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Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Escola de Educação e Humanidades


Orientadora: Beatriz Polidori Zechlinski

Orientando: Eric Dion Grzeszzczyszyn da Silva

Elementos narrativos presentes na obra cinematográfica Maria


Madalena de 2018.

Figura 01: Capa do filme

O filme inicia-se fazendo um questionamento acerca de como seria o Reino


de Deus, sendo que a cena que comporta tal pergunta é a de Maria Madalena
submersa na imensidão do mar. A resposta é narrada por Madalena é faz
referência ao Evangelho de São Marcos 4:30-32.1
1
“É como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. Mas,
quando é semeada na terra, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá
ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos em sua sombra”.
Figura 02: Cena inicial da obra cinematográfica.

No início do filme, Maria Madalena que é representada como uma jovem


batalhadora e é vista com bom grado pelas pessoas que moram em Magdala
2
sendo que ela é chamada a auxiliar uma mulher com dificuldades em “dar à
luz”, neste momento a personagem aconselha a futura mãe a superar a dor,
levando em conta a nova vida que a ela seria apresentada. Enxerga-se neste
momento que a personagem está consciente do papel que ela ocupa naquela
comunidade, visto que ela colabora perante a coletividade em que está
inserida.
Sobre os aspectos diários, 3Madalena frequenta uma sinagoga, onde realiza
suas orações juntamente com outras mulheres e fica distante dos homens. Ela
convive sob os cuidados de seu pai e de seu irmão, ambos exercem autoridade
sobre a sua vida, situação que vai continuar até seu casamento que é
arranjado, visto que ela passará a viver sobre a autoridade de seu esposo. Em
uma das cenas, seu pai comenta que se ela se casar, estará agradando a
Deus e a ele, pois não seria “uma vergonha para a família”. A protagonista

2
Pequena aldeia, aparentemente situada na Galileia.
3
Para não haver repetição, em alguns momentos se usará Madalena para se referir a Maria
Madalena.
neste momento passa por uma crise existencial, sendo que não sente vontade
de se submeter a um casamento.

Figura 03: Cena que demostra a divisão de homens e mulheres na


sinagoga de Magdala.

Em um momento de aflição, Maria Madalena se dirige a sinagoga para orar,


todavia ela é criticada de forma intensa, visto que as mulheres não poderiam
frequentar estes espaços sem a companhia de outra mulher. Isso faz com que
os membros da comunidade passam achar que ela estava possuída por
demônios, pois segundo eles ela estaria criticando a Palavra de Deus. Maria
passa por uma sessão de exorcismo comandada por alguns homens da
comunidade, além de seu pai e seu irmão onde ela quase morre afogada.
Jesus é chamado para auxiliar neste processo, todavia ele diz que não havia
nenhum demônio em seu corpo, fazendo com que a personagem se volte a ele
com um olhar de curiosidade.
Jesus realiza no dia seguinte pregações acerca da libertação da “mancha
do pecado” para que seja possível agir com amor, buscando auxiliar outras
pessoas que vivem na dor. Essas pregações são observadas pela personagem
que parece encontrar nas palavras suporte para enfrentar seu conflito
existencial.
Madalena após presenciar o batismo de algumas pessoas e a cura de uma
mulher, decide acompanhar o nazareno, algo que não é visto com bons olhos
pelos seus familiares, pois é dito por seu pai que a atitude que ela iria tomar a
faria uma “mulher perdida”. Antes de partir, a protagonista é batizada por
Cristo, algo que marca sua entrada como seguidora e posteriormente como
apóstola.
Já caminhando com os discípulos e com o Mestre, Maria torna-se um
contraponto, sendo que alguns os primeiros falam em impor o “Reino de Deus”
usando mecanismos ligados à violência e ela parte do pressuposto da paz. A
presença de uma mulher no grupo causa desconforto em Pedro que acredita
que ela vá trazer a “quebra de unidade” que existe entre eles, pois, segundo
este discípulo a visão externa se pautaria no julgamento. Após a cena que
possui este comentário, é mostrada uma sequência de cenas, onde Madalena
está sozinha. Percebe-se que o que foi dito por Pedro, fez com que os outros
discípulos não procurassem conversar com ela, visto que este personagem
exercia um papel importante no que tange as atitudes feitas pelos demais;
Embora a protagonista continue afastada de seus companheiros de grupo,
ela desenvolve conversas com Jesus, onde ela pergunta sobre quanto é
dispensável visualizar as coisas para que elas possam aparecer, de sentir o
corpo para ver a e como ele sente quando está com Deus.
Em outro momento ela diz a Jesus que as palavras de uma mulher, não são
consideradas naquele lugar, além disso, ela afirma que as mulheres sentem
medo de serem batizadas por homens e isso é a razão pela qual elas não
procuraram segui-lo. O Mestre fala a ela sobre a igualdade entre os homens e
as mulheres, de modo que segundo ele, a fé deve ser o princípio e não as
diferenças, visto que a todos era dado o direito para viver.
Após este momento, encontra-se uma cena em que Maria está participando
das orações juntamente com homens, algo que era proibido em sua
comunidade. Percebe-se que a personagem está mais confiante, na medida
em que passa a ignorar a resistência de alguns apóstolos perante a sua
presença;
Quando Maria, Jesus e os discípulos chegam a Caná, na Galileia, eles
entram em um espaço que era destinado as mulheres, alguns comentam que
“se estavam ali, seria para que elas lavassem suas vestes”, contudo Jesus e
Maria vão ao encontro delas e começa a pregar sobre a “igualdade dos
espíritos”, visto que segundo o Mestre o espírito das mulheres era tão
importante, quanto o espírito de seus pais e maridos e que se Deus lhes
pedisse algo e os homens lhe pedissem o contrário, elas deveriam seguir a
Deus. Após essa cena, Madalena as batiza conforme Cristo havia feito com ela
anteriormente. Nesse momento percebe que a personagem assume para si
uma responsabilidade, que não foi assumida por nenhum outro discípulo, onde
não há nenhum momento, por exemplo, de um discípulo batizando uma mulher
e nem mesmo outro homem. Essa cena também transmite a ideia que se as
mulheres sentem medo de serem batizadas por homens, elas devem ser
batizadas por uma mulher.

Figura 04: Madalena com as mulheres de Caná na Galileia.

Maria chama Jesus de Rabi que em hebraico quer dizer “Mestre”, além
de fazer companhia a ele em seus momentos de aflição, dizendo que todos
estariam juntos com ele, embora esses sentimentos de melancolia de Jesus
não foi algo fácil de ser entendida, a personagem é a única perante o grupo
que tenta entender o que está acontecendo, posto que tal atitude demonstre
amadurecimento da parte dela.
Em um momento em que Jesus reza com seu povo a oração do Pai
Nosso, o personagem pede a protagonista que ela seja “suas mãos” no meio
da multidão, algo que faz de Maria seja uma figura importante no processo de
evangelização.
Numa outra cena, Madalena comenta com Pedro que Jesus sente medo,
algo que é criticado pelo discípulo. Percebe-se que cabe a personagem
enxergar a humanidade do Messias.
Quando a protagonista, conhece Maria de Nazaré (Virgem Maria), esta a
questiona sobre o que Deus lhe havia exigido dela para seguir seu filho e ainda
diz que é necessária a preparação para perdê-lo, e neste momento que se
percebe mais uma vez o contraponto entre Madalena e os outros discípulos, já
que ela passa a entender a missão de Cristo que se concretiza em sua morte e
ressureição, enquanto os demais acham que Jesus faria milagres entre as
pessoas demonstrando o poder do reino. Assim quando a entrada em
Jerusalém, Maria é a única que não demonstra entusiasmo e se mostra
reflexiva.
Assim que adentram no Templo, a personagem também é a única que
percebe que era errado comercializar em um local sagrado. Jesus neste
momento confronta o Sumo Sacerdote e depois passa a destruir o espaço.
Novamente percebe-se que Maria tem comportamentos diferentes ao
demonstrar uma postura de firmeza, enquanto os discípulos mostram-se
incomodados com a atitude do Mestre.
Após a cena do Templo, se tem outra cena em que Madalena lava os
pés de Jesus em um ato simbólico e ele repete os gestos de quando o João
Batista o ungiu, passa água nos olhos de Maria e diz “Abra seus olhos para a
luz. Assim começou. Não impeça agora, e nem deixe que eles impeçam”. Ela
responde apenas: “Eu estarei com você, não vou partir”. E Jesus diz: “Maria,
você é minha testemunha”.
Depois disso, Jesus vai orar e os discípulos se reúnem com o intuito de tirá-lo
de Jerusalém, porém Maria aparece é diz que o que tiver de acontecer é a
vontade de Deus e não deve ser impedido. Após isso, Judas entrega Jesus e
confessa a Madalena que fez isso com o objetivo de fazer com que o Mestre
inicie o “Reino de Deus”. Em seguida a personagem corre em direção a
Jerusalém, onde observa Cristo a caminho da crucificação, ela tenta chamar
sua atenção, mas desiste e começa a chorar contidamente, suportando
sozinha a sua dor.
Depois da crucificação de Jesus, ela reencontra Judas e tendo um gesto
de perdão ela o cumprimenta, pois entende que aquilo era a vontade de Deus.
A confirmação de que o Reino de Deus existe, para Maria, parece se dar
quando ela finalmente reencontra Jesus. Após encontrar Cristo, Maria vai ter
com os apóstolos, diz que o viu, e que a dor que ele sentia havia desaparecido.
Depois do relato de Maria sobre ter visto Jesus após a morte, Pedro diz
que foi apenas um sonho dela, mas ela permanece afirmando que Cristo não
morreu que o Reino está aqui e agora, que não é algo que se pode ver porque
está dentro de cada um, que cresce a cada ato de amor, caridade e perdão, e
que se a palavra for levada como ele levou todos serão livres como ele é.
Pedro diz que Jesus não poderia ter ido falar somente com ela, e que não há
um mundo novo para os que sofrem, e Maria repete pela primeira vez as
palavras que ouviu de Cristo: “Como se sente carregando esse ódio em seu
coração? Ele diminui com o passar dos dias?” e continua “Temos o poder de
aliviar o sofrimento deles, isso cabe a nós”. Pedro insiste que isso foi apenas
um sinal de que ele voltará para trazer o verdadeiro reino, um mundo novo, e
Maria diz “O mundo só mudará se nós mudarmos”. Então Pedro retruca que
não é certo ela aparecer dizendo que ele escolheu a ela ao invés dos outros, e
que a entregou uma mensagem especial. Maria responde que eram todos
especiais. Pedro diz que cada homem naquele lugar irá construir uma Igreja
com uma só mensagem, e Maria insiste que se agirem dessa forma será a
mensagem dele, Pedro, e não a de Jesus. Pedro acusa Maria de tê-los
enfraquecido, de ter enfraquecido a Jesus, e Maria agradece a todos os
irmãos, mas enfatiza que não irá se calar, que será ouvida. Jesus, ao aparecer
novamente para Madalena, afirma que a atitude de não perder a coragem
diante de Pedro responde ao questionamento que ela lhe fez no início do filme,
de como seria estar com Deus. Então Maria aparece andando, com a cabeça
erguida, enquanto parece repetir mentalmente.
O filme finaliza com frases escritas em um fundo escuro, as quais
explicam que, segundo os evangelhos do cristianismo, Maria estava presente
na morte e no enterro de Jesus, bem como é reconhecida como primeiro
testemunho de Jesus ressuscitado, ressaltam que Maria apenas foi dada como
prostituta em 591 D.C., pelo Papa Gregório, mas que em 2016 foi reconhecida
pelo Vaticano como “Apóstola dos Apóstolos” e primeira mensageira do Jesus
ressuscitado.

Figura 05: Maria Madalena ao final do filme.

Obra cinematográfica:
MARIA Madalena. Direção: Garth Davis. Produção: Iain Canning; Emile
Sherman; Liz Watts. Intérpretes: Rooney Mara; Joaquin Phoenix; Chiwetel
Ejiofor; Tahar Rahim; Ariane Labed; Michael Moshonov; Denis Ménochet;
Lubna Azabal e outros. Roteiro: Philippa Goslett; Helen Edmundson. Música:
Jóhann Jóhannsson. California: Universal Pictures, 2018. 1 bobina
cinematográfica (114min), son., color.

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