A Lei nº 13.448/2017 serve de parâmetro para delimitar o âmbito de alcance da arbitragem, no


tocante aos contratos de concessão. Nos termos do artigo 31, §4º de referida Lei, consideram-se
controvérsias sobre direitos patrimoniais disponíveis:
• Questões relacionadas à recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos;
• Cálculo de indenizações decorrentes de extinção ou de transferência do contrato de concessão; e
• Inadimplemento de obrigações contratuais por qualquer das partes.

Restará ao Poder Judiciário eventuais controvérsias residuais, não afetas a direitos patrimoniais
disponíveis.

A limitação quanto à abrangência, entretanto, não deve desestimular a inclusão de cláusula


compromissória nos contratos de concessão, até porque tal procedimento é apto a resolver questões
contratuais fundamentais, como a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro e discussões acerca de
indenização.

NA PRÁTICA
A previsão do juízo arbitral é corriqueira nos contratos de concessão e PPP. Indo além do
detalhamento da cláusula compromissória, o contrato da concessão patrocinada para exploração de serviço
de transporte de passageiros da Linha 4 – Amarela do Metrô de São Paulo dispõe que eventuais controvérsias
devem ser submetidas, prioritariamente, a um Comitê de Mediação (cláusula trigésima quinta). Somente
quanto restar infrutífera a mediação, será possível instaurar o juízo arbitral, nos termos especificados no
contrato, ou recorrer ao Poder Judiciário. Previsão similar é contemplada no contrato da concessão
administrativa de resíduos sólidos urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (cláusula 34ª).

3. A FASE EXTERNA DA LICITAÇÃO

A fase externa da licitação tem início com a publicação do extrato do edital nos veículos, físicos e
digitais, de comunicação. Esse extrato conterá as principais informações da licitação, incluindo a data e o
local da sessão de recebimento de propostas.

19
A partir desse momento, o edital e seus anexos (incluindo a minuta do contrato) não poderão sofrer
alterações, a não ser aquelas que se voltem a corrigir pequenas falhas, cuja modificação não impacte na
formulação das propostas. Essa é uma regra da LGL aplicável aos projetos de PPP e Concessões, já que
garante que os licitantes possam utilizar de todo o tempo entre a publicação do edital e a data da sessão de
licitação para preparar a sua proposta.

IMPORTANTE
Se alguma alteração substancial ocorrer no transcurso desse prazo, deverá haver a
republicação do extrato com designação de nova data para recebimento das
propostas.

3.1. Prazos e formas de publicidade

O prazo entre a publicação do extrato do edital e a data da sessão é definido em lei. Como a
modalidade de licitação escolhida para projetos de PPP e concessões deve ser a concorrência (artigo 2º, II e
III da Lei de Concessões e artigo 10 da Lei de PPP), o prazo mínimo será de:

• 30 dias - se o tipo de licitação (método para identificar a proposta vencedora) tiver somente
referência financeira (menor preço, maior oferta, maior outorga etc.).
• 45 dias - caso haja uma combinação entre aspectos financeiros e técnicos.

Essas determinações dos prazos estão presentes no §2º do artigo 21 da LGL. Ainda no âmbito da
publicação, a unidade federativa deve obediência mínima ao que dispõem os incisos do artigo 21 da LGL. Tal
norma impõe que o extrato do edital seja publicado no diário oficial da unidade federativa, além de jornais
de grande circulação.

IMPORTANTE
Norma local pode fixar prazos maiores, bem como formas específicas de publicação.

POR DENTRO DAS LEIS

20
Acesse o artigo 2º, II e III da Lei de Concessões e artigo 10 da Lei de PPP pelo link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11079.htm
Acesse o §2º do artigo 21 da LGL pelo link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm

3.2. Habilitação e julgamento de propostas

As licitações para projetos de PPP e concessão também têm as mesmas etapas daquelas voltadas às
contratações tradicionais. Há as etapas de:

• Habilitação: voltada a identificar, dentre os privados que demonstraram interesse, quais detêm
condições para executar o projeto.
• Propostas: voltada a identificar, dentre as propostas de execução do projeto apresentadas, qual a
mais vantajosa para a unidade federativa.

VÍDEO

Após finalizar a leitura deste material, confira o vídeo “A habilitação técnica nas licitações de projetos de
concessão e PPP”, disponível no Módulo 4, e informe-se mais sobre o tema.

3.2.1. Inversão das etapas

Sabemos que a regra geral das licitações processadas sob a modalidade concorrência é de que a
primeira etapa a ser realizada na sessão de licitação é a da habilitação e depois a etapa de propostas. Mas,
você sabia que tanto a Lei de PPP (artigo 13) quanto a Lei de Concessões (artigo 18-A) permitem que haja a
inversão dessas etapas? Vamos entender um pouco mais a seguir.

1º Define-se que a licitação será feita com inversão das etapas.[PMCD1]


2º Realiza-se a fase de exame de propostas, na qual são classificadas as propostas em ordem de
vantajosidade e desclassificadas aquelas que não atenderem aos requisitos do edital (que apresentarem
preço inexequível, por exemplo).

21
3º Analisa-se os documentos habilitatórios somente do licitante portador da proposta mais bem classificada.
Se atender os requisitos do edital, será esse licitante declarado vencedor da licitação. Caso não atenda,
serão analisados os documentos do licitante classificado em segundo lugar na fase de propostas e assim por
diante.[U2]
[s3]

IMPORTANTE
A decisão pela inversão deve ser justificada no ambiente da unidade federativa. Uma
motivação muito comum é a eficiência da licitação, pois as licitações de projetos de
concessões e PPP exigem a apresentação de um grande volume de documentos.
Analisar somente a documentação do licitante portador da proposta mais bem
classificada otimiza o tempo despendido na licitação, tornando-a mais célere, sem
perder o rigor.

NA PRÁTICA
Pode-se citar como exemplo alguns editais de PPP no Estado de São Paulo nos quais houveram inversão de
fases:
• PPP da Linha 4 – Amarela do Metrô do Estado de São Paulo: Item 8. Previu inversão de fases;
• PPP da Fabricação de Medicamentos (FURP): Item 13. Previu inversão de fases;
• PPP da Habitação Social do Estado de São Paulo: Preâmbulo. Previu inversão de fases.

3.2.2. Pré-qualificação

Existe uma grande quantidade de documentos apresentados em licitações conectadas com projetos
de concessões e PPP. Para agilizar mais o processo de licitação é comum a adoção da pré-qualificação, que
tem previsão no artigo 114 da LGL.

A pré-qualificação se volta exatamente para situações em que é necessária uma análise mais detida
dos documentos habilitatórios, especificamente aqueles relativos à qualificação técnica. Uma licitação
voltada a um projeto de saneamento greenfield, por exemplo, exigirá que os licitantes apresentem atestados
que demonstrem sua capacidade para a construção de redes de abastecimento e/ou coleta de esgoto ou
ainda estações de tratamento de água ou esgoto. Além disso, deverão demonstrar habilidade na operação
desses sistemas.

22
POR DENTRO DAS LEIS
Leia o artigo 114 da LGL na íntegra em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm

Essa demonstração se dá por meio de atestados que revelem similaridade entre o que os licitantes já
construíram/operaram com as características mais relevantes do projeto. Esses atestados poderão ou não
ser somados ou poderá ainda haver limitações para o somatório. Tudo depende da complexidade do projeto.
Ainda, poderão ser apresentados atestados que demonstrem experiências em outros países, o que torna
mais complexa a análise da documentação.

NA PRÁTICA
Confira alguns exemplos de modelos de documentos exigidos para a pré-qualificação:
http://www.planejamento.pr.gov.br/arquivos/File/conselhogestor/Anexos_PR/09_Anexo_ll_Modelos_Cart
as_Rev01.pdf
http://www.diadema.sp.gov.br/dmp/comunicacao/Comunicacao/Site2/PPP%20RIP-
D%20EDITAL%20ANEXO%20VII.pdf

A utilização da pré-qualificação permite que a unidade federativa antecipe esse momento complexo
da licitação, isolando-o dos demais. Terminada a fase de pré-qualificação, somente os interessados que
passaram por essa fase e foram declarados habilitados poderão participar da licitação.

IMPORTANTE
A fase de pré-qualificação se volta exclusivamente às questões de qualificação
técnica. Ela, portanto, não elimina a etapa da habilitação, que ocorrerá para atestar
as condições jurídicas, fiscais e econômico-financeiras dos licitantes.

3.2.3. Etapa de habilitação

A etapa da habilitação segue de forma idêntica a sistemática da LGL. Como já informamos, a


habilitação dos licitantes é constatada por meio de quatro pontos:
• habilitação jurídica;
• regularidade fiscal;

23
• qualificação técnica;
• qualificação econômico-financeira.

POR DENTRO DAS LEIS


As formas de comprovação desses requisitos e os limites de exigência do edital de
licitação estão disciplinados na LGL, entre os artigos 27 a 33. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm

3.2.4. Etapa de propostas

Diferentemente do que acontece na etapa de habilitação, a de propostas tem regramento próprio


nas Leis de Concessões e de PPP. Os projetos contratados por meio dessas leis são complexos, sua execução
se prolonga, com muita frequência, por mais de uma década e, em muitas vezes, o privado acaba fazendo
as vezes da unidade federativa como prestador de serviço público perante a população. Em razão disso, as
formas de apresentação de propostas são também mais complexas, pois precisam refletir todas essas
nuances.

Mas o que há de comum entre as etapas de propostas da LGL e das Leis de Concessão e PPP?
Em ambas o julgamento pode ter somente o critério econômico ou combiná-lo com critérios técnicos.
Acompanhe a seguir os critérios técnicos.

3.2.4.1. Critérios técnicos de proposta

Há dois métodos de julgamento de propostas técnicas. Confira no quadro abaixo:

Método Previsão legal Característica


Técnica mínima Art. 12, I da Lei de PPP e • Trata-se de um critério de
art. 15, VII da Lei de corte (eliminatório). Ou seja, todo
Concessões licitante que atingir a uma
pontuação mínima, definida em
edital, será classificado na etapa
técnica e terá sua proposta
econômica analisada.
• Daqueles que tiverem a
proposta econômica analisada,
vencerá o que apresentar a
proposta econômica mais

24
vantajosa, já não importando mais
se tem ou não a melhor nota
técnica.
• Aqueles que não
alcançarem tal nota mínima serão
desclassificados da disputa e não
terão sequer sua proposta de
preços analisada.
Melhor técnica Art. 15 da Lei de Esse critério não é de corte (é
Concessões e art. 12, II, b qualitativo, portanto). Ele atribui
da Lei de PPP pontuação para a proposta técnica
de cada licitante, de acordo com os
termos estabelecidos no edital.
Nessa sistemática, a proposta
econômica também recebe
determinada pontuação.
O vencedor será o licitante que
atingir a melhor nota, extraída de
uma média ponderada (com pesos
definidos em edital) entre a nota
técnica e a nota econômica.
Fonte: elaborado pelo autor (2018).

POR DENTRO DAS LEIS


A LGL, no artigo 45, II, denomina o método técnica mínima como melhor técnica.
Acesse:
Art. 12, I da Lei de PPP e art. 15, VII da Lei de Concessões, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8987cons.htm
Art. 15 da Lei de Concessões e art. 12, II, b da Lei de PPP, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8987cons.htm

Acompanhe, no Quadro a seguir, as boas práticas relacionadas aos critérios das técnicas:

Técnica Critérios
Mínima É indicado para aqueles projetos em que a unidade federativa já tenha
definido a forma de operação (por meio de determinada tecnologia, por
exemplo) que será adotada quando da execução do contrato. Nesse
cenário, esse critério é mais indicado, porque serve para identificar quais
licitantes têm condições técnicas mínimas de executar o projeto por
meio daquela tecnologia pré-definida.
Melhor É recomendável quando a unidade federativa, na fase de estudos, não
identificou uma tecnologia específica para a operação do projeto. A
avaliação técnica das propostas se volta a analisar qual é a melhor
tecnologia para o projeto dentre todas aquelas ofertadas.
25
Fonte: elaborado pelo autor (2018).

3.2.4.2. Critérios econômicos de proposta

Como vimos, as Leis de Concessão e de PPP apresentam critérios econômicos para análise de
propostas bem distintos daqueles adotados pela LGL. Veja quais são:

Norma Critérios
Lei de Concessões (artigo 15) • Menor valor da tarifa.
• Maior oferta (nos casos de
pagamento de outorga pela
concessão).
• Melhor proposta técnica com preço
fixo em edital.
• Combinação entre melhor técnica e
menor tarifa.
• Combinação entre melhor técnica e
maior oferta (outorga).
• Maior oferta (outorga) após aferição
de técnica mínima.
• Combinação dos critérios de menor
valor da tarifa, maior oferta e maior
oferta (outorga) após aferição de
técnica mínima.
Lei de PPP • Todos os critérios da Lei de
Concessões, com exceção dos
itens “combinação entre melhor
técnica e maior oferta (outorga)”
e “combinação dos critérios de
menor valor da tarifa, maior
oferta e maior oferta (outorga)
após aferição de técnica mínima”
acima.
• Menor valor de contraprestação a
ser pago pela unidade federativa.
• Combinação entre menor valor
de contraprestação e melhor
técnica.
Fonte: elaborado pelo autor (2018).

Vale ressaltar que a apresentação das propostas econômicas ocorre sempre em documentos
escritos, inseridos em envelopes lacrados. Não se admite, portanto, meios virtuais para sua apresentação.
Mas, nem sempre o conteúdo da proposta escrita será a oferta definitiva do licitante. O artigo 18-A, inciso I
da Lei de Concessões e o artigo 12, III, b da Lei de PPP permitem que, após a apresentação das propostas
26
escritas, os licitantes possam ofertar lances verbais, tornando mais atrativo à unidade federativa o conteúdo
de suas propostas.

POR DENTRO DAS LEIS


Leia na íntegra o artigo 18-A, inciso I da Lei de Concessões e o artigo 12, III, b da Lei
de PPP, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11079.htm

A dinâmica permite que a melhor proposta econômica escrita tenha sua vantajosidade superada por
uma oferta verbal de outros licitantes, criando-se uma disputa de lances entre todos os licitantes.

A Lei de PPP estabeleceu um limite, o qual não se encontra na Lei de concessões, em relação a quais
licitantes poderão avançar para essa etapa de lances verbais. Segundo o inciso I do parágrafo 1º do artigo
12, somente poderão avançar para a etapa de lances verbais aqueles licitantes cuja proposta escrita for no
máximo 20% (vinte por cento) maior que o valor da melhor proposta.

SAIBA MAIS
Essa norma desestimula a apresentação de ofertas econômicas pouco atrativas por
parte dos licitantes, no momento das propostas escritas. É que, em oferecendo
propostas escritas pouco competitivas, correm o risco de não participarem da etapa
de lances verbais. Ou seja, amplia-se a possibilidade de perder a disputa.

3.2.5. Recursos e providências de encerramento da licitação

São cabíveis recursos administrativos nas licitações voltadas a projetos de concessões ou PPP, nos
mesmos moldes do que ocorre nas licitações tradicionais. A base legal para isso é o próprio artigo 109 da
LGL. Portanto, cabe recurso para a autoridade superior à Comissão de Licitação sobre:
• decisão que habilita ou inabilita licitante;
• estipulação de nota, classificação ou desclassificação de proposta técnica;
• estipulação de nota, da classificação ou desclassificação de proposta de preços.

27
Julgados os recursos será identificado o licitante detentor da melhor proposta, sendo declarado
vencedor, e a ele adjudicado o objeto da licitação.

POR DENTRO DAS LEIS


Leia na íntegra o artigo 109 da LGL, acesse o link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm

NA PRÁTICA
Confira o acórdão 2143/2013 Plenário do TCU que tratou dos efeitos suspensivos dos recursos:
“o efeito suspensivo dos pedidos de reconsideração e de reexame, bem como dos embargos de declaração,
impetrados contra as Decisões do Tribunal, susta provisoriamente os efeitos das mesmas até o julgamento
do recurso, mas não autoriza o recorrente a, antes do pronunciamento do Tribunal sobre o mérito do recurso,
praticar qualquer ato ou adotar qualquer providência que direta ou indiretamente contrarie qualquer dos
itens da decisão recorrida, sujeitando-se o infrator à multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/93, combinado
com o art. 220, II, do Regimento Interno;”
Acórdão completo:
http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Acord/20130815/AC_2143_31_13_P.doc

4. FORMALIZAÇÃO DO CONTRATO E CONDICIONANTES PARA SUA EFICÁCIA

Quando encerrada a licitação, tanto a unidade federativa quanto o vencedor da licitação terão de
adotar certas providências anteriores à celebração do contrato. Trata-se de requisitos, previamente
estabelecidos no edital, que devem ser cumpridos para que o contrato seja assinado.

Os condicionantes mais comuns são:


• Ressarcimento dos estudos
• Constituição da SPE
• Apresentação das garantias

Acompanhe a seguir a qual parte cabe cada uma das providências:

Partes Providências

28
Licitante vencedor Constituição da Sociedade A apresentação, pela
de Propósito Específico própria SPE criada, das
(SPE). Trata-se da criação garantias de execução do
de uma empresa (uma contrato. Os valores das
nova pessoa jurídica) que garantias serão definidos
terá como finalidade a em edital e variam de
execução do contrato de acordo com o projeto.
concessão ou PPP. Caso haja no objeto do
projeto a execução de
obra, o valor da garantia
não deve ultrapassar o
valor da obra.
Unidade federativa Estruturação e constituição das garantias públicas, se
houver. Caberá à unidade federativa demonstrar que as
garantias apresentadas na licitação existem e estão
aptas a dar suporte ao contrato, seja por meio de fundo
ou empresa garantidores, através da técnica da conta
vinculada ou se valendo de ambos os meios.
Fonte: elaborado pelo autor (2018).

RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Confira a videoaula “Entendendo a SPE” para relembrar como ocorre a Constituição da Sociedade de
Propósito Específico.

RELEMBRANDO O CONTEÚDO
Confira a videoaula “Garantias Públicas” para relembrar das informações importantes a respeito do tema.

Uma vez cumpridas as condições o contrato será assinado. A unidade federativa deverá providenciar
sua publicação na imprensa oficial, nos termos e condições do parágrafo único do artigo 61 da LGL.

IMPORTANTE
A assinatura do contrato pode, em várias situações, não representar o início de sua
execução. Muitos contratos estipulam cláusulas de eficácia. Nelas são apresentadas
certas condicionantes para que o contrato passe mesmo a valer. Geralmente são
obrigações preliminares, a serem cumpridas ou pelo privado ou pela unidade
federativa.

Alguns exemplos de condições de eficácia constantes em contratos de concessão ou PPP:

29
Parte contratante Obrigação
Privado Contratação de seguros para a obra e/ou
operação.
Apresentação do contrato de
financiamento.
Unidade Federativa Apresentação de licença ambiental
prévia.
Liberação de áreas que serão objeto de
desapropriação.
Transferência da posse de bens que
servirão à concessão.
Fonte: elaborado pelo autor (2018).

4.1 Ressarcimento dos Estudos

O ressarcimento dos estudos é uma das providências necessárias para a assinatura do contrato de
concessão. Tal providência deverá ser realizada pelo vencedor da licitação no caso dos estudos realizados
por particulares que foram efetivamente utilizados pela unidade federativa na modelagem final aprovada.

Esse ressarcimento não precisa, necessariamente, cobrir o valor total dos estudos, podendo ser
proporcional ao aproveitamento deles feito, desde que essa possibilidade esteja prevista nos termos dos
critérios do chamamento público.

Devido a isso, é extremamente importante que os critérios de ressarcimento estejam expressos


claramente no edital de chamamento público.

NA PRÁTICA
O Decreto Estadual n. 61.371/2015 do Estado de São Paulo estabelece alguns parâmetros que devem ser
considerados para a fixação de critérios de ressarcimento dos estudos. Confira:
• Valor nominal máximo e forma de reajuste, definidos no edital de chamamento público;
• Percentual que será calculado com base no (maior) valor total estimado pela unidade federativa para:
- Os investimentos indispensáveis à implementação do empreendimento; ou
- Os gastos indispensáveis à operação e à manutenção da PPP durante toda a vigência do contrato.
• Remuneração variável quanto aos ganhos de eficiência e economicidade que serão obtidos pela
unidade federativa (ex.: receitas acessórias, técnicas ou tecnologias alternativas e diferenciação nos
projetos). Esta deve ser proporcional à economia para a unidade federativa relativa aos estudos
apresentados.

30
Confira o decreto na integra:
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2015/decreto-61371-21.07.2015.html
Fonte: Manual de Parcerias do Estado de São Paulo

5. Gestão Contratual

Após a formalização do contrato, e também após cumpridas eventuais condições de eficácia, dá-se
início a fase de vigência deste e consequente execução do projeto de concessão e PPP. Trata-se do momento
de transição da prestação do serviço público para a concessionária ou do início da prestação do serviço em
questão.

Nessa fase ocorre também o acompanhamento e gestão do contrato de concessão assinado pela
unidade federativa durante todo o prazo de vigência contratual. O objetivo principal desta fase é analisar se
o que foi acordado está sendo cumprido, bem como observar a eficiência da prestação do serviço.

Para isso, a gestão contratual, inclui a atuação do Comitê Gestor da PPP nas seguintes atividades:
• Observação e monitoramento dos indicadores de desempenho estabelecidos e consequente
formulação de relatórios com o desempenho do contrato;
• Fiscalização da execução da PPP;
• Emissão de opinião a respeito de alteração, revisão, rescisão, prorrogação ou renovação do
contrato.

NA PRÁTICA
O Estado do Piauí lançou, por meio do seu Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas, o primeiro manual
de gestão de contratos. Confira:
http://www.ppp.pi.gov.br/pppteste/wp-content/uploads/2018/10/Manual-de-gest%C3%A3o-
contratual.pdf

5.1. Prorrogações Contratuais

Como já foi visto, contratos de concessão estabelecem uma relação de ônus e bônus entre a unidade
federativa e o particular para realização de um projeto concessionário. Assim, são estabelecidas condições
que estabelecem direitos e deveres a cada uma das partes, gerando uma equação econômico-financeira.

31
O art. 37, XXI, da CF exige que as condições efetivas da proposta sejam sempre mantidas
incondicionalmente. Ou seja, a equação econômico-financeira é intangível, garantindo, assim, segurança
jurídica ao núcleo do contrato.

É importante frisar que a intangibilidade em questão não é de cada cláusula contratual


individualmente, mas apenas da relação econômico-financeira estabelecida no contrato por meio do
conjunto de todas as cláusulas que determinam os ônus e bônus de cada parte.

Por isso, qualquer ato administrativo que venha a alterar esse equilíbrio estabelecido deve ser
acompanhada de medida compensatória que reestabeleça a proporcionalidade dos direitos e deveres das
partes. Esse entendimento fica claro no previsto pelo art. 9, §4°, da Lei n°8.987/1995.

POR DENTRO DAS LEIS

LEI N° 8.987/1995

Art. 9. A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo preço da proposta vencedora da licitação e
preservada pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no contrato.

(...)

§4°. Em havendo alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro,
o poder concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à alteração.

Os efeitos do desequilíbrio a longo prazo prejudicam o mercado de contratação pública de forma


geral, encarecendo os serviços e distanciando o capital privado de projetos essenciais que a unidade
federativa não é capaz de realizar sozinha.

A medida mais comum de recomposição utilizada para cumprir o dever de manutenção do equilíbrio
é a pecuniária. Assim, a unidade federativa costuma desembolsar, à custa da verba pública, valor
correspondente ao ônus sentido pelo particular por conta do desequilíbrio, como forma de indenização.

32
No entanto, é importante notar que esse mecanismo de reequilíbrio adveio de contratos
administrativos puros, considerados bilaterais, de curto prazo e estruturados por prestações pré-
configuradas desde o edital, ou seja, bem diversos dos contratos de concessão e PPP, contratos de longo
prazo e mutáveis por natureza, de forma que surpresas são esperadas.

Tendo isso em vista, outra medida possível para a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro
é a alteração em variável do contrato que consiga restabelecer a situação de equilíbrio anterior. Essas
variáveis dependem da configuração e do desenvolvimento do contrato em questão, mas alguns exemplos
são:

• aumento de tarifas;
• aumento da base pagante;
• diminuição de investimentos;
• aumento da extensão do prazo contratual, etc.

A mudança no prazo do contrato se relaciona com o desequilíbrio em desfavor do concessionário,


pois a prorrogação do contrato cria vantagem adicional ao particular sem prejuízo ao projeto e o
encurtamento do contrato não traz vantagem adicional à unidade federativa.

É importante distinguir a prorrogação como meio de reequilíbrio da prorrogação própria da


renovação do contrato. A primeira trata de espécie de prorrogação extraordinária enquanto que a segunda
trata de espécie de prorrogação ordinária.

As prorrogações extraordinárias ocorrem com o contrato desequilibrado ou em iminente


desequilíbrio, sendo necessárias para o cumprimento do dever da unidade federativa de promover o
reequilíbrio contratual. Configura-se como uma prorrogação destinada a corrigir uma situação ilícita e
anômala. Trata-se de método para reequilibrar o contrato, trazendo-o novamente à normalidade.

Lembra-se também que o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato é gerado por fato


imprevisível no momento da celebração da concessão. Dessa forma, a prorrogação extraordinária não carece
de instrumento que preveja meios e métodos para sua implantação pela impossibilidade de tutela de
33
situações imprevisíveis e inesperadas. Assim, embora seja desejável que o contrato preveja a hipótese de
prorrogação como fórmula de reequilíbrio, sua ausência não impacta na possibilidade de utilizar a
prorrogação como meio para recompor a equação econômico-financeira do contrato (art. 9°, §4°, da Lei n°
8.987/1995).

IMPORTANTE

Outro ponto importante de diferenciação das prorrogações extraordinárias é que, ao contrário das
prorrogações ordinárias, não há limitação legal ou contratual para delimitação do período que o contrato
será prorrogado. Isso porque, a prorrogação deverá ocorrer exatamente pelo período necessário ao
reequilíbrio do contrato.

Esse período deve ser o resultado de cálculos financeiros e econômicos realizados em cada caso. Tais
cálculos demonstrarão também se o mecanismo da prorrogação é o adequado para o desequilíbrio em
questão, devendo se demonstrar que o interesse público primário que baseou a concessão é favorecido da
mesma forma que se privilegia o respeito ao direito subjetivo do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato.

Sendo bem-feita, a prorrogação extraordinária do prazo contratual da concessão pode, além de


trazer vantagem adicional ao investidor, compensando desequilíbrios, fazer isso respeitando à modicidade
da tarifa e preservando as verbas públicas.

Já as prorrogações ordinárias ocorrem com o contrato equilibrado, com obrigações adimplidas pelas
partes e se funda no juízo de conveniência e oportunidade da unidade federativa, que possui competência
discricionária para optar pela dilatação do prazo do contrato.

Portanto, antes da decisão de prorrogação ordinária, deve-se analisar se o aumento do prazo do


contrato de concessão e PPP favorecerá os seguintes fatores:

• Eficiência – será maior com a manutenção do que com a retomada do serviço pela unidade
federativa;

34
• Economicidade – será maior com a manutenção do que com a instalação de novo
processo licitatório;
• Vantajosidade – a manutenção será melhor ao interesse público.

IMPORTANTE

É importante lembrar que para a adoção da prorrogação ordinária é necessário que haja cláusula
contratual expressamente permitindo a prorrogação ou que inexista cláusula que expressamente a
proíba.

LEI N° 8.987/1995

Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas:

(...)

XII - às condições para prorrogação do contrato;

Além desses requisitos, a prorrogação ordinária também deve ser implementada por meio de termo
aditivo devidamente motivado, tanto de forma técnica quanto de forma jurídica.

SAIBA MAIS

Vale destacar que apesar da distinção entre a prorrogação extraordinária e a prorrogação ordinária, as
duas formas de prorrogação não são incompatíveis entre si. Dessa forma, por exemplo, é possível que
uma prorrogação extraordinária ocorra para reequilibrar um desequilíbrio econômico-financeiro
ocorrido durante a vigência de uma prorrogação ordinária.

Como pode ser observado, o prazo da concessão e a sua possibilidade de prorrogação são elementos
importantes da viabilidade do projeto de concessão e PPP e se relacionam fortemente com a equação
econômico-financeira do contrato.

35
Portanto, o prazo de vigência contratual não pode ser estabelecido aleatória e discricionariamente.
Deve, pelo contrário, ser estabelecida com base em cálculos e estudos de engenharia econômico-financeira.
O mesmo deve ser observado para o estabelecimento de prazos de prorrogação extraordinários.

NA PRÁTICA

O Informativo de Licitações e Contratos n° 153 do TCU tratou da possibilidade de demonstração de


vantajosidade econômica da prorrogação contratual, sem a necessidade de pesquisa de mercado, quando
estiverem previstos requisitos contratuais de reajuste salarial, de índices de preços se insumos e de limites
de preço para contratação:

https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24D309895014D33A06825114
C&inline=1

5.4. Extinção da Concessão

Existem sete casos mais frequentes de extinção de concessão comum ou PPP:

• Término do prazo contratual;


• Encampação (extinção prematura por decisão política);
• Caducidade (em caso de descumprimento do contrato pelo privado);
• Rescisão (em caso de descumprimento do contrato pela unidade federativa);
• Anulação (em caso de contrato inválido por vícios no processo ou no conteúdo);
• Caso fortuito ou de força maior;
• Falência ou extinção da concessionária.

Aqui vamos tratar mais profundamente apenas alguns desses casos citados. Ainda assim, em todos
eles, é importante se atentar para três pontos essenciais:

• Continuidade da prestação dos serviços


• Retorno do investidor
• Pagamento da dívida

36
O primeiro ponto é de extrema importância, pois, por se tratar de serviços públicos, não pode haver
interrupção destes, de forma que a continuidade deve ser garantida, transferindo a responsabilidade pela
prestação para a unidade federativa.

A unidade federativa precisará, nesses casos, juntar uma equipe capaz de continuar a prestação do
serviço prestado pelo privado. Essas dificuldades podem ser sustadas pelo privado, de forma que é
interessante que este tenha a obrigação de cooperar e agir da forma necessária para minimizar as
dificuldades da unidade federativa na assunção do serviço.

O segundo ponto é cabível apenas quando a extinção do contrato ocorre por ato da unidade
federativa não baseado em inadimplência do privado. Ou seja, mesmo extinto prematuramente o contrato,
o particular terá direito a receber o retorno financeiro projetado quando elaborou a proposta vencedora, na
fase da licitação.

Já o terceiro ponto é cabível em qualquer caso de extinção contratual prematura, haja ou não culpa
do parceiro privado. A relevância desse ponto se relaciona com o fato, já tratado aqui, de que boa parte dos
recursos que financiam os projetos de concessão e PPP advém de dívidas em bancos, agências de
desenvolvimento ou no mercado de capitais. Lembra-se aqui que o risco de extinção prematura seria um
risco que os financiadores não teriam como gerenciar ou mitigar. Mas, sem a existência da garantia do
pagamento da dívida, em caso de extinção prematura, muito provavelmente nenhum agente financeiro iria
assumir o risco de financiar o projeto.

Além desses pontos essenciais, outra questão que demanda atenção é a da viabilidade ou não do
condicionamento do acolhimento do serviço pela unidade federativa ao pagamento prévio das indenizações
cabíveis, em caso de extinção contratual, ao privado.

Aqueles que defendem essa possibilidade entendem que se a unidade federativa pode conceder o
serviço, prorrogar o contrato e estabelecer condições de extinção deste, caberia a ela também estipular
condições de assunção do serviço. Ou seja, seria possível ao contrato versar sobre as condições da eficácia

37
da própria extinção, estabelecendo o pagamento prévio das indenizações ao particular como condição da
transferência da operação do serviço.

Há quem entenda, no entanto, que as normas legais sobre o assunto não podem ser objeto de
disposição contratual. Essa é a posição de parte da jurisprudência, de forma que, na prática, pode-se citar
casos nos quais, mesmo havendo cláusula que obrigava a unidade federativa de pagar as indenizações antes
de assumir a prestação do serviço, decidiu-se ignorá-la e transferir o serviço mesmo imediatamente
independente das indenizações (TJSP, Agravo de Instrumento n° 990.10.010714-3).

NA PRÁTICA

Confira a ementa do Agravo de Instrumento n° 990.10.010714-3 do TJSP:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de manutenção de posse – Término do contrato de concessão de


serviço público de saneamento básico realizado entre a SABESP e a Municipalidade de Iperó – Pedido de
manutenção na posse com base no disposto no contrato, cláusula 15, §3°, que previa a continuidade da
concessionária no exercício da concessão até o pagamento da indenização – Disposição contratual
superada em face do art. 35, §§ I e 1 da Lei 8.987/95 – Correta r. decisão atacada, que reconsiderando
outra proferida, indeferiu o pedido de liminar formulado pela SABESP – Revogação do efeito ativo
concedido – Recurso desprovido.”

Já em casos nos quais não há cláusula contratual específica, a jurisprudência vai no sentido de exigir
prévia indenização apenas nos casos de extinção do contrato por encampação devido a interpretação do art.
37 da Lei 8.987/95 (STJ. AgRg na SS n° 1307, rel. Min. Edson Vidigal; TJSP, Processo 661.755.5/6-01, 7ª
Câmara de Direito Público; TJMG, AI n° 1.0105.04.117284-9/001.).

NA PRÁTICA

Confira a ementa do Agravo Regimental em Suspensão de Segurança n° 1307 do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL EM SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. REQUISITOS. LEI N°4.348/64, ART. 4°. LESÃO À
ORDEM E SAÚDE PÚBLICAS CONFIGURADA. EXTINÇÃO DO CONTRATO DE CONCESSÃO. DECURSO DO
PRAZO CONTRATUAL. ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. RETOMADA DO SERVIÇO PELO PODER

38
PÚBLICO CONCEDENTE. 1. Nos casos de Mandado de Segurança, quando indeferido o pedido originário
de suspensão em segundo grau, o novo pedido de suspensão, em se tratando de matéria
infraconstitucional, pode ser requerido ao STJ, como na exata hipótese dos autos (Lei n° 4.348/64, art.
4°, §1°). 2. A suspensão de liminar, como medida de natureza excepcionalíssima que é, somente deve
ser deferida quando demonstrada a possibilidade real de que a decisão questionada cause
consequências graves e desastrosas a pelo menos um dos valores tutelados pela norma de regência:
ordem, saúde, segurança e economia públicas (Lei n° 4.348/64, art. 4°). 3. Extinto o contrato de
concessão – destinado ao abastecimento de água e esgoto do Município -, por decurso do prazo de
vigência, cabe ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de nova
licitação, a fim de assegurar a plena observância do princípio da continuidade do serviço público (Lei n°
8.987/85). A efetividade do direito à indenização da concessionária, caso devida, deve ser garantida nas
vias ordinárias. 4. Com a demonstração do risco de dano alegado, impõe-se a manutenção da suspensão
concedida. Agravo Regimental não provido.

O art. 35, §4°, da Lei 8.987, fala especificamente que “o Poder Concedente antecipando-se à extinção
da concessão, procederá aos levantamentos e avaliações necessários à determinação dos montantes da
indenização que será devida à concessionária”.

NA PRÁTICA

O Manual de Padronização de Regras Chave de Parcerias Público-Privadas do Governo do Estado de Minas


Gerais dá a seguinte sugestão de cláusula de extinção da concessão:

“CLÁUSULA 1ª – DA EXTINÇÃO DA CONCESSÃO

1.1 A Concessão extinguir-se-á por:

I. advento do termo contratual;

II. encampação;

III. caducidade;

IV. rescisão;

V. anulação; ou

VI. falência ou extinção da Concessionária.

39
1.2 Extinta a Concessão, serão revertidos ao Poder Concedente todos os Bens Reversíveis, livres e
desembaraçados de quaisquer ônus ou encargos, e cessarão, para a Concessionária, todos os direitos
emergentes do Contrato.

1.3 Na extinção da Concessão, haverá imediata assunção dos serviços relacionados à Concessão pelo Poder
Concedente, que ficará autorizado a ocupar as instalações e a utilizar todos os Bens Reversíveis.”

Confira o documento na integra:

http://www.ppp.mg.gov.br/images/documentos/Projetos/em_elaboracao/manual_ppp/MANUAL%20DE%
20PADRONIZACaO%20DE%20REGRAS%20CHAVES%20DE%20PPP-
%20Versao%20Pos%20Consulta%20Publica.pdf

5.4.1. Encampação

A encampação, também chamada de resgate, é uma das possibilidades de extinção contratual de


uma PPP. Ela ocorre por ato do poder concedente que visa ao interesse público e que, por isso, retoma o
serviço concedido enquanto ainda corre o prazo da concessão. Assim, a encampação pode acontecer a
qualquer tempo desde que devidamente motivada pelo interesse público.

Além desse pressuposto do interesse público, para que essa modalidade de extinção do contrato
ocorra é preciso:

• Possuir autorização legislativa específica;


• Pagar, previamente, uma indenização ao particular.

POR DENTRO DAS LEIS

Lei 8.987

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente durante o prazo da
concessão, por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa específica e após prévio pagamento
da indenização, na forma do artigo anterior.

Tal indenização do particular deve cobrir:

40
• Parcelas dos investimentos ainda não amortizadas ou depreciadas (desde que deduzidos os ônus
financeiros remanescentes);
• Desoneração relativa às obrigações dos contratos de financiamentos;
• Encargos e ônus advindos de indenizações, multas e rescisões devidas;
• Lucros cessantes.

NA PRÁTICA

O Manual de Padronização de Regras Chave de Parcerias Público-Privadas do Governo do Estado de Minas


Gerais dá a seguinte sugestão de cláusula a respeito da encampação:

“CLÁUSULA 1ª – DA ENCAMPAÇÃO

1.1 O Estado de Minas Gerais poderá, a qualquer tempo, mediante autorização legislativa e prévio pagamento de
indenização, encampar a Concessão, por motivos de interesse público, a ser calculada nos termos da subcláusula 1.2.

1.2 A indenização devida à Concessionária em caso de encampação cobrirá:

I. as parcelas dos investimentos realizados, inclusive em obras de manutenção, bens e instalações, ainda não
amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados para o cumprimento deste Contrato, deduzidos os ônus
financeiros remanescentes;

II. a desoneração da Concessionária em relação às obrigações decorrentes de contratos de financiamentos por esta
contraídas com vistas ao cumprimento do Contrato, mediante, conforme o caso:

III. prévia assunção, perante as Instituições Financiadoras, das obrigações contratuais da Concessionária, em especial
quando a sua receita figurar como garantia do financiamento; ou

IV. prévia indenização à Concessionária da totalidade dos débitos remanescentes desta perante as Instituições
Financiadoras;

V. todos os encargos e ônus decorrentes de multas, rescisões e indenizações que se fizerem devidas a fornecedores,
contratados e terceiros em geral, inclusive honorários advocatícios, em decorrência do conseqüente rompimento dos
respectivos vínculos contratuais; e

VI. demais danos emergentes e lucros cessantes, devidamente comprovados.”

Confira o documento na integra:

http://www.ppp.mg.gov.br/images/documentos/Projetos/em_elaboracao/manual_ppp/MANUAL%20DE%
20PADRONIZACaO%20DE%20REGRAS%20CHAVES%20DE%20PPP-
%20Versao%20Pos%20Consulta%20Publica.pdf

41
5.4.2. Caducidade

A caducidade, outra hipótese de extinção da concessão, ocorre por ato da unidade federativa quando
houver inexecução, seja ela parcial ou total, dos deveres do concessionário.

POR DENTRO DAS LEIS

Lei 8.987

Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a critério do poder concedente, a
declaração de caducidade da concessão ou a aplicação das sanções contratuais, respeitadas as
disposições deste artigo, do art. 27, e as normas convencionadas entre as partes.

Algumas hipóteses que têm como consequência a caducidade são:

• Declaração de falência da concessionária por sentença judicial transitada em julgado;


• Condenação por corrupção, sonegação de tributos ou de contribuições sociais;
• Obrigação de reposição do montante da garantia de execução do contrato descumprida;
• Rescisão, não renovação ou cancelamento da carta de fiança bancária ou da apólice de seguro-
garantia;
• Obrigação de contratar seguros descumprida.

A caducidade visa, principalmente, a manter a prestação do serviço público adequada, bem como
punir o concessionário que não cumpra com suas obrigações. Para que ela ocorra, há a exigência de alguns
pré-requisitos:

• Verificação da inadimplência da concessionária em processo administrativo que assegure a ampla


defesa;
• Comunicação detalhada à concessionária dos descumprimentos contratuais e de prazo para
correção destes (prazo de cura);
• Abertura de processo administrativo específico, oportunizando o direito de defesa do
concessionário.

42
Após comprovada inadimplência, a unidade federativa deve declarar a caducidade por meio de
decreto, independentemente de indenização prévia. Esta deverá ocorrer nos termos do art. 36 da Lei
8.987/95, descontando o valor das multas contratuais e dos danos causados pela concessionária.

POR DENTRO DAS LEIS

Lei 8.987/95

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das parcelas dos
investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido
realizados com o objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido.

NA PRÁTICA

O Manual de Padronização de Regras Chave de Parcerias Público-Privadas do Governo do Estado de Minas


Gerais dá a seguinte sugestão de cláusula a respeito da caducidade:

“CLÁUSULA 1ª – DA CADUCIDADE

1.1 O Poder Concedente poderá declarar a caducidade da Concessão na hipótese de inexecução total ou
parcial do Contrato, observado o disposto nas normas regulamentares e legais pertinentes, e especialmente
quando a Concessionária:

I. prestar os serviços objeto deste Contrato de forma inadequada ou deficiente, tendo por base os Parâmetros
de Desempenho;

II. descumprir cláusulas contratuais ou disposições legais e regulamentares concernentes à Concessão de


forma que se afete relevantemente os serviços a serem prestados no âmbito deste Contrato;

III. paralisar o serviço ou concorrer para tanto, ressalvadas as hipóteses decorrentes de Caso Fortuito ou
Força Maior;

IV. perder as condições econômicas, técnicas ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço
concedido;

V. não cumprir as penalidades impostas por infrações, nos devidos prazos;

VI. não atender a intimação do Poder Concedente no sentido de regularizar a prestação do serviço; ou

43
VII. for condenada em sentença transitada em julgado por sonegação de tributos, inclusive contribuições
sociais.

1.2 O Poder Concedente não poderá declarar a caducidade da Concessão com relação ao inadimplemento
da Concessionária resultante dos eventos sob a responsabilidade do Poder Concedente ou causados pela
ocorrência de Caso Fortuito ou Força Maior.

1.3 A declaração de caducidade deverá ser precedida da verificação do inadimplemento contratual da


Concessionária em processo administrativo, assegurado o direito de ampla defesa.

1.4 Não será instaurado processo administrativo de caducidade sem prévia notificação à Concessionária,
sendo-lhe dado, em cada caso, prazo para corrigir as falhas e transgressões apontadas e para o
enquadramento nos termos contratuais.

1.5 Instaurado o processo administrativo e comprovado o inadimplemento, a caducidade será declarada pelo
Poder Concedente, independentemente de indenização prévia, calculada no decurso do processo e de acordo
com a subcláusula 1.7 abaixo.

1.6 Declarada a caducidade e paga a respectiva indenização, não resultará para o Poder Concedente
qualquer espécie de responsabilidade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com
terceiros ou com empregados da Concessionária.

1.7 Indenização

1.7.1 A indenização devida à Concessionária em caso de caducidade restringir-se-á ao valor dos


investimentos vinculados a Bens Reversíveis ainda não amortizados.

1.7.2 Do montante previsto na subcláusula 1.7.1 acima serão descontados:

I. os prejuízos causados pela Concessionária ao Poder Concedente e à sociedade;

II. as multas contratuais aplicadas à Concessionária que não tenham sido pagas até a data do pagamento
do montante previsto na subcláusula 1.7.1; e

III. quaisquer valores recebidos pela Concessionária a título de cobertura de seguros relacionados aos eventos
ou circunstâncias que ensejaram a declaração de caducidade.

1.7.3 A declaração de caducidade acarretará, ainda:

I. a execução da Garantia de Execução, para ressarcimento de eventuais prejuízos causados ao Poder


Concedente; e

44
II. a retenção de eventuais créditos decorrentes do Contrato, até o limite dos prejuízos causados ao Poder
Concedente.”

Confira o documento na integra:

http://www.ppp.mg.gov.br/images/documentos/Projetos/em_elaboracao/manual_ppp/MANUAL%20DE%
20PADRONIZACaO%20DE%20REGRAS%20CHAVES%20DE%20PPP-
%20Versao%20Pos%20Consulta%20Publica.pdf

5.4.3. Rescisão Contratual

O art. 39 da Lei 8.987/95 prevê a possibilidade da concessionária, por meio de ação judicial proposta
contra a unidade federativa, rescindir o contrato de concessão se a unidade federativa não cumprir com o
contrato.

Em seguida, o parágrafo único deste dispositivo, estabelece que caso o pedido de rescisão seja feito,
a prestação do serviço deve ser mantida de forma regular até a sentença judicial transitada em julgado.

POR DENTRO DAS LEIS

Lei 8.987/95

Art. 39. O contrato de concessão poderá ser rescindido por iniciativa da concessionária, no caso de
descumprimento das normas contratuais pelo poder concedente, mediante ação judicial especialmente
intentada para esse fim.

Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste artigo, os serviços prestados pela concessionária
não poderão ser interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada em julgado.

NA PRÁTICA

O Manual de Padronização de Regras Chave de Parcerias Público-Privadas do Governo do Estado de Minas


Gerais dá a seguinte sugestão de cláusula a respeito da rescisão contratual:

“CLÁUSULA 1ª – DA RESCISÃO

45
1.1 A Concessionária deverá notificar o Poder Concedente de sua intenção de rescindir o Contrato em
quaisquer dos seguintes eventos:

1.1.1 Expropriação, sequestro ou requisição de uma parte substancial dos ativos ou participação societária
da Concessionária pelo Poder Concedente ou por qualquer outro órgão público, sem que aquela tenha
incorrido em culpa;

1.1.2 Descumprimento contratual pelo Estado de Minas Gerais com relação ao pagamento de qualquer
montante superior ao equivalente a seis meses de Contraprestação Pública Mensal, que seja devido nos
termos do Contrato e que não seja efetuado em até 30 (trinta) dias da respectiva data de vencimento e desde
que a fatura referente ao pagamento não tenha sido expressamente rejeitada por ato administrativo ou que
não tenha sido objeto da Garantia Pública; ou

1.1.3 Descumprimento de obrigações pelo Poder Concedente que gere um desequilíbrio econômico-
financeiro do Contrato cujo procedimento de recomposição não seja iniciado nos prazos estabelecidos no
Contrato.

1.2 A Concessionária deverá notificar o Poder Concedente de sua intenção de rescindir o Contrato mediante
ação judicial especialmente intentada para esse fim, nos termos previstos na legislação e nas normas
regulamentares pertinentes.

1.2.1 A rescisão poderá ocorrer amigavelmente, caso o Poder Concedente reconheça o seu inadimplemento,
evitando, assim, a demanda judicial.

1.3 Os serviços prestados pela Concessionária somente poderão ser interrompidos ou paralisados após a
decisão judicial, ou em até 20 (vinte) dias da rescisão feita administrativamente na hipótese da subcláusula
1.2.1 acima.

1.4 Indenização

1.4.1 A indenização devida à Concessionária em caso de rescisão cobrirá:

I. as parcelas dos investimentos realizados, inclusive em obras de manutenção, bens e instalações, ainda não
amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados para o cumprimento deste Contrato, deduzidos os
ônus financeiros remanescentes;

II. a desoneração da Concessionária em relação às obrigações decorrentes de contratos de financiamentos


por esta contraídas com vistas ao cumprimento do Contrato, mediante, conforme o caso:

a. prévia assunção, perante as Instituições Financiadoras, das obrigações contratuais da Concessionária, em


especial quando a sua receita figurar como garantia do financiamento; ou
46
b. prévia indenização à Concessionária da totalidade dos débitos remanescentes desta perante as Instituições
Financiadoras;

III. todos os encargos e ônus decorrentes de multas, rescisões e indenizações que se fizerem devidas a
fornecedores, contratados e terceiros em geral, inclusive honorários advocatícios, em decorrência do
consequente rompimento dos respectivos vínculos contratuais; e

IV. demais danos emergentes e lucros cessantes, devidamente comprovados.

1.4.2 Para fins do cálculo indicado na subcláusula 1.4.1 acima, considerar-se-ão os valores recebidos pela
Concessionária a título de cobertura de seguros relacionados aos eventos ou circunstâncias que ensejaram a
rescisão.”

Confira o documento na integra:

http://www.ppp.mg.gov.br/images/documentos/Projetos/em_elaboracao/manual_ppp/MANUAL%20DE%
20PADRONIZACaO%20DE%20REGRAS%20CHAVES%20DE%20PPP-
%20Versao%20Pos%20Consulta%20Publica.pdf

5.4.4. Anulação Contratual

A anulação contratual, como visto, é uma das formas de extinção da concessão. Esta ocorre, por ato
da unidade federativa ou do Poder Judiciário, em casos nos quais se constata a existência de ilegalidade no
contrato ou na licitação.

Difere da encampação e da caducidade, que tratam de invalidades supervenientes, por tratar de


invalidade originária, ou seja, já estava presente desde o momento da edição do ato. Portanto, nos casos de
anulação contratual, esta invalidade originária torna a própria outorga viciada.

Aqui, a indenização irá depender se:

• Ilegalidade for imputável somente a unidade federativa e concessionário tiver agido de boa-fé;
ou se
• Concessionário tiver concorrido para o vício da concessão.

47
No primeiro caso, a indenização é cabível para os danos emergentes comprovados se a execução
tiver sido iniciada. Já no segundo caso, o particular não detém direito algum à indenização.

NA PRÁTICA

O Manual de Padronização de Regras Chave de Parcerias Público-Privadas do Governo do Estado de Minas


Gerais dá a seguinte sugestão de cláusula a respeito da anulação contratual:

“CLÁUSULA 1ª – DA ANULAÇÃO

1.1 O Poder Concedente deverá declarar a nulidade do Contrato, impedindo os efeitos jurídicos que
ordinariamente deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos, se faticamente possível, se verificar
a existência de vício insanável na Licitação, ou no Contrato.

1.2 Indenização

1.2.1 Na hipótese descrita na subcláusula 1.1 acima, se a ilegalidade for imputável apenas à própria
Contratante, a Concessionária será indenizada cobrindo-se os valores referentes a:

I. as parcelas dos investimentos realizados, inclusive em obras de manutenção, bens e instalações, ainda não
amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados para o cumprimento deste Contrato, deduzidos os
ônus financeiros remanescentes;

II. a desoneração da Concessionária em relação às obrigações decorrentes de contratos de financiamentos


por esta contraídas com vistas ao cumprimento do Contrato, mediante, conforme o caso:

a. prévia assunção, perante as Instituições Financiadoras, das obrigações contratuais da Concessionária, em


especial quando a sua receita figurar como garantia do financiamento; ou

b. prévia indenização à Concessionária da totalidade dos débitos remanescentes desta perante as Instituições
Financiadoras;

III. todos os encargos e ônus decorrentes de multas, rescisões e indenizações que se fizerem devidas a
fornecedores, contratados e terceiros em geral, inclusive honorários advocatícios, em decorrência do
consequente rompimento dos respectivos vínculos contratuais; e

IV. demais danos emergentes e lucros cessantes, devidamente comprovados.”

Confira o documento na integra:

48
http://www.ppp.mg.gov.br/images/documentos/Projetos/em_elaboracao/manual_ppp/MANUAL%20DE%
20PADRONIZACaO%20DE%20REGRAS%20CHAVES%20DE%20PPP-
%20Versao%20Pos%20Consulta%20Publica.pdf

Agora você concluiu os conteúdos da apostila do quarto módulo deste curso. Lembre-se de acessar os vídeos
e os materiais complementares antes de seguir para a Avaliação de Aprendizagem do curso.

Lembre-se também que completar o curso não é a última etapa. Após aprender as bases de todo o processo
de estruturação e desenvolvimento de projetos de concessão e PPP, você está pronto para ir além!

Continue sempre pesquisando e se atualizando em relação ao tema para poder, colocando em prática o que
foi aprendido, sempre atuar da melhor forma.
Bom estudo e boa prática!

RESUMO
Parabéns! Você chegou ao final do módulo 4! Nele, você conheceu a fase da contratação do executor do
projeto e da licitação.
No Capítulo 1, você teve a oportunidade de conhecer a diferença entre a licitação para projetos de concessão
e PPP e a licitação para contratos administrativos tradicionais, bem como o conteúdo das normas específicas
das unidades federativas para contratos de concessão e PPP.
No Capítulo 2, você conheceu a fase interna da licitação, as medidas preparatórias e o procedimento de
elaboração das minutas de edital de licitação e de contrato, com indicações do funcionamento e de dicas
para boas práticas.
Já no Capítulo 3, você viu a fase externa da licitação, os prazos e as formas de publicidade que devem ser
seguidos e descrevendo o processo de habilitação e de julgamento de propostas.
No Capítulo 4, você conheceu o tema da formalização do contrato com o vencedor da licitação, bem como
as providências que devem ser toadas a cada uma das partes antes da celebração do contrato e alguns
condicionantes para a eficácia deste.
Por fim, no Capítulo 5, você conheceu a gestão contratual, capítulo que abordou a possibilidade da
prorrogação contratual, bem como as hipóteses de extinção do contrato de concessão.

GLOSSÁRIO E SIGLAS
Autorizatário – particular eleito pela via do PMI para desenvolver os estudos técnicos
49
BA – Bahia

Bid bond – instrumento que habilita a participação de uma empresa em concorrência internacional para o
fornecimento de bens ou prestação de serviços e garante que, caso saia vencedora, a empresa assinará o
contrato de execução.

CE – Ceará

COSIP – Contribuição para o Custeio dos Serviços de Iluminação Pública

DF – Distrito Federal

Estruturador independente – particular contratado pela via ordinária para desenvolver os estudos técnicos

FURP – Fundação para o Remédio Popular

LGL – Lei Geral de Licitações

MS – Mandado de Segurança

MT – Mato Grosso

PPP – Parceria Público Privado

RS – Rio Grande do Sul

SC – Santa Catarina

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TCU – Tribunal de Contas da União

REFERÊNCIAS

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