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Monitoramento de mamíferos de médio e grande porte com utilização de armadilhas fotográficas na FLONA de São Francisco de Paula, RS, Brasil View project
All content following this page was uploaded by Rosane Vera Marques on 10 September 2014.
RESUMO INTRODUÇÃO
relógio grande no plano focal da câmara para ente, como os sensores utilizados em alar-
registrar o horário em que a foto foi obtida e mes contra roubo de residências. Os apare-
deixar o datador marcando a data. Outra alter- lhos com sensores passivos utilizados nesse
nativa é marcar o horário na câmara e revisar o estudo funcionam da seguinte maneira: o
equipamento todos os dias no campo para sensor infravermelho é acionado todas as
contar quantas fotos foram obtidas no período vezes que o animal passar em seu raio de
anterior. ação, que se estende a mais ou menos 8m
As câmaras fotográficas devem perma- de distância. O sensor faz funcionar o circui-
necer protegidas da chuva no interior de cai- to acionador de solenóide e o circuito tem-
xas que impeçam a penetração de água. Evi- porizador, que pode ser programado para
dentemente, há a necessidade de aberturas intervalos de um a 30 segundos entre uma
fechadas com vidro transparente para o local fotografia e outra. O solenóide, por sua vez,
da lente e do flash da máquina. aciona o botão de disparo da câmara foto-
gráfica, obtendo um registro fotográfico.
O som do disparador da câmara e da
A função da bateria 12 volts é fornecer ener-
movimentação do filme, bem como a luz do
gia para o sensor infravermelho, para o adap-
flash, pode assustar ou atrair um animal, afe-
tador e para o solenóide. O consumo de ener-
tando a amostragem. Por exemplo, um único
gia do equipamento é de 1,20 ampéres em
graxaim pode ser fotografado diversas vezes,
24 horas. Podem ser utilizadas baterias de 7,
enquanto permanece na frente do equipamen-
36 ou 45 ampéres, conforme o tempo dese-
to cheirando-o.
jado de funcionamento. Para as duas últimas,
Os mecanismos sensores ou de gatilho os cabos de ligação são externos. Baterias
podem ser de diversos tipos: mecanismo de de 7 ampéres e 12 volts têm durabilidade de
tropeço, sensores infravermelhos passivos e cerca de 1,5 dia, e a de 45 ampéres e de 12
sensores infravermelhos ativos. volts mais de 15 dias, sendo necessária a tro-
Mecanismo de tropeço: o sistema é acio- ca por uma outra recarregada após estes pe-
nado mecanicamente por uma linha com uma ríodos (Vidolin, P. com. pess., 2000). A van-
isca amarrada que se conecta ao disparador. tagem da longa duração da bateria é a possi-
Quando o animal puxa a isca, o sistema entra bilidade de permanência do equipamento em
em funcionamento. Esse é um método seleti- campo durante muito tempo sem a necessi-
vo, pois nem todos os animais vão demonstrar dade da presença do pesquisador. A desvan-
interesse pelas iscas. Um arame flexível ou um tagem da utilização de uma bateria pesada é
pedaço de taquara podem ser usados como a dificuldade de transporte de grande núme-
obstáculos a serem movimentados pela passa- ro de aparelhos no campo.
gem de um animal por uma trilha para provo- Se o calor do Sol atinge esses senso-
car o disparo do sistema. Placas de tropeço res, o equipamento é acionado. Esse proble-
podem ser construídas com a utilização de duas ma pode ser minimizado colocando-se o apa-
peças de madeira que, quando pressionadas relho em local sombreado ou utilizando-se
uma sobre a outra com o peso do animal, com- um comutador fotoelétrico que ativa a câma-
pletam um circuito elétrico que dispara o siste- ra somente durante a noite. Com estes pro-
ma. O terreno, nesse caso, deve estar drenado cedimentos, ambientes abertos não são
e o mecanismo protegido da umidade com amostrados, no primeiro caso, ou animais
plástico (Wemmer et al., 1996). Santos-Filho e com atividade diurna não são fotografados,
Silva (2002), utilizaram mecanismo de tropeço no segundo caso. Dentro dessas limitações,
em áreas abertas de Cerrado onde a alta tem- qualquer animal endotérmico (mamíferos e
peratura do dia alterava a percepção de sen- aves) pode ser detectado. A vantagem no uso
sores de calor. de aparelhos com sensores passivos é que o
Sensores infravermelhos passivos: são aparelho somente é acionado pela tempera-
utilizados sensores de calor que são sensí- tura emitida pelos espécimes que adentram
veis a mudanças repentinas no calor ambi- seu raio de ação. Conseqüentemente, somen-
tão, aproximadamente, um minuto até que o mal nunca seja fotografado longe ou perto de-
sensor infravermelho se estabilize com a tem- mais da máquina, permitindo iluminação e foco
peratura do ambiente. Após este tempo, a adequados.
máquina fotográfica pode ser destravada.
vegetação para estimular a passagem dos ani- das Araras no Mato Grosso (Santos-Filho; Silva,
mais para o ponto coberto pelo campo focal da 2002); em diversos tipos de hábitats na Ama-
câmara fotográfica, permitindo a visualização do zônia (Peres et al., 2003); Parque Nacional dos
corpo inteiro do espécime. Tripé, estaca ou cin- Aparados da Serra no Rio Grande do Sul (Car-
ta com velcro para prender em árvores podem doso; Vieira, 2003).
ser utilizados para sustentar a máquina fotográ- Os exemplos de fotografias apresenta-
fica. No caso de estudos sendo realizados em das nesse trabalho foram obtidas com a utiliza-
ambientes abertos, essa última opção de sus- ção de armadilhas fotográficas nas seguintes
tentação não pode ser utilizada pela falta de áreas:
substrato para prender a câmara. Floresta Nacional de São Francisco de
Locais naturalmente procurados pelos Paula/IBAMA, RS, com seu ecossistema cons-
animais como fontes de água, locais com sal, tituído por Floresta Ombrófila Mista e planta-
tocas, locais utilizados como latrinas e árvores ções de araucárias, desde 1999. Cerro das
florescendo ou frutificando, bem como ninhos, Almas, município de Capão do Leão, fragmen-
são excelentes para a obtenção de um núme- to de Floresta Estacional Submontana de en-
ro elevado de registros fotográficos. Evidente- costa inserida na região fitoecológica da Sava-
mente, podem ser obtidas várias fotografias de na Serra do Sudeste; Praia do Laranjal, no
uma só espécie ou de um único indivíduo. município de Pelotas, com biótopos caracteri-
Iscas podem ser utilizadas para atrair zados por dunas fixas, matas ciliares, matas de
predadores (carne), frugívoros (frutos), cervíde- restinga paludosa e banhados; Estação Ecoló-
os (sal) ou roedores como pacas (milho com gica do Taim/IBAMA, com dunas e matas de
pasta de amendoim). Estações de cheiro tam- restinga paludosa e Reserva Biológica da Serra
bém são utilizadas para atrair os animais, po- Geral, no município de Maquiné, com Floresta
dendo ser utilizados desde ovos estragados, Ombrófila Densa (mata atlântica de encosta),
urina ou fezes de animais coletadas em zooló- desde 2000.
gicos, até produtos industrializados como aque- As figuras 2 e 5 a 8 representam uma
les comercializados em lojas de animais para amostra dos resultados obtidos com equipa-
induzir a utilização de determinados locais es- mento com sensores passivos. As figuras
pecíficos para defecar ou urinar. As iscas ou 1,3,4,9 e 10 demonstram algumas capturas fo-
outros tipos de atrativos devem ser utilizados tográficas obtidas com equipamento com sen-
quando o tempo disponível para o levantamen- sores ativos. Ambos tipos de equipamentos
to de espécies é restrito, sendo necessário pro- apresentaram vantagens e desvantagens, de-
vocar a passagem dos animais na frente das pendendo dos objetivos de obtenção de infor-
armadilhas fotográficas. mações, local de estudo e/ou qualidade de ima-
Estudos envolvendo armadilhas fotográ- gens dos animais.
ficas foram ou vêm sendo realizados no Brasil
por diversos pesquisadores. Podem ser cita-
das as realizações de trabalhos nas seguintes APLICAÇÕES DA METODOLOGIA
áreas, dentre outras: Parque Estadual Carlos
Botelho e Parque Estadual Morro do Diabo no Essa técnica tem as seguintes aplica-
Pontal do Paranapanema no estado de São ções: identificação de espécies ocorrentes em
Paulo (Parque, 2003 e Cullen Jr, 2000); Par- uma área (Wemmer et al., 1996 e Marques e
que Estadual do Ibitipoca em Minas Gerais (An- Ramos, 2001); estudo de padrões de ativida-
driolo, 2003); fazendas de criação de gado no de, pois cada fotografia pode registrar data e/
Pantanal da Nhecolândia (Ataque, 2003) e Ba- ou hora em que o animal foi fotografado, sen-
cia do Rio Negro no sudeste do Pantanal do possível obter dados sobre padrões de
(Trolle; Kéry, 2003) ambos no Mato Grosso do movimento e horários de maior atividade
Sul; Parque Nacional das Emas em Goiás (Sil- (Cullen Jr., 2000); uso de hábitats (Santos-
veira; Jácomo, 2003); Estação Ecológica Serra Filho; Silva, 2002); registro de comportamen-
tos sociais (Lynam, 1999); abundância relativa servação. Houve casos de pessoas que para-
de animais de difícil observação e/ou captura ram de caçar após terem recebido fotografias
(Mohd, 2003); estimativa de densidade popu- de animais vivos em seu ambiente natural e
lacional (Wallace et al., 2003 e Trolle; Kéry, que têm contribuído para a preservação da fau-
2003), quando a análise minuciosa da fotogra- na em suas propriedades. As pessoas têm a
fia torna possível a individualização dos animais oportunidade de ver que um animal vivo é muito
através da identificação de sinais externos mais bonito do que um morto e passam a ter
como cicatrizes, sinais (Fig. 9) ou padrão de orgulho por estarem contribuindo para a ma-
pelagem que sejam bem definidas e específi- nutenção de suas vidas.
cas para cada indivíduo, servindo como exem- As armadilhas fotográficas não devem
plos típicos os felinos com pelagem mancha- ser utilizadas como único recurso para levan-
da ou pintada (Fig. 6 e 5); estimativa da faixa tamento de mastofauna, visto que há um limite
etária e sexo, bem como tamanho aproximado de tamanho para a detecção dos animais e nem
do animal, especialmente, se houver a instala- todos os tipos de ambientes podem ser moni-
ção de uma referência métrica no campo focal torados da mesma maneira. Quando são feitos
da câmara fotográfica (Wemmer et al., 1996); inventários rápidos de mastofauna com dura-
monitoramento de animais que atravessam ro- ção de poucos dias em cada localidade, é im-
dovias e que podem sofrer atropelamento (Par- portante otimizar a obtenção de resultados com
que, 2003). Além dos estudos científicos men- o conhecimento sobre pegadas e fezes dos
cionados acima, há o uso educativo e promo- animais. As técnicas tradicionais de estudo de
cional da obtenção de fotografias de animais vestígios não podem ser descartadas, pois, em
que não são tão bem conhecidos pelas popu- geral, as espécies mais comuns são fotografa-
lações humanas, como no caso do bay cat das em detrimento das espécies cujas densi-
Catopuma badia em Borneo (Mohd, 2003) ou dades populacionais são baixas, necessitando-
de animais símbolo, também conhecidos como se de um esforço amostral muito maior.
espécies-bandeira, como anta da Malásia A montagem de estações de captura
Tapirus indicus na Tailândia (Lynam, 1999), ti- fotográfica em locais que atraem os animais não
gre, Panthera tigris, na Índia (Karanth, 1995) pode ser utilizada em estudos que necessitem
ou onça-pintada Panthera onca, na Bolívia de capturas ao acaso. O uso de iscas provoca
(Wallace et al., 2003). Tanto os estudos pura- interferência diferenciada sobre as espécies,
mente científicos quanto os trabalhos educati- alterando os números de capturas fotográficas.
vos contribuem diretamente para os esforços As armadilhas fotográficas devem ser monta-
de conservação de espécies e de seus respec- das por um período fixo que dependerá da fre-
tivos hábitats. Na FLONA de São Francisco de qüência de visitação do local e/ou trilha pelo(s)
Paula/IBAMA, há cartazes com fotografias de animal(is) estudado(s). Uma averiguação da re-
mamíferos obtidas naquela Unidade de Con- lação entre a amostragem por armadilhas foto-
servação que ficam expostos no pequeno mu- gráficas e o emprego de rádio-colares para o
seu. Quando há excursões de escolas ou gru- estudo de movimento e tamanho de área de
pos de turistas, essas informações e imagens vida de uma determinada espécie é de extre-
podem ser mostradas para as pessoas, auxili- ma utilidade. Animais com ciclo de vida longo
ando na tarefa dos funcionários e contribuindo podem ser estudados combinando um perío-
para a atividade de educação ambiental reali- do de captura e marcação com censos men-
zada por eles. No trabalho realizado no sul do sais de capturas fotográficas para obtenção de
Rio Grande do Sul, os proprietários rurais que maiores informações.
permitem a utilização de suas propriedades Na medida em que um maior número
para as amostragens recebem cópias de foto- de pesquisadores começar a utilizar essa téc-
grafias dos animais. Em algumas ocasiões, até nica para o estudo de mamíferos silvestres, será
as comunidades rurais são presenteadas com mais fácil a obtenção de informações que ve-
fotografias dos animais e essa técnica tem des- nham a contribuir para a conservação desses
pertado o interesse das pessoas sobre a con- animais e de seus ecossistemas.
ATAQUE de onça é indenizado em Mato Gros- PARQUE Estadual fará censo da fauna que utili-
so do Sul. Disponível em: http://www.pick- za futura estrada-parque. Disponível em: http://
upau.com.br/INFORMATIVO/21.10.2002/ www.pick-pau.com.br/INFORMATIVO/
ataque.htm Acesso em: 27 novembro 2003. 05.05.2003/parque.htm Acesso em: 28 no-
vembro 2003.