Julho de 2023 | Vol.

A TUTELA DE DADOS PESSOAIS NAS RELAÇOES DE TRABALHO

Implicações do status constitucional da proteção de dados sob a luz do Artigo 5º,
inciso LXXIX da Constituição Federal

Por Igor Rosa Cezário de Lima

A Emenda Constitucional nº115/2022 alterou Destaque-se que, no âmbito do contrato

o texto da Constituição Federal para incluir a sinalagmático de trabalho e, diante do caráter
proteção de dados pessoais entre os direitos e protetivo da Justiça do Trabalho, é
garantias fundamentais, consoante nova recomendável que as informações somente
redação do artigo 5º da Carta, que passa a sejam coletadas com o consentimento do
vigorar acrescido do inciso LXXIX: “é titular, na forma do inciso XII do artigo 5º da
assegurado, nos termos da lei, o direito à referida Lei, salvo justificativa relevante, que
proteção dos dados pessoais, inclusive nos possa ser comprovada conforme o ônus da
meios digitais”. prova imputado ao empregador na Lei
13.709/2018 e na Consolidação das Leis do
A proteção dos dados pessoais nas relações de Trabalho (CLT).
trabalho é de suma relevância, uma vez que as
partes devem ajustar toda e qualquer forma Isso porque a Justiça do Trabalho tem
de coleta e armazenamento de dados pessoais interpretado de forma restritiva o
de forma específica no curso do contrato de consentimento fornecido pelo empregado ao
trabalho, desde as mais simples até as mais empregador no curso do contrato de trabalho.
complexas.

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 A ADEQUAÇÃO DOS CONTRATOS DE TRABALHO EM
FACE DO CONSENTIMENTO PREVISTO NA LEI
13.709/2018
Exemplos disso são decisões que rechaçam a
investigação de dados pessoais específicos
(por exemplo, geolocalização) em
procedimentos judiciais após a rescisão do
contrato de trabalho, caso o consentimento
para tanto não tenha sido coletado durante a
contratualidade.
Outra dificuldade encontrada pelas empresas
reside no trabalho remoto, que aventa
dificuldades no tratamento e na garantia dos
requisitos de segurança de dados previstos na
LGPD.
A realização de tarefas online em rede
doméstica, sem a proteção adequada, pode
acarretar responsabilidade tanto para o
operador, quanto para o controlador,
destacando-se os casos em que o agente de
tratamento tenha agido com negligência.
Nesse sentido, destaca-se a utilização de redes
privadas virtuais (VPN’s ou virtual private
network) como uma possível solução
estruturada para que os departamentos de
tecnologia de informação possam prover a
segurança necessária para os agentes de
tratamento de dados.
Não obstante, devem ser observadas ainda as
normativas próprias dos agentes de
tratamento e os ajustes realizados em suas
cadeias de produção para utilização de
equipamentos próprios ou corporativos e
vedação do uso com desvio de finalidade.
A Equipe de Marinho & Lima Advogados vem acompanhando de perto as mudanças legislativas, o cenário de decisões
judiciais perante todos os Tribunais do Trabalho do Brasil e está ao inteiro dispor para os esclarecimentos adicionais
que se fizerem necessários.
É importante ressaltar que a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados (ANPD) está em
pleno funcionamento.
Em nota, o órgão divulgou a conclusão de
processo administrativo sancionador que
resultou em aplicação de sanções de multa e de
advertência por ofensas à Lei Geral de Proteção
de Dados. No caso concreto, a Coordenação-
Geral de Fiscalização do órgão aplicou multa
limitada a 2% do faturamento bruto, conforme
artigo 52, II da LGPD, totalizando o valor de
R$14.400,00.
A violação de dados mencionada ocorreu em
um contexto de divulgação de contatos em lista
telefônica sem respaldo legal e o devido
tratamento dos dados. A microempresa (ME) foi
punida em razão de falta de amparo legal para o
tratamento de dados, ausência de comprovação
de tratamento de alto risco e falta de designação
de encarregado.
No direito do trabalho, a normativa trabalhista
tem evoluído a partir da perspectiva do direito
negocial do trabalho, para prestar maior
adequação ao modelo juslaboralista da
Constituição Cidadã. Isto é, pela prevalência da
autonomia coletiva e dos acordos coletivos de
trabalho.
Vale lembrar que tanto a LGPD, ao dispor acerca
da formação de associações em seu artigo 50,
quanto a Constituição e a CLT, ao ressaltarem o
poder da norma coletiva, privilegiam a
resolução autônoma de conflitos e a previsão
das “regras do jogo”, com visibilidade,
transparência e equidade.