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A IMPORTÂNCIA DO CIMI PARA AS MOBILIZAÇÕES DOS POVOS

INDÍGENAS NO NORDESTE E DO BRASIL (1972-1980)


Flavio Joselino Benites1
Doutorando UFMA
flaviojbenites@gmail.com

Introdução

A sigla CIMI designa Conselho Indigenista Missionário, é uma agência da Igreja


Católica Romana responsável por questões relacionadas aos povos indígenas no Brasil.
Criado em abril de 1972, ligado a uma instância superior na hierarquia da Igreja que é a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nos primeiros dez anos,
evidenciamos o CIMI como uma entidade complexa, multifacetada, cuja missão é o
atendimento das demandas dos povos indígenas e, em 2023, completou cinquenta e um
anos de atuação.

Em fevereiro de 2023 o Conselho Indigenista Missionário soltou uma nota em


defesa do povo indígena Yanomami, advogando que só será efetiva a proteção desses
indígenas com desmonte da cadeia do garimpo e apuração dos crimes ocorridos. Assim,
a notícia no site apresentou a situação vivida pelo povo Yanomami dentro no território e
como ganhou uma ampla repercussão nacional e internacional. Essa trágica realidade
enfrentada pelos indígenas chamou a atenção de boa parte da sociedade brasileira, que
se manifestou de diversas formas sua indignação, solidariedade e repúdio diante das
cenas e informações divulgadas.

Nesse sentido, o CIMI denunciou como o garimpo avançou e cresceu


exponencialmente nestes últimos anos dentro do território Yanomami, por sua vez os
garimpeiros estiveram desenvolvendo uma maior complexidade de meios disponíveis
para execução de seus crimes, como aquisição de maquinário e tecnologias de
comunicação, bem como uma maior capacidade de destruição. 2 No entanto, problema
não era uma singularidade relacionados indígenas Yanomami, mas com muitos outros
povos foram agravados pelos descasos do governo Bolsonaro somado pandemia da
Covid-19.

1
Doutorando em História PPGHIS, na Universidade Federal do Maranhão UFMA, sob orientação da
Professora Drª Soraia Sales Dornelles. Mestre em História UFCG/PB.
2
Conselho Indigenista Missionário CIMI (site). Disponível em:
https://cimi.org.br/2023/02/nota-protecao-yanomami-garimpo-crimes/ Acesso: 07 mar. 2023.
Assim, em face dos problemas enfrentados pelos indígenas no Brasil, o objetivo
da pesquisa é apresentar o contexto internacional e nacional para o surgimento do CIMI
e como a entidade chegou a atuar junto aos povos indígenas no Nordeste, tendo como
fator preponderante a criação do CIMI Regional Nordeste e a 1ª Assembleia de Pastoral
Indígena realizada em Garanhuns/PE, 1978 organizado por essa Regional. As Regionais
foram criadas e 1974 para facilitar o trabalho missionário em cada Região do Brasil para
o diagnóstico localizado das demandas de cada etnia.

Sob o ponto de vista geográfico da divisão política da Região Nordeste do Brasil


está dividida em nove estados da Federação, mas, o nosso recorte espacial apesar de
tratar da atuação do CIMI Regional Nordeste ela não atendeu os noves estados, somente
parte deles que é composta pelos estados da Bahia (parte Norte), Sergipe, Alagoas,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, total de 8 estados. O estado
do Maranhão tem uma Regional a parte, o CIMI-Maranhão. Assim, a cobertura da
atuação do CIMI nos nove estados do Nordeste a atuação está dividida em três
Regionais do CIMI, a Leste, a Nordeste e do Maranhão. A Regional Leste abrange os
estados de Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia.

Por meio de uma análise bibliográfica e documental, evidenciamos que as ações


do CIMI-NE se deram por meio de apoio aos indígenas para tensionar o Estado e
instituições, na conquista de direitos, na formulação, ou imposição de normas e
obrigações, ou das práticas de retirada de direito via processo burocrático culminando
nos direitos na Constituição Federal de 1988.

2. A Igreja Católica Romana e o contexto internacional no pós-guerra

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos da


América possuíam em torno de 25% do comércio mundial com isso emergiram como
grande potência mundial econômica. Com o Plano Marshall permitiu a recuperação
física e econômica da Europa, depois de ferida na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) e praticamente destruída no segundo conflito em escala mundial. Nesse contexto,
a economia mundial é abastecida e alavancada por pesados investimentos que permitiu
uma fase de grande expansão nas décadas posteriores (ALMEIDA, 2018, p. 27).

No plano político internacional, houve a reunião na Conferência de Yalta em


1945, com os líderes das principais nações do mundo (Estados Unidos, União Soviética
e Reino Unido) para definição de como seria a repartição das zonas de influência entre o
Oeste e o Leste, quando os líderes dos países vitoriosos decidiram o modelo que
utilizariam para administrar a Alemanha, ao qual se rendera incondicionalmente em
maio de 1945. O mundo, partir de então, viveria divido em dois grandes blocos um
capitalista outro socialista, em clima de Guerra Fria até 1991 com o fim da União
Soviética. Nessa época foram assinados os Pacto de Varsóvia, tratado de defesa militar
socialista e A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) representando o
bloco socialista (ALMEIDA, 2018, p. 28).

Na década de 1950, na América Latina surgiu em seus países várias golpes


militares de caráter conservador, que se prolongará por mais de três décadas. Na região
havia cerca de 150 milhões de habitantes, maioria católica, dispersos em quase 20
milhões de quilômetros quadrados, com uma população predominantemente rural (90
milhões) rural-urbana (12 milhões) e urbana (50 milhões). A pobreza, a vida sub-
humana e a injustiça social eram os problemas de destaque na localidade, pois, havia
uma discrepância entre os grandiosos lucros do capital e a remuneração assalariada.
Caminha-se a América Latina para uma virada na industrialização e urbanização.

A Igreja Católica Romana em 1955 realizou a Primeira Conferência Geral do


Episcopado Latino-Americano, avaliando que a Região teria um substrato cultura e
religioso em sua maioria católicos, porém, com limitações, consideradas como
perigosas pela Igreja, como a ignorância religiosa que ameaçavam o catolicismo latino-
americano; escassez de recursos humanos e a desarticulação das igrejas da América
Latina. Sobre esse último problema havia uma exacerbada desarticulação no interior da
Igreja Católica, refletindo nos poucos resultados nas ações das pastorais devido ao
isolamento em que viviam e atuavam as dioceses, paróquias, instituições e movimentos
(ALMEIDA, 2018, p. 36).
Referências

Conselho Indigenista Missionário CIMI (site). Disponível em:


https://cimi.org.br/2023/02/nota-protecao-yanomami-garimpo-crimes/ Acesso: 07 mar.
2023.

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