A Pandemia da Covid-19 trouxe profundas alterações na sociedade e forma
como o trabalho é realizado. Dentre tais alterações, houve uma maior
implementação do teletrabalho. Diante disso, é necessário refletir sobre determinados pontos: No que consiste, de acordo com a legislação trabalhista, o teletrabalho? Quais suas implicações? Há necessidade de regulamentação específica acerca das atividades e eventuais custos suportados pelos empregados diante da alteração no modelo de trabalho ou nossa legislação já oferece as soluções adequadas? Como proteger o trabalhador? Como o teletrabalho pode impactar os empregados psicologicamente? O Brasil possui regulamentação do direito à desconexão?
R – Conforme redação da legislação trabalhista atual, o teletrabalho é definido
como a prestação de serviços, de forma quase total, fora das dependências do empregador com o uso de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo, nos termos do artigo75-A, B e C, CLT. Ainda, o teletrabalho é a realização da atividade através de formas de telecomunicação na modalidade a distância, fora da sede empresarial. Dessa forma, no teletrabalho, o empregado fica desobrigado do controle de jornada, e por isso também não há registro de horas extras ou adicionais noturnos. Quanto à necessidade de regulamentação específica acerca das atividades e eventuais custos suoportados pelos empregados diante da alteração no modo de trabalho, existe sim tal medida, onde a regulamentação por parte da empresa e previsão no contrato de trabalho precisam estar definidas. O legislador incluiu o teletrabalhador no inciso III, do art. 62 da CLT, de modo a retirar a proteção à jornada, ou seja, o teletrabalhador, por não estar sujeito ao controle de horário, não tem direito a horas extras. Isso porque o funcionário teria liberalidade de exercer a função no horário que achasse melhor, e a cobrança patronal seria feita por meio de metas e resultados, sem acompanhar os momentos em que a atividade está efetivamente sendo desempenhada. Em relação ao art. 75-D da CLT, esse determina que o reembolso das despesas deve ser previsto em contrato escrito, o qual deve disciplinar o prazo para os pedidos de reembolso por parte do trabalhador, os documentos que serão necessários e a disponibilidade de equipamentos e material que podem ser adquiridos ou se o empregador realizará a aquisição diretamente. O problema tem sido que, se não houver previsão no contrato ou aditivo, deixa a empresa de pagar esses custos, o que tem sido objeto de queixas dos sindicatos e de alguns trabalhadores na justiça. Isso porque muitos trabalhadores utilizam da infraestrutura que possuem em casa, sem incrementos, sem ajuda de custo, apenas recebendo o reembolso de internet, ao passo que a empresa está economizando com a ausência do empregado no local de trabalho. No PL 3.512/2020, o fornecimento de equipamentos e de infraestrutura poderá ser dispensado por acordo coletivo, mas não as despesas com dados, por exemplo. Claro que o correto, pelos princípios do direito do trabalho, deveria o empregador fornecer todo o suporte de material [ergonomia, informática, etc.] e uma ajuda de custo, para englobar as despesas da realização do trabalho [luz, alimentação, telefone, internet, etc.], sendo que esta última não incorpora o salário, pois apenas busca indenizar o funcionário pelos gastos que teve com o labor. E como a legislação é falha quanto a essa situação, cabe regulamentar por meio de contrato e aditivo, para evitar dor de cabeça futura. Entretanto, se houver algum controle telemático e informatizado dos horários pelo empregador, será considerado que há controle de horário e as horas extras poderão ser devidas. Por exemplo, quando os teletrabalhadores sofrerem vigilância dos períodos de conexão, controle de login e logout, localização física, pausas ou ligações ininterruptas para saber o andamento dos trabalhos. Atualmente, está em tramitação no Senado um Projeto de Lei (PL) de n. 3.512/2020, que exclui o inciso III, do art. 62 da CLT, mencionado acima, buscando com que o teletrabalhador seja submetido a jornada de trabalho normalmente [no máximo 8 horas diárias e 44 semanais) e receba horas extras. A motivação é de que o teletrabalhador estaria sendo explorado pelas novas regras da reforma trabalhista. Não há no ordenamento jurídico brasileiro lei específica tratando do tema, mas o artigo 6º da CLT, que sofreu alteração pela Lei 12.511/2011, prevendo a conexão do empregado por meios telemáticos, e-mails, WhatsApp, entre outros meios de comunicação remota, configurando o trabalho a distância não se distinguindo do trabalho realizado no estabelecimento do empregador. A jurisprudência já tratou do tema no Processo AIRR-2058-43.2012.5.02.0464, em que a 7ª Turma do TST, por unanimidade, desproveu o agravo, permitindo que uma trabalhadora obtivesse o direito de ser indenizada por ofensa ao "direito à desconexão". Contudo, o ordenamento jurídico brasileiro, ainda que não trate objetivamente do direito à desconexão, já dispõe dos mecanismos que funcionam como normas de contenção da jornada de trabalho, por exemplo, contida na Constituição Federal de 1988, ao limitar em 44 horas semanais e oito horas diárias.
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